O Renovador nº1 14-02-1970

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Ano I — N.º

 

14 de Fevereiro de 1970

“DRENDUADOR

SEMANÁRIO DEFENSOR DOS INTERESSES DA REGIÃO FLORESTAL DO DISTRITO DE CASTELO BRANCO — CONCELHOS DE: SERIA, OLEIROS, PROENÇAA-NOVA E VILA DE REI

 

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:
Rua Lopo Barriga, 5- r/c — SERTÃ — Telef. 131

 

 

DIRECTOR, EDITOR E PROPRIETÁRIO:

JOAQUIM MENDES MARQUES

 

COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO:
Gráfica Almondina — Telef. 22109 — Torres Novas

 

 

EDITORIAL

Mais um periódico? Não apenas. Pois queremos que as
características essenciais deste jornal sejam precisamente:
— Defesa dos interesses desta imensa região florestal

que se es e desde o Alvito ao Zêzere e desde o Orvalho a
Cardigos. nsequentemente a defesa dos interesses das vi-
las, ald: ovoações, numa palavra, zelar pelo bem geral

da nossa região;

— Ser um elo de ligação entre os que, nascidos neste
rincão da Beira, se encontram ausentes, quer em terras deste
nosso Portugal, quer ainda espalhados pelas sete partidas
do mundo!…

Queremos que este periódico seja a carta semanal da
grande família do sul da Beira Baixa, a entrar nos lares de
todos os que se interessam pela sua terra, pelo seu lugar por
mais pequenino que ele seja…

Queremos fazer a união entre as boas vontades que, por-
ventura, possam andar dispersas, e, apoiados uns nos outros,
construiremos, sem dúvida, uma região melhor no presente
e mais feliz no futuro.

Não criticaremos pelo gosto de criticar e menos ainda
nos deixaremos arrastar para ataques pessoais.

Não estaremos enfeudados a qualquer doutrina. O nosso
lema será precisamente a Verdade, o amor da nossa terra,
das nossas coisas e das nossas gentes e por conseguinte o
engrandecimento da Nação que nos deu o berço.

Saudamos os periódicos da região «A Comarca da Sertã»
e «Notícias da Nossa Terra» com os quais desejamos man-
ter as melhores relações de camaradagem.

Formulamos um pedido que resumimos numa simples
palavra: COLABORAÇÃO. Agradecemos desde já todas as
sugestões válidas, todos os conselhos dos bons amigos e so-
bretudo a manifestação sincera dos verdadeiros interesses

 

tas e tantas vezes esquecido.

 

das vilas, aldeias e povoações deste pedaço de Portugal tan-

Para todos vão as nossas RARO saudações e espera-
mos o vosso acolhimento generoso, oferecendo-vos desde já
os nossos préstimos naquilo em que vos possamos ser úteis.

Contamos com todos vós e despedimo-nos até para a se-
mana e até para sempre, se Deus quiser.

A DIRECÇÃO

 

 

A CASA DA GOMARGA DA SERTÃ

em Lisboa
é uma das entidades mais significativas
no contexto regional da Comarca de Sertã

Realizou-se no dia 1 do cor-
rente no Restaurante de Montes
Claros da gerêncio do nosso es-
timedo conterrâneo, Sr. Ângelo
Pereira, o almoço comemorativo
do XXIV Aniversário da Casa
da Comarca da Sertã, em Lisboa.

Foi uma jornada do mais pu-
ro e bem orientado regionalismo,
onde puderam conviver, perto de
uma centena de sócios com ele-
mentos destecados de algumas
das restantes casas regionais, que
quiseram associar-se à efeméride.

Presidiu ao almoço o Sr. Go-
vernador Civil do Distrito de
Castelo Branco, Dr. Manuel As-
censão Azevedo, que só por esse
facto, emprestou à comemoração
“um brilho invulgar.

Aos brindes falou, em primeiro
lugar o Dr. António Alves da
Cruz, Presidente de Assembleia
Geral da Casa, que após apre-
sentar saudações ao Sr. Gover-
nador Civil e às entidades pre-
sentes, dissertou sobre as activi-
dades da Direcção no último ano,
tendo pala ras de muito agradeci-
mento pela Du.-cão cessante da
Presidência do Dr. *Januel Fa-
rinha da Silva e de estimu. ara
a que, em breve, irá tomar
os seus ombros os destinos da nos-
sa Casa Regional.

PRESA Sc RR

Referiu-se largamente ao pro-
blema do desenvolvimento regio-
nal e à necessidade de planea-
mento das actividades económi-
cas da área, acentuando a neces-
sidade de carreiras diárias de ca-
mionagem em todas as sedes de
freguesia e povoações principais,
para que toda a população juve-
nil da Comarca possa frequentar
a Escola do Ciclo Preparatório e
2 Escola Industrial de Sertã e os
restantes estabelecimentos de En-
sino Secundário ali existentes.

Continua na 3.º pág.

 

Imponente estrutura metálica da Ponte sobre a Ribeira de Isna
na E. N. n.º 2, em construção

(Foto de 7/XII/69)

Por ferras de Vila de Rei…

* A PONTE SOBRE A RIBEIRA DA ISNA ESTARÁ CON-
CLUÍDA PARA ABRIL OU MAIO

* FUNDADA — TERRA DE TRADIÇÕES E ARCEBISPOS
* VILA DE REI — PROGRESSO E BAIRRISMO
* SÃO JOÃO DO PESO E A ESTRADA NACIONAL N.º 244

PELO
DESENVOLVIMENTO
REGIONAL

TOQUE À UNIR…

A Região constituída pelos
concelhos de Oleiros, Sertã,
Proença-a-Nova e Vila de Rei
constitui uma unidade sócio-eco-
nómica bem definida e de carac-
terísticas acentuadamente dife-
rentes das da Cova da Beira e
Campo, no Distrito de Castelo
Branco.

Unidade judicial comarcã des-
de hã séculos, as suas gentes co-
nhecem-se mutuamente e são re-
conhecidas por quantos atentam
nos costumes, na economia re-
gional, na geografia humana e
social do País,

Desde os vales profundos de
Cambas, quase junto à barragem
de Santa Luzia, contornando o
Zêzere a Norte e a Poente, até
“ao Penedo Furado; e desde a
Foz do Giraldo à Ribeira do Al-
vito e à Barragem da Pracana,
pelo Nascente e Sul, fechando o
abraço em redondo, é toda uma
floresta densíssima de pinhal com
155 000 hectares, cujo aprovei-
tamento económico racional e
moderno, aguarda a sua hora.

São 70 000 habitantes disper-
sos por 35 freguesias e cerca de

” 700 aglomerados populacionais.

Desta poeira incrível de po-
voações destacam-se, apenas, as
sedes de Concelho: Sertã com
2 000 habitantes, Proença-a-No-
va com 1 200, Oleiros com me-
nos de 1 000, Vila de Rei com
500. Algumas Vilas de relativo

Continua na 2.º página

 

A REGIÃO

DO DISTRITO DE

Coneblhos; Área População Freguesias
Oleiros 493,12 km2 15553 hab. 12
Proença-a-Nova 424,96 km2 17 552 hab. Di
Sertã 439,88 km2 27 997 hab. 14
Vila de Rei 193,44 km2 7568 hab. 3

Total 1551,40 km2 68 670 hab. 35

A população é referida ao censc de 1960

FLORESTAL

CASTELO BRANCO

 

 

o

DE

UNIÃO E

 

O RENOVADOR

Director:

| Joaquim Mendes Marques
Licenciado em Letras
Professor do Ensino Técnico
Profissional

Conselho de Redacção:

José Antunes
Advogado e Professor
D. Maria de Lurdes
Lopes Fernandes

Professora do Ensino Primário
Complementar

Américo dos Ramos Nunes
Professor do Ensino Primário

Carlos Meireles Girão
Funcionário Municipal

Raul Américo Silva Simões

 

 

 

Tarde morna de Dezembro. O
Sol de Inverno derrete o gelo
acumulado. Aqui e além, pares
de namorados olham-se detida-
mente.

À sinuosidade da estrada até
ao Alto da Junceira, sucedem

Precàriamente, atravessamos a
Ribeira, com água até aos eixos
das rodas.

Que alívio, ao chegar ao ou-
tro lado…

Mas logo nos surge o traçado
moderníssimo do troço da Estra-

 

Jardim Infantil de Vila de Rei, em pleno mês de Dezembro

agora longas rectas até ao Chão
da Telha e à Isna,

A Direcção de Estradas do
Distrito de Castelo Branco ca-
prichou na perfeição do traçado,
na regularização das bermas e
das valetas.

Imponente na sua estrutura
metálica, surge-nos a Ponte so-
bre a Ribeira da Isna, em cons-
trução. Restam apenas uns 20

metros para que os concelhos de

Sertã e Vila de Rei se encontrem
unidos por rodovia moderna.

“Mais uns três meses, e, lá por

fins de Abril ou Maio, será de
vinte minutos apenas o percurso

entre as duas sedes de concelho .

que hoje ainda, estão distancia-
das de uma hora,

fo Nacional n.º 2, que, em me-
nos de 5 minutos nos porá na
Fundada.

Admiramos a imponência das
trincheiras cortadas em rocha vi-
va que poderosos bulldozers ras-
garam recentemente. Fundada
está à vista.

FUNDADA
TERRA DE TRADIÇÕES
E ARCEBISPOS

Sede de freguesia, airosa, afi-
dalgada onde casarões enormes
de poderosos senhores antigos
emparceiram com casinhas bran-
cas onde se acotevelam, em com-

Continua na 2.º página

PROGRESSO

 

31 MA EA E

 

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Página 2

t E +

 

 

LESAL

2204M *31M 0

neem mma

Por terras de Vila de Rei

Continuação da 1º página
partimentos estreitos, as pobres
mobílias dos pobres resineiros e
agricultores. Ali está o quase so-
lar de D. Mateus de Oliveira
Xavier, Patriarca de Goa e a
casa modesta onde nasceu D.
Manuel Nunes Gabriel, actual
Arcebispo de Luanda.

Por todo o lado sinais de pro-
gresso. Electricidade recente.
Ruas revestidas a betuminoso ou
de calçada de calhaus rolados,
da ribeira. Um fontenário de há
poucos anos, jorra água.

No Café, típico e novo,
que substituiu a taberna, vê-
-se o Portugal-Suíça em junio-
res, transmitido pela Televisão.

E o bom Laranjeira, dinâmico
Presidente da Junta de Funda-
da, orgulha-se de receber, no seu
estabelecimento, o forasteiro que
o visita e felicita.

Cá fora, no Largo em frente à
igreja, de traça incaracterística,
uma placa em mármore lembra
que Fundada está agradecida ao
seu esforçado Presidente da Cã-
mara, Joaquim Baptista Men-

es…

E o nosso TAUNUS em bre-
ve rola de novo magnificamente
pela magnífica Estrada n.º 2.

VILA DE REI
«A BELA SERRANA»

Estamos na encosta da Milri-
ça. Espectáculo deslumbrante: —
à nossa direita a imensa massa
florestal, a perder de vista até
à Senhora da Confiança, ao Pi-
coto Rainho, ao Alto do Cava-
lo.

As povoações são pingos de
cal na mancha verde.

Uma curva mais acentuada e
eis-nos numa recta de quase um
quilómetro, de encontro ao Sol
que banha a paisagem de alegria
e calma.

Para Poente, senhoril, peque-
nina, aconchegada no seu outeiro:
— Vila de Rei. Entrámos.

Num morro, a Sul, alastra a
pesada elegância da igreja nova.
Obra de vulto construída recen-
temente, a golpes de persistên-
cia. Para emoldurâ-la, ainda não
apareceu a urbanização apro-
priada, que não faltará.

Perto, o Mercado municipal,
obra de dedicação ‘e solidarieda-
de, construído com achegas de
muitos lados, congregadas pelo
Município. Peguenino, arejado,
funcional, limpo.

Mais além, uma piscina e um
parque infantil, Dezenas de

crianças constroem, distraida-
mente, em baloiços e pedrinhas,
os sonhos de novos mundos e
conquistas espaciais que o seu
futuro lhes trará.

Aqui e ali, placas a lembrar
ao povo distraído, os poucos re-
cursos e o muito amor e carinho
com que tudo foi feito.

Calçadas, electricidade, esgo-
tos, limpeza.

Vila de Rei actualizou-se, em-
belezou-se, nos últimos tempos,
sob o impulso do seu dinâmico
Presidente da Câmara.

O Restaurante típico «Cobra»,
muito arranjadinho, na sua semi-
-cave, dá a nota de bom gosto e
bairrismo que o visitante muito
aprecia.

Acompanhou-nos a amizade do
Dr. António Ponces de Carva-
lho, um «João Semana» de bon-
dade e dedicação. Sempre sorri-
dente e impecâvelmente vestido,
Esguio, saudável, nos seus 85
anos, João Baptista dos Santos
comprova-nos que Vila de Rei
dá optimismo e juventude, João
Barroso e Abílio dos Santos,
dois bairristas que falam da sua
terra como um cavaleiro medie-
val falaria da sua dama.

Apetecia-nos continuar na sim-
pática Vila em amena cavaquei-
ra regionalista. Mas outra fre-
guesia nos esperava, no extremo
Norte do Concelho.

SÃO JOÃO DO PESO
TERRA DE EMIGRANTES

Por estrada municipal asfalta-
da, atravessâmos, em curvas
apertadas, Boafarinha, onde pai-
ra ainda a figura medieval do
velho Fróis. E surge-nos São
João do Peso.

O dinheiro da Venezuela e do

 

O RENOVADOR

Brasil, hoje substituído pelo de
França e Alemanha, construiu
aqui confortáveis moradias, de
jeito tropicial, onde já brilha a
electricidade.

A Casa do Povo relembra o
amor à terra natal da Família
Portela.

Um largo central onde se er-
gue o indispensável fontenário,
aguarda que o Estado e a Cà-
mara tenham possibilidades fi-
nanceiras de o urbanizar.

Acolhedor, afável, desemba-
raçado, Alberto Fernandes, co-
merciante do Peso, dá-nos in-
formações sobre a sua terra:
faz falta uma carreira de camio-
nagem para ligar a freguesia à
sede da Comarca, Sertã.

Apoiamos inteiramente. O per-
curso terá que ser, por enquan-
to, o precário caminho da Porte-
la dos Colos; pelo qual tanto se
tem batido o Dr. Francisco da
Silva Tavares.

Por enquanto sem grande êxi-
to. Mas, quem porfia sempre al-
cança…

O troço de 6 quilómetros entre
Marmeleiro e Peso, da Estrada
Nacional, n.º 244, cujo custo
importará em 12 000 contos,
aguarda a inclusão em planos da
Junta Autónoma de Estradas.
Para tanto, têm lutado denoda-
damente, as Câmaras de Vila
de Rei e Sertã.

A falta desta via, em condições
de trânsito desembaraçado, obri-
gou-nos a percorrer 30 quilóme-
tros para o regresso à Sertã. Por
Marmeleiro, bastar-nos-iam 17.

E lá viemos meditando: — a
facilidade e presteza de comuni-
cações aproxima Os povos e tor-
na-nos mais irmãos e virados pa-
ra O futuro.

Que a Estrada Nacional, n.º
244, ligue Sertã ao Peso, dentro
de poucos anos, são os nossos

votos.
Alberto Junceira

 

 

Proença-a-Nova

Continuação da 4.º página

fontenário convidativo, e, meis à
frente, elegante, a Ponte da
Fróia. Mais adiante, após uma
curva apertada, surge-nos Sobrei-
ra Formosa de fidalgas tradições.

O Pimenta está admirado. So-
breira já não é uma aldeola qual-
quer, perdida na Serra. Não.
electricidade deu aqui entrada
triunfante. A Casa do Povo, com
telescola, é sinal de bairrismo e
progresso. Um café bastante mo-

 

Do Carnaval

de outrora

ao Carnaval de hoje

Passou mais um Carnaval. No
sentido de compreendermos melhor
a vida e os homens, cumpre-nos me-
ditar um pouco sobre esses dias que
passaram, talvez sem que déssemos
por isso.

Há trinta anos, como se festejava
o Rei-Momo na nossa Região? —
Pois, era realmente ele, o Rei, o
Momo, a reinar. As mascaradas,
animavam todas as aldeias da nos-
sa terra. As crianças, os jovens, os
velhos, quantos se mascaravam dos
mais fantásticos farrapos existentes
em casa, se armavam de varapaus
e percorriam as ruas e estradas, aos
grupos, a jogar o Carnaval!… O Car-
naval era realmente um jogo. um
jogo de palhaços, inocente e brinca-
lhão, sobretudo para os jovens €

Para os adultos o jogo era dife-
rente. Era q carnaça infrene, na
mesa lauta, era o vinho a espumar
com abundância em todas as mesas.
Quem mão apanhava uma pielazi-
nha, no dia de entrudo?

– Entrudo, símbolo para os de mais
Je quarenta anos, de comesaina gros-
sa, de farto almoço e farto jantar
de carne. Matara-se o porco, havia
pouca O melhor bocado ficara para
o Entrudo.

Nas vilas as crianças divertiam-
-se lançando serpentinas de um la-
do ao outro das ruas. O Sol apeti-

toso de Inverno fazia-as rebrilhar
e q brisa ondulava-as num bdaloiço
que era o encanto da petizada.

Pela vida fora, aquele ondear
suave, lembrava a saudade terna dos
primeiros anos da nossa aldeia.

Que resta desse Carnaval, no ho-

“mem sisudo da década de setenta?

Muito pouco. O Carnaval quase
deixou de ser a festa mais popular
de todo o País, de Norte a Sul. Re-
fugiou-se nas salas de espectáculos.
As pessoas como que têm vergonha
de se mascararem dos garridos far-
rapos de outrora. Nas estradas e
ruas são muito mais raros os gru-
pos de crianças e jovens envolvendo
o pacífico transeunte na sua teia de
paródia. E até as crianças têm re-
ceio de lançar de um ao outro lado
da rua as serpentinas ondeantes.
OContentam-se com lançá-las em ca-
sa, de uma janela para a outra…

As grandes comesainas estão qua-
se reduzidas à frugal refeição de um
dia normal.

Foi-se o Entrudo. Ficou o Carna-
val do feriado que ainda se guardo,
mas já a medo. A televisão começa
a entrar pelas aldeias. O café es-
paçoso substitui a taberna escura
e só os mais antigos apegados à vi-
nhaça celebram ainda, com Baco,
a festa do Rei-Momo.

derno, confere-lhe foros de meio
social evoluído. Sentamo-nos a
descansar. Uma bica.

* Ao lado, um velho amigo que
abraço efusivamante. Apresenta-
ções. O Pimenta queria conhecer
Sobreira Formosa e Proença, os
dois polos rivais do concelho.

Lesto, muito diplomata, o meu
Amigo atalha: — mas rivalida-
de bem entendida, claro está,
Proença — tem os seus pergami-
nhos de sede do concelho, em ple-
no desenvolvimento. Sobreira é o
segundo maior aglomerado. Hou-
ve, de facto, tempos em que a
rivalidade ezedava a convivência.
Hoje, não. E bem é que assim se-
ja, pois o progresso harmónico
do conjunto é que interessa a to-
dos.

O Pimenta concordava, ace-
nando a cabeça. Mas o velho
Bernardino falava com entusias-
mo da sua terra, da Cooperativa
Oleícola, da antiga Praça de Toi.
ros, do omnipotente Daniel de
Matos, que dera prestígio à So-
breira.

Agora apontava pera a casa do
Júlio Grilo tipicamente portugue-
sa. Assim deveriam ser todas as
casas da província. Vêm para aí
alguns que imaginam que isto é
África ou Nova Iorque, onde as
«caixas de fósforos» se encaste-
lam em cima umas das outras.
Não. As nossas terras deveriam
conservar todas as suas caracte-
rísticas, o seu tipo português. So-
breira é essim. Fidalga e limpa.

Eu e o Pimenta venerávamos,
quase em silêncio, o amor do ve-
lho Bernardino pela sua terra.

Na nossa frente, uma placa de
trânsito indicava a direcção e a
distância para a Isna de Oleiros:
— 12 quilómetros. E ele suspira-
va: — Ah! Essa é a estrada da
esperança. Quando a veremos
construída e alcatroada!…

Bairrismo e esperança: — E lá
deixâmos o simpático Bernerdi-
no entregue ao seu lúcido cogi-
tar de filósofo.

Proença-a-Nova

quilómetros…
Fernando Peral

distava 10

14 de Fevereiro de 19%:0

No ano corrente não haverá exames
de transição da 6.º classe para o Ensino Técnico

A articulação do ensino do Ciclo Complementar do Ensino
Primário, com o Ciclo Preparatório do Ensino Secundário, tem
dado ensejo a dúvidas sobre o que irá passar-se com os próxi-

mos exames na época de Julho.

No ano transacto, os alunos que haviam frequentado a 6.º
classe, apresentaram-se a fazer o exame de admissão às Escolas
Industriais, após a aprovação no exame final do Ciclo Comple-
mentar do Ensino Primário, e puderam ser ou não admitidos ao
Ensino Técnico, conforme o resultado do respectivo exame,

Parece que a determinação se justificava pelo facto de não
haver ainda exames de final do Ciclo Preparatório do Ensino Se-
cundário, que só terão início no ano lectivo, 1969-1970.

Assim, no corrente ano, os alunos com aproveitamento na
6. classe que queiram prosseguir os estudos terão que requerer
o exame do 2.º Ano do Ciclo Preparatório, em todas as disciplinas.

Se forem aprovados, poderão ingressar em qualquer ramo
do ensino secundário, liceal ou técnico.

Conclui-se, deste modo, que o Ciclo Complementar do En-

* sino Primário só dá acesso ao ensino secundário, isto é, ao pros-

seguimento dos estudos, mediante o exame do 2.º Ano do Ciclo

Preparatório.

 

Toque a unir…

Continuação da 1.º página

aispecto urbano, como Cernache
do Bonjardim com 700 habitan-
tes. Sobreira Formosa, Pedrógão
Pequeno, aproximam-se daque-
las. Orvalho, Montes da Senho-
ra, Estreito, Fundada e Várzea
dos Cavaleiros, sobressaem ligei-
ramente de todas as demais.

Tradicionalmente designada
«charneca» pelos técnicos agrá-
rios, esta Região mais prôpria-
mente deveria denominar-se hoje
por «Floresta». Na verdade, dos
155 140 hectares da sua área to-
tal encontram-se já florestados
mais de 90 000, ou seja, 60%.
Mas a aptidão para a floresta
é predominante em mais de 75%
dos terrenos.

Os técnicos calculam que, nes-
ta Região, o rendimento perma-
nente de 5 a 6 metros cúbicos
pos hectare e por ano, não seja
exagerado.

Assim, o rendimento anual da
área da comarca de Sertã em
material lenhoso, cifrar-se-ia em
mais de 500 000 metros cúbicos
anuais, equivalente, em dinheiro,
aproximadamente, a 200 000
contos, aos preços actualmente
praticados no proprietário.

Acrescente-se que a explora-
ção normal da resina nesta mes-
ma área se aproxima das 20 000
toneladas anuais, ou seja 100 000
contos, nas mesmas condições.

Estas cifras que se afiguram

CELINDA

SOCIEDADE DE FOMENTO
E INICIATIVAS S, A. R. L.
SERTÃ
Assembleia Geral Ordinária

Nos termos do artigo 181.º do
Código Comercial e dos art.
10.9, $ 1.º e 11.º do pacto social,
é convocada a Assembleia Geral
Ordinária desta Sociedade para
se reunir no dia 14 de Março,
pelas 15 horas, no Centro Liceal
e Técnico Santo Condestável de
Sertã, com a seguinte ordem do
dia:

Apreciar e aprovar ou modifi-
car o relatório, balanço e contas
e o parecer do conselho fiscal
relativos ao exercício findo em
31 de Dezembro de 1969;

De harmonia com o artigo 6.º
do pacto social, o depósito de
acções, até oito dias antes daque-
le que está designado, far-se-á
no escritório da Sociedade.

Não havendo número legal de
accionistas e de capital para de-
liberar em 1.º convocação, fica
desde já convocada em face do
artigo 21.º, para 2. reunião, no
mesmo local e hora e com a mes-
ma ordem do dia, para o dia ime-
diato, 15, funcionando com qual
quer número.

d
Sertã, 30 de Janeir e 1970.
O Presidente d> Raid Geral

E «rancisco Ribeiro

 

de extraordinária relevância eco-
nómica, mesmo dentro da Eco-
nomia Nacional, correspondem,
na melhor opinião, a menos de
metade do rendimento possível
da floresta.

A falta de organização da ex-
ploração, da comercialização e
da transformação industrial em
locais propícios e nas melhores
condições de rentabilidade, são
factores que, actualmente, redu-
zem tão sensivelmente o rendi-
mento possível da floresta.

Estes defeitos da estrutura
económica da Região só pode-
rão evitar-se, mediante iniciati-
vas válidas de desenvolvimento
económico. E, para tanto, é pre-
ciso que todos se unam na defe-
sa dos seus próprios interesses.
Nada se fará de útil e de pro-
gressivo sem a coesão de todos,
sem a iniciativa de alguns.

Na Economia de hoje não hã
ilhas isoladas. Ou avançamos ao
mesmo compasso, ou, quando
uns ficam para trás, nem os que
vão à frente caminham tão de-
pressa.

Falta a estruturação de um
pequeno PLANO REGIONAL
de economia, em que tanto se
fala, mas cuja elaboração se não
vê arrancar.

Década de 70. Hora da Eco-
nomia e da Indústria. Hora das
grandes opções e da grande co-
laboração. Hora do desenvolvi-
mento regional,

Unem-se, para defesa mútua
os grandes espaços económicos
continentais. Unem-se e organi-
zam-se, em solidariedade, as Re-
giões do Nordeste Transmonta-
no, de Sever do Vouga e da Co-
va da Beira.

E nós? Ficaremos parados a
ver passar a caravana triunfan-
te do Progresso e da União?…

JOSÉ ANTUNES

 

Nascimento

No passado dia 2 do corren-
te, na Clínica Daniel de Matos,
em Coimbra, teve o seu bom
sucesso a Senhora D. Maria dos
Anjos R. G. Ramos Nunes, es-
posa do nosso Redactor, Améri-
co dos Ramos Nunes, Professor
do Ens:no Primário, dando à luz
uma criança do sexo masculino,
a que será posto o nome de Ale-
xandre Augusto Gonçalves Nu-
nes. Mãe e filho encontram-se
bem, esperando-se para breve o
seu regresso à sua residência na
Sertã. É

 

Requisição de árvores

Os ron-etários que estejam
intere–ados, na aquisição de eu-
e-*Ptos, choupos, castanheiros e
penisco devem fazer as suas re-
quisições até ao fim do mês de
Março nos Grémios da Lavoura
das suas respectivas áreas.

| VISADO PELA CENSURAENSURA

 

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PR e

14 de Fevereiro de 1970

QUADRANTE
DOS NOVOS

A tua frente, um jornal no-
vo.
Deste uma olhadela pelos ar-
tigos, pelas notícias, quanto a
eles fizeste a tua apreciação e
crítica, e, agora, detiveste-te
neste Quadrante.

De que precisamos na ju-
ventude? — Compreensão, aju-
da e verdadeiro amor.

E isto o que pretendemos
nesta secção, destinada aos jo-
vens.

Na linha de orientação deter-
minada para O RENOVADOR,
foi assente que se mantenha,
sempre ue possível, Quadran-
te.

De que vai constar, o que
será abordado nele, qual a uti-

 

onde, não ter uma porta aber-
ta?

É isto o que pretendemos, é
essa a ajuda que esperamos de
ti, e estamos certos de que à
não negarás, auxiliando-nos na
medida das tuas possibilidades.

Quanto a este ponto, e já
que estamos ny introdução a
este Quadrante, cremos ser
útil uma explicação: esperamos
apoio, pedido (aliás), mas não
nos podemos comprometer a
dar publicidade a tudo o que
nos for enviado, ficando, desse
modo, reservado o direito à
publicação.

Numa époea em que a ju-
ventude é o tema de todas as
conversas, tão discutida, olha-

COMPLEXO ESCOLAR DA SERTÃ

«Ao lado da água que corre a sabedoria que fica…»

lidade, vamos lá, deste qua-
drante?

É fácil a resposta: tudo o
que diga respeito ao mundo dos
jovens preencherá estas colu-

Portanto, e, em linhas gerais,
teremos poesia, música moder-
na, conto, reuniões e acam-
pamentos internacionais de jo-

“ vens, notas sobre a vida dos

 

 

ídolos dos jovens, e, enfim,
todos os temas de interesse ju-
venil, o que seria, agora, difi-
cil enumerar.

Será isto impossível, será
inacessível a montanha que nos
propusemos escalar?

Cremos que não.

Duas razões, fortes, nos di-
tam aquela resposta tão ex-
pontânea: o nosso optimi
e a certeza de que seremos aju-
dados.

Sim, ajudados. A ajuda de
que se falou acima.

Haverá uma equipa perma-
nente a trabalhar nesta secção,
mas o certo, o necessário, o
ideal, mesmo, é surgir colabo-
ração.

Desde já contamos com à
colaboração de outros jovens,
e se os temas apresentados fo-
rem de interesse, porque não
hão-de ser publicados nestas
colunas?

Pode, ou não, existir um jo-
vem com bastantes qualidades
para escrever sobre qualquer
tema, ou para poema, e que,
não teve, até agora, ensejo de
as demonstrar, por não ter

da sob os mais diversos pris-
mas, não vamos nós fazer qual-
quer coisa, falar de jovens pa-
ra jovens, mostrar que pode-
mos fazer algo de útil, sob o
olhar, sempre atento, dos mais
adultos?

Chegados ao final da nossa
primeira conversa, apenas nos
resta esperar q tua colabora-
ção, para que este Quadran-
te se torne mais rico, e, se
possível (nada é impossível,
lembra-te!) tornar esta sec-
ção a melhor deste novo jor-
nal.

Será pura utopia? — O tem-
po o dirá.
R. Américo

O RENOVADOR

Página 3

A CASA DA COMARCA DA SERTÃ

Continuação da 1.º página

VÁRIOS ORADORES FALAM
SOBRE REGIONALISMO

Seguiu-se no uso da palavra o
presidente do Grupo de Amigos
da Freguesia de Montes da Se-
nhora, esse dinâmico agrupamen-
to regional, que está a dar um
exemplo magnífico de dinamismo
e bem orientada actividade regio-
nalista, Saudou os corpos geren-
tes cessantes e recentemente elei-
tos da Casa da Comarca de Ser-
tã, egradeceu-lhes toda a co-
laboração dada à sua acção,
pondo-se ao dispor para uma
obra eficaz em prol do regiona-
lismo.

O Presidente da Direcção da.
Casa das Beiras Dr. Herlander
Machado, dissertou em seguida,
e sentidamente, sobre as dificul-
dades que o Regionalismo atra-
vessã sugerindo reuniões de estu-
do dos problemas enfrentados
para que se possa superar a crise
presente.

DISCURSO DO PRESIDENTE
DA CÂMARA DA SERTÃ

Dada a palavra ao Presidente
da Câmara Municipal da Sertã,
Dr. José Antunes, o orador sau-
dou o Sr. Governador Civil, tes-
temunhando a súa dedicação e
simpetia por todos os habitantes
do Distrito e multiplicando-se por
estar presente onde quer que a
sua presença seja solicitada.

Referiu-se ao facto de mais
uma vez se encontrar entre os
velhos e bons Amigos da Casa

da Comarca da Sertã onde pas-
sou outrora dias inesquecíveis de
actividade regionalista. Dissertou,
depois, longamente, sobre a ne-
cessidade de planeamento regio-
nal da actividade económica na
nossa Região: «Assentemos num.
ponto — disse, Pela morfologia
e natureza dos terrenos, pela eco-
nomia à base do pinheiro e do
eucalipto, pelo tipo de explora-
ção económica, pela geografia
humana e social, pelos costumes
e modo de vida, os quatro con-
celhos da área da Comarca de
Sertã, constituem um todo unifor-
me, onde só a vontade dos ho-
mens criou, para melhor governo,
quatro entidades político-admi-
nistrativas distintas. Mas se a ce-
leridade e eficiência de Adminis-
tração exige esses quatro uni-
dades, que são os 4 concelhos, a
Economia e o sistema de explo-
reção racional dos produtos da
terra, exigem a organização de
serviços e estruturas agro-indus-
triais que tomem por base uma
zona mais vasta, que não pode
deixar de ser a comarcã. É as-
sim, uma área de 155000 hec-
tares com 70 000 habitantes, que
há que estudar em conjunto».

SERTÃ CENTRO DA BACIA
DO ZÊZERE
E mais adiante: — «Quer con-

sideramos apenas a área da nos-
sa comarca, no Distrito de Cas-
telo Branco, quer vamos mais
longe, atendendo, de uma mar
neira mais realista, a BACIA DO
ZEZERE, impõe-se-nos um fac-
tor estrutural de extrema impor-

 

OLEI

Continuação da 4.º página

bém com via municipal. Mostei-
ro e Isna encontram-se, por en-
quanto, precariamente servidas.

Até há seis ou sete anos, a
electricidade não tinha: ainda da-
do entrada no Concelho.

Trabalho hercúleo este levado
a cabo pela visão e esforço do
grande industrial Alfredo da Sil
va Fernandes, Presidente do Mu.
nicípio de 1957 a 1969.

As comunicações são vitais pa-
ra um cocelho extremamente 2ci-
dentado como Oleiros.

E não pode dizer-se que, ape-
sar da obra imensa realizada na
última década, Oleiros se encon-

Cernache do Bomjardim

Continuação da 4º página

A reconstrução e rectificação da
E. N. nº 28?, no troço entre q Bar-
ragem da Bouçã e Cernache, vem
valorizar extraordinâriamente a en-
trada da Vila para quem vem de
Coimbra, sobretudo pelas placas de
separação de trânsito e largueza
com que foram planeadas as obras.

A Câmara Municipal da Sertã, no
sentido de contribuir para o embele-
zamento e iluminação do local, so-
licitou, através da Direcção de Es-
tradas do Distrito de Castelo Bran-
co, que tanto interesse pôs na exe-

Da Escola Industrial da Sertã

Realizou-se no dia 7 de Fevereiro, a Festa dos Finalistas

da Escola Industrial da Sertã.

De assinalar a iniciativa destes estudantes que realizaram
pela primeira vez, e já com bastante êxito, tal empreendimento.
Tiveram uma soirée dançante, abrilhantada pelo moderno agru-
pamento musical «Os Sultões». Durante o baile teve lugar tam-
bém, um pequeno sorteio, com dois prémios, sendo o 1.º «O Ca-
baz do Finalista» e o 2.º um Quadro pintado pela aluna fina-

lista Noémia do Carmo Ferreira.
Sabemos que este baile cons!

tituiu a primeira parte da fes-

ta, pois que haverá posteriormente uma récita, levada a efeito

pelos mesmos alunos.

Para eles, Finalistas, um «

Viva» de toda a Juventude, e que

os seus sucessores não esqueçam nunca, a ideia a que eles com

tanto carinho deram forma.

cução da obra, & colocação de um
poste de luminação de três braços
na placa central.

O pedido não pôde ser atendido,
mas espera-se que, de uma maneira
ou de outra, o local fique convenien-
temente iluminado.

E de salientar aqui q solicitude e
empenho tanto ida Direcção de Es-
tradas do Distrito de Castelo Bran-
co, como da Câmara Municipal da
Sertã e da Junta de Freguesia de
Cernache, na consecução desta obra
de tanto interesse para Cernache e
para a comodidade e facilidade de
comunicações de toda esta área para
Coimbra.

Encontram-se prâticamente con-
cluídos os trabalhos de revestimento
betuminoso da estrada municipal de
Cernache do Bonjardim-Nesperal e
o ramal entre a Estrada Nacional,
n.º 288 e a povoação de Calvaria.
Quem conheceu durante anos, aque-
las vias e as utiliza agora, não po-
de deixar de verificar a grande re-
movação operada e de fazer ressal-
tar a importância destes dois gran-
des melhoramentos realizados pelo
Município com a comparticipação
do Estado.

Aos sete quilômetros de vias mu-
nicipais alcatroadas, na freguesia,
até há pouco, juntam-se assim, só
duma assentada, mais quatro.

ROS

tre satisfatôriamente servida de

rodovias.
São precisas mais vias
de comunicação

Os hebitantes de Orvalho e
Cambas para se deslocarem à se-
de do concelho têm de percorrer,
aqueles 30 quilómetros e estes
35.

Contudo, se, de Roqueiro ou
Estreito se construisse uma estra-
da municipal de 7 a 8 quilóme-
tros, para Cambas, aquela distân-
cia ficaria reduzida a cerca de
metade,

Mosteiro anseia pela constru-
ção do troço da Estrada Nacio-
nal n.º 238 desde Cruz do Fun-
dão a Oleiros. Com a satisfação
desta necessidade premente fica-
rá com comunicações rápides pa-
ra os grandes centros de Lisboa
e Coimbra e para as sedes do
concelho e da Comarca.

Isna, hoje perdida nas faldas
das serras do Moradal e des Ta-
lhadas, aguarda também a sua
hora. Por enquanto a ligação à
sede do concelho ou à estrada
Oleiros-Castelo Branco, não ofe-
rece um mínimo de condições a
qualquer veículo motorizado. Não
é melhor a saída para Sobreira
Formosa, com uma extensão de
12 quilómetros.

A industrialização
caminho do progresso

O eixo Casal Novo- Oleiros-
– Roqueiro – Estreito, servido por
estrada alcatroada, abriu novos
horizontes zo desenvolvimento
económico de Oleiros, pela im-
plantação de indústrias de apro-
veitamento dos produtos do pi-
nheiro.

Ao longo deste percurso sur-
giram fábricas de serração e de
resina. Povoações prometedoras
polvilhadas de lindas moradias,
aqui e além, estão a constituir po-
los de atracção para os habitan-
tes dos aglomerados sem condi-
ções de progresso. :

Estradas, electricidade, possibi-
lidades de acesso ao ensino se-
cundário são factores de desen-
volvimento de que Oleiros já pos-
sui as bases, mas que pretende
ampliar, confiado no zelo e de-
dicação do seu actual Presidente
da Câmara, Dr. Mário Ilharco
Álvares de Moura,

ALVARO SOBRAL

tância: é a localização geográfica
da sede da comarca, equidistante
cerca de 40 quilómetros de toda
a periferia da área florestal, com
perspectivas, portanto, de ela vir
a constituir um centro motor, não
já só para a própria comarca, co-
mo ainda para toda a BACIA
DO ZÊZERE. E continuou:
— «Talvez hoje, com a conclu-
são da Estrada Nacional n.º 2,
dentro da comarca, com a cons-
trução da Ponte sobre a Ribei-
ra da Isna, entre os concelhos
de Sertã e Oleiros, com a en-
trada em funcionamento e am-
pliação posterior da Escola Indus-
trial, a Sertã tenha perspectivas
de ser um centro polarizador pa-
ra toda a Região». Mais adiante,
referindo-se à acção da Casa da
Comarca de Sertã: — «Aqui tra-
balha-se pela valorização regio-
nal sem espírito de capela ou de
caixinha. É preciso que se alar-
gue cada vez mais o mesmo es-
pirito ao campo económico, para
que se crie uma mentalidade de
associação em toda a comarca,
pois de outro modo ficaremos ir-
remediâvelmente para trás na
evolução precipitada que o Mun-
do atravessa»… «Atrevo-me a
sugerir a ideia de a nova Direcção
tomar a iniciativa de fazer no
corrente ano uma mesa redonda,
um colóquio ou jornadas de es-
tudo sobre o desenvolvimento re-
gional da nossa Comarca».

DISCURSO DO SB.
GOVERNADOR CIVIL

A fechar os brindes, falou o
Sr. Governador Civil. Congratu-
lou-se com a celebração do XXIV
Aniversário da Casa; agradeceu
as homenagens de que tinha si-
do alvo e referindo-se ao planea-
mento regional que tinha sido o
tema dominante de diversas in-
tervenções, disse estar em orga-
nização a Comissão Distrital de
Planeamento a qual englobaria
quatro grupos de trabalho: o do
Turismo, com sede na Serra da
Estrela, o da Cova da Beira, o
da Campina e o da Floresta, rela-
tivo à nossa Região.

A fechar o almoço, o Presiden-
te da Assembleia Geral da Ca-
sa da Comarca de Sertã impôs ao
Sr. Dr. Ascensão Azevedo o em-
blema de ouro da Casa que a Di-
recção havia decidido conferir-
lhe.

Após o almoço, ainda a maio-
ria dos convivas se quedou no: lo-
cal em amena conversa sobre os
problemas regionais.

E, de tudo o que ouvimos, fi-
cou-nos uma certeza: — A Casa
da Comarca da Sertã elegeu há
pouco os seus novos Corpos Ge-
rentes para o corrente ano. Alian-
do a experiência à juventude, a
Direcção de presidência do Sr.
Reinaldo de Jesus Costa vai dar
nova vitalidade e dinamismo ao já
esforçado labor da Direcção pre-
sidida pelo Sr. Dr. Manuel Fa-
rinha da Silva.

 

 

Birra
que custou,
caro…

Na quinta-feira, 29 de Janei-
ro, um indivíduo de Figueiredo,
foi ao lagar moer a sua azeitona.
Teve duas moeduras. A mulher
desejava que o azeite ficasse to-
do em casa. O marido queria
vender o de uma delas. Desacor-
do completo. O homem, irritado

. por ver que a mulher não con-

cordava com a venda, vai-se à
torneira da fonte do lagar, onde
se encontrava o produto da se-
gunda moedura, e abre-a sorra-
teiramente. O lagareiro e a mu- –
lher só deram pelo acontecido,
ao verem, espalhados pelo chão,
mais de 40 litros do precioso lí-
quido.
A birra custou caro…

(Do nosso – correspondente,
Augusto Mateus Farinha).

 

@@@ 1 @@@

 

Página 4

O RENOVADOR

PROENÇA-A-NOVA

Terra de bairrismo e esperança

* ALVITO DA BEIRA — um castelo no meio dos Pinheirais
* MONTES DA SENHORA — a terra da cereja
* SOBREIRA FORMOSA — entre o bairrismo e a esperança

O Pimenta não conhecia
Proença – a – Nova, a minha ter-
ra, Nascera em Castelo Branco.
Conhecemo-nos nos bancos do

Liceu, em Lisboa. Tornámo-nos
amigos. Mas passaram-se mais de
20 anos sem que nos vissemos.
O vento frio da Estrela gol-
peia-nos a face. Castelo Branco.
Campo da Feira. Encasecado,

 

IGREJA MATRIZ DE SOBREIRA FORMOSA

mos a sede de freguesia, Estrada
municipal alcatroada recentemen-
te, com belos panoramas, aqui <
além. Quatro quilómetros.

Do outro lado da Ribeira, em
megote encastelado, a povoação.
Ruas calcetadas a cubos de gra-
nito. de data pouco recente, Ra-
ras pessoas.

Explico ao Pimenta: — a nossa

– ao

 

Sobre este templo incide uma interessante polémica: — Deve re-
construir-se, ou será preferível edificar nova igreja, noutro local?

musculoso, bigode farto: — É ele,
o Pimenta.

Um longo abraço nos aperta.
E combinámos, ali mesmo, visitar
Proença-a-Nova pela tarde de sol
tépido.

O Fiat do Pimenta desliza a
90 à hora pelas rectas de Sarze-
das. Dum lado e doutro a aridez
pré-alentejana da charneca bei-
roa.

Em breve a paisagem se trans-
forma. Atravessamos a Ribeira do
Alvito. Subimos em torcicolos pa-
ra Catraia,

Ao silêncio com que percorrê-
ramos os 30 quilómetros que nos
separavam já de Castelo Bran-
co, sucedia agora a tagarelice
bairrista de quem gosta de mos-
trar o que ama e conhece.

Disparo para o Pimenta: —
Olha, Amigo, desde a Ribeira do
Alvito que estamos no concelho
de Proença-a-Nova, a antiga
Cortiçada, das Crónicas. Repa-
raste que é outra a paisagem? A
floresta está a adensar-se.

CATRAIA E ALVITO DA BEIRA

Catraiz: dá-nos as boas-tardes.
Uma estrada camarária recente-
mente aberta, à esquerda, é o
primeiro sinal de que a máquina,

* que tudo revolve, também já che-
gou à zona do pinhal. Mais adian-
te um fontenário imponente con-
vida-nos a parar, José Maria es-
tã ali à espera de clientes. Não
podemos demorar-nos. O sol de-
clina já.

Casinhas brancas salpicam a
verdura silenciosa dos pinhais.
Uma placa indica-nos o desvio
para Alvito da Beira. Explora-

 

Condições
de Assinatu ra

VIA NORMAL
Portugal Continental
e Ultramarino, Brasil e Espanha

– — semestre: 40800
Estrangeiro — anual: 130800

VIA AÉREA

Províncias Ultramarinas
e Estrangeiro — anual: 180800

Número avulso: 1850,

 

 

 

Beira-Sul é assim: povoações pe-
quenas, por vezes escondidas nos
alcantis. Dagui para Norte es-
tende-se impenetrável, até ao con-
celho de Oleiros, ainda a vários
quilómetros, a floresta densa de
pinhal, que outrora foi de casta-
nheiros.

As pessoas nos campos, mal
dão pela nossa passagem. Nos
quatro quilómetros de estrada,
nem vivalma.

Regressamos pela mesma via.
Não há outra.

Agora reparamos, que, à es-
querda nos fica Sobrainho dos
Gaios. A cal no casario é menos
abundante. À pedra; seca, descar-
nada, enegrece a aldeia. Mas,
aqui e acolá, uma moradia con-
fortável chama a atenção para O
reformado lisboeta, ou para o emi-
grante endinheirado.

Alberto Cardoso Mendes é a
providência destas gentes perdi-
das nos pinhais. De quantos dra-
mas terá conhecmiento directo?
A quantos terá dado o remedeio

de um conselho sensato e ami-
gol…

MONTES DA SENHORA

— a terra da cereja

Ligeiros, pela estrada que per-
mite velocidade moderada, pomo-
-nos em breve no entroncamento
para Montes da Senhora. O tra-
cado da via municipal é mais rec-
to que para Alvito da Beira,
revestimento betuminoso data de
há pouco tempo também.

O Pimenta admira-se: — a pai-
sagem mudou bastante. E eu
aproveito para acentuar a admi-
ração do meu Amigo. É pena
não estarmos no tempo da cere-
ja. Senão, apanhávamos aqui um
fertote. Sabes que esta freguesia
é uma zona privilegiada para es-
te fruto? Há anos em que atinge
centenas de milhares de escudos
a receita da sua venda para os
mercados da Capital.

E continuo: — Proença-a-No-
va é assim: tem grandes contras-
tes na sua paisagem e na sua eco-
nomia. Aqui são quintarolas on-
de o pomar se tem refugiado de:
perseguição dos pinheiros. Mais
para Sul, estende-se a aridez das
freguesias de Peral e São Pedro
do Esteval onde os anjos nada
quiseram de hortas ou floresta.

Eram daqui, destas zonas,
principalmente, os «ratinhos» que
outrora devoravam as searas do
Alentejo, de foice em punho. Ho-
je, as ceifadeiras mecânicas subs-
tituiram ali o braço humano e é
a colheita do tomate e da azei-
tona, no Ribatejo, que dá a estes
povos o dinheiro para a compra
do surrobeco do casaco, ou para
a do cabedal das botifarras.

A França e a Alemanha tam-
bém levaram daqui o seu contin-
gente de emigrantes. Mas não
tanto como noutras regiões e co-
mo seria de esperar. Esta gente
gosta de estar em família, pelo
menos de vez em quando, ou de
tempos a tempos,

Nestas considerações íemos per
correndo a povoação. Um sopro
de bairrismo e de graça anima a
urbanização. Belas calçadas de-
nunciam progresso. A família Ri-
beiro Mendonça ensina as primei-
ras letras e zela, administrativa-
mente, pelos interesses paroquiais.
Bem haja.

SOBREIRA FORMOSA
DE FIDALGAS TRADIÇÕES

Regressámos à Estrada Nacio-
nal em direcção a Sobreira For-
mosa.

Num declive, à esquerda, um

Continua ma 2.º pág.

 

Cernache do Bonjardim

Na senda da renovação

Vão iniciar-se brevemente os tra-
balhos da primeira fase da obra de
instalação de esgotos domésticos em

– Cernache do Bonjardim, que a Câ-

mara Municipal da Sertã confiou,
por tarefa, ao empreiteiro de Cas-
telo Branco, António Venâncio Leão
que apresentou a proposta mais fa-
vorável de entre as que foram rece-
bidas.

Obra de urgente mecessidade, há
longo tempo esperada, importará
na sua totalidade, em mais de
2 500 000800. A primeira fase ago-
ra à iniciar, foi adjudicada por
425 000800.

O Estado comparticipará com
50% do custo total, sendo o restan-
te da responsabilidade do Munici-
pio. Para tanto, está prevista a ob-
tenção de um empréstimo de 500
contos ma Caixa Geral de Depósitos,
Crédito e Previdência,

Nestes primeiros trabalhos está

“incluida a abertura de valas e co-

locação de canalizações, com as res-
pectivas câmaras de wisita, desde
os sanitários públicos construídos

dentro do Plano Comemorativo do
40.º Ano da Revolução Nacional,
junto à igreja matriz, até à esia-
cão de tratamento, a localizar a Sul
do Instituto Vaz Serra.

Os arruamentos a servir primeira-
mente, são, pois, o Largo «a Poente
da igreja, um pequeno troço da E.
N.n.º 288, à Estrada Municipal para
Nesperal e outros.

 

Concluiram-se há pouco as obras
de reparação e restauro da igreja
paroquial de Cernache, considerada
edifício de interesse nacional. E

Aos beneméritos Comendador Li-
bânio Vaz Serra e Durval Marceli-
no se ficam a dever os maiores
quantitativos para estas obras. Mas
ao Rev. pároco, Padre José Alves
Júnior, coube a iniciativa e a luta
do dia a dia para que tanto do pon-
to de vista estético, como funcional
e litúrgico, tudo se fizesse de molde
a conservar o interesse artístico e
a harmonia do conjunto.

Continua na 3.º página

 

 

14 de Fevereiro de 1970

LEIROS

concelho que se abre ao desenvolvimento

Até há pouco mais de 15 anos,
Oleiros era um concelho quase
fechado na sua serrenia. Escas-
sas comunicações entre as suas
12 freguesias, para a sede do
concelho e para o exterior. Vi-
via-se ali a longa rotina dos sé-
culos. O alcoolismo, a endemia
do bócio, o analfabetismo, faziam
deste concelho um dos mais pri-
mitivos do País.

Hoje as coisas mudarem mui-
to. Abriram-se estradas, dimi-
nuiu, em grande escala o elcoolis-

alcatrão, trouxe ao concelho
perspectivas imensas ao desenvol.
vimento económico da área. Li-
garam-se, depois, Orvalho e
Cambas com estrada nacional,
Álvaro, Sobral e Sarnadas de São
Simão com estrada municipal. A
rectificação da Estrada Nacio-
nal entre Alto da Cava e Olei-
ros e respectivo alcetroamento,
foi outro melhoramento de ex-
traordinária importância.

Amieira está a ser ligada tam-

Continua na 3.º página

mo, o bócio está em plena fase

 

de profilaxia, e o analfabetismo
é apenas uma recordação para as
pessoas com menos de 40 anos.

Até 1955 a única comunicação
de Oleiros com os grandes cen-
tros fazia-se pela Estrada Nacio- to
nal n.º 350, até ao Alto da Ca-
va, com continuação até à Ser-
tã pela Estrada nº 238-1 e 238, A plssios primelçõs Erês mio
mas ambas em simples macada- meros poderá fazer um juízo
me. mais sej ”

Então lhe enviaremos o reci-
bo da cobrança para o primeiro
Semestre. Mas, cautela, não o
devolva de ânimo leve. Este se-
manário ser-lhe-á útil e contri-
buirá para a cultura e progres-
so seus e da Região.

LEITOR

Já leu este Semanário? Gos-
u?

Se não gostou, não o devolva
ainda. Espere mais os três nú-
meros seguintes.

Estradas que se abrem

A abertura dos troços entre
Madeirã e Alto da Cava e entre
Oleiros e Foz do Giraldo, por
Estreito, este último revestido de

 

 

 

 

UMA RUA DE OLEIROS

A esquerda, o edifício da Câmara Municipal
que merece amplamente ser substituído

 

O RENOVADOR
E O DIÁLOGO GOM OS SEUS LEITORES

Hoje conjuga-se o verbo dialogar em todos os tempos,
em todas as pessoas, em todos os modos, em todas as vozes.

Umas vezes o DIALOGO serve para encobrir a falta de
ideias e de coragem em propô-las. Outras, corresponde ape-
nas a um estar na moda. Tantas ocasiões, distrai a atenção
dos visados, para problemas que não são os seus. Mas, …o
DIALOGO é criador. Até no mistério da SANTÍSSIMA TRIN-
DADE, foi a palavra do Pai que criou o FILHO e do amor
de ambos brotou o ESPÍRITO SANTO…

Quando cada um dos dialogantes se respeita a si mesmo
e ao parceiro, quando cada um se põe na justeza do lugar
que lhe compete, o DIALOGO gera o AMOR, a união, a con-
córdia. E desta fecundidade, nasce o PROGRESSO.

O RENOVADOR quer ser do seu tempo. Quer entabu-
lar um diálogo fecundo com os seus leitores. Quer auscultar-
-lhes as aspirações, os anseios, as necessidades, as opiniões.
Evidentemente que este periódico, como qualquer outro, por
mais vasto ou modesto que seja, tem as suas limitações.
Umas derivadas da sua própria natureza, outras provenientes
dos seus fins, outras ainda inerentes às próprias pessoas dos
seus dirigentes. :

Mas dentro de todos estes condicionalismos, quereríamos
ser tão abertos quanto possível. Tão compreensivos com os
outros como compreensivos desejaríamos que os outros fos-
sem connosco.

Por isso desde já agradecemos, em primeiro lugar, toda
a colaboração, que quem quer que seja nos deseje dar. Cola-
boração, enviando-nos notícias de interesse geral, ideias que
julgue realizáveis, propostas de carácter geral que visem o
BEM COMUM que sempre temos em vista. *

Críticas. Pois sim. Críticas bem intencionadas. Criticar é
uma maneira de construir, quando, ao apontar o defeito ou
o mal, se acrescenta o modo diferente de agir, que estaria
bem. Sobretudo, não basta dizer que está mal. Convém dizer
porquê, pois nem todos vêem os problemas do mesmo modo.
E do confronto de pontos de vista fundamentados sairá a
solução, que feita a dois, conduzirá à união.

Diz-se que da discussão sai a luz. Sim. Mas só quando a
discussão é leal e sincera, aberta à VERDADE, seja ela
qual for. ”

É este o DIALOGO que O RENOVADOR abre desde já
com os seus leitores.s seus leitores.