Gazeta das Províncias nº5 08-12-1898

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sSemanario independente
CERTA – Quinta feira 8 de Dezembro de 1898
ASSIGNATURA
CERTA, mez, 100 rs. FÓRA DA CERTA, trimestre, 930/75. AFRICA, semestre, 4$000 rs. BRAZIL, semestre, 28500 75. Numero arulso, 90 15.
Toda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
VIA DATA VENORAVEI
Completam-se no dia 5 d’este mez
515 annos que, com a morte do conde
Andeiro, se iniciou a gloriosa revolu-
ção nacional que poz no throno dos .
nossos reis o Mestre de Aviz.
Mesmo quem tenha um ligeiro co-.
nhecimento da historia patria compre-
hende o alcance unico e singular d’este
facto, — facto de que se serviu o grande
genio das nações para decidir d’um
enorme e extraordinario destino |
“Tratava-se nada mais nem menos
do que desviar as tristes consequencias
da nossa fusão com a velha Hespanha
e ao mesmo tempo de collocar o sce-
ptro portuguez nas mãos de D. João,
— o benemerito infante que teve a ven-
tura de abrir as portas de ouro do pa-
lacio encantado da nossa quasi phan-
tastica epopêa maritimal…
Em 6 de dezembro de 1185 descia
ao tumulo, em Coimbra, o primeiro rei
de Portugal, — aquelle que, com uma
vontade de ferro e uma energia exce-
pcional, soube lançar os seguros fun-
damentos da nossa nacionalidade.
Notavel coincidencia!
198 annos mais tarde, em egual
dia, quando a patria tinha alcançado
já a consolidação interna, parece que
a mesma sombra de D, Affonso Hen-
riques, surgida do tumulo, se agitava
na pessoa do Mestre d’Aviz para im-
pellir a nação caminho do mar e em
busca da India, involvendo-se nas nu-
vens lendarias d’uma gloria immortal]
O rei D. Fernando tinha apenas
uma unica filha— D. Beatriz: e essa
casada com D. João I de Castella, o
qual, em virtude do direito internacio-
nal vigente, viria a sueceder, por morte
d’aquelle, na corda portuguesa.
Não é, porém, debalde que se ar-
“Teiga na alma d’um povo o sentimento
da independencia nacional,
Alvaro Paes, o velho e perspicaz
chanceller de D. Pedro e D. Fernando,
após o fallecimento d’este ultimo, pro-
curou, impulsionado por um levantado
– amor patriotico, dirigir a corrente das
ideas portuguesas n’um sentido d’op-
“posição ás consequencias funestas do
direito internacional, em vigor ao tempo.
Prudeute e geralmente respeitado,
q sympathico chanceler conseguiu o
seu intento. Os membros das classes
mais nobres, como D. João, o filho bas-.
tardo de D. Pedro, e o conde de Bar-
– cellos, irmão da rainha, e ainda o pro-
prio povo, a arraia meuda, viram, —
aquelles por calculo, e estes por ins-
tincto —, as vantagens que adviriam
do plano de Alvaro Paes. D’este modo,
a idea do valente chanceller converteu-
se em sentimento geral, Faltava ape-
nas obrar, O pretexto appareceu —
pretexto que, sendo profundamente.
moral, era ao mesmo tempo politico.
D. Leonor, viuva de D. Fernando,
tomava-se de amores impuros e escan-
dalosos com o conde de Andeiro, de-
pois conde de Ourem, fidalgo da Ga-
lisa € altamente influente nos negocios
publicos da nação, Um tal procedi-
mento era revoltante e justificava um
castigo excepcional e sem exemplo. O
momento desse castigo chegou effecti-
vamente com o dia 6 de dezembro de
1383, realisando-se então a morte do
lascivo amante da rainha; e, com essa
morte, começava o energico impulso
nacional que levou ao throno o mestre
d’ Aviz. E
Eis porque é para nós uma data
memoravel o dia 6 de dezembro de
1388.
Ja presidir ao periodo mais brilhante
da nossa nacionalidade o mais ventu-
roso dos monarchas — D, João, o prin-
cipe de Boa Memoria.
Dois seculos tinha levado a patria
portugueza a constituir-se e a organi-
sar-se: dois seculos d’um tormentoso
noviciado e dois seculos d’uma vida
obscuramente laboriosa! Quem assim
viveu nessa duração, precisava d’um
maior, d’um immenso espaço, onde po-
desse aspirar a largos haustos uma ex-
tranha athmosphera de heroismos! —
Foram filhos de D. João quem tomou
sobre si o encargo de alargar esse de-
sejado espaço, para as bandas do mar
tenebroso ! — Foram filhos de D. João
quem levou a nação a abraçar e a in- |
volver, com a sua grande alma ardente,
a vastidão da terra em sua redon-
deza!…
“Mas a nação de tão excepcional
destino teve primeiro o seu baptismo
e o seu registo de renascimento condi-
gnos, — Aljubarrota e Batalha,
Que dois nomes singulares !
Em Aljubarrota pôde o leão de Cas-
FUBLICAÇÕES io
No corpo do jornal, -cada linha 80 75. Anuncios, 40 rs. alinha, Repetição, 205. a linha. Permanentes, preço convencional; 08 srs. assiguantes
têm o desconto de 25 0/j. Esta folha é impressana Imprensa Academica, R. da Sophia. Coimbra
Augusto Rossi — Editor
tella conhecer o pulso possante da pa-
tria do Mestre de Aviz; Nun’Alvares,
fazendo ahi beijar o sólo aos soldados
da Hespanha, fez ao mesmo tempo
scintillar a sua espada luminosa, tra-
cando nos espaços os futuros heroicos
da terra querida em que elle havia
nascido!
Na Batalha, n’esse soberbo monu-
mento que nem a gente sabe bem se é
um sonho encantado do Oriente, se
um genio petrificado na attitude do
assómbro, n’essa Batalha de tantas ma-
ravilhas, digo, ficou, crystalisou-se para
a elernidrde o registo sagrado que assi-
gnalou de vez a solida independencia
de Portugal.
Caminhar na historia patria, to-
mando para ponto de partida Aljubar-
rota e Batalha, é cahir de joelhos, em
extasis, na doce contemplação de coi-
sas nunca até ahi vistas e nunca de-
pois realisadas!…
D’então por deante, só se vêem
morrer gigantes: — É Vasco da Gama
“a cortar os mares longinquos, avagando
as ondas com o pêso dos galeões! —
É Pedro Alvares Cabral erguendo a
bandeira das quinas em terras de Santa
Oruz, perante o altar da religião que
representava a idéa nova! — E Affonso
de Albuquerque escrevendo com ca-
nhões o nome portuguez na extensão
immensa da Asia! — É uma cadeia
ininterrupta de extranhos vultos len-
darios que enchem de clarões a histo-
ria e que se elevam ahi, successiva-
mente, como montanhas cuja altura
não podemos medir, mas apenas admi-
rar, perdidos em sonho !
“-. Minha patria d’outras eras,
alma querida de tantos heroes, — por-
que não estendes ainda agora sobre
nós a tua fagueira sombra ineguala-
eli
——— aço cp am
SESSÃO DE CAMARA DE 30 DE NOVENBRO
DE 1898
Presidencia — sr. dr. Guimarães, verea-
dores presentes, os srs. Lima, Mendes, Ma-
galhães e Tavares. E
Deliberações :
Mandaram proceder aos reparos indis-
pensaveis n’um cano d’esgoto do matadoiro
de Sernache.
— Auctorisaram o pagamento de diffe-
rentes despezas obrigatorias.
— Discutiram e approvaram o orçamento
ordinario de receiia e despeza para 1899.
ECHOS DA SEMANA
Uma portaria publicada na folha official
de segunda-feira determina que no dia 31
do corrente cesse a venda e validade das
estampilhas de imposto do sello, começando
no dia 1 o uso das que hão de servir du-
rante todo o anno futuro.
A troca das estampilhas será na Casa
da Moeda e nas recebedorias dos concelhos. .
— Foi approvado o parecer relativo a
um processo disciplinar contra o professor
da freguezia do Carvoeiro, concelho de Ma-
ção, districto de Santarem.
— Foi transferido a seu pedido para
Aguiar da Beira, o sr. Francisco Diogo
Mascarenhas, escrivão de fazenda de Villa
de Rei.
—Foi nomeado para o officio de tabellião
de notas no supprimido julgado de Pedro-
gam Pequeno, o nosso amigo sr. Carlos Fer-
eira David, escrivão do juizo de paz no,
districto do mesmo nome.
Felicitamos o nomeado e os habitantes
da villa de Pedrogam Pequeno por tal-me-
lhoramento.
— Está a concurso o partido municipal
vago no concelho de Villa de Rei, d’esta co-
marca, com o ordenado de 400500 réis..
a e
MARÇALINAS
gd:
O jornalista Marçal
a perguntar-me se atreve
com quantos rr se escreve
nome de certo animal.
Já sei que estava a mangar
quando tal me perguntou
houve alguem que me affirmou
que o doutor sabe assignar.
—— o Pesto
ELEIÇÕES
No domingo proximo têm logar as elei-
ções dos corpos gerentes da irmandade do
Santissimo Sacramento e Monte-pio Certa-
ginense, d’esta villa.
e
O do Echo da Beira doeu-se por uma
insignificancia e eil-o espinoteando rubro,
medonho e féro!…
É Na marmita obtusa dos seus pensamen-
tos nada achou que justificasse as suas in-
coherencias, e por isso, como unico meio de
salvação aponta-nos alguns erros typogra-
phicos ou gralhas como vulgarmente se diz!
E levanta-se um padeiro às duashoras…
Companhia Lança & Filhos
Já sahiu a companhia dramatica Lança
& Filhos, com destino a Ferreira do Zezere,
afim de alli exhibir o seu variadissimo é
| engraçado reportorio.ortorio.@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 8 DE DEZEMBRO. DE 1898
Com licença…
— Desculpe-nos S. S.º a ousadia enorme
de entrarmos em apreciações da muita
sciencia que sempre se nota em todos os
escriptos com que enche o-seu muito lido e
conceituado Jornal; como vê, escrevemos.
com J maiusculo, discordando da opinião dos
que lhe chamam lamparina, pasquim, echo
da asneira, e quejandos epithetos. Calu-
mnias, meu caro: senhor ! —
Como iamos dizendo, respeitamos muito
a sua sabedoria; todavia, ao lermos uma das
biscas que S. S.” com a graça e delicadeza
de linguagem que lhe é habitual, joga à
Gazeta das Provincias, deu-nos no goto O
seguinte final: «mas sem virgula, menino».
Vinha isto a proposito de ter sahido nºeste
jornal o seguinte erro — d’entro.
Em nossa humilissima opinião o signal
que alli se encontra não se chama uma vir-
gula, é uma apostrophe, visto que serve para
indicar a suppressão d’uma vogal, ao passo
que a virgula é um signal de pontuação. —
E já que no seu Jornal invoca a auctoridade
do Pereirinha, (do qual, segundo me consta
o cavalheiro não foi dos mais fieis discipulos)
sempre lhe diremos que a elle muitas ve-
zes ouvimos seguir esta opinião.
É verdade que entre os dois signaes ha
alguma similhança, mas nem tudo o que luz
é oiro. Muitas coisas não são o que pare-
cem. Quantas vezes S. S.º estando ao es-
pelho, a frisar o seu formosissimo bigode
terá tido a ilusão de que está vendo na sua
frente um ente d’aquelles a quem tem ou-
vido chamar racionaes ?! Comtudo… É a
tal coisa — nem tudo o que luz é oiro.
Caustico.
men map rm
Marinha americana
Corre com insistencia que o governo
americano resolveu definitivamente que nos
meados do inverno parta para a Europa uma
poderosa esquadra, que terá por fim pôr em
evidencia o poder naval dos Estados Unidos
do Norte.
Na secretaria de marinha e arsenaes ha
uma actividade desasada.
— agarre ——
Lá vae um caso que não deixa de ter a
sua pilheria. Diz o pimpão na lamparina :.
“ — Ah! barbaro se o Pereirinha te apanhas-
se… fusilava-te!
Pois olha, muchaçho, não te faças esquecido
e diz, ainda que muito te custe, que loste
tantas vezes fusilado em Coimbra, in úllo tem-
pore, que houveste por bem desertar e…
passar ao lyceu de Castello Branco !
Ora mette a viola no sacco e deixa-te
de fanfarronices, meu velho. Passa primeiro
revista à Lua roupa suja e depois confronta…
Carta de Coimbra
6 de dezembro.
Falleceu no dia 3 pelas 9 1/5 horas da
manhã o desditoso moço Antonio Soares de
Moura Quintella, filho do sr. Visconde da
Louzada.
Antonio Soares de Moura Quintela fre-
quentava o 4.º anno de Direito na Uni-
versidade, e em oito dias uma meningitte,
arrebatoú-o do seio da familia e dos amigos,
que o estimavam e adoravam pelo seu exem-
plar caracter e brilhantes qualidades que 0
ornavam.
No dia seguinte, ao meio dia, sahin o seu
corpo da casa aonde habitava para a Sé Ca-
thedral d’esta cidade aonde foram feitas as
orações lunebres. ;
O caixão foi transportado n’uma carreta
conduzida por estudantes, pegando ás bor-
las os Ex.”“ lentes: — Drs. Fernandes Vaz,
Latanjo, Marnoco, Guilherme-Moreira, Pitta,
Julio Henriques, Teixeira Bastos, Bernardino
Machado, Fernandes, Vellado da Fonseca,
Vilella, Alvaro Bastos, Francisco Bastos,
Abel de Andrade, Costa Allemão, etc. etc.
Foi imponente a manifestação de saudade
que lhe prestaram os seus companheiros de
trabalho. A academia, toda reunida, acom-
panhou o infeliz moço à Sé, espalhando-se
pelo trajecto em alas, e num silencio tal,
que se ouviria distinctamente o zumbido ‘
d’uma mosca.
Uma profusão. de valiosas cordas foram
depostas sobre o caixão, distinguindo-se en-
tre ellas a de familia, a dos seus condisci-
pulos, a dos alumnos do 2.º anno juridico,
condiscipulos d’um irmão do fallecido, e a
dos companheiros de casa.
Hontem foi o corpo de Antonio Quintella
conduzido para a estação, aonde o aguardava
um wagon armado em camara ardente: que
o transportou à Louzada.
A sua illustre familia a sincera expres-
são do nosso profundo pezar por tão irre-
paravel perda.
Que descançe em paz o infeliz moço,
por quem choram hoje os alegres corações
de mocidade, que o acompanharam nos seus
trabalhos e em cujes fileiras fica uma lacuna.
C. T.
RT me
“O do Echo da Beira deu:o pello quando
lhe dissemos que encetára a carreira jorna-
listica de calcinhas abertas.
O gabirú então para bexigar nos diz que
nos enxertaram uma cauda muito comprida
no logar apropriado. Mas o que elle certa-
mente ignora, é que tivemos o bom senso
de apparecermos.. . jornalistas… com as
calcinhas cosidas, e eis porque o enxerto
gorou.
Não te espantes pois, formoso phylar-
monico, de seres possuidor da tal pheno-
menal cauda-vassoura, que nos querias im-
pingir. Ee
Vade retro satanaz.
O seu a seu dono…
— o Jets
Ao tal do Echo da Beira, ao cauda-vas-
soura, recommendamos a leitura da infor-
mação seguinte:
— Consta-nos que a camara municipal
vae abrir concurso para o provimento de
varredor das ruas dºesta villa.
E uma posta regular. Aproveita, já que
te não deram a administração do concelho
nem tão pouco a presidencia da camara. E
assim prestarás um grande allivio ao the-
souro municipal, supprimindo a verba or-
cada para vassouras.
Que bella occasião de provares a estes
ingratos 0 patriotismo que proclamas do alto
da tua lamparina !…
e PU em
CHRONICA ELEGANTE
Anniversarios
Faz annos no dia 15 o nosso amigo An-
gelo Rodrigues d’Almeida Ribeiro.
Passou no dia 4, o anniversario natalício
do nosso amigo Fructuoso Pires.
x
Estiveram n’esta localidade os srs. conse-
“lheiro dr. Alfredo Augusto Mendonça David
e dr. Antonio de Mendonça David.
w
Está em Pedrogam Pequeno 0 sr. José
Custodio Vidigal.
*
3
Passaram n’esta villa os nossos amigos
João Cardoso e Thomaz Namorado, d’Oleiros.
——— iii) Vs
Pedimos ao conspicuo director do Echo
da Beira a fineza de nos dizer se sabe ana-
Iysar uma oração. Se souber, obsequeia-
nos, analysando a que se encontra logo no
cabeçalho do seu Jornal, no sitio em que
indica os preços dos annuncios — É a ul-
tima. «Os assignantes tem abatimento de
20 0 Jo. »
Se a vista nos não mente, o sujeito está
no plural e o verbo no singular. Que diabo
de concordancia é aquelia? Certamente, o
cavalheiro não está em boas relações com
a grammatica. Pois meu amigo, deixe os
prelos e os codigos em descanço por algum
tempo e folheie a grammatica, folheie que
não é deshonra — Em todo 0 caso, desde já
o prevenimos de que não deite isto à conta
de engano, porque para cá não pega.
Seria muito engano junto.
(Vide linha 99 — pag. 1, columna 3.º,
linha 56 — pag. 3, columna 1.º, linha 58).
— Quando nos ensinaram a escrever,
disseram-nos que só os pronomes se sepa-
ravam dos verbos por traços d’união. Por-
tanto, faça-nos o sr. Marçal o favor de dizer
em que alfarrabio descobriu o pronome mos
que eu tive occasião de vêr pespegado no
numero citado, columna 3.º, linha 1192
Se não fosse-o nosso bom coração, longa
seria a ennumeração de varias de egual jaez.
Temos, porém, a misericordiosidade de usar
da misericordia mais misericordiosa para com
S. 8.º (cit. n.º.col. 3.º, linha 38).
E tem a Universidade de arrostar com
a vergonha de ter passado carta de forma-
tura a tal grammatico! Porisso a Minerva
ha tempo para cá estã sempre tão córada’!
ep Mr
NO PELLOURINHO
O sr. Marçal que com ares de doutor
formado em tolice e pose nos quer chamar
aquilo que de direito lhe pertence, isto é,
asneirão, vem em o n.º 99 do seu papel jul-
gando-se triumphante, com o seguinte : pag.
2, columna 3.
Olha, menino, que o —s — entre vogaes
soa como —z — regra geral, e, embora
toda a regra geral tenha excepções, não está
lá cartigozinho», com 2!
Se é analphabeto não temos culpa d’isso,
leia q Grammatica do Epiphanio. 94, 2) e
obs, aprenda, e recolha a falla ao bucho,
porque lá diz o rifão: o calado é o melhor!
x
“x E!
Mais uma calinada do Sr. Abilio, Echo
n.º 99, pag. 1, col. 3.º, linha 45:
Emprega S. 8.º a palavra revelante em
vez de relevante !! Abstrahimos de commen-
tarios.
*
& “+
Pergunta-nos o mesmo Sr. no tal Echo
pag. 2, col. 3.º. linha 36:
Mas então de que são ferteis os im-
pulsos 2…
São ferteis Sr. Marçal: de benevolencia
para com as suas asneiras, de paciencia para
o aturar, etc., etc., etc. e tal,
+
at “+
No referido Echo diz o armazem de as-
neiras — Sr. Marçal — em a pag. 2, colu-
mna 4 — linha 36.
a nata dos jornalistas.
Reconhecidos agradecemos o classificar-
nos de nata, pois que sendo a nata a parte
mais fina da substancia, é d’uma amabilidade
extraordinaria elassificando-nos assim,
Depois de extrahida a nata fica o sóro,
qne tem por serventia alimentar suinos, e
como S. S.º reconheceu a serventia do sôro,
guardou-o para-si, offerecendo-nos a nata.
-Valha-nos isso… ao menos conheceu-
se uma vez.
5 FOLHETIM
ODIO DE FIDALGOS
Almeida Mendes
Ea
— () nosso casamento é impossivel.
Eutre nés ha-um abysmo, que toda a
generosidade da sua alma não seria
sufliciente para cumular. O meu pas-
sado!… Que de amarguras n’elle, mas
tambem quantas torpezas, quantas in-
famias !…
ARNALDO GAMA — EL-REI DINHEIRO —,
Em quanto que o baile chegava ao delirio
e a saturnal se cobria com as mais negras
tintas uma mulhera chorava em humilde sala
a alguns passos do solar dos Mascarenhas.
Cahiam-lhe em desalinho sobre os hom-
bros alvos como O jaspe espessas madeixas
de negro-cabello : as suas faces tinham-a pal-
lidez um cadaver, os seus labios entre-
abriam-se divinalmente, os seus olhosmelanco-
licos e poetigos dirigiam-se com tristeza para
um genuflexorio que estava em frente de si.
— Oh meus Deus, exclamava ella cru-
zando as mãos ao mesmo tempo que as faces
*
lhe eram contrahidas pela angustia e as la-
grimas lhe saltavam pelos olhos fóra, quanto
sou desgraçada! O mundo que não sabe
comprehender o que é uma paixão, que se
ri de todo o sentimento que não tenha o
cunho do egoismo, chama-me—prostiluta—
e despreza-me… só elle é que se digna
acompanhar-me na minha dôr porque me
ama… E amal-o-hei? Poderá a mulher per-
dida abrigar em seu seio esse sentimento
benefico que é balsamo para todas as chagas?
Mas que vale isto? Eu não devo correspon-
der-lhe porque a sociedade que não sabe
santificar uma affeição alcunhal-o-ia de louco,
cubril-o-ia de opprobrio e sobre ambos ar=
rojaria o anathema da sua infamia!
Abrindo um estojo que estava a seu lado,
tirou uma carta e leu com voz tremente :
(LAURA
«A li, que milhares de lagrimas tem
purificado do amavios criminosos em que
por instantes emergiste, o mundo chama —
mulher perdida—, à tua casa dá o nome
asqueroso de—lupanar —. Que me importa
isto? Vi-te muitas vezes chorar, Laura, e
“esse pranto que vertias era 0 baptismo que
te rehabilitava ante meus olhos, que te fazia
“assumir uma fórma de anjo que doura os-
sonhos da minha phantastica mente de rapaz,
Sei eu só que lu és digna do meu amor,
sei que posso arrastar-me a teus pés sem 0
louco receio de vêr crestadas as azas da
minha profanda afleição nas chamas ignaras
do vicio. Não olhes para 0 que se passa em
redor de ti; se por acaso o surdo rumorejar
d’essas varias infames te chegar aos ouvidos
ri-te como innocente que és.e supporta a—
cruz — que querem fazer pezar sobre a tua
existencia.
PEDRO.»
Approximou a carta d’uma véla que ardia
sobre a meza e em breve uma columna de
fogo se elevou até ao Lecto e reduziu a cinzas
q papel.
—Devo morrer, e tirou do seiu um punhal
com cabo de marfim, cuja lamina amaceou
com as suas delicadas mãos, ou suffocar este
amor, que me escalda o coração. E’ um
crime de que Deus me ha de julgar… Não
devo consentir que Pedro seji fascinado por
uma mulher como sou, é meu dever arancar
pela raiz aquella flórsinha que nasce em seu
peito compadecido dos meus soffrimentos.
Abriu uma carta e leu: .
«No medenho desencadear de rugidor
vendaval, amena serenidade do cêo, no serro
escalvado de esteril monte, na planicie co-
berta de viçosa relva acho escripta em ca-
racteres de fogo a palavra — amor —.»
Laura ajoelhou-se diante do genullexorio
aonde avultava a imagem do Christo e ar-
rancando as palavras com exforço, exclamou:
— Dai-me forças, oh meu Deus, ajudai
a peccadora arrependida que reverente se
prostra a vossos pés não a deixeis resvelar
no abysmo insondavel da descrença… Mos-
trai-lhe o caminho que deva seguir, fazei
murchar essa abominavel paixão que a de-
vora, tornai-a virtuosa e digna de ser con-
tada no numero de vossos filhos…
Duas pancadas feridas brandamente: na
porta vieram despertalka da sua oração e
com passo lento foi abril-a. Pedro entrou e
enlançando-a com seus vigorosos braços 0s-
culou-lhe com fervor a pallida tez da fronte
e conduziu-a para a cadeira que antes occu-
pava. ER
— Choravas? perguntou-lhe reparando
nas faces ainda humedecidas pelas lagrimas.
— Não…
— Não fallas a verdade, minha Laura,ra,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 8 DE DEZEMBRO DE 1898
Sciencias & Letras
ESBOCÊTO
(Conclusão).
A-Ernesto de Sande Marinha.
Encostado à artistica balaustrada de fi-
nos arabescos, da antiga varanda de pedra,
que, da frente do velho sollar, olhava a vas-
tidão luarisada dos campos e serranias, Jorge,
aspirando com delícia O odor perfumado do
seu breva-— complemento indispensavel a um
fim de jantar distingué — sentia-se bem dis-
posto, alegre quasi; e o seu espirito blase,
n’aquelle instante, embalado pela melopeia
arrastada e monotona das cigarras, disper-
sas pelos vallados, dava-se por satisfeito longe
dos seus velhos habitos de frequentador assi-
duo das mil diversas distracções dos grandes
centros. E agora — debaixo ‘da impressão
de bem-estar que a todo o seu organismo se
communicava ao approximar-se do momento
em que satisfaria o seu sonho d’algumas se-
manas, sonho ideal e dourado, que o seu
pensar d’artista irisára de mil phantasticas
côres, — agradecia a si proprio a feliz reso-
lação que tomara quando se decidira a vir
passar algum tempo na companhia de seu
velho tio Morgado, que vendo-o tão socegado,
tão religioso e bom se lhe afieiçoara tanto
que, não obstante embargos de primos e so:
brinhos, não havia duvidar a que mãos iria
parar a fortuna do opulento fidalgo.
E assim, ao mesmo tempo que realisava
a suprema aspiração do seu ideal de estroina
— ser rico, ter amantes, carruagens, dar
ceias estrondosas a que cortezãs celebres
presidissem — sem mais trabalho do que
pensar como haveria de gastar o dinheiro e
sem cuidados pelo dia: d’âmanhã, dava-lhe
Deus a posse desejada d’uma mulher divi-
nalmente bella, joia escondida n’um ester-
quilinio, e que, se elle não apparecesse, iria
talvez ser brutalmente profanada pelo con-
tacto grosseiro d’algum camponio, leigo per-
feito na bella Arte do Prazer e do Amór…
E destendendo n’um cynico sorriso a sua
physionomia antipathica, pensava com a ex-
periencia de libertino consummado quanta
volupia se conteria no corpinho fino e meudo
da gentil pegureira, da pobre Izabelita ; e,
por um phenomeno vulgar nos materialistas
tentava dourar com a poetica auréola do
Ideal a sua: paixão baixa e ignobil, o seu
appetite carnal imperioso e vehemente.
E era por isso que elle pensando na pas-
tora se recordava da primeira vez que a vira
— sósinha na vastidão dos montes, como
uma inimitavel estatua de marfim perdida
ha muito e banhada pela rosea luz do sol no
nascente ; elle ficára mudo perante a belleza
surprehendente d’essa rustica 6, espingarda
ao hombro fingindo-se despreoccupado, fôra
com timidez, com um quasi receio que lhe
dirigira a palavra.
Passara dias inteiros junto d’ella, vendo
saltar as ovelhas de pedra em pedra, tosando
o curto matto das rechas; fisera-lhe mil pro-
messas sem fim, offerecimentos deslumbran-
tes que não lograram ter outra resposta que
alguma canção ironica soltada por aquelles
labios de carmim, verdadeiros ninhos de de-
sejos; e comtudo não desanimára, proseguira
sempre empregando os infinitos meios de
seducção de que dispunha, até que a Infeliz,
cedendo pouco a pouco consentira n’aquelle
rendez-vous, onde d’ahi a algumas horas ella,
casta como um beijo de Mãe, pura como a
Aurora surgindo ao pallido clarão das es-
trellas, se lhe entregaria toda, corpo é alma,
n’um transporte indiscriptivel, na anciedade
amarga d’um primeiro Amôr.. … e embal-
lado em tão-dôces chiméras, iria ficar assim
até Deus sabe quando se não fóra a voz de
seu tio reclamando o para a habitual batalha
de sueca entre os dois, tio e sobrinho, e os
antigos amigos da casa: — o pobre capellão,
santo homem, carregado d’aunos e de acha-
ques, e o dr. Seraphim, o velho advogado
da familia que, só à sua parte, ganhára seis
demandas ao Morgado,
Jorge deixando com pesar o bello sonho
em que cahira, tornou a descer à realidade
das cousas e entrando no vasto salão, foi
tomar logar a um dos cantos da alta mesa
de torneados pés, onde o Morgado, com mão
previdente, disposéra já as cartas, os cin-
zeiros, um lapis e papel para marcar os jogos
de cada partido.
Havia já um pedaço que o triste campa-
nario entornára, como enormes pingos de
bronze, as dose badaladas da meia-noute,
por sobre a aldeia adormecida em: placido
socego, quando Isabelita, tremula de receio
e de pejo, fechou vagarosamente a porta do
quintal e descendo as toscas escadas de pe-
dra, se veio encontrar com Jorge que, des-
cuidoso e indiferente, assobiava uma velha
aria de caça, espingarda traçada sobre os
joelhos, assentado na solida parede da pro-
priedade.
A lua desapparecera ha muito e agora,
tendo por unica luz a suave e branda clari-
dade das estrellas, o valle immenso offerecia
um golpe de vista explendido, com as suas
infinitas filas de choupos e amieiros, —
dividindo os campos e seguindo os fios pra-
teados dos ribeiros — semelhando legiões
silenciosas de espectros erguendo para o Céo
os esguios braços, em gestos doudos, insen
satoss….
Simulando frieza principiou Jorge a fal-
lar à innocente rapariguita com a sua voz
melodiosa, insinuante e meiga, e enlaçando-a
dôcemente em seus braços musculosos e for-
tes, segredou-lhe mil cariciosos juramentos
que ella ouvia, inebriando-se lentamente com
aquella musica traiçoeira e enganadora, e,
deixando cair, — n’uma resolução subita da
sua vontade atrophiada — o-virginal veo do
Pudor foi ella quasi que se lhe entregou —
labios frementes de desejos, os olhos limpi-
dos e profundos, d’um azul-celeste ideal,
semi-cerrados n’um antegosto instinctivo de
delicias ignoradas, os cabellos soltos como
fulvas serpentes d’ouro cingindo-lhe as fór-
mas correctas e impeccaveis de Deusa
pagã… ..
Coimbra = XI — 98.
Canavarro de Valladares.
O director do Echo despejou já a billis
contra a camara e administrador d’este con-
celho. Agora, com carinha de saraphim des-
à Providencia — que as suas palavras calem
no animo do sr. ministro da marinha, para
que o Collegio das Missões de Sernache te-
nha melhor sorte, pois «teria com isso bem
maior prazer do que aquelle que lhe tem dado
as pequenas miserias da politica indigena.»
Nós bem o prophetisamos santo homem,
que non podia xer. Olha! um conselho
d’amigo : — recolhe-te ao seio de Deus é
sê paciente. Talvez que um dia na desola-
ção da tua alma enlutada por tantos contra-
tempos, brilhe um raio de esperança…
O diabo da ambição !…
VARIAS NOTICIAS
— Perante a camara municipal de Proença
a Nova está aberto concurso por espaço de
30 dias para o provimento do partido de
pharmacia da villa da Sobreira-Formosa, com
o ordenado anuual de 4053000 réis pagos pelo
cofre do respectivo municipio.
— Consta-nos que a Tuna Academica de
Coimbra tenciona sahir nas proximas ferias
do Natal para Santarem, Castello Branco e
Abrantes.
Diz-se tambem que nas ferias do Carna-
val visitará as academias de Salamanca e
Valladolid.
— Foram eleitos vogaes effectivos da
Junta de Parochia da freguezia de Pedrogam
Pequeno, os srs. José Alexandre da Costa,
José Gomes da Costa, Manuel Antonio Serra
e Manuel Martins d’Almeida; substitutos, os
srs. Joaquim- Henriques Vidigal, Abilio da
Paz Medeiros, José Fernandes da Silva e
José Joaquim da Silva, |,
— Realisou-se no domingo no logar dos
Calvos a festa de S, Miguel, havendo missa
cantada e sermão.
— Sahin das cadeias d’esta villa, acom-
panhado de tres praças de infanteria 4, o
desertor Manuel Farinha, solteiro, da Mal-
joga, concelho de Proença Nova, que, vae
responder em conselho de guerra, tendo tam-
bem de ser julgado civilmente pelo crime
de roubo, de que aqui está pronunciado.
—— seat ——
Pergunta-nos o do Echo da Beira com
aquelle ar boçal que sempre o caracterisou,
com quantos rr se escreve burro. Para des-
cargo da conscienia ahi vae:— Burro quando
se refere ao animal que presta serviços es-
creve-se com dois rr, porém, referindo-se
ao heroe que para ahi anda com as mãos
pelo chão escoicinhando e pondo em risco
constante as canellas dos cidadãos, escreve-
se— burr-rro — com quatro rr,
Mas não te desconsoles, Rata sabia, por
ignorares como se escreve 0 teu nome.
abafa as illusões perdidas; só uma coisa pede
Contenta-te em andar disfarçado pas-
seaudo à redêa solta sem sarrilhão, e agra-
dece aos dois zeladores municipaes o fa-
zerem vista grossa, . .
Club
Procedeu-se no domingo à eleição dos
corpos gerentes d’aquella sociedade, para o
proximo anno, ficando eleitos os ex.””* srs, :
EFPEGTIVOS
Padre Francisco dos Santos e Silva,
Antonio Ferreira Alberto,
Eduardo Barata Correia e Silva,
Fernando Bartholo,
José d’Oliveira Cabral.
SUBSTITUTOS
Maximo Pires Franco,
João Martins,
Fructuoso Pires,
Luiz Dias
Henrique de Moura.
CONSELHO FISCAL
Dr. Antonio Figueiredo Guimarães,
Dr. Albano Frazão,
Dr. Guilherme Nunes Marinha.
T————— tio ci) ram
O tal maganão do Echo da Asneira, pen-
sando metter-nos a ridiculo aponta no pape-
lucho as nossas perolas. :
Ora não se amofine, seraphica creatura,
porque se lhe amaciámos o pello foi com o
bom fim de o domesticar, creia,
Em pouco tempo convertel-o-hemos
n’uma bella estampa. ..’
——— cio (aee mem
-. Os carlistas
O Nuncio de Sua Santidade em Madrid
enviou à Santa Sé informações muito minu-
ciosas ácerca do auxilio que determinados
ecelesiasticos hespanhoes prestam à conspi-
ração carlista.
Leão XIII, em vista desses esclareci-
mentos, enviou para Hespanha ordens do
maior rigor, determinando que o clero per-
maneça completamente afastado de qualquer
contenda ou intriga politica. Aos bispos das
dioceses onde o carlismo conta com maior.
numero de partidarios transmittiu a Santa
Sé ordens e instrucções especiaes ácêrca
da conducta do clero.
— titres,
ERRATAS
A primeira linha do nosso artigo edito-
rial deve ler-se: Completaram-se no dia 6.
Na 2.º columna aonde está a palavra Ga-llisa
devia estar Gal-lisa. Na 3.º onde se lê —
morrer gigantes — leia-se — mover gigantes.
— Com vista ao Sr. Marçal.
Negas porque não queres desgostar-me. Mas,
olhando de repente para o soalho, que querem
dizer estes papeis queimados?
—Nada… respondeu ella com meiguice.
— Alguma cousa querem dizer, Laura,
e, confesso-te, não esperava da tua parte
reservas para commigo.
— Queres que te falle a verdade?
— Sim. ;
— Foi uma carta tua que eu queimei..
— Que dizes? replicou elle angustiosa-
mente oceultando o rosto com as mãos.
—Vou explicar-me, respondeu Laura af-:
fectando uma serenidadã que estava bem
longe de sentir: é preciso que as nossas re-
lações acabem de hoje para o futuro; eu
ficarei sendo aos olhos do mundo a — des-
presivel meretriz —, porém, não quero que
tu desças a planear na infame esphera em
que me balanço. Findará hoje tado, Pedro,
para bem d’um e d’outro e que nem sequer
uma lembrepca subtil nos reste d’essas scenas
passadas que appellidaremos — loucuras —.
Não posso continuar a viver deste modo,
se é quo assim posso chamar ao estalar do
peito, ao delirio atroz que me afoga n’um
tremedal estridulo e me emurchece uma por
uma as louçanias da mocidade.
-—Acaso não julgas, mulher sem crenças,
que essas palavras são uma sentença cruel,
que me faz antever um porvir marchetado
das mais carregadas côres? que me prepara
uma morte lenta e crudelissima? Não con-
tinúes a fallar-me assim se não queres que
eu vá entregar ao punhal suicida este cora-
ção que só tu animas. Abandonar-te?! Quem
o pensa? Eu escarneço do mundo! A sua
vista desencadearei uma alluvião de garga-
lhadas febris, escarrar-lhe-hei na fronte, a
esse cruel devasso que só vive immerso em
egoismo. ;
Laura chorava tendo appoiado a cabeças
no peito do mancebo: em frente o Christo
sepultado em vasta melancolia olhava-os lan-
guidamente; sobre a meza crepitava a luz
da véla: que derramava um pallído clarão na
sala onde agora reinava o silencio.
Aquellas duas almas ligadas pela mesma
affeição estreilavam-se suavemente e as la-
grimas que distillavam de seus olhos eram
o mais forte élo da cadêa que os deveria
prender e as vaias ignaras de estólidos egois-
tas não seriam capazes de quebrar.
Qne é o amor?
É o amor encapellado que se eleva aos
| céos em montanhas de agua, a tempestade
furiosa que destroça tudo, o vulcão uivante
cuja lava escandecente tudo derroe, a aguia
altiva, pairando nos céos, affrontandg.os raios
que, seguidos de aterrador estampido, sul-
cam a amplidão, .O leão cruel que, com furor
insano, derriba o que se lhe oppõe, um so-
nho de febricitante louco.
Tal é o amor.
Mas o mar aplaca-se, a tempestade es-
morece, O vulção emmudece, a aguia reco-
lhe-se ao seu ninho, o leão esconde-se na
sua gruta, o sonho desvanece e apaga se
brandamente.
Assim o amor; nasce, caminha indomito,
tem por divisa o ideal a que mira, por throno
o crepitar do fogo a que se arremessa é que
depois o envolve e reduz a cinzas.
Mas o que Laura e Pedro sentiam per-
tenceria à classe d’este ?
Parece-nos que não: alli não existia só
esse sentimento que de nós errompe quando
contemplamos uma belleza completa: alli ha-
via um mysto de sympalhia nunca mais ol-
vidava, uma amizade mais que fraterna, que
approximava aquelles dous corações e os
fazia viver um do outro.
Aquella affeição não provinha da egoismo
| como muitas: Laura era uma mulher for- |
mosa, mas a sua belleza não era de estra-
nhar: em seu rosto havia apenas o cunho
de muitos soffrimentos que a tornavam ado
ravel.
Não existia aqui tambem o positivismo :
os olhos não eram fascinados por uma for-
tuna brilhante, os ouvidos não eram toma-
dos pelo apregoar do ouro, esse demonio,
que muda a vida em uma voragem de infor-
tunios.
e sublime poesia encerrava aquella
sala!
Qual seria o poeta que podesse tecer em
estiolados versos uma epopéa de amores que
se podesse equiparar com esta?
— Juras me, Laura, murmurou Pedro
devorando-lhe as mãos com sofregos osculos,
juras-me nunca mais provocar uma scena
como esta ?
— Mas, Pedro, queres por tua livre von-
tade…
— Cala-te, não continúes.
Momentos depois o mancebo retirava-se
e Laura a sós comsigo é com a profunda
calada, que reinava em torno mergulhou a
cabeça entre as mãos e ficou a scismar.. «
a scismar.
Gontinta,ta,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 8 DE DEZEMBRO DE 1898
ULILIDADES
Costelletas de porco grilhadas à hespanhola
Assam-se a fogo brando as coslelletas,
devendo ser voltadas amiudadamente. Tem-
peram-se depois com pouco sal moído e al-
guma pimenta, para serem servidas com
molho picante.
– Meio fiambre
Pega-se n’um presunto fresco, que tenha
apenas tomado o sal preciso, ou, se estiver
muito salgado, deita-se de molho durante
24 horas e adoça-se mudando-lhe a agua
uma vez. Quando estiver adoçado, mas tem-
perado de sal, apara-se, Lira-se-lhe o couro
todo e os ossos, mette-se no espeto, aper-
tado com um fio forte e assa se.
Quando estiver assado, põe-se n’um prato,
cobre-se de pão ralado, que-se calca com a
mão para se pegar, córa-se com a pá quente
e deixa-se esfriar. Serve-se a secco, em frio,
| e não é inferior ao melhor fiambre.
— o potpgpeo—
SERVIÇO DE DILIGENCIAS
| Da Certã a Thomar (via Serna-
‘ che do Bom Jardim, Valles, e Ferreira do
| Zezere). Sahe da Certã ás 2h. da t. e chega
“a Thomar ás 9 h. da noite; Sahe de Tho-
| mar às 5 da m. e chega a Certã às 12 1/9
da tarde.
Da Certã a Proença a Nova.
| Sahe da Certã à 4 1/a da t. e chega a Proença
| às 5 da tarde; Sahe de Proença ás 5 da m.
| e chega a Certã às 9 !/o da manhã. Esta
diligencia communica com a de Proença a
|! Castello Branco.
Da Certã à Pedrogam Pe-
| queno. Sahe da Certã às a date chega
a Pedrogam às 5 1/a da tarde; Sahe de Pe-
drogam às 7 da m. e chega a Certã às 10
da manhã.
e
KALENDARIO DE DEZEMBRO
Domingo — | 4 [11/18/25
Segunda-feira —| 5 |12/19/26
Terça-feira —| 6 /13/20/27
Quarta-feira — | 7 |14/21/28
Quinta-feira 1] 8115/22/29
Sexta-feira 2/9 /16]23/30
Sabbado 3 |10/17/24/31
Quarto minguante a 6,
Lua Nova a 13.
Quarto crescente a 20.
Lua Cheia a 27.
A INN UINCIOS
EDITOS DE 80 DIAS
2.º ANNUNCIO
Pelo Juizo de Direito d’esta comar-
ca da Certã, escrivão Gonçalves e nos
autos d’execução que o Ministerio Pu-
blico move contra Abilio da Silva, sol-
teiro, carpinteiro, morador que foi, na
Villa de Proença a Nova, d’esta comar-
ca, actualmente em parte incerta, cor-
rem editos de ieintaliao que começa-
rão a correr passados oito a contar do
dia em que se publicar o ultimo annun-
cio no Diario do Governo, citando o
mencionado executado para no praso
de dez dias, depois de findo aquelle
praso do decendio, pagar a quantia de
79265 réis, importancia da multa, cus-
tas e sellos em que foi condemnado
nos autos de policia. correcional que
lhe moveu o Ministerio Publico, pelo
crime de tanEaT não do regulamento
militar, ou nomear á penhora bens suf-
ficientes para esse pagamento, sob pena
de revelia.
Certã, 26 de novembro de 1898.
E eu Francisco Cesar Gonçalves, es-
crivão o subscrevi.
Verifiquei
Almeida Ribeiro.
COMARCA DA CERTÃ
2.º ANNUNCIO
Pelo Juizo de Direito d’esta comar-
ca, cartorio do escrivão Gonçalves e
nos autos d’execução que o Ministerio
Publico move contra João Alves, cai-
xeiro, filho de Maria Barata e de pae
incognito, natural e morador, que foi,
no logar da Roda de Cima, concelho
d’Oleiros d’esta comarca, citando o mes-
mo executado, que se acha auzente em
parte incerta, para no praso de dez dias
contados passados oito depois de findo
os editos de trinta dias, que começarão
a correr no dia em que se publicar o
ultimo annuncio no — Diario do Go-
verno — pagar a quantia de 128022
réis, importancia da multa, custas e
sellos em que foi condemnado nos au-
tos de policia correcional que o Minis-
terio Publico lhe moveu por infracção
das leis do recrutamento militar, ou
nomear a penhora bens suficientes para
esse pagamento, sob pena de revelia.
Certã, 26 de novembro de 1898.
E eu Francisco Cesar Gonçalves, es-
crivão o subscrevi,
Verifiquei
Almeida Ribeiro.
Historia dos Juizes ordinarios é de paz
POR à
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade do Direito e socio effectivo
do Instituto de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra.
>
SELLOS USADOS
* Compra-se qualquer porção por bom
preço.
Dirigir-se a
AUGUSTO COSTA
Alfaiate
Encarrega-se de fazer todo o serviço
concernente à sua arte, tanto para esta lo-
calidade como para fóra.
Garante-se o bom acabamento.
Toma medidas em qualquer ponto dºesta
comarca.

PREÇOS SEM COMPETENCIA
Rua do Valle, 62
CERTA
João Marques dos Santos
FLORES DE MAIO
(Versos)
Um vol. Preço 400 réis.
Vende-se nas livrarias.
D. JOÃO DA CAMARA
O BEIJO DO INFANTE
Vende-se nas livrarias,
PROCESSO DREYPUS GUEDES TEIXEIRA
CARTA Á MOCIDADE
o A
BOA VIAGEM
POESIA
dita pelo auctor na recita de despedida
do quinto anno juridico de 97-98
Preço 50 réis
a Preço 200 reis
Acaba de sahir do prélo este vibrante
opusculo dirigido à mocidade academica.
Vende-se nas livrarias.
CENTRO COMMERCIAL
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Editora.
Uta DIAS
Completo sortimento de fazendas de algodão,
lã, linho e seda, mercearia, ferragens e quinqui-
lherias, | chapeus, guarda-chuvas e e sombrinhas,
lenços, papel, garrafões, relogios de sala, camas
de ferro e lavatorios, folha de Flandres, estanho,
chumbo, drogas, vidro em chapa e objectos do
mesmo, “vinho do Porto, licores e cognac; livros
de estudo e litterarios, tabacos, etc,
Preços extraordinariamente baratos
competencia,
Agencia da Companhia de Seguros Portu-
cal.
e Sem
| a 7, Praça do Commercio, | a 7
CERTA
Retratos
Tiram-se em differentes tamanhos desde 800 réis a duzia,
‘* garantindo-se a sua perfeição e nitidez.
Encarrega-se de ir tirar photographias a qualquer ponto
d’este concelho, mediante ajuste especial.
| Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Çom-
mercio. —CERTA. |
PYROTRECENICO
CERTÃ
David Nunes e Silva, com officina de pyrothechnia, encar-
Tega-se de fornecer para qualquer ponto do paiz fogo d’artificio,
| com promptidão e garantido acabamento.
“Na sua officina encontra-se sempre um grande e variado
sortimento de fogo de estoiros, e foi della que sahiu o fogo
queimado nos centenarios: — Antonino — de Gualdim Paes —
e da India, — (neste sómente o de estoiros e balõss), cujo
effeito tem sido applaudido pelo publico e imprensa.
Preços sem competenciacia