Gazeta das Províncias nº7 22-12-1898

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CERTÁ — Quinta feira 22 de Dezembro de 1898 |
N.º 7
sSemanario independente
ASSINATURA. ) ê
CERTA, mez, 400 rs. FÓRA DA CERTA, trimestre, 390/75. AFRICA, semestro, A$000 rs. BRAZIL, semestre, 28500 rs. Namero amlso, JO rs.
Toda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
E Ernesto Marinha — Director
À EXPANSÃO TERRITORIAL
DOS ESTADOS UMIDOS
Entorpecida pela dôr, a pobre Hes-
panha de Cervantes chora ainda lagri-
mas, veste ainda luto da sua ultima
tragedia. e
Cavite foi um punhal no seu cora-
ção; S. Thiago de Cuba desvairou-lhe
a cabeça.
No ceu nebuloso do seu futuro, ne-
nhuma estrela. .. :
Cuba, a rainha das Antilhas, des-
-pega-se do seu territorio, á força d’um
sangue generoso. Porto-Rico é-lhe ar-
rancada, quasi mansamente, sem um
estrebuchão. As Filippinas lá se vão,
no mesmo destino, como um sonho a.
“desfazer-se…
E, assim, em pouco tempo, vê-se
despida das suas joias mais ricas e pre-.
ciosas a pobre Hespanha de Cervantes,
a soberba terra dos Cids!…
No fundo dos mares do Oriente,
como que assombradas da propria au-
dacia da guerra, ficaram espêcadas as
náus desconjunctadas de Montojo, nu-
ma saudade nostalgica.. .
Nas ondas das aguas Antilhanas,
redemoinhando como pedaços da pa-
tria vencida, lá se vêem por vezes sur-
gir, á tona, fragmentos dispersos das
náus de Cervera, debalde á espera de
uma salvação…
E por sobre isso tudo, corre e passa
o bramido das vagas, pausadamente,
mysteriosamente, . «
Mas a ruina da Hespanha não re-
“presenta a ruina da humanidade. A
tragedia de que ella foi a triste proto-
gonista derivou em beneficio para a
civilisação,
À nação que se envolveu em luta
com os Estadas-Unidos não era já a
nação heroica que abriu com Portugal
o caminho da Renascença á Europa:
— era a nação decadente que pensa
ainda na implantação do carlismo, a
nação leviana que, depois da incruenta
guerra internacional que a esmagou,
ameaça ainda abrazar-se n’uma tre-
menda carnificina civil, doidamente.
Uma nação d’esta força moral é
“uma nação que não devia nem deve
vencer. Pena seria que, em vez d’ella,
os Estados-Unidos recebessem a der-
tota; porque então, com essa derrota,
ae
não iria só a derrota d’uma nacionali-
dade, iria tambem a derrota de impor-
tantes factores do progresso contempo-
raneo. Os Estados-Unidos são a nação
forte do presente’e a nação dominado-
ra do futuro. Para a sua independen-
cia teve a tempera d’um Wasingthon ;
para a sua organisação politica, o pen-
samento de Franklin, e para a sua li-
berdade o martyrio d’um Lincoln,
Nação profundamente egualitaria e
democratica, apresenta ao mundo os
genios mais admiraveis das modernas
gerações. Desde Ireland e Gibbons, na
melhor solução para as questões sociues,
até Edisson e outros, no triumpho do
espirito para as conquistas da materia,
— encontramos lá estaturas moraes de
primeira grandeza e vultos scientificos
da mais alta concepção. Ella impõe e
impõe-se!
De tudo, porém, o que ha mais a
admirar n’essa florescente republica é
a sua fórma de governo federativa ; os
povos que tem aggregado e vem ag-
gregando ao seu organismo geral, an-
nexa-os, sim, não como uma colonia 4
respectiva metropole, mas como um
Estado a outro Estado. Não destroe
nem asfixia as tendencias de liberdade
cantonal que se lhe depare, antes as
aproveita e desenvolve, abraçando-as
numa sympathica e promettedora fra-
ternisação,
D’ahi vem o superior destino que
certamente vão ter as perdidas colonias
da velha Hespanha,
Porque ninguem dirá que seja con-
demnavel a fórma de governo federa-
tiva dos Estados-Unidos. O federalis-
mo assenta no moderno conceito scien-
tífico e organico das sociedades. Ainda
até hoje ninguem ousou combatel-o com
argumentos sérios e irrespondiveis.
Tem-se-lhe apenas opposto a im-
possibilidade da sua realisação prática,
Mas contra esta pretendida objecção
levanta-se agora, mais do que hontem,
a grande e esperançosa republica dos
Estados-Unidos, vivendo federativa-
mente, alargando a sua federação aos
povos que abraça, propondo-se offere-
cel-a a outros, nas tendencias de ex-
pansão territorial ultimamente denun-
ciadas na sua politica geral.
Posto isto, e d’este modo, é nosso
dever acclamar as victorias recentes
dos Estados-Unidos, não obstante o
FUBLICAÇÕES
No corpo do jornal, cada linha 80 rs. Anuncios, 40 rs. a linha, Repetição, 20 rs. a linha. Permanentes, preço: convencional; os srs. assiqnantes
têm o desconto de 25 0/g. Esta folha é impressa na Imprensa Academica, R. da Sophia, Coimbra
Augusto Rossi — Editor
a”
pe »
abatimento correspondente da infeliz e
desventurada Hespanha.
Os interesses da humanidade va-
lem mais do que os das nações !
— msi ds – —
DR. JOSÉ TAVARES
Realisou-ss no domingo a cerimonia do
doutoramento em direito do nosso prezado
amigo dr. José Maria Joaquim Tavares.
Foi padrinho do doutorando o sr. Joa-
quim Bessa de Carvalho. Discursaram, além
do sr. dr. Fernandes Vaz, decano da facul-
dade, que impoz as insignias de doutor ao
nosso amigo, os srs. drs. Joaquim Fernan-
des e Marnoco e Sousa.
Assistiram à cerimonia quasi todos os
professores das cinco faculdades, muitas se-
nhoras que occupayam as tribunas e cadei-
ras reservadas, e quasi toda a academia que
enchia completamente a sala dos Capellos.
ECHOS DA SEMANA
Foi nomeado tabellião de notas para o
julgado de Souzel, na comarca de Estremoz,
0 nosso presado amigo, sr. Eduardo Baratta
Correia e Silva.
— O fornecimento de carnes verdes para
os talhos do concelho, foi adjudicado a Ma-
nuel Lebre, das Chans; sendo a vacca a 240
réis o kilo e o chibato a 140 réis.
— Estão a concurso por espaço de 30
dias as escolas de instrucção primaria ele-
mentar de Oleiros e Mosteiro d’esta comarca.
— Reuniu no dia 49, sob a presidencia
do sr. conselheiro Pedroso dos Santos, a
commissão encarregada de estudar a nova
forma de cobranças do estado. Foi dada à
ultima decisão ao projecto relativo às con-
tribuições predial e de registo, as quaes fo-
ram approvadas.
— O sr. José Alpoim apresentará no par-
lamento, nas primeiras sessões, um projecto
de assistencia judiciaria, elaborado pelo de-:
putado sr. José Cabral, que já entregou o
trabalho, concluido.
=
Está aberto concurso para O proviment o
das vagas de aspirantes auxiliares do quadro
dos correios.
— É nas ferias do Carnaval e não do
Natal, como noticiamos, que a tuna de Coim-
bra vae a Santarem, Abrantes e Castello
Branco.
“ — Está a concurso por espaço de 30
dias, o provimento do partido medico de
Villa Nova de Paiva, com o ordenado de
4005000 réis e pulso sujeito a tabella ca-
Mararia.
qm
Operação
No hospital desta villa, foi feita pelo di-
gno facultativo sr. dr. Ebrhardt, ao doente
Jôão Pedro, uma operação ao ventre, d’onde
lhe extrahiu 24 litros de agua.
erre meme
*
MARÇALINAS
amam
III
Sabem que motivo tem
Aquelle homem bem córado,
Que abi passeia de trem,
“Para andar tão desmaiado ?
Mas que profundas olheiras
D’um bistre tão carregado!
Até tem outras maneiras |
Trará elle mw olhado ?
Toda a gente da Certá
Pergunta: — «porque será ?»
Uma razão purae sã :
Nós sabemos. Oiçam lá:
Não traz cahida a espinhela
Nem mau olhado lhe deram ;
A causa de tal mazella
Foi medo que lhe metteram,
Apontando-lhe o Marinha
De lapsos* magna caterva,
Disse estar mui córadinha
E bem zangada a Minerva.
Diz-lhe agora muita gente
Que p’ra hem o castigar
À. tal deusa brevemente
As cartas lhe vae buscar,
Elle quer ser deputado,
Camarista e regedor,
Sobre tudo, ser chamado
Por todos — senhor doutor.
E se a deusa lhe tirar
Tal padrão do seu valor,
Ninguem lhe torna a fallar,
À ninguem se póde impôr.
Em tal coisa lhe lembrando,
– Tem a mesma sensação
Que a creança em lhe gritando:
Fuja, lit vem o papão.
* Pela palavra lapsos, designamos os primores gram-
maticaes que por varias vezes temos submettido 4 apre-
ciação do publico.
O novo presidente da republica
da Suissa
O novo presidente da Confederação Hel-
vetica chama-se Eduardo Muller e é natural
de Saxe. Nasceu em Dresde, onde seu pae
era pastor protestante.
Foi educado em Berne, e mais tarde em
Paris, Heidelberg e Leipzig, onde fez bri-
lhantes estudos. E formado em direito, e
em 1874 foi nomeado presidente do tribu-
nal de Berne, cargo que exerceu durante
tres annos. Passa por ser um notavel juris-
consulto.
do
— Em congregação da faculdade de Me-
dicina, foram designados os dias 18 e 49
do proximo mez de Janeiro para a defeza
de theses do licenceado sr. Antohio de
Padua. ;
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GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 22 DE DEZEMBRO DE 1898
CHRONICAS LIGEIRAS
21 de dezembro.
O tempo continua d’uma suavidade en-
cantadora. Estes dias, de um azul purissimo
e de um sol doirado espraiando-se pelos
campos, mais parecem, na Yerdade, da qua-
dra das flores do que do outomno. ..
Mas, não tardará o verdadeiro inverno,
esse inverno chuvoso, monotono em que toda
a natureza parece estar impregnada duma
tristeza infinda, tornando melancholicas todas
as almas!…
Mais um valente que abordou às terras
de Portugal: Azevedo Coutinho. A patria
recebe este benemerito de braços abertos,
anciosa. Bemvindo seja!
Causou certa impressão, desfavoravel
para nós já se vê, de o ultimo numero da
Gazeta das Provincias sahir com um dia de
atrazo.
O pedagogo e os seus adeptos viram
nisso uma manisfatação da colera divina;
diziam até que os nossos dias estavam con-
tados… a
Afinal, não passou d’uma illusão como
tantas outras…
e
“. o
– Um caso digno de ser imitado pelas mu-
nicipalidades mais importantes do nosso paiz:
Formulou-se ha dias em Pariz uma pe-
tição afim de que o Municipio prefira para
todos os empregos de pequena importancia
os indivios mutilados que a industria parti-
cular não utilisa.
Esta proposta tão sympalhicamente aco-
lhida, é apoiada calorosamente por toda a im-
prensa franceza.
Ersanma.
aca Pp
CASAS DE ESCOLAS
O Governo, usando da auctorisação
legislativa que lhe foi dada, tenciona man-
dar construir edificios destinados a escolas
d’ensino primario.
Para a realisação de tão importante
melhoramento, pede o Governo, por in-
tervenção dos Governadores Civis, ás
corporações administrativas, as seguintes
informações :
1.º Quantas e quaes são as escolas de
cada concelho que não teem casa propria;
2.º Quaes as escolas que na distribui-
ção dos edificios escolares devem ser pre-
feridas ;
3.º Com que auxilio devia o Governo
contar da parte das corporações adminis-
trativas ou das particulares para a dimi-.
nuição dos seus encargos na construcção
dos edificios. :
A camara e administração d’este con-
celho, informaram que as freguezias do
Troviscal, Figueiredo, Varzea e Palhaes,
não teem casas proprias para a aula, func-
cionando a do sexo femenino d’esta e as
d’aquellas freguesias em casas particula-
res e de pessimas condicções hygienicas.
E’, sem duvida, a casa da escola do
sexo feminino d’esta localidade a de pre-
ferencia na distribuição dos edificios a
construir, attento às más condições da casa
em que actualmente está estabelecida e.
ser a de maior população escolar.
Felicitamos os povos das freguesias
pelo futuro melhoramento, e as corpora-
pelas justas e satisfatorias informações que
prestaram ao illustre Governador Civil
deste districto, de quem esperamos. va-.
liosa e indispensavel protecção.
———eceeD eq as
Monte-pio Certaginense
Ficaram eleitos para servirem como ge-
rentes do Monte-pio Certagenense no proxi-
mo anno, os seguintes srs.:
Direcção
Presidente— Antonio Leitão.
Vice-presidente—João Branco.
Secretario—Luiz Dias.
Thesoureiro— Francisco Barata.
Vogal—David Nunes e Silva.
ÁSSEMBLEA GERAL
Presidente—João da Silva Carvalho.
Secretarios— Fernando Martins Farinha
e José Nunes e Silva.
ConsELHO FISCAL
Presidente—Maximo Pires Franco.
Relactor —Fructuoso Pires.
Secretario—Joaquim da Silva Branco.
e
Lucinda Simões
O espectaculo dado em Thomar no dia
16 pela companhia Lucinda Simões, decor-
reu no meio do maior enthusiasmo, segundo
dizem d’aquella formosa cidade.
Lucinda e Chaby tiveram uma ovação
delirante. Parece que voltarão novamente
a Thomar, em janeiro, dar novo espectaculo
em beneficio de qualquer estabelecimento
de caridade.
Desastre
No dia 147, cahiu duma oliveira mor-
rendo pouco depois, Joaquim Antunes, do
logar do Sobral, freguezia da Varzea.
Era dos principaes lavradores d’aquella
freguezia. Deixa mulher e filhos.
CHRONICGA ELEGANTE
Fazem annos no dia 27 as ex Mas sp.as
D. Julia David Leitão e D. Maximina Amalia
Correia Marinha.
Passou no dia 19 o anniversario natalício
do sr. Francisco Farinha David Leitão.
Fe
Regressou a Lisboa o sr. Manuel Teixeira,
que veio assistir ao funeral de seu pae, O
sr. João José Teixeira.
; E
Está nº’esta villa, o sr. Augusto Henriques
Martins, abastado proprietario d’Agueda e
aqui possuidor da importante casa denomi-
nada «Borralha».
x
Sahiram para Coimbra regressando já a
Figueiró dos Vinhos, o sr. dr. Accacio de
Sande Marinha e sua ex.”2 esposa D. Alice
Hercilia Fernandes Gonçalves.
mu
Tem passado incommodado de saude o
sr. Fernando de Castro Medeiros.
E :
Regressaram já a sua casa do Valle da
Urra, o sr. Joaquim Francisco Tavares e sua
ex.Ӽ familia, que tinham ido a Coimbra as-
sistir a cerimonia do capello de seu filho o
nosso querido amigo Dr. José Tavares.
x
Tem passado bastante incommodado de
saude o sr. Maximo Pires Franco.
Ea
Sahiram para Coimbra e Lisboa o sr.
dr. José Carlos Erhardt e sua ex.”* esposa.
b *
Já estão entre nós, os srs. Antonio Fer-
reira Alberto e Luiz Domingos da Silva, con-
ceituados commerciantes na praça do Pará.
x
Regressou de Pedrogam Grande, a ex.ma
sr.* D. Amelia Moraes David esposa do di-
gno escrivão Simões David.
x
Tem passado incommodado de saude, o
Reverendo João Antonio da Silva, zeloso ca-
pellão da real capella de Nossa Senhora dos
Remedios.
*%
Chegaram hoje a esta villa os grs. An-
gelo d’Almeida Ribeiro, Joaquim Farinha
Tavares e Ernesto de Sande Marinha.
me
Sahiu para Lisboa, o nosso amigo Luiz
Dias, conceituado commerciante.
——opntigpao————
NOUTB DE NATAL
Celebra-se na egreja matriz d’esta fre-
guezia, na proxima noute de Natal, uma
missa acompanhada a grande instrumental
pela phylarmonica Certaginense, que execu-
tará escolhidos trechos de musica, durante
a cerimonia.
Aguardamos anciosos essa noule, para
ouvirmos os poeticos descantes dos ranchos
das aldeias e os tradiccionaes baillaricos que
que têm logar nºessa occasião.
OE DES PE
JOÃO JOSÉ TEIXEIRA
Falleceu no dia 17 do corrente este nosso
velho amigo, escrivão e tabellião d’esta Co-
marca. (Contava 82 annos d’edade.
Era, e foi sempre, um funccionario muito
honesto e zeloso, merecendo dos seus colle-
gas e superiores particular estima. Como
homem, era um cidadão honrado, um cara-
cter independente e trabalhador infa-tigavel.
O seu enterro foi imponente. Acompa-
nharam o finado à sua ultima morada, to-
dos-os funccionarios publicos; e, nas fitas
do caixão pegaram os srs. Dr, Rocha, Gon-
calves, Simões David, Fernando Bartholo,
Leitão e Moura. Conduziu a chave do cai-
xão o meretissimo Juiz Dr. Almeida Ribeiro.
A familia enlutada os nossos pezames.
HERE RE OR SS
MARCO POSTAL
Oleiros, 19. — Esteve hontem
nesta localidade 0 ex.Ӽ gr, conselheiro, dr.
Alfredo de Mendonça, acompanhado do seu
extremoso mano o ex.Ӽ gr. dr. Antonio de.
Mendonça. Veio corresponder aos cumpri-
mentos apresentados por grande numero de
seus admiradores, na sua casa em Alvaro.
Hospedou-se em casa do reverendo P.º Vi-
gario, onde foi cumprimentado pela phylar-
monica desta terra, levando à frente a res-
pectiva direcção e alguns associados e se-
guida de muite povo. Pequena e modesta
homenagem, sim, mas significativa do pra-
zer que nos alimentou a sua visita, depois
d’um longo periodo de trabalhos na magis-
tratura do ultramar. Retirou sua ex. no
fim de poucas horas de demora, ficando seu
ex.”º mano que, com aquella amabilidade é
franqueza que lhe são peculiares, offereceu
um lanche aos manifestantes. Como inter-
prete do sentir unanime dos nossos conter-
raneos reiteramos, a suas ex.” e a sua ex.”a
familia, as nossas cordeaes felicitações, ro-
gando-lhes queiram acceitar o testemunho
do nosso profundo respeito e infinda gratidão.
— Correu a festividade da immaculada
Padroeira do reino com o apparato de que
pode dispôr o recurso da terra. Mais uma
vez admiramos os elevados dotes do reve-
rendo P.º Luiz, das Gesteiras. Com pala-
vra fluente e voz firme enalteceu as virtu-
des da Virgem e evidenciou os perigos
d’uma defeituosa educação materna.
— Consta-nos estar justo o casamento
do sr. Pitta, inteligente guarda-livros do sr.
conde de Valenças, com a prendada menina
Virginia Barradas, da villa do Cano.
€.
7 FOLHETIM
ODIO DE FIDALGOS
Almeida Mendes
-— Querer, é poder, respondeu Vasco, e
portanto não desanimes que os meus calçu-
los não falharão.
— Quem sabe… replicou o outro pas-
seando os olhos pelo céo.
—Sei-o eu é é escusado mais alguem
affirmal-o. Fica isto concluido de uma vez,
amanhã por estas horas estareis postados na
Cruz de-pau que là apparecerei.
O bandido descobriu-se e disse adeus ao
mancebo que ficou algum tempo a medir a
passos largos a esplanada coberta de relva:
Pedro, a quem já custava supportar a immo-
bilidade a que por sua propria vontade se
tinha condemnado, desceu com ligeireza a
muralha e achou-se em pouco na alaméda
por onde começou a dirigir-se para sua casa.
Chegado que era à porta d’esta abeirou-
se de si um homem que lhe entregou uma
carta com um sinête gravado em laçre verde :
rasgou o enveloppe e leu escriptas em ex-
cellente cursivo as seguintes palavras:
«D. Ignacio de Souza Mendes e Albu-
querque que deseja fallar- lhe hoje imprete-
rivelmente às quatro horas da tarde,»
Pedro à hora aprasada subia as alcatifa-
das escadarias do palacio do nobre senhor
e era introduzido sem mais delongas no in-
terior d’um gabinete forrado de séda verde
e ornado de magnifica mobilia por um ne-
grosinho vestido à grega, que se retirou em
seguida fazendo-lhe uma breve inclinação de
cabeça.
Esperou alguns momentos só: depois
abriu-se uma porta lateral, velada por cus-
toso reposteiro e um homem alto, magro,
de faces cadavericas e cujo corpo formava
um semi-circulo pouco irregular appareceu
revestido de uma gravidez affectada e que
tornava excentricos os seus ademanes.
Pedro levantou-se e encaminhando-se com
respeito para o novo personagem ante quem
fez uma rasgada cortezia, exclamou :
— Como está o sr. D. Ignacio d’Albu-
querque ?
— Sempre mal, respondeu aquelle em
voz rouquenha e balouçando-se sobre as des-
carnadas pernas: cada vez pegr… E sobre
tudo isto… desgostos… que me hão de
matar… Sentemos-nos que temos muito
que conversar.
— Estou prompto a escutar-vos.
— Diga-me uma cousa, sr. Pedro, ex-
clamou o fidalgo amarotando uma tira de
papel que conservava entre os dedos, foi o
senhor quem escreveu estas palavras hoje
de manhã ?
E apresentou-lhe o papel onde se lia:
«Eu restituo».
— Não, sr. D. Ignacio.
— Perdão, os factos altestam-n’o.
— Peço-vos que vos expliqueis.
— Esteve aqui esta: manhã, replicou o
velho em voz pousada ; deixei-o só por um
momento: o que n’essa occasião se passou
não o sei, mas O que posso aflirmar é que
quando o senhor se retirou faltavam-me dous
relogios que tinha n’aquelle estojo. e apon-
ton para uma caixinha com embutidos de
tartaruga, que estava sobre uma meza, e em
seu logar encontrei este bilhete. Defenda-se
se póde.
— Sr. D, Ignacio, respondeu friamente
3 mancebo que se aprumara ao ouvir aquel-
as palavras, sei O que quereis dizer; mas
em meu ahono juro-lhe pela alma de minha
“mãe que ainda não pude descer a tão abje-
clo gráo o — de infame ladrão —, que não
pratiquei tal roubo. Sr. D. Ignacio, essa
lettra é minha, não o nego, mas foi-me imi-
tada, não a escrevi eu…
— Isso não me basta, respondeu estoi=
camente o fidalgo.
Neste momento entrava cambaleando
Vasco de Mascarenhas: o seu rosto estava
completamente vermelho coms uma romã,
os seus olhos ambaceados dos vapores al-
coolicos que lhe haviam subido à cabeça.
— Sim… viva 0 vinho… monologava
elle surdamente ao mesmo tempo que se
arremessava brutalmente sobre uma cadeira;
era excellente. .. Oh ! que bonita escada |…
Os anjos… palavra d’honra. .. vou subir…
Levantou-se oscillando sobre os pés que
não queriam tomar o equilibrio, abriu os
braços como O gavião estende as azas quando
quer soltar o vôo e cahiu sobre o pavimento
com todo o peso do seu corpo quasi inerte.
— Eb! eh! eh! rouquejou, como elles
fogem… deixando-me no meio do cami- |
nho… marotos…
D. Ignacio e Pedro ajudaram-n’o a le-
vantar-se.
— Querem saber… fui eu. «« que rou-ou-@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 22 DE DEZEMBRO DE 1898
Caro Ernesto
Permitte-me, que ao partires para essa
pequena excursão, a que chamamos ferias,
te ofereça o modestissimo parto do meu
fraco intellecto a que dou o nome de « Com-
pensações».
Fiado na velha amisade, espero não le-
varás a mal tão exiguo olferecimento.
Umas ferias a trasbordar de alegria é
o que te deseja o teu amigo e companheiro
de casa.
CARLOS THEMUDO.
COMPENSAÇÕES
Ao meu amigo e companheiro de casa
Ernesto de Sande Marinha,
Triste! tristissimo! vêl os partir a todos
replectos de alegria, e com a consoladora
esperança de horas passadas, abraçardes
aquelles que vos são caros, e que, com a
anciedade propria de paes, tios, avós e pa-
rentes, aguardam a vossa chegada, para vos
cingirem em seus braços e compartilhardes
com elles esses quinze dias de satisfação.
Em compensação, porque ao bom se an-
tepõe o mau, aqui ficam alguns, em demi-
nuto numero, é verdade, solitarios, sem af-
fagos, sem caricias ! | :
Uns, porque a ida à sua terra natal é
assaz dispendiosa para os seus parcos re-
cursos pecuniarios, outros porque o mau
caminho anteriormente trilhado os inhibe de
compartilhar em taes venturas |
Certamente, um, talvez o unico d’entre
tantos, a isso é condemnado, porque o co-
ração de pae, é muitas vezes levado a men-
tir, e a ordenar ao orgão encarregado de
reproduzir os sentimentos, que lavre um
verediclum, que elle, o coração, realmente
não dicta, mas que a experiencia da vida,
e o systema de educação mandou ministrar
como correctivo, aquelles que muitas vezes,
e talvez sempre, irreflectidamente mal pro-
cederam |
Triste ! tristissimo ! vêr partir do oasis,
aonde todos florescemos, a sua mais bri-
lhante vegetação, ficando à mercê das tem-
pestades da vida, aquelles, que realmente,
ou no intellecto de alguem, não são dignos
de tão grandes e apreciaveis venturas, sendo
por isso… votados ao ostracismo ! |
E certo que a mão do Creador ao cons-
truir o mundo, pôz n’elle o bom, e o mau,
estabelecendo a lei das compensações, que
tantas venturas prodigalisa a uns, quantas
rouba a outros !
Ide, mocidade esperançosa, ide abraçar
aquelles que vos deram o ser, ou que vos
crearam, e compartilhae com elles as felici-
dades ou as agruras da vida.
Mas, se n’esse curto espaço de tempo
tiverdes desventuras, todos vôs encontrareis
um coração de mãe, de pae, parente, ou
amigo, que vos sirva de linitivo em tão cruel
transe.
Aquelles que ficam, a quem o Destino,
ou mesmo o Creador não visou dignos de
semelhantes confortos, acalentam todavia a
doce esperança que a sorte um dia lhes seja
mais favoravel !
Ilusão, ou não, cumpre aguardal-a com
energia, e afrontar de cabeça erguida os
designios da sorte !
Ide, amigos e companheiros nas luctas
“da sciencia, comei no tão festejado dia do
«Nalal», esse tradiccional bocado de «Perú»
e bebei à saude dos vossos um calix de vi-
nho, que isso será para vós uma indizivel
satisfação.
Se vos lembrardes ainda a tempo, não
esgoteis esse calix, sem ao menos implorar-
des de «Deus» a melhoria de sorte dos que
ficaram solitarios.
As vossas familias desejarão que esses
quinze dias, sejam constituídos de 48 horas
cada, ao passo que nós, seres humanos tam-
bem, e portanto egoistas, ambicionamos a
vossa vinda, porque com ella vem, senão o
total conforto, pelo menos o linitivo, que nos
haveis de ministrar quando nos contardes
as vossas alegrias, venturas ou desventuras,
que echoarão no nosso coração, e d’ellas
compartilharemos,
Ao despedir-vos, as vossas mães choram,
abraçam-vos, repletas de tristeza pela cruel
separação, e nós que vos queremos tambem,
vemos transparecer em o nosso espirito a
alegria de que em breve tambem vos abra-
caremos ! |
vaca a a so E 4 4
Compensações |! |
Coimbra, 18-xrr-98.
SXDADRS
Eu sei d’uns ninhos onde varias vezes
Pela tardinha, quando é d’ouro o sol,
Junctas gorgeiam harmonias suaves
As quaes preside um velho rouxinol;
ecos eras san 0d
Achei-os quando eu era creancinha
Saltando aqui e alem buscando os ninhos;
Quando, gorgeios, a minha alma tinha,
Alegres, como os d’esses passarinhos,
Com elles ledamente segredava
Fallava-lhes das rosas, dos poentes…
E dos astros tambem eu lhes fallaya
E conversando, (ó lucida innocencia |),
— Virgem alva de tranças oirescentes —
Nem uma só palavra se trocava
Entre nós todos que não fôsse santa.
(Comtudo a Terra tem na sua essencia
Mundos de lôdo… se a impureza é tanta…)
Ó Mocidade, tu és tal qual os linhos
Que ao sol expostos perdem logo a côr
E não a alcançam mais…
Tempos d’amor
Eu que eu saltando procurava os ninhos |.,.
Antonio Macieira.
“da previa licença; e, por tal motivo felicita-
favor da caça, tão desprotegida n’este con-
“mais macio nas provincias do levante e sul
Caça
Foi superiormente recommendado aos
srs. Administradores dos Concelhos deste
districto, o maior rigor na fiscalisação das
licenças da venda, uso e porte d’arma.
Eguaes ordens foram communicadas à
guarda fiscal, afim de não consentirem o uso
de porte d’arma sem licença da auctoridade
competente, desde o 1.º de janeiro proximo
em diante. –
Os transgressores destas disposições
ficam sujeitos à multa respectiva e ao pro-
cedimento criminal.
Confiamos no caracter justiceiro e recto
do digno administrador deste concelho, para
em breve vermos’ debellado o abuso de se
caçar no tempo defeso, auxiliado pela falta
mos os afficcionados, pela protecção, embora
indirecta, que as auctoridades dispensam a
celho.
— espe
Previsão do tempo
Escolastico faz a seguinte previsão do
tempo com relação à segunda quinzena de
dezembro:
Por effeito dos temporaes de neve rei-
nantes na Europa central sentir-se-ha uma
temperatura pouco agradavel até o dia 18,
especialmente no norte de Hespanha.
De 18 a 20 cahirão bastantes nevadas
nas serras e cordilheiras mais altas, assim
comô nas regiões proximas a estas.
De 20 a 24, o thermometro baixará,
preparando-se uma nevada geral, cujas avan-
adas se farão sentir em toda a peninsula,
apresentando-se o ceu coberto de nuvens é
soprando o vento de noroeste.
Em seguida até 26, alternarão as chuvas
com as nevadas, particnlarmente nas regiões
de maior altitude.
De 26 a 28 continuará baixando o ther-
mometro, que chegará a 12 graus abaixo de
zero nas provincias que ficam ao norte.
De 28 a 30 o tempo muda por effeito de
uma depressão no Mediterraneo, tornando-se
da peninsula. Mas, com o dia 31, reappa-
recem os ventos frios, generalisando-se as
nevadas e preparando um janeiro frio e
agreste.
Crime de alta traição
Os jornaes de Madrid chegadas hontem
publicam telegrammas de Paris, narrando
um acontecimento da maior gravidade.
O juiz instructor, sr. Flory, começou a
instruir um processo que ha de causar no
publico a maior impressão.
Trata-se de um crime de alta traição,
de indole analoga à do que se attribuiu a
Dreyfus.
Um soldado de infanteria de linha, de
guarnição na villa de Givot, foi subornado
e comprado por espiões estrangeiros, aos
quaes deu a conhecer a nova espingarda
adoptada em França.
Os agentes internacionaes copiaram mi-
nuciosamente todas as peças da arma, ti-
raudo photographias das mais importantes.
Como chamasse à attenção dos seus che-
fes a grande porção de dinheiro de que dis-
punha o soldado, começaram as averiguações,
descobrindo-se que eram muitos os agentes
que, tanto em Paris, como nas provincias,
tentavam adquirir espingardas e munições.
Instaurado o processo com o maior se-
gredo, o juiz instructor conseguiu saber va-
rios nomes de pessoas compromeêttidas e
ordenou a sua captura.
No caso estão implicados já um militar
e quatro paizanos; suppõe-se, porém, que
são em muito maior numero os criminosos,
porque teem sido feitas muitas prisões.
O sr. Flory tem sido muito felicitado
pelos seus chefes pelo importante serviço
«que acaba de prestar ao exercito.
Atravez os gelos
Para transportar atravez Os gelos os trens
de caminhos de ferro, sobre as aguas gela-
das do lago Baikaj, o governo russo mandou
construir um navio gigante, um jerry-boat
de proporções extraordinarias..
Este monstro metalico foi desmontado e
conduzido, peça por peça, para os confins
da Asia, Dizem-no capaz de partir facilmente
as Camadas de gelo da espessura de 4 me-
tro e 14 centimetros, podendo ser collocados
vinte e cinco wagons dentro delle.
No proximo anno os selvagens Bourria-
tes, assentados nas margens do Baikal po-
derão contemplar as evoluções d’este Lévia-
than europeu.
E note-se que apesar das incalculaveis
despezas causadas por tantos trabalhos, o
preço dos logares na via ferrea siberiana é
lres ou quatro vezes menor que nas vias
ferreas do Occidente da Europa.
Os dramas da loucura
Informações recebidas de Bordeus dizem
que n’uma das ultimas noites, n’um asylo
de alienados dos arredores da cidade, uma
doente da secção das paralyticas que não
podia reter os seus gemidos foi estrangulada
por uma das internadas que dormia n’uma
cama proxima à sua,
A delinquente apertou o cordão do seu
avental em torno do pescoço da desditosa e
depois metteu-lhe a cabeça debaixo do tra-
vesseiro.
À enfermeira encarregada da sala onde
foi praticado o crime tinha ido ao primeiro
andar, e foi durante a sua ausencia que elle
se commetteu. Quando voltou ao rez-do-
chão já era tarde.
A louca estrangulou a sua infeliz com-
panheira simplesmente porque ella fazia ba-
rulho e não a deixava dormir.
bei… dous relogios. . . coloquei lá um pa-
pel… que tirei a… Pedro… a quem
“odeio… do fundo do… coração…
— Que diz elle? exclamou o fidalgo aper!
tando a cabeça com as mãos. Oh meu Deus-
meu Deus! Deshonrado… e para sempre,
De que me servirão estes cabellos brancos
que não serão poupados pela justa indigna-
ção da sociedade ?
— Sr. D. Ignacio, estou rehabilitado ante
os vossos olhos e promelto-vos sob palavra
d’honra que ninguem saberá da minha bocca
O que hoje se passou entre nós.
— Perdão! murmurou aquelle esten-
dendo a mão ao mancebo que a apertou
convulsamente deixando cahir pelas faces
duas lagrimas que o ardor que n’ellas se
desenhava, seccou. Maldição para elle e
para mim! Oh que infamia, que nodoa para
os meus brazões… Vasco… o filho de
meu irmão… torna-se um bandido… des-
preza todos os preconceitos sensuaes e cava
a sua e minha ruina! Desgraça, desgraça
para nós ambos…
Approximou-se de uma meza e pegando
n’um punhal indio, uivou:
— Vou matar-te, ladrão, vou acabar com
essa vida miseravel que só tende a prosti- |
tuir-se em infames lupanares… Deus?…
perdoar-me-ha… Elle sabe o inferno que
abrasa O peito do pobre velho que nenhuma
mancha ainda avilta…
la a cravar-lhe o punhal no coração, mas
Pedro sustendo-lhe o braço que se ia tornar
assassino e apontando para o ebrio, disse em
tom imperioso:
-— Por sua vez, sr. D. Ignacio, perdão !
ENTLI
. — Diz-me quanto tens é saberei
quanto vales.
Manuel Candido de Souza era um sujeito
obeso, de cabeça fóra do commum e cara
achatada mostrando um todo estupido e só
digno de irrisão.
Emquanto pequeno só tinha o nome de
Manuel, porém, quando se viu envergando
um fato completo de saragoça, uma farta ca-
rapuça e umas chinellas mais proprias para
uma antithese, accrescentou-lhe o — Candido
— e fez-se de véla para o Brazil.
Aportou ao Rio de Janeiro depois de longa
e penosa viagem: com as pernas curvadas |
pelo temor, as faces macilentas pelo mau
tratamento de bordo e pelas lagrimas que
todos os santos dias vertia de seus olhos
semelhava-se a um idiota ou antes a um au-
tomato, que estava à espera de machina
para se mover.
Afinal chegou-se delle um marinheiro do
brigue em que viera e empurrando-o brutal-
mente fel-o andar diante de si em direcção
ao interior da cidade: aqui entregou-o a um
negociante por grosso e atacado, que, fin
gindo não reparar na sua tristeza 0 fez des-
calçar e desbarretar envolvendo-o logo nos
trabalhos mais penosos da casa.
Manuel supportou tudo .com um estoi-
cismo, só proveniente da pouca intelligencia
de que era dotado, por longos annos: tor-
nara-se um plagiario de qualquer avarento
e tinha já um peculiosinho com que esperava,
dizia elle, quando tomava o descanso no meio
dos affazeres, «obter a mão da mulher fe-
dalga da sua terra. »
Não eram de todo desarrezoadas as phan-
tasias do aspirador em miniatura, com ou
sem vergonha o confessemos, porque no se-
culo das luzes não é a primeira d’esta qua-
lidade, que registramos.
Q patrão, como q visse muito atilado para |
as transacções commerciaes, associou o ao
seu estabelecimento e em breve elle se cha-
mava Manuel Candido de Souza: na idade
de trinta e cinço annos era millionario, mas
por mais esforços que empregasse não po-
déra perder aquelle olhar estupido e atalhar
o crescimento pasmoso do seu abdomen.
Conformava-se no entanto e dava graças
à sua boa estrella que o tinha feito subir à
tão alta columna, «de que só faltava altingir
O capitel», resmungava elle, o que equivale
a dizer — comprar um titulo e fazer-se ba-
rão ou visconde — como muitos, que por
ai ha.
Um dia pensou em Portugal e na sua
fedalga, liquida as suas riquezas e, embar-
cando numa galera expressamente fretada;
aportou à Lisboa onde o esperava de braços
abertos e com bastante impaciência — um
habito de Christo —.
A sua admiração subiu a espanto ante
tal maravilha, porém, ainda não ficou con-
tente com esta ascenção : distribuiu. dinheiro
às mãos cheias pelos hospitaes, asylos e de-
mais estabelecimentos de caridade e um dia
acordou ao toque de uma campainha que —
um ululo de barão — vibrava vivlentamente,
Gantintia,ia,@@@ 1 @@@
1
Um ladrão burlado
Ha dias tentou-se commetter um roubo
em Paris pondo-se em jogo meios pouco yul-
gares. i
Já ao fim da tarde, dois rapazes que pu-
xavam um carro de mão, entregaram n’uma
agencia de transportes estabelecida na rua
Saint-Martin um grande caixão que deseja-
vam, fazer partir para Bruxellas no dia se-
-guinte,
Acceite 0 encargo, 0 caixão ficou no ar-
mazem junto a outros, e lá teria ficado toda
a noite se um dos empregado da agencia não
tivesse notado que a tampa d’elle não ajus-
tava bem. Procurou remediar essa inconve-
niencia e sentiu que no caixão se movia al-
guma coisa. Um tanto intrigado com isso,
procedem à abertura della, e viu então que
em logar dos objectos declarados o caixão
continha um individuo: acaçapado com toda
a commodidade compativel com o espaço de
que dispunha.
Preso immediatamente, declarou à policia
chamar-se Henrique Raginel, ter dezenove
annos, e que já havia sido condemnado qua-
tro vezes pelo crime de roubo.
O seu intento ao metter-se no caixão era
passar a noite na agencia de transportes
para forçar o cofre d’ella com o auxilio dos
seus complices, aos quaes se encarregaria
de abrir à porta.
O que os ladrões não sabiam, porém, era,
que, muito embora o seu estratagema não.
houvesse sido descoberto a’ tempo nem por.
isso elle surtiria todo o desejado effeito, pela.
simples rasão de que no cofre… não havia.
quaesquer: valores. ;
Raginel, que foi entregue ao poder ju-
dicial, negou-se:a revelar o nome dos seus
cumplices.
ia dra
Os Carlistas
Dizem de Veneza que D. Carlos tem alli
conferenciado ultimamente: com muitos dos
seus partidarios, e que sustenta uma corres-
pondencia, muito activa. Affirmam tambem
que o governo italiano vae pedir ao preten-
deute que abandone a Italia.
UTILIDADE
“Um bom picado para recheios
Corte-se em bocadinhos uma: porção de
– Carne de porco, 1 kilo, pize-se bem n’um
gral e passe-se a peneiro ; piquem-se e pizem-
se como acima 600 grammas de gordura de
porco e passem se tambem a peneiro; junte-
se este picado áquelle, torne-se a pizar,
deite-se-lhe uma pitada de pimenta, uma noz
moscada, sal suficiente, e ligue-se o melhor
possivel, juntando lhe sumo de-limão.
Fatias de ovos
Misturem-se bem 500 grammas de assu-
-car, 8 ovos, dos quaes só se aproveitarão
5 claras, 4 litro de leite e uma pouca de
baunilha polverisada, colloquem-se sobre
esta mistura fatias torradas muito finas em-
bebidas em manteiga e polvilhadas de assu
car do lado opposto áquelle que se embebe
no liquido. Mandam-se em seguida para 0
orno. E uma sobremeza deliciosa.
—— opniao
SERVIÇO DE DILIGENCIAS
Da Certã à TFhomar (via Serna-
che do Bom Jardim, Valles, e Ferreira do
Zezere). Sahe da Certã às 2h. da t. e chega
a Thomar ás 9 h. da noite; Sahe de Tho-
mar às à da m. e chega a Certã às 12 1/
da tarde.
Da Certã à Proença a Nova.
Sahe da Certã à 1 1/a da t. e chega a Proença
às 5 da tarde; Sahe de Proença às 5 da m.
e chega a Certã ás 9 1a da manhã. Esta
diligencia communica com a de Proença a
Castello Branco.
Da Certã a Pedrogam Pe-
queno. Sahe da Certã ás 2 dat. e chega:
a Pedrogam às 5 1/a da tarde; Sahe de Pe-
drogam às 7 da m. e chega a Certã às 10
da manhã, E
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 22 DE DEZEMBRO DE 1898
KALENDARIO DE DEZEMBRO
Domingo — | k |11/18/25.
Segunda-feira =| à | 12/19/26
Terça-feira == 16 13/20/27
Quarta-feira —| 7 |14/21/28
Quinta-feira 1/8 /15/22/29
Sexta-feira 2/9 /16/23]30
Sabbado 3 [10/17/24/31
Quarto minguante a 6.
Lua Nova a 13.
Quarto crescente a 20.
Lua Cheia a 27.
ERRADO O EDS ee
&NNTUNCIOS
PROCESSO DREYFUS
CARTA Á MOCIDADE
PR
Preço 50 réis
Acaba de sahir do prélo este vibrante.
opusculo dirigido: á’ mocidade academica.
Vende-se nas livrarias.
GUEDES TEIXEIRA
BOA-VIAGEM
POESIA
dita pelo auctor na recita de despedida
do quinto anno jurídico de 97- 98
Preço 200 réis
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Editora.
João Marques dos Santos
FLORES DE MAIO
(Versos)
Um vol. Preço 400 réis.
Vende-se nas livrarias.
Historia dos Juizes ordinarios e de paz
POR
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade de Direito e socio effoctivo
do Instituto de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra.
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Compra-se qualquer porção por bom
preço.
Dirigir-se a
AUGUSTO COSTA
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concernente à sua arte, tanto para esta lo-
calidade como para fóra.
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rega-se de fornecer para qualquer ponto do paiz fogo d’artificio,
com promptidão e garantido acabamento. |
Na sua oficina encontra-se sempre um grande e variado
sortimento de fogo de estoiros, e foi d’ella que sahiu o fogo
queimado nos centenarios: — Antonino — de Gualdim Paes —
e da Índia, — (neste sómente o de estoiros e balõas), cujo
effeito tem sido applaudido pelo publico e imprensa.
Preços sem competencia
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LUIS DIAS
Completo sortimento de fazendas de algodão;
lã, linho e seda, mercearia, ferragens e quinqui-
lherias, chapeus, guarda-chuvas e sombrinhas,
lenços, papel, garrafões, relogios de sala, camas
de ferro e lavatorios, folha de Flandres, estanho,
chumbo, drogas, vidro em chapa e objectos do
mesmo, vinho do Porto, licores e cognac; livros
de estudo e litterarios, tabacos, etc,
Preços extraordinariamente baratos e sem
competencia,
Agencia da Companhia de Seguros Portu-
gal.
| a 1, Praça do Commercio, | a 7
CERTA
Retratos
Tiram-se em differentes tamanhos desde 800 réis a duzia,
garantindo-se a sua perfeição e nitidez.
Encarrega-se de ir tirar photographias a qualquer ponto
d’este concelho, mediante ajuste especial.
Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Com-
| Merci. —GERTÃ.Ã.