Progresso Beirão nº8 04-04-1926
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Certa. 4 de Abril de 1926
Composto e impresso na Tip. de O ZEZERE
FERREIRA DO ZEZERE
Carlos dos Santos e Silva
Propriedade a Enio PROGRESSO BEIRÃO
k SODIEDADE DAS HAÇÕES
Para Presidente da Assembleia
da Sociedade das Nações, na sua
ultima reunião em-Genebra, fói
eleito, por quasi unanimidade, O
Chefe da Delegação HorapaR SA
Dr. Afonso Costa.
Muito “nos desvanece Esto “fa-
cto, que sendo uma honra para
Portugal é tambem o reconheci-
mento, pelos estadistas de quasi
todas as nações do mundo, que
ali se reunem, das. primorosas
qualidades e superior inteligen-
cia daquele nosso representante,
E A y
A reunião da Assembleia da
“Sociedade das Nações, tinha por
fim a admissão da Alemanha co-
mo membro não só da Socieda-
de, mas também do Consclho
Permanerite.
Dêsse Conselho, que tem um
numero -limitado. de membros;
desejavam. tambem fazer parte O
Brazil, a Espanha e a Polonia,
Como isso não fosse possivel
sem que. fosse aumentado o seu
numero de membros, O que não
é permitido pelos Estatutos d’a-
quela Sociedade. e não tivesse
sido, possivel, os representantes
das potências, chegar a um acor-
do, o: Brazil. pela: voz do chefe
da sua Delegação, declarou que
não votaria a adinissão da Ale-
manha, se, da mesma forma, lhe
não fosse concedido: logar no
Conselho Permanente, alegando
que nenhuma nação americana
alí tem representante, e que esse
logar lhe está prometido desde
I921
O caso causou sensação mun-
dial, porque bastando um voto
de qualquer nação para se opôr
a entrada de outra, não pode-
ram proseguir os trabalhos d’a-
quela Assembleia, que só virá a
reunir em Novembro.
Red
Instituto de Missões Coloniais
No dia 25 do mês-findo principia-
ram as férias de Pascoa naquele es-
tabelecimento de ensino, tendo saído
bastantes altinos para as terras da
sua naturalidade. 0:
ESACpEp Ep
MT!
z
A ABI
Portugal, como grande potencia colonial que é, tem de procu-
tar valorisar, Os seus vastos dominis coloniais, não só para honrar
os compromissos internacionais | que subscreveu, mas tambem pa-
ra realisar a sua missão: historica..
Necessita, para isso, de apro!
possa dispor, organisando-os,
tar todos os elementos de que
prevenções e sem preferencias: odiosas,
Ui dos elementos de maior s
indubitavelmente, as. missões. civjli
Laicas ou religiosas — mas.
oras.
Mtuguesas—elas teem, como já
meios . especiais de, acção, par
e infelizmente, não. a
“ciêntemente numerosas, À
re Og
ufi-
e
Sendo assim, como é, não se justifica a guerra att de ex- |
terminio, que, ultimamente, se vem fazendo ás Missões Civilisado-
ras; laicas e ao Instituto de Missões Coloniais, onde é educado e
preparado o pessoal que as compõe,
Podiam elas, em. pouco mais de: quatro anos, ter dado já as
suficientes provas da sua utilidade ou inutilidade?
Evidentemente, não,
Mas ainda que fosse suficiente esse curto espaço de tempo da
sua existencia para julgar a-sua obra, nós temos a absoluta certe-
za, que elas não seriam condenadas, tais são já Os| seus serviços
à causa da civilisação e ao engrandecimento da Patria,
4 5
Afirmam os seus detractores que ao pessoal dessas missões
falta o preciso. espirito de; sacrificio-e a! dedicação patriotica para
o bom exito da sua obra civilisadora porque lhe falta e espirito e
a fé religiosa !
E” um argumento pretencioso que cae pela base; é até uma
estulticia tão sediça, que não resistirá a dois minutos de exame.
Então. esses ‘pioneiros da civilisação. que! marcham incondi-
cionalmente para o local que lhes é destinado pelas auctoridades,
sem uma queixa nem uma reclamação e lá estão resistindo a to=
das as contrariedades, suportando todos os sacrificios, com o sor-
riso no rosto e a fé na alma, com o unico proposito de cumpri-
rem O seu dever’e a unica aspiração de bem servirem a-sua Pa-
tria, não teem o espitito de sacrificio?
Então esses portugueses, que nessas inhospitas e longiquas
regiões do sertão africano, estão fazendo construções, fundando
escolas, mantendo enfermarias, arando a terra, apenas com o seu
esforço pessoal e com redusidissimas dotações, enterrando até nes-
sas patrioticas iniciativas os seus magros vencimentos, não teem
dedicação pela causa que servem?
Então só um corpo envôlto em uma batina e uma alma em-
paredada nos dogmas de uma religião é que que teem o monopo-
lio do patriotismo e o exclusivo de uma abnegada dedicação pela
causa civilisadora do indigena:?
Não. Não pode ser.
Os missionarios laicos não. são anti-religiosos e nem o podem
ser, porque, como funcionarios de um Estado neutro em materia
(Conclue na 2.º. pagina)
efoja! atenando-os por forma a poder.
tirar |O maximo resultado , do esfôrço dispendido, sem atrofiantes |
valia, para O fim em vista, são,
ed |
Os gaita RR :
do Concelho –
‘Pelos:deputados por es:
ie circulo Srs. Dr. Pin=
to Barriga, “Antonio Au-
“gusto Rodrigues ese:
Pedro Pita, foi apresen-
tado úm, projecto. de; lei
auctorisando o governo
a ceder à Camara Muni-
cipal deste concelho, cem:
eucaliptos para. as obras
“dos Paços do Concelho.
dissemos e ninguem ignora, uma srande obra a realisar nos nos- :
sos vastos dominios coloniais, embúra, umaS,e outras, com Os seus |.
ses scaDa
Piada stat
MA
CAMIONETES
Foi ultimamente posta ao set-
viço publico, pela empreza que
faz a carreira de Sernache a
Castelo Branco, uma nova ca-
mionete para trinta passageiros
e bagagens.
E” um carro muito: comodo,
bem estofado e oferecendo bôas
condições de segurança.
Mostra assim aquela empreza
os seus bons desejos de bem ser-
vir o publico, pelo que é mere-
cedora de elogios e nós não lh’os
regatearemos.
A mesma empreza acaba de
inaugurar à carreira da Certá a
Oleiros,
ra a região deve-se ao patrioti-
co esfôrço de alguns filhos da-
quela vila, residentes em Lisboa
e em especial ao st. Antonio Ba-
ptista Ribeiro,
Tambem acaba de ser inaugu-
rada uma carreira da. Certã a
Alferrarede e Abrantes com uma
sumptuosa camionete, toda en=
vidraçada e com cadeiras esto-
fadas, como as dos carros eletri-
cos.
“O seu proprietario que é o sr,
Augusto Dias da Silva, antigo
Ministro. do Trabalho, ofereceu
um passeio a Sernache a algu-,
mas. senhoras e cavalheiros da
Certã, que se realisou no dia 21
e esteve muito concorrido.
conduzindo o correio,
Este apreciavel melhoramento pa- |
“ooramento pa- |
“o@@@ 1 @@@
Estradas
Muito ha que dizer sobre as
estradas deste distrito e parti-
cularmente das desta região e
alguma coisa prometemos dizer.
Por agora limitamo-nos a pro-
testar pela forma como temos
sido tratados pelos poderes pu-
blicos.
Tem esta região, como tantas
outras do país, as suas estradas
quasi intransitaveis, mas o que
se não dá em outros distritos do
país é o que está sucedendo
com as estradas desta região e
até de todo o distrito—: os po-
deres publicos não teem distri-
buido para construção ou repa-
ração um centavo, votando O
distrito ao completo abandono.
As noticias que nos chegam
pela imprensa e por carta de to-
dos os pontos do distrito, são
um legitimo e justificado pro-
testo contra esse tratamento ex-
cepcional dado por aqueles que
, tinham o imperioso dever de
nos não conhecerem apenas co-
mo contribuintes.
Registamos, porem, com pra-
zer, o facto de no dia 22 de
Março ultimo, o ilustre deputa-
do por este circulo, Dr. Pedro
Pita, ter chamado para o caso
a atenção do sr.” Ministro -do
Comercio e certos estamos de
que alguma coisa havemos de
beneficiar coma sua acção.
E a proposito:—consta-nos
que sempre virá a dotação que
aquele nosso representante con-
seguiu ha meses pata as estra-.
das do Couto e de Vila de Rei.
Se assim fôr, só temos que
aplaudir o interesse que mostra
pelo circulo que o elegeu.
E até breve.
IEA Sp ASAE
A «Touring Automobile Com-
pany Incorporated» iniciou, no
dia I4, uma carreira diaria entre
Abrantes e a Certã, com passa-
gem por Sardoal, Amendoa (Chão
do Lopes) Sobreira ormosa e
Proença-a-Nova, que partindo
daquela cidade ás 14,40, chega
à Certã às 19,20, d’onde sai no
dia seguinte ás 7 horas.
Assim pode-se sair de Lisboa
ás 9,25 OU ás [I,IO e chegar à
Certá às 10,20 ou sait da Certã
ás 7 horas e chegar-se a Lisboa
ás 15,44 OU 17,25.
—Como já dissemos, foi inau-
gurada a carreira de camionetes
para transporte das malas do
correio e passageiros entre a
Certã e Oleiros, cujo melhora-
mento foi ruidosamente festejá-
do com a assistencia da Comis=
são de melhoramentos do con-
celho de Oleiros, residente em
Lisboa e de muitas pessoas da
Certã que ali foram.
No regresso foi-lhes oferecido
no Gremio Certaginense, por um
grugo de certaginenses, um li-
geiro copo de agua em que se
trocaram afectuosos brindes.
PROGRESSO BEIRÃO
A COMBA JOSA
(Continuado da 1.º pagina)
religiosa, a sua acção não pode ser de hostilidade a nenhuma reli-
gião. Mas se o fossem não deixavam, por isso, de ser cidadãos
prestantes e dedicados a essa obra grandiosa e patriotica, com uma
inabalavel fé nos destinos gloriosos desta terra, que é nossa, que
ha-de ser dos nossos filhos, como já foi de nossos paes.
A doutrina que eles e todos que para lá forem, teem e devem
pregar e observar, é a da honra, do trabalho, da solidariedade hu-
mana e do engrandecimento da Patria.
Essa sim. Essa é que é a grande doutrina que todos devem
e podem pregar sem que, para isso, sejam precisos profundos co-
nhecimentos teologicos. À
E ho *
Às primeiras missões civilisadoras que sairam do Instituto de
Missões Coloniais, embarcaram em Lisboa em Abril de tg20, com
destino a Loanda. ”
Eram pouco mais de meia duzia de rapazes, que ali fizeram
o seu curso e alguns com o curso da Escola Colonial, duas se-
nhoras—uma espôsa de um dêles e a outra irmã de um outro—
que esperançadas e cheias de ardente fé patriotica, lá partiram con-
fiados no auxilio e proteção que lhes eram devidos pelos governos
da sua Patria,
Todavia, ao desembarcar d’aquele porto, tiveram uma desa-
gradavel surpreza e uma profunda desilusão |
As auctoridades d’aquela Provincia não tinham tido aviso ou
ordem alguma-—diziam elas—do Ministerio das Colonias; desco-
nheciam mesmo o que vinha a ser isso de missões civilisadoras e
alguns, até, n’uma estupida ou velhaca ignorancia, perguntavam-
lhes sorrindo o que iam lá fazer!
Andaram dias, mezes, calcurriando de repartição em reparti-
ção, sendo sempre o mesmo equivoco sorriso ou ouvindo pala-
vras de desanimo. Faltas de recursos e da proteção que eles es-
peravam e lhes era devida pelas auctoridades da Republica, tive-
ram por fim de recorrer ao favôr de amigos e conhecidos, para
não morrerem à mingua, até que um dia, depois de muitos esfor-
ços do seu instituidor, lá foram descaroavelmente atirados, uns pa-
ta a Pamba, onde encontraram uns miseraveis casebres, a desmo-
ronarem-se, de uma antiga circunscrição, que fôra abandonada por
ser local insalubre e outros para a Ompanda, nos Cuanhamas, no
extremo sul de Angola, ;
Não lhes faltaram, em Loanda e já depois de estarem nas
missões, vantajosas ofertas de empregos, mas esses rapases, rea-
gindo patrioticamente contra tudo e contra todos, tudó recusaram
e lá estão cumprindo o seu dever,
O mesmo aconteceu com os que, pouco depois, seguiram pa-
ra Lourenço Marques; sem recursos e sem proteção, resistiram ao
desanimo que poderia invadilos e ás vantajosas ofertas que lhe
fizeram.
Será isto falta de patriotismo e de dedicação à causa da ci-
vilisação ?
Será isto a tão preconisada falta de espirito de sacrificio do
pessoal das missões laicas?
Politica Teatro Tasso
Consta-nos que se desligaram
do P. R. N. e deram a sua ade-
são a U.L. R. os.srs. Zeferino
Lucas, Sebastião Tavares, A.
Nunes de Fig’eiredo, A. da Sil-
“va Lourenço e que outras ade-
sões se esperam.
CEP = 13490
Elétrica Certaginense
Em assembleia da «Eletrica
Certaginense», que se realisou no
teatro «Tasso», no dia 28 de
Março findo, foram aprovadas
as contas e relatorio do Conse-
lho Fiscal e gerencia transacta-
Sobe hoje á scena neste tea-
tro a engraçadissima comedia
em três actos, «Expedientes de
Sogra» pelo Grupo de Amado-
res Certaginenses, de que fazem
parte elementos de muito valor
artistico.
—L(Com grande enxente exi=
biu-se naquele teatro, no dia 19
o film religioso À vidade Cristo,
CEPIS =3990
FESTIVIDADES
Realisaram-se na Certã, com
a solenidade do costume, as fes-
tas de Passos e da Semana San-
ta, que foram bastante concor-
tidas.
Carteira Mundana.
Está na Certã, com sua espo-
sa e filhos, o st. Dr. Bernardo
de Matos, que no dia 31 esteve
em Sernache.
De visita a M, Benjamim da
Silva, estiveram em Sernache S,
Ex.* Rev”? D. José, Bispo do
Cabo Verde e Rev.º Conego Se-
bastião Alves, reitor do Colégio
de Missões de Tomar.
Seguiu para Lisboa, com sua
esposa e filhos, o nosso presado
assinante e ilustre advogado do
nosso fôro, Dr. Albano Lourenço
da Silva, que ali foram levar, pa-
ra ser observado por um espe-
cialista de doenças nervosas, O
seu filho Armindo.
Esteve entre nós o nosso pre-
sado assinante o sr. Luiz da
Cruz, da Praia.
Continua de cama o nosso
presado assinante e ilustre pro-
fessor do Instituto de Missões,
Dr. Carlos Martins.
Seguiram para ferias os srs.
Dr. Ferreira da Silva, digno sub=
delegado do Procurador da Re-
publica e os professores do Ins=
tituto de Missões Coloniais, Dr.
Oliveira Gomes e Dr. Pinto de
Vasconcelos.
Continua ainda de cama em
consequencia de um desastre que
em tempo teve no seu automo-
vel o nosso assinante sr. Romão
Vaz.
Estão na Certã, em goso de
ferias, a sr? D. Emilia Barata,
D. Emilia Rossi, José Nunes da
Silva, Joaquim Dias Ferreira, Ro-
gerio Lucas, Joaquim Pinto Fera
reira e José Barata Neves,
Tambem estão em Sernache
em goso de ferias a sr.* D. Ma-
ria Edith Marçal Nunes, Anto-
nio Queiroz, Gil Marçal Antunes
e José Girão,
Regressou a Sernache o sr.
Domingos Dias, digno profes=
sor primario.
SD === ==06553 ==00=5] ==),
ANIVERSÁRIOS
No dia TO de Março: o sr, Jo-
sé Joaquim de Brito.
—No dia 31: M.” Benjamim
da Silva e a menina Aida Cor-
reia Nunes.
—No dia 14 de Abril: o st.
Julio da Silva Serra. .
GEES Ep ts) ==
PERGUNTA INOCENTE
Porque será que não foi subs-
tituido o poste e colocada no-
va lampada em frente à estrada
de Milheirós, que caiu ha qua-
tro ou cinco mêses?@@@ 1 @@@
FLU UUESSO BELNAÃO
VISÃO
Meu doce bem meu amor
Porqu’é que Nosso Senhor
Te deu tanta formosura?
Tens as faces tão mimosas |
As lindas côres das Rosas
E dos Lirios a brancura.
Teu corpinho interessante
Perfumado e elegante
Como a haste de Bem-me-quer
Cofre é de mimos e beijos
Onde moram meus desejos.
E’s uma linda mulher!
Se teu pensar fosse o mei
Anjinho vindo do Ceu,
Da região do Luar.
Formavamos nosso ninho
De sorrisos e carinhos
Com a luz do teu olhar.
FÉSIL
NECROLOGIA
Na madrugada de domingo,
28, faleceu inexperadamente, na
Gertã, a esposa do sr. José Ma-
ria Miranda, a quem apresenta-
mos as nossas condolencias, bem
como a seu filho e nosso esti-
mado assinante, st. José Nunes
de Miranda.
Defeza a tiro
VILA DE REI-No dia quin-
ze, na camionete que faz o trans-
porte do correio, de que é chau-
feur Bernardino Delgado, em-
barcaram alguns individuos de
Milreu que, ao chegar aquela
povoação, recusaram-se a pagar
a passagem. é
Como o condutor da camio-
nete lhes exigisse a importancia
das passagens estabeleceu-se dis-
cussão, sendo agredido com uma
valente cacetada na cabeça, se-
gundo dizem, por Antonio Bei-
são, residente n’aquela localida-
de, vendo-se, por isso obrigado
a defender-se com uma pistola
que trazia, de que resultou O
Beirão ser atingido por três ba-
las nas pernas, fugindo em se-
guida na camionete.
Participado o caso à Adiminis-
tração do Concelho esta tomou
as necessarias providencias e
fez intimar os discolos para ali
comparecerem.
VINHA
Vende-se grande vinha ao Ca-
sal do Amaro, Diz-se nesta redação
Oleo sujo
Vende a Electrica Gertaginense— CERTA
O CLUB BOMARDM EU CINGAA
(Continuação)
Dois ou trez dias depois voltei a
procura-lo para lhes perguntar se um
anuncio que vinha no «Seculo», pe-
dindo uma maquina cinematografica
em 2.º mão, era dele, ponderando-
lhe a inconveniencia que havia se as-
sim fosse e oferecendo-lhe novamente
parte na empreza, Garantindo-me sob
a sua palavra de honra que tinha pos-
to o assunto de lado e que não que-
ria entrar na empreza porque já ti-
nha’ de mais com que ocupar a sua
actividade e que o capital era pouco
para o seu negocio.
‘ Como não tinha motivos para du=
vidar da sua palavra, prosegui nas
negociações que tinha em mão, com-
fiadamente.
Retido em casa, durante algumas
semanas, por motivo de doença, quan-
do pude ir a primeira vez ao Club,
notei que no gabinete da Direção es-
tavam reunidas algumas pessoas, mas
não liguei qualquer importancia ao
caso e até quando vi sair as pessoas
que lá estavam atribuí essa reunião
a um fim muito diverso.
Notei, porem, que o Teixeira, que
concerteza, não esperava ver-me, ain-
da nesse dia, no Club, ficou bastan-
te embaraçado com a minha presença
e de tal forma, que nem me cumpri-
mentou, apesar saber-me doente, nem
mais tornou a falar-me, sem duvida
para que eu não tivesse ocasião de lhe
exprobar o seu mau procedimento.
Informado, na ocasião, por um
amigo, do que se passava, achei na-
lural o embaraço do Teixeira e limi-
tei-me a mandar, com toda a urgen-
cia, sustar as negociações ordenadas
para aquisição do aparelho cinemato-
grafico, até se esclarecer a situação
e a confirmar por escrito a declara-
ção que já havia feito vocalmente á
Direcção do Club, da minha preten-
ção ao tealro para dar sessões cine-
matograficas. ;
A minha declaração causou grande
indignação não só a Teixeira, mas
tambem a alguns directores do Club,
que atraídos: por êle, com o fim de
obter as facilidades que tem estado a
gosar, tinham-se-lhe associado para
à exploração da empreza do cinema.
Forçados por essa declaração re-
solveram abrir concorrencia tendo,
para isso mandado afixar nas salas
do Club a seguinte convocação:
«A Direcção do Club Bomjardim,
considerando que a capacidade e con-
dições de vida do meio Sernachense
excedeu os de muitas povoações já
dotadas hoje, pela actividade parti-
cular, de bons melhoramentos no
ponto de vista recreativo: e ainda no
intento de ser de algum modo util à
sua terra, faz publico a sua delibera-
ção de abrir concurso entre os seus
associados pelo espaço de oito dias
para a montagem de um aparelho ci- |:
nematografico no tealro do mesmo
Club e nas bases seguintes:
1,º— A Direcção toma o unico com-
promisso da simples cedencia do tea-
tro para todos os dias em que pre-
viamente se acorde, se destine ao fim
indicado e pelo tempo a que de harmo-
nia com os estatutos se pode obrigar.
2.º—0s Ex.Pos concorrentes indi-
carão a percentagem do rendimento
bruto de cada espetaculo a entregar
ao Club, e ainda o praso dentro do
qual se comprometem a fazer a mon-
tagem referida.
3.º— A despeza de luz e respectivo
material ficará a cargo do concor-
rente, bem como a garantia da boa
ordem e decoro dentro do teatro.
4,9-A! Direcção assislirá o direito
de verificar a receita relativa a cada es-
petaculo, quando assim o entenda e pe-
la forma que julgue mais conveniente,
função esta que sempre lhe será facul-
tada.
5.º— A falta de espetaculo nas con-
dições da base primeira, afóra caso
fortuito ou de força maior importa=
rá para a parte que lhe der causa à
penalidade de 50800, que á outra se-
rão entregues no praso de cinco dias.
6.º—Só serão recebidas as propos-
tas apresentadas em carta fechada e
devidamente lacrada que vierem acom-=.
panhadas da quantia de 200800 escu=
dos, quantia que, pelo que respeita á
proposta aceite, não será restituida
na falta do cumprimento da ultima
parte da base 2.º,
As propostas recebidas serão aber=
tas na sala da Direção perante esta e
os interessados, pelas 21 horas do
dia 23 do corrente, e não poderão já
ser alteradas. Será aceite a que con-
formando-se com estas bases, se jul-
gar mais vanlajota,
Sernache do Bomjardim, sala da
Direcção, 14 de Abril de 1925. A Di-
recção, (a) Joaquim Henriques de Al=
meida, David Mendes Leitão Serra
e Antonio Nunes da Silva Matas.
Como se está vendo esta convoca-
ção não prima muito pela claresa,
entretanto quaisquer dificiencias po-
deriam ser supridas no contracto que
se lavrasse com a enlidade a quem o
teatro fosse adjudicado, como a boa
logica eo bom senso impunham e da
própria convocação se depreende.
Diz a convocação: a Direcção cede
o teatro para todos os dias em que
previamente se acorde e estipula uma
multa, que deverá ser paga dentro de
cinco dias pela parte que der causa
do espetaculo e exige que os concor-
rentes indiquem o praso dentro do
qual se comprometem a fazer a mon-
tagem do cinema, sob pena de perder
o deposito feito, se a não fizer den-
tro desse praso.
Mas, como adeante veremos, nem
foram previamente estipulados o nu=
mero de espetaculos, mensais ou
anuais, nem, até hoje, deu entrada
na caixa do Club a importancia do
deposito feito pela empreza de que
Teixeira é representante, apezar da
montagem não ter sido feita dentro
do prazo estipulado na sua proposta!
Isto é, não houve mais contrato nem
obtigação alguma alem das contidas
na proposta que, na sua maior parte,
forum sofismadas ou não foram cum-
pridas.
Compadrio imoral que transfor-
mou aquela casa de recreio em logra-
doiro da empreza de Xico Teixeira,
de que são socios todos os directo-
res daquele Club, mercê da longa-
minidade de alguns socios, da cobar=
dia de outros e do não te rales de
muitos. Prosigamos, porem.
No dia 22 terminava o praso para
a entrega das propostas; nesse dia fui
cêdo para o Club, para vêr se conse-
guia saber quantas propostas tinham
entrado, pois constava-me que havia
mais propostas.
Informei-me com o continuo e mais
tarde com o director Antonio Mata
e fiquei sabendo que não havia ainda
proposta alguma,
Deu-se até, nessa ocasião, o caso
interessante de o director sr. Mata,
como eu lhe dissesse, que me tinha
esquecido de fazer a proposta e que
já não tinha tempo para a organisar,
me insinuar muito solicito, que a
apresentasse na propria ocasião da
abertura, porque seria aceite. Era
uma forma habil e segura de afastar
um concorrente.
Se naquela ocasião me restassem
algumas duvidas, hoje, depois do
que se passou, não me restariam
nenhumas!
Esperei até quasi á meia noite que
os directores, Joaquim de Almeida e
David Serra se levantassem da mesa,
onde estavam a jogar e dirigindo-me
ao primeiro, como presidente da di-
recção, entreguei-lhe a minha pro-
posta e a importancia do deposito
exigido no aviso da concorrencia e
perguntando-lhe se havia mais pro-
postas, respondeu-me, que não sabia
porque ha dois ou três dias que não
ia ao Club, indo imediatamente en-
tregar a proposta e o deposito ao
continuo para guardar.
Saimos os três do Club e pelo ca-
minho não mais se falou no caso.
O director, David Serra, viu-me fa-
zer q entrega da proposta ao seu co=
lega de direcção, assistin tambem &
entrega dela ao continuo e à reco-
mendação que, aquele seu colega, fez
a esse empregado, em voz alta, não
podia, por isso, ignorar do que se
tratava,
Se tinha nessa ocasião alguma pros
posta em seu poder, qual era o seit
dever?
Era, evidentemente, entrega-la tam»
bem ao presidente da direcção ou ao
continto. Assim estaria livre da sus-
peita de parcialidade.
Não o fez. E não o fez, porque
muito embora a sua afirmação em
contrario, eu.sei que a não tinha.
Todavia, no dia seguinte, lá esta-
va sobre a mêsa da direcção a pro-
posta de Teixeira |
Em vista disso, pedi ao presidente
da direção que antes da abertura das
propostas fosse dida a convocação pa-
ra o concurso e que declarasse quan
do tinha. terminado o praso para a
entrega das propostas:
Feita a leitura o presidente decla
rou que esse praso itana ter]
no dia 22.
Disse então que achava extranho
que tivessem recebido uma proposta
fora desse praso, mas fui logo Er-
terrompido pelo director Serra, q
afirmou, que essa proposta estava no
gabinete da direcção desde o dia am-
terior.
Declarei então que não podia «
tar como bôa a afirmação do sr. Ser-
ra, porque tinha absoluta certezade |
que não era verdadeira.
Então o sr. Serra, muito indignado
emendou que efectivamente a propos-
ta. não estava no gabinete, mas que
ele a tinha já no bolso ha dois ou três
dias e que não admitia que duvidas-
sem da sua palavra.
Era uma forma pouca airosa de
sair de dificuldades e de suscitar
uma deslealdade para não lhe dar
outra classificação .
Ha muitas pessoas que, quando
não teem razão, fazem grande ala-
rido ou argumentam aos berros para
dar aos outros à impressão de que a
teen.
Mas este rosario ainda está no
principio.
O Teixeira logo que terminon a lei-
tura da convocação para « concorrer
cia, declarou, que se tinha esquecido
de incluir na sua proposta uma das
condições exigidas nessa convocação
—a do praso para ter pronta a mon-
tagem do cinema.
Aquele imparcialissimo tribunal,
não se preocupou como caso. Porque
não ?
Fizesse o st. Teixeira uma propos=
ta suplementar, que lhe seria aceite.
E o Teixeira, ali mesmo, diante de
um outro concorrente fez essa pro-
posta que foi imediatamente aceite |
Entretanto, no aviso de convocação
lá está bem expresso, que as propos=
tas não poderiam ser alteradas,
Se a minha proposta oi a de outro
qualquer concorrente tivesse sido apre-
sentada fóra do prazo estipulado ou
lhe faltasse qualquer uma das comdi-
ções exigidas, teria sido, imediata e
inexoravelmente, posta de parte pelos
corretissimos e desinteressados mem-
bros daquele tribunal.
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