Gazeta das Províncias nº9 05-01-1899

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ANNO |
CERTÁ — Quinta feira 5 de Janeiro
N.º 9
sSemanario
inclcpendciente
ASSIGNATURA.
CERTA, mez, 400 15. FÚRA DA CERTA, trimestre, 330 rs. AFRICA, semestre, 15000 rs. BRAZIL, semestro, 285008. Numero avulso, 30 rs.
‘Toda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17, Os originaes recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
T
EUBLICAÇÕES
No corpo do jornal, cada linha 80 rs. Anuncios, 40 rs, a linha. Repetição, 20 75. a linha. Permanentes, preço convencional; os srs. assignantes
têm o desconto de 25 0/,. Esta folha é impressana Imprensa Academica, R. da Sophia. Coimbra
Augusto Rossi — Editor
ANOVA GAARA
Tomou posse no dia 2 do corrente
a nova vereação, que ha de gerir os
negocios d’este municipio no triennio
de 1899 a 1902.
A camara eleita é composta dos
seguintes cavalheiros: Francisco d’Al-
meida Ferreira Maio, da Certa, José
Nunes Correia, do Cabeçudo, Fran-
cisco Farinha David Leitão e João da
Silva Carvalho, da Certã, José Diniz
da Silva Mendes e Daniel dos Santos
Tavares, de Sernache, e Joaquim Hen-
riques Vidigal de Pedrogam Pequeno.
A presidencia e vice-presidencia
foram entregues aos dois primeiros ve-
readores, precedendo a competente vo-
tação.
Vae, pois, começar a desempenhar-
se do mandato que lhe foi confiado,
Não é difficil prevêr a fórma como
d’elle se desempenhará, e o que será a
sua administração.
Homens intelligentes, honestos,
trabalhadores e energicos, não podem
deixar de corresponder, com os seus
actos, 4 confiança que n’elles deposita
o municipio, e cuja prova lhes deu
com a sua eleição.
Um ou outro mal intencionado, um
ou outro despeitado é que o não reco-
nhecerá; nem por isso a camara dei-
xará de ser o que é.
Independentes, é este o nosso juizo,
e oxalá que o não tenhamos a modi-
ficar.
Muito ha a fazer; muito póde e
deve a camara fazer.
Pelo que respeita 4 Certã, não póde
a camara, logo ao começar a gerir os
negocios municipaes, de attender ás
pessimas condições em que se encon-
tram as principaes ruas da villa; um
pequeno chuvisco torna-as intransita-
veis.
Ha sítios onde a immundicie é tan-
ta, que o transito é impossivel sem
grave prejuiso da saude do transeunte,
porque faz nauseas,
Uma medida hygienica, mas rigo-
rosa, impõe-se. À camara não póde,
não deve hesitar; é necessario, é ab-
solutamente imprescindivel, que este
assumpto mereça a attenção da camara.
Não póde a camara, tambem dei-
xar de providenciar ácerca dum outro
assumpto de não menos importancia.
Referimo-n’os ao costume que ha
de deixar os carros de bois, d’um para
outro dia, em diversos pontos e ruas
da villa, Além de não ser bonito, é im-
proprio d’uma terra como é a Certã,
e póde occasionar graves desastres.
Não póde, não deve a camara con-
sentir, que em ruas de maior concor-
rencia, como é por exemplo a rua do
Soalheiro, onde está installado o Club,
se impeça O transito com oito ou nove
carros; não póde, não deve a camara
consentir que a troco de maior com-
modidade para o domno do carro, pe-
rigue a vida dos cidadãos, pois é fóra
de duvida que em noites menos claras,
uma pancada n’um dos taes carros, ou
uma queda por esses motivada, póde
originar a morte, e pelo menos gran-
des estragos.
O muito que ha a fazer, póde e
deve a camara fazel-o.
O que se torna necessario é: ener-
gia e bom senso, e taes requesitos não
faltam, felizmente, na nova vereação
eleita.
Avante, pois; colloque acima de
tudo os interesses do municipio, e terá
cumprido honrosamente o seu man-
dato.
ECHOS DA SEMANA
São convocados pela segunda vez os
eleitores das freguezias de Cabeçudo, Cas-
tello, Carvalhal, Cumeada e Marmeleiro. a
votarem os membros da Junta de Parochia
no dia 15 do corrente.
Nas freguezias onde não houver eleição
serão ellas annexadas a outras por força do
disposto dos artt. 150.º e 229.º do Cod.
Adm.
— Foi nomeado interinamente secreta-
rio da administração d’este concelho o nosso
amigo sr. Fructuoso Augusto Cesar Pires.
— Já tomou posse do logar de escrivão
e tabellião d’esta comarca, para que ulti-
mamente foi nomeado, o nosso amigo sr.
Eduardo Correia Barata.
— Está a concurso o logar de amanuence
da administração deste concelho com o or-
denado de 1203000 réis.
— Desde 1 a 31 d’este mez, recebem-
se nas repartições de fazenda os requeri-
mentos para annulação da contribuição por
motivo de sinistro. Os requerimentos devem
ser instruídos com o nome e morada: do
| contribuinte, predios em que qecorrerem as
&
“perdas e quantidade e qualidade do rendi-
mento perdido, alem do motivo da perda.
— No Diario do Governo de sabbado
veio annunciado o concurso de officios de
justiça.
— Foi agraciado com o habito d’Áviz
o sr. Victorino de Sande Lemos, coronel de
infanteria.
— Entraram em exercicio de seus car-
gos no dia 1 do corrente os corpos geren-
tes do monte-pio Certaginense e confraria
do Santissimo Sacramento desta villa.
— Foram concedidos 16 dias de licença
ao delegado de Figueiró dos Vinhos, sr. dr.
Abel Franco.
— Foram arrematados a David Nunes
e Silva por 1465300 réis o rendimento do
imposto do peixe; e por 2025050 réis o
do terrado.
— Tem sido bastante a concorrencia na
administração deste concelho de individuos
a solicitarem a licença ds, porte d’arma.
No dia 4 do corrente foram solicitadas
52 licenças.
— Foi nomeado interinamente ama-
nuense da administração deste concelho o
nosso amigo sr. Gustavo Bartholo
— Está em reclamação a matriz de con-
tribuição predial.
ço (Ega
Donosso amigo Antonio Guilherme
França, segundo sargento da Armada,
recebemos uma carta de que transcre-,
vemos alguns episodios que se deram
á India, e que mais ou menos interes-
sam a alguns dos nossos leitores,
Carta a India
Nova Góa 15-12-98S
Sahimos de Lisboa no dia 12 de maio
com destino a Loanda. E uma viagem que
qualquer navio a vapor faz em 14 dias; mas
o Pero d’Alemquer, navio-escola de vela,
fez-nos a partida de se demorar a bagatella
de 61 dias. geo
Depois de 3 dias de sahida de Lisboa
avistamos as ilhas da Madeira, mas a grande
distancia, podendo unicamente distinguir-se
uma massa informe no horisonte; no dia 24,
avistamos tambem o cume duma montanha,
pois que a base não se distinguia, pela densa
nevoa que a envolvia; era, segundo calculos
do nosso commandante, a ilha de Ferro, que
apenas é habitada por 3 ou 4 europeus.
No dia 24 achava-se o navio nas alturas
do archipelago de Gabo Verde, não avistando
ilha alguma: apezar de serem em numero 9,
e algumas bastante grandes. N’esta altura
já a viagem se tornava insipida, Foi-só no
dia 2% de junho, dia de S. João, que avis-
tamos a ilha de Anno Bom pertencente à
Hespanha e que serve actualmente de
| sídio,
durante a sua longa viagem de Lisboa |
pre-
“Fica esta ilha a 2 dias de Loanda; mas,
era tal o azar que nos perseguia que só fun-
deamos n’aquella nossa florescente cidade
no dia 14 de julho, isto é, passados 19 dias!
Estivemos apenas 6 dias em Loanda, se-
guindo depois para Lourenço Marques. Para
esta cidade portugueza, a mais importante
de toda a Africa Oriental, seguiram tambem
a bordo do nosso navio 32 pretos que tinham
terminado o serviço militar em Loanda e que
agora regressavam às terras da sua natu-
ralidade.
Entre estes indigenas, havia 2 que eram
casados e que levavam as suas mulheres e
filhos, a bordo. Com uma destas, ia suc–
cedendo uma tragedia que felizmente se evi-
tou. Julgava o marido que a mulher lhe
era infiel (o que não era verdade); tentou
matal-a bem como a uma creança de peito,
servindo-se para isso, d’uma navalha de bar-
ba, não chegando a conseguir o seu crimi-
noso intento por ter a infeliz gritado por
soecorro que promptamente se lhe prestou.
O ciumento marido foi posto a ferros no po-
rão durante o resto da viagem.
Depois de dobrar o cabo da Boa Espe-
rança, ao sul da África, onde o frio era in-
tenso, chegamos alfim a Lourenço Marques
no dia 4 de setembro.
De Lourenço Marques sahimos no dia
10 do mesmo mez com destino à India, Pas-
samos n’esse dia pelo transporte Zaire que
conduzia a expedição a Lourenço Marques.
Esperavamos gastar n’esta travessia uns
90 dias, mas a sorte que nos tinha sido sem-
pre adversa, fez-nos gastar apenas um mez,
para nos compensar de tantas infelicidades;
e assim, chegamos a Mormugão no dia 144
d’outubro. Foi uma viagem linda, e quasi
egual à dum navio a vapor, o que não suc-
cedeu de Lisboa a Lourenço Marques, visto
os ventos contrarios nos impedir um anda-
mento regular.
A. França,
(Continita).
CHRONICA ELEGANTE
Esteve alguns dias n’esta villa, retiran-
do-se já para Lisboa, o nosso presado amigo
sr. João Francisco Tavares-e sua ex.P? eg-
posa.
E
De passagem para Oleiros, esteve n’esta
villa o sr. dr. José Maria Rodrigues de Faria,
distincto facultativo municipal d’aquelle con-
celho.
E
Sahiu para”Lisboa o nosso presado amigo
José Miguel Coelho Godinho.
a
Esteve n’esta villa o sr. João Cardoso
habil pharmaceutico em Oleiros.
Xe
Esteve n’esta villa o sr. Luiz Matheus,
de Santa Margarida da Contada. .
E
Regressa a Figueiró dos Vinhos no do-
mingo o sr. dr. Accacio Marinha e sua ex ua
esposa.
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2
GAZETA DAS PROVINOIAS — CERTA, 5 DE JANEIRO DE 1899
Sahiu para Lisboa, regressando já, O sr.
João da Silva Carvalho, conceituado com-
merciante n’esta villa.
E *
Sahiu para Alpedrinha o digno vigario
d’esta villa, sr. padre Francisco dos Santos
e Silva.
x
Passa bastante incommodado de saude
o sr. Antonio da Silva Carvalho, digno Le-
nente de cavalaria 8.
*
Tem passado ultimamente bastante in-
commodado de saude, o pae do nosso pre-
sado amigo e collega de redacção Augusto
Rossi.
Um completo restabelecimento é o que
de coração lhe desejamos,
*
Faz annos no dia 7 do corrente a ex.Ӽ
sr.2 D. Alice Hercilia Fernandes Gonçalves.
x
Passa tambem hoje o anniversario nata-
lício do sr. dr. Antonio Figueiredo Guimarães.
x
Esteve nºesta villa o nosso presado amigo
sr. padre José Farinha Martins, ilustrado
capellão do 41 de infanteria.
*
Passa bastante incommodado de saude o
sr; José Brito Junior, de Sernache.
+
o
PORQUE SOPPRES ?
K quem eu sei
Eu sei que tu soffres muito,
Não tentes dizer que não,
Diz-m’o essa tua tristeza,
Segreda-m’o o coração.
E de ver-te assim tão triste
— Vê que força o amor tem! —
Eu não posso andar alegre
E soffro muito tambem,
Hontem, nem houve um sorriso
Para mim que te amo tanto!
Nos labios tinhas a dôr
Nos olhos… tinhas o pranto,
As lagrimas silenciosas
Eu vi na tua face, e então,
Senti que ellas me cahiam
No fundo do coração,
Soffrer em silencio, eu sei,
E soffrimento maior,
Contar mágoas é tornar
Mais pequena a nossa dôr,
Portanto dize o que tens
Verás que a dôr logo acalma,
Bem sabes que os teus gemidos
Acham éco em minha alma.
Eu ao vêr-te assim tão triste
Já me lembrei, ora vê!
Que estarias mal commigo
Mas eu não vejo porquê!
Pois a amar-te tanto, tanto,
Que até mais não póde ser,
Havia de eu ser a causa
Da tua dór, do teu soffrer?|
Comtudo, algum peccadito,
Ás vezes, podia ser;
Pois se a gente não é santa
E pecca mesmo sem qu’rer…
Se pequei foi sem saber
E sendo assim tal peccado
Merece a tua desculpa,
Tem jus a ser perdoado.
Confessa, pois, porque soffres,
Porque a nuvem do desgosto
Veio toldar a alegria
Que havia sempre em teu rosto
Quero sentir o que sentes,
Já que eu ri quando tu riste,
Quero chorar se tu choras
Quero ser triste se és triste,
Luiz da Silva Dias.
PREAMBULO
Nas lides festejadas, mas espinhosas do
jornalismo apparece hoje, pela primeira vez,
a collaborar o mais temerario de quantos
tem feito d’esta arte o seu monumento per-
duravel de gloria.
Nem isto é modestia, senão a confissão
d’uma verdade que o nosso mau signo nos
accarretou. :
Desprovido de todas as aptidões jorna-
listicas, sem ter a recommendar-me nem os
pergaminhos da sciencia, nem a longa ex-
periencia da vida social e litteraria, dotes
tão requeridos para trabalhos d’esta ordem,
e que constituem, na phrase epica de Ca-
mões, um saber de experiencias feito: sem
terem nem a prudencia da idade que inspira
o artigo politico, sem ter nem as louganias
d’um estylo florido e cheio de atticismo que
satisfaça todas as exigencias do folhetim —
desconhecedor dos segredos psicologicos que
fazem do conto, umas vezes uma novella,
outras uma pequena tragedia em que a bel-
leza e ingenuidade duma menina mal suc-
cedida em seus amores, são o entretem da
leitora — mal me-ia a mim, se logo ao co-
meço da minha vida litteraria, não pedisse
venia da minha ousadia aos innumeros e
considerados leitores da Gazeta, que muitas
vezes ficarão privados d’algum especimen
de literatura em troca do incorrecto e des-
connexo artigo de occasião. Muita indulgen-
cia é pois o favor que imploro, porque julgo
‘*e todos por certo hão de concordar, que
todas estas cousas que parecem futilidades
ao leitor, constituem na sua essencia O se-
gredo do jornalista ou antes do collaborador,
que, uma vez a braços com a empreza dif-
ficil de agradar à infinidade de gostos, tão
variados é variaveis, tem de considerar os
“assumptos a descrever, debaixo de toda a:
sua variabilidade de aspectos, para, conglo-
bando-os num todo susceptivel de desper-
tar o sentimento do bello, poder prender a
attenção, senão pela harmonia da phrase ao
menos pela esthetica do ideal.
Não foi o desejo de ostentar coloridos
de rethorica que me levou a encetar esta
empreza, porém, sim o gosto de concorrer
“com os discordantes fructos do meu traba-
lho para d’algum modo alentar o incentivo
e animação dos sympathicos iniciadores do
progresso e desenvolvimento litterario da
Certã, que, com tão generoso como admi-
ravel empenho pela terra que os viu nascer,
levaram os impulsos do seu enthusiasmo a
esta expressão, decerto a mais feliz do seu
plausivel ideal — a creação da Gazeta das
Provincias.
Eu vos saudo sympathicos e affectuosos
emprehendedores do progresso e da civili-
sação — que o facho de luz, que impunhas-
teis ousados, vos não cegue o espirito, com-
prehendendo sempre, como até hoje, a mis-
são que vos impuzestes e projecte antelhas
rutilas nos espaços caliginosos que de ha
tanto tempo tem envolvido este nosso berço
— jardim à beira de duas ribeiras plantado,
como muito bem parodiastes num dos vossos
numeros.
Que o lemma de vossos principios se
conserve inalteravel e tereis dado um passo
grandioso na senda do progresso.
Agradecendo-vos o cântinho do vosso
jornal que immerecidamente me dispensar-
des, sou sempre ao vosso dispor, e oxalá,
para gloria minha, honra vossa e proveito
de todos os leitores não tenhaes de vos ar-
repender d’isso.
Vosso assignante e amigo afiectuoso que
envergonhado do seu atrevimento não ousa
assignar-se.
Certã, 4-1-99,
Dominó.
at (TE remo
AGONIA DE UMA ALMA
E elle mergulhava cada vez mais num
desespero infinito e atroz, que, por fim, o
prostrou.
Passava horas inteiras, dias inteiros im-
mobilisado;-pensando na cruesa do Destino,
que rudemente e tragicamente lhe ja cus-
pindo ironias. Olhos fitos no Alto procurava
a Felicidade-sonhada, que por muito grande
e por muito pura, não encontrára no Mundo.
Fugira dos Homens e recolhera-se numa
sala velha do seu palacio antigo, num re-
colhimento ascetico do monge, compondo e
destruindo a imagem que uma vez vira na
sua correria doida pela Vida…
x
Aventureiro romantico de outras eras,
percorrera os Paizes numa febre de goso e
num delirio de prazer. Estonteou as multi-
dões com o brilho do seu oiro e em volta
do seu nome deixou que levantassem uma
lenda…
Sonhador errante, nunca póde encontrar
a Jerusalem do Conforto para poder chorar
sobre o Santo Sepulchro da Ventura…
Um dia viu passar junto delle um perfil
raro de mulher que engastara a noite no
olhar. Contemplou-a extactico, e preso de
aquella belleza unica e extranha seguiu-a,
olhando, té ella se perder no torvelinho da
multidão. Quando despertou, poz nos labios
um sorriso doloroso e reconheceu que em
toda a sua bizarra peregrinação pelo Mundo
nenhuma figura de mulher o havia impres-
sionado tanto. Queria tornar a vel-a, preci-
sava vel-a uma só vez que fosse, porque o
seu coração adormecido té ahi, batia agora e
anciadamente gritava por aquella Irman…
Chicoteado pela esperança de a encon-
“trar, procurou-a por todas as estradas da
Terra e por todos os centros dos Paizes.
Debalde; aquella figura rara do Mulher des-
apparecera para sempre e elle perdera-a para
sempre!
Mordido pelo aspide do Desanimo, can-
cado e amargurado, foi então que elle, fu-
gindo dos Homens, se recolheu numa-sala
velha do seu palacio antigo, num recolhimento
ascetico de monge, compondo e destruindo
a imagem que uma vez vira na sua peregri-
nação aventureira pelo Mundo, e que elle
procurara em vão, co’a ancia de quem quer
encontrar a Suprema-Felicidade. ..
E começou então a sua agonia dolorosa
e longa, laivada de martyrios, que o fazia
gritar pela Morte…
Immobilisado a um canto do seu palacio,
scismava na rudeza tragica da sua Sorte;
via deslisar procissionalmente todo o seu
possado de mentirosas glorias e ora deixava
cair lagrymas hystericas de Dôr, ora tinha
quietações petrificadas de estatua…
m
Mergulhava cada vez mais no abysmo
do sofirimento, e por manhan clara e linda,
— Sol anavalhando o Azul, — o Sonhador,
no cumulo-do desespero, estilhaçou a cabeça
com uma balla…
E partiu, numa ancia de desesperado e
numa audacia de aventureiro, para o paiz
do Sempre-Desconhecido. ..
Verediano Gonçalves.
9 FOLHETIM
ODIO DE FIDALGOS
Almeida Mendes
A criada dirigiu-se para um grande qua-.
dro a oleo que representava a casta Suzana
e tocou-lhe no canto de uma moldura: o re-
tabulo girou em gonzos oceultos e apresen-
tou um corredor escuro e esguio formado
por uma escada quasi cortada a prumo.
Maria bateu tres vezes as palmas e es-
perou: de repente as fórmas d’um vulto co-
meçaram a divisar-se nos degraus inferiores:
foi subindo até que chegando a cima, à luz
da sala se conheceu ser o alferes que vimos
na noite do baile em companhia de Vasco.
A aia saiu com rapidez e fechou a porta
após si: Estevam e Catharina abraçaram-se
e trocaram maviosissimos beijos.
—Basta, Estevão, exclamou a joven afas-
tando-se d’elle. D’aqui a duas horas serei
uma mulher casada: esquecerei o seu amor,
faça o mesmo para commigo. Tudo deve
acabar entre nós, nem-a lembrança destas
loucuras nos deve restar,
—Calharina, que disseste tu? Não sabes
que o meu amor é tão vasto e insondavel
como 0 oceano que ao longe vês revolver-se?
terrivel como vaga medonha que arroja aos
ceus serranias de espuma? Vais casar-te ?
Pois digo-te que não has de casar. Que me
importam os loucos preconceitos do mundo?
Catharina, responde, amas-me?
— A… mo, respondeu ella a custo.
— Então odeias esse villão a quem por
ahi chamam visconde da Estrella?
— Mais que isso, despreso-o.
— Venho offerecer-te a minha salvação
que só depende de um rapto: acompanhas-me?
— Não, volveu com emphase.
— E é esse o affecto que me tens? Men-
tias ao coração quando dizias que me idola-
travas, mentias, e eu, louco que fui, só hoje
pude conhecer a verdade… Catharina, Ca-
tharina… Deus te pedirá contas do teu
proceder.
A joven lançou-se a seus pés banhada
em lagrimas quaes as perolas distilladas de
rorifera anrora e detendo-lhe o braço, que
sustinha um punhal, disse-lhe :
— Estevão, perdôame que eu amo-te
muito, mas não me obrigues a seguir-te,
que isso seria uma infamia para nós ambos.
— Senta-te a meu lado, respondeu elle
com tristeza, e resolve-me uma pergunta:
teimas ainda em pertencer a esse homem ?
—Emquanto meu pae não disser 0 con-
trario.
— Calharina |
— Estevão !
—Pois bem, exclamou elle cobrando ani-
mo, vou dizer-te o ultimo adeus, dá-me
tambem o derradeiro abraço.
Coco case na +
neve ton…
—Calharina, disse-lhe em voz cava, pe-
rante Deus a nossa união está sellada; porém
d’hoje em diante se não me seguires, a so-
ciedade chamar-te-ha uma…
— Cala-te. .. acompanho-te.
Envergando um vestido preto e lançando
pela cabeça um chale da mesma côr, diri-
giu-se em companhia de Estevão para a porta
falsa.
LIZ
Raios e diabos! Quebro-te a cabeça!
ARNALDO GAMA — El-rei Dinheiro —
Dois dias depois uma carruagem rodava
a toda a pressa em direcção à barreira da
Aguardente noºPorto : entrando na cidade o
bolieiro susteve o andar dos cavallos e des-
ceu a trote a rua do Bomjardim, passou pela
praça de D. Pedro, subiu aos Clerigos e
penetrou na rua da Senhora da Victoria.
Aqui dois mancebos apearam-se e entra-
ram n’uma casa sem se fazerem annunciar;
um d’elles, que era Estevão, acompanhado
do outro dirigiu-se logo ao seu quarto e to-
cou uma campainha: appareceu um criado
que o cumprimentou respeitosamente e ao
mesmo tempo com demonstrações de ale-
gria,
— Meu pae está em casa?
— Sim, senhor.
— Avisa-o de que vou já fallar-lhe.
O criado ia retirar-se.
— Diz primeiramente a Alda que me |
venha tallar.
-— Catharina, disse elle depois de terter@@@ 1 @@@
o
mma
Necrologia
Velhita e alquebrada pelos soffrimentos
uma vida laboriosa e honrada, faleceu no
dia 28 de dezembro ultimo, Maria Damas,
conhecida pela tia Mouca que por muitos
annos exerceu nºesta villa o mister de adelo.
A seu sobrinho e nosso assignante sr.
Antonio Nunes Damas, que dilectamente ve-
lava pela boa velhita, enviamos sentidos pe-
zames,
Falleceu tambem a semana passada em
Sernache do Bom Jardim um irmão do nosso
assignante e amigo sr. João Leitão, concei-
tuado commerciante n’aquella localidade.
As nossas condolencias.
MUNDO EM PÓRA
O tempo
Diz Escolastico, relativamente á 1.º
quinzena de janeiro, que tudo faz presa-
giar a continuação de frios e nevadas,
acompanhadas de chuvas, sobretudo no
norte da Europa. Este tempo durará até
6. Nºeste dia oscilla o barometro ao norte
do Atlantico, produzindo espiraes que
trarão ventos fortes do primeiro quadrante,
os quaes determinarão chuvas na peninsula
e nevadas no norte e centro da Europa.
Na Corunha e em Lugo, assim como em
todo o norte de Portugal, as chuvas serão
proprias da estação.
De 8a 10 generalisar-se-ão essas chuvas
por todo o levante e todo o occidente de
Portugal. No Cantabrico e no Atlantico
haverá temporaes e no Meditterraneo
ventos fortes de caracter ciclonico. De 10
a 11 voltam as nevadas nas provincias
centraes de Hespanha, Asturias e Vascon:
gadas; mas de 12 a 14 começa a desap-
parecer o rigor meteorologico; augmenta
o dia solar e as minimas termometricas
cedem o seu dominio ás oscillações com
tendencia para as maximas. Com o dia
15 reflectir-se-á na peninsula uma depres-
são do Meditterraneo, que invadirá a Fran-
ca, mitigando ainda mais os rigores do
inverno, sobretudo nas regiões meridionaes
da Europa, o que fará que seja talvez be-
nefica para a agricultura a segunda quinzena
d’este mez.
Morte do chefe dos eunucos
Um telegramma de Constantinopla no-
ticia a morte de Kislagara, chefe dos eu-
nucos do palacio do sultão.
O finado deixa a fortuna de perto de
400 contos em metallico e uns 200 contos
em joias. Conforme a tradição, será o
sultão o herdeiro universal do eunuco.
Embora por costume se devessem fazer
grandes honras funebres ao cadaver de
Kislagara, attendendo á situação do im-
perio, ordenou Abdul-Hamid que o enterro
seja simples e modesto.
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 5 DE JANEIRO DE 1899
Amor e morte
No passeio da «Grecia», em Barcelona,
foi commettido um crime que causou ex-
traordinaria sensação. A familia, muito
conhecida alí, do sr. Ruiz Moreno, reco:
lhia a casa quando um sejeito, que desde
algum tempo a seguia, se approximou de
repente e disparou dois tiros de rewolver
contra uma menina dessa familia. Ella,
que contava desenove annos, caiu ferida
na cabeça. Houve o natura! alvoroto; a
mãe da pobre menina perdeu os sentidos.
Ubs cocheiros que estavam perto, pren-
deram o assassino, entregando-o depois á
auctoridade. O criminoso declarou cha-
mar-se Frederico Vidal, ter vinte e cinco
annos e ser natural das Filippinas. Expli-
cou que, havia dois annos, perseguia a
victima com declarações amorosas sem
conseguir ser correspondido.
No verão passado fôra preso por um
«sereno» quando tentava escalar a varanda
da casa onde mora a famitia do sr. Ruiz
Moreno.
Agora, desesperando de se fazer amar,
o sujeito resolveu matar a pobre menina.
Esta, sendo conduzida a casa, expirou duas
horas depois.
As colonias portuguezas
Um telegramma de Paris para o Im-
parcial, de Madrid, diz o seguinte:
“— «Nos centros diplomaticos fala-se no-
vamente no tratado anglo-germano-portu-
guez, que foi assignado ha mezes, segundo
se assegura. A Allemanha, em virtude das
estipulações do convenio, obterá a zona
septentrional das possessões portuguezas
que confinam com a Africa Oriental alle-
mã pelo districto superior de Quilimane,
A Inglaterra occupará a parte da Africa
Oriental portugueza, que se estende desde
a margem direita de Quilimane até á fron-
teira da região de Tongo, comprehendendo
a bahia de Delagoa. Este porto é o cami-
nho de ferro que tem o seu nome serão
administrados por um syndicato anglo-
allemão. Demais Portugal concederá à In-
gleterra o direito das esquadras inglezas
entrarem nos portos lusitanos. Em com-
pensação, Portugal, em caso de guerra,
será protegido pela esquadra britanica.
Tambem se lhe concedem certos direi-
tos na bahia de Wolfisch, em Damaraland,
e uma facha de territorio ao Norte da Afri-
ca allemã do Sudoeste. »
Caminho de ferro transiberiano
em exploração
Abriu-se no dia 1 á exploração a pri-
meira secção do caminho de ferro transi-
beriano entre Moscow e Tomsk, que tem
a extensão total de 3:933 kilometros, fa-
zendo-se o trajecto em 75 horas. Entre
as estações de Riagesk e Penza, o com-
boio atravessará sem parar um verdadeiro
deserto: treze horas seguidas sem se en-
contrar uma vivenda.
A nova linha transiberiana será cha-
mada a prestar grandes serviços á popu-
lação russa. Mais de 200:000 familias se
inscreveram já para utilisar a tarifa redu-
zida que se reserva aos emigrantes.
Destroço de navio
Referem de Aveiro :— No dia 1, arri-
bou á praia uma parte do casco de um
navio, que se julga ser da barca naufra-
gada recentemente nas proximidades do
Porto.
Italia e Abissinia
Asseveram de Roma que a Italia não
estaria desprevenida no caso de surgirem
complicações na colonia de Eritréa. Mas
uma nota de caracter officioso desmente
de modo terminante os boatos alarmentes
ácerca d’essa possessão africana, O go-
vernador d’Almara, em telegramma rece-
bido no dia 1, affirma que são amigaveis
as relações entre o negus Menelik e o ras
Malkounea.
Menelik escreveu uma carta muito affe-
ctuosa ao rei Humberto,
A peste bubonica
Noticias de Tananarive informam de
que a peste bubonica continha causando
victimas em Tamateve. Desde 25 de no-
vembro registaram-se 204 casos. Das pes-
soas atacadas da epidemia morreram 132.
No inquerito realisado pela auctoridade
apurou-se que a peste foi effectivamente
importada por um navio procedente de
Bombaim.
e = = o
BILHETES POSTAÃES
Os actuaes bilhetes postaes tteis para
o estrangeiro, das taxas de 20 e 40 rêis
simples e de 30 réis de resposta paga, con-
tinuam a ser validos devendo-lhes ser com-
pletada a franquia por meio de estampilhas
do devido valor.
e E (mm
JUNTA DE PAROCHIA
Tomou posse e entrou em exercicio no
dia 2 do corrente a nova Junta de Parochia
desta Ireguezia.
Tendo por presidente nato, o reverendo
padre Francisco dos Santos e Silva, e por
vogaes, os srs. Luiz Martins, David Nunes
e Silva, Joaquim Francisco e João Raphael
Baptista. Confiamos plenamente na boa
administração da nova Junta de quem os
parochianos teem muito a esperar, attento
a indole laboriosa e honesta dos cavalheiros
que a representam.
Sabemos quão acanhados são os rendi-
emmmmes a
mentos d’esta humilde corporação para não
nutrirmos esperanças que o nosso egoismo
patriotico phantasia, mas, com um pouco
de boa vontade e amor proprio, que, de
certo não faltará aos cavalheiros referidos,
presagiamos muitas prosperidades a esta
parochia, cujo destino confiou ao seu illus-
tre e zeloso parocho, As juntas Lransactas,
de ha dez annos a esta parte, teem sido in-
cansaveis em dotar a sua freguezia com me-
lhoramentos assás importantes; não deixam
de comtudo, de prever as grandes despezas
de culto religioso.
E já que fallamos em melhoramentos
não deixaremos de lembrar a nova pauta,
algumas obras de necessidade que o estado
da nossa Egreja matriz reclama.
E um templo de primeira ordem, e en-
cerra trabalhos d’arte antigos dignos de
admiração. Assim o afirmou o distincto
artista Alfredo Keil, quando recentemente
esteve n’esta localidade; referindo-se tam-
bem com particular menção as alfaias que
minuciosamente apreciou.
Elogios d’esta natureza orgulham os fi-
lhos da velha Certá e reconstituem o nome
epico que o decorrer de 20 seculos tende
obscurecer.
e (e
Ebesastre
Deu entrada no hospital d’esta villa,
Jose Luiz, casado, da Codiceira, que fractu-
rou uma perna, na occasião em que proce-
dia a uma escavação para no alicerce da pa-
rede que a ex.”* sr.“ D. Emilia Grande anda
construindo junto ao seu novo chalet.
É grave o estado do infeliz operario e
desgraçada a situação da sua pobre familia
que é bastante numerosa.
qi 2 [2 em
Um sabio entra numa livraria, e per-
gunta ao caixeiro :
— É aqui que se vendem livros?
sim; que obra pretende ?
— Um livrinho de mortalhas para fa-
zer cigarros.
x
Um pobre diabo pára defronte da vi=
trine de uma casa de artigos de viagem.
— (Quer comprar uma mala? pergunta-
lhe o caixeiro.
— Para quê?
— Para guardar a sua roupa.
— E eu então heide passear nú?
se
—V. Ex.º não concorre com um tos-
tãosinho para se fazer o enterro a um
polícia ?
— Tome lá um cruzado, e enterrem
logo quatro d’uma vez.
=
— Dás-me um cigarro, Chico?
— Dou; tira-o d’um bolso do lado.
— Ficam-te mais ?
— Não, ficam-me menos.
saido o servo para o seu companheiro, vou
apresentar-te a minha irmã: tem valor, tu
és minha esposa. Alli tens uma mala com
todos os vestidos que te são precisos : logo
que fiques só com ella veste-te convenien-
temente.
— Sim, meu amigo, suspirou a joven
occultando o rosto entre as mãos.
— Não chores, é altributo esse que a
occasião não pede.
N’este momento entrou no quarto uma
menina de dezasete annos, que abraçou com
effusão o mancebo que lhe pousou um beijo
na fronte coroada por fartas madeixas côr
d’azeviche.
— Demoraste-te tanto, Estevão: expirou
antes de Bontem o praso da licença que ti-
nha e hoje considerar-te-hão como desertor.
— Não tem duvida, respondeu elle em-
pallidecendo, pois que não esperava por um
contratempo como aquelle. Apresento-te mi-
nha esposa, Catharina de Souza Menezes e
Albuquerque.
— Tua esposa? repetiu a joven tomada
por um jacto de assombro.
— Sim, casei-me ha quatro dias.
— Sem llcença do pae? Que dirá elle,
Estevão ?
— Vou fallar-lhe n’esse sentido: durante
esse tempo ajuda tua nova irmã a mudar
o trajo que traz por esse outro que alli
tem.
Saia a fallar com o pae, que estava fu-
mando n’um pequeno gabinete cujas vistas
abraçavam o mosteiro da serra, hoje trans-
formada em fortaleza. Villa Nova de Gaya,
grande parte da montanha que vai acabar
no oceano e o Douro cavado em abysmos
revolvendo-se no seu leito medonho.
— Então o sr. Estevão, principiou aquelle
em tom severo, só hoje é que julgou tempo
de se recolher a casa?
— Meu pae….
— Não me dê esse nome, não queira
mais envilecer a honra de um pobre velho.
Duas infamias no mesmo dia; sr. Estevão !
Quem ousaria pratical-as? Um rapto e a
deserção |
— Senhor…
— Cabe-me esse nome.
— Anda bem em dizer que sou um mi-
seravel; mas se podesse comprehender o
amor, que em meu peito nasceu por Catha-
rina…
— Amor? Catharina… a filha da meu
esta casa com a infame meretriz, que ousa
ainda vir insultar-me.
— Meu pae, pela alma de minha mãe.
— Sua mãe ? Essa do logar em que está
amaldiçõa o seu crime, arremessa-lhe às fa-
ces, que a vergonha não colore, a infamia
que merece,
— Perdão ao menos para Calharina: se
vir como é formosa ? ama-a como sua filha
e dá-lhe a hospitalidade que ora lhe nega.
— Relire-se que posso praticar alguma
loucura, respondeu aquelle levantando-se de
repente e medindo o gabinete com um passo
agitado.
— Meu pae !
— Já lhe dise que não.-me dê esse nome.
Dirigiu-se em seguida para a janella e
aspirou com força o fumo do charuto.
Estevão com o rosto transformado pela
amargura e com a cabeça alanceada por
horriveis idêas, vendo que nada obteria da
obstinação do velho, abeirou-se delle e sol-
tando um rugido, disse-lhe ;
— Não consente ?
— Não, respondeu em voz forte.
O mancebo soltou uma gargalhada es-
tridula e saiu tomando uma carreira verti-
| maior inimigo! Saia, senhor, abandone já | ginosa com direcção à rua,
O desgraçado enlouquecera.
O velho foi então ao quarto em que dei-
xamos Catharina que já estava vestida como
exigia o seu sexo; as duas jovens estavam
abraçadas e conversavam, quando o ;iram
levantaram-se com respeito.
— Senhora, exclamou elle em voz rispida,
a porta por onde entrou é a mesma que lhe
olferece a saida.
Catharina despediu um grito penetrante
e caiu desfallecida nos braços de Alda: Ro-
berto, assim se chamava o pae d’esta, nem
se moveu: cruzando os braços e olhando
com uma serenidade quasi incrivel para o
quadro que se offerecia a seus olhos, esperava.
O que? Qne sentimento agitaria aquelle
coração de marmore ? Que affeições poderá
abrigar o pae que vê seu filho enlouquecer,
que não estremece ante esse crime por elle
praticado e não muda o sangue frio que se
lhe retrata nas faces ?
—- Alda, disse elle, deixa essa mulher é
retira-te.
— Pae, poderá morrer…
— Talvez isso lhe fosse melhor.
— Mas…
— Deixa essa infame, disse.
Continita,ta,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — GERTÃ, 5 DE JANEIRO DE 1899
CHARADAS NOVISSIMAS
E’ bem que offereças qualquer benefício à des-
ventura — 251. :
Em sua casa toda a gente offerece qualquer
eguaria — 2, 1.
Ao olhar para o santo pareceu-me um phan-
tasma — 4, 4.
Basta! na sua amisade ha clemencia— 2, 1,
Nota que se não fallo verdade é porque tenho
fome — 4, 2.
Silvadeas.
— pipas ——
SERVIÇO DE DILIGENCIAS
Da Certã a Thomar (via Serna-
che do Bom Jardim, Valles, e Ferreira do
Zezere). Sahe da Certã às 2 h. dat. e chega
a Thomar às 9 h. da noite; Sahe de Tho-
mar ás 5 da m. e chega a Certã ás 12 1/a
da tarde.
Da Certã a Proença a Nova.
Sahe da Certã à 1 1/a da t. e chega a Proença
às 5 da tarde; Sahe de Proença às 5 da m.
e chega a Certá ás 9 !/o da manhã. Esta
diligencia communica com a de Proença a
Castello Branco.
“Da Certã à Pedregam Pe-
queno. Sahe da Certã às 2 da t. e chega
a Pedrogam às 5 1/a da tarde; Sahe de Pe-
drogam às 7 da m. e chega a Certã às 10
da manhã.
tecido EA
ANNUNCIOS
e
VENDA E ARREMATAÇÃO
4.º ANNUNCIO
No dia vinte e nove do proximo mez
de janeiro, por onze horas da manhã, á
porta do Tribunal Judicial d’esta villa da
Certa, vão à praça, para venda e arre-
matação em hasta publica, pelo maior
lanço que se oferecer superior ao valor
da respectiva avaliação, os bens abaixo
indicados, penhorados na execução que
o Ministerio Publico move pelo eartorio
do escrivão Gonçalves, contra Manuel
Paulo da Silva, solteiro, jornaleiro, do
logar do Valle do Porco, d’esta Ireguezia
da Certã; a saber:
« Uma courella com oliveiras e mato
no sitio da Arrancalhoza, limites do Valle
Porco, no valor de mil e seiscentos réis
(18600). Metade dum predio mixto com
Anna da Conceição (irmã do executado),
casada com o Batalha, do Chão da Forca,
desta mesma freguezia, que se compõe
de terra de semeadura e respectiva tes-
tada fo sitio do Sabarigo, limites do
Villar da Carga, no valor (a metade) de
onze mil e quinhentos réis (119500).
São citados para a dita arrematação,
quaesquer credores incertos do executa-
do que se julgarem com direito aos men-
cionados bens.
Certã, 314 de dezembro de 1898. E
eu Francisco Cesar Gonçalves, escrivão
o subscrevi.
Verifiquei.
Almeida Ribeiro.
João Marques dos Santos
FLORES DE MAIO
(Versos)
Um vol, Preço 400 réis.
Vende-se nas livrarias.
Esclital
O Doutor Albano de Oliveira Frazão,
Administrador do Concelho da
Certa, etc.
Faz saber que se acha aberto con-
curso documental que, ha de findar trinta
dias depois da publicação deste no Dia-
rio do Governo, para o provimento do lo-
gar de Amanuense desta secretaria, com O
ordenado fixado no art.º 287 do Codigo
Administrativo e os emolumentos que por
lei lhe são assegurados. Os concorrentes
deverão instruir os seus requerimentos,
que apresentarão n’esta secretaria, com
os documentos enumerados no Decreto de
24 de dezembro de 1892.
Administração do Concelho da Certã,
22 de dezembro de 1898.
Albano Frazão.
PROCESSO DREYFUS
CARTA Á MOCIDADE
POR
EMILIO Z0LA
Preço 50 réis
Acaba de sahir do prélo este vibrante:
opusculo dirigido à mocidade academica.
Vende-se nas livrarias.
GUEDES TEIXEIRA
BOA VIAGEM
POESIA
dita pelo auctor na recita de despedida
do quinto anno juridico de 97-98
Preço 200 réis
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Editora.
Historia dos Juizes ordinarios e de paz
POR
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade de Direito e socio offectivo
do Instituto de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra.
SELLOS USADOS
Compra-se qualquer porção por bom
preço.
Dirigir-se a
AUGUSTO COSTA
Alfaiate
Encarrega-se de fazer todo o serviço
concernente à sua arte, tanto para esta lo-
calidade como para fóra.
Garante-se o bom acabamento.
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comarca.
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David Nunes e Silva, com oflicina de pyrothechnia, encar-
rega-se de fornecer para qualquer ponto do paiz fogo d’artificio,
com promptidão e garantido acabamento.
Na sua oficma encontra-se sempre um grande e variado
sortimento de fogo de estoiros, e foi della que sahiu o fogo
queimado nos centenarios: — Antonino — de Gualdim Paes —
e da. India, — (neste sómente o de estoiros e balõas), cujo
effeito tem sido applaudido pelo publico e imprensa.
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garantindo-se a sua perfeição e nitidez.
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d’este concelho, mediante ajuste especial,
Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Gom-
mercio. —CERTÃ.Ã.