Gazeta das Províncias nº10 12-01-1899

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“ANO |
N.º 10
semanario independente
SB STENATURA.
É
CERTA, mer, 400 15. FÓRA DA CERTA, trimestre, 330 18. APRICA, semestre, 18000 18. BRAZIL, semestre, 28500 rs. Numero avulso, 3075.
Toda a correspondencia dirigida à Administração, R, Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
mana a.
A DECADENCIA MORAL
DA RAÇA LATINA
Em artigos anteriores deixámos já
entrever a notavel decadencia politica
das nações latinas.
Desde Sédan, desespero heroico
d’uma grande raça, até Fashoda, que
surgiu ha pouco como uma agonia,
ainda em cima aggravada pela ques-
tão Dreyfus,—a França, a melhor das
nações latinas, percebe que decahe
agora do seu velho esplendor, sente
que lhe róem as entranhas, a esphace-
larem-se. ,. Desde a derrota monu-
mental que esmagou a Italia na Abys-
sinia, povo semi-selvagem, até aos ar-
rebatamentos da moderna Grecia, com-
primidos e calcados por uma raça re-
conhecida como insignificante; —d-=sde
o recente accordo anglo-germanico,
que põe em perigo a patria portugue-
za, até às rapidas mas não menos tra-
gicas scenas de Cavite e de S. Thiago
de Cuba, em que a Hespanha se sentiu
despedaçar-se pelo coração; — desde
os repetidos desaires de diplomacia até
à perda progressiva de territorios, por
que transes e torturas não tem passa-
do a raça latina! Que carregadas nu-
nuvens se vão amontoando nos seus
horisontes !
Pobre decahida raça latina !,..
A palavra de Demosthenes não en-
contra já um echo e a espada de Na-
poleão adormece de ferrugem n’um re-
canto dos museus. Mais relusente que
o capacete de Cervera brilha o capace-
te deSampsom; Montojo ficou sonhando
no fundo dos mares orientaes, Shaefter
piza triumphante e glorioso as calçadas
de Wasington e de New-York. Supe-
rior á tribuna de Castellar eleva-se a
de Gladstone, E quente o verbo en-
thusiasta de Orispi; queima, porém, o
verbo de Chamberlain. Salisbury póde
“mais que Sagasta, O pensamento de
Spencer é mais profundo que o pensa-
mento de Fonillée ou Tarde. Só n’uma
coisa sóbe ainda hoje mais o genio la-
tino: —é na poesia. Não admira. O
mais expressivo e sentido cantico é o-
do moribundo.
Chorou Jeremias sobre as ruinas –
de Jerusalem; gemeu Camões com o
ultimo gemido da patria… Para dar
um grito ao lançar um ai multiplica a
natureza o esforço. Urepita a luz antes
de extenguir-se; dá um arranco o cor-
po que larga a vida!
Assim a raça latina na sua activi-
dade poetica.
Não basta, porém a augmentar-lhe
a desgraça, a decadencia politica; mais
lhe accresce ainda e de mais serios re-
gultados: — a decadencia moral,
e ado pa Ce rage
Atraves das grandes manifestações
de progesso que assombram este secu-
lo, surgem infelismente, para contras-
tar os sympthomas desoladores d’um
enorme abatimento moral na Europa
latina.
O Panamá enche de lama a histo-
ria contemporanea da França, e, como
um digno cortejo a seguir-lhe a estei-
ra, succedem-se, n’ella e nas demais
nações latinas, casos escandalosissimos
de roubos aos cofres publicos, por dif-
ferentes maneiras e por diversos feitios,
E’ um nunca acabar! A cabeça cança-
se na impossibilidade de reconstituir
as innumeraveis manhas que vogam
hoje na politica,
Com effeito, tem paginas negras a
historia d’este seculo: são as que lhe
inserem os povos latinos | Para coho-
nestar esses factos, inventaram as ima-
ginações uma extravagante distineção
entre moral, social e moral individual:
vida domestica… Loucura de cere-
bros corrompidos! Mas, nem mesmo
com essa distincção, cousa alguma se
salva ou se justifica. A moral individual
não consegue disciplinar-se com as re-
petidas e diversas leis de liberdade da
imprensa; as cadeias em ltalia estão
abarrotadas de jornalistas e em Portu-
gal despejam-lhes as algibeiras com
multas esmagadoras. Pois nem assim !
Não haverá liberdade que farte com-
pletamente essa gente senão quando o
direito de insultar a todos e a tudo for
incondicional. Só então !
Voltando os olhos para uma outra
ordem de factos, as estatisticas dão em
França o problema da população como
sendo dos mais melindrosos, pelo seu
decrescimento successivo ; em Portugal
e em Italia o mal affecta principalmen-
te o lar domestico, repetindo-se fre-
quentemente raptos, violencias, ete., .
Na concentrada Allemanha e na
laboriosa Inglaterra aprende-se a en-
vergar uma blusa e a mexer nas ferra-
mentas do trabalho; nas cançadas na-
ções latinas aprende-se ainda, sim, mas
o modo de arranjar diplomas sem es-
nada se faça.
Ouvem-se as pancadas dum cai-
xão; apprompta-se para assistir a umas
grandes exequias a grande raça anglo-
saxonica, Ninguem sabe onde isto irá
dar… Infeliz raça latina !
Para as nações, como para os indi-
viduos, ergue-se e impõe-se uma Pro-
vincia; e essa Provincia, n’um infinito
e extremo amor pela justiça, não dei-
xará por ventura de fazer cahir, dura
e pesada, sobre as corrompidas nações
| do meio dia Europa, a mão omnipoten-
Ea ape E inata
uma moral na politica, outra moral na |
forço, de arranjar empregos em que.
FUBLICAÇÕES
À E No corpo do jornal, cada linha 80 rs. Anmuncios, 40 rs. a linha, Repetição, 20 rs. a linha. Permanentes, preço convencional; os srs. assignantes
têm 0 desconto de 25 0/g: Esta folha é impressa na Imprensa Academica, R. da Sophia. Coimbra
te despede as tempestades e abysma
no tempo as entendidades inuteis,..
— Segredo mysterioso dos destinos
eternos…
ECHOS DA SEMANA
Pela ultima reforma comarcã, passam
novamente a 1.º classe as comarcas da Certã
e Fundão, do districto de Castello Branco.
— Foi transferido para Timor o missio-
nario sr. padre José Martins da Silva, e
para Moçambique o missionario sr. padre
Eduardo Mendes Senna.
— Foi nomeado lente substituto da fa-
culdade de mathematica de Coimbra, o sr.
dr. Sidonio da Silva Paes.
— À camara escolheu para delegados
da commissão districtal, por este concelho,
os ex.” srs. dr. João Duarte de Carvalho
e Sousa, Antonio Rodrigues Cardoso, effe-
ctivos: Alberto Godinho Mendes Guerreiro
e Francisco Xavier Pereira, substitutos, todos
residentes em Castello Branco.
— Até ao dia 25 do corrente, recebe
a commissão do recenseamento eleitoral,
reqnerimentos de todos os individuos, que
por saberem ler e escrever, desejarem ser
recenseados como eleitores e elegiveis, de-
vendo os mesmos requerimentos serem es-
criptos e assignados pelos requerentes e re-
couhecidos por tabellião, nos termos do art.
2436.º do Cod. Civ.
— À commissão do recenseamento mi-
ltar, que é composta dos srs. Francisco de
Almeida Ferreira Maio, João da Silva Car-
valho, Francisco Farinha David Leitão e
Maximo Pires Franco, installou-se no dia 5
“do corrente e deliberou que as suas sessões
tivessem logar todas as quartas feiras pelas
dose horas da manhã. á
— No dia 17 do corrente, nos Paços
d’este concelho procede-se ao recenseamento
dos mancebos na edade legal para o recru-
tamenlo do actual anno, com a presença
dos parochos e regedores.
— Continuam a ser sollicitadas, em
grande numero, na administração do conce-
lho, licenças para uso e porte d’arma..
— Tem logar: no dia 15 do corrente
n’esta villa, a feira annual de Santo Amaro.
Tem logar no mesmo dia a festa de Santo
Amaro, que se venera n’esta villa.
Carta da, India
Nova Góa 15-12-.98
Fundeâmos em Mormugão, porto prin-
cipal da India Portugueza; é d’aqui que
parte o caminho de ferro que se segue até
à fronteira ingleza.
Eis-me pois na India.
Fica Mormugão distante de Pangim ou
Nova Gôa, uma hora de viagem por mar,
sendo esta cidade banhada pelo rio Man-
dovy onde se encontra actualmente a canho-
Augusto Rossi — Editor
ão a de:
neira Bengo, navio a que vinha destinado e
onde estarei de guarnição por alguns mezes
ou annos talvez.
Nova (da é a capital da India Portu-
gueza; é pequena, mas com bons edifícios,
citando-se entre estes os palacios do gover-
nador, pois tem dois, sendo um na-cidade
e 0 outro a uma hora de caminho para onde
vae veranear. Ha além d’isto bons quarteis
e alguns predios particulares de bom gosto,
assim como um jardim regular e algumas
egrejas de fina architectura. O movimento
commercial é pouco importante em resul-
tado da grande concorrencia feita por Bom-
baim, cidade ingleza e que fica distante
daqui um dia de viagem.
As distrações são pequenas, limitando-
se a uns passeios aos palmares, fóra da ci-
dade. Ha tambem musica ao domingos e
quintas-feiras n’um coreto situado em frente
do palacio do governador, perto do qual se
acha tambem ancorada a Bengo.
A duas horas de caminho daqui fica
Velha Gôa, cidade hoje em ruinas e que
foi uma das mais ricas e antiga capital da
India. Quem a vê hoje, póde avaliar ainda
o que seria ha tres seculos. Aqui e ali,
ruinas d’um convento, ruas obstruidas pela
derrocada de construcções d’uma archite-
clura que deveria ter sido imponente, mais
alem, os grandes estaleiros onde outr’ora se
construiram importantes navios de guerra e
que hoje se acham completamente arrasa-
dos, signaes evidentes do desleixo a que
tudo isto foi votado! Acham-se ainda em
regular estado de conservação dois conven-
tos e uma egreja, na qual se encontra S.
Francisco Xavier por quem os canarins sen-
tem uma adoração sem limites, não podendo
ouvir a palavra mais insignificante em des-
abono do seu idolo.
E do que foi Velha Gôa, cidade capital
do nosso imperio na India é o que resta!
e
o o
No dia 14 de novembro largou a Bengo
para Bombaim, afim de fazer algumas re-
parações, chegando 38 horas depois.
E esta uma das melhores cidades do
Industão, não só pela sua riqueza e impor-
tante commercio, mas tambem pelos seus
grandiosos monumentos, vastos edificios,
bellos jardins e outras mil maravilhas. A
sua população é calculada em 900:000 ha-
bitantes. Foi aqui que se desenvolveu as-
sustadoramente a peste bubonica, chegando
diariamente a haver 1:000 casos fataes, e
isto, certamente proveniente da muita falta
de hygiene em que se encontra o bairro
mouro, pois casas ha de 5 e 6 andares onde
habitam mais de 100 pessoas, acrescentando
a isto o calor que é excessivo e toda a es-
pecie de immundice.
Como acima dissemos, Bombaim possue.
edificios grandiosos e entre estes a estação
dos caminhos de ferro, bons hoteis, um jar-
dim zoologico onde se encontram animaes
raríssimos, um museu de bellas-artes, etc.,
etc. Além d’isto, o bello porto de mar, a
importante navegação, as dokas onde se en-
contram constantemente centenas de navios,
uns a descarga de mercadorias, outros à
carga, em fim, um movimento dez vezes su.
| perior ao do nosso porto de Lisboa,oa,@@@ 1 @@@

2 GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 12 DE JANEIRO DE 1899
E já que confusamente falei de tantas
maravilhas, não posso deixar de dizer algu-
ma cousa, ainda que superficial, dos seus
adornos — o bêllo sexo.
Ha aqui typos de toda a raça moura,
maratha, gentia, christão, parsas, malaia,
e gente de todas as nações, impérios, rei-
nos e republicas do mundo civilisedo.
Porém, de todas estas raças a que mais
sabresahe é a parsa. Encontram-se n esta
raça mulheres d’uma formosura arrebata-
dora, envoltas em trajes riquissimos, mas
d’uma simplicidade pouco vulgar.
e
o o
— Do Bombaim seguimos para Diu que
fica a 16 horas de viagem. Que contraste
entre uma e outra! |
Diu tem apenas meio duzia de casas,
sem gosto algum. Vê-se uma grande forta-
leza hoje quasi em ruinas, celebre nos se-
culos idos, mas que presentemente nem ar-
tilheria tem. Quem tiver lido a descripção
do Grande cerco de Diur fica de certo inde-
ciso se será ou não essa Diu onde os por-
tuguezes de ha 4 seculos praticaram actos
de heroismo sem egual.
Aqui, apenas estivemos algumas horas,
pois largamos para Damão que fica entre
Diu e Bombaim. É um pouco melhor que
Diu, mas sempre o mesmo mutismo sem
cousa alguma de importancia.
Está situada nas duas margens d’um
rio. Na margem esquerda está Damão Gran-
de, onde se encontra uma boa praça de
guerra e uma fortalleza regularmente con-
servada. Dentro da praça está o palacio do
governador e a imissão ; fóra, existem al-
guns edifícios de bom gosto e pitorescas
florestas.
Damão Pequeno fica na margem direita,
tendo tambem uma boa fortaleza regular-
mente conservada, mas tanto uma como
outra, infelizmente sem artelheria. Não ha
“aqui cousa alguma digna de menção a não
ser uma espaçosa quinta pertencente a um
parsa, que é franqueada aos habitantes de
Damão. Tem logares pitorescos e bons jor-
dins, sendo a coisa melhor desta cidade.
E, mais nada digno de notar-se. Esti-
vemos aqui apenas 3 dias, voltando nova-
mente a Bombaim, onde passamos 8 dias
seguindo depois para Gôa, onde chegámos
em 8 do corrente.
A França.
——— ad qr
CHRONICA ELEGANTE
De passagem para Lisboa esteve n esta
villa o sr. José Antunes Pinto, illustrado
lente do Instituto de veterinaria d’aquella
cidade.
*
Continua ainda bastante incommodado de
saude o sr. José d’Azevedo Bartholo.
x
Recolheu já ao regimento de infanteria
14 de que é digno capellão, o nosso amigo
sr. padre José Farinha Martins.
x
Sahiu para Lisboa o nosso amigo sr.
Antonio Coelho Guimarães, de Sernache do.
Bom Jardim. E
me :
Sahiu para Lisboa o nosso amigo sr. An-
tonio Dias da Silva, alumno da Escola Poly-
thechnica,
E
Esteve na Certã a semana passada, O sr.
Julio Farinha da Conceição, de Pedrogam
Grande.
=
Esteve tambem n’esta mesma villa o nosso
amigo sr. Francisco Henriques David.
x
Sabiu de Mação para: Coimbra o nosso
particular amigo dr. Antonio Lino Netto.
x
Sabiu para Lisboa o sr. Antonio Serra,
conceituado commerciante em Sernache do
Bom Jardim.
*
Esteve n’esta villa o sr. conselheiro Al-
fredo Augusto Mendonça David, digno juiz
da relação de Goa.
x
Está n’esta villa o nosso amigo sr. An-
tonio Nunes Damas, empregado no commer-
cio, em Lisboa.
m
Estiveram n’esta villa os srs. José Jorge,
da Aldeia da Ribeira e Luiz da Silva, actual-
mente residentes em Lisboa,
x
Sahiram para Coimbra os nossos amigos
srs. dr. Antonio Victorino Goelho, Guilherme
Felix de Faria, Angelo d’Almeida Ribeiro,
Antonio Rosa Mella, dr. Anacleto Mattos e
Silva, Augusto Bivar Salgado, Francisco de
Albuquerque Mesquita e Castro, dr. Fran-
cisco David, Joaquim Farinha Tavares, Mi-
guel Alves Correia, e Ernesto de Sande
Marinha.
x
Realisou-se em Cardigos, o consorcio da
gr.* D. Maria d’Assumpção Dias com o sr.
José Dias, 1.º sargento do exercito. Foram
padrinhos por parte da noiva, seus irmãos
Luiz Dias e D. Cecilia da Conceição Cardoso,
e por parte do noivo, Antonio Cardoso, e
D. Amelia Cardoso.
Aos nubentes desejamos uma longa é
feliz lua de mel.
CARTA DE COIMBRA
3 de Janeiro.
Está de Into Coimbra, a terra da scien-
cia, dos palitos e das arrufadas. Faltalhe
aquelta alegria, que é o seu característico,
alegria que só a mocidade sabe expandir.
Poucas pessoas haverá que não conheçam
Coimbra, cidade à beira Mondego plantada,
e em cujas ruas, se avistam constantemente
esses rapazes alegres e cheios de vida, en-
fiados nos seus habitos talares.
Quem ha que não conheça ao menos de
tradição, a vida de estudante de Coimbra?
Dias antes de ferias, nota-se uma grande
alegria em todos aquelles juvenis corações !
Procuram pelas lojas brindes para levarem
aos seus, fazem encommendas de arruladas,
palitos, pasteis de Santa Clara, e outras
especialidades.
Os carteiros não têem mãos a medir;
chega essa alluvião de cartas registadas, em
que os paes, mães ou irmãs mandam o di-
nheirinho para a viagem, e para o tradicio:
nal cáosinho !
Chega o dia, e começam logo a escassear
as capas; vestidos à futrica, vão tratar -da
vida, despedir-se dos amigos. Aproxima-se
a hora dos comboios, as serventes e rapa-
zes, de malas à cabeça, caminham para a
estação, seguidos dos seus patrões.
Que inferno na estação, Santo Deus! !
Cada um grita para seu lado : despache-me
esta mala, oh sr. empregado, — já lá vae,
sr. dr., lhe responde o carregador (sim,
porque aqui todo o que usa capa ha de for-
cosamente ser doutor! habito velho). Os ra-
pazes dão a gorgeta à sopeira, ellas despe-
dem-se desejando-lhes mil venturas e felizes
ferias. Vão para a gare, alli aguardo-os o
Caranguejo, (nome dado ao comboio que os
leva à estação velha e em seguida volta para
traz)! Que inferneira! que gritaria! oh B,
vem para aqui que vamos poucos ! oh €,
então vaes em primeira azul*? De outro
lado grita um: então sr. chefe, ficamos aqui ?
* 3.2 classe.
“A sineta dá o terceiro signal, tado rompe
em gritaria; adeus Coimbra, e lá vão ca-
minho de estação velha, cantando e tocando
nas suas guitarras !|
Em Alfarellos e no Entroncamento, os
empregados da companhia e principalmente
dos buffetes vêem-se seriamente atrapalha-
dos, querendo todos ser servidos ao mesmo
tempo, gritam e barafustam. O do buffete,
vinga-se levando-lhes mais caro, que à qual-
quer outro passageiro. Chegam às suas
casas, abraçam os seus, e vivem satisfeitos
esses dias, contando, hora a hora, minuto
a minnto, quanto falta para terminarem
esses [elizes dias.
Os que cá ficam, tristes e pensativos
passeiam ao acaso, theios de seriedade, que
não parecem já os mesmos !
Vamos até à baixa ? diz um; vamos, lhe
responde o outro. Rua da Trindade abaixo.
Olha a Palmyra que está a coser a porta?
Adeus Palmyra? Adeus sr. doutor, então
não vae a ferias?
Mais abaixo, a Elisa, a Assumpção, a
Isabel, todas fazem egual pergunta.
Quem são ellas, nos perguntará o lei-
tor? São raparigas cheias de vida, caras
bonitas, as tricanas, as lendarias tricanas
que os estudantes cantam nas suas canções,
e com quem dançam o vira nas conhecidas
fogueiras !
Foram-se os estudantes, tudo está triste,
até o Mondego, corre vagarosamente! pa-
rece que lhe arrancaram a vida !!
Tudo sente a falta dos estudantes. Em
compensação, quem mais gosa em Coimbra
durante as ferias, são Os futricas; esses
sentem-se felizes, namoram agora à vontade,
foram-se os inimigos, e deixaram-lhes o ca-
minho livre, porque as encantadoras trica-
nas só dão confiança a estes, quando lhes
falta o doutor, o dr. estudante! |!
Chega o fim das ferias, as sopeiras re-
cebem cartas dos patrões para os espera-
rem na estação e transportarem-lhes as ma-
las. — O comboio chega. Que alluvião de
rapazes que sae d’aquellas carruagens !!
Triste, até Alfarellos, recuperaram a
alegria que Coimbra lhes ministra com os
seus innumeros encantos. Ditos engraçados,
abraços e cousas mil! A policia a custo
contém a massa de povo que se junta à
porta da estação gritando todos a um tem-
po: —oh sr. dr. quer que lhe leve a mala?
eu sei onde mora, sr. dr, — Destaca se um
vulto de homem corpulento e grande, — é
o Rolié que tantas gerações conhece, que
yem offerecer os seus serviços e que pede
IO FOLHETIM
ODIO DE FIDALGOS
Almeida Mendes
Ambos se ausentaram do quarto deixando
a desgraçada Catharina estendida sobre o
leito. Roberto dirigiu-se em continente ao
seu gabinete e sentando-se rudemente numa
poltrona, exclamou :
— Devo occultar ao mundo a minha ver-
gonha: é forçoso parlir e hoje mesmo.
Vibrou uma campainha e disse para O
criado que apontou à porta :
— Diz a Alda que se prepare porque
temos de abandonar d’aqui a quatro horas
o Porto. Quando essa senhora, que está no
quarto de Estevão, acordar, diz-lhe qual é
o caminho que leva a rua.
Que cynismo ! que injusta sentença !
Porém não tardaria muito Lempo que o
castigo do ceu, onde está Deus que é pae e
pae dos desgraçados, castigaria o seu duplo
crime com a vingança que talvez sirva de
lição a homens desnaturados como aquelle.
mes
Combien ce tourbillon qu’ou apelle le monde,
En travors, en erreurs, en miséres abondo !
La tristesse s’y joint à la frivolité.
Qu’entend’on, que voit-on dan ce monde vanté !
DESMAHIS — L’honnête homme —.
Voltemos à aldeia: na manhã seguinte
ao rapto as portas da igreja apareceram
abertas e os vasos e demais objectos de va-
lor tinham sido roubados. Quem tal ousara
não se sabia: fallavam apenas, mas isto em
voz muito baixa, que não tinha sido outro
senão O fidalgo Vasco de Mascarenhas aju-
dado pela quadrilha de que era chefe.
Vamos nós pois ter com este e vejamos
se podemos descobrir o que os outros igno-
ravam.
São nove horas: apoiando os cotovelos
sobre uma meza collocada à cabeceira do
Jeito estende à volta o olhar turvo : transfor-
ma o rosto em esgares terriveis e depois,
vencido pela alluvião de idêas que lhe inva-
dem o espirito, cáe em meditação : sentem-
se-lhe ranger os dentes, contorce-se: pelos
cantos da bocoa sae-lhe ums espuma branca,
que vai manchar-lhe os bordados da ca-
misa,
— Sou um réprobo, exclamou batendo
um murro sobre a meza: sou mais despre-
sivel que o parea maldito, que não tem pa-
tria, não tem leis… mas só tem vícios…
O anathema abominavel, a infamia e a mi-
seria denegrida para mim!… Tudo hypo-
thecado, ludo vendido… já nada d’isto é
meu e a miseria a bater-me à porta. Mes
que querem se eu não tenho sentimento do
bem? se o não sinto instigado pela conscien-
cia arguir-me dos meus crimes? Eu… eu…
sou um miseravel.
«Nem carinhos de mãe, nem rogos de
amante, nem as lagrimas da mais terna
criancinha abrandam a minha indilferença.
Nada me seduz, OS prazeres venaes em que
todos os dias me aturdo são vãos. E sinto
desprender-se a vida, sinto-me cada vez mais
fraco: estou phiysico .. para mim não ha
salvação. :
«Mas tambem que me importa morrer
se não creio em cousa alguma d’esta vida
despresivel que, se se prolongar, será alta-
cada de continuos soffrimentos ? Estou phty-
sico… mas o que me afilige é… poder
viver ainda muito tempo. Poderia suicidar-
me… porém, seria uma loucura porque o
snicidio é só proprio das almas timoratas e
a minha não pertence ao numero d’estas.
«Duvido de tudo, pois que desde a mais
tenra idade me ensinaram’a Ludo desprezar,
tirante a nobreza, que para nós é sagrada.
Não amo, não possuo esse benefico senli-
mento, que, dlzem, vivifica os mais ignaros
entes. Com mil demonios o meu nascimento
foi maldito |»
Ficou silencioso por instantes.
— Devo abandonar, e já, esta casa, que
não me pertence. Mas n’esles Lrajos não :
vou mudar de roupa: o ladrão deve fazer
por se escapar das mãos da justiça dos ho-
mens… Os vasos sagrados clamam bem
alto contra mim, porque eu, eu só, fui o
sacrilego que ousei apossar-me de todas as
riquezas, cuja falta alvoroça todo o povo.
Levyantou-sé e entrou n’um gabinete con-
tiguo : dez minutos depois appareceu com O
rosto inteiramente mudado e envergando
umas vestes, que caiam aos pedaços: pren-
deu uma escada de sêda a um pé do leito
e lançuu-a pela janella que dava para um
bosque cerrado e onde pouco se diffsrença-
ria a noute do dia: em seguida desceu com |
presteza e embrenhou se no massiço das ar-
vores.
A” mesma hora em que succedeu o que
acabamos de narrar, celebrava-se com pito-
resca singeleza, n’uma povoação limitrophe
o consorcio de Pedro da Silva com Laura:
o bom do sacerdote pae do noivo estava alli;
lagrimas provenientes da commoção e ale-
gria que lhe inundava o peito corriam pelas
suas macilentas faces. Finda a augusta cere–
monia, dirigiram-se para a aldeia, onde foi
servido um lunch-com a variedade que lhes
permitliam as suas posses.
Ao declinar do dia, Pedro saiu só e di-
rigin-se para as ruinas do castello e sentou-
se alii talvez pensando na sua felicidade
presente, quando um mendigo se destacou
sobre uma das ameias, como phantastico ge-
nio d’aquelles lugares, e se dirigiu para elle
com andar pausado.
— Sr. Pedro, disse, conhece-me ?
— Sim, respondeu levantando-se o man-
cebo que temia alguma cilada.
— Melhor: eu, o fidalgo que tantas vezes
arremessei sem consciencia o insulto à sua
fronte, eu, venho pedir-lhe perdão.
— Sr, D. Vasco, não vos rebaixeis tanto…
— Perdão sim… fui um seductor, um
sacrilego e hontem um ladrão…
—: Que dizeis ?
— A verdade. Vou fugir: sabe perfeita-
mente o destino de Catharina: eu não a
amo, mas levo saudades d’ella. Se algum
dia a encontrar desgraçada, estenda-lhe a
mão e levante-a como irmãs.
E os seus olhos arcazaram-se de lagrimas,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 12 DE JANEIRO DE 1899
a gorgeta. O Rolié que para se tornar sa-
liente e mostrar que conhece toda a gente,
falla do juiz. fulano que se formou ha 20
annos, do Marquez que se formou em Di-
reito ha 15, etc., etc.
Caminham para a alta, chegam a suas
casas e maldizem a sua sorte quando en-
tram no quarto e deparam com a mesa de
estudo e com a estante dos livros. A cabra
já tocou, signal de que amanhã ha aulas.
A’s 8 horas os de Sciencias Naturaes é
às 10 1/; os de Direito lá vão para as suas
aulas. Os quintannistas com as fitas das suas
pastas ondulando à mercê do vento — fazem
um vistão !
A Rua Larga cheia de rapazes, abraços
e a tradicional pergunta: — Então boas
ferias ?
D’ahi a pouco os lentes à porta das au-
las, fazem a venia aos discipulos que entram.
Começa a prelecção, e no dia seguinte:
tudo voltou à antiga.
Coimbra resuscitou.
GT:
VARIAS NOTICIAS
ESPANCAMENTO
No domingo, proximo de Santo Antonio,
espancaram Manuel Antonio, o Penderico,
do Casal, na occasião em que se dirigia para
sua casa.
ROUBO >
Na segunda feira o official de deligen-
cias sr. Barata, indo comprar alguns sellos
à recebedoria d’este Concelho, notou à sa-
hida que lhe faltavam 358000 réis.
Voltando immediatamente ao local onde
esteve comprando os sellos não encoutrou
já a referida quantia, ignorando se lhe foi
roubada ou perdida.
Supõe-se e com justa razão, que aquella
importancia que era em papel, cahisse ao
chão e algum dos circunstantes se apode-
rasse d’ella sem intenção de a restituir ao
seu dono; auxiliando o larapio a confusão
que havia entre o grande numero de pes-
soas que estavam pagando as suas decimas.
GEVALIS
Nestes ultimos dias tem-se effectuado
algumas caçadas aos porcos javardos, pro-
ximo das Pombas. O mau tempo, porém,
tem prejudicado bastante o seu andamento.
Logo que melhorar o tempo espera-se
um bom resultado, devido a grande quanti-
dade de porcos bravos que enxameiam as
costas de matto d’estas proximidades.
BE A LADA DES
(do meu amigo Rossi).
Não ha rosa sem espinhos
Nem sonho que não ‘svaeça,
Não ha peito sem gemidos
Nem feliz que não padeça,
Não ha pé que não resvale,
Nem justo que não peccasse,
Nem sabio que nunca errasse,
Nem ha lei que a tudo eguale ;
Não ha fibra que não “stale,
Nem sem abrolhos caminhos,
Nem sempre ha mel nos carinhos,
Nem sempre a esmola é virtude,
Não ha pensar que não mude,
Não ha rosa sem espinhos.
A propria pomba tem fél,
Não ha sceptro que não peze,
Victoria que a alguem não lese,
O amor chega a ser cruel;
Nem todo o riso tem mel,
Nem ha céo que não ‘scureça,
Não ha sol que tudo aqueça,
Nem astro que sempre brilhe,
Nem ‘smola que não humilhe,
– Nem sonho que não ‘svaeça,
Não ha olhos que não chorem, 4
Nem amor sem desenganos, |
Não ha fé pura d’enganos,
Nem Deus que todos adorem;
Nem labios que não descórem,
Nem vencidos sem vencidos,
Nem infancia sem vagidos,
Não ha bonança sem onda,
Nem visão que não se esconda,
Não ha peito sem gemidos.
Não ha flôr que não se esfolhe,
Nem bem que o tempo não leve,
Prazer que não seja breve,
Nem chuva que a tudo molhe ;
Quem ‘spalha nem sempre colhe,
A ventura breve cessa,
Não ha luz que não *smoreça,
E nem ha vida sem fragoas,
Não ha coração sem magoas,
Nem feliz que não padeça.
Gertã, janeiro 1899,
L. da Silva Dias.
era ee CE mm mm
CARTA DE MAÇÃO
E9 de janeiro
Das noticias mais palpitantês d’esta villa
ha a destacar a do jantar realisado no dia
2 de janeiro corrente, em honra da nova
camara presidida pelo digno sr. vigario Ma-
noel Gomes Pires, que n’esse dia, com os
seus collegas na vereação, tomou posse so-
lemne.
Vieram expressamente assistir ao jantar
o benemerito industrial de Lisboa, sr. José
Pedro de Mattos, e os importantes commer-
ciantes de Abrantes, ses. João Alves e José
Pedro Marques, aos quaes este concelho de-
ve já notaveis melhoramentos. Não faltou
tambem com a sua assistencia o illustre
chefe do partido progressista por este cir-
tulo, sr. dr. Manoel Martins.
O jantar correu no meio da melhor ani-
mação, durante o qual tocou, com agrado,
a philarmonica da villa. Os talheres passa-
vam de 50. Os brindes foram muitos; al-
guns arrancaram verdadeiros enthusiasmos
e delirios. Impressionou especialmente O
que foi levantado pelo sr. Alexandre Fernan-
des, actual regedor da freguezia. A sua
palavra tremula teve momentos felicissimos ;
a sua figura audaz teve assomos arrebatado-
res, € as palmas tiveram de interromper por
vezes a sua allocução surprehendente que
tolos admiraram. Não houve discordancias
n’esta apreciação.
Dos nomes dos convivas recordam-nos,
além dos referidos, os dos srs. drs. José
Francisco Tavares e Antonio Rodrigues Pai-
sana e ainda os dos srs. João Maria dos
Santos, Francisco de Pina Falcão, Francisco
Moreira, Francisco Joaquim Sotana, José Le-.
rias, Antonio Craveiro, Manoel Agostinho,
Luiz Pereira Fernandes, Antonio Joaquim
Tavares e Jeronymo Serrano.
Um telegramma do Seculo dá como tendo
assistido ao jantar o sr. dr. Antonio Lino
Netto. Não é, porém, verdade. Este nosso
amigo, por motivos de varia ordem, não
chegou a comparecer para esse fim.
Sobre o valor politico que se pretende
tirar do banquete correm diversas opiniões.
Parece-nos, comtudo, poder afirmar-se que,
se mostrou a somma dos elementos padero-
sissimos com que vae funccionar a actual e
sympalhica camara, não revelou todavia a
pretendida consolidação para uma lucta re- |
nhida na proxima eleição dos deputados. A
nova camara é mais o producto d’uma ques-
tão local que propriamente dos arranjos elei-
toraes dos futuros candidatos ao circulo.
Assim ajuisamos, e O futuro dirá se nos en-
ganamos.
— Espera-se com anciedade que seja
augmentada com o concelho de Gavião a co-
,
marca de Mação. Trabalha-se activamente
n’esse intuito,
— Fala-se com grande enthusiasmo na
proposta apresentada na camara dos depu-
tados para a construcção d’uma ponte sobre
o Tejo, entre Belver e Gavião. Esta medida,
a realisar-se, sem ser relativamente dispen-
diosa, é d’um extraordinario alcance para 0
desenvolvimento economico d’esta região.
— (O tempo mostra-se por aqui chuvoso,
com alternativas de sol. A paysagem mani-
festa tonalidades tristes, proprias da estação;
o arvoredo abundante que rodêa esta villa
parece accumular, no seu viço promettedor,
a riqueza de vegetação que irá encher de
pompas a proxima primavera; o vento passa
sibilante pelas suas ramagens, d’onde se
despedem, com frequencia, gottas de agua
que vão estrepitar nas folhas seccas do chão.
Um ou outro passarito, chilreando, foge me-
droso, no espaço pouco tranquillo, em busca
d’algum abrigo distante…
José Lino.
ati ot (eee
O oasis de Sina
O dr. White, que visitou no anno findo
o oasis de Sina, no deserto Iybio, e os restos
visinhos dos templos de Jupiter Ammon,
fez reconhecer agora os resultados da sua
exploração. e
A cidade de Sina, edificada sobre uma
rocha, via constantemente, desde ha seculos,
crescer a sua população. E como não po-
desse alongar-se no deserto que a rodeava,
foi em altura que ella augmentou.
A architectura d’esse rochedo sobrecar-
regado de casas feitas d’uma mescla de areia,
de argilla e de gypso, é das mais phantas-
ticas. O templo de Jupiter está coberto de
entulho. Só é accessivel uma grande sala
delle. O sabio investigador não pôde en-
contrar nenhuma inscripção hieroglyphica.
—— o spngiiipato—
KALENDARIO DE JANEIRO
Domingo 1 | 8 /15/22]29
Segunda-feira 2/9 /16/23/30
Terça-feira 3 1140/17/24 /314
Quarta-feira 4 |11/18/25] —
Quinta-feira à |12/19/26]—
Sexta-feira 6 |13/20/27| —
Sabbado 7 |14/21/28| —
Quarto minguante E a 4.
Lua Nova & a 41.
Quarto crescente D a 19.
Lua Cheia & a 26.
— Permitti-me dizer-vos estas palavras:
em minha casa tereis um abrigo seguro,
acompanhai-me pois.
— Não.
— Porque ?
— Porque o odeio, exclamou elle em voz
cavernosa.
E correndo vertiginosamente foi escon-
der-se nas profundezas do abysmo que lã
em baixo se devisava medonho
Ao romper do dia seguinte viam-se dois
cadaveres estendidos na esplanada do cas-
tello: Estevão conservava ainda um punhal
cravado no coração e Vasco lançado a seus
pés não tinha signal algum de ferida, porém,
as suas faces estavam contrahidas e Os seus
olhos abertos, signal evidente de profunda
afílicção.
O desgraçado morreria de fome ?
Quem o sabe?
Ainda hoje se falla na aldêa de B… de
este successo mas ninguem pôde ainda de-
cifrar esse enyema do seu passamento sobre
que pesa a penumbra da eternidade e o —
DEDO DA PROVIDENCIA —.
== 1
(CONCLUSÃO)
D’une main, elle tiont une faux comme
un moissonsur; de Nautre, elle cache la
seule blassure qu’elle ait jamais reçue, et
que le Christ vainqueur lui porta dans le
sein, au sommet du Golgotha.. C’est le
Grime qui ouvre les portes de l’enfer, et
c’est la Mort qui les referme,
CHATEAUBRIAND — Les Martyrs —,
Passadas duas semanas aquelle cura res
colhido no leito da agonia esperava pela hora
em que Deus fosse servir contar-lhe o fio da
existencia e pelo seu prior, que lhe deveria
administrar a communhão.
Ao meio dia entrou este no seu quarto
proferindo as palavras do estylo :
«Panem celestem accipiam et nomen do-
mini invocado.
«Domine non sum dignus ul intres sub
tectum meum, sed tantum dic verbo eb sana-
bitur anima mea *»,
O sacerdote fez a cruz com a particula e
administrou-a ao enfermo, rogando ao Sal-
vador dos homens, que tomasse conta daquela.
alma e a levasse à presença do AlLissimo para
receber o galardão que mereciam os seus
bens praticados na terra,
— In manus tua Domine commendo spi-
ritum meum, balbuvsiou o doente depois de
o padre voltar à capella do lugar proximo é
rendeu a alma ao Creador dirigindo o seu
ultimo olhar para o Martyr do jardim de Ge-
thsemani, que conservava entre as mãos.
Depois. .. o pranto dos filhos estreme-
eidos e o dobre plangente de finados acom-
panharam o espirito de um christão que,
rompendo as cadeias que o ligavam à terra
e atravessando os espaços ethereos, subiu à
mansão explendida do Eterno Pae.
Nº’essa mesma tarde, Catharina bateu à
1 «Receberei o pão celestial e invocarei o nome
de Deus.
«Senhor eu não sou digno que entreis em mi-
nha casa, mas dizei uma
alma será salva
palavra unica e a minha
porta d’aquella casa envolta em profunda
tristeza implorando uma esmola pelo «amor
de Deus»: Pedro appareceu-lhe e forçando-a
a entrar, contou-lhe em breves palavras a
historia final de Estevão: ella chorou muito
e vestiu-se de negro, que faz realçar ainda
mais a formosura do seu rosto branco como
o jaspe quando as longas e lustrosas Lran-
ças lhe caem para o collo alabastrino é seus
“olhos franjados de espessas pestanas se ar-
rasam com as lagrimas da saudade.
Ella completou o que sabemos nas pou-
cas palavras que se seguem :
— Fui despedida brutalmente por um
criado que me arremessou aos pés uma bolça
que a dignidade me mandou recusar. Va-
gueei pela cidade e depois de me orientar
no caminho que aqui me conduziria, encetei
a jornada tirítando com o frio, que em meu
peito derramava o gelo em que o coração
se transformara e caindo a todos os instan-
tes com fome, pois, que só me sustentava
das parctas esmolas, que algumas almas bem-
fazejas me davam.
Laura conforta-a quanto está nas suas
forças e faz por proporcionar-lhe todos os
prazeres que distrahian a sua alma que
uma viva paixão domina: ainda hoje vivem
e parece-nos que são felizes redeados de al-
guns filhinhos, complexo das virtudes de
“seus paes.
Roberto e Alda ausentaram-se do Porto
a toda a pressa com direcção à Hespanha
n’uma carruagem de posta; porém, quando
atravessavam Oo Marão, os cavallos foram
espantados por um rochedo chanfrado a
ser
prumo, que despegando-se da montanha caiu
sobre elles o carro e os arremessou ao
abysmo onde em breva pairava o silencio
da morte, como rude cortejo aos cadaveres
dos dois viajantes.
Seria O castigo ?
As vezes a mão de Deus mostra-se tão
clara…
O pae de Catharina nunca mais saiu de
casa: amava ainda muito a filha, mas, con-
tra os esforços de Pedro, nunca consentiu
em recebel-a no seu solar, vindo a morrer
ralado por desgostos e sem que uma pes-
soa amiga lhe recebesse o ultimo suspiro
sotado nos paroxismos da morte,
O visconde da Estrella tendo-se visto
pouco feliz no seu primeiro «negocio» em
Portugal, retirou-se para a Inglaterra, onde
ha dois aunos foi vitima d’uma apoplexia
quando soube da quebra de um banco, onde
tinha a maior parte dos seus haveres. Diz-
se que as suas derradeiras palavras foram
estas :
— Com mil diabos | Fiquei sem fidalga
&… peor que isso, sem o meu dinheiro.
E afierrando-se com desesperação a um
vaso de ouro que tinha-á cabeceira e uivando
um grito terrivel entregou o seu espirito,
talvez ao — Demonio do ouro —,
FIM,@@@ 1 @@@
SECÇÃO CHARADISTICA
E CHARADA (antiga)
Ao Silvadeas.
À ave que lhe apresento — 2
Anda depressa ou devagar — 1
Digo-lhe mais: até mesmo
Parece querer voar.
CHARADAS (novissimas)
Alto! se encontra a medida prego-lhe um pi-
parote 1 — 2,
x
Outra coisa, a morte é uma especie de cal-
cado? 4 — 2,
*
Fala em delicto quando se vê em conflicto 1—2,
%
Este animal anda com uma peia 2— 4.
Eça E Bôa.
O manto, meu amigo, tem reflexos sombrios
A extremidade d’um livro é um rio distincto
2—-1— 2,
*
Elevar uma nota em pompa! 4 — 4,
*
O passaro em casa! E de envelhecer 2— 4,
Petistroques.
Decifração do numero passado : Desgraça, Sa-
lada, Visão, Bondade, Faminto.
Eça E Bôa.
DE e
SERVIÇO DE DILIGENCIAS
Da Certã à Thomar (yia Serna-
he do Bom Jardim, Valles, e Ferreira do
Zezere). Sahe da Certã às 2 h. da t. e chega
a Thomar às 9 h. da noite; Sahe de Tho-
mar às 5 da m. e chega a Certã às 12 1/a
da tarde.
Da Certã a Proença a Nova.
Sahe da Certã à 4 1/s da t. e chega a Proença
ás 5 da tarde; Sahe de Proença às 5 da m.
e chega a Certã às 9 1/a da manhã. Esta
diligencia communica com a de Proença a
Castello Branco.
Da Certã à Pedrogam Pe-
queno. Sahe da Certã ás 2 dat. e chega
a Pedrogam às 5 1/o da tarde; Sahe de Pe-
drogam às 7 da m. e chega a Certã às 10
da manhã.
Dane
ANN TUINCIOS
VENDA E ARREMATAÇÃO
2.º ANNUNCIO
Ne dia vinte e nove do proximo mez
de janeiro, por onze horas da manhã, á
porta do Tribunal Judicial d’esta villa da
Certã, vão à praça, para venda e arre-
matação em hasta publica, pelo maior
lanço que se offerecer superior ao valor
da respectiva avaliação, os bens abaixo
indicados, penhorados na execução que
o Ministerio Publico move pelo eartorio
do escrivão Gonçalves, contra Manuel
Paulo da Silva, solteiro, jornaleiro, do
logar do Valle do Porco, d’esta freguezia
da Certã; a saber:
Uma courella com oliveiras e mato
no sitio da Arrancalhoza, limites do Valle
Porco, no valor de mil e seiscentos réis
(18600). Metade d’um predio mixto com
Anna da Conceição (irmã do executado),
casada com o Batalha, do Chão da Forca,
d’esta mesma freguezia, que se compõe
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 12 DE JANEIRO DE 1899
de terra de semeadura e respectiva tes-
tada no sitio do Sabarigo, limites do
Villar da Carga, no valor (a metade) de
onze mile quinhentos réis (118500).
São citados para a dita arrematação,
quaesquer credores incertos do executa-
do que se julgarem com direito aos men-
cionados bens.
Certã, 31 de dezembro de 1898. E
eu Francisco Cesar Gonçalves, escrivão
o subscrevi.
Verifiquei.
Almeida Ribeiro.
“João Marques dos Santos
FLORES DE MAIO
(Versos)
Um vol. Preço 400 réis.
Vende-se nas livrarias.
PROCESSO DREYFUS
CARTA Á MOCIDADE
POR
EMILIO ZOLA
Preço 50 réis
Acaba de sahir do prélo este vibrante
opusculo dirigido à mocidade academica.
Vende-se nas livrarias.
GUEDES TEIXEIRA
BOA-VIAGEM
POESIA
dita pelo auctor na recita de despedida
do quinto anno juridico de 97-98
Preço 200 réis
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Editora.
Historia dos Juizes ordinarios e de paz
POR
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade de Direito e socio effectivo
do Instituto de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra.
SELLOS USADOS
Compra-se qualquer porção por bom
preço.
Dirigir-se a
LUIZ DIAS
Certã
AUGUSTO COSTA
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Encarrega-se de fazer todo o serviço:
concernente à sua arte, tanto para esta lo-
calidade como para fóra.
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comarca.
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Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Çom-
mercio. —CERTAÃ,Ã,