Gazeta das Províncias nº17 09-03-1899
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sSemanario independente
menina,
——
=
; ASSIGNATURA
CERTA, mez, 400 15. FÓRA DA CERTA, trimestre, 330 Es. AFRICA, semestre, 15000 rs. BRAZIL, semestre, 28300 15. Namero avulso, 30 rs.
Toda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
0 EXCLUSINISNO: DAS CLAN
Se já é muito o que se tem accumu-
lado na obra gigantesca da civilisação
humana, muito mais falta ainda para
erguel-a á altura, em que, mergulhando
no infinito, possa receber em cheio os
raios d’um sol glorioso, egual e am-
plol…
O esforço da nossa geração, de cer-
to, não bastará para isso. E” forçoso
que outras gerações sobrevenham, e
que todas ellas deponham a sua pedra
nesse soberbo monumento, que vem
subindo, dia a dia, no meio dum as-
sombro geral! e
Aceresce ainda que, para arrojal-o
ao infinito, não chegará o simples pro-
gresso material, de que, com justifi-
cada razão, já tanto nos orgulhamos. |
Ha mais a fazer.
A ordem moral tem as suas exi-
gencias, e; déem lá as voltas que de-
rem, as sociedades, sem ella, cançam
na sua marcha ascensional.
Grande foi Roma; tremeu o mundo
com o seu nome, e, mal perdeu a força
moral da sua raça, o singular edificio
que levantou, esboroou-se, em pedaços,
n’uma tristeza indefinida. ..
A Grecia parecia immortal nas
mãos de Themistocles. A patria de Ly-
curgo e de Solon, que tinha a doce
lyra de Pindaro e o fogo extraordina-.
rio de Demosthenes, julgava-se supe-
rior á morte, como” o seu genio; mas,
um dia, com a sua decadencia moral,
rasgaram-lhe a sepultura, e as mansas
ondas do mar Egeu, que a haviam em-
balado, com as suas brancas nympbas,
ouviram-se chorar um triste cantico,
cujos échos ainda hoje repetem, saudo-
samentel…
E’ verdade que é lei das nações,
como dos individuos, morrerem para
dar logar a outras; mas tambem é ver-
dade que os individuos, como as na-
ções, alongam a vida, subordinando-se
a uma conducta regular,
…—E Roma e a Grecia morreram
na orgia e no goso immoderado dos
praseres: tombaram por isso antes do
tempo!
Com effeito, o nervo mais consis-
“tente da vida das sociedades consiste
na força moral. Tirem-n’a, e tudo ruirá.
Substituam-na, e abrir-se-ha um abya-
-mo, Abafem-na, e o sentimento de hu-
manidade fugirá no espaço, como ave-
sinha afugentada do ninho…
Não queremos considerar aqui a
força moral na sua larga e complexa
amplitude.
Queremos apenas olhalia por um
lado especial, aliás momentoso: — sob
o exclusivismo em que se mauteem
EUBLICAÇÕES
No corpo do jornal, cada lina 80 75. Anouncios, 40 18. a linha. Mepelição, 20 rs. a linha. Permanentes, preço conrencional; 05 srs. assignantes
têm 6 desconto de 25 0/p. Esta folha:é impressa na Imprensa Academica, R. da Sophia, Coimbra
Augusto Rossi — Editor
actualmente as classes Sociaes, umas
para com as outras. –
Quse alguem dizer, n’um desabafo
sincero de critica, que o exercito não
fez, em qualquer campanha, quanto
podia ou devia; e immediatamente a
classe militar se levantará toda a pro-
testar, falando em brios, apontando
batalhas, allegando que a ponta das
lanças é a mais poderosa garantia da
integridade nacional!
Atreva-se a imprensa a narrar que
um crime foi praticado por um padre
ou por outra qualquer pessoa sujeita a
votos religiosos; e logo a classe ecele-
siastica, unidas as fileiras, se erguerá,
indignada, maldizendo dos pedreiros
livres, da maçonaria e da jacobinagem! |
E, por esta fórma, se accendem as
lutas civis d’uma nação, e se consomem
actividades intellectuaes, dignas de me-
lhor destino.
Por que, ha coisa de um anno ou
dois, se disse no discurso da corôa que
a marinha de guerra sabia cumprir,
em regra, o seu dever, rompeu logo ma ,
celeuma de indignação, por parte do
exercito, para lavar uma pretensa af-
fronta,
“E, por isto, esteve em perigo um
ministerio!…
Quando a irmã Callecta do con-
vento das Trinas, aceusada dum cri-
me, foi judicialmente reconhecida au-
ctora do envenenamento duma crean-
ça, embora involuntario, as hostes.
ecclesiasticas houveram por bem fa-
zer-lhe uma manifestação de sympa-
thia, como se a merecesse quem passe
por um enganol…
Unico…
O celebre crime de Lille, tão falado
agora na imprensa periodica de todas
as nações, não obstante todos os indi-
cios serem contra um famoso Padre
Flaminio, deu occasião a que o clero
cobrisse de flores o nome deste padre,
jurando a sua innocencia e dificultando
as averiguações da justiça.
Lamentavel!…
Os laços solidarios assim compre-
hendidos levam a suppôr uma espe-
cie de cumplicidade, em que, aliás,
não creio; mas a que attribuo, pelos
outros factos sociaes em que appare-
cem as mesmas manisfestações, a an-
tipathia que, de ordinario, se vota à
classe ecclesiastica.
A questão Dreiphus obedece, nos
seus vergonhosos e tragicos rancores,
ao espirito exclusivista das classes. O
exercito anda empenhado n’ella, não
por amor da justiça e da verdade, mas
para salvar o que chamam a sua honra,
que pretendem intangivel. O clero in-
volve-se egualmente na mesma questão,
não para proteger a innocencia, mas
para perseguir essa pobre raça judaica,
sombra de Ashaverus, que parece ter
ainda sobre a cabeça a maldição tre-
menda do Eterno! Esquecem-se de
que do alto do Calvario partiu um
grito de perdão, e que o espirito da
Igreja rejeita uma tão rancorosa hosti-
lidade.
Em tudo e por tudo está resaltando
o exclusivismo das classes.
Poderá isto continuar assim? Es-
taremos nós votados, sem termo, a
este triste fadario de luctas civis? Eis
o que importa resolver; eis o que a
edneação e os bons principios devem
apressar-se em desfazer. |
Comprehende-se, até certo modo,
que, dentro da familia, a solidariedade
imposta pelo sangue, herdado com
multiplices qualidades, leve qualquer
dos seus membros á defeza collectiva.
Não se comprehende, porém, o mesmo;
n’uma classe, em que todos os membros
são adventicios, em que as provenien-
cias são indefinidamente diversas.
E, no emtanto, subsiste o exclusi-
vismo grosseiro das classes!…
Affirmam-se, estas, infallíveis na
sua missão, — não admittindo o exer-
cito que se diga que elle sabe cumprir
em regra o seu dever, mas que o cum-
pre sempre, e não reconhecendo o clero
manchas possiveis na pessoa de qual-
quer dos seus membros.
Ora, tal procedimento é funda-
mentalmente retrogrado. Não deixa
que a critica desempenhe francamente
o seu fim progressivo, e vem accentuar,
na ordem social, desegualdades ina-
dmissiveis, uma especie de castas in-
dianas.
O mal, a meu ver, resulta de não
se distinguir entre instituição e indivi-
duo. Julga-se erradamente que o de-
feito do individuo perde a instituição,
quando, afinal, as melhores instituições,
são precisamente aquellas que subsis-
tem, não obstante os desvarios dos que
as representam.
O que tem que ver com a sublime
religião de Jesus, as miserias de mui-
tos dos seus sacerdotes, se ella as não
justifica nem provoca ?
O que tem que ver com os valentes
caudilhos da patria os poltrões que
fraquejam a seu lado?
— Nada por certo.
Ensarilhem, pois, armas as diver-
sas classes e encham-se do fogo divino
da tolerancia. Façam em pedaços os
seus corações, e com esses pedaços
levem a bondade a toda a parte. Lem-
brem-se de que todos somos homens,
e, como taes, falliveis e sujeitos a todas
as fraquezas. E, por isso, responda só
cada um por si, cada qual pelos seus
actos. E, n’este superior conceito da
condição humana, realisemos a aspira-
ção superior da convivencia social, com
todas as suas beneficas consequencias
e com toda a sua grandeza moral,
Deponhamos odios e rancores; ex-
tendamos os braços, e que a todos nos |
ilumine, no ambito da liberdade, o sol
da maxima egualdade dos povos!…
eres —
EXPEDIENTE
Acs nossos estimaveis assignantes pedi-
mos a fineza de nos remetterem em vale do
correio ou carta registada, a importancia
das suas assiguaturas relativas ao 4.º tri-
mestre que findou em janeiro ou ao 4.º se=
mestre que finda em abril, afim de nos evi-
tarem grandes despezas com a cobrança
pelo correio.
Desde já agradecemos.
ECHOS DA SEMANA
Foi transferido do concelho de Goes
para o de Villa de Rei, o sr. Francisco
Ignacio. Torres Carneiro, digno escriptu-
ratio de fazenda.
— E? sensivel a falta de cereaes n’este
concelho. Consta que a camara já officiou
ao sr. governador civil do districto pedindo
o fornecimento de 100 moios de milho para
abastecimento dos mercados.
— Vão ser submettidos á approvação
do conselho superior d’obras publicas e mi-
nas, Os seguintes processos: processo para
a inclusão no plano geral das estradas mu-
nicipaes do concelho da Certã d’um novo
ramal que, partindo do kil. 3 da estrada
distiictal n.º 123, vá introncar na estrada
real n.º 56, ao kilometro 39.
Processo da construcção do lanço da
estrada districtal n.º 120, de Louzã a Bel-
ver comprehendido entre a Certã e Va-
quinhas Cimeiras, cujo orçamento foi já
appovado em 27 de julho de 1896.
— Está a concurso o logar de secre-
tario da administração do concelho de Vilia
de Rei, d’esta comarca.
— O sr. dr. Pinto dos Santos, depu-
tado por este circulo, apresentou um pro-
jecto de lei, auctorisando a camara muni-
cipal de Villa de Rei a desviar 1.500h000
réis do cofre da viação municipal para ser
applicada ao pagamento de um empres-
timo contrabido para obras n’aquelle con-
celho.
— Foi enviado ao conselho superior
d’obras publicas e minas, o auto de rece-
pção provisoria da empreitada parcial de
construcção du ponte sobre a Ribeira Gran-
de, junto a esta villa.
— — sagas
CEREAES
Por despacho ministerial, foi auctorisada
a livre importação de centeio procedente de
Hespanha, durante os mezes de março a
junho do corrente anno, para abastecimento
dos concelhos de Castello Branco, Idanha-
a-Nova, Penamacor, Villa Velha de Rodam,
Fundão, Covilhã e Belmonte, em quantidade
não excedente a 809:009 kilogrammnas, me-
diante guias para lal lim passadas pelo go-
verno civil do respectivo distreto.
O mesmo despacho permitte a livre
entrada de pão cosido, da mesma proceden-
cia, que fôr adquirido para abastecimento
das povoações limitrophes da raia do refe-
rido districto,-
rido districto,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 9 DE MARÇO DE 1899
A” CAMARA MUNICIPAL
Já por diferentes vezes temos pedido a
esta illustre Corporação, providencias para
obstar às irregularidades que por ahi se
practicam incolumemente.
Teem sido, porem, baldados todos os nos-
sos esforços e, d’esta forma, nenhuma espe-
rança nos resta. O mal procede de muito
longe. Aos destinos d’esta maltadada terra
tem presidido um prolongado indifferentismo;
é dum pessimo regimen que tem surgido a
insubordinação d’este povo, outrora ordeiro
e hoje desacatador.
Não queremos pedir contas a ninguem,
dos actos practicados, mas unicamente alludir
a factos que teem sido sobremaneira preju-
diciaes ao desenvolvimento progressivo da
terra que nos foi berço.
E, já que se não pode remediar o mal
practicado, trate-se de preparar o futuro
com uma regeneração tendente a fazer en-
trar tudo isto no devido logar.
E’ à nova Camara, que tomou posse do
municipio, n’um estado critico sem fundos e
com o compromisso de algumas dividas, que
cumpre desempenhar se d’este encargo.
Compete-lhe dar ao publico uma satisfa-
ção completa, já administrando bem, já fa-
” sendo respeitar e aceitar as suas delibera-
ções e executar as posturas municipaes, cu-
jas disposições tem sido totalmente olvidadas.
Para accentuar mais o nosso desconten-
tamento, vamos tractar d’um assumpto que
pode trazer graves prejuizos para o muni-
cipio e que inspira serias consequencias,
Existem entre nós, como em quasi todos
os concelhos, terrenos destinados a logra-
douro commum, e que não podem ser alie-
nados sem auctorisação das estações supe-
riores. Acontece, porêm, que um particular,
comprando em tempo, em arrematação, algu-
mas oliveiras de somenos importancia, que
ficam no mesmo logradouro, pretende agora
apoderar-se d’uma grande porção desses
terrenos, em que todos nós temos uma res-
pectiva parte. pe
Se lhe assiste esse direito, é à Camara
que compete averiguar urgentemente.
Tracta-se, nada mais nem menos, do
que evitar um pessimo precedente, para O
futuro.
“Compete à Camara no cumprimento da.
sua elevada missão, olhar por este caso, 6.
prevenir assim provaveis conflictos.
a
À instrucção religiosa nas escolas
secundarias
Os chefes de familia protestantes do Porto
reuniram-se e nomearam uma commissão
para elaborar uma representação contra à
idéa de se introduzir o ensino religioso nas
escolas do Estado.
São d’esse documento as passagens que
a seguir Lranscrev: mos :
«A escola publica livre, essa conquista
da civilisação, é uma das necessidades actuaes
da Familia Portugueza. A carta constitucio-
nal, dispondo, no $ 4.º do seu artigo 145.º,
que ninguem pôde ser perseguido por mo-
tivos de religião, implantou em Portugal o
primeiro factor d’aquella conquista, e a mo-
derna legislação portugueza, consignando,
para interpretar lealmente esta disposição,
o santo principio da liberdade de consciencia
em diversas leis actualmente em vigor, e
estabelecendo o registo civil dos cidadãos
não catholicos-romanos, tornou indispensavel
que a escola publica, garantida pelo Estado
a todo o cidadão, não seja sectaria intransi-
gente.
«Em todos os ramos da Instrucção Pu-
blica, remodelados por diplomas modernos,
teem os legisladores seguido esta doutrina.
Assim, na actual lei de instrueção secundaria,
a laicisação do ensino nas escolas do Estado
é, em these, completa, e se na lei de instru-
eção primaria se preceitua o ensino de dou-
trina catholica-romana, torna-se este ensino
facultativo com uma disposição liberal, di-
zendo-se que são dispensadas do ensino de
doutrina as creanças que não professem a
religião catholica. Está, pois, garantida a li-
berdade de consciencia n’estes dois ramos
da instrucção.
«Nem podia deixar de ser assim. D’outra
fórma o registo civil não passaria d’um laço
armado à boa fé dos que por elle tivessem
legitimado os seus direitos de cidadãos por-
tuguezes. O legislador que procedesse por
modo diverso só faltaria à coherencia das
leis, um dos capitaes principios da jurispru-
dencia e o seu caracterislico. »
INCENDIO
Uma casa em labaredas. — Homem
quasi suffocado.— Tres muares em
perigo. — Soccotros. — Prejuizos.
Na noite de 4 do corrente, pelas 11 e
meia, manifestou-se incendio numa casa
pertencente ao sr. José Vaz, junto da Praça
do Commercio e que actualmente serve de
dormitorio aos cocheiros da Companhia
Viação Thomarense.
Deram o primeiro signal d’alarme os
nossos amigos Henrique Moura e Augusto
Rossi, quando sabiam do Club Certaginense,
pois foram as primeiras pessoras que, de-
vido a um mero acaso notaram o inçendio.
O fogo foi communicado à cama onde
dormia o -cocheiro Manoel Martins, que
n’esse dia se achava de fulga, pela luz duma
vela de stearina que este, por imprudencia,.
se esquecera de apagar antes de adormecer,
e, da cama, alastrou-se a uma porção de
palha que proximo ali existia.
Quando o infeliz cocheiro acordou, já se
achava cercado de labaredas e quasi suffo-
cado pelo intenso fumo que difficilmente
sahia pela unica porta que tem a casa in
cendiada.
Foi n’este transe que appareceram os
primeiros soccorros, como acima alludimos,
tratando-se de salvar roupas e alguns ohje-
ctos de valor que estavam prestes a serem
devorados pelas chamas. Appareceram logo
outros cavalheiros que regressavam tambem
do Club, e que em altos e afílictivos gritos
pediam que accudissem ao fogo. Immediata-
mente se reuniu no local do sinistro um
grande concurso de povo que valorosamente
auxiliou a extineção do incendio.
Felizmente não temos a lamentar des-
graças pessoaes, mas se 0 incendio prosegue
mais alguns minutos, o desventurado cócheiro
cahiria extenuado no meio das chamas que
se desenvolviam duma maneira: extraordi-
naria. E, se não fosse ainda a rapida coad-
juvação o fogo communicar-se-hia à caval-
lariça situada na parte inferior da casa, é
morreriam as tres muares que ali estavam,
pertencentes à alludida Companhia Viação.
Os. prejuizos são calculados em 125000
réis.
— et pi —
ZLEFERINO LUCAS
Concluiu o curso de pharmacia de 4.º
classe, na Universidade, ficando plenamente
approvado, este nosso sympathico amigo.
“Os nossos cordeaes parabens,
eme Ca
SESSÃO DA CAMARA
De 1 de março de 1899
Presidencia do sr. Almeida Maio; verea-
dores presentes: os srs. Daniel Tavares,
Silva Carvalho, Diniz Mendes, Henriques
Vidigal, Alves Correia e Farinha Leitão.
Approvaram a minuta da acta da sessão
antecedente.
— Resolveram offitiar ao sr. Governador
Civil do districto, sollicitando lhe o forneci-
mento de 120:000 litros de milho, para abas-
tecimento dos mercados d’este concelho.
— Foram apresentadas as contas de re-
ceita e despeza do Municipio relativas ao
anno findo, ficando approvadas.
— Foi apresentada, por requerimento,
uma queixa d’um habitante de Sernache,
contra o arrematante do fornecimento de
carnes verdes, do talho d’aquella localidade.
Resolveram mandar comparecer na pro:
xima sessão, O fiscal do talho e o fiador do
arrematante.
e CT e
Temos em nosso poder alguns originaes
que não podéram ir n’este numero.
Aos seus auctores pedimos desculpa.
GHRONICA ELEGANTE
Passnu no dia 3 do eo o 25 an-
niversario natalício do nosso amigo e co!-
‘aborador sr. Luiz da Silva Dias.
Parabens.
; m z
Esteve n’esta villa o sr. João Cardoso,
digno pharmaceutico em Oleiros.
Vão-se accentuando as melhoras do
sr. padre João Antonio da Silva, capelão
da pittoresca e real ermida de N. S. dos
Remedios.
Estimamos.
Ea
Esteve n’esta localidade, o nosso soli-
cito correspondente em O’eiros, o sr Tho-
maz Florentino Namorado, habil profes-
sor d’aquella villa.
A
Estiveram a semana passada n’esta
villa, os srs. Joaquim Henriques Vidigal,
de Pedrogam Pequeno, José Alves Cor-
reta, do Cabeçudo, Daniel Tavares e Di-
niz Mendes, de Sernsche.
-*
Esteve entre rós o sr. Antonio Joaquim,
regente da phy’armonica Figueiroense, e
que brevemente vem tomar conta da re-
gencia da phylarmonica Certaginense.
x
Esteve n’esta villa, de passagem para
Castello Branco, o nosso amigo sr. Aure-
lio Henriques David, de Pedrogam Pe-
queno, E
a
Passou no dia 5 o anniversario na:
talicio do nosso amigo sr. Alíredo Rosa
Mella,
Parabens.
*
Está completamente restabelecido da
doença que ultimamente o atacou, o sr.
Domingos Tasso de Figueiredo, illustrado
capitão de fragata e actualmente secreta-
rio da commissão central de pecoaria.
Estimamos.
——— ema
Previsão do tempo
Escolastico diz com respeito à primeira
quinzena de março que até ao dia 3 conti-
nuará o regimen do mez anterior, chovendo
ao sul da peninsula e tornando-se o tempo
ameaçador na Galliza e Portugal.
De 4 a 6 reflectir-se hão nas provincias
vascongadas, Asturias e parte da Galliza os
effeitos de uma borrasca alpina. havendo
nevadas e tornando se o tempo mais frio.
De 6 a 9, é provavel que cesse p regimen
anterior, apesar de que em algumas regiões,
segundo a sua orographia, continuarão os
aguaceiros com ventos fortes do suéste e
léste. De 9 a 41, por efeito de depressão
do norte da Europa, as chuvas tornar-se-hão
mais geraes, havendo cheias no Tejo, no
Ebro e no Douro e seus afluentes. Nas
faltarão temporaes no mar Cantabrico, no
littoral da Galliza e Portugal, nos Açores e
no estreito de Gibraltar. De 11 a 15, os
ventos de léste e nordéste alternarão com
chuvas, e com este caracter entrar-se-ha na
segunda quinzena, fecunda em perturbações
meteorologicas.
o
ARBITRADORES JUMICIARS
Comarca d’Abrantes.—Alexandre Gonçalves
Callado, Antonio dos Santos Godinho, Augusto
d’Oliveira Móra, Candido Pimenta Jacintho,
Francisço Baptista de Carvalho, João Maria
Gomes, José Martins Vermelho, Manoel Gon-
calves Junior e Manoel d’Oliveira.
Comarca de Mação. — Antonio de Mattos
Sousa Cravo, Hypolito Celestino de Mattos
Cotrim, Joaquim Pires, João da Silva Calha-
rino e Matheus Gueiffão Bello.
Comarca de Thomar. — Antonio Áugusto
Llansol, Antonio Ferreira Neves, Joaquim
Gravalho da Cruz e José Rodrigues e Castro.
come a —
ATA DAS PRONINIAS”
Compra-se nºesta redacção 0 n.º 8 d’este
semanario.
GAZETILCHAS
Resolveu a Camara obrigar
Os que à noite quizerem passeor
A trazerem à cintura ou na mão
– Lanterna, lamparina ou balão.
Perguntando aos vereadores qual o fim
Que os anima, responderam-me-assim:;
—«Poderá talvez parecer estrombótico,
«Mas é essencialmente patriotico.
«Os candieiros que ahi vê pendurados
«Por petroleo são alimentados
«B o petroleo, bem sabe o cavalheiro,
«E’ genero importado do estrangeiro.
«Os côtos, lamparinas, e lanternas,
«(Que não são invenções das mais modernas,
«São d’azeite ou de cebo, e tudo diz
«Que em oleo e cebo é fertil o paiz.
«Portanto, O que queremos não é mais
«Que proteger os gen’ros nacionaes.
«Consentimos a lua, a feiticeira,
«Por não sabermos bem se ella é estrangeira.
«Resolvemos os candieiros apagar;
«Cada um traga a luz que precisar.»
Commentarios não faremos;
Lamparina usaremos.
Joli.
———— cn (ip a
Caça
Começou no dia 1 do corrente o periodo
defeso da caça e terminá só no dia 15
d’agosto. Ha annos a esta parte que a caça
tem rareado muito no nosso concelho, devido
aos abusos praticados pelos especuladores,
que confiados na impunidade, resultante da
brandura dos nossos costumes, nada se im-
porta com as disposições repressivas da
lei sobre este assumpto
Ao sr. adminislrador do concelho lem-
bramos a conveniencia e necessidade de re-
commendar aos seus delegados nas freguezias
ruraes 0 cumprimento da lei para que os
abusos possam ser devidamente reprimidos.
Registro bibliographico
Revista Loura. — Com este titulo appa-
receu em Coimbra uma publicação bi-mensal
de arte, Crillca e Verdade. Tem por dire-
ctores os srs. Eugenio Pimentel, Gomes
Netto e Costa Cabral.
Summario: Costa Cabral, Alda; Eugenio
Pimentel, Dialogo Campestre; Ada Negri,
La Fiumana; Escobar IT Carvall, Venus
Virgen; Gomes Netto, Balladas lyricas;
Gomes Netto, Meditando.
Redacção e Administração da Revista
Loura, rua Marco da Feira, Coimbra, (Por-
tugal). Ee
Agradecemos o exemplar que nos foi
enviado.
— + 1 GG -6———
LOGOGRIPHO
A ti, a quem tanto estimo — 142, 16, 3
Este logogripho offreço — 14, 3, 9
E te juro que jámais — 4, 9, 4, 41, 2
De ti, mulher, eu me esqueço — 16, 10, 44. 6, 2.
Bem sabes, minha alma presa — 15, 7, &, 47, 18, 2
Novas tuas, onde estou — 42, 8, 9, 17
Eu te peço, pois, mulher — 17, 13, 18, 5, 4, 17, à
Que alegres quem te adorou — 42, 18, 3, 9.
Conceito.
Eu o disse e repetiste
N’aquelle nosso adeus tão triste.
Pan Lo,
——eiai CP
ARTIGOS PNOTOGRAPNIGOS
Apparelhos e varios utensilios para pho-
tographia pelos preços dos catalogos de
Lisboa e Porto.
Ha tambem um completo sortido em
objectos para escriptorio, desenho, papeis
de phantasia, perfumaria, etc., etc.
PAPELARIA CENTRAL
à — Rua do Visconde da Luz — 6
COIMBRA.RA.@@@ 1 @@@
Tr
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 9 DE MARÇO DE 1899
GAZETA DAS PROVÍNCIAS
(Correspondencias particulares)
Oleiros, 5 de março.
– “O -tempo-que de ordiaario costumamos
dedicar, à «Gazeta» faltou-nos junto ao
assumptlo. e qrgeds
Foi origem d’essas faltas a viagem que
démos à Certã cujo regresso nos foi penoso,
e cujos effeitos sentimos, devido à chuva
importuna que nos acommettea na mór parte
do fatigante caminho. O escrever para a
«Gazeta» é já quasi em nós um habito;
meditamos. por isso, e do fundo da nossa
fraca reminiscencia pudemos ainda tirar a
formidavel epistola que um dos nossos pro-
fessores dos velhos tempos nos fez decorar
virgula por virgula. Com quanto seja vulgar
jnigamos, no entanto, que a sua leitura não
enfastia. Eil-a :
«Mtmº e Exmº Sr, — Depois que V. Ex.
fez ir de escantilhão para a França o fan-
farrão Junot, tendo-o posto em papos de
aranha nos campos do Vimeiro; depois que
V. Ex.? fez sahir com vento debaixo ao la
dino Sou!t, da cidade do Porto, fazendo vis-
pere, e com as calças na mão para Castella;
depois que V. Ex.º disse ao zanaga Massena
— « Alto lá, Senhor São Macario » —e jo-
gando o jogo dos sisndos lhe mostrou as
linhas com que se cosia, fazendo o dar às
trancas e apanhar pés de burro por ter dado
com as ventas n’um sedeiro; depois que
V. Ex.º fez ir de catrambias a Berrier, da
Cidade Rodrigo, — e ao cachola Philippou
limpar à mão à parede em Badajoz, como
quem diz «faça que me não viu», é tendo
estado tem-te, Maria, não caias; depois final-
mente que V. Ex.º nos campos dos Arapi-
les… zaz-traz, nÓ cego… desasou o ma-
cambuzio Marmont e o obrigou à contar a
sua derrota— pá pá, Santa Justa, tim-tim
por tim-tim: foi então, ex.”º sr. que nós os
pés de boi, portuguezes velhos, dissémos -—
«este não é general de cácarácá, não faz
cancaburradas, não deixa fazer o ninho
atraz da orelha, e, como prudente acom-
mette uma vezes e outras põe-se na con-
serva.» Ágora podemos dormir a somno
solto; o nosso medo está nas malvas; a
vinda do inimigo será dia de São Nunca à
tarde. Portanto só resta agradecer a V. Ex.º
a visita que nos faz, que desejamos não seja
de medico nem com o pé no estribo, devendo
saber V. Ex.º que estes desejos não são
embofias nem parolas que leve o vento,
mas sim ingenuos votos de corações agra-
decidos e leaes, sobre os quaes tem V. Ex.º
erguido com tanta justiça um throno de
amor e respeito».
Ea
O original dºesta chistosa carta gratula-
toria é attribuido a um vimeirense, dirigido
a lord. Wellington, terminada a guerra pe-
ninsular. Se alguem lhe negar o valor his-
torico, fica-lhe 0 largo merecimeuto da forma,
pela abundancia de annexius em que-é forte
a nossa lingua.
Ao meu Epiphanio, Bento d’ Oliveira, Freire
de Macedo, ete., tem dado aturadas locubra-
ções e amiudadas noites d’insomnia. E, em
tempos que já lá vão, custou nos saborosos
bolos !
Coimbra, 7 de março.
Defende theses perante a faculdade de
– Direito nos dias 16 e 47 do corrente, o li-
cenciado sr. José Alberto dos Reis.
—Na segunda feira foi distribuido profusa-
mente na Universidade por alguns estudantes,
um manifesto da academia do Porto, protes-
tando contra a projectada creação d’uma
cadeira de ensino religioso nas escolas se-
cundarias.
— Já foi posto em liberdade um estu-
dante do 1.º anno que ha dias, como varios
jornaes noticiaram, estava” incommunicavel
no commissariado de polícia, por ser accu-
sado de ter requerido exames que mandara
fazer por outro.
— Eslá para breve mais um centenario.
E’ o centenario da Sebenta, um legitimo cen-
tenario… promovido pela briosa, paro-
diando essa epidemia de centenários que
para ahi anda.
Foi já organisada uma commissão com-
posta de delegados de todos os cursos das
cinco faculdades, que presidirá aos trabalhos
das festas.
Estão marcados os dias 27 e 28 d’abril
proximo para este original centenario. E,
na verdade, a Sebenta bem o merece.
E? positivo a vinda da Academia do Porto
por essa occasião. Reina indiscriptivel en-
thusiasmo. Esperam-se episodios engraça-
dissimos em que Eloy, Padre Zé e outros,
se evidenciarão.
Em devido tempo informaremos circums-
tanciadamente os nossos leitores,
— Na tarde de segunda feira pairou sobre
esta cidade uma forte trovoada acompanhada
d’uma grande batega d’agua. Cahiu uma
faisca n’um dos quartos particulares dos hos-
pitaes da Universidade, não havendo feliz-
mente desgraças pessoaes.
A. B.
Cabeçudo, S de março.
No domingo ultimo de fevereiro, José
dos Santos, conhecido tambem pelo Remal-
mon, do Casal Cutello, quando se dirigia ao
anoitecer para este logar, foi accomettido
d’um ataque cerebral que pouco depois 0
victimou. AS
Ao Casal do Carpinteiro, onde se deu o
lamentavel desastre, afíluiu muita gente
assim como 0 rev. parocho d’esta freguezia,
sendo infructiferas as esperanças d’este lhe
ministrar os ultimos soccorros religiosos,
porque à sua chegada ja o infeliz era cadaver.
Altribue-se a morte ao excesso da em
briaguez de que 0 desgraçado estava atacado.
— Teem-se realisado com toda a regu-
laridade aos domingos, e com grande con-
correncia de povo, os tradicionaes sermões
de quaresma, devido aos esforços do digno
parocho desta freguezia e membros da Junta
de Parochia.
G.
Sernache do Bom Jardim, 5.
Consta-nos que o eminente actor Taborda
virá no proximo mez d’abril a esta locali-
dade, onde representará no elegante theatro
Bom Jardim, algumas das suas producções.
Reina grande enthusiasmo, estando já
constituida uma commissão para tratar dos
festejos. Taborda é acompanhado pelo seu
amigo sr. João Henriques da Matta, e talvez
pelo grande maestro portuguez Alfredo Keill.
— Continua doente o sr. Padre Xavier
de Mello, ex-superior das missões portu-
guezas de Timor.
€.
14 4;
Portalegre, 6 de março.
A influenza grassa n’este districto com
bastante intensidade. Proximo d’esta cidade
adoeceram ha pouco quasi todos os homens
que se empregavam n uma carvoaria |
—Sahiu na sexta feira passada para Elvas,
onde foi dar um sarau em beneficio da So-
ciedade Phylantropica, a Tuna Academica de
Portalegre.
— Nos ultimos dias tem chovido torren-
cialmente.
€.
Castanheira de Pera, “7.
Sahiu para Lisboa o sr. dr. José Affonso
Baetta Neves, digno cirurgião de infanteria
16, actualmente residente 1’esta localidade.
— (O partido progressista, segundo nos
consta, anda tractando já de angariar v Los
para as proximas eleições de deputados. E’
voz geral que será indigitado para represen-
tar em córtes este circulo, o sr. dr. Arthur
Bebiano, facultativo d’este partido.
— Consta-nos que a actual camara vae
contrahir um emprestimo para dotar esta
povoação com illuminação a Bico Awer…
E viva O progresso,
C.
—— o spgiiipaç-o—
Processo Dreyphus
Annuncia-se para O dia 25 o começo dos
debates publicos da revisão do processo
Dreyphus.
A imprensa continua n’uma violentissima
campanha pré e contra a revisão do processo.
men e mm
Sciencias & Letras
O CEGO
Como ella fosse pela: primeira vez, pas-
sar, felicissima noite nos braços do bello
rapaz cego, elle disse-lhe muito baixo, com
a voz qua tremia de um extasis recente:
— Ai de mim! não poder vêr-te! Se te
tivesse encontrado outr’ora, no tempo em
que eu podia ainda contemplar o azul do
ceu e o azul dos olhares, o rosado divino
das rosas e dos labios recordar-me-hia da
tua physionomia — desconhecida, oh deses-
pero! — e bastar-me-hia um só dos teus
perfumes ou da tua mão pequenina para me
lembrar della. Mas já os meus olhos esta-
vam fechados à claridade quando o meu co-
ração se abriu para o amor, e para mim 0
sol não se levanta senão do outro lado das
palpebras. Nunca, nunca me será dado ad-
mirar este peito que eu’acaricio, esta bocca
que eu beijo. Oh! mulher, minha delicia e
a minha angustia, tu que eu possuo e que
eu desconheço, conta-me ao menos, peço-te,
as bellesas do teu corpo; e que eu possa
ouvindo as tuas palavras, imaginar toda a
minha invisivel felicidade.
— Não ousaria, murmurou ella.
— Qusarás se me amas! Descreve-me
a tu cabelleira tão comprida e tão cuidada,
sobre os meus dedos ..
— Ella é loira, julgo, como oiro mas-
siço, e quando a deixo cair sobre os meus
hombros de marmore côr de rosa. asseme-
lho-me à uma imperatriz núa com um manto
de resplendores.
— Como seu feliz! Descreve-me a tua
fronte, descreve-me os teus olhos.
— A minha fronte pequena, muito es-
treita, semelhante à de uma estatua d’Ephe-
bo, guarda, intacta, a sua brancura virgi-
nal, que nunca deshonra a ruga de um pen-
samento, os meus olhos de um castanho
aureo, languidos sobre as palpebras um pou-
co enrugadas, têem no seu circulo de bistre
uma doçura tão moribunda que eu mesmo,
não saberia olhar para elles, n’um espelho,
sem me sentir estranhamente perturbada
de um sonho onde se esboça uma alcova.
— Oh deslumbramento! Oh desgraça!
Conta-me da tua face e dos teus labios.
— À minha face pallida, onde transpa-
rece por vezes a rosa de um pudor feliz de
ser perturbado, cobre-se de um calor vago
como uma caricia de sol, e os meus labios
são como que um pequeno arco que um
Eros teria ensopado no sangue frio dos co-
rações.
Oh! ter essa purpura sob a minha bocca
e não beijar senão a sombra. Conta-me o
teu cólo que se arqueia em dois fructos
vivos.
— Já não é de marmore | porque o mar-
more gelado não palpita como elle; mas tem
a brancura quente de neve dourada pelo
sol, que já se não derrete; e as suas pon-
tas de coral, iluminadas e burnidas, dir-so-
iam duas brasas surgidas do incendio ver-
melho do meu sangue.
— Mordo a brasa do seu coral mas
sinto o calor sem ver, pobre de mim! o
fogo. Conta-me…
A encantadora amante, escondendo a
cara nas rendas do seu chale, respondeu
ainda esta vez minuciosa e complacente,
mas d’uma voz tão baixa que o silencio da
noite adormecida não a ouviu sequer.
O seu amor não era d’estés que se apa-
gam. Tinham-se ligado um ao outro com
uma cadeia que não pôde ser quebrada.
Os dias da sua felicidade, os dias antigos;
os novos dias, eguaes em delicias, eram
como creanças de uma mesma raça, onde
os primeiros e os ultimos têem parte egual
na herança.
Por causa do desejo constante cem que
ella a cubiçava sem cobardia, adorava-o ella
perdidamente, e, elle, sentia subir, constan-
temente ao seu coração, à sua garganta, à
|
sua cabeça, baforadas de alegria e de or-
gulho, pensando que possuia, sósinho entre
todos, os thesouros adoraveis que ella lhe
narrára no silencio bem depressa adorme-
cido da alcova. No emtanto, algumas vezes
apoderava-se d’elle uma raiva desesperada.
Ter perdido o espectaculo dos ceus e das
planícies, das flores e das folhas, de todas
as fórmas e de todas as cores, era uma
sombria amargura! Resignava-se. Mas não
a conhecer nunca, a ella, nunca a ter visto,
estar certo de nunca a vêr, — tão incom-
paravelmente perfeita! — era uma tristesa
infininita, a todo o momento lembrada; e
muitas vezes, no paroxismo da sua inutil
vontade, teria dado annos da sua felicidade
futura, para que lhe fosse permittido uma
unica vez, durante um minuto apenas, con-
templar uma só das bellezas delicadas que
ella lhe contára, em voz baixa, na noite do
primeiro beijo.
Chegára à cidade um medico de grande
fama em outros paizes do mundo por curas
verdadeiramente maravilhosas.
Era um brinquedo para esse sabio, o
“dar ouvido aos surdos, a palavra aos mudos,
e a vista aos-cegos. O carro repleto d’oiro
e de prata em que elle atravessava as ci-
dades, entre as acclamações da multidão,
era puchado, não por cavallos, mas por-ho-
mens ligeiros como o vento, que tinham
sido paralyticos. E elle estava perfeitamente
certo de que n’um logar qualquer, em caso
algum, deixaria de curar, radicalmente. as
pessoas que se lhe dirigissem. O apaixonado
cego sentiu o coração encher-se-lhe de uma
alegria immensa! Abriria os olhos! Veria
a adorada amante; De repente, fóra da som-
bra, teria o deslumbramento da querida
bellesa resplandecente! A cabelleira seme-
lhante a um monte de resplendores, a fronte
mais branca que a neve, os olhos que mr-
rem sob as palpebras um pouco enrugadas,
a face dourada palo rubor e o vermelho
rosado dos labios, o coral que se illumina
na ponta dos seios, tudo elle veria, tudo,
Não mais de desesperos, não mais d’essas
noites deliciosas é atrozes em que ella devia
supplantar pelo pensamento a imagem sem-
pre ansente: todo o seu sonho ia ser uma
realidade.
Ajudado por um creado, correu, antes
de todos, a casa do medico ilustre. «Cure-
me! Illumine-me o meu olhar! Dê-me a
inexplicavel embriaguez de contemplar final-
mente a mais Della das mulheres, que amo
mais do que a vida!» E muitas outras coisas
disse, narrando as suas carícias, Os seus
desejos; ds suas angustias, para commover
a compaixão poderosa d’esse homem tão
sabio. Mas este respondeu, depois de ter
pensado: «À Deus não agrada que eu abra
os leus olhos ao dia. O quê! Pois amas,
queres vê ? Creança! Tiveste a felicidade
de conhecer a posse com a esperança ainda,
a satisfação com o sonho sempre, e queres,
à tua admiravel chimera, substituir a ver-
dade? Pobre de 4! Pois não sabes, louco,
que exactamente por causa d’esse mysterio
e dessa sombra onde ella se esconde, ima-
ginaste a lua amante infinitamente mais bella
do que em realidade ella o poderia ser?
Um minuto terrivel seria aquelle em que
ella se mostrasse parecida com ella propria.
Mas ainda que ella te não mentisse, ainda
que ella fosse tão perfeita como te contou,
ainda que ella fosse exactamente a que tu
creaste na impossibilidade de a conheceres,
não evitarias o espanto da inevitavel dece-
pção, porque o sonho, ainda mesmo o que
se realisa, não é divino, não é isento de
rancor e de aborrecimento senão quando
nunca se realisa. Fica na tua sombra! Que
os deuses te mantenham na tua ignorancia,
no teu desejo! e compadece-te de nós que
vimos a imperfeita bellesa dos seres e das
coisas, nós que com lagrimas de desespero
— por que não cegarão para sempre os nos-
sos olhos ? — invejamos amargamente a tua
cega felicidade. »
@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 9 DE MARÇO DE 1899
KALENDARIO DE MARÇO
Quarta-feira= 1 | 8/15/22) 29
Quinta-feira – 2/9 /16/23] 30
Sexta-feira 3140/17/24] 31
Sabbado 4 |11/18/25] —
Domingo 5 |12/19]26|—
Segunda-feira 6 [13/20/27] —
Terça-feira 7 |14/21/28] —
Quarto minguante E a 3.
Lua Nova Ga dl.
Quarto crescente D a 19.
Lua Cheia Ba 27.
ij a
SERVIÇO DE DILIGENCIAS
Da Certã a Fhomar (via Serna-
che do Bom Jardim, Valles, e Ferreira do
Zezere). Sahe da Certã ás 2 h. dat. e chega
a Thomar às 9 h. da noite; Sahe de Tho-
mar às 5 da m. e chega a Certã às 12 1/a
da tarde. ; à
Da Certã à Proença a Nova.
Sahe da-Certã à 1 1/o dat. e chega a Proença
as 5 da tarde; Sahe de Proença às 5 da m.
e chega a Certã ás 9 1/a da manhã. Esta
diligencia communica com a de Proença a
Castello Branco.
Da Certã à Pedrogam Pe-
queno. Sahe da Certã às 2 da t. e chega
a Pedrogam às 5 1/a da tarde; Sahe de Pe-
drogam às 7 da m. e chega a Certã ás 10
da manhã.
ANNUNCIOS
Harpa.
Vende-se uma harpa, de
Erard, sete pedaes, movimento
simples e em bom estado de con-
servação.
Quem pretender dirija-se a
Antonio Victor da Rocha.
CERTA.
AUGUSTO COSTA
Alfaiate
Encarrega-se de fazer todo o serviço |:
concernente á sua arte, tanto para esta lo-
calidade como para fóra.
Garante-se o bom acabamento.
Toma medidas em qualquer ponto desta
comarca. o
== PREÇOS SEM COMPETÊNCIA
Rua do Valle, 62
CERTA
mes
ATLAS
GROGRAPEIA UNIVERSAL
Descriptivo e ilustrado
Publicação Mensal |
Contendo 40 mappas expressamente gra-
vados e impresssos a côres, 160 paginas de
texto de duas columnas e perto de 300 gra-
vuras representando vista das principaes
cidades e monumentos do mundo, paizagens,
retratos de homens celebres, figuras. dia-
grammas, etc.
A primeira publicação que n’este genero
se faz no paiz.
Todos os mezes será distribuido um fas-
ciculo contendo uma carta geographica cui-
dadosamente gravada e impressa a côres,
uma folha de quatro paginas de texto de 2
columnas, e 7 ou 8 gravuras, e uma capa
pelo preço de 150 réis pagos no acto da
entrega.
Toda a correspondencia e pedidos de as-
signalura devem ser dirigidos à EMPREZA
EDITORA do Atlas de Geographla Universal, —
Rua da Boa-Vista 62, 1.º, — LISBOA.
Historia dos Juizes ordinarios é de paz
POR ;
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade de Direito e socio offectivo
do Instituto:de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra.
SELLOS USADOS
Compra-se qualquer porção por bom
preço.
Dirigir-se a
LUIZ DIAS
Certã
GUEDES TEIXEIRA
BOA-VIAGEM
—— POESIA
dita pelo auctor na recita de despedida
“ do quinto anno juridico de 97-98
Preço 200 réis
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Editora.
João Marques dos Santos
FLORES DE MAIO
(Versos)
Um vol. Preço 400 réis.
Vende-se nas livrarias.
PROCESSO DREYFUS
CARTA Á MOCIDADE.
EMILIO ZONA é
Preço 50 réis
Acaba de sahir do prélo este vibrante
opusculo dirigido à mocidade academica.
Vende-se nas livrarias.
VENDA DE PREDIOS RUSTIGOS E FOROS
Quem pretender comprar alguns, pertencen-
tes á Casa da Matta, dirija-se a Maximo Pires Fran-
co, da Certa, que está encarregado das respecti-
vas vendas.
Arrendam-se tambem propriedades, com gran-
des vantagens para os arrendatarios.
PYROTHECENICO
* CERTÃ
* David Nunes e Silva, com officina de pyrothechnia, encar-
rega-se de fornecer para qualquer ponto do paiz fogo d’artifício,
com promptidão e garantido acabamento.
Na sua officina encontra-se sempre um grande e variado
sortimento de fogo de estoiros, e foi della que sahiu o fogo
queimado nos centenarios: — Antonino — de Gualdim Paes —
e da India, — (neste sómente o de estoiros e balões), cujo
effeito tem sido applaudido pelo publico e imprensa.
Preços sem competencia
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de ferro e lavatorios, folha de Flandres, estanho,
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garantindo-se a sua perfeição e nitidez.
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deste concelho, mediante ajuste especial,
Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Gom-
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