Gazeta das Províncias nº2 17-11-1898

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CERTÃ — Quinta feira 17 de Novembro de 1898
sSemanario independente
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CERTA, mez, 400 15. FÓRA DA CERTÃ, trimestre, 330 rs. AFRICA, semestre, 4$000 rs. BRAZIL, semestre, 29500 15. Numero avulso, 30 Ts.
“Poda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originses recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
FUBLICAÇÕES
Ko corpo do jornal, cada linha 80 rs. Anmuncios, 40 Ts. a linha. Repetição, 20 rs. a linha. Permanentes, preço convencional; os srs. assiquantes
têm o desconto de 25 9/9. Esta folha é impressa na Imprensa Academica, R. da Sophia. Coimbra
Augusto Rossi — Editor
AOS NOSSOS LEITORES
Pedimos desculpa do atrazo com que
sahiu o 4.º numero d’esta folha, devido à
demora involuntaria que houve na sua ha-
bilitação judicial.
qu
0 DESARMAMENTO GERAL
N’um momento em que a Europa
sente os tristes prenuncios d’uma con-
flagração geral, ouve-se das margens
do Neva a voz generosa do Czar con-
vidando as nações a um desarmamento
geral,
Foi escutada com respeito essa voz;
a ninguem foi indiferente,
“Eis, porém, que das margens do
Tibre uma outra grande voz se levanta
tambem, fazendo côro com aquella, e
esta muito mais auctorisada porque tem
a illuminal-a os clarões do Calvario e
a sustental-a a enorme multidão de
duzentos milhões de crentes dispersos
por todo o mundo.
Espectaculo sublime |
O poderoso senhor do maior dos
imperios e o supremo pontifice da mais
elevada religião abraçam-se n’uma glo-
riosa aspiração commum que tem por
si a larga aspiração dos seculos,
D’esta maneira, a ideia do desar-
mamento geral, se não vae realisar-se
| dentro em breve, fica pouco longe de
| converter-se n’um facto.
N’uma outra hora de civilisação
| que não fosse a actual, a sympathica
iniciativa – do autocrata das Russias
| apenas alcançaria mover 0 riso e talvez
o insulto. Mas os tempos não cami-
nham debalde. Se notaveis pensadores
vêem agora espinhos na satisfação im-
mediata ao desideratum de Nicolau II,
todos unanimemente a consideram di-
gna d’um profundo e demorado estudo.
É isto, evidentemente, um symptoma
consolador.
Poderão dizer que são enormes as
difficuldades que se lhe oppõem; mas
que outras maiores dificuldades se não
têem debellado sob o caminhar longo
da historia?
— A liberdade era um montão de
| trevas na autiguidade; parecia que
nunca o gol da consciencia lhe havia
“; e, no emtanto, conseguiu-se
“A” custa de muito sangue,
as gonseguiu-se definil-a,
Jesus ajoelhando no horto, Socrates
bebendo a cicuta, Gallileu gemendo na
prisão, — só esses tres genios bastaram
para lançar nos espaços e no tempo a
mais extraordinaria força moral do es-
pirito — a liberdade | Conquistada esta,
parece que os proprios elementos da
natureza physica se vergam e amoldam
á vontade do homem.
Como, pois, se não ha de tambem
alcançar uma outra formosa conquista
de civilisação—o desarmamento geral?
A internacionalisação da maior
parte das instituições modernas facilita
a consecução d’esse desideratum. Os
tribunaes de arbitragem multiplicam-
Berne e Roma constituem já dois
thronos na obra da pacificação geral.
Demais: não se consegue acertar
com um principio, por mais insignifi-
cante que seja, que possa justificar a
existencia dos exercitos entre as nações
e consequentemente da guerra. A for-
ça, não; porque a força é a negação
da rasão, e este seculo proclama o pti-
mado da rasão e a superioridade da
ideia. A justiça, tambem não; por-
que a justiça é um producto do es-
pirito, e o espirito não se torce com
espadas, nem se derruba com canhões.
Da mesma maneira a gloria; porque a
gloria das batalhas só a disfructam
conscientemente as classes mais illus-
tadas, as classes dirigentes; e essas,
parte ficam nas secretarias do Estado,
e parte, a que vae nos combates, collo-
ca-se, com uma ou outra excepção, em
pontos onde o alvo do inimigo não
possa attingir. — Quem morre, quem
luta devéras, quem arrisca sériamente
a vida é o trabalhador obscuro que
deixa na aldeia uma desolada mãe, é
o modesto operario que abandona a
fabrica onde ganha o sustento da fa-
milia, é o humilde aldeão que, amando
a terra onde nasceu, não comprehende
todavia o complexo alcance d’uma ba-
talha. — Esses é que morrem; esses,
cujo nome ninguem regista, é que se
vêem cair nas fileiras; esses os que
cheiram a polvora e esses os que apal-
pam as espingardas. Para os outros,
para os que jogam com vidas humanas
as theorias da sua imaginação, ah!
para esses a pretendida glorias aja
Que infamia!
Em valentia é já escusado falar
como ponto de partida da gloria, Está
perfeitamente averiguado que o povo
que defende o sólo natal é sempre mais
valente e mais audacioso do que o povo
que aggride. Para que fundamentar,
portanto, a gloria na valentia, se todos
a teem até ao heroismo, quando se tra-
cte do torrão natal?
Portugal teve, sob a espada épica
de Nun’Alvares, o dia explendente de
Aljubarrota: a Hespanha teve os su-
blimes desvairamentos de Numancia e
Sagunto, que ficaram na historia como
assombros; a França, suspensa d’um
gesto de Carlos Martel, teve a apo-
theose de Poitiers; a Grecia antiga deu
a medir o seu valor na garganta das
Termopylas; todas as nações contam
factos d’esta ordem, todas registam fa-
ctos de incontestada valentia.
Todo homem é um leão quando se
lhe disputa o palmo de terra onde des-
cançam os ossos de seus paes e onde
apodrecem silenciosas as vergas do seu
berço.
Pretender mostrar o exclusivo de
uma qualidade, commum como acabá-
mos de apreciar, é desconhecer a na-
tureza humana, é querer viver uma vida
puramente animal e grosseira.
Para que manter, pois, os exercitos
permanentes? Que motivo sério pode-
rá explicar um estado de armamento
geral nas nações?
Resposta alguma o justifica.
A humanidade, em nome do pro-
gresso, exige que acabe uma situação
assim inconsistente e sempre prestes a
desiquilibrar-se. Que todas as nações
se compenetrem d’esta verdade e que
a diplomacia lhe corresponda nos seus
actos futuros.
Convertamos os paióes em fabricas
e os quarteis em escólas; façamos da
lança uma alavanca e do canhão uma
bigorna.
“Os campos de manobras sirvam
apenas para exposições de industria;
as bandas regimeutaes fiquem para ac-
clamar o talento e o genio.
Só queremos uma lucta; mas luta
incessante… —E’ a luta’que leva uma
nação a exceder outra nos progressos
scientificos, na melhor organisação das
suas instituições, na superior e mais
geral educação dos seus povos; — é a
luta que provoca o desenvolvimento
das artes, a harmonia das mais eleva-
das aspirações, a ancia dos mais largos
emprehendimentos. Eis a grande luta
que nós queremos, — a luta que não
assassina, a luta que a todos levanta.
Eis tambem por que nos erguemos hoje
para abençoar, com esperança, a ini-
ciativa do convite de Nicolau II, o sym-
pathico autocrata das raças slavas, cujo
nome ficará brilhando na historia ao
calor dos corações de mil gerações suc-
cessivas!…
— ea ——
CHRONICAS LIGEIRAS
16 de novembro.
Ouve-se, ao longe ainda, o estalar dos
ultimos foguetes eleitoraes, e o som das fan-
farras repercutindo-se pelos quatro cantos
d’este santo e velhinho Portugal a casar-se
com as notas avinhascadas das derradeiras
saudações dos galopins! — e :
Viva a folia
Dançar, dançar
Haja alegria
“JÁ beira-mar.
e
e e
O Echo da Beira, semanario d’esta villa,
fala às massas gentilicas pela bocca do seu
director sr. Abilio Marçal. Pelo que depre-
hendemos duma local publicada no ultimo
numero d’aquella folha, a indignação produ-
zida no collega pelas escandalosas eleições
municipaes d’este concelho, altingiu o seu
auge. () referido jornal « não sabe em ver-
dade, quem anda menos correctamente: se
o sr. dr. Marinha escolhendo, se o sr. ad-
ministrador approvando, se o sr. Leitão ac-
cedendo, se o sr. filho consentindo. »
Pois nós, caro collega, que bebemos do
fino, sabemos que o sr. dr. Marinha não se
metteu em eleições e, portanto, nada esco-
lheu; e sabemos tambem que o sr. Leitão e
sr. filho, procederam com toda a correcção.
Do sr. administrador nada sabemos.
Este calmante, suppomos, deve produzir
effeito na imaginação attribulada do collega,
pois dissipa todas as phantasticas visões que
porventura n’ella se englobaram, Senão,
talvez uns sinipismos da pharmacia do papá. . .
Terminando, apenas diremos o seguinte
que se coaduna perfeitamente com o caso
da tal indignação e immoralidade: — são
verdes, não prestam. ..
Outra vez será… tenha paciencia.
o
oo
Temos criticos pela prôa,
Cansar-se-ha a má-lingua d’aquelles ma-
ganões, mas nunca se saciará. Que tomem
cautella, pois cá os espera um piassá e agua
quente.
Ersanma. |
a
Furação
Passou um proximo d’esta villa que cau-
sou alguns prejuizos, principalmente na Abe-
goaria, arrancando azinheiras e oliveiras,as,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 17 DE NOVEMBRO DE 1898
$
ECHOS DA SEMANA |
Nos Paços do Concelho reuniu-se no do-
mingo passado a assembleia de apuramento
dos vereadores que hão de servir no proxi-
mo trienio de 1899 a 1901, verificando-se
ficarem eleitos todos os individuos que men-
cionamos no 1.º numero d’esta folha, com
excepção do sr. Antonio Coelho Guimarães,
que por engano incluimos na lista camararia.
— Foram concedidos 90 dias de licença,
sem vencimento, para ir gosar no extran-
geiro, ao digno facultativo do partido muni-
cipal d’Oleiros, sr. dr. José Maria Rodrigues
de Faria.
— Foi nomeado delegado do procurador
régio da comarca de Mação, o sr. dr. Braz
Augusto Pereira Gomes.
— Continuam com actividade as obras do
novo cemiterio.
Para a sua conclusão um cavalheiro de
esta. villa offereceu a quantia de 2005000
réis. Espera-se que para abril ou maio pro-
ximo fiquem concluidos todos os trabalhos ;
e, oxalá que assim seja, pois 0 actual cemi-
terio está numas condições pessimas,
— Teve logar no dia 140 sorteamento dos
mancebos apurados para o exercito e arma-
“da, d’este concelho.
— Foi nomeado conservador para Ancião,
o sr. dr. Antonio Amaro Caldeira Canellas.
— Foi apresentado parocho para a egreja
de Proença a Nova o revd.º padre José Maria
Cardoso, vice-reitor do seminario de Porta-
legre. Dizem-nos ser um sacerdote de muita
illustração e virtudes. Felicitamos por isso
os povos de Proença.
— Foram renhidissimas em Mação as elei-
ções municipaes. Venceu a lista do revd.º
vigario da mesma villa sr. padre Manuel Go-.
mes Pires, influente político bastante consi-
deravel. Para se avaliar da importancia de
esse triumpho eleitoral, basta lembrar que
a lista opposta: era a que denominavt, ha
aproximadamente quarenta annos na direcção
politica da terra.
— Está marcado o dia 27 do corrente
para as eleições de Juntas de Parochia em
todo O paiz.
—Foi transferido para a comarca de
Meda, o sr. dr. Antonio Pedroso da Matta,
ha pouco promovido a juiz de direito da ilha
Graciosa.
Pp ip
“MUNDO EM FORA
A questão Dreyfus
A” medida que a questão Dreyfus vae
sendo posta em plena luz pelo supremo tri-
bunal da Justiça, os anti-dreyfusistas lan-
cam monstruosas suspeitas sobre todas as
pessoas que intervêem na revisão do pro-
cesso.
O Matin na sua revista de jornaes re-
produziu um trecho de um artigo no qual
2 FOLHETIM
ODIO DE FIDALGOS
Almeida Mendes
Elst
Com certeza o leitor está ancioso por sa-
ber quem era este Pedro da Silva, que tão
ousadamente fallara a Vasco de Mascarenhas.
Retrocedamos alguns annos : corre frigi-
dissima uma das noutes de janeiro de 184…:
o céo está coberto de collossaes nuvens ne-
gras e bronzeadas, toda a povoação envolta
nas dobras sinistras de profunda calada : só
numa casa ha luz: é a do cura, venerando
velho, que está encarregado de pascer aquelle
povo.
Entremos: na lareira crepita um toro de
sovereiro que derrama pela quadra uma luz
pallida semelhante à das alampadas accesas
em vasto templo. Sentado em uma cadeira
de espaldar está o sacerdote lendo por a
Mr. Leow, presidente da camara criminal,
“era tratado de irmão de um tabellião prus-
| siano.
O filho de Mr. Loew dirigiu ao director
do Mutin os esclarecimentos seguintes, pe-
dindo-lhe que os transmitisse aos leitores
do seu jornal. » AR
«Depois da annexação da Alsacia-Lore-
na, meu pae, recusando os offerecimentos
do governo allemão optou pela França pro-
seguindo na sua carreira.
Seu irmão que era tobellião em Stras-
burgo e que não tendo senão uma filha es-
cusava de preoccupar-se com a questãa do
serviço militar para os seus filhos, ficou al-
lemão sem opção, com o mesmo fim que
outros seus. compatriotas que não deixaram
a Alsacia.
esse… eve a. “osso Ds e a Te DE OS O
Quanto à religião de meu pae, embora
eu não considere injuriosa a qualificação de
judeu, tenho a declarar-vos que Mr. Loew.
presidente da camara criminal, não se cha-
ma Lewy, não é israelista e não tem israe-
litas na sua familia ou nos seus ascenden-
tes».
A questão Cretense
Segundo informações recebidas, todas
as tropas turcas deixaram a ilha de Creta, à
excepção de quatro officiaes e de quarenta
e um homens que ficaram ainda em Retimo,
na esphera russa, para fazerem embarcar
as munições e material de guerra.
A bandeira ingleza fluctua só em Can-
dia, e em todos os outros pontos da ilha a
bandeira turca é arvorada ao lado da das
potencias sob cuja esphera d’auctoridade
elles ficaram. A Sublime Porta protestou
junto dos embaixadores contra a suppressão
da bandeira turca em Candia.
O correspondente do Standard em Canea
diz que depois da partida das tropas otto-
manas haverá ainda uma grande difficuldade
a vencer, e que essa difficuldade é o des-
armamento dos christãos.
Em Candia já se tomaram providencias
a tal respeito, e sir Alfred Biliotti, consul
inglez, recebeu a affirmação de que os chris-
tãos deporiam as armas logo que isso lhes
fosse ordenado pelo comité executivo.
Uma outra difficuldade a resolver ainda,
tambem, é a questão financeira. Os porta-
dores de titulos da divida publica ottomana
reclamam, ao que parece, as contribuições
indirectas, ou seja o imposto sobre o tabaco,
o sal e as estampilhas, que os cretenses es-
peravam que iriam augmentar os rendimen-
tos da ilha.
O discurso de Salisbury, —
A impressão na Russia
Os correspondentes dos jornaes inglezes
em S. Petersburgo declaram que a imprensa
russa dedica attenção especial ao ultimo dis-
curso de lord Salisbury, commentando-o em
came
millesima vez as paginas sublimes da Escri-:
ptura Sagrada.
Que augusta serenidade se desenha na-
quelle rosto do verdadeiro embaixador do
Christo! Cada ruga das suas faces exprime
um soffrimento intimo, altesta uma obra de
caridade, que a sua religião lhe manda pra-
ticar.
Aquelle rosto é uma solemne epopêa que
nem o andar dos tempos nem o apregoar
do povo que os alardêa de reprobos para
com a sociedade poderá apagar: e o brazão
indelevel=ad’esse caminho sagrado, que S.
Chrysostomo diz, posto que exercido na terra
deve ser cantado no numero das cousas ce-
lestes»: é o marco indelevel do «homem di-
vino» como lhe chama S. Diniz.
Que cegueira a dos homens modernos !
O padre é o reprobo, o padre é a escoria,
a vergonha do sociedade.
Mas não se lembram que elle é o anjo
da guarda do homem, que está para subir
à presença de Deus, que é a mão benefica
que vai converter em deleites os infortunios
de despido tugurio, o consolador de todq o
sentido pessimista. Todos elles concordam
em que é alarmaute O tom empregado pelo:
primeiro ministro inglez. Segundo o No-
vote Vremia, as phrases do marquez de Sa-
lisbury não desvanecem a inquietação cau-
sada na Europa e na Ásia pelos preparati-
vos militares da Gran-Bretanha.
« E’ necessario, acerescenta esse jornal,
que a França e a Russia vigiem cuidadosa-
mente os projectos da Inglaterra. »
Faz notar o Novosti que lord Salisbury,
a julgar pelas observações expostas no re-
cente banquete, assume a responsabilidade
de eventuaes complicações por causa da
questão do Egypto. No parecer d’essa folha,
o discurso deve ser considerado como uma
advertencia dirigida a todas as potencias que
se não mostram dispostas a tolerar as pre-
tensões da Inglaterra.
A politica de Guilherme II
Um telegramma expedido de Paris em
data de 13 diz o seguinte :
«Affirma-se que a visita do Imperador
“Guilherme à Hespanha exaspera vivamente
a Inglaterra.
Diz-se que é provavel que o imperador
visite a povoação de Douvres para dissipar
a má impressão que, nºaquelle caso, possa
traduzir.
A imprensa ingleza tracta de demons-
trar que as intenções da Allemanha são ago-
fatas porque, simulando apoiar a Hespanha,
só pretende uma: parte na distribuição das
Phillippinas.
– E indubitavel a existencia d’uma alliança
anglo-americana. »
*
O conhecido homem publico, Asquith
membro do conselho privado, proferiu ante-
hontem em Bursmley um importantissimo
discurso. |
Negou que a Inglaterra tivesse o pro-
posito de fazer qualquer coisa em menoscabo
do prestígio da França.
Declarou que.o dominio territorial d’esta
potencia no centro da Africa poderá chegar
até ao valle superior do Nilo.
Terminou, corroborando que a Gran-
Bretanha sente verdadeiras simpathias pelos
Estados-Unidos, o que, no seu conceito, po-
derá dar logar a acontecimentos de maior
importancia.
— mer A a
CHRONICA ELEGANTE
ANNIVERSARIOS
Faz amanhã annos o sr. dr. Anacleto da
Fonseca Mattos e Silva, no dia 24 o sr, João
Joaquim Branco, e no dia 25 0 sr. Emygdio
de Sá Xavier Magalhães.
e
Passou no dia 11 do corrente o anniver-
sario natalício do revd.”º sr. padre Domingos
Lopes da: Cruz, coadjutor desta freguezia.
ente que sofíre, o pae do orphão: desvalido
que lhe vai estender a mão que afaga com
estremado carinho, 0 braço protector da viuva
que viu faltar-lhe de repente o querido esposo.
— «O enfermo, esse não chama um phi-
losopho, diz o P.º Manoel Bernardes, para
a Cabeceira, nem um brado para ler-lhe a
sua Jiliada na enxerga dos paroxismos. »
Porém, elles, os pregoeiros do crime que
progride não olham para isto: vêem n’o pas-
sar e apontam n’o com um sorriso pungente
formando, umas gargalhadas estupidas, de
que não serão capazes de decifrar o sentido.
E o padre lá vai; no seu rosto ha a se-
renidade candida e sublime do Salvador: não
O intimidam as derisões dos curiosos, as as-
suadas do povo, as chocarrices da vileza por-
que o seu ministerio manda-lhe emmudecer
a tudo, tudo supportar com humildade: e
depois… vem o lagrimejar angustioso e la-
cerante do homem de sagradas inspirações
pela rebellião de seus irmãos, o pranto que
retalha pousadamente o coração.
Mas que se importam elles, — os perse-
guidores famintos do sacerdote — com isto ?
É
“Esteve n’esta villa, de passagem para
Alvaro, com sua ex.”* mana e gentil sobri-
nha, o sr. conselheiro Alfredo Auguslo de
Mendonça David.
*
Sahiram para Torres Novas, regressando
já a esta villa, os srs, Henrique de Moura 6
Sebastião Tavares.
*
Tem estado encommodado de saude, mas
está quasi restabelecido, o sr. Fernando Mar-
tins Farinha, digno escrivão interino do juizo
de direito d’esta comarca.
*
Sahiram para Pedrogam- Grande: regre-
ssando já a esta villa o sr. Antonio Joaquim
Simões David e seu filho Adrião Moraes David.
E
Esteve n’esta villa o revd.”º sr. padre
José Farinha Martins, illustrado capelão do
regimento de infanteria 14, aquartellado em
Thomar.
m
“Sahiu para o Valle de Santarem o sr.
Carlos Caldeira Ribeiro.
Me
Acha-se bastante incommodado de saude
o sr. João José Teixeira, digno escrivão e
tabellião desta comarca.
Ea
“Sahiu já para Lisboa, seguindo d’ahi para
a-Zambezia, Africa oriental, o-sr. Arthur
Caldeira Ribeiro.
Desejamos-lhe uma feliz viagem.
ak
Está em Sernache do Bom Jardim o sr.
padre Antonio Ladislau Coelho, capellão ra-
formado do exercito.
%
Deu à luz uma robusta creança do sexo
masculino, a ex.» sr.º D, Ernestina Ludo-
vina Coelho Guimarães, esposa do sr. An-
tonio Coelho Guimarães. Felicitamos.
w
Esteve n’esta villa seguindo já para o
Porto, o nosso particular amigo sr. dr. José
Joaquim Maria Tavares.
*
Já regressou a esta villa o sr, Luiz Dias.
x
Está em Villa do Rei o revd.º sr. padre
Guilherme Nunes Tavares.
%
Vae contrahir brevemente matrimonio
com a ex.” sr.º D. Rosa Bella de Jardim,
o sr: dr. José Adriano de Carvalho, digno
medico municipal em Villa de Rei.
Er
— Já tomou posse do logar de conser-
vador da comarca de Thomar, o sr, dr. An-
nibal Berra.
que lhes custa que o ministro do altar deixe
correr pela fronte afogueada, pela chamma
que o consome, as lagrimas de muitos annos
que não póde estacar ao vêr o sordido des-
prezo, que infunde aos seus semelhantes ?
Não sabem o que fazem porque não po-
dem comprehender a poesia que em si en-
cerra o homem, que Jesus Christo manda
ouvir como a si proprio.
Maxima fatal a de Boileau :
— Un sot trouve toujours un plus sot qui
Padmire!
N’este momento bateram à porta rija-
mente: uma velha que estava acocorada a
um canto da lareira conservando o rozario
entre as mãos levantou-se cambaleando com
o somno e perguntou em tom similhante ao
do regougo da rapoza :
— Quem está ahi ?
— Um viandante, respoderam, perdido
no caminho pede pousada por esta nonte. ,
— Um viandante a estas horas ? muemu-
rou a velha meneando a cabeça coberta de
grisalhos cabellos em signal do desconfiança
— Que é isso? perguntou Q cura erguensens@@@ 1 @@@
|
EO
Sahiu para a Figueira da Foz, e segue
d’ali para Figueira de Castello Rodrigo, o
sr. Annibal Augusto d’Abreu e Campos.
m
Estiveram n’esta villa os srs. major Gue-
des e alferes Córado, do regimento de ca-
cadores n.º 8, d’Abrantes.
Vieram proceder ao sorteio dos mance-
bos deste concelho.
-—— epa
EEE
Fallecimento
Falleceu em Pedrogam Grande, com 73
annos de edade, o sr. dr. Accurcio Henriques
Farinha da Conceição, distincto advogado na
comarca de Figueiró dos Vinhos. Exerceu
tambem com subida inteligencia o logar de
conservador da mesma comarca e de admi-
nistrador do concelho de Pedrogam.
Ha mais d’um anno que este honrado e
veneravel ancião estava afastado da vida pu-
blica devido à doença que agora o victimou.
D’esta villa foram alguns cavalheiros as-
sistir ao: seu enterro, prestando assim ás
suas elevadas qualidades a ultima homena-
gem. H
A sua ex.”* familia, os nossos pezames.
CEEE
a pato
VARIAS NOTICIAS
Em consequancia das ultimas chuvas,
desabou o predio do sr. Luiz Ignacio Pereira
Cardim, que existia no Largo do Chafariz,
proximo à Praça do Commercio.
— As duas ribeiras que circundam esta
villa, têem engrossado d’uma maneira ex-
traordinario, em virtude da chuva torrencial
que ultimamente cahiu.
— Teve logar no domingo a festa de S.
Sebastião, de Nesperal, estando bastante con-
corrida. Foi abrilhantada pela phylarmonica
de Sernache do Bom Jardim.
— Pelo ministerio do reino foi fixado em
3005000 réis a dotação do primeiro partido
medico e em 3008000 o do segundo do con-
celho de Mação. ;
Companhia. dramatica Lança
& Filhos
Esta companhia levou á scena no do-
mingo ultimo, a comedia em 1 acto — João,
o gageiro; Uma mulher por uma libra, e Um
namorado exemplar.
O espectaculo correu regularmente, no-
tando-se comtudo pouca animação da parte
dos interpretes devido à falta de saude de
alguns e à pouca concorencia.
— Acha-se gravemente doente o novel
actor, Noé, cuja falta foi muito notada nas
comedias exebidas.
x
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 17 DE NOVEMBRO DE 1898
Sciencias & Letras
D’um opusculo publicado ha ponco
pelo nosso presado amigo sr. dr. Lino
Netto, intitulado: — Historia dos juizes
ordinaris e de paz, transcrevemos hoje
esse trecho de sentida prosa portugueza :
« Abramos um parenthesis. Depois de
sentirmos as primeiras palpitações da socie-
dade portugueza, depois de termos ouvido
Os seus primeiros vagidos, é bem que nos
embeveçamos por um momento na contem-
plação desta patria querida, precisamente
quando, refulgindo-lhe na fronte os explen-
dores do genio, ella se prepara para encher
a historia.
Após a tormentosa gestação da sua vida,
que vem desde Ourique até Aljubarrota, não
Vae esmorecer, como talvez pareça; descança
apenas um pouco para meditar! Concebe
então um sonho duleissimo, e, ainda em
sonho, o archanjo do destino entrega-lhe a
palma .da immortalidade. A essa varinha
magica, o seu espirito toma azas d’ouro que
hão de voar em breve por espaços de luz!
O infante D. Henrique, vergontea da
prole bemdita de D. João 1, funda em Sagres
a sua eschola nautica — o ninho extraordi-
nario e singular d’onde irão erguer vôo as
aguias que se chamam Gama, Colombo,
Fernão de Magalhães. ..
Alli se pensa, alli se inicia, alli se funda
a alta significação historica de Portugal. —
“+ Hoje, no desfazer do sonho, apenas lá
vão bater as ondas n’uma piedosa evocação !
De lá desamarra a caravella de Gil Eannes
em 1434; de lá se rasga a neblina do Mar-
Tenebroso; de lá se despedem’os primeiros
gritos da Renascença e os primeiros alvores
das civilisações modernas.
Admiravel!
Um povo pequeno, que levou a idade-
media a educar-se n’uma vida tormentosa,
arranca em delirio agora a sua alma enorme,
e atira com ella, cheia d’uma idéa extra-
ordinaria, pelo ar immenso!
A historia não dá noticia d’um facto as-
sim, e, salvo o momento supremo em que
irradiou do Calvario o pensamento de Jesus,
nunca os olhos viram tanta claridade!
Os descobrimentos do Porto-Santo, da
Madeira e dos Açores foram as primeiras
joias d’esse feito portentoso. Basta isso; e,
dahi em diante, o deslumbramento e a ancia
desvendam nºum momento todos os myste-
rios, e por sobre a Europa tremeluzem desde
logo as grandes constellações do ceu da
Renascença.
O Gama parte atravez dos mares até à
India a traçar um sulco de luz para que as
nações se não percam. Quando transpõe o
cabo da Boa-Esperança, a Africa agita-se
para admiral-o e começa então de accordar
do seu somno secular. A Asia é o alvo do
grande navegador, e, quando os galeões
do os olhos e fitando a criada que continuava
indecisa.
— Um homem que bate á porta…
— Abre.
A velha correu os ferrolhos e um man-
cebo trajando roupa propria de viagem fran-
queou a entrada da casa: dirigiu-se em con-
unente ao padre, que o esperava de pé e
saudando-o beijou-lhe respeitosamente a en-
rugada mão
— Quem sois, senhor? perguntou-lhe este
em dece palavras ao mesmo tempo que-um
augusto sorriso se lhe esboçava nos labios.
— Um caminhante que fazendo jornada
por esta povoação teve a infelicidade de vêr
cahir debaixo de si o cavallo que montava.
— Quem sois e d’onde ?
O recemvindo introduziu a mão no bolso
£ em seguida apresentou ao sacerdote uma
carteira. j
— É escusado… disse este.
— Lêde.
“Fez-se silencio por momentos: a fogueira
crepitava ainda e derramava pela sala 0 seu
pallido clarão: o venerando cura approzi-
y
mou-se duma candêa pendente da chaminé
e principiou a correr uma a uma as folhas
da carteira.
O seu rosto illuminou-se de subito por
um lampejo de jubilo, os labios arquearam-
se-lhe e um monossylabo, mixto de prazer
e amargura se esvaiu d’elles.
— Meu filho! bradou logo arremessan-
do se aos braços do viandante,
— Seu filho! replicou este admirado.
= Sim, Pedro, sim. . . eu não me engano.
Calou-se e imprimiu-lhe na fronte um
osculo paternal.
=» —Ouve-me: vais vêr em como eu sou
teu pae:
«Teu avô, Pedro, era caçador furtivo:
muitas vezes fôra recolhido à cadéa e ontras
tantas encetara o seu desgraçado mister.
N’uma horrorosa noute de dezembro, João
Ferreira, assim se chamava elle, sahiu de
casa 6 dirigiu-se sob a furiosa tempestade à
real tapada de Mafra com o fim de matar
dous gamos que no dia antecedente vira para
alli recolher.
«Na occasião em que ia fazer pontaria a
portuguezes pesam em aguas d’India, treme
em seus abysmos 0 oceano!
Extranho acontecimento! ;
Para o contar mal póde a historia, e,
para 0 definir, não ha linguagem bastante.
Aquella obra faz-se uma vez, e a raça que
a concebeu é a unica no arrojo.
Não contente com esta gloria alcançada,
Portugal manda todas as suas naus, como
outras tantas estrellas, a annunciar ao mundo
a Boa-Nova da civilisação que renasce. E,
para affirmar a energia e a fé da sua raça,
deixa na India a espada luminosa d’Albu-
querque e a palavra santa de Francisco de
Xavier.
E” assim que Portugal sonha, sobe e se
expande; mas tão forte é o esforço e tão
viva a commoção, que elle vae cahir, so-
nhando ainda, na sepultura ardente d’Alcacer-
Kibir..
Para chamal:o novamente à vida ficou
apenas um livro, — o livro de Camões!…
Sejam essas palavras, deixadas ahi des-
alinhavadamente, uma homenagem ao grande
vulto, cuja memoria e cujo feito se ce-
lebrou ha ponco. Que elle seja sempre um
estimulo, e que este migalho de terra ta-
lhado e conservado pelo amor dos nossos
paes possa sempre, à sombra da sua gloria,
existir intacto, immaculado!…
Tiremos, porém, do facto o que elle tem
de significativo para o nosso estudo.
A febre heroica que abrasou a nossa
raça, em côres phantasticas, fez que ella se
esquecesse da sua vida interna, levando o
melhor da sua alma para regiões longinquas.
A” realeza é que não lhe esqueceram os seus
interesses egoistas. Envaidecida com osnovos
successos maritimos e de conquista, que
suppoz seus, levantou o machado demolidor
para dar um golpe mortal na arvore viri-
dente do municipalismo. Quando parte da
nobreza percebeu o intento de lançar os ali-
cerces do absolutismo, quiz resistir pelo lado
que lhe competia. Em vão, porém. Ella
tinha recebido a primeira punhalada na pes-
soa do drque de Vizeu.
D’este modo, á sombra do absolutismo
que se impunha, as classes inconsciente-
mente abatidas deixaram-se adormecer,
como à sombra da mancenilha, sonhando um
sonho d’além-mar !
A organisação geral do paiz, sem os
notaveis attrictos das classes, tornou-se por
isso agora mais modificavel à vontade dos
reis; e, como parte integrante que era da
organisação geral, a organisação judiciaria
tomou naturalmente os módulos d’aquella.
Tal a significação que tem para este nosso
“estudo o centenario da descoberta do Ca-
minho Maritimo para a India por Vasco da
Gama. Se ella representou a expansão d’uma
grande tenacidade accumulada nos dois se-
culos precedentes, marcou ao mesmo tempo
O inicio da decadencia politica da nossa pa-
tria antiga.
tão boa peça de caça, um guarda da matta,
escoando-se ligeiramente detrás de uma mou-
ta, appareceu, e deu-lhe voz de preso. Fu-
rioso com este contratempo voltou-se elle e
varou o pobre militar com duas balas: em
seguida tomando uma carreira vertiginosa
foi fechar-se em casa.
«Ao romper da alva acordou vendo a seu
lado dous policias que o conduziram á prisão:
o infeliz havia deixado no lugar do delicto a
sua arma e uma navalha catalã em cujo cabo
estava gravado o seu nome. Não podiam
haver provas mais evidentes e um mez de-
pois embarcava a bordo de um brigue de
guerra que seguia viagem para as costas
d’Africa.
«Durante a travessia foi d’uma conducta
exemplar e o commandante do navio trata-
va-o com todas as attenções: um dia antes
de avistarem Loanda um grande temporal
cahiu sobre a embarcação, que correu risco
de se submergir. N’um dos momentos de
maior perigo soltou elle um grito exclamando:
«Oh! não ser eu livre n’este momento. . »
veriamos quanto vale um bom marinheiro.
neon cm
As causas d’isso procuramos expendel-as
em muitas das paginas d’este opusculo. Se
devemos aproveitar o exemplo arrojado dos
Ossos maiores, não nos devemos esquecer
tambem de afiastar os defeitos que acarre-
taram o abatimento das sua instituições
politicas. »
cdi im
CANCIONEIRO
HORAS VIVÍDAS
I
Fica um rasto de luz no teu caminho :
Como o d’um astro que o seu giro trace…
Como o d’um anjo que na terra andasse…
Se tu és pura, como o puro linho!
Quando me affasto, ou quando me avisinho,
Ou longe ou perto, — aonde quer que passe,
noite: e vejo o sol na tua face…
Por isso é que na treva te adivinho !
Estejas tu sósinha, ou entre as ondas
Do Ra com o povo tu te escondas,
Lá te vou descobrir : é tudo em vão!
Que eu não te perco assim entre os escolhos,
Oh Iman do meu peito e dos meus olhos |!
“Ancora da minha alma! — Oh Salvação !
IL
Os milagres da Fé!… Na minha terra
Correu que certa viuva recolhida,
Muito temente a Deus, de sancta vida,
Vira a Mãe-do-Senhor no alto da serra…
E tudo p’ra lá foi! — Tnutil lida
Debalde a gente se alvoroça e berra…
Só a viuva que na alma a fé encerra
É que via no Azul à Apparecida !
Os milagres do Amor!… Tambem n’esta hora
Ninguem te vê ahi, Nossa-Senhora
Da minha alma! ninguem… afóra eu?
Olha os meus olhos nos teus olhos fitos.. .
Vêsl?… Arroubada em gosos infinitos,
Só à minha alma é que se lhe abre o Céo!
II
Mil annos, junto do bom Deus, são como
A hora que passou : gosa-os a gente
Quasi sem os sentir: e de repente
Passaram… como passa 0 vento e 0 famo!
Dil-o não sei se a Biblia… Certamente
Livro mystico era, que eu costumo
(Tanto eu nesta descrença me consumo!)
Lél-o às vezes — e ficar mais crente…
Pois agora vejo eu que era verdade
O que dizia o livro de piedade,
Talvez de minha mãe, que eu li outrora…
Ao pé de ti o Tempo não existe :
As horas não as sinto | chego e… viste?!
Foi n’am momento que passou uma hora.
Carlos de Lemos.
Da Palingenesia,
ns
Nota: que teu avô fôra primeiramente gru-
mete n’um cruzeiro francez,

AS YARAS
Ainda guardadora dos rebanhos do nosso
Chefe, a formosa Ducahira, todos os dias ja
banhar-se no ponto mais fundo e mais bello
do rio, onde vgam nenuphares é nympheas
e onde, orgulhosamente, se ergue à Victoria
Regia. — principiou contando a septuagena-
ria Gylia.
Aos que de amor lhe fallavam respondia
sempre com um desdenhoso sorriso, , que
gelava e amortecia toda a esperança e en-
rugava as sobrancelhas espessas é volunta-
riosas olhando com uma suprema € altiva
indifferença os desgraçados, que iam men-
digar uma esmola do seu affecto !
O Pagé, — sabio que lê nos «astros tão
bem como lê o Destino em nossas mãos, =
disse-lhe um dia entre affectuoso e repre-
hensivo :
— «Toma cuidado, Ducahira! Não brin-
ques com o coração… Não brinques com O
coração…»
Ella riu-se das palavras santas do velho
sabio e continuou sendo a mesma voluvel e
alegre rapariga.
E lá ia todos os dias, perfumada a peri-
perioca e jasmins, banhar-se no ponto mais
bello do rio, entre nympheas e nemuphares.
*
Tinha chegado por esse tempo: aos nos-
sos campos um joven frecheiro da poderosa
tribu de Alliath, galhardo e valoroso, que
vinha pedir alliança para um proximo com-
bate com os barbaros do meio-dia.
Ducabira viu-o, e — insensata ! — come-
cou a amal-o, sem o querer, e mesmo sem
o sentir !
Elle ja sempre esperal-a à beira-rio é alli
conversavam tranquillos e affectuosos junco
dos nenuphares e das nympheas, ao pé do
sorriso magestoso da Victoria-Regia.
Curto, porém, foi o idyllio.
O juvenil frecheiro, galhardo e valoroso,
teve de partir para a guerra € à linda guar-
dadora dos rebanhos do nosso Chefe, desde
então cobriu-se de tristezas e à beira-rio
conversava com a Saudade, até noite fechada.
Uma vez encontrando-se com o Pagé ten-
tou mostrar o contentamento antigo e este
disse-lhe paternalmente :
— «Não me enganas, Ducabira ! Aconse-
lhei-te e preveni-te; não se brinca com O
coração, minha filha… Não se brinca com
o coração…»
Ella deixou correr francamente as lagri-
mas e abraçando o velho respondeu-lhe :
— «Tens razão, Pagé: julguei-me forte,
quiz ser forte, mas O coração trahiu-me,
Não dnvidei de ti, nem da tua sabedoria,
mas confiava em mim…»
Durante muitas luas continuei vendo Du-
cahira passar para o costumado logar do rio,
cada vez mais triste e abatida.
Um dia, porém, deixei de a ver, é como
eu, todos os da nossa tribu.
Imaginâmol-a perdida. Batemos à floresta
em todas as direcções, e os mais audases
matteiros que sairam a procural-a, voltaram
passados tempos, desilludidos e desesperan-
cados de a encontrar.
Foi então que o Pagé, — sabio que lê
nos astros tão bem como lê o Destino em
nossas mãos, — nos contou que Ducahira
tinha ido banhar se, como costumava, e,
quando contemplava à bronzea belleza do
seu corpo no espelho erystallino do rio, ou
vira uma voz desconhecida é longinqua can-
tando nostalgicamente uma triste canção toda
impregnada de amor e de saudade.
Aquella voz chamava-a, magoada e doce,
e Ducahira, lacrymosa e lenta, foi assim al-
trabida para o abysmo das aguas pelo canto
melancholico das Yaras !
E é por isso que as donzellas, que têm
os noivos na guerra, não vão banhar se
aquele ponto do nosso rio, onde vogam ne
nuphares e nympheas € onde, orgulhosa-
mente, floresce a Victoria Regia.
Verediano Gonçalves.
a mm
HOMEM AFOGADO
“Appareceu hoje à tona d’agua, debaixo
da Ponte de Troviscal, o creado das sr.” Fa-
rinhas, d’esta villa, José Calvario, solteiro,
de 22 annos d’edade, que se presume mor-
rer afogado.
Não se suspeita que haja criminalidade
e suppõe-se que o infeliz rapaz na pecasião
que passava a ponte com um sacco de cas-
tanhas, que conduzia do Carvalhal, para
aqui, escorregou da ponte que é de madeira
e encontra-se em mau estado de conservação,
cahindo sobre a ribeira que lhe deu affron-
tosa morte,
– O sacco das castanhas foi encontrado in-
tacto sobre o lastro da ponte e esta com
uma das guardas ou corrimão partido.
O rapaz tinha bom comportamento é era
natural do logar da Serra, d’esta freguezia.
As auctoridades investigam.
Desastres d’esta ordem, hão de repetir-
se se as auctoridades competentes não se
preoccuparem com 0 estado deploravel em
que se encontram as pontes de madeira que
abundam neste concelho, que na maior parte
são de madeira de pinho e construidas por
indivíduos de nenhuma competencia.
—— io
Casamentos.
Elle. — (Beijando-lhe Lernamente a mão)
— Ah! Esta linda mãosinha vae fazer mui-
tas pessoas felizes.
Ella. — (Admirada). Muitas ! só duas;
eu e lu. E
Elle. — Ora essa ! E então os meus €re-
dores, qne já não esperavam receber Vvin-
tem?!
*
Um padeiro que todos os dias reduzia
escandalosamente as dimensões do pão, ba-
teu com muita força à porta d’um freguez.
— Quem é?
— Padeiro.
— Metta pelo buraco da fechadura. Cabe
perfeitamente.
E
ANNUNCIOS
EDITOS DE 80 DIAS
4.º ANNUNCIO
Pelo juizo de Direito desta comar-
ca, escrivão Gonçalves e nos autos d’in-
ventario orphanologico por obito de
João Martins, morador, que foi, no
logar do Almegue, freguezia de Serna-
che do Bomjardim, d’esta comarca, em
que é cabeça de casal o conjuge sobre-
vivo Rosa de Jesus, do mesmo logar,
correm editos de trinta dias citando o
herdeiro, sobrinho do inventariado, au-
sente em parte incerta, Custodio da
Silva, casado com Maria da Conceição,
esta moradora no logar do Pereiro,
d’aquella freguezia, o qual é filho de
Rosa Ribeiro, — aliás — Maria, casada,
que foi, com José da Silva, aquella
irmã do inventariado, os quaes são am-
bos falecidos, para assistir a todos os
termos, até final, do alludido inventario,
sem prejuizo do andamento deste.
Certã, 10 de novembro de 1898.
E eu Francisco Cesar (Tonçalves, es-
crivão o subscrevi.
Verifiquei
Almeida Ribeiro.
PROCESSO DREYFUS
CARTA Á MOCIDADE.
EMILIO Z0LA
Preço 50 réis
Acaba de sahir do prélo este vibrante
opusculo dirigido á mocidade academica.
Vende-se nas livrarias.
D. JOÃO DA CAMARA
O BEIJO DO INFANTE
‘“ Vende-se nas livrarias.
Editora.
GUEDES TEIXEIRA Historia dos Juizes ordinarios e de paz
BO A-VIAGEOM POR
POESIA Antonio Lino Netto
q 4 Al Faculdad D t I
dita pelo auctor na recita de despedida urang da acilindo do Difalio sjecble ofirsdixo
do quinto anno jurídico de 97-98 do Instituto de Coimbra
Preço 200 réis Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Coimbra.
PYROTHEGHNICO
CERTÃ
David Nunes e Silva, com officina de pyrothechnia, encar-
rega-se de fornecer para qualquer ponto do paiz fogo d’artificio,
com promptidão e garantido acabamento.
Na sua officina encontra-se sempre um grande e variado
sortimento: de fogo de estoiros, e foi della que sahiu o fogo
queima-lo. nos centenarios : — Antonino — de Gualdim Paes —
e da India, — (neste sómente o “de estoiros -e balõas), cujo
effeito tem sido applaudido pelo publico e imprensa.
Preços sem competencia
CENTRO COMMERCIAL
DE
E a A
Completo sortimento de fazendas de algodão,
lã, linho e seda, mercearia, ferragens é quinqui-
lherias, chapeus, guarda-chuvas e sombrinhas,
lenços. papel, garrafões, relogios de sala, camas
de ferro e lavatorios, folha de Flandres, estanho,
chumbo, drogas, vidro em chapa e objectos do
mesmo, vinho do Porto, licores e cognac; livros
de estudo e litterarios, tabacos, eto.
Preços extraordinariamente baratos e sem
competencia, |
Agencia da Companhia de Seguros Portu-
gal, |
[a 7, Praça do Commercio, | a 7
CERTA
Retratos
Tiram-se em differentes tamanhos desde 800 réis a duzia,
garantindo-se a sua perfeição e nitidez.
Encarrega-se de ir tirar photographias à qualquer ponto
deste concelho, mediante ajuste especial.
Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Gom-
Merci — CERTÃ. |. |