Gazeta das Províncias nº11 19-01-1899

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“CERTÁ — Quinta feira [9 de Janeiro de 1899
sSemanario independente
ASSIGNATURA.
CERTA, mez, 400/75. FÓRA DA CERTA, trimestre, 330/15. AFRICA, semestre, 1$000 rs. BRAZIL, semestre, 28300 15. Numero; avulso, 30 ts.
“Poda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
A missão historica
da raça latina
E
Abramos o grande livro da historia.
Impondo-se, surge de lá, em cada
uma ‘das suas paginas, a idéa gigante
do progresso…
Mas que longa e tormentosa evo-
lução não tem essa ideia atravessado
até nós!
Esboçou-se nas regiões mysterio-
sas da Asia; a poderosa Babylonia de
outros tempos, com os seus jardins sus-
pensos, tentou erguel-a ao firmamento;
a India quiz subir com ella mais longe,
mas, cançada na ascensão, perdeu-se
n’um vago mysticismo em que ainda
sonha… Quando Alexandre Magno,
com o cerebro mergulhado no infinito,
bateu ás portas da Persia em nome da,
civilisação occidental, lá pôde admi-
rar, encantado, um desenvolvimento
notavel e florescente.
Não obstante, o verbo da luz só
rompeu, de vez, da Ásia, quaúdo um
meigo Nazareno, sonhando sobre as
aguas do lago de Tiberiades, deixou
cahir os seus olhos divinos n’uma bon-
dade infinita, sobre a terra trabalhada
de tormentos!
O coração d’esse Nazareno era tão
extraordinario que, ao partir-se no Cal-
vario, o mundo deu signal de si, n’uma
significação de dôr. Assim o registou
Dyonisio Areopagita, no seu observa-
torio astronomico, ao pé das aguas do
Nilo.
Effectivamente, com aquelle facto
inegualavel, ficou pairando, no espaço
e no tempo, como candida pomba, a
idêa mais levantada de progresso que
a humanidade tem conhecido.
Era preciso, porém, amparal-a;
mas, para isso, era tambem preciso ter
azas de ouro que lhe podessem tocar,
carinhosamente, com amor |
Quem poderia com tão difficil e de-
licada missão? Onde encontrar genios
de envergadura para tanto ?
— N’uma raça apenas, — a raça
latina, Tinha ella a imaginação ar-
dente que colheu da Asia d’onde pro-
cedia; tinha o sentimento elevado que
lhe inspirou a Grecia, sua nobre edu-
cadora, e tinha a razão audaz e forte
que lhe legou a Roma antiga, sua mãe
gloriosa,
HI:
Só uma raça assim poderia agitar
fecundamente a idéa christã, e só essa
raça se desempenhou, com efeito,
: duma tal missão.
cação progressiva do imperio de Car-
los Magno; fecundou os germens d’on-
de se formaram as nações modernas,
e guiou as caravellas de Vasco da Gama
e de Colombo á descoberta do mundo.
Nas sciencias organisou as admiraveis
syntheses de S. Thomaz de Aquino,
de Augusto Comte e de Herber Spen-
cer. Fez maravilhas da imprensa, e
levou aos ares o aerostato; com o va-
por encurtou as distancias, com a pol-
vora derrubou montanhas e rasgou tu-
neis. Deu martyres á4 China, civilisou
o Japão, lançou a sua alma na America
e penetrou nas regiões incopnitas do
continente negro. Inspirou a lyra de
Camões, o épico immortal, e levantou
a tribuna de Mirabeau, o genio da elo-
quencia, Sentiu os mais nobres senti-
“mentos, pensou as mais profundas con-
cepções, e, com uma vontade de ferro,
quiz muito e realisou muito,
O seu espirito era um vulcão que
se movia no espaço; as labaredas, que
sahiam das suas crateras, não queima-
vam, iluminavam !
A sua obra foi uma obra de semi-
deuses: ninguem a egualou ainda!
Teve clarões como os de Horeh e fez
estrondos como os do Sinai. Mas, assim,
concebida e traçada, estava natural-
menteno fim. À raça latina presentiu-o,
Porque, na embriaguez da sua gloria
e na ancia de ascender mais alto, fez
um supremo, um assombro esforço na
revolução franceza!.,.
1 ahi que termina o cyclo das suas
maravilhas, é ahi que a sua alma gi-
gante, na sêde do progresso, estala
ruidosamente, em pedaços que vão
aquecer e alimentar uma outra raça, —
a anglo-saxonica —, à qual o destino
parece reservar a continuação da mis-
são unica que ella havia emprehendido.
A partir da revolução franceza, a
raça latina só tem experimentado re-
vézes. Politicamente, mostra-se aca-
nhada nos seus planos; ethnologica-
mente, affirma-se debil e rachitica. Foi
o que procurámos demonstrar nos nu-
meros precedentes d’este jornal,
Abriu a idade-media com a unif-
Que concluir, portanto, de todas .
; PUBLICAÇÕES Ê
No. corpo do jornal, cada linha 80 rs. Anuncios, 40 rs. alinha. Repetição, 20 rs. a linha. Permanentes, preço convencional; os srs. assiguantes
têm o desconto de 25 0/y. Esta folha é impressa na Imprensa Academica, R. da Sophia. Coimbra
Augusto Rossi — Editor
CRE E na
as nossas considerações? Que futuro
aguardará a raça latina?
— O desapparecimento fatal do
typo ethnologico que a representa. KR
isso, com effeito, o que parece estar-se
operando actualmente. Os traços que
distinguem os povos latinos de fóra da
Europa estão-se modificando, segundo
as modernas averiguações scientificas,
sob a influencia do clima e de outros
diversos factores, dando origem a um
typo novo, os que distinguem os povos
latinos dentro da Europa affirmam-se,
ainda sim, mas gastos, consumidos e
excessivamente debilitados.
Esta a dura verdade.
Pouco afteitos aos trabalhos indus-
triaes, os povos latinos entregam as
suas emprezas principalmente a estran-
geiros. N’uma febre de doentes, en-
treteem-se em sonhos e phantasias, pou-
co se lhes dando dos factos positivos
da vida pratica. Incapazes de um grande
plano diplomatico, tornam-se humildes
satellites da orientação politica de ou-
tras nacionalidades : a Italia está, pela
triplice alliança, humilhantemente acor-
rentada á Allemanha; a Hespanha pede
apoio à França que, por sua vez, obe-
dece na diplomacia á Russia; Portugal
desde longe que está acostumado a se-
guir as indicações da Inglaterra, e a
Grecia, ah! a Grecia é actualmente um
Joguete das potencias.
Não tem já, pois, a raça latina uma
physionomia autonoma e accentuada.
Grita ainda, sim, mas em nome de pas-
sadas glorias, como se aquillo que foi
é que constituisse o presente, ..,
Ilusão!
A historia tem leis tão fataes como
as do mundo inorganico. Não actuam
debalde. E parece-nos poder afirmar,
com os dados expostos, que ellas arras-
tarão inevitavelmente ao desappareci-
mento do typo ethnologico latino como
em outros tempos foram arrastados,
successivamente, o typo grego primi-.
tivo, o typo persa, o typo romano pro-
priamente tal, o
Esta é a logica pesada das coisas:
Perante a fatalidade dos factos não
ha resistir, a não ser modificando -a li-
geiramente para que, no meio do ca-
taclysmo geral que tudo deixa prever,
alguma coisa se possa ainda salvar.
mca e St Gem
ECIOS DA SEMANA
Foi transferido para a comarca de
Agueda o sr. dr. Antonio Rodrigues d’Al-
meida Ribeiro, meretissimo juiz de direito
n’esta comarca.
— Os missionarios ha pouco ordenados
no Collegio das Missões, de Sernache do
Bom Jardim, seguem viagem para os seus
destinos no corrente mez.
— Estão a concurso os partidos muni-
cipaes da Moita com ordenado de 3005000
réis, e o de Almeirim com 4008000 réis.
— Compareceram nos Paços do Conçe-
lho no dia 17, os parochos e regedores das
freguezias d’este concelho, procedendo-se
perante a camara municipal, ao recencea-
mento dos mancebos que hão de preencher
o contingente militar do actual anno.
— Estado civil do concelho da Certã, no’
auno findo de 1898:
Nascimentos : masculinos, 195; femini-
nos, 188. Obitos, masculinos, 141; femini-.
nos, 143. Casamentos, 164.
— Effectuou-se no dia 15 do corrente,
a eleição das juntas de parochia das fregue-
zias do Cabeçudo, Carvalhal e Cumeada.
No Cabeçudo ficaram eleitos os srs. José
Alves Correia, Januario Ferreira e Silva e
Joaquim Ferreira Guimarães Lima.
No Carvalhal, os srs. Joaquim Fernan-
des da Silva e Antonio Luiz dos Santos.
Na Cumeada, os srs. Luiz Simões e José
Luiz. E
— A fim de ser presente à junta de
saude do ultramar, regressa brevemente ao
reino o sr. padre Francisco José da Matta,
superior da missão-de S. José de Lºhan-
guene, Lourenço Marques.
— Teve logar n’esta villa, no domingo
passado, com uma concorrencia extraordi-
naria, a feira annual de Sant’Amaro. O largo
da Carvalha achou-se por algumas vezes re-
pleto de feirantes e era surprehendente o
seu aspecto. :
Fizeram-se muitas transacções, princi-
palmente em objectos douro, fazendas de
lá e algodão. A feira do gado suino, tam-
bem esteve muito concorrida, regulando a
arroba de carne por 38800 e 45000 reis.
r
-— Foi unico concorrente à egreja de
Aguas Bellas, concelho de Ferreira do Ze-
zere, o presbytero sr. Antonio Abilio dos
Santos, encommendado na mesma egreja.
— Durante o anno de 1898 foram mor-
tos na via publica d’este concelho, 112 cães
vadios.
O JORNAL DE MAÇÃO
Recebemos a visita d’este novo collega
gue começou a publicar-se em Mação,
É seu director o sr. Luiz da Silva Catha-
rino.
Ao bem redigido e novel collega dese-
jamos um futuro prospero e longo.
rear Ge Ge@@@ 1 @@@
> GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 19 DE JANEIRO DE 1899
DTL EE: ESSO
— VERSOS LUSITANOS
E DE
Affonso Lopes Vieira
Affonso Lopes Vieira é uma individuali-
dade que se affirma. Acaba de publicar o
Naufrago e tem já do anno passado o Para
quê? Ambos os livros valem muito; o Nau-
“frago, porém, vale immenso. O retrato que
o precede é uma figura extranha de poeta,
dá a ideia duma grande dôr a contorcer O
espirito: é o Affonso Lopes Vieira, todo!
A sua psychologia é das mais complexas
que eu conheço. Creio bem que não ha
penna que devidamente a defina, Os ver-
sos, esses, lê-os como os faz. A sua voz
canta com modulações d’um dôce murmurio
longinquo nas lyricas à Bernardim; troveja
nas apostrophes violentas ; treme e delira nos
versos heroicos à maneira de Camões; e,
quando a belleza artistica assume a elevação
concebida, rompe n’um grito, em mysteriosa
embriaguez, como numa saudação da aguia
ao sol, que paira ao alto, no espaço immenso !
E’ assim que escreve tambem. Quem o ob:
serve de parte, vê que a penna traça com
nervosismo uns extranhos caracteres ; às ve-
zes, na ancia de abarcar alguma coisa gran-
de que o cerebro anteviu, corre vertiginosa-
mente, e nem assim consegue acompanhar
o pensamento. Parte-se, 6 O artista contra-
viado tem apenas, como unico desafogo, levar
a mão à fronte, a arder em febre!
Tal o poeta do Naufrago.
Os seus versos são pedaços de alma que
vae arrancando de si, n’um ascetismo de
monge… Correspondem à mais pura ex-
pressão do Iyrismo nacional; teem um cunho
portuguez de lei, — já no rythmo que é ir-
reprebensivel, já na paixão que é profunda-
mente caracteristica. Absorvermo-nos na sua
leitura é julgarmo-nos transportados à nossa
idade-média, tão sonhadora e tão crente, com
a sua cavallaria andante, com as suas can-
ções que Gil Vicente, o sublime artista, soube
delicadamente recolher nas suas obras im-
mortaes… Ha n’elles uma exacta encar-
nação da nossa raça, com todas as suas vir-
tudes e com todos os seus defeitos.
E com que delicadeza o seu auctor não
fez essa encarnação !
Chora como o povo em sentidas endei-
xas; apodera-se habilmente dos seus pre-
conceitos e superstições; resente-se do seu
vago fatalismo, fatalismo dôce e santo que
fez de Portugal a extraordinaria nação he-
roica dos seculos XV e XVI. E’ lêr O fado,
por exemplo. Foi essa nota de suave aban-
dono que deu à Europa os seus maiores ly-
ricos, desde Bernardim Ribeiro, o magoado
cantor, até João de Deus, o genio do senti-
mento. O sangue arabe das nossas veias é
a imaginação aventureira que nos veio dos
celtas, fizeram isto de nós. E depois, o mar
sempre a bater-nos ao pé, em seducções in-
definiveis d’uma sereia amante, não sei que
tem… — Fez-nos gigantes n’um momento
heroico, e põe-nos sempre a devanear n’uma
patria antiga!
O Naufrago tem o elevado merecimento
de interpretar esta feição accentuadamente
typica da raça portugueza, e esse mereci-
mento é tanto mais elevado por ter o livro
vindo n’uma épocha em que a maior parte
dos nossos poetas, affrontando por vezes a
grammatica nacional, se entreteem a copiar
as lamurias dos poetas francezes, como es-
pectros lugubres em frente da morte…
A poesia estava sendo assim um elemento
de desorganisação patria : faltava accrescen-
tar mais essa masella às nossas já muitas
miserias.
Felizmente que appareceu-o Naufrago.
É um livro que, incontestavelmente, im-
prime orientação : realisa, como dºelle escre-
veu Theophilo Braga, uma missão social.
Não ha duvida. Revolve com amor e cari-
nho as nossas opulentas tradições: apro-
veita as ricas formas lilterarias dos quinhen-
tistas, — as mais portuguezas de todas;
concentra, num superior esforço, todo o
sentir nacional, e, de cada pagina do livro,
vê-se apenas destacar-se a nossa grande al-
ma collectiva, — melancolica e triste, é ver-
dade, mas profundamente nossa !
Valha nos isso.
Ha ainda uma esperança de regeneração
para esta patria: “a sua progressiva e mais
orte autonomia, porém, só hade partir da
nigiativa particular, q nunca do Estado ou
í
estabelecimentos ofíiciaes. Esles são sem-
pre a expressão das multidões, e estas são
ainda, infelizmente, entre nós, creanças des-
vairadas, sem orientação. E, pois, do es-
forço individual que nos bade vir uma vida
nova. Ora, um tal esforço parece nos Ler
começado já a manifestar-se, quer sob o
ponto de vista da actividade industrial ou
politica, quer sob o ponto de vista da acti-
vidade esthetica.
Na litteratura revelou se por uma ma:
neira sympathica no livro Os meus amores,
de Trindade Coelho, que está modelado em
trajes correctamente nacionaes, e no livro
Naufrago, de Affonso Lopes Vieira. Isto
pelo que respeita simplesmente às fórmas
sentimentaes e artisticas. Relativamente às
formas historiscas propriamente dictas, que
denunciam a nossa modalidade politica e
constitucional, estão-se affirmando synthomas >
consoladores nos trabalhos de Gama Barros
e sobretudo de Theophilo Braga, a maior
individualidade litteraria do nosso tempo.
E, com effeito, n’esta promettedora cor-
rente de reconstituição organica nacional que
me parece encontrar-se o novo livro de Lo-
pes Vieira, — livro magoifico em que a mu-
sica se eleva à sublimidade da ideia, e em
que palpita em sonho, candida e pura, toda
a gloriosa alma portugueza.
Cumpre-nos por isso saudar O sympa-
thico poeta que é ao mesmo tempo uma le-
gitima gloria da moderna geração de Goim-
bral…
e a Sd Gm
Dr. ALMEIDA RIBEIRO
Acaba de ser transferido para Agueda,
como n’outro logar já dissemos, este nosso
sympathico amigo que, durante quatro annos,
exerceu n’esta comarca com louvor geral, 0
cargo de juiz de direito.
E” com sentimento que vemos afastar-
se de nós, e para tão longe, aquelle illustre
magistrado que tem sabido sempre ser um
modelo de altas virtudes civicas e domes-
ticas.
No desempenho da sua difficil e elevada
missão judiciaria, houve-se sempre com in-
dependencia e austeridade.
Deixa s. ex.” na Certã innumeras sym-
pathias e saudades. Lastimando que vá para
uma comarca distante, o nosso coração acom-
panha-o e faz votos para que encontre as
prosperidades e venturas que tanto merece.
o
GAZETILHAS
P’r’os jornges da capital
Outro assumpto hoje não ha,
Além do caso original,
Da menina do sophá.
Talvez que esta moda pegue
De futuro a gente verá
Pessoa que se arrenegue
Ir esconder-se no sopha.
Uma carta do namoro
Foi ter às mãos do papá
E a menina em alto choro
Vae esconder-se no’sophá.
Quer casar, mas 0 casmurro
Do pae diz que a não dá
E ella vae prender o burro
P’ra debaixo do sophá,
Um ministro à porta sente
Bater com força. — Quem “stã ?
Se fôr algum pretendente
Vae esconder-se no sophá,
Jornalista querellado
P’ra cadeia não vae já.
Vendo o caso mal parado
Vae esconder-se no sophá.
P’r’o tempo das eleições
Dá-me o voto ? — Olhe lá
Se me não dá dez tostões
Vou esconder-me no sophá.
Se dos versos os leitores
Não gostarem, digo já
Passem bem caros senhores
Vou esconder-me no sophá.
Voli,
CHRÔNICA ELEGANTE
Realisou-se no dia 4 do corrente, o en-
lace matrimonial da ex.” sr.º D. Maria do
Ceu Mattos e Silva, com o sr. dr. Gualdim
de Queiroz.
Foram padrinhos dos nubentes por parte
do noivo, sua irmã a ex.”º sr.* D. Maria
José de Queiroz Pinto e seu cunhado o sr.
dr. Francisco de Sousa Pinto, e por parte
da noiva, sua mãe a ex.P2 sr? D. Maria
Emilia Mattos e Silva e seu tio o sr. dr.
Antonio Heitor de Deus. .
Aos noivos, dotados de finas qualidades
moraes e d’uma educação esmerada, as
nossas felicitações e um futuro ridente.
=
Está em comvalescencia da grave doença,
que ultimamente o atacou, o sr. José de
Brito Junior, de Sernache.
*
Tenciona partir para Mossamedes, (Africa
occidental) no dia 6 do proximo mez, o nosso
particular amigo Carlos Acciaioli Themudo.
Feliz viagem e que em breve volte abra-
car os seus amigos é o que de coração lhe
desejamos.
x
Passou no dia 40 do corrente, o anni-
versario natalício do nosso presado amigo
sr, José Diniz da Silva Mendes, importante
capitalista e vereador da camara municipal.
a
– Passou no dia 15, o anniversario natali-
vio do nosso presado e intelligente amigo,
padre Antonio Pedro Ramalhosa.
x
Está em convalescencia o nosso amigo
sr. Fernando de Castro Medeiros.
*
Estiveram nesta villa, os revd.º Joaquim
Lourenço Serrano, de Palhaes, padre Joa-
quim Farinha Tavares, de Troviscal, padre
José Lopes, de Pedrogam, padre Manuel
Farinha, do Amparo, padre João Vicente,
do Figueiredo e padre Marques, de Sant”
Anna.
x
Passaram n’esta villa, para Thomar,
onde vão residir, o sr. José Dias, brioso
sargento, e sua esposa a sr.* D. Maria da
Assumpção Dias.
x
Esteve entre nós, e já regressou a Lis-
boa, o nosso amigo o sr. Antonio Violla da
Gosta, conceituado commerciante na capital,
*
Tem passado bastante incommodada de
saude, a estremosa mãe do digno vigario |
d’esta villa.
Rapidas melhoras é o que lhe desejamos,
AO PARTIR
— ADEUS A COMBRA—
Partir, partir e nunca mais voltar!
Que bom era tornar a começar!
F, PINHEIRO. (ADEUS, SRt+ DR.)
Tortura-me a ideia de abandonar esta
Lusa Athenas, aonde a mocidade tanto gosa
e o intellecto tanto se desenvolve.
Deixar Coimbra! Será um sonho ?
Poderei eu por ventura abandonar este
lindo pedaço de terra, sem que dos olhos
me brotem abundantes e sinceras lagrimas?
Não! impossivel esquecel-a! Chorarei, e
esses bellos tempos aqui passados ficarão
indelevelmente gravados no meu coração.
Que contraste | E
Deixar Coimbra e partir para a Africa !!
Que martyrio, Deus meu, ter de aban-
donar a minha capa que tão discretamente
guarda os innumeros segredos que lhe te-
nho confiado !
Ter de envergar o fato à futrica de que
eston já tão deshabituado ! |
Oh! noites,de Coimbra, noites de en-
cantos !|
Adeus, Coimbra! Adeus, bohemia !
” Aquellas partidas de voltarette com o
Anacleto! com o Arnaldo ! e o José Hen-
riques !
“Poderei por ventura esquecer-me de tão
bons bocados ? Impossivel, a vida de Coim-
bra não esquece nunca, é como a alma, €
não se esvae com o corpo, com a morte!…
Que agruras passarei durante a minha
longa viagem, recordando-me dos meus ami-
gos, da minha capa! e da secção de hypno-
tismo que o Sanches, o Macieira e o Arnaldo,
vinham dar na mesa da minha casa de jan=
tar coberta com a minha capa !
Que saudades das noites de Santo An-
tonio e S, João, em que eu dançava o vira
com a Palmyra, com a Elisa, com a Assum-
pção ou com a Isabel!
Que saudades dos bailes que eu orga-
nisava na Rua das Parreiras em que se
dançava vertiginosamente, ao som da gui-
tarra que o Macieira fazia vibrar com ver-
dadeira mestria, tirando d’ella melodiosos
sons !
A bordo, nos meus sonhos, verei a
Elisa a dançar commigo e a cantar aquellas
bonitas canções !
Parecer-me-ha ouvil a, com a sua voz
bem timbrada a voltear-se commigo e a
cantar |
A rolinha andou, andou
Cahiu no aço logo lá ficou.
Dá-me um abraço, isso é que eu não faço |
Dá-me um beijinho, ai eu dou, eu dou!
“Esquecer tudo isto, seria um crime de
lesa mocidade que merecia severo castigo !
Apesar de nada olvidar, recebo o cas-
tigo, e que grande elle é!
Abandonar os amigos, a capa, e as tri-
canas |
Trocar a encantadora voz da tricana,
pelo barulho das caldeiras do paquete !
O Vira, pelo balanço de pôpa à prôa,—
e a guitarra, pelo monotono epito da ma-
china !
Como tudo isto é triste, como custa
deixar a vida de rapaz!
Transposto o espaço que separa esta
encantadora terra da solitaria e anticivilisada
Mossamedes, ouvirei os Dbatuques, andarei
de maaslla, e não mais verei caras bonitas;
pretas e só pretas |
Triste! tristissimo !
Que seria de mim se não me acompa-
nhasse a consoladora esperança de annos
passados voltar aqui, trazer commigo o Ma-
cieira e o Arnaldo Dias à passagem por
Lisboa e virmos a este cantinho organisar
um baile, uma fogueira ! !
Ver-me-hei transportado ao passado, e
se conyalescente ainda de alguma biliosa,
encontrarei no Vira, e nos meigos olhos
das tricanas, o restabelecimento que o qui-
nino não conseguiu trazer-me |
Adeus Coimbra! Adeus Capa! Adeus
mocidade !!
Que saudades da minha casa da Rua do
Cotovello, do Auacleto, do Salgado e do
Ernesto !
Nunca mais verei o sr. Grivet—a jo-
gar 0 dominó com a sr.” Raquin !!
Como é triste só pensal-o !
Como o meu coração está opprimido !!
– Relatar mais minuciosamente a minha
magua, seria superíluo, basta que se diga:
Vou deixar Coimbra! — Vou para…
a Africa |
D’aqui vos lanço um sincero adeus,
caros amigos, encantadoras tricanas, e di-
tosa Coimbra | é
Partir, partur e nunca mais voltar !
Antes ceguinho àr, p’ros olhos cá deixar !
P, PiNHEIRO.
G. T.
SESSÃO DA CAMARA
EM 11 DE JANEIRO
Coimbra, 16-1-99.
Presidente, o sr. Almeida Maio. —Verea-
dores presentes—os srs.; Carvalho, Mendes,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 19 DE JANEIRO DE 1899
Correia e Vidigal, — Assistiu à sessão 0 sr.
Administrador do Concelho.
Foi conferido juramento ao vereador sr.
Vidigal, entrando em seguida em exercicio.
Concedeu por 12 mezes subsidio de la-
ctação de 19200 réis mensaes a cinco re-
querentes pobres.
Procedeu-se à distribuição dos pelouros
pela fórma seguinte: — fontes e pontes ao
sr. Alves Correia ; iluminação publica e ta-
lhos ao sr. Carvalho; obras, ao sr. Leitão ;
arborisação e limpeza ao sr. Almeida Maio;
e aos srs. Mendes e Tavares os mesmos pe-
louros por Sernache e ao sr. Vidigal, por
Pedrogam.
Deliberou mandar pôr em arrematação
mais uma tarefa de terraplenagem na. es-
trada desta villa a S. João do Couto.
—— cai CV
VARIAS NOTICIAS
Legado
Um subdito portuguez ha pouco tempo
fallecido no Brazil, legou à Universidade de
Coimbra uma rica e numerosa collecção de
objectos de historia natural. Entre elles ha
magnificos exemplares da fauna e flora tro-
picaes.
rm mm
Desordeiro
Manuel Joaquim, canteiro, empregado
nas obras de construcção da ponte da Car-
valha, foi remettido a Oeiras, terra da sua
naturalidade, por ter comportamento irre-
gular e por ser surprehendido por mais de
uma vez em graves desordens.
Furto
No dia 14, foi subtrahido da algibeira
de Antonio Manso, barbeiro, desta villa, um
relogio de prata, na occasião em que fazia
a barba a um individuo desconhecido. Não
se conseguiu ainda capturar o larapio.
Novo cemiterio
Procedeu-se no dia 8 do corrente, à
benção do novo cemiterio da freguezia do
Troviscal.
Assistiram as irmandades da freguezia,
Junta de Parochia e parochos das fregue-
zias lemistrophes. Acabada a cerimonia, que
seguiu todas as regras da liturgia, foi ser-
vido em casa do reverendo parocho um opi-
paro jantar aos seus amigos e collegas.
E’ digno do maior elogio o sr. padre
Farinha Tavares, pelo muito zelo e dedica-
ção que tem pela sua freguezia, e porque
só a elle se deve a construcção do novo ce-
miterio, melhoramento de que tanto carecia
aquella freguezia, uma das mais importan-
tes d’este concelho.
Parabens, pois, a todos os habitantes
da freguezia e ao ilustre sacerdote, nosso
amigo e assignante.
s
Festividades
— Ero Villa de Rei, tem logar no dia
20 do corrente, a festa de S. Sebastião, e
no Cabeçudo no dia 22.
Abrilhanta estas festividades a phylarmo-
nica Certaginense.
— Realisou-se, como noticiâmos, a festa
de Santo Amaro, no dia 15 do corrente.
Houve missa cantada, sendo celebtante
o digno parocho d’esta freguezia, acolytado
pelos reverendos Domingos Lopes da Cruz
e Antonio Simão Nunes.
O sermão foi prégado pelo reverendo
gr. padre Cruz, que agradou, como sempre.
SUBSCRIPÇÃO
Os iniciadores da subscripção aberta a
favor do official Francisco Barata, pedem-
n’os a publicação do documento seguinte,
agradecendo por este meio a todos os cava-
heiros que da melhor vontade se dignaram
auxiliar tão nobre procedimento, protestando
a todos indelevel gratidão.
SENOORES !
Os officiaes de diligencias, do Juizo de
Direito d’esta comarca, levados pelos im-
pulsos de boa camaradagem e no intuito de
minorar as circumstancias em que se acha
o seu collega Barata, por virtude do roubo
que lhe foi praticado de 354000 réis, que
lhe tinham sido confiados para pagamento
de salarios a diversos empregados n’um
processo, veem mui respeitosamente perante
V. Ex.“ solicitar uma pequena parcella para
o complemento de tal quantia, pois, que,
attendendo aos poucos recursos e à nume-
rosa familia do seu dito collega, não po-
dendo por isso elle dar cabal cumprimento
aos deveres de um bom empregado, fiel e
honrado, como o tem sido sempre. E para
que continue a favor da sua classe, a con-
“fiança que todos os seus superiores lhe de-
positam, esperam poder agradecer a V. Ex.”
um tão nobre sentimento de generosidade,
protestando a todos o seu inolvidavel reco-
nhecimento. Certã, 11 de janeiro de 1899.
Os officiaes,
José de Pina
Joaquim Affonso Junior
Jacintho Augusto da Cunha
Valente.
Subscriptores :
Dr. Antonio Rodrigues d’Almeida Ri-
beiro 25740: Dr. Accacio Marinha 500;
Anonymo 500; Dr. G. Marinha 800; Dr.
Antonio N. de Figueiredo Guimarães 13000;
Dr. Abilio Marçal 34000; José Belchior da
Cruz 500; Simões David 63670; Adrião
Moraes David 500; Eusebio do Rosario 500;
Maximo Pires Franco 13000; Manuel An-
tonio Manso 100; Joaquim Antonio Nunes
15000: Albano e mulher 200; David Nu-
nes e Silva 500; José dA. Bartholo 23000;
José Cabral 500; Emygdio Magalhães 15000;
Eduardo B. CG: e Silva 15000; Francisco
Cesar Goncalves 18000; Joaquim da Silva
Branco 25000; J. A. de Moura 500; An-
tonio Leitão 500; Fructuoso Pires (a rece-
ber no processo) 35210; Fernando Bar-
tholo (idem) 29165; Antonio Figueiredo
Torres Carneiro 14000; J. S. Carvalho
14000; F. A. Ferreira Maio 400; Fernan-
do Martins Farinha 15000; Jos Martins 500;
José Nunes e Silva 14000; Dr. Albano Fra-
goso 300 réis.
“Total — 385585 réis.
Necrologio
À MORTE DO MEU ANIGO PADRE ABREU FREIRE
Ha vidas que são a mais
tisação do homem de bem,
Ha motes que são a synthese mais
evidente do homem trabalhador que sacri-
fica as commodidades pessoaes e fami-
liares em holocausto de uma ideia —- ideia
grandiosa — a civilisnção. E esta vida e
esta morte foi a do Padre Abreu Freire,
cujo passamento final, no dia 22 de janeiro
de 1897, hoje recordamos sentidamente.
Nunca a comprehensão dos deveres
que lhe impunha o seu difficil munus de
sacerdote e missionario, foi mais rigorosa;
assim como tambem nunca o amor filial
encontrou mais fiel interpetre como nos
anceios com que o Padre, Abreu Freire
proeurava satisfazer a todas as exigencias
da quasi idolatria que professava pela fa-
milia.
Dois annos são já passados scbre as
ruinas do seu sepulchro e a seu nome ainda
hoje tem no coração de todos um altar
ante qual se balouça o thuribulo da sau-
dade.
E? occasião para se repetir com pro-
priedade a antiga phrase do orador romano:
os grandes homens não morrem, só cahem
para depois se levantarem mais alto — e
eu accrescentarei—e fazerem da memo-
ria de cada um uma estatua consagrada
ao seu nome.
pura concre-
| | Homem pela natureza, filho pelo nas:
E
cimento, amigo de todos pelo caracter,
sacerdote pela dignidade e missionario
pela religião — em todas estas varias ma-
nifestacções do seu perfil social o Padre
Abreu Freire se soube evidenciar como
homem á altura dos multiplos deveres que
as suas difficilimas obrigações lhe acarre-
tavam, e sahir-se de todas ellas senão vi-
ctorioso, ao menos com a consciencia tran-
quilla, na hora do transe final, de que
cumpriu o seu dever.
Pondo de parte todas as outras consi-
derações só o apresentaremos pelo lado
de missionario.
Na idade de 24 annos — tempo em
que o futuro começava a raiar na sua vida
de sacerdote, e quando muitos se sentem
vacilar em suas resoluções, ante a perspe-
ctiva de secrificios que a vida de missiona-
rio têm reservados áquelles, que para fa-
zerem dos lobos mansos cordeiros, tem
que separar-se da Patria que todos amam
e da familia que todos idolatram — foi en-
tão que o Padre Abreu Freire se paten-
teou em toda a sua vitalidade como um
missionario devotado, deixando sempre
no coração de todos a esperança de que
um dia o seu nome fulgiria nos annaes
das missões, senão escripto em caracteres
d’ouro, ao menos em caracteres de sangue.
Infelizmente, para todos nós que o co-
nheciamos e estimavamos, e para sua fa-
milia que o estremecia, a carreira gloriosa
que com tão religioso como perseverante
enthusiasmo e patriotismo encetára, tivera
o segundo desenlace.
Sendo-lhe designada para theatro de
suas acções a ilha de S. Thomé, ahi se
dedicou com tão acrisolado empenho ao
seu myster, que pouco tempo depois,
quando a doença já lhe corria as forças,
alguns dos seus amigos lhe diziam em con:
versa familiar: — tu não has de mor-
rer, mas hades matar-te; não que reco-
nhecessem n’ºelle qualquer tendencia para
suicida, mas porque avaliavam quanto as
exigencias do seu genio trabalhador assim
o requeriam; não que elle fosse um fana-
tico da gloria, mas porque era um crente
da religião.
E a prova todos a viram. A doença
atacara-o mais e mais, cbrigando-o a vcl-
tar á sua terra; já tisnado pelo sol tropi-
cal, voltara ainda o filho, o amigo, o sa-
cerdote com todas as suas dedicações, mas
o homem, o missionario, esse, pena é di-
zel-o, ficara retaliado de febres e de can-
saços pelos pincaros adustos e ennegreci-
dos de S. Thomé.
Procurava agora um conforto salutar
na terra patria, mas o adiantado da sua
doença só lhe permittira dar um azylo no
cemitério da sua terra. — Ao menos antes
isso, que soffrer em terra extranha; antes
o morrer nos braços da familia que o an-
gustiar no desconforto de todos os cari-
nhos, cercado de gente que se não conhece,
Descança em paz martyr da abnegação
e do amor pelo trabalho, e lã do Céo,
aonde certamente miraram os teus mere-
cimentos, roga a Deus para que sejam
mais felizes que tu, os corajosos continua-
| dores da empreza que com tão auspeciosa
esperança incetastes; e que a recordação
do teu nome seja sempre o modelo multi-
plo do homem, do filho, do amigo, do sa-
cerdote e do missionario.
Certã, 16 7-99
—— martires
Marinha franceza
Dominó.
Os periodicos de Toulon publicaram ul-
timamente algumas noticias âcerca da intel-
ligencia, zelo e actividade com que Mr. Lo-
ckroy dirige os negocios da pasta da marinha
franceza. Este estadista reconheceu a falta
de methodo que presidiu à organisação ma-
ritima de 1896, bem como o pouco valor
da maior parte dos navios de guerra em
construcção, cujos variados typos não cor-
respondem ás necessidades requeridas pela
defeza maritima e colonial da França.
Necessidades financeiras exigem, para
se aproveitarem os recursos já compromet-
tidos pelo Estado, se termine a esquadra,
denominada pelos criticos — dos almirantes
— em opposição à que vae creando Lockroy,
o qual olha com desprezo os couraçados e,
ao contrario, muito admira os cruzadores e
torpedeiros de marcha rapida,
Sciencias & Letras
O Amor
A luz que baixa do ceu, que innunda com
a sua purissima vida toda a creação, é o
amor; sim O amor universal, fecundando a
flôr, a ave, a agua, todas as coisas que se
sentem feridas e animadas pelo seu fogo,
A flôr treme, sacode as petalas palpi-
tantes de prazer e derrama sobre a terra a
semente, tributo do seu amor. Os seres —
inorganicos unem as moleculas e fervem
abrazadas pela electricidade, — delirio do
amor da natureza. A lua vae seguindo a
terra, e a terra rejubila quando o sol a beija,
e o sol e as estrellas volteiam em redor de”
Deus como a mariposa em torno da cham-
ma, € os espaços são 0 immenso leito dos
amores do mundo. Nºum raio de luz um
astro manda a outro um beijo de amor.
O ar suspende-se sobre a terra, canta-
lhes amores nos seus doces murmurios, pin-
ta-lhe illusões nos seus horisontes azues,
refresca-a com o seu orvalho: e a terra
absorvendo-lhe a vida e transformando-a em
amor, povoa-se de amores frondentes. Os
seres occultos na agua, no grão de pô re-
produzem-se; crescem-se, desenvolvem-se
ao impulso do seu amor.
As mariposas rompem a larva, batem
as azas é celebram as suas nupcias com a
flôr, cujo aroma embriaga de prazer.
Além, no fundo das cavernas, o leão, o
tigre, o magestoso elephante, entregam-se
aos seus amores, e as femeas acarinham
os filhinhos com zeloso espirito de materni-
dade que se debuxa na luz dos seus olhos.
A agua vae correndo sobre a terra, re-
tratando o céo, para produzir flôres no seu
amôr.
A calhandra quando ao nascer do sol
levanta o seu vôo ao infinito, impulsiona-a
o amor; a andorinha quando corta os ares
com as rapidas azas negras, busca os seus
amores; o rouxinol quando ao delinear do
dia se suspende na rama das arvores e eleva
o cantico melancholico que vae. crescendo
em notas dulcissimas como se quizesse to-
car os céos, canta, canta o seu amor, é a
palpitação d’esse amor commove, como se
o seu coração fosse immenso, os ares. Oh!
o amor sustem as estrellas no infinito, a
atmosphera sobre a terra, a molecula unida
à molecula accende o grande forno da vida,
o fogo: dessedente na sua immensa cata-
rata, que vem de Deus, todos os seres : der-
rama da sua inexgotavel cornucopia as se-
mentes de todas as coisas, e palpita sempre
um, sempre identico no seio do coração.
Emilio Castellar.
—— Do
CORREÃO DA cAAZETA DAS PROVINCIAS”
Recebemos e muito agradecemos a im-
portancta das assignaturas dos srs.: Eu-
genio Antonio Aunes, residente em Lisboa,
(até 31 de março); Manuel Viola da Costa,
Lisboa, (até 31 de janeiro).
— Ao sr. Possidonio Nunes da Silva,
de Sernache do Bomjardim, enviâmos já
pelo correio o n.º 10 da Gazeta das Pro-
vincias. .
Agradecemos a sua inscripção no nu-
mero dos nossos assignantes.
— Ao nosso assignante e amigo sr.
“Annibal Campos enviâmos já os n.º 3, 4 e
5 e quatro exemplares do n.º 8.
.
Ao sr. Felistroques pedimos para outra
vez melhor caligraphia.
— Ao sr. Eça E Boa: A salada é ou
não uma iguaria ?
A
“ -— Temos em nosso poder alguns artigos
que não podem ir n’este numero por não
terem vindo a tempo.
mn me@@@ 1 @@@
MARCO ROS ENE
Pedrogam Pequeno, 16.—
Deve celebrar-se com toda a pompa no dia
22 do corrente, a festividade de S. Sebas-
tião, abrilhantada pela phylarmonica desta
villa,
” — E” esperado por estes dias o nosso ami-
go sr. padre Antonio Lopes, de Proença a
Nova, que vem passar algum tempo n’esta
pitoresca villa em companhia de seu irmão
e nosso amigo sr. padre José Lopes.
— Já retirou para Sernache do Bomjardim
o sr. padre Antonio Martins, ilustrado pro-
fessor no Seminario das Missões.
— Passou no dia 47 do corrente o anni-
versario natalício da menina Ignacia Vidigal,
– gentil filhinha do sr. Joaquim Henriques Vi-
digal.
As nossas felicitações.
— gra —
GRALETIAS
Grande bando d’ellas se alastrou a
semmana passada sobre o nosso jornal.
Que nos desculpem os nossos leitores.
— mei qe ——
CHARADAS NOVISSIMAS
A deusa nota a dignidade ao deão — 2, 4.
*
Quero que offereças, toma sentido, a casa—, 2.
*
Quero olhar para a nota que a Cecilia tem é
offerece quem mata os vermes — 4, 1. 4, A.
ae
Exacto, a nota tem um numero plausivel—2, 4, 4.
x
O homem. por não estar acompanhado está con-
vulso — 2, 1.
*
Porém, não quero que viva n’um carcere sub-
terraneo — 4, 2.
*
A farinha amassada come-se porque é doce—2, 1.
x
Extingue o numero ao fanfarrão — 2, 2.
E
Por outra, o Tio é andaz— 1, 2.
Certã.
Felistroques.
ad mm
DECIFRAÇÕES
Deado — Despensa — Vermicida,
Verosimil — Vascoso — Masmorra.
Massapão — Mata-sete — Ouisado.
————— e qe —
— Meu senhor, dê um vintemsinho a
um cego.
— Mas você é cego só d’um olho.
— Então de-me dez reis.
E
A irmã mais velha ao pequeno Alfredo:
— Anda cá, é preciso um recado.
Alfredo — Dize à mamã que não pos-
so, tenho que fazer.
A irmã — É o papá que te chama.
Alfredo (apressado) — Ah! dize ao
papá que estou prompto.
o
Um celibatario interroga uma criada,
que acaba de tomar para o seu serviço.
— És bonita, bem feita… Tens boa
conducta?
— Isso depende do senhor.
—— oe