Gazeta das Províncias nº4 01-12-1898

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A SSICGINATTE A.
CERTÁ, mez, 100 rs. FÓRA DA CERTA, trimestre, 330 rs. AFRICA, semestre, 4$000 rs. BRAZIL, semestre, 25500 rs. Numero avulso, 30 rs.
Toda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
SsSemanario independente
meme amo
as
FUBLICAÇÕES
No corpo do jornal, cada linha 80 rs, Annuncios, 40 rs. a linha. Repetição, 20 rs. a linha. Permanentes, preço convencional; os srs, assiquantes
tém o desconto de 25 0/5, Esta folha é impressana Imprensa Academica, R. da Sophia. Coimbra
Augusto Rossi — Editor
A Inglaterra
tea cena .
Como n’um throno, a nova rainha dos
mares assombra hoje pela sua grandeza. O
mundo tem della suspensos os olhos e
aguarda d’um seu aceno o destino das na-
ções. Laboriosa e perseverante, veiu enri-
quecendo, atravez dos tempos, a mais glo-
riosa historia que povos têm possuido. E
que essa historia, firmada nam trabalho
tenaz é energico, não carrega com o sangue
de muitas batalhas nem com as lagrimas de
muitas victimas.
A velha Albion soube recolher-se em
sua consciencia, concentrar em si as for-
ças mais intimas, educar-se solidamente; e,
quando o christianismo tinha beijado toda à
terra; ella, d’uns pequenos rochedos ao norte
da Mancha, soube tambem levantar os bra-
ços potentes e correr a segurar, a desen-
volver ainda mais, à face da terra, a obra
já implantada de civilisação geral.
Não convinha que o progresso tomasse
a sua antiga fugacidade de nação para na-
ção; era bem que assentasse no seu explen-
dor e illuminasse mais equitativamente O
globo que habitamos.
E parece que essa tem sido a alta com-
prehensão da Inglaterra.
N’um ponto intermedio, entre duas tem-
peraturas accentuadamente distinctas, a sua
situação geographica deixa tomar-lhe a lar–
gos haustos o bastante das brisas ardentes |
do meio dia para amar apaixonadamente.
como a raça latina, os mais lavantados ideaes
da humanidade; mas a equilibral-a.do fervor
d’essas ardencias por vezes estonteadoras,
tem a açoutal-a os frios agudos que lhe vêm
do Polo, chamando-a dos sonhos para a rea-
lidade da vida.
O destino fez assim d’essa nação uma
nação pratica e positiva, sem ser grosseira-
mente egoista.
Não obstante, as suas prosperidades têm |
provocado invejas; admirando-se a sua pru-
dencia em não envolver-se levianamente em
guerras internacionaes, chamam-lhe covarde,
a ella, a nação trabalhadora que tem o seu
braço em loda a parte, que anima as em-
prezas mais extraordinariamente progressi-
vas, que põe generosamente a sua pedra em
cada grande monumento!…
E, agora que a attitude vaga e indecisa
das nações armadas reclama uma linha de-
finida, ergitem-se para insultal-a, com o fun-
damento de que tem os seus arsenaes em
excepcional actividade, os seus exercitos em
mobilisação, a sua diplomacia em movi-
mento…
Mas (até n’isso, suporior !) a Inglaterra,
como que insensivel a afirontas, continua
sempre imperturbavel, consciente das suas
forças, n’uma missão incontestavelmente
civilisadora.
No seu caminho, nem toma a arrogancia
da estouvada Hespanha, nem os rompantes
tantas veses desastrosos do espirito francez.
Vae confiadamente para o seu fim, segue
com segurança uma linha ideal que soube
“itracar-se, — a mais sympatica da civilisação
» gontemporanea, PER
E ninguem dirá que vae n’ella uma cy-
nica, sem alma. com olhos em terra.
— E” ver, é ver a sua enorme littera-
tura! Sachespeare é uma gloria do genio;
no Iyrismo e no drama altinge o maximo da
imaginação e o maximo da verdade, ninguem
o póde ler senão com assombro ou lançado
de joelhos, ninguem lhe conhece egual se-
não na prodigiosa (Grecia antiga. Milton.
cego do corpo, viu bastante com os olhos
do espirito para levantar a mais alta epopea
da humanidade. — O Paraiso perdido, o
grande cantico do christinianismo. Spencer
ê maior que A. Comte; e, como a sua nação
para o mundo, é o maior genio das moder-
nas gerações. Desde Byron, o sublime poeta .
do: pessimismo, até o Walter Scott, o en-
cantador romancista das tradições histori-
cas do seu paiz; desde Dichens, para quem
a vida intima das familias e as côres vivas
dos campos não têm segredos, até Macau-
lay, o grande historiador modelar e con-
sciencioso dos nossos tempos, + em toda
essa pleiade de brilhantes escriptores Lemos
de medir os representantes mais fortes 6
valentes das literaturas contemporaneas.
— E’ ver, é ver as suas assembleias
politicas! Lá se ouve a voz portentosa de
lord Chantan, o notavel orador que fazia tre-
mer Valpole, um dos maiores estadistas da
sua epoca; Fox e Wilian Pitt, defrontando-
se, quaes outros Demosthenes é Eschines,
ascendem às mais sublimes elevações da
eloquencia parlamentar; Occonell, o sympa-
thico e denodado defensor das liberdades
da Irlanda, mais parece, no amor da sua
causa, um vulto sobrenatural do que uma
simples figura de homem; Gladstone, mes-
mo velho, tinha ainda coração e alma para
defender a Grecia opprimida, a Polonia es-
frangalhada e a Irlanda gemebunda: quando
desceu, ha pouco, ao tumulo, o seu cadaver
ia coberto das flôres & das lagrimas de todos
os que amam’o summo bem, de que elle
foi um persistente propugnador e apolo-
gistal..
— É ver, é ver a sua acção directa.nas
conquistas da liberdade. Primeiro, deu o
exemplo. Formou para sia fonte das cons-
tituições liberaes dos povos modernos, — o
habeas corpus. Depois, lançou-se a regiões
longinquas. Creou os. Estados Unidos da
America do Norte, onde reina e floresce a
mais pura democracia.
Se formos observar as suas colonias,
que são uma grande parte do globo, não
as distinguimos da metropole : teem assem-
bleias livres, magistrados energicos, indus-
trias em desenvolvimento e escolas bastan-
tes. — A alma ingleza tem calor que farte
para tudo fecundar!
— É ver, é ver as cidades mais flores-
centes do globo! Bombaim reune às artes
da Europa as maravilhas da Asia; converte
em realidade os contos phantasticos do
Oriente. (O Cairo e Alexandria recordam
hoje, na sua actividade e no seu explendor,
os tempos lendarios dos Pharaós. Melburne,
na Australia, é uma ontra Londres em toda
a ordem de progressos. Ottava, no Alto
Canadá, pompêa no seu desenvolvimento
economico e politico, affirmando todas as
conquistas da civilisação. -Emfim, seria um
nunça acabar pretender enumerar todas as
grandes cidades a que a raça ingleza com-
munica a seiva vivificante dos seus progres-
sos maravilhosos !
— É ver, é ver ainda a sua diplomacia,
sempre decidida e distincta! Apoiando com
as suas sympathias as ultimas luctas’ da .
Grecia, rompeu por sobre o resto da diplo-
macia europeia, que, como sempre, se mos-
trou grosseira é egoista, sem um ideal de
civilisação geral; e eis senão quando, essa
Creta, objecto dos enlevos da Grecia, vê
tremular nas suas fortalezas a bandeira in-
gleza, unicamente a bandeira ingleza, e com
ella o inicio d’uma autonomia que tanto al-
mejava !
E costume objectar-se contra a Ingla-
terra que teu roubado às outras nações a
vasta extensão dos seus dominios. Fraco
raciocinio! E não a tinham tambem rou-
bado essas nações? Com que fundamento,
se não o de civilisação, se deverá reconte-
“cer a um povo 0 direito de levar a sua so-
berania a um outro? Não descurou porven-
tura Portugal a administração das suas co-.
lonias, quando ninguem pensava n’ellas ?
Não foi a Hespanha n’essa mesma corrente?
— Que podiam, pois, responder essas duas
nações, quando, em nome da civilisação,
lh’as foram arrancar? Talvez que tambem
as queriam civilisar! Mas onde os capitaes
necessarios, onde os braços robustos para
as emprezas, onde as consciencias energicas
e dignas para executar perseverantemente
um plano?
Em parte nenhuma, pois se nem cabeça
têm já para se governarem a si proprias!…
Devemos, pois, confessar, por mais que
nos custe ao sentimento nacional, que foi
uma obra de justiça, e que continuará a
sel-o se não nos emendamos, 0 tirar-se-nos
uma «grande parte dos nossos dominios.
Apesar de estarmos já ha mais tempo nos
diversos continentes, é compararmos as nos-
sas colonias ou as hespanbolas, com as das
outras nações, não obstante estarem lá ha
menos tempo. O contraste é desolador! E
depois, queixamo-nos, falamos em dignida-
des, em brios offendidos; mas obras…
nada !
leitores se revoltem contra estes nossos di-
zeres, nos apodem de anti-patrioticos; e,
afinal, se tomámos a coragem de assim fa-
lar, é precisamente porque amamos muito
este pedaço de terra, por onde andaram e
batalharam nossos paes, por onde nos em-
balâmos na infancia e onde será uma ven-
tura fechar pela ultima vez os nossos
olhos!…
E forçoso dizer a verdade nua e crúa.
Não é de tradições que havemos de viver;
é do trabalho proprio e levantado; é das
nossas industrias; é da nossa iniciativa te-
naz e decidida. E para que isto se possa
dar, e para que não nos faltem as condições
de autonomia, e para que não nos caia com |
os corações este migalho querido da terra
patria, é que nos dispozemos a apontar hoje
aqui a figura primacial da Inglaterra no
mundo, para justificar com ella uma alli-
ança que devemos apertar cada vez mais.
Estamos em vespera d’uma conflagração
geral. Tudo o denuncia; a diplomacia pro-
nuncia-se d’uma forma ostensiva. A Hes-
E de presumir que algum dos nossos
panha, arrastando uma lamentavel desgraça
encosta-se à França, pedindo-lhe apoio para
compensar em Portugal as recentes perdas
das suas colonias. A França não se mostra
esquiva a essa attitude. Com a França pa-
rece estar a Russia. Da triplice alliança
pouco ou nada devemos esperar, a não ser
extorsões como a de Kionga e insultos como
o que nos vibrou não ha muito a Italia. Só
a Inglaterra nos convém, e só ella lucra
mais com a nossa alliança.
Estamos, porém, já a adivinhar uma
objecção: mas a Inglaterra tem-nos extor-
quido parte das nossas possessões, e porisso
rasões temos de sobra para a repellirmos
em nome dos brios nacionaes. E as outras
nações, diremos agora, não nos têem feito
o mesmo? |U mal não nos tem principal-
mente resultado das allianças celebradas;
mas da nossa incuria, do nosso desleixo e
insensatez. Administrassemos nós bem e
determinassemos bem os limites do que nos
pertence, e já não nos sobreviriam factos
lamentaveis e tristes, e já nada teriamos a
receiar. E” o que tem succedido à Belgica,
que, sendo pequena como nós, ninguem to-
davia a tem perturbado na sua magnifica
expansão colonial, e tudo porque tem sabido
governar-se. ;
Posto isto, a alliança ingleza é para nós,
no actual momento historico, d’uma impor-
tancia excepcional.
Existe ella já; é preciso, porém, que a
consolidemos. Não podemos estar isolados
no meio das grandes ambições da Europa
contemporanea.
Sem nos esquecermos das nossas ferra-
mentas de trabalho, abracemo-nos a essa
Inglaterra, quasi omnipotente, que tem atraz
de si, a acclamal-a, a civilisação da huma-
nidade; e, na frente, o futuro radiante, com
os seus louros immortaes, para lhe tapetar
o caminho glorioso e Lriumphal, — o aben-
coado caminho d’uma perfectibilidade cada
vez mais ascendente !…
DR RR
Aos nossos collegas de imprensa
que mnoticiaram o apparecimento
d’esta folha, agradecemos.
ECHOS DA SEMANA
Para os effeitos da contribuição indus-
trial, foi approvado por decreto de 12 de
novembro, o mappa geral da clasificação por
ordem de terras, das freguezias do conti-
nente e ilhas. Concelho da Certã :
Cabeçudo, 7.º ordem; Carvalhal, idem;
Castello, idem; Certã, 5.º ordem ; Cumeada,
7.ºordem; Ermida, 8.º ordem; Figueiredo,
idem; Marmeleiro, 7.º ordem; Nesperal, 8.º
ordem; Palhaes, 7.º ordem; Pedrogam Pe-
queno, idem; Sernache do Bomjardim, 6.º
ordem; Troviscal. 7.º ordem; Varzeados
Cavalleiros, idem.
—A conferição das medidas de capa-
“cidade para uso do commercio, deve effe-
cluar-se em todo o corrente mez.
– — Vão ser arrematados em hasta pu-
blica, à porta dos Paços do Concelho, nq nq@@@ 1 @@@
[No
sabbado proximo, os rendimentos municipaes
de imposto sobre peixe e tenudo.
Tambemha de ser arrematado, por quem
menos lanço offerecer, o fornecimento de
carnes verdes para os talhos d’este concelho:
Certã e Sernache.
— Foram arrematadas no sabbado findo,
as obras d’arte no lanço da estráda muni-
cipal da Certã a S. João do Couto, pela
quantia de 975400 réis, sendo o adjudica-
tario o sr. José Santo, d’esta villa.
— Está em arrematação 0 fornecimento
de petroleo para a iluminação publica desta
villa é Sernache.
— Consta-nos que brevemente se vae
proceder aos estudos do ramal, da estrada
d’esta villa à freguezia da Varzea, melho-
ramento a que tem jus os povos d’aquella
freguezia e limitrophes.
Que a ideia vá alem da espectativa é O
que sinceramente dosejamos.
— Foram concedidos 20 dias de licença
pelo ministerio da justiça ao sr. dr. João
Pinto Rodrigues dos Santos.

Carta de Coimbra
——
28 de novembro.
Esteve nesta cidade a companhia da
distincta e eminente actriz Lucinda Simões,
que nos deliciou com dois admiraveis espe-
ctaculos, que deixaram o publico que enchia
a sala, admiravelmente impressionado, e ou-
tra cousa não havia a esperar, de tão admi-
ravel conjuncto.
Representou-se na primeira “noite, sab-
bado 26, o drama tragico de Emilio Zola
— «Thereza Raquim» em que Lucinda e
Christiano mostraram bem claramente os
seus elevados dotes artísticos.
Escusado é fallarmos mais destes dois
artistas, que de ha muito conquistaram o
difficil logar que presentemente occupam na
scena portugueza.
Fallemos agora mais detalhadamente
d’um dos novos que pelo seu elevado ta-
lento, e gosto pelo trabalho, se portou à al-
tura d’um artista irreprehensivel, é elle,
Chaby Pinheiro, o gordo que todos conhe-
cemos.
Encarregou-se Chaby do difficil papel
de Grivet, que é sem duvida um dos mais
difficeis, e apesar do seu pequeno tirocinio,
houve-se como um heroe, o que lhe valeu
justas e merecidas ovações.
Em ambas as noites recitou poesias,
mostrando mais uma vez que é inegualavel
como diseur. Receba pois, as nossos felíci-
tações.
Aos demais interpretes, sômente temos
que lhes tecer rasgados elogios, porque
verdade, verdade, portaram-se admiravel-
mente.
Lucilia Simões, apesar do papel não lhe
q FOLHETIM
ODIO DE FIDALGOS
Almeida Mendes
— Preconceitos que são para rir: no en-
tanto como não o podeis fazer será o mesmo,
Contentar-me-hei com a vêr e se poder, di-
zer-lhe n’um volvor d’olhos, que desejo en-
tabolar correspondencia porque, fallando-vos
à fé de cavalheiro e bom fidalgo, estou ena-
morado d’ella. E
Vasco mordeu os beiços e delineando em
suas faces um sorriso de desesperação, ex-.
clamou :
— Não estão alli as pyramedes do Egy-
pto e portanto não podereis bradar como
Napoleão : «Soldados! vêde que d’aquellas
pyramedes quarenta seculos vos contem-
plam |» A scena é inteiramente diferente e
qs actores da mesma fórma, mi
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 1 DE DEZEMBRO DE 1898
estar a caracter, e do pouco tempo que teve
para o estudar, mostrou-nos ser uma artista
de longo futuro.
No segundo espectaculo representou-se
o «Lenço Branco» comedia que em todas as
scenas é replecta de verve.
Nada alteramos relativamente ao de-
sempenho, do que dissemos do primeiro es-
pectaculo, trabalharam lindamente, se este
termo é sufficiente, para expressarmos
quanto nos agradou.
Egualmente felicitamos o distincto Em-
prezario do Theatro-Circo, sr. Santos Lucas,
que mais uma vez mostrou não se poupar
a despezas e fadigas, para apresentar no
seu Lheatro os melhores artistas que ainda
possuimos.
A companhia retirou hoje para Vianna
do Castello, deixando-nos para consolação
a esperança que á volta dará aqui outro
espectaculo.
Que sejam felizes na tournée e que vol-
tem em breve.
Carlos Themudo.
— o piiigpaçro— —
THEATRO
No domingo representou-se a magica
— Fada Phosfonna, que agradou.
Recita de despedida
” Hoje, a companhia dramatica Lança &
Filhos, despede-se com uma recita de tres
comedias engraçadissimas.
Toma parte no espestaculo o amador
A. Rosi, desempenhando o monologo — Zé
Caluio.
Espera-se que a recita seja coadjuvada
com a comparencia do publico, altendendo
a que é o ultimo espectaculo e que diverti-
mentos d’esta ordem são muito raros n’esta
localidade.
Aproveitem a occasião de passar uma
boa noite e de ajudarem a animar as artes.
CHRÔNICA ELEGANTE
Anniversarios
Faz annos no dia 5 a ex.”2 gr.? D. Elisa
Rodrigues d’Almeida Ribeiro, e no dia 145 a
ex.m sr.º D. Maria Olympia de Sande Ma-
rinha. |
Fez annos no dia 27 de novembro a me-
nina Amelia Crispiniano da Gosta, gentil fi-
lbinha do sr. dr. Antonio Crispiniano da
Costa,
Passou no dia 25 o anniversario natali-
cio dos srs. Emygdio de Sá Xavier Maga-
lhães e Gustavo José da Silva Bartholo, e
hoje o do sr. Daniel Nunes ‘e Silva.
Faz annos no dia 12 o sr. Arthur Cal-
deira Ribeiro.
Fez annos no dia 24 o gr. Frederico Ca-
pello Manzarra Franco.
*
Está n’esta villa o sr. Antonio Martins
Farinha, conceituado commerciante em Elvas.
— Duvidaes então do bom exito da mi-
nha empreza ?
— Duvido, replicou Vasco com um rir
convulso.
— Porque ? replicou o lanceiro estupe-
facto.
— Porque aquella mulher ha de ser mi-
nha esposa no espaço de oito dias.
E acompanhou estas palavras com uma
risada sinistra, de fazer arripiar os cabellos
e sabiu da salão.
Entranhou-se n’uma floresta e seguiu um
carreiro, que se estendia entre corcovos até
ás margens de um medonho despenhadeiro:
no lugar em que este principia levanta-se
uma tosca cruz de pau, que nos traz à lem-
brança um crime outr’ora perpretado: co-
brem-n’a o musgo e as heras entrelaçadas,
bate-lhe em cheio o melancholico luar.
Oh cruz, symbolo de-diva religião, como
tu és bella vestida de humildes andrajos,
brilhando com o reflexo do astro fagueiro,
error na DO a Re a a LS A na O an 00 una
*
Sahiram para Figueiró dos Vinhos as
ex.7ºº sr, D. Clementina Ribeiro, D. Hen-
riqueta Victoria da Matta Ribeiro, D. Ritta
Fernandes Gonçalves e o nosso presado
amigo Jayme de Sande Marinha, administra-
dor d’esta folha.
*
Regressou de Alcains, sua terra natal, O
digno vigario d’esta villa sr. padre Francis-
co dos Santos e Silva.
E
Esteve n’esta villa seguindo já para. o
Porto o sr. José Dias Bernardo, brioso sar-
gento da armada.
x
Parte brevemente para Mossamedes, Afri-
ca occidental, o nosso presado amigo Carlos
Acciaioli da Fonseca. Freire Themudo, que
ali vae assumir um importante logar para
que acaba de ser nomeado.
Felicidades é o que de coração lhe dese-
jamos.
*
Sahem brevemente para Lisboa o nosso
“presado amigo dr. Accacio de Sande Mari-
nha e sua ex.”2 esposa D. Alice Hercilia Fer-
nandes Gonçalves e a ex.”à D. Henriqueta
Ribeiro, gentil sobrinha do SP. onBiGirO
Baima de Bastos,
vw
Passa inconmodado de saude o sr. José |
d’Azevedo Barlholo, digno contador do juizo
desta comarca e abastado proprietario.
a
Está já melhor o sr. José Custodio Mar-
tins Vidigal.
*
Sae âmanhã para Castello Branco, 0 nosso
amigo, o sr. José d’Oliveira Cabral, digno
conductor d’Obras Publicas.
—. —DDe=-—
Sabemos que a eximia actriz Lucinda
Simões, tenciona ir em breve a Thomar,
lerra que tem desejo de admirar, e apro-
veitandó a occasião dará ali um qu dois es-
pectaculos.
Desde já felicitamos o publico Thoma-
rense que vae ter ensejo:de apreciar uma
das glorias da scena portugueza.
MUNDO EM FÓRA
Os Dom dE ecea “Sm Hawai
Porto ktico e Filippinas
Telegrapham de Washington que a com-
missão organisadora da politica em Hawai
resolveu que os portuguezes alli residentes
gosem das vantagens e regalias que desfru- ‘
ctam os naturaes do archipelago, no caso
que se naturalisem americanos.
“photographias suas à policia.
«a ser detido um cavalheiro que se lhe pa-
ER ant cê terão os residentes
em Porto Rico e Filippinas.
Carlismo
Redobram as precauçées perante O re-
ceio de uma nova insurreição carlista,
Em varias provincias tem-se realisado
buscas domiciliarias em casa de caracterisa-
dos amigos do pretendente.
“ Foram detidos dois frades por suspeitas
de protegerem e ajudarem a causa carlista.
“ Estes frades foram presos na estação
do meio dia. Revistados, nada se lhes en-
controu de suspeito. Interrogados, protes-
taram a sua innocencia. Foram postos em
liberdade.
Em Madrid não deram resultado as bus-
cas realisadas.
O filho de D. Carlos, D. Jayme de Bour-
bon, tem estado em San Juan de Luz, na
fronteira de Hespanha, em companhia do
general carlista Secanells, ajudante de campo
que; foi de D, Carlos na ultima guerra car-
lista. Foi visitar o celebre chefe carlista
que lá reside, D. Tirso Olazábal.
Correu em Madrid que D. Jayme se
achava nesta cepital e foram. distribuidas
Chegou atê
recia.
0 governo deu ordens rigorosas ao go-
: vernador de San Sebastian e perguntou-lhe
se de Tolosa, Oyarzun, Irún e Fuenterrabia
tinham sahido para a fronteira de França
pessoas de significação carlista.
: Foi nomeado encarregado da estação de
Areias, concelho de Ferreira do Zezere, O
sr. José Augusto dos Santos Monteiro. ..
CANCIONEIRO
Elaine end
MORS-SANCTA
À minha Mão
A tarde cahia brandamente,
E o Sol-Poente, n’ Agonia
Beijava, tremulo e ardente,
A terra ridente d’alegria,
Na casita, trlste é sombria,
Em velho catre, dôcemente,
A emferma — coitada — sorria,
A alar ao Geo tristemente…..
O ultimo clarão de luz morria,
Deixando a salla, lentamente,
Quando a velhita, branca e fria,
Pendeu a cabeça castamente.,.. «va
E no ultimo sopro da Vida, que fugia,
Ouviu-se, de brando, ciciar ; — Avé-Maria.
IX-=98.
Eis Canavarro de Valladares.
que paira tristemente na abobada celeste e
semelha querer abraçar-te com seus raios
de mago fulgor! como tu, envolta em pro-
funda melancolia, imseras sobre a nossa alma
e nos attestas que existe um Deus confun-
dindo o maior dos descrentes com a tua sim-
plicidade.
No fundo do valle destacam-se fórmas
vagas representando brutas rochas, penedos
“concavos por o meio dos quaes refervem as
aguas do rio, que se levanta em espumantes
cachões,
Que magestoso e horrivel espectaculo !
Tocam-se os extremos : tudo o que ha
he mais bello alli accumulou a natureza a
par de quanto ha mais horroroso.
Desçamos por esta vereda cercada de
matagaes que nos leva ao fundo do abysmo;
aqui o espectaculo muda; torna-se saturno:
a agua sussurrando e batendo fortemente
nos rochedos transforma-se em espadanas,
que com o reflexo da lua semelham astilhas
de ouro e prata. As rochas assumindo fór-
—— acres
mas phantasticas, imagens frias de tectrico
sarcophago parecem negras legiões de de-
monivs sahidas das entranhas da terra: as
arvores seculares, já como não podendo sup-
portar o peso dos annos, curvam Os seus
ramos sobre as aguas servindo-lhe de re-
“creio na desenvolta corrente.
Porém, deixemos estas scenas a que,
com certeza, O leitor não tem vontade de
assistir € prosigamos o nosso caminho: so-
bre a corrente estão lançados dous grossos
troncos de sovereiro que servem de ponte
para a passagem de um para o outro lado :
franqueemol-a e subamos a margem opposta
do despenhadeiro: do alto avista-se em gran-
de extensão longas planicies onde se levanta
“um grandioso palacio.
Fazer-vos a sua minuciosa discripção,
é-nos impossivel pois que a lua não o illu-
mina n’este momento e portanto corramos
a juntar-nos n’um excellente salão com Vasco
e os fidalgos da casa: columnas de estylo
gothico de que pendem luxuosos tropheys,ys,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 1 DE DEZEMBRO DE 1898
00 cent eme
(e
Sciencias & Letras
“ESBOCETO
(Conto)
A Ernesto de Sande Marinha.
Como suaves murmurios de prece as
ultimas badaladas das Avé-Marias, diluiam-se
dôcemente por entre as carvalheiras das
quebradas e oschoupos das devesas quando
a gentil pegureira, reunido o rebanho, prin-
cipiou a descer lentamente a encosta.
A tarde cahia gradualmente esbatendo,
pouco a pouco, os objectos, emquanto a lua
surgindo, pallida é myst’riosa por sobre os
montados d’Alem. Tamega, vinha princi-
piando a nimbar com a sua phantastica luz
a paysagem surprebendente d’aquelle valle,
minhôto.,
A pastorita, dominada pelo sentimento
inconsciente do Bello, parou admirada ante
o espectaculo incomparavel d’aquelle cahir
de tarde de verão e como que surprehendida
por, com a presciencia da sua Alma sonha-
dora de Mulher; não ter ainda ‘advinhado
essas occultas maravilhas da natureza; e,
emquanto o rebanho, pacífico e bom, se des-
sedentava tranquilamente no ribeiro rumo-
rejante do córrego, debaixo do olhar vigi
lante do velho cão de guarda, ella ficou-se
a scismar, olhos no Infinito, a bocca verme-
jha e sadia, entre-mostrando: wma branca
fieira de perolas, aspirando brandamente à
embriagadora aragem que, fresca e vivifi-
cante, subia do aspero leito da corrente,
vindo acariciar meigamente as folhas dos
freixos e olmos que, inclinando-se graves e
esguios, iam beijar a agua espumante que
resaltava de rochedo em rocnedo, ladeira
abaixo. : Es
A lua acabava de romper e agora, es-
preitando silenciosa lá dos, ceus, semelhava
olympica rainha sentada em inaccessivel
throno de fragoas e penedias, formado por
successivas cadeias de asperas serras que,.
em suaves ondulações, vinham morrer mes-
mo à beira-rio, do outro lado da planicie,
como enormes vagas que mão omnipotente
tivesse sustido e immobilisado, no momento
em que, feitas alva espuma, viessem expi-
sar beijando, n’uma derradeira caricia a areia
scintillante da praia.
Depois, pouco a pouco, principiavam a
apparecer as grandes quintas morgadias,
umbrosas de videiras e antigos castanheiros,
d’entre a folhagem escura dos quaes, emer-
giam às vezes sombrias capellas de velhos
solares ou resaltavam azulejos brilhantes de
“algum palacete de brazileiro; de espaço à
espaço, como nodoas escuras, cortavam à
paysagem fechados pinheiraes“e sombrias
mattas, que punham cambiantes melancho-
licos no fundo alegre e claro da perspectiva;
a voz cantante e fresca dos regates que, aqui
e alli, brilhavam nas clareiras, alliando-se à
nota grave e sussurrante das levadas des-
apparecendo no cubo dos moinhos quebra-
vam monotonamente aquele silencio vago
indefinido dos campos, ao anoitecer.
Como um mudo aviso, o olhar meigo e
bom. do fiel molosso cravou-se no rosto da
graciosa pastora que, quebrado o extranho
encanto que a prendia alli, níuma feliz in-
diferença, n’um inexplicavel socego d’Alma,
boa e crente, a contemplar a Biblia immensa
e intradusivel da creação, principiou de novo
a caminhada, saltitando de pedra em pedra,
leve com’uma arvéola, os pesitos magros é
trestados bailando dentro “dos grosseiros
sóccos ; O busto, fino e miudinho, inclinado
para a frente, sob a onda fulva e brilhante
da loura trança.
sessao stc dq paso nn na no sn to 0 0
O gado deixara o trilho aspero e mau do
sêrro, e entrando na larga quélha, — em-
sombrada pelos ramos de grossos sobeiros,
que coavam dôcemente, como mágicos phil-
tros, O clarão suave e baço do luar, — prin-
cipiou de caminhar unido, escoltado por O
bom do cão, que, manso e tranquilo, vinha
beijar com o seu olhar lympido e casto de
espirito incomprehendido a fronte pensativa
da pobre Izabelita, cujo corpo flexivel e ele-
gante se desenhava disformemente ao longo
das fitas de luz,
Livre de receios pelo seu rebanho amado
ella pôz-se à reflectir e achara aquilo uma
tolice: como é que ella, a austera e séria
Isabelita, a mais esquiva de todas as do lo-
gar, consensentira em aprazar uma entrevis-
ta, no quintal, ao estroina do sr. Jorge — O
galante: sobrinho do morgado ?
E o seu raciocinio claro habituado a dis
correr solitario no horisonte largo dos mon-
tados, sob as ardencias do sol d’Agosto e os
rigores idas chuvas do Inverno, agora que
estava livre da influencia seductora das phra-
ses bonitas e do olhar attrahente de Jorge,
condemnava-aquelle passo !… de repente,
porém, .como, visão fugitiva, surgia à sua
phantasia embryonaria d’aldeã a -elegancia
requintada, a beleza correcta desse, rapaz —
o Don Juan do-sítio — e “a vaidade nata da
mulher preferidada, sobre outras, vinha pa-
| ralysar num momento a reacção benetica da
“vontade, de maneira que a pobresita, O €0-
ração em sobresalto, descuidosa e ingenna,
não: sabendo “que partido tomar, sentia na
sua Alma affectiva e sensivel uma anciedade
amarga que punha contracções dolorosas no
seu rostosinho moreno, sympathieo é fino.
E distrahida, olhar no Infinito, sob a ca-
ricia dolente e voluptuosa do pallido luar,
assim foi, quasi sem se aperceber, até à en-
trada do vasto terreiro, onde, ao fundo, en-
tre os vultos claros das brancas casitas, se
desenhavam, como fitas negras e tortuosas,
as ruellas escuras da aldeia.
E attravessando devagar o espaço que à
separava ainda do arco tosco e musguento
do velho portal de sua casa, ella admirava
em silencio a doce melancholia d’aquella poe-
tica hora em que a Natureza inteira principia
a repousar da tarefa quotidiana.
De dentro das casas, d’envolta com o fumo
acre dos pinheiros verdes, ardendo nas la-
reiras, vinham choros amargos de creança,
que se casavam desharmonicamente com O
tom profundo e arrastado do mugir dos bois
do fundo lobrego dos quinteiros..
Pelas encostas, como cyelópicos esqua-
drões, os pinheiraes e carvalhadas galgavam
socalcos e fraguêdos até irem morrer brus-
“camente aos pés do adro. verdejante d’al-
guma érmidita, branca como arminho, re-
saltando vivamente do fundo escuro dos mon-
tes, cortados pela fita poeirenta da estrada,
onde áquella hora a diligencia principiava a
fazer ouvir O tilintar especial das originaes
colleiras de guisos dos seus magros cavallos.
siniu Dr eioja nojo vo danos 00 0/08 0 0/0, 0/0 a) no 250/16
Isabelita de lançar um terno e saudoso
sustentam o vasto tecto pintado a oleo re-
presentando um banquete de Lucullo, as pa-
redes de marmore são de grande altura, as
portas e as janellas occultas por ricos repos-
teiros de velludo carmezim.
Em todo o comprimento do salão esten-
de-se uma meza, de carvalho de notavel la-
vrado e marchetada de madre-perola, que
geme sob o peso de profuso banquete: é
cercada por cadeiras do mesmo pau é gosto
occupadas por convivas de ambos OS sexos.
Mulheres feias e bellas, meio nuas, des-
carnadas e macilentas all se nos mostram
envoltas com os homens semi-embriagados,
quasi cadaveres e putridos pela devassidão.
E os senhores do solar, os fidalgos de nobre:
linhagem e cuja nobreza descendia das eras
mais remotas davam o exemplo e eram elles
os primeiros a beijar as impuras messalinas,
a oscular-lhe os labios de demonio, apalpar:
lhe as fóôrmas tantas vezes maculadas é que
a tantos tinham servido de prazer !
Que és tu, ob nobreza, senão O escarneo
aeee
da sociedade ? que és tu, senão uma amarga
ironia vibrada às faces do povo ?
Quem fôr fidalgo, quem liver esses ve-
lhos pergaminhos, póde praticar todos os
crimes, que nobreza é viseira, que offusca
os olhos da justiça!
E o banquete continuava : succediam-se
as libações, os vivas entremeados de gritos,
regidos e surdos monologos : alli fervia um
marasmo de paixões insanas, que só pode-
riam acabar’ com o total entorpecimento dos
membros.
No entanto continuavam sempre.
Entre esses vultos uni apparecia que se
“ distinguia dos outros pelas meiguices dirigi-
das a uma formosa messalina cujo corpo era
“o de um anjo, porém o coração —e quem o
sabe? — seria o de um demonio ?. Quanto
as suas fórmas eram breves e subtis! quanto
o seu rosto fagueiro, os seus olhos ornados
de louras pestanas eram bellos! E o nariz
e os labios ?… nem o podemos dizer.
“Gifrava-se n’esta mulher —a quéda de
olhar — olhar em que ia um poema inteiro
de Amor e de amargura — para a larga: sa-
cada quê, ao meio, dividia a fieira egual é
fradesca das janellas de peitoril do antigo
sollar do morgado, e onde ella divisava O
veston de flanelia clara do seu amado, guian-
do o enorme rebanho, desappareceu sob o
arco tosco e musguento do velho portal de
sua casa. ;
(Continda).
Coimbra — XI — 98.
Ganavarro de Valladares.
Carta de Portalegre
29 de novembro.
Foi aqui extremamente sentida a morte
do illustre estadista Henrique de Barros
Gomes. Com effeito, desappareceu-com eile
um dos caracteres mais impollu’os da actual
politica portugueza, tão decadente em que
se erguia, puro e honesto, como a flor do
lótus nas tristezas d’um pantano! a
Barros Gomes foi sempre notado por
um elevado patriotismo e por um profundo .
conhecimento dos negocios publicos. Quer
em questões internas, como aquelas em
“que se involveu por causa da fusão, que foi
felizmente passageira, do partido progres-
sista com o republicano, quer em questões
internacionaes, como a do Utimatum Inglez,
— sustentou sempre e com.energia a digni-
dade do seu paiz. Consciente dos seus de-
“veres, levou ao extremo o cumprimento de
elles, vindo.a morrer victima do seu trabalho
honesto e valioso em beneficio da patria que
“elle extremecia tanto!
Todos os jornaes portalegrenses lhe con-
sagraram palavras de merecida saudade,
publicando-lhe á Plebe’o retrato.
Suftragando a alma do eminente homem
de Estado, foi resada em 19 de novembro
uma missa, a que assistiu a gente mais
grada da cidade, sem distincção de côres
politicas. Foi um acto de piedade e justiça
que bastante honra os que o promoveram.
—Vae dentro em breve apparecer n’esta
cidade um jornal intitulado Revista Acade-
mica, cujo producto liquido será destinado
à Caixa Philantropica Academica. Como se
vê, O fim é altamente humanitario é gene-
roso; e o meio, estimulando ao culto das
lettras, é digno dos mais levantados elogios.
Felicitamos porisso os iniciadores da
empreza, e desejamos ao novo jornal as
boas vindas. Ea
— No dia 28 de manhã manifestou-se
um violentissimo incendio na fabrica pequena
do sr. Robinson, resultante da explosão de
uma lata d’oleo de linhaça. O fogo commu-
nicou-se com rapidez às casas visinhas, pro-
duzindo grandes estragos.
O desastre é attribuido à incuria e des-
leixo dos empregados.
Os prejuisos são enormes.
—)0 tempo tem estado por aqui chuvoso
e frio.
José Lino.
um anjo—; o seu algoz fôra a — no-
breza —.
Pois esse homem era Vasco dã Masca-
renhas, 0 fidalgo que em pouco tempo se
devia unir a uma menina, «uma virtudes
no seu dizer: e elle era o principal, ninguem
lhe tirava a palma: a saturnal crescia, os
vinhos em espumantaças succediam se aos
“abraços, beijos…
O tempo corria sempre sem variedade
de scenas alé que às tres horas da manhã
uma voz semelhante áquella sahida de ge-
lida campa, bradou :
“—D. Vasco de Mascarenhas, tu és um mi-
seravel… Em nome de teu pae eu te amaldiçõo!
Um grito sinistro fugiu dos labios de to-
dos: olharam-se, porém, não se compreben-
deram: uma pallidez mortal cubriu o rosto
de Vasco: olhou em roda, mordeu os beiços,
cerrou os punhos, mas não articulou sequer
uma palavra.
— Eu te amaldiçõo | echoou em todos os
cantos da sala.
MARCO POSTAL
Oleiros, 28 — Francisco Antunes,
do logar da Serra, d’esta freguezia, appa-
receu morto dentro da casa de habitação.
Não se suppõe haver criminalidade.
-— Ficamus hontem sem a correspon-
dencia que nos chega pela via de Castello
Branco, por. o; conductor da mala não poder
atravessar a serra da Lontreira, proximo
daqui, em consequencia do mau tempo.
— Foram eleitos vogaes da junta de
parochia os srs. Manuel A, Jorge, José Luiz,
João Antunes e David Pinheiro.
— A sociedade philarmonica d’esta villa
projecta festejar o dia 1,º de dezembro.
Recorde-se essa data gloriosa que nos |
libertou do jugo do demomo do meio dia a
que nos sujeitára-a educação d’um principe
ou 0 effeito d’uma guerra desastrosa ; a fra-
‘queza d’um monarcha velho e amargurado
ou a cobiça d’outro opulento e vigoroso; O
ouro. d’uns ou a corrupção d’outros. Ses-
senta annos de Lyrannias’ apesar das pro-
messas de FPilippe IL! sessenta annos ver-
gada ao peso de affrontas e de vexames à
patria de D. João, 1, dos heroes de Aljubar-
rota !
Em conciliabulos se decide o restabele-
cimento da monarchia nacional. Sofire-se,
espera-se impaciente, até que alfim resurge
o dia 1.º de dezembro de 1640. Os con-
jurados n’um momento depõem o rei cas-
telhano e sobem: ao solio: portúguez o 8.º
duque de Bragança! peoL
Dia glorioso, data memoravel, que a
bem de tão legitimos’ patriotas, nos recor-
dará infinitamente–os nomes famosos de
D. Felippa de Vilhena, D. Marianna de
Lencastre!
— «E assim perde D. Filippe com lu-
minarias e festas um reino tão poderoso !»
C.
UTILIDADES
Lingua de carneiro à franceza
Depois de branqueada e picada com tou-
cinho, juntam-se-lhe cenouras, cebolas, salsa,
sal, pimenta e caldo de vacca, cozendo-se
em seguida a fogo brando.
Estando completamente cozida, tira-se-
lhe a gordura, escuma-se e serve-se com
pepinos de conserva e alcaparras.
Savel assado
– Preparado e enxuto, faz-se-lhe uma in-
cisão nas costas desde o alto até abaixo;
depois unta-se com mateiga ou azeite, rodas
de cebola e de limão, salsa, sal e pimenta.
Depois de estar neste molho um bocado,
assa-se nas grelhas de um e outro lado,
salpicando-o de vez em quando com o mesmo
molho já preparado; estando assado e bem
alourado, serve-se com o molho de azedas
ou de alcaparras. ;
E este echo era cavernoso: uma rajada
de vento que fóra, suprou com fúria, fazendo
estalar as vidraças, veio augmentar-lhe o
tectrico effeito.
— Quem é 0 insolente, gritou Vasco, que
ousa-assim desafiar-me ?
— Pergunta-o à campa, volveu com ac-
cento medonho, e vê se te responde.
O fidalgo deixou cahir a cabeça para 0
peito e calou-se: a voz desconhecida imitou-o:
aquelle esteve abysmado em vaga lethargia
e acordando depois com subita reacção, ex-
clamou :
— Dizia bem, eu sou um miseravel.
Os companheiros fitaram por instantes a
porta por onde elle sabiu, voltando logo aos
interrompidos prazeres. +… teta O SRD Ss
asus aunnaaa ss e…
Continia,,a,,@@@ 1 @@@
—— e mecenas
SESSÃO DE CAMARA
DE 24 DE DEZEMBRO DE 1898
E ”
Vereadores presentes os srs. Magalhães,
Carvalho, Vidigal, José Diniz e Tavares.
Deliberaram :
— Mandar proceder ao estudo das
obras a fazer na mina da Bicca, afim de se
evitar que no encanamento que conduz a
agua potavel para abastecimento d’esta villa
entrem as aguas pluviaes.
— Concederam quatro subsidios de la-
ctação, por 12 mezes.
— Auctorisou O pagamento dos venci-
mentos aos empregados que recebem pelo
colre do municipio, no fim do mez.
— cmo cipa
Eleições da Junta de Parochia
Ficaram eleitos para servirem no triennio
de 1899 a 1904, como vogaes da Junta de
Parochia d’esta freguezia, Os srs:
Effectivos
David Nunes e Silva
Luiz Martins
Joaquim Francisco
João Raphael Baptista.
Substitutos
João Joaquim Branco
Joaquim Nunes e Silva
Antonio Francisco
“Francisco Barata.
KALENDARIO DE DEZEMBRO .
Domingo — | 4 /41/18]25
Segunda-feira —| 5 |12/19/26
Terça-feira —| 6 |13/20/27
Quarta-feira —| 7/14/21]28
Quinta-feira 1 | 8115/22/29
Sexta-feira 2/19 /16/23/30
Sabbado 3/40/17/24/31
Quarto minguante a 6.
Lua Nova a 13.
Quarto crescente a 20.
Lua Cheia a 27.
———— eee
— Minha mulher teve uma criança!
— Um rapaz?
— Não !
— Foi uma menina ?
— Como diabo advinhou você?!
CEOs PASTE
ANNUNCIOS
EDITOS DE 80 DIAS
1.º ANNUNCIO
Pelo Juizo de Direito d’esta comar-
ca da Certã, escrivão Gonçalves e nos
autos d’execução que o Ministerio Pu-
blico move contra Abilio da Silva, sol-
teiro, carpinteiro, morador que foi, na
Villa de Proença a Nova, d’esta comar-
ca, actualmente em parte incerta, cor-
rem editos de trinta dias que começa-
rão a correr passados oito a contar do
dia em que se publicar o ultimo annun-
cio no Diario do Governo, citando o
mencionado executado para no praso
de dez dias, depois de findo aquelle
praso do decendio, pagar a quantia de
79265 réis, importancia da multa, cus-
tas e sellos em que foi condemnado
nos autos de policia correcional que
lhe moveu o Ministerio Publico, pelo
crime de transgressão do regulamento
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 1 DE DEZEMBRO DE 1898
militar, ou nomear á penhora bens suf-
ficientes para esse pagamento, sob pena
de revelia.
– Certã, 26 de novembro de 1898.
E eu Francisco Cesar Gonçalves, es-
crivão o subscrevi.
Verifiquei
Almeida Ribeiro.
COMARCA DA CERTA
4.º ANNUNCIO
Pelo Juizo de Direito d’esta comar-
ca, cartorio do escrivão Gonçalves e
nos autos d’execução que o Ministerio
Publico move contra João Alves, cai-
xeiro, filho de Maria Barata e de pae
Incognito, natural e morador, que foi,
no logar da Roda de Cima, concelho
d’Oleiros d’esta comarca, citando o mes-
mo executado, que se acha auzente em
parte incerta, para no praso de dez dias
contados passados oito depois de findo
os editos de trinta dias, que começarão
a correr no dia em que se publicar o
ultimo annuncio no — Diario do Go-
verno — pagar a quantia de 128022
réis, importancia da multa, custas é
sellos em que foi condemnado nos au-
tos de policia correcional que o Minis-
terio Publico lhe moveu por infracção
das leis do recrutamento militar, ou .
| nomear a penhora bens suficientes para
esse pagamento, sob pena de revelia.
Certã, 26 de novembro de 1898.
E eu Francisco Cesar Gonçalves, es-
crivão o subserevi.
Verifiquei
Almeida Ribeiro.
AUGUSTO COSTA
Alfaiate
Encarrega-se de fazer todo o serviço
concernente à sua arte, tanto para esta lo-
calidade como para fóra.
Garante-se o bom acabamento.
Toma medidas em qualquer ponto d’esta
comarca.
me
fa
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PREÇOS SEM COMPETENCIA
Rua do Valle, 62
CERTÃ
SELLOS USADOS
preço.
Dirigir-se a
TULL DIAS
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João Marques dos Santos
FLORES DE MAIO
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Um vol. Preço 400 réis.
Vende-se nas livrarias.
D. JOÃO DA CAMARA
O BEIJO DO INFANTE
Vende-se nas livrarias.
Historia dos Juizes ordinarios e de paz
POR
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade de Direito e socio effectivo
do Instituto de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra.
Compra-se qualquer porção por bom
GUEDES TEIXEIRA |,
BOA- VIAGEM
POESIA
dita pelo auctor na recita de despedida
do quinto anno juridico de 97-98
Preço 200 réis
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Editora.
PROCESSO DREYFUS
CARTA Á MOCIDADE
POR
EMILIO ZOLA
Preço 50 réis
Acaba de sahir do prélo este vibrante
opusculo dirigido à mocidade academica.
Vende-se nas livrarias.
CENTRO COMMERCIAL
LUIS DIAS
Completo sortimento de fazendas de algodão,
lã, linho e seda, mercearia, ferragens e quinqui-
lherias, chapeus, guarda-chuvas e sombrinhas,
lenços, papel, garrafões, relogios de sala, camas
de ferro e lavatorios, folha de Flandres, estanho,
chumbo, drogas, vidro em chapa e objectos do
mesmo, vinho do Porto, licores e cognae; livros
de estudo e litterarios, tabacos, et
Preços extraordinariamente baratos e sem
competencia,
Agencia da Companhia de Seguros Portu-
gal.
| a 7, Praça do Commercio, | a 7
CERTA
Tiram-se em diferentes tamanhos desde 800 réis a duzia,
garantindo-se a sua perfeição e nitidez.
Encarrega-se de ir tirar photographias a qualquer ponto
d’este concelho, mediante ajuste especial.
Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Com-
mercio. —CERTAÃ.
PYROTHECHNICO
CERTÃ
David Nunes e Silva, com officina de pyrothechnia, encar-
rega-se de fornecer para qualquer ponto do paiz fogo d’artifício,
com promptidão e garantido acabamento.
Na sua olficina «encontra-se sempre um grande e variado
sortimento de fogo de estoiros, e foi della que sahiu o fogo |
queimado nos centenarios: — Antonino — de Gualdim Paes —
e da Índia, — (neste sómente o de estoiros e balõos), cujo
effeito tem sido applaudido pelo publico e imprensa.
Preços sem competencia,ia,