O Renovador nº3 28-02-1970

@@@ 1 @@@

 

Ano LI — N.º 3

6 dl

28 de Fevereiro de 1970

D RENDUADOR

SEMANÁRIO DEFENSOR DOS INTERESSES DA REGIÃO FLORESTAL DO DISTRITO DE CASTELO BRANCO — CONCELHOS DE: SERTA, OLEIROS, PROENÇA-ANOVA E VILA DE RE

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:
Rua Lopo Barriga, 5- r/c — SERTÃ — Telef. 131

DIRECTOR, EDITOR E PROPRIETÁRIO:

JOAQUIM MENDES MARQUES

COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO:
my Gráfica Almondina — Telef. 22109 — Torres Novas

en

 

E preciso caminhar para uma Associação
de todos os Produtores de Madeiras

No primeiro número de O
RENOVADOR demos o toque
a unir… de todos os habitan-
tes desta Região Florestal do
Distrito de Castelo Branco.

Era um grito de alerta, tan-
to mais justificado, quanto é
certo que constituindo os qua-
tros concelhos da comarca de

“Sertã, uma unidade económica,
nem sequer estão ainda uni-
dos no mesmo grémio de la-
voura. Não faz sentido que
concelhos de características tão
decididamente florestais, como
os de Oleiros e Proença este-
jam ligados ao Grémio da La-
voura de Castelo Branco, cuja
área principal tem problemas
inteiramente diversos dos da
Floresta.

Nada temos, muito pelo con-
trário, contra o Grémio da La-
voura de Castelo Branco, cuja
acção nos merece toda a con-
sideração. Mas entendemos que
na época em que tanto se fala
de desenvolvimento e planea-

 

Condições
de Assinatura

VIA NORMAL

Portugal Continental
e Ultramarino, Brasil e Espanha
semestre: 40800
Estrangeiro — anual;
VIA AÉREA
(Pagamento adiantado)
Províncias Ultramarinas
e Estrangeiro — anual: 180$00

Número avulso: 1$50

130800

 

 

 

da nossa Região

mento económico regional, é
preciso começar por agrupar e
unir as regiões onde os pro-
blemas são idênticos, já que,
uma solução parcelar de pro-
blemas é sempre uma fraca
solução.

Mais bem avisados andaram
os comerciantes que, ao orga-
nizarem-se em Grémio, o fize-
ram a nível da comarca, agru-
pando-se os quatro concelhos
da região do pinheiro. E com
os melhores resultados.

Mas, não nos propusemos
neste apontamento, fazer res-
saltar as vantagens da associa-
cão dos proprietários do pinhal
num mesmo grémio da Lavou-
ra. O nosso intuito hoje é outro.
Há que pensar, muito concreta-
mente, numa organização, a
nível regional, para o aprovei-
tamento integral do pinheiro.
Temos andado perfeitamente
ao deus-dará, ao sabor de to-
dos os ventos, deixando que
alguns, de fora, retirem da
área, com grande detrimento
da economia nacional o que
nela se produz, e desperdiçan-
do inglôriamente, o que é tão
preciso para a promoção social
destas populações.

Toda a série de operações
complexas do circuito econó-
mico respeitante ao pinheiro,
precisa ser revista, remodelada,
aperfeiçoada.

Há zonas onde é preciso
plantar as espécies mais apro-
priadas a um rápido desenvol-
vimento. Há matas onde nada
se faz para que o pinheiro cres-

 

Defender a Floresta ?

O RENOVADOR deu-me
hoje, em minha casa, os bons
dias. Foi a sua primeira visita,
uma visita agradável, recebida
com verdadeiro júbilo. Se a sua
roupagem é moderna e atraente,
sem afectação, a sua missão é al-
truista e promissora. Que o seu
entusiasmo e a sua fé não des-
vaneçam, sejam contagiantes e
igualem o daquela jovem france-
sa, que os homens imolaram e
depois santificarem, e que, sem
nada saber de táctica e estratégia
militar, transformou exércitos
vencidos em vencedores.

Ostentando galhardamente co-
mo divisa, em subtítulo — DE-
FENSOR. DOS INTERESSES
DA REGIÃO FLORESTAL
DO DISTRITO DE CASTE-
LO BRANCO — O Renovador
propõe-se congregar todos os es-
forços e elementos válidos no
sentido de transformar a nossa
amada «charneca» num apeteci-
do «oásis», Coloquei proposita-
damente os substantivos charne-
ca e oásis entre aspas, não por
considerar depreciativo o primei-
ro e lisongeiro o segundo, mas
pare. chamar a atenção dos nossos
conterrâneos, pois a nossa região
não pode, intrinsecamente, ser

Bem haja !

apelidada de charneca e os seus
naturais de charnequeiros. De-
tentora de paisagens paradisíacas,
estonteantes e de extreordinária
beleza, a suplicarem aproveita-
mento e divulgação; — com uma
densidade populacional, especial-
mente o concelho da Sertã, no-

ca e se revigore ao ritmo que
a pródiga natureza aqui lhe
confere. Há cortes que são
um crime de lesa-economia. Há
negócios em que um dos inter-
venientes leva a parte de leão.
Há transportes de matéria-pri-
ma a longas distâncias onde se
consome o possível lucro do
proprietário. Há desperdícios
que se ficam pelos terrenos
sem qualquer utilidade.
Continua na 2.º página

 

CERNACHE DO BONJARDIM
NA HORA DA RENOVAÇÃO

A freguesia de Cernache do
Bonjardim tem justificados per-
gaminhos de uma das belas e

 

Presidente da Gâmara
de Proença – a – Nova

Termina hoje o mandato de
12 amos do Sr. Dr. Manuel Ro-
drigues Paisana, como Presi-
dente da Câmara Municipal de
Proença-a-Nova.

Na hora da despedida, O Re-
novador deseja apresentar a
S. Ex: os seus cumprimentos
testemunhando-lhe a sua admira-
ção e apreço por um mandato
pleno de realizações a bem de
Proença.

Cumprir um mandato tão lon-
go nos tempos que correm em
que os apelos das populações são
tão prementes e a gratidão tão
rara, tem qualquer coisa de mui-
to mérito e valimento.

O Sr. Dr. Manuel Rodrigues
Paisana, que com sacrifício da
sua saúde presidiu abs destinos
do Município Proencense, du-
rante os últimos 12 anos, pode,
pelo menos ter a satisfação de
bem cumprir e de ter contribuído
para um dos períodos mais fecun-
dos da Administração Municipal,
em que sobressaiu a grande obra
de electrificação de Proença-a-
-Nova, Sobreira Formosa e
Montes da Senhora,

Continua na 2.º página (e

Na zona do Pinhal um quartel de Bombeiros

RENOVAÇÃO É

Vrey

Grande fonte de energia… esperando a hora
do aproveitamento industrial do pinheiro…

 

O RENOVADOR

Director:

mais progressivas terras desta
Região Florestal do Distrito de
Castelo Branco.

Colocada nt extremo Sul da
área, mais próxima dos grandes
centros, bem servida de estradas,
oferece, na realidade, boas pers-
pectivas de desenvolvimento, pa-
ra localização de indústrias
transformadoras.

Nos últimos anos, às oficinas
e instalações da Empresa Viação
de Cernache que já dá trabalho
a mais de uma centena de ope-
rários e empregados, sucederam-
-se duas das mais bem apetre-
chadas serrações da área, uma
em plena laboração, há uns cin-
co anos e a outra mais antiga,

Joaquim Mendes Marques
Licenciado em Letras
Professor do Ensino Técnico
Profissional

Conselho de Redacção:

José Antunes
Advogado e Professor

D. Maria de Lurdes
Lopes Fernandes
Professora do Ensino Primário
Complementar

Américo dos Ramos Nunes
Professor do Ensino Primário

Carlos Meireles Girão
Funcionário Municipal

Continua na 4.º página Raul Américo Silva Simões

URGE CONSTRUIR RAPIDAMENTE
À VARIANTE DA ESTRADA NACIONAL N.º 298
ENTRE SERTÃ E OLEIROS

A estrada de maior interesse regional que hoje afecta as
populações de Oleiros e Sertã, é a VARIANTE DA ESTRADA
NACIONAL N.º 238, entre estes dois concelhos.

O referido troço reveste-se de importância muito notável no
âmbito da ligação com os grandes centros.

Construídos doze quilómetros entre Cruz do Fundão e Olei-
ros e, beneficiados alguns pequenos troços no concelho de Fun-
dão, a ESTRADA NACIONAL N.º 238, é a mais curta distância
entre Fundão e Tomar, atravessando uma. zona plena de interes-
se económico, ao longo da Bacia do Zêzere.

Constitui, assim, alternativa de inegável comodidade para
quem, do Nordeste do País, pretenda deslocar-se a Lisboa, a
Coimbra, a Tomar, ou à Figueira da Foz.

Mas, para além deste interesse mais vasto de estrada que
corta em diagonal o CENTRO DO PAÍS, a construção da Varian-
te entre Cruz do Fundão e Oleiros, por Troviscal e Mosteiro, cons-
titui um problema vital para as populações do concelho de Olei-
ros que precisam deslocar-se à sede da sua comarca, SERTÃ.
Vital, muito especialmente para os habitantes da freguesia de
Mosteiro e parte da de Troviscal, ainda hoje emparedados nas
encostas dos seus pinheirais.

A ligação entre Sertã e Oleiros, concelhos da mesma comar-
ca, faz-se hoje por um percurso difícil e, em parte, sinuoso, num
total de 34 quilómetros. »

Com a construção da nova VARIANTE, ficará a distância
reduzida de um terço, com a vantagem de o novo traçado vir a
percorrer-se mais rapidamente, porque seguirá por terreno me-
nos acidentado.

Os habitantes da freguesia de Mosteiro, hoje ainda sem qual-
quer estrada digna desse nome, precisam de percorrer uma dis-

Continua na &º pág.

31 MAR am
ee DEP LER

PROGRESSOGRESSO

 

@@@ 1 @@@

 

Página 2

Defender a Floresta ?

Continuação da 1.º página

tável dentro do distrito de Cas-
telo Branco; — e com uma co
bertura arvense, em que predo-
mina O generoso pinheiro, em
mais de 60% de sua superfície,
a região, dita Charneca, apenas
aguarda, para se converter em
um Oásis, as medidas pertinen-
tes e que estão a tardar. Mas, en-
quanto isso não acontecer, aben-
coada Charneca, vítima da incú-
ria dos homens, mas onde até o
mato é aromático e reclama um
estudo sério para a fabricação
de óleos essencieis, destinados a
perfumarial…

Chamei generoso o pinheiro e
volto e repetilo, Que seria da
nossa região, essencialmente pi-
nígera, se não fora o pinheiro que
a veste todo o ano de verde-ne-
gro? Prefiro não responder a es-
ta pergunta e deixá-la ao sabor
de cada um, que concluirá como
souber ou lhe aprouver.

Perderem-se oportunidades de
se operar uma verdadeira trans-
formação regional, que se não
deu por falta de esclarecimento
e de uma assistência técnica ade-
quada. Oh, se capitais tivessem
sido canelizados, em parte ra-
roável, para uma melhor flores-
tação com o aproveitamento dos
terrenos de tal susceptíveis, e,
ainda, para se obter do pinhei-
ro todo o rendimento e mão de
obra que ele é capaz de ferne-
cer! É preciso utilizá-lo e à sua
seiva, como veículo de uma in-
dústria que fixe os homens à ter-
ra e lhes prodigalize os salários
remuneradores que necessária-
mente têm de refugiar-se noutras
regiões mais favorecidas e que
não sofreram tão acentueda dis-
paridade do desenvolvimento eco-
nómico-social português.

Já repararam na gama de pro-
dutos que nos rodeia e em que
o pinheiro intervém abundante-
mente, quando não único com-
ponente? Desde os sólidos alicer-
ces de habitação, zo tecto que
nos ebriga das intempéries; —
desde o berço que nos embala, à
urna que nos transporta à terra
da Verdade; e, desde o jornal que
pela manhã nos visita, ao botão
da campainha que o anuncia, O
pinheiro existe. São tantos os
produtos, que reservamos esta
matéria para futuro artigo.
“Agora, e para finalizar, um
pequeno quadro respeitante à ex-
tracção da resina. Números tira-
dos do Anuário Agrícola do Ins-
tituto Nacional de Estatística, re-
ferentes ao ano de 1968 e que
demonstram eloquentemente a po..
sição que ocupa no distrito de

 

COMARCA DA SERTA

ANÚNCIO

2.º publicação

Pelo Juízo de Direito desta co-
marca, na execução sumária pen-
dente na 2º secção da Secretaria
deste Tribunal, movida por António
Soares Patrício, viúvo, proprietário,
residente no Pampilhal, freguesia de
Cernache do Bonjardim, contra An-
tónio Martins, casado, comerciante
e industrial, residente em parte in-
certa, com última residência conhe-
cida em Carvalhos, da mesma fre-
guesia, é este executado citado para
no prazo de 5 dias, que começa a
correr depois de finda a dilação de
30 dias, contada da data da segunda
e última publicação do anúncio, pa-

gar àquele exequente a quantia de”

10 936$50 e juros de mora, ou no-
mear, no indicado precesso, bens à
penbora suficientes para esse pa-
gamento e das custas devidas, sub
pena de, não o fazendo, se devolver
esse direito de nomeação ao mesmo
exequente, que diz ser portador de
uma letra comercial, de 5 000$00,
com vencimento em 13 de Outubro
de 1969, e de uma outra letra, de
5 936$50, com vencimento em 11 do
mesmo mês de Outubro, que não fo-
ram pagas na data do vencimento
e de ambas é aceitante o executado.

Sertã, 12 de Fevereiro de 1970.
O Juiz de Direito,
Jorge Lobo de Mesquita
o Escrivão. de Direito,
Emesto Lourenço

 

 

Castelo Branco a floresta, de que
a Sertã é centro indiscutível.

PRODUÇÃO DE RESINA
Portugal Continental

Rendim, Rendim.
Kg. (a) Esc. (a)
4.28

Toneladas Incisões

91.954 44.234,000 2,08

Castelo Branco — distrito

16.492 9.318.000 177 3890
Comaca da Sertã

Oleiros 4.681 2.700.000 1,73 3.920

P. Nova 2.828 1.462.000 1,78 3.960

Sertã 4.872 2.776.000 1,76 4.100

v. Rei 662 397.000 1,67 3.450

 

Totais 13,043 7.335.000 1,735 3.85,75
6) (b)

 

(a) Por incisão.
(b) Média por incisão.

Evidentemente que estes núme-
ros não são exactos, nem se apro-
ximam, sabido que a maioria dos
portugueses, com receio do fisco,
se limita a guardar o dinheiro
dos seus rendimentos. E é pena
que assim seja, pois se o dinheiro
é sua pertença, os números são
da Nação, que bem precisa de os
conhecer para uma nova linha de
rumos. Há que mentalizar a to-
dos desta Verdade e todos lucra-

remos.
M. FLORIM
Lisboa, 16-2-1970.

 

ss.

É preciso caminhãr
para uma Associação

Continuação da 1.º página

Há desorganização completa
na exploração, na comerciali-
zação e transformação da ma-
téria lenhosa.

A mão de obra sem o estí-
mulo de um emprego remune-
rador, certo e com garantias
sociais eficientes, escasseia ca-
da vez mais.

Se, num período curto, os
preços começam a subir não
tarda que por isto ou por aqui-
lo, venham depressa a baixar.
São os proprietários, os únicos
que sofrem as oscilações da
procura e da oferta.

As matas constituem uma
riqueza nacional capaz de equi-
librar a nossa balança de pa-
gamentos e de fornecer às in-
dústrias de celulose, de pren-
sados e de aglomerados de ma-
deira, a matéria-prima de que
necessitam para laborar.

O País não pode, dar-se ao

“luxo de desperdiçar tão impor-

tante elemento da sua econo-
mia.

Estamos certos, por conse-
guinte, de ter total apoio do
Estado para uma associação
válida de proprietários de ma-
tas. Hoje em que tanto se fala
de cooperativas, de agricultu-
ra de grupo, é preciso estar-
mos preparados para, quando
soar a hora da concretização,
darmos o nosso apoio e coope-
ração nesse grande objectivo.

O aproveitamento integral
do pinheiro para a indústria,
implica um plano bem estru-
turado de pelo menos quatro
tipos de fábricas de transfor-
mação: celulose, aglomerados,
prensados e serração ou car-
pintaria mecânica.

Não se fala já do aproveita-
mento da resina, cuja explora-
cão está a passar por uma
grande crise devida à falta de
mão de obra verdadeiramente
aus e técnicamente pre-

Todos estes problemas só po-
derão ter solução bastante, den-
tro duma cooperação a nível re-
gional. É o que estamos a pro-
mover.

José Antunes

 

O RENOVADOR

 

Era uma Vez…

Haverá sempre uma histó-
ria para contar em cada Ne-
tal da Vida…

A minha história de hoje é
real e simples, mas encerra
tanto de ternura que gosto de
a contar.

Personagens: Dois encante-
dores adolescentes, treze anos
em flor, e eu que já vou des-
cendo a encosta da Vida…

Ela alegre, rosto cigano,
longos e lindos cabelos ne-
gros, olhar gaiato, hoje mais
gaiato ainda, deixando adivi-
nhar algo… Era a alegria da
surpresa que trazia e tinha
pressa de mostrar. Beija-me e
entrega um embrulhinho pe-
quenino, delicado, dizendo,
«olhe foi o Menino Jesus que
deixou lá em cesa, gosta!»

Era um lindo lencinho, es-
colhido com carinho, via-se
bem!… e à laia de explica-
ção, «Não agradeça à minha
Mãe foi com o meu dinhei-
rol»… e repetiu gosta… Oh!
se gostei, meu amor, gostei
tanto, tanto da tua delicada
lembrança …E a história con-
tinua…

Vai decorrendo o dia. Te-
nho a consolação da visita
da Família e também des suas
lembranças, e chega o cre-
púsculo. Julgava não ter mais
surpresas, mas eis que o Me-
nino Deus me reserva ainda
outra tão grata.

Umas pancadinhas delica-
das na porta, uma voz agra-
dável e surge a outra perso-
nagem da minha história, um
rapaz vivo, inteligente, cora-
ção de ouro. Sobe a escada,
beija-me é entrega-me um em-.
brulhinho requintado feito nu-
ma papelaria de luxo e, diz:
«espero que goste, escolhi-o
eu, foi lembrança minha…».

Era um livro bom!… Que
mimos, que delicadeza de al-
mas, puras, frescas, quais flo-
res de primavera!

Amiguinhos: Obrigada! Eu
sei a Vossa intenção, quise-
ram suavizar um pouco o
grande vazio deixado por um
amigo inesquecível que partiu
para a eternidade,

E diz-se que a Juventude
está perdida. Protesto!…

A Juventude precisa apenas
de discreto, firme e sereno
amparo.

Maria da Graça

 

28 de Fevereiro de 1970

Tabernas ou Cafés…

Abriu no dia 1 de Janeiro do
corrente ano em Várzea dos
Cavaleiros, um pequeno Café,
muito airoso e bem apetrecha-
do.

Dizem-nos que agora, ao
Domingo, as tabernas se en-
contram às moscas, enquanto
aquele estabelecimento se vê a
regorgitar de gente. Ainda
bem.

Em Vila de Rei, a Câmara
Municipal, por intermédio do
seu dinâmico Presidente, tem
promovido com persistência e
o aplauso geral a remodelação
das tabernas, com arranjos e
ornamentações regionais típi-
cas, à base de calhaus enverni-
zados e rolos de pinheiro.

Estes factos levam-nos a
tecer um breve comentário.

 

Acidente doméstico

Quando se dirigia da cozinha
para uma sala da casa, deu uma
queda a Sr.: D. Ana da Glória
Meireles Girão, esposa do nosso
camarada de Redacção, Sr. Car-
los Meireles Girão.

Da queda resultou a fractura
de uma das pernas, tendo a in-
ditosa Senhora que ser transpor-
tada de urgência a Lisboa onde
ficou internada, após a necessá-
ria operação.

Desejamos-lhe rápido restabe-
lecimento.

A taberna é, ainda hoje, na
nossa Região, o principal pon-
to de reunião sobretudo ao Do-
mingo. Nem sempre limpos,
muitas vezes escuros e até in-
salubres ,estes locais têm vin-
do a decrescer de número pelo
encerramento de alguns. As
exigências da higiene e de ins-
talações condignas, louvâvel-
mente impostas pela Adminis-
tração, tendem, naturalmente a
dificultar a abertura de novos
estabelecimentos do género.

Mas é preciso que estas me-
didas não sejam únicas e que
a Administração seja secunda-
da nos seus propósitos e deter-
minações pelo gosto, colabora-
ção e anseio de todos.

Tantas vezes não é mais ca-
ro, nem menos cómodo ou fun-
cional aquilo que se faz com
boa luz, com muito ar, com hi-
giene e… com bom gosto.

Se assim se fizer, esses lo-
cais de espairecer, serão ver-
dadeiramente saudáveis e não
antros de miasmas e de depra-
vação moral, ou de espectácu-
los poucos decorosos.

Porque se não generaliza o
uso do Café e de outras bebi-
das não alcoólicas que evita-
rão os destroços morais e até
orgânicos que o vinho, bebido
em excesso, produz?

Sejamos modernos e aban-
donemos o primitivismo das
nossas tabernas que não se
harmoniza com as exigências
do século XX.

 

««« De Mulher
Para Mulher…

Neste nosso cantinho, despre-
tencioso, temos para vos oferecer
algumas ideias, sugestões, conse-
lhos, enfim, um sem-número de
pequenas coisas que poderão,
talvez, resolver-vos qualquer pro-
blema familiar, doméstico ou prá-
tico,

Porque não começarmos
criança?

pela

Jamais devemos qualificar adul-
to ou criança deprimentemente!
Muitos Pais, arreliados com os

 

Várieu dos

uma freguesia

Quem hoje visita Várzea dos
Cavaleiros tem certamente a
impressão de entrar num meio
moderno, quase urbanizado,
acolhedor.

De entre as freguesias do
concelho de Sertã, além das
três vilas de Sertã, Cernache
e Pedrógão, é a que mais se
tem actualizado, e a de maior
movimento. Os seus habitantes
são abnegadamente bairristas
e conseguem unir-se para o
progresso da sua terra.

Este movimento tem-se de-
senvolvido sobretudo nos úl-
timos tempos, após o alcatroa-
mento da estrada que, de Por-
tela dos Bezerrins, se dirige
para a sede de freguesia.

O abastecimento de água foi
totalmente remodelado e pos-
to em condições de bem servir,
higiênicamente, as populações.
As calçadas a cubos deram ao
lugar um ar de limpeza e as-
seio.

Os estabelecimentos particu-
lares estão a remodelar-se. A
igreja tem um relógio que cus-
tou 40 000800 e só espera a

Cuvaleiros

que progride

chegada da electricidade, para
entrar em funcionamento.

A electricidade, está, de fac-
to, a chegar. Resolvidos os
problemas da passagem do ca-
bo de alta tensão, com a com-
preensão da maioria dos pro-
prietários, foi pedida a cons-
trução do ramal, à Companhia
Eléctrica das Beiras, já em 17
de Dezembro do ano transacto.
Já se insistiu pela sua execu-
cão rápida. E tudo faz crer
que dentro de dias comecem as
obras.

Um café, inaugurado no dia
1 de Janeiro do corrente ano,
veio demonstrar que têm razão
os que entendem que é a inicia-
tiva que dá vida às terras e

ões rurais.

Que não faria negócio, di-
ziam alguns. Pois, os factos es-
tão a desmentir as previsões
pessimistas.

Dentro de meses breves, Vár-
zea dos Cavaleiros ver-se-á ilu-
minada pela energia eléctrica.
Poder-se-á então dizer que na-
da lhe falta para ser quase
um meio urbano. — (C.)

filhos, classificam-nos de mal-
-educados ou mailcriados! Nem
sonham que se estão qualificando
a si próprios!

Quanta mentirazita inocente dá
origem ao cognome de «és men-
tiroso», dito em berros que ame-
drontam!

Outras vezes é um furtozito in-
fantil que, no silêncio do quarto,
em conversa íntima com o Pai ou
com a Mãe, seria confessado e
devidamente censurado. Mas
quantas vezes o ouvimos acusar
em vozearia estridente: «és um
ladrão».

Os Pais que assim procedem
cometem grave erro. À criança,
tratada deste modo, fica com a
sensibilidade perigosamente afec-
tada, É ofendida na sua dignida-
de e com a confiança em si pró-
pria bastante abalada.

Desta, massa, nascem os maus
filhos — porque se sentem trata-
dos com injustiça e grosseria, —
e os maus irmãos, porque cria-
dos num ambiente onde o respei-
to mútuo não impera, nunca po-
derão amar-se como verdadeiros

irmãos.
ANA

 

0 RENOVADOR

PREÇOS
DE PUBLICIDADE

Anúncios particulares
Uma pág. 1 000800

1/2 pág: 600500
1/4 pág: 300800
1/8 pág: 150800

Minimo para anúncios:
$00

Anúncios oficiais
Cada linha; 2850ficiais
Cada linha; 2850

 

@@@ 1 @@@

 

28 de Fevereiro de 1970

O RENOVADOR

MOSAICO

POR DANIEL GOUVEIA

 

A nova política da Alemanha
Federal, sob a orientação do
chanceler Willy Brandt, de pro-
curar contactos com a República
de Pankov e estabelecer relações
com os países da Europa de Les-
te, incorporados na «Cortina de
Ferro», é relevante.

-A causa remota de todas as
presentes questões mundiais, dos
conflitos díspares, das guerras
aparentemente desconexas que
surgem nos [mais variados pontos
do Globo, é o famigerado e nun-
ca conseguido tratado de paz com
a Alemanha ou a unificação desta.

Esmagada, após duas guerras
totais que ela provocou ou não
quis evitar, esfacelada, dividida,
reduzida a extrema penúria, a
Alemanha Federal está hoje to-
talmente ressarcida com uma das
mais fortes economias mundiais,
uma indústria que enfrenta todes
as concorrências, uma moeda que
ainda há pouco teve de ser reva-
lorizada, uma prosperidade que
causa inveja aos próprios Esta-
dos Unidos. E, por mais para-
doxal que isto pareça, a origem
destes bens está na existência das
duas Alemanhas, por ter liberta-
do, a do Ocidente, do espírito
prussiano que levou Bigmark, há
um século, a desencadear a guer-
ra contra a França — verdadeiro
começo de todos os acontecimen-
tos que se lhe seguiram.

Os sovietes conhecem bem a
força educacional, o tempera-
mento disciplinado e perseveran-
te do povo alemão. Por isso têm-
-Se oposto à reunificação: têm
medo que o anseio da desforra,
que cada germânico alberga no
meis íntimo do seu ser, se volte
contra eles. Terão conseguido o
seu desiderato?

No Liceu Nacional de Garcia
de Orta, no Porto, o reitor Dr.
Adriano Vasco da Fonseca Ro-
drigues, teve a iniciativa de pro-
mover um encontro de encarrega-
dos de educação e professores de
alunos do 3.º ciclo.

São do Sr. Dr. Fonseca Ro-
drigues as seguintes afirmações
proferidas nessa ocasião:

«Pretendia que o seu Liceu não
fosse ermético — não fosse um
binómio entre professor e aluno,
mas um polinómio em que inter-
firam o aluno, o professor, o en-
carregado de educação e a Im-
prensa, porque a Imprensa tam-
bém tem um importante papel a
desempenhar no fomento da edu-
cação cívica e popular.»

Mais adiante disse, dirigindo-
-se aos encarregados de educa-
ção:

«Nenhum professor poderá, por
si, substituir a vossa acção junto
dos vossos filhos.» E

A propósito da severidade, afir-
mou: «A demasiada severidade
inibe os alunos. Muitos pais rele-
gam para os outros a educação
dos filhos e quando os outros lhes
chamam a atenção, eles reagem
brutalmente contra os filhos:
perturbam a paz do lar e nada
resolvem. Este, demasiada severi-
dade traz como consequência
uma fuga de responsabilidade.»

E, antes de concluir, proferiu
o Sr. Dr. Fonseca Rodrigues:

«Para formarmos os vossos fi-
lhos precisamos da vossa colabo-
ração. Dedicai pois um mínimo
de atenção aos problemas dos
vossos filhos e vinde até ao Li-
ceu falar connosco, com os direc-
tores de ciclo, E um ponto que-
ria lembrar: o de evitardes a crí-
tica fácil. O professor pode-se en-
ganar. Quando houver da nossa
parte faltas, venham até junto de
nós discuti-las, em vez de desau-
torizardes os educadores diante
dos vossos filhos.»

“Palavras que deviam ser ouvi-
“das e meditadas, não só pelos que |

estão directamente ligados ao Li-
ceu Garcia de Orta, mas por to-

 

dos, de todo o país, que têm os
filhos em qualquer estabelecimen-
to de ensino.

A morte de José Régio como-
veu profundamente o meio inte-
lectual do país, onde os escrito-
res da sua estatura não são, pre-
sentemente, abundantes.

O fortíssimo poder emotivo da
sua constituição psíquica, venceu
o débil físico daquele Homem,
um retraido por temperamento,
mas extremamente sensível.

Sendo, ou julgando-se neo-rea-
lista, ele tinha um temperamento
de romântico doseado já pela in-
fluência de Eça, caldeado pela es.
cola de Balzac ou mesmo de
Zola.

O poeta dos «Poemas de Deus
e do Diabo», d’ «As Encruzilha-
das de Deus», de «Mas Deus é
Grande», o dramaturgo de «Ja-
cob e o Anjo», de «Benilde ou a
Virgem Mãe», o prosador do
«Jogo da Cabra-Cega», de «Da-
vam grandes passeios aos domin-
gos», de «Uma gota de sangue»
de «Histórias de Mulheres» —
foi, e é, dos escritores mais discu-
tidos, mais incompreendidos, mais
contestados. E

E ele sabia-o.

É muito cedo para se lhe fazer
toda a justiça e para colocar no
realce que merece toda a sua
obra.

 

Estrada Municipal
de Carvalhal Fundeiro

Por portaria publicada no
«Diário do Governo», IL* Série
de 17 de Fevereiro último, foi
concedido à Câmara Municipal
da Sertã a comparticipação do
Estado no montante de
336 100800, como reforço da
verba já concedida pelo Plano
de Viação Rural em portaria
de 17 de Abril de 1969, para
a obra de construção da estra-
da municipal entre a Estrada
Nacional n.º 238 e Carvalhal,
na freguesia de Troviscal —
8.º fase (terraplanagem e obras
de arte entre a Ponte sobre a
Ribeira da Sertã e as povoa-
ções de Carvalhal Cimeiro e
Carvalhal: Fundeiro, na exten-
são de 2964 metros — refor-
co).

 

Tribunal Judicial da Comarca
da Sertã

ANÚNCIO

(1.º publicação)

Anuncia-se que correm éditos de
30 dias, citando António Martins,
casado, comerciante e industrial, au-
sente em parte incerta, com última
residência conhecida no lugar dos
Carvalhos, freguesia de Cernache
do Bonjardim, para, no prazo de 10
dias, findo o dos éditos e a contar
da 2.º publicação deste anúncio, pa-
gar ao exequente Aníbal Coelho,
casado, motorista, residente
vila da Sertã a quantia de 115 200800
juros vencidos e vincendos, ou den-
tro do mesmo prazo, nomear bens à
penhora nos autos de execução or-
dinária, suficientes para esse paga-
mento, sob pena de se devolver esse
direito ao exequente.

Sertã, 14 de Fevereiro de 1970.

O Juiz de Direito,
Jorge Lobo de Mesquita.

O Escrivão de Direito, –
Carlos dos Santos Fazenda

 

Terreno para Construção

Vende-se na Vila de Sertã,
situado entre a Câmara Muni-
cipal e o chalé que foi do fa-
lecido dr. José Nunes e Silva.
Tratar com Aníbal Coelho —
Sertã.

 

Foi inventada e aperfeiçoada
uma máquina fotográfica atómi-
ca, cujos neutrões podem etra-
vessar superfícies opacas, detectar
narcóticos em recipientes metáli-
cos, denunciar a presença de bom-
bas, revelar objectos invisíveis aos
Raios X, examinar zonas doentes
do corpo humano e tirar fotogra-
fias.

É um trabalho do cientista
norte-americano John Cason da
«Battelle . Northwest Research
Agency», que utilizou o Califor-
nium – 25 cujo preço actual é de
um milhão de dólores por cada
miligrama. Cerca de vinte e nove
mil contos: da nossa moeda. Es-
pera-se, contudo, que, dentro de
dez anos, à medida que a sua pro-
dução for aumentando, o seu pre-
ço baixe para dois ou três mil
dólares.

O aparelho pesa quarenta e
cinco quilos. É desnecessário real.
çar o valor desta descoberta que,
além do impulso que vem dar à
medicina e à cirurgia, pode evitar
e frustrar muitos crimes. Por mais
dispendiosa que seja, ela torna-
-se eficaz nesta época em que
as armadilhas, as ciladas e as
emboscadas são armas correntes.

Os desastres de viação conti-
nuam a enlutar o País numa fre-
quência que causa pavor. Todos
os dias noticiam os jornais cho-
ques de automóveis, que ficam
completamente destruídos, atro-
pelamentos que ceifam vidas pre-
ciosas, acidentes nas passagens
de nível, por vezes de conseguên-
cias horripilantes.

A parte causas fortuitas, im-
previsíveis à natureza humana, a
culpa, na esmegadora maioria dos
casos, cabe exclusivamente à in-
consciência, à leviandade dos
condutores e dos peões. Um de-
lírio de velocidade, tantas vezes
desnecessário, uma vaidade estul-
ta de querer ultrapassar os ou-
tros, um desrespeito, um desdém
pelo que determina o Código, pe-
las regras mais elementares de se-
gurança que saltam aos olhos de
todos, são os fautores destas au-
tênticas calamidades. E também
os transeuntos que se lembram
de atravesser a rua ou a estrada
no preciso momento em que o
automóvel vai a passar. Dir-se-ia
que é a atracção do perigo:
«abyssus abyssum invocat».

Tudo se pode resumir na fal-
ta de educação cívica colectiva.
Ne verdade, muito se tem feito
neste sentido, quer através da im-
prensa, quer da rádio, quer da

. V. Mas chega-se à conclusão
de que não é bastante. Tem de
teimar-se incansâvelmente nesta
campanha, a todo o momento,
sem desânimo, na escola, desde
as primeiras aulas, em casa, em
todos os lugares. Tem de haver
uma insistência perseverante, que
nunca esmoreça. Água mole…

O Dr. Walter Jacob, médico
chefe da Clínica Universitária de
Neurocirurgia da Universidade
de Munich (Alemanha), anun-
ciou a criação de um «Banco de
Nervos», dispondo de nervos de
comprimento e resistência dife-
rentes, tirados de cadáveres e
conservados segundo um novo
método de congelação a seco.

Depois dos «bancos de olhos»
e outras «despensas» de órgãos
ou tecidos humanos (nomeada-
mente — do sangue), vem este
novo «Banco de Nervos» atestar
o muito que a Medicina tem fei-
to, e conseguido, para aliviar o
sofrimento humano, em todas as
suas manifestações e aspectos.

É um campo de permanente ac-
ção, sempre em progresso mas
cujo fim é inatingível. À panaceia
universal, da Idade Média, está
cada vez mais longe de ser rea-

lidade.

QUADRANTE

Página 3

DOS NOVOS

 

POP 1

A MÚSICA DOS NOSSOS DIAS
INFLUÊNCIA DA ÉPOCA,
DO TEMPO E DA SOCIEDADE

Um pouco de música, da mú-
sica dos nossos dias, talvez não
vá cair mal no nosso Quadrante,
pois não?

Sem grandes pretensões, claro
estã, vamos hoje falar dele, da
POP MÚSICA.

Quem é o jovem que não anda
a par da música moderna, que
não gosta das mais recentes gra-
vações do seu ídolo, que não
gosta de ouvir um Tom Jones,
Ottis Reding, Areta Franklim,
Salvatore Adamo, e que não trau-
teia as suas mais recentes melo-
dias, que não tem um ou outro
género de música que mais lhe
agrada?

Por isso, este tema será aqui
abordado, sempre que surja uma
oportunidade.

Nos nossos tempos já passá-
mos pelo rock, twist, lenk, rythm-
-blue, soul, folk, enfim, tantos ou-
tros, todos de ritmo diferente, mas
sempre relacionados com os temas
de momento.

Mas, para haver alteração, te-
rá de haver uma, ou mais influên-
cias a provocá-la.

A música de hoje também as
sofre.

E há três influências muito es-
peciais: a época, o tempo e até a
própria sociedade.

Em primeiro lugar, qual a in-
fluência da época? É grande. A
música é para todos, e assim, ex-
prime o pensamento do homem
que a criou, relativamente aos
outros, tendo por fundo os assun-
tos históricos, o modo de vida, a
reacção social que a época atra-
vessa,

Que temos, precisamente nos
nossos dias? Idas à Lua, reacções
e guerras entre os povos, novas
ideias, novos ideais.

Pois então não são estes os
temas das melodias de hoje?

A segunda influência é a do
tempo: a evolução da música po-
pular, é lógico, é paralela à evo-
lução do tempo.

O criador de uma composição
integra-se melhor nos problemas
do tempo, aperfeiçoa a sua ma-
neira de compor, em relação à
cultura de quem a ouve, e até
dos que a executam, porque, com
nova técnica, novo modo de in-

terpreteção, eles dão uma evo-
lução notória, sob todos os as-
pectos, à expressão musical.

Sumãriamente, é esta a influên-
cia do tempo na evolução da mú-
sica.

A sociedade será a última in-
fluência, mas note-se que não se
fez qualquer escala e, assim, tan-
to poderia ser a primeira como a
última.

A sociedade musical, ou sejam,
autor, instrumentistas, intérpre-
tes, estã integrada numa socieda-
de universal, e, assim, é força-
da a viver os seus problemas, os
seus vícios, o seu modo de vida,
as suas tendências, as suas reac-
ções, tendo, pois, factos bastan-
te inesgotáveis, mesmo, para a
criticarem ou enaltecerem.

Actualmente, que mais ouvi-
mos?

Um movimento enorme de ba-
ladas, com temas, ou políticos, ou
de amor, e tentos outros, e além
disso, os fabulosos Espirituais Ne-
gros, tudo isto a mostrar o sen-
timento de uma juventude que
pretende mostrar-se, que quer ser
escutada e ouvida.

R. Américo

ad

Folha Caiída

Folha caída

E sonho desfeito
Quimera roubada
Buspiro sózinho.
Folha caída
Prelúdio de morte
Vida que acaba
Desejo que morre.
Folha caída

Beleza de Outono
Folha de Novembro
Caída na rua.

Folha caída

Lenda que se desfaz
Harpa que não toca
Crença que fenece.
Folha caída

É minha vida jovem,
Gasta, sem viço,

É minha amargura
Carpida no poente!

Elisabeth

 

Lês o jornal da tua terra? En-
tão devo dizer-te que lês o teu
jornal. Sim! Teu, porque um
jornal como O Renovador conta
com a tua e a minha colabora-
ção. Ele é uma carta semanal
para todos os nossos vizinhos e
amigos que vivem distantes uns
dos outros. Assim poderás ser
colaborador de O Renovador en-
viando motícias, tuas críticas,
desejos e aspirações, para q re-
dacção do nosso jornal. Aqui
uma equipa juntará as tuas no-
tícias às de outros e elaborará
uma carta, colectiva que há-de
ir ter a todas as mãos de quan-
tos forem amigos da sua terra
natal.

O Renovador precisa da tua
e minha colaboração para que
ele seja um elemento de ligação
entre todos os que outrora brin-
caram amimadamente e em co-
munhão nos páteos ou largos
das escolas desta vasta região.

Este cantinho do centro de
Portugal, agrupando os quatro
concelhos da zona da floresta,
pode ser melhor; aquele que iu
e todos nós desejamos, mas é
preciso que nós nos unamos e

 

LEITOR

“lutemos com uma única frente,

não perdendo o tempo em que-
velas de soalheiro, mas pondo e
expondo os nossos problemas,
desejos e aspirações livremente
e em comum para que possam
ser do conhecimento dos nossos
governantes e dos Corpos Ad-
ministrativos. Para que estes no
desempenho das suas junções
possam elaborar um plano e exe-
cutá-lo na certeza de que estão
trabalhando senão de acordo com
todos pelo menos de acordo com a

Ee

E assim que queremos a tua
colaboração, Ser um leitor asst-
auo já é bastante, mas sê tam-
dém um colaborador como és
leitor.

Todos podemos e devemos fa-
ger as nossas críticas, porém
críticas que não desfaçam ini-
ciativas, mas que as ajudem e
amparem, na escolha o melhor ca-
minho e sua realização.

Leitor amigo, não esqueças
que O Renovador, é vida, unido
e progresso, e que tudo depen-
de de todos nós.

A. R. Nunes

@@@ 1 @@@

 

Página 4

O RENOVADOR

Postal de Oleiros

Santa Casa da Misericórdia

Com o falecimento do Sr. An-
tónio Martins da Silva, usufru-
tuário da doação feita por sua
irmã, D. Maria Augusta Mar-
tins da Silva, à Santa Casa da
Misericórdia de Oleiros, esta
Instituição entrou na posse
plena daquele legado, proprie-
dades rústicas e urbanas, a
que se atribui a estimativa de
cinco mil contos.

Panorama Comercial da Vila

Ultimamente, o aspecto dos
estabelecimentos comerciais da
Vila de Oleiros melhorou bas-
tante.

Já se vêem montras visto-
sas aqui e ali.

Nota-se que os comerciantes
tendem a melhorar os seus es-
tabelecimentos, tanto no as-
pecto, como higiênicamente.

O sr. José Maria Viriato da
Silva, por exemplo, remodelou
completamente a sua casa co-
mercial.

Não esteve com meias medi-
das. Foi de bota abaixo!…

Sim senhor. Mas a coisa re-
sultou.

E, agora, a montra larga,
os mármores e os azulejos da
fachada do seu estabelecimen-
to, estão ali, muito singelamen-
te, mostrando que a iniciativa
particular pode, em certa me-
dida, contribuir para o embe-
lezamento de uma Terra.

Novos Estabelecimentos

A firma Martins & Lamei-
ras, a maior empresa comer-
cial desta Vila, vai ampliar
as suas instalações com a aber-
tura, em dependências próprias,
de uma secção de electro-do-
mésticos.

O sr. António Barata Antu-
nes («o António da Loja») vai
também ampliar as suas insta-
lações comerciais, abrindo um
novo estabelecimento de fazen-
das, mercearia fina, etc.

As instalações estão em
obras.

RONDA PELAS
FREGUESIAS

A debandada dos emigrantes…

A nossa ronda de hoje, não
é ronda… é via sacra, com pe-
quenas paragens, aqui e ali,
por ruas, estradas e caminhos,
ao longo das doze freguesias
que-constituem o Concelho.

Caminhada silenciosa, toda
tristeza, toda amargura.

É que, com a chegada das

 

UM RECANTO

andorinhas, triste contraste,
começou a debandada dos emi-
grantes, que vieram passar o
inverno às suas terras.

Povoações há, neste conce-
lho, onde só ficam mulheres,
crianças e um ou outro ho-
mem menos apto ou já pesado
em anos.

Os válidos partem todos.

Pasmamos!…

Não sabemos que sortilégio
os impele, desta maneira, além-
fronteiras!

Neste concelho já se paga

DE OLEIROS

cento e vinte escudos diários a
um pedreiro.

Não sabemos porque partem!
Nem o motivo que os leva a
entusiasmar outros a partir.
Sabemos sômente, ao vê-los
partir assim em debandada,
quando as andorinhas chegam
com os seus alegres chilreados,
que o nosso coração se aperta
e sentimos uma vontade
enorme de chorar!

Deus os acompanhe. E os
traga, a todos, aos seus lares,
no próximo NATAL!

 

Sertã continua à espera
de uma Pensão digna
da sua categoria

Há mais de dez amos que se
vem lutando pela criação na
Sertã de uma pensão de 20 a
30 quartos.

Não têm faltado as sugestões
e, até, esboços de concretização

um ou outro plano com
maior viabilidade. No entanto,
a triste realidade é que se es-
pera indefinidamente, com pre-
juízo do bom nome e do con-
ceito de tradicional hospitali-
dade da nossa boa gente.

Porquê?
B difícil escalpelizar um fe-
nómeno tão complexo como o

destas frustrações.

Será a terrível «pecha» do
«bota-abuixo» logo que qual-
quer ideia nova surge nesta
terra? Será a falta de meios
financeiros da parte de quem
pode dispor deles? Será a pou-
ca certeza da rentabilidade do
capital a investir? Será a fal-
ta de espírito de iniciativa e

concretização de ideias? Será a
falta de entusiasmo pelas coi-
sas da nossa terra?

Talvez de tudo um pouco.

Mas os factos aí estão, nus

e crus.
A Sertã não tem, presente-
mente, uma pensão digna da
sua categoria. Apesar de ser
o aglomerado urbano mais im-
portante de Castelo Branco a
Coimbra e à Tomar, uma dis-
tância de pouco menos de 150
quilómetros.

Sabe-se que a indústria ho-
teleira é das mais rentáveis,
nestes tempos de viagens e tu-
rismo em que tudo se percorre
e se visita.

Entroncamento bastante com-
plexo de estradas, uma boa
pensão na Sertã tem frequên-
cia assegurada e, consequente-
mente, boa rentabilidade, des-
de que os seus serviços se or-
ganizem convenientemente.

Sab que, mais uma vez,

 

Notícias da Casa da Comarca
de Sertã em Lisboa

Realizaram-se nesta Casa Re-
gional os tradicionais Bailes de
Carnaval. :

Apesar de os tempos não irem
propícios à folia, os sócios acor-
reram em elevado número até
hoje nunca atingido. A iniciativa
foi mais uma vez, um êxito com-
pleto. Os encargos eram bastante
superiores abs do ano anterior,
mas chegou-se ao fim com saldo
positivo, o que não se esperava.

Dançou-se animadamente, to-
das as noites. No Domingo Gor-
do houve tarde infantil, Muitas
crianças. Distribuiram-se brin-
quedos: Houve palhaços, o en-
canto da pet’zada.

Os bailes foram abrilhantados
pelo conjunto musical «Os Bam-
binos»,. aos quais se deve, em
boa parte, o êxito das Festas.

Como é tradição, fez-se no Sá-
bado da Pinhata, b enterro do
Carnaval, com leitura de teste-
mento e tudo… Momentos agra-
dáveis de bom humor!…

Foram admitidos mais os se-
guintes sócibs: José Silva Do-
mingues; João Graça Rosa; José
Lourenço – Júnior, cap. António
Gaspar e José Barroso Júnior.

A nova Direcção deverá to-
mar posse na 1? quinzena de
Março. A data, porém ainda não
está definitivamente marcada.
Na mesma noite será discutido o
Relatório da gerência da Direc-
ção cessante, presidida pelo Sr.
Dr. Manuel Farinha da Silva.

A bolsa do estudante pobre
que foi o sonho das últimas Di-
recções, fechou com a bonita so-
ma de cem mil escudos. — (C.)

[ sao PA censura |

surge uma oportunidade para
a instalação dessa tão ansiada
pensão.

E preciso que não vamos
desanimar ou desiludir os que
estão dispostos à concretização
da ideia. Que todos os que po-
dem lhe dêem o seu apoio mo-
ral e material, conscientes de
que o ideal se não atinge e
também desta verdade comezi-
nha: «o óptimo é inimigo do
bom». Vamos para a frente.

O ii

21 de Fevereiro de 1970

RUMO AO MAR…

Organizada pela Direcção do
Distrito Escolar de Castelo
Branco e custeada pelo Ministé-
rio da Educação Nacional de
acordo com a verba destinada
pelo III Planto de Fomento, teve
lugar nos passados dias 5 e 6
uma excursão de alunos das es-
colas primárias do Distrito.

Nela tomaram parte, apenas
alunos da 32, 4º, 5º e 6º clas-
ses de algumas escolas.

Da nossa vila coube a sorte
a 10 crianças: 5 do sexo femini-
no e 5 do masculino. Uma das
camionetas que saiu de Castelo
Branco, passou pela Sertã cerca
das 9.30, e recebeu os nossos
excursionistas.

As crianças partiram alegres
e sorridentes, rumo à Figueira da
Foz, muitas delas desejosas de
conhecer a imensidade do Ocea-

no. De caminho visitaram a Bar-
ragem do Cabril, b castelo de
Penela; em Coimbra, a Universi-
dade, a Sé Velha e Nova, a
Igreja de Santa Crurz e o Por-
tugal dos Pequeninos.

Jantaram e pernoitaram na
Pensão Peninsular da Figueira
da Foz. No dia seguinte, visita-
ram esta cidade e o seu porto,
uma fábrica de vidros, etc.

De regresso, as ruínas de Co-
nimbriga, e a Barragem da Bou-

çã.

Chegaram à Sertã pelas 20.30.

As crianças que foram acom-
panhadas pelos Srs. Delegado
Escolar de Castelo Branco e sua
esposa e ainda pelo Adjunto do
Delegado, mostraram-se viva-
mente satisfeitas e guardam as
mais gratas recordações destes
dias.

MAGDA

 

Urge construir rápidamente
a variante da Estrada Nacional n.º 298

Continuação da 1.º página

tância de quarenta quilómetros, para se deslocarem à sede da sua

comarca.

Com a VARIANTE construída, percorrerão apenas de-

zoito (!).

É, pois, da maior urgência a elaboração do projecto já ini-
ciada, e a sua rápida inclusão em planos estaduais.

Mas, que o projecto se faça com início em Cruz do Fundão
e não em Selada da Lameira, como chegou a prever-se.

Entendemos ser um erro muito grave, o entroncamento em
Selada da Lameira, não tanto por motivos de carácter local e de
benefício para dois terços da freguesia de Troviscal, que, no en-
tanto, não são de desprezar, mas por razões referentes à própria
característica de estrada nacional.

E que o traçado de Selada da Lameira importa o corte de
trincheiras muito mais profundas, e, consequentemente, encarece
muito mais a sua construção. Importa a proximidade de outra
estrada nacional (a n.º 350), que, num grande troço, atravessa
zonas desérticas. Importa um traçado com maior sinuosidade e
implicações de estrada de montanha com nevoeiros espessos no

Inverno e mesmo neve.

O desenho por Cruz do Fundão e Troviscal evita aqueles in-
convenientes óbvios com a vantagem de servir numerosas povoa-

ções dispersas.

ALVARO SOBRAL

 

CERNACHE DO BONJARDIM

Continuação da 1.º página

mas em plena fase de expansão
e remodelação, de há pouco tem-
po a esta parte.

A estas duas indústrias de di-
mensão já digna de nota, acres-
ce agora uma outra do mesmo
tipo, para extracção de óleos es-
senciais, a partir da rama do eu-
caliptt.

A Empresa Viação Cernache,
cujo quadragésimo aniversário
se celebrou recentemente, é um
dos factores imprescindíveis na
dinâmica económica regional, A
expansão e progresso da área
reflecte-se nela como num espe-
lho.

Desde os tempos remotos em
gue o Sr. Libânio Vaz Serra lan-
çou as primeiras camionetas que
substituiram as ultrapassadas
carroças do Praxedes, quanto se
avançoul!… Hoje é uma indústria
bem organizada e que satisfaz
as necessidades da Região. Cer-

 

Centro de Assistência de Cernache do Bonjardim.

Obra ímpar de promoção humana

nache deve-lhe grande parte da
sua actividade e do seu movimen-
to. A Região deve-lhe muito.
Pois, que progrida…

As serrações de José Nunes
Pinhão e Freitas Lopes ampla-
mente mêecanizadas, empregam
hoje, ao todo, centena e meia
de operários e têm das mais mo-
dernas instalações do género, na
área.

A moderna fábrica de extrac-
ção de óleos essenciais da Em-
presa Serol, Lda., já em fese de
laboração experimental, vem dar
a Cernache uma nova dimensão
industrial.

Aproveitando a rama de eu-
calipto que tanto abunda na zo-
na, pode vir a vaibrizar ainda
mais aquela árvore, já razoâvel-
mente rentável, nos últimos tem-
pos.

Assim, a vila de Cernache, em
cujos arredores se encontram
instaladas aquelas indústrias, é
hoje um pequeno meio fabril,
com características diferenciadas
do ambiente rural da Região.

É preciso agora que a agri-
cultura e a pecuária acompanhem
este assinalável surto industrial,
organizando-se quanto antes,
uma associação de proprietár bs
de média dimensão empresarial,
no intuito de darem à fruticultu-
ra que tão boas promessas vem
oferecendo, o impulso e a orga-
nização que exigem as acentua-
das aptidões frutícolas da Re-
gião a Poente da Sertã, desde
Outeiro e Cabeçudo, até a Ca-
sal Madalena, Pampilhal e Ces-
telo,

Têm a palavra o Grémio da
Lavoura de Sertã e Vila de Rei
e os interessados.

J. Antunesntunes