Gazeta das Províncias nº1 10-11-1898

@@@ 1 @@@
| ie
mos
ê 9
toi pda
Li
pão
cenmh — Quinta | o
dd de Hnionro de 9 os

g f *”
ASSIGNATURA. ,
CERTA, me%, 400 rs, FORA | DA CERTÁ, trimestre, 330 rs. AFRICA, semestre, 15000 rs. BIAZIL, semestre, 2800 1s. Numero avulso, 30 78,
ato
EXPEDIENTE
A todas as pessoas a quem en-
viamos o nosso semanario, pedimos
a fineza de nol-o devolverem o mais
depressa possivel caso não queiram
honrar-nos com as suas assignaturas.
“No caso contrario ficarão consi-
deradas assignantes para todos os
effeitos. a
»
eua DEP
Nas lides da imprensa toma hoje logar
um novo campeão. E” certamente dos
menos valiosos. Não obstante, vem ani-
mado d’um largo ideal, — o amor dos
– povos; vem impellido por uma aspiração
a
que surgo Na
“feita a li do so
ardente, — o progresso úniversal. Isso
lhe basta. Dirão talvez que é um atomo
im porta. 4 De atomas é.
e atomos nascem as
vibrações das mais 3 sublimes harmonias.
Reconhetemos, sem duvida, a insi-
gnificancia do nosso valor; | arrasta-nos,
porém, uma convicção intima e já hoje
felizmente vulgar: é que nada se perde
na natureza; todo o esforço, por mais
simples que seja, péza é inílue na ordem
geral. E, muitas -vezes, o esforço vale
mais pela intenção! Assim é no nosso
caso. Comprehendemos bem a responsa-
bilidade da nossa missão; sabemos que
espinhos ella nos impõe. No entanto, não
trepidamos, um momento sequer, em em-
prehendel-a. Perante a febre geral de
civilisação que tudo agita, perante o calor
dos mais puros ideaes “que-tudo aquenta
FE ninguem é lícito ficar. indiferente!
O momento é solemne. À humanidade
está. aclualmente num periodo de tran-
sição, que deixa antévêr para prego area-
RS de muitos: sonhos. *
– Andrée arroja-se a it ão pólo Norte
“para devassar’0s ultimos limites da terras
“ainda incognitos ; Roegten, dando à pho-
tographia às mais promettedoras! desco-
bertas, subtilisa a opacidade dos corpos;
Edisson, o extraordinario americano que
assombra as imaginações, “faz, dia a dia |
novos milagres na acustica ; Pasteur funda
a theoria microbiologica; | iluminando as- |
sim a pathologia; A. Comte indica e de-
monsira a interdependencia, dos pligno-
menos do mundo cosmico ; F echner,” as-
sentando a formula das determinações
psychologicas, lança os fundamentos: da
psycho- bye, E
b
“Ta
Toda a correspondencia dirigida à Redacção, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos rão se devolvem
Ermesto Marinha — Director
á A a
sação, à vista de tantos progressos, não
seja dado esperar-se? Que espirito de
homem sensato não advinhará, para bre-
ve, dias mais propicios para humanidade ?
Os povos parecem já presentil-os, e
nota-se por toda a parte o movimento do
despertar.
A Russia, como outros tantos braços,
lança na Ásia as suas rêdes de linhias-
ferreas, levando ali energias, novas e ex-
citantes. A França, a Inglaterra, a Alle-
manha, e ainda a mesma Russia, estão
entorpecidos da China, O Japão accor-
dou já; o seu logar na vanguarda do
progresso é indiscutível. A Persia e o
directamente as maravilhas da civilisação.
europêa, À America excede já em acti-
liberdades publicas eindividuaes é batido
a todo o panno pela melhor brisa das as-
pirações modernas. O Brazil promette
entrar numa phase de desenvolvimento.
ção das novas instituições. que escolheu; |
Cuba e Porto-Rico estão em vesperas
duma apotheose ; as algemas d’hontem
vão ser as machinas dº amanhãya servidão
de ha pouco passa a convertêr-se na li-
bertação do futuro. ;
Ea Africa?
Tem caminhado nos ultimos tempos
como nunca. O Transyal é uma nova
Esparta: trabalha-se lá e Tucta- se cons-
tantemente. À republica d’Orange segue-
lhe as pizadas. As colonias inglezas dis- |
fructam uma civilisação já adeantadis-
“sima: Ao norte, o Egypto progride e
avança, está destinado a ligar a civilisa-
ção sul-africana com a dos Eca das
costas do Mediterranco. »
“A Abyssiriia, de: qué ge sequêr
ouvia: fallar, é já hoje uma potencia. civis,
ora e AR
“que das outras regiões; o genio. cosmo-
polita da Inglaterra erystalison ali.o me-
lhor das suas energias. E’ vêr a Australia.
Indubitavelmente, + estamos. assistindo |
a uma “ gencralisação “ continua de pro- |
gresso. Não é já a Grecia antiga concen- |
rito humano; não é já a India dos pro-
phetas isolando-se entre as nações gen-
«tilicas; não é já a Roma dos Cesares em.
feno s só «nos seus livros as regras
desb ps
a ate Tongeara me Jiaviah emana 1 vem
postadas no Oriente sagudindo os nervos .
Sião enviam os seus chefes a observar.
“vidade, a febril. Eutopa:s o, pendão das |
. . . $
economico consideravel, com a implanta-
lisadora, respeitada e imponente, – gia A
En ia ram- se no dia Gedo- corrente as. é
nova Gamara deste concelho par ars
Que diremos da Oceania? O mesmo. j
trando em si só todo O esforços do + espt- ||
Rr ndo “—— Semanario ‘ independente, Rea
ut
q osS FUPLICAÇÕES
Es
No corpo do jorál, cada linha som. Aanuncios, 40 18,4 linha. Repetição, 20 rs. a linha. Permanentes, preço ditadas “os srs, assiguantes
Loo têmo, desconto de” E /j. Esta folha é impressa na Impr ensa Academica, Ri da Sophia. Coimbra
a Epsde ARE Sto Rosa
7 quacem mas mm man fot est E
ar
Que sonhos haverá, pois, cuja reali- | superiores do. direito: — é a Inglaterra
“diffundindo a sua erande alma em todas
| ginerosa, fecundando a corrente univer-.,
sal das idéas; é a America distribuindo |
por todos os logares a maravilha das suas
industrias; é 0 telegrapho communicando
« pensamento; é a linha ferrea ligando
és nações; é o longo abraço de fraterni- |
sação, que teve um exemplo na cruz do
Rua, e um grito, em 1792, na TevO-
: lação de Paris.
* Deante d’esta agitação geral, é um
“grime o silencio. Ê forçoso, necessario
“mesmo, que. as novas, correntes de vida
que atravessam «a! funanidade se pene-
“tem e se lundam ; só assim é possivel at-
“ingir a unidade moral.e politica do mun-
“do, tão ardentemente: desejada. A este |
«túspeito, a todos compete lalar dentro das
-ptoprias forças ; todas as vozes são con-
persuação, apparece hoje este jornal. au |
– vejtizaçor rentado a par lidos politicos ; não
traz compromissos de especie alguma: Pro-
“põe-se apénas defendér e advoga além
“dos mais elevados ideaes. daMeivilisação
modernas os interesses legitimos da Certã
e dos povos circumvisinhos.-Repellirá af-
Trontas e insinuaçõe ai com à
mesma energia e d ssombro – -com que
abraçará os mais! ellos ensinamentos
moraes € Póliticos.A “anseio dos seus de-,
veres; espera saber brandir um, Játego
quanido lhe; seja precisos. e transfor mar a
“lihta em incenso adorador “quando alga-
ma grande idéa sé lhe à antolho, e
é luz, fegundante e. suavissima | E
t. ae” pelo men » 05 m0sSOs vi es
* >
e
e
Ri
Slracada
“no iriennio de 1899 à 1901. – Es
o Vereadores eleitos éa se-
[ta
Imeida Ferreira Maio, José |
Dinis: da Sily E pata Daniel-dos Santos
“Tavares, Joaquim Henriques deal: José
Alves Correia.
Substitutost José dt Azevedo
qui Maria da pres, Aa ires Franco,
José Nunes Márinha, Antonio Coelho Guima- |
Pães, Libano da Silva. Girão e João | Maptins.
Não . dl opposição.
a: E
e a
Ro
8,8
o ni eage Aide
a
eia 4
a Sr
E
as partes do Eidos é a França, sempre |.
da
sonantesy todos os esforços são pr rovei. E
Losos ; toda a inhagiva a um fim N’ esta |
. nham lá as suas ilusões máis queridas,
“se ultadas, frias e inertes, na lousa gela
SEs, Francisco Farinha Da- |
a ente; João da Siiva-Carya- |
artholo, Joa-
à eum.
— Editor RSS ART
* É RSA TEN
Ta nt = ne dera É T . peito À
-GHRONICAS À LAPIS
g?.
9 de novembro.
Deixemos as apresentações e as etique-‘
“tas, gentis leitoras, pois taes expedientes já
ha muito que deixaram de merecer a vossa
confiança, à força de serem, trahidos.. De-
mais para que saber quem somos? Um
pobre escrevinhador de chronicas… que,
eu podia aa outra coisa… E nada
mais. ro
o
o
Pondo de parte o cavaco, vamos à rea-
lidade d’um facto muito feio que, não raras
vezes, tem dado que fazer à imaginação ir-
requieta da alma popular d’este jardimfsinho
“de flores à beira de duas ribeiras plantado.
E’o caso, que a iluminação publica d’esta
villa tem estado por muitas vezes a cargo do |
systhema planetario lunar. +
– Oras todos sabem que a lua tem “mono-
mania grotesca de fazer gréves periodicas
com grande prejuizo de nós outros, os in-
nolensivos, que nada contriimos para os
seus Sea E assim, no direito que as-
do 0: Oyo eden pwoda espnera
omos d’opinião que astal
ique d’orajávante e parasem-
de. qualquer pihdaro, quejtde
ombro, -e almotólia na mão, não
mbvistas da rainha das,
É A semana que findou foi assignalada em
todo:o, paiz pela piedosa coma do. mpo |
e mortos. a,
Assim devia: ser.
ha’ que n o
dum famulo! Quantas lagrimas E
Rod de corações. em luto, não orvalha-
ram no dia de finados os goivos. Poxos: da sau.
dade! Que” de soluços « estilhaçando, peitos.
“se não elevaram n véio, dia até A mansão
e “Ba
« “Tudo” triste 8; € o ciciar: dei sentidas
preces perpas ando por labios tremulos de,
soffrimento, evolar- SE. alem- -campa nº uma
nenia nostalgica!. freio
cai estariam contentes, os e
é Nu a
Uma eta inocente : 0 que. será –
E y
| aquilo que ha tanto tempo Rippareçen na
h V ‘
a, do. Commercio
ÀS |
s dio aquelle mono. é a farronça do Tor
“rorque para espantar a Certã, ali se cristal.
Sou. Mas não, b 0 sjutbolo, da incuria, creiam,
E Ane ‘
Br Rg :
Ersanma, a
A do 205000 réis
O conselho administrativo do Banco de |
“Portugal, convida’o publico para, até ao dia |
42 do, corrente, trocar todas notas da seris
C. Y. de 46 de junho de 1897, de que al-
Rgumas appareceram fulsificadas, por. prata,
u outras notas de egual valor.
o daquele. praso não terão ator alo ator al@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS 4
CERTA, 10 DE NOVEMBRO DE 1
898
de
HONTEM E HOJE.
ess qe Sn a na na A Ra e na Da so par ad 6a
So iearo ch Ds + BINHO te lembras:
Faz hoje annos! Como agora, a natureza
corria nos labios de um dia primaveril e em
| nossas almas, castas como a innocencia, de-
sabrochavam as petalas dum amor santo
como o de mãe e immenso como O Infinito.
| Tudo então era bello, tudo sorria, tudo
dizia amor ! :
| Em nossos peitos brotavam as mais Fi-
| -sonhas esperanças, as visões mais queridas
| emballavam nossos sonhos, as illusões. mais
agueiras povoavam a nossa mente e lá ao
longe, a sorrir, a sorrir um futuro ledo, um
futuro todo esperanças, todo amor!
| Que vezes, no silencio da noite, sentindo
| arfar-Le o coração, nossos labios juravam
[amor eterno 1 .
| Que vezes não confiámos as flores, nos-
sos fieis mensageiros, os segredos dás nos-
sas almas! Que vezes, em noites de lnar,
nossos suspiros se casaram com O susurro
| das auras profumadas perpassando pelas aca-
“cias em flor! que vezes nossos olhares se
| crusaram para exprimir a mesma ideia, para
traduzir o mesmo pensamento! que vezes
nossas almas, emballadas por sonhos de mais
fulva côr, se evollaram ao céo; fallando do
| nosso amor, das nossas esperanças, do nosso
futuro !… ;
Tu eras o meu unico ideal, a visão ado-
rada dos meus sonhos. Num teu olhar lia
“um poema d’amor, num teu sorriso transpa-
recia um céo de ventura. Eu ria de te ver
alegre, chorava de te ver triste ! E
» A tua imagem santa via sempre e em
toda-a parte no murmurio do manso arroio,
no arrullar da pomba, no sorrir das mães,
nas noites constelladas, no desabrochar da
| flor, nas auras embalsamadas, e sempre a
– sorrir-me, sempre a fallar d’amor !
| Vida da minha vida, eras ta, querida, o
sonho dos meus sonhos, a ventura da minha
ventura, a esperança da minha esperança, O
| coração do meu coração, o amor do meu
E amor ts.
Cos. o eso APRE pr
de
ua eres ana tado o na sd ana
“a
even son Dons 0 0
Hoje o que resta? Nada! Ilusões desfei-
tas; esperanças mortas, numa alma só dôr,
n’um coração só prantos, um.peito sem ven-
tura, um viver sem esperança e a saudade,
a saudade eterna dum bem que passou e,
‘ não volta mais! q do : ARE
Vos, flores que tanto amei tanto, noite
que escutaste os meus lamentos, Iyra que
suspiraste commigo, lua que ouviste Os meus
protestos, vinde hoje chorar commigo, vinde
desfolhar lírios na campa de tantas ilusões |
8 d’abril de 1898,
Luiz da Silva Dias.
— ap pr — ,
ECHOS DA SEMANA
mma
*
A camara municipal d’este concelho, em
sessão de 26 de outubro findo, mandou le-
vantar a planta d’um ramal d’estrada entre
esta villa e a séde da freguezia da Varzea.
Mandou pôr tambem em arrematação O
| fornecimento de carnes verdes para o futuro
»
cErmssares ERR er
1 FOLHETIM
DE FIDALGOS
Almeida Mendes
Er nD) FO
E ES
h At, mulher enhida, Peg levanta o mundo; |
Esecarra-to nas faces a hediondez d’um crime;
Sem reparar que és dobil, que o teu abysmo é fundo,
Sem ter uma palavra que a viver te animo | F
FERNANDO DE VILHENA — Murmurios d’alma —.,
Quem falla aqui em defendel-a?
— Eu, eu, snr. D. Vasco. Acaso temos
nós obrigação de criminar essa mulher, cuja
belleza vemos empanada pela lima da des-
graça? Se alli ha o crime, nós não devemos
insultal-a: lá está Deus que lhe tomará as:
devidas contas. R
— Dou-lhe os meus parabens, ilustre |
paladino de mulheres de prostibulo! Quem.
* tal diria? Ah! ah! ah! :
anno e a cobrança dos rendimentos munici-
paes.
— Realisar se-ha no dia 14 do corrente
nos Paços municipaes, o sorteamento dos;
mancebos deste concelho apurados para 0
serviço activo do exercito e armada, |
O concelho da Certa foi collectado com
50 recrutas, sendo 49 para o exercito e 1
para a armada, fazendo-se pelas freguezias,
a seguinte subdivisão: Ermida, exercito, 2º
recrutas ; Figueiredo, 4; Troviscal, 4; Var-
zea, 3; Pedrogam Pequeno, 4; Palhaes, 3:
Carvalhal, 3; Sernache do Bom Jardim, 8;
Jastello, 5; “Marmeleiro, 4; Nesperal; 1;
Cumeada, 1; Certa, 11 para 0 exercito e 1
para armada.
NO, auctorisado o levantamento da
quantia dé 2644000 réis, da Caixa Geral
“os Depositos, para pagamento das: expro?
priações da estrada da Fonte da Boneca, que
partindo d’esta villa entronca na estrada mu- |
nicipal de Pedrogam Pequeno.
-— À camara municipal deste concelho
está devidamente auctorisada a poder ven-
“der terrenos dos baldios para construcções
urbanas. |
“Consta-nos que alguns cavalheiros d’esia
villa, vão requerer a compra d’alguns terre-
nos nos suburbios de Santo Antonio, para
p fim indicado.
— Já principiaram os trabalhos para a
construeção d’uma casa que o fallecido Vis-
conde d’Aguieira projectou mandar construir
no largo do municipio, d’esta villa.
A planta do edificio é simples, mas ele-
gante, e consta-nos que será destinado à ha-
bitação temporaria da familia do extincto ti-
tular.
— Parece que no ministerio da justiça se
vai providenciar brevemente no sentido de
se saber com exactidão o rendimento dos
ofíicios de justiça em todas as comarcas,
exigindo que os contadores passem, à face
do livro de registro da conta, certidão fiel
de todos os emolumentos contados nos dois
ultimos annos judiciaes, para habilitar nas
fórmas do juizo da justiça, sobre-as reclama-
ções quegos uscrivaes de direito tentam quo”,
“fazer, quando se leve a effeito a reforma do
tabellionato. A
Consta que o respectivo ministro tenciona
estabelecer o lemite d’edade para os magis-
trados judiciaes.. ‘”
— Já estão providos os logares de afe-
ridor de pesos e medidas d’este concelho e
de cantoneiro da estrada da Certã ao-Zezere,
ha tempo postos a concurso pela camara,
— Foi nomeado administrador do conce-
lho de Figueiró dos Vinhos, o-sr. Adrião
Alves de Carvalho Moraes.
CARNEÊT LOCAL
&
4
Anniversarios PAR i
Passou no dia 29′ Poutubro o anniver-
sario natalício da ax.”2 sr.? D. Carolina Pinto
de Figueiredo, virtãosa esposa do sr. Do-
mingos Tasso de Figueiredo, illustrado ca-
| pitão de fragata. ar
a
” — Muito embora o serei, e querereis
arguir-me ? E
— Se 0 ouvissem… |
— Achar-me-hiam. razão, snr.-D.-Vasto-
e maldiriam dos vossos sentimêntos de fi
dalgo, que não mostraes ser.
— Provoca-me ?
— Nem n’isso pensava: temo manchar-
me: caracteres como o vosso desprezam-se
ou calcam-se com a sola da bota e não se
lhes arremessa a luva de desafio.
— Retracte-se do que agora disse.
— Para quê? Não merece a pena cansar-
a
ço
É
me.
— E se eu lhe chamar um miseravel ?
— Receberei o insulto como da parte
d’onde vem. Chamastes-me paladino de pros-.
tibulo por defender uma mulher, que, talvez
por não querer vender vos o corpo a troco
de um aviltante punhado de ouro, o senhor
se apraz insultar! Qual será aqui o homem
de mais baixos sentimentos? O fidalgo em-
brulhado em pergaminhos, cuja authentici-
dade em parte não se pode admittir, que não
m
Tambem passou no dia 1 do corrente 0
anniversario do sr. José dos Santos Coelho
Godinho, ex-escrivão e tabellião desta co-
marca e actualmente em Lisboa. Á
Fazem annos no dia 11 a ex.” sr.º D. Ade-
laide Christina Pedroso Barata; e no dia 12
a menina Maria Henriqueta Chrispiniano da
Costa, gentil filhinha do sr. dr. Chrispiniano
dor regio em Louzada.
Ea
Sahiram para Torres Novas onde vão com-
pletar a sua educação litleraria, as ex.P*º sr,
D. Ignacia Maria Tavares, D. Julia de Moura
e D. Natividade de Carvalho.
*
Já se acha n’esta villa com sua ex.”* fa-
E miliá, “o sr. Joaquim Antonio-Simões David,
| digno escrivão e tabellião n’esta comarca.
*
– Retirou para Benguella onde vae encetar
a vida commercial, o sr. Joaquim Martins
Farinha.
x
Esteve n’esta villa o sr. Thomaz Floren-
tino Namorado, d’Olleiros.
*
Sahiu para Cardigos o sr. Luiz da Silva
Dias, conceituado commerciante na Gertã.
*
Já sahiu para Benguella o sr. Joaquim
Marques Pires, abastado proprietario e com-
merciante n’aquella nossa florescente praça
africana.
* =
” Sabiu para tractar da sua saude com 15
dias de licença, o sr. Antonio Dias Tavares,
villa
Foi substituido durante aquelle tempo
pelo sr. Lameiras Fernandes, da estação de
Coimbra. Ê ?
A (am
po os
CANCIONEIRO
pç “BE
PERGAMINHOS
Não me esmagam, mulher, os teus sorrisos ;
Eu tenho mais orgulho do que pensas
E rio-me tambem ;
É debalde que tentas humilhar-me,
Porque eu ouso pensar — vê tu que insania! —
Que tambem sou alguem.
Alguem que veio ao mundo sem familia
Um producto ao acaso, um pária, um misero,
Um engeitado emfim,
Um ser sem protecção das leis canonicas
Filho sem pae no assento do baptismo
Mas um sêr ainda assim.
Levantou-me da estrada doinfortunio
Um homem que entendeu que um filho espurio
: “Tem jus à protecção,
Um homem que entendeu que é vil e infame
* Atirar para o lado dos hospieios |
Uma alma. em embryão.
de parceria com companheiros de igual jaez
ou o filho do povo, que, em frente seja de
quem fór, vos diz que mentis e não teme
-chamar-vos um xillão? Não-me atemorizam
as vossas embofias, pelo contrario, des-
prezo-as. Ea
Não receio os vossos lacaios agaloados
” dos a domar os cavallos, não, snr. D. Vasco
de Mascarenhas, filho de um. fidalgo que foi
o amigo de meu pae e cuja lembrança eu
venero e vós deshonraes !
Apresentemos aos leitores num ligeiro
esboço de lapis os dous disputantes: o que
primeiro fallara era um mancebo no vigor
da idade :-a tez morena, os olhos rasgados,
o nariz aquilino e a bocca orlada de dous
labios delgados adornavam o seu rosto oval:
| vestia no requinte da moda um fato proprio
de montar. AR
Ao primeiro lançe de vista quem atten-
tasse no seu todo julgal-o-hia um cavalheiro
possuidor de todos os nobres sentimentos
porque se deve tornar distincto; porém se
poupa o nome de ninguem para o assoalhar
fosse examinado detidamente descobrir-se-
da Costa, meretissimo delegado. do procura-
digno chefe da estação telegrapho-postal d’esta’
ou 0S azurragues com que estaes acostuma-
É
Rasgar-se ampla, infinita, luminosa a é
Este homem deu-me a força do seu braço, a
Legou-me em vida o seu honrado nome…
Vestiu quem era nú,
Depois, quando me viu robusto e forte,
Disse-me um dia: «Vae, sé homem, lucta,
Trabalha agora tu».
Luctei, passei curvado sobre os livros
A mais florida quadra dos meus dias
Sereno a trabalhar ;
Estudei, progredi, iluminei-me
E um dia para entrar em novas luctas,
Pude emfim descançar.
É que eu vi as premissas da victoria;
O applauso espontaneo dos estranhos
Incitar-me a seguir,
É que eu via deante de meus passos
A estrada do porvir.
Se alguma cousa sou, a mimo devo,
Ao meu trabalho honrado, ao meu estudo,
Ao amor de meus paes,
Á força da vontade, à inteligencia,
Á sociedade pouco, às leis bem menos…
E a tl não devo mais,
E és tu que vens fallar-me em pergaminhos?
E és tu que vens fallar-me nas riquezas
Que o destino te deu?
Eu nãa troco os meus louros de poeta,
As conquistas do estudo e o meu futuro
Por tudo quanto é teu.
És louca |… Sabes lá que orgulho é este
Do homem que a si só deve o que vale
+ E que espera valer ?
Ha lá brazões illustres que equilibrem
Estes louros viçosos de um triumpho
Que soubemos mer’cer?
És louca ! sabes lá como eu sou rico,
Rico de muita honra e muita esperança
E muito coração ?
És louca ! Mostra a escravos as riquezas,
Que eu, p’ra não adorar bezerros d’ouro,
Sou bastante christão.
E quem te disse a ti que eu te invejava
Esse ouro, que é teu unico prestigio
E o nome a teus avós?
Orgulhosa !… pois julgas decidido
Qual seja, n’esta lucta de vaidades,
O mais nobre de nós?
Pois julgas que ser nobre é mero acaso,
Uma questão de berço, ou de destino,
, Uma questão de paes?
Não vês que se a nobreza fosse herança,
Tendo eu e tu por paes Adão e Eva,
Seriamos eguaes ?
E não somos, bem vês, que a nobreza
Não se lega, conquista-a a inteligencia,
O talento, as acções ;
Ora eu, se me permitte a vaidade,
Colloco um pouco abaixo dos meus louros
Todos os teus brazões.
*
Devolvo-te portanto os teus insultos
E a suspeita de te adorar os risos,
Que nunca mendiguei ;
Se és bella e tens orgulhos de rainha,
Mulher, entende bem, eu sou poeta,
Tenho orgnlhos de rei.
hiam umas sombras de velhacaria e mau ‘
caracter nos traços que de leve lhe atraves-
savam a fronte n’um ponto certo.
O outro trajava. tambem apuradamente,
mas não com tanto esmero, calça preta e .
jaqueta da mesma côr com alamares de prata:
em todo o seu rosto eshboçava-se a franqueza
À iealdadê do coração; teria a mesma idade
que o outro e excedia-o apenas na formosura
das faces assetinadas. É
Chamava-se Pedro da Silva.
Em sua companhia viam-se mais alguns
mancebos fidalgos, de quem não daguerre-
otyparemos as feições por não representarem
um papel principal no curso da nossa nar-
ração. Ra
O local em que se agrupavam era uma
vasta alêa de choupos e sovereiros onde a
custo penetrayam os raios do sol que esten-
dia sobre a terra os seus raios de vivido
ardor. :
Ao fundo erguia-se sobranceiramente o
esqueleto de um antigo castello, que, caduco
como era, parecia ainda querer tomar os seus
antigos foros e dominar com altivez à povQar
a
a aa a@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 10 DE NOVEMBRO DE 1898
8
Que é esta a nossa força; n’estes tempos ..
Em que a estupidez má, enche as mãos douro,
Para nos insultar,
E modestia a orgar pela baixeza
Não fazermos’sêntir aos mãus é aos futeis
Quem devem respeitar.
Não me compares pois à horda ignára
Que adora os teus.sorrisos pelo ouro… |
Eu tenho coração,
Tenho por pergaminhos o trabalho,
Por thesouros a minha intelligencia
E a honra por brazão.
Nós, os homens que andamos procurando
Á luz do coração por este mundo
Os caminhos do bem,
Como trazemos alto o pensamento
E a fronte erguida ao céo, temos orgalhos,
Bem vês, como ninguem.
Alexandre da Conceição.
ça a mm
A” ex: camara municipal
Pedimos a attenção da camara para O
estado vergonhoso em que se encontram al-
gumas ruas desta villa. As posturas não são
observadas apezar de haver dois zeladores
para fazerem a policia.
Uma villa como a Certã, séde de conce-
lho e d’uma comarca das mais importantes
do districto, centro florescente pelo seu com-
mercio, etc., não póde prescindir dum dos
elementos mais principaes da civilisação —
a hygiene. :
Esperamos que se tomem providencias
no sentido de se evitar um tal estado de.
coisas.
——— eqeripra— — —
MUNDO EM FORA
A questão Dreyfus
Como os leitores sabem, foi auctorisada
a revisão do celebre processo Dreyfus, pro-
cesso que tanto tem agitado a França e O
mundo inteiro.
Por despachos de Paris sabe-se que na
segunda-feira deveriam ter principiado no
Tribunal da Cassação o inquerito preliminar
sobre a questão Dreyfus, e que na terça-feira
deporiam os generaes Murcia e Billot, bem
como Cavaignac, é hontem os generaes Zur-
liden,Chanoine.e provavelmente, Mr. de Frey-
cinet. ; »
Os documentos foram levados: para o tri-
bunal, devidamente cintados e sellados, pelo
general Delanne, sendo depois entregues pela
mesma fórma.
Todos estes individuos foram successiva-
mente titulares da pasta da guerra desde
que appareceu a questão Dreyfus.
Dreyfus innocente ?
O medico que assistia à morte do gene-
ral Darras, presidente do conselho de guerra
que condemnou Dreyfus, declarou no inque-
rito que acima fallamos, ter ouvido o gene-
ral exclamar em accessos de- febre: — Foi
condemnado um innocente !
Dreyfus
“o + A ilha do Diabo
O Matin publicou ha alguns dias porme-
nores curiosos sobre a maneira como na ilha
do Diabo se preoccupam com a fuga de
O condemnado tinha em tempo, como se
sabe, declarado não acceitar um contracto de
evasão. Pois após esse facto e tendo M. Da-
niel, o chefe da penitenciaria, recebido. or- |
dens para tirar as cadeias ao ex-capitão, co-
meçou para elle uma epocha de susto e de
afílicções.
Receando que o prisioneiro aproveitasse
qualquer descuido para fugir, mandou fazer
no quarto de dormir uma especie de obser-
vatorio de onde, a todos os momentos, po-
desse vêr o condemnado com um binoculo,
na sua palissada.
Afóra isto, à cabeceira da cama collocou
um apparelho telephonico com o fim de estar
em constante communicação com o vigia da
torre militar e com o guarda de turno na
cella do ex-capitão.
Um capricho, uma suspeita, um ruido
qualquer, e logo sôa o terrimm assustador
da campainha do apparelho, pondo álerta toda
a guarnição da ilha do Diabo.
Está estatuido que accudam pressurosa-
mente ao chamamento do assustado chefe.
Uma noite de tempestade interrompeu-se
o telephone; o susto foi maiusculo.
Dreyfus tinha decerto fugido! Realisára
com certeza um golpe de mão atrevidissimo.
“Sem esperar um conselho ou fazer uma
reflexão, o chefe vestiu-se, e apesar da noite
estar verdadeiramente caliginosa, metteu-se
numa lancha em que se fez conduzir à ilha
do Diabo.
Quando alli chegou soffreu uma decepção,
embora agradavel.
Dreyfus lã estava impassivel na cabana.
“Apesar d’iisso M. Daniel estabeleceu uma
vigilancia rigorosissima. Qualquer pacote que
transite para as ilhas é cuidadosamente re-
vistado,
Póde conter documentos secretos para
Dreyfus!
Este rigor dá logar a episodios de um
comico irresistivel.
Um official. da colonia 6 afeiçoado à soisas
de agricultura.
Devido à sua persistencia conseguiu obter
certos melões exoticos.
Querendo obsequiar com um d’elles o ca-
pitão d’um navio, enviou-lhe um dos melho-
res exemplares que possuia.
Daniel foi informado do caso e recusou.
o consentimento para a offerta.
— Não póde ser! Um melão? Isso é
um frueto suspeitossimo! Nem: o mais pe-
queno sahirá das ilhas que estão sob a mi-
nha vigilancia! fa
Bem trabalhou o funcionário obsequia-
dor, archictetando argumentação;a empregar
para convencer o chefe da insuspeitação do
mimoso presente.
Nada conseguiu.
O chefe respondeu-lhe depois de o ouvir
desconfiadamente :
— Não me convence. Se o seu amigo
quer provar Os seus melões, que desembar- |
que e entãão fallaremos.
Posso consentir em que elle coma o fru-
cto, mas hei-de vêr abril-o.
Conspiração contra o sultão
Foi descoberto em Constantinopla uma
conjuração contra Abdul-Hamid, sendo presos
alguns estudantes armenios.
A questão de Fashoda,
Esta questão, que chegou a tremer-se
fosse a causa proxima d’uma guerra entre a
França e a Inglaterra, parece entrar n’uma
phase conciliadora, segundo os informes se-
guintes dados pelo correspondente em Paris,
do Daily Graphic:
O capitão Baratier foi enviado ao Cairo
com instrucções para o commandante Mar-
chand. Este voltará a Fashoda e, em se-
guida, retrogará com todos os seus compa-
nheiros em direcção às possessões francezas
“Oubanghi.
* Fashoda e cinço dos postos estabelecidos
pelos francezes a léste da fronteira indicada
pelo accordo anglo-allemão serão evacuados.
Em consequencia da entrega d’esses postos
ás auctoridades-egypcias, estas enviarão tro-
pas para acompanhar Marchand na sua marcha
de retrocesso. A questão, para a França,
encontra-se assim resolvida.
Logo depois da partida de Marchand,
entabolar-se-hão negociações sobre as pro-
postas submettidas ao governo inglez por Mr.
de Courcel.
Apesar de taes declarações, os armamen-
tos inglezes continuam, havendo quem as-
severe que elles teem mais por origem as
probabilidades duma guerra anglo-russa, por
causa da China, do que os receios duma
lucta entre a França e a Inglaterra, devida
aos acontecimentos de Fashoda.
A questão Cretense
Em Candia, como o almirante inglez não
visse chegar o promettido transporte turco,
deu ordem na tarde do dia 5, ao governador,
para que fizesse embarcar as trópas ottoma-
nas e 0 seu material n’um transporte inglez
que estava ancorado na bahia. A ordem foi
executada só em parte, por ter sido man-
dada suspender depois pelo governador, e
então o almirante inglez e 0 coronel Cherm-
side cercaram as casernas com os seus ho-
mens e declararam seus prisioneiros os sol-
dados turcos existentes n’ellas. O embar-
que continuou depois sem outro incidente,
tanto mais que o promettido transporte turco
chegou por fim. |
ar
Informam de Constantinopla, em data de
6, que a evacuação de Creta pelas tropas
turcas é completa.
A attenção das potencias voltou-se ago-
ta para a situação na Macedonia e na Ásia-
Menor. principalmente para as povoações
visinhas da fronteira persa, onde lavra a
mais completa anarchia.
No dia 5, antes da sua partida, M. Zi-
noviel, embaixador da Russia, enviou a
Tewlik-pachá uma nota sobre a repatriação’
dos refugiados armênios no Caucaso, e ap-
poiou as reclamações da Servia respeitantes
aos seus subditos residentes em Kossovo.
*
Por ordem superior, e em conformidade
com as decisões dos almirantes, o novo ad-
ministrador de Canea publicou uma procla-
mação convidando os habitantes da cidade e
dos arredores a deporem as armas antes do
dia d’hoje. Os desobedientes serão punidos
com toda a severidade.
A gendarmeria francexa expulsou de novo
trinta e cinco individuos perigosos.
* ee CE —
Dr. Alfredo de Mendonça
Requereu para gosar no estrangeiro um
mez de licença que lhe foi concedida nos
termos do regulamento da justiça, O sr. dr.
Alfredo Augusto de Mendonça David, digno
Juiz da relação de Nova Goa.
— emp
” MAÇÃO:
Responderam em audiencia geral no dia
31 de outubro, no tribunal judicial d’esta
comarca, os réus Maria Rosa Serradora,
Maria Marques Pulga e Sebastião Guitos,
d’esta villa, que eram accusados do crime
de infanticidio.
Foi advogado dos dois ultimos o nosso
presado amigo sr. dr. Lino Netto, laureado
quintanista de direito que fez uma estreia
brilhante, havendo-se com rara habilidade
no interrogatorio das testemunhas ; e na de-
feza pronunciou um discurso em que teve
momentos verdadeiramente arrebatadores,
impondo-se pela sua fina argumentação.
Da ré Maria Rosa foi defensor o sr. dr.
Bairrão que mais uma vez poz em evidencia
os seus altos creditos de advogado distincto.
Representou o ministerio publico o sr. dr.
Andrade Pinheiro, que pronunciou um dis-
curso vibrante; e o st. dr. Santos Rollão;
meretissimo presidente do tribunal fez um
relatorio que se pode considerar como um
modelo de imparcialidade,
O jury deu o crime como não
sendo os réus absolvidos,
a Ce
THEATRO
A companhia dramatica Lança & Filhos,
deu no dia 5 uma recita no Salão-Avenida
em beneficio da actriz Estephania e offere-
cida à ex.”* sr.2 D, Ignacia Maria Tavares,
do Pinhal. E
Foi representada a tragedia em 5 actos
D. Ignez de Castro. Tomaram parte no es-
pectaculo os amadores srs. Pires de Moura,
Augusto e Frucluoso Pires.
Desempenho muito rasoavel. Concorren-
cia regular.
tc Ci
provado
Entre sogra e genro.
A sogra cae no lago d’um jardim :
— Auxilio, soccorro, meu genro! Salve-
me !
— Sinto muito, mamã, mas não posso,
não sabe que aqui é prohibida a pesca?…
=
Devasso : parafuso que estragou as ros»
cas na porca da consciencia.
—— eai dm
> 3Fes sr eeo
cão de B…, que se desenrolava piltoresca-
mente abaixo de suas barbacans e muralhas
em que o cardo silvestre e o musgo verde-
salsa haviam assentado moradas.
—Villão! bradou Vasco ouvindo as ulti-
mas palavras de Pedro e crescendo para elle.
— Já tive ha pouco à honra de responder
a equivalente insulto, respondeu este não
mudando de posição é medindo-o com um
olhar de desprezo.
— Não me provoque mais senão mato-o.
— Não seria isso de admirar…
Vasco empunhou de repente uma pistola
que trazia no.cinto e ia apontal-a-ao peito -do
antagonista, quando este firmando um salto |
travou-lhe do braço e fel-o cahir sobre um
joelho ao mesmo tempo que uma terrivel
pallidez: se apoderou do rosto: o grupo met-
teu-se logo de permeio e apartou os dous
contendores que d’ahi em diante um odio
| profundo devia separar.
— Vá, exclamou Pedro apontando-lhe uma
veredasinha que se estoava entre o massiço
| das arvores, vá engolphar-se nos prazeres
sensuaes é contar a essas messalinas, que o
esperam de braços abertos, que um homem
honrado esteve imminente a esbofetear-lhe
a cara por ousar insultar uma mulher, que
resvalou: no abysmo da desgraça, de que
espera erguer-se illibada a trõco de milhares
de lagrimas de sangue! Vá reclinar-se nos
‘ braços d’essas dissolutas meretrizes que a
sociedade odêa, mas não despreza porque
são fidalgas e vivem na roda do grande mundo,
vá vêr se póde esquecer o que agora aqui
succedeu no meio d’aquelles corpos já bati-
dos e de que, quem tiver dinheiro, será
senhor absoluto! Meus senhores, accres-
centou voltando-se para os outros, atê à vista.
Em breve o grupo estava dissolvido e
cada um dos que faziam parte d’elle se re-
tirava à sua habitação; Vasco caminhava
cabisbaixo: dentro do seu peito revolvia-se
um mar de idêas, cujos signaes evidentes se
desenhavam claramente no rosto: approxi-
mou-se das ruinas do castello e franqueando
a barbacan e as muralhas derrocadas achou-
se em pouco n’uma esplanada, que dominava
uma grande extensão. E
Sentou-se numa pedra tosca e denegrida |
pelo perpassar dos seculos e deixando pender
os braços ao longo do corpo ficou a seismar:
uma lagrima escapou-se a furto dos seus olhos
e correu-lhe pelas faces vindo cahir na terra,
que a absorveu pressurosa.
— Andei mal, murmurou, fitando os olhos
no azul do céo, em fallar-lhe asstm: não
“devia avançar tanto pezando as circumstan-
cias… Pedro ama-a, idolatra-a mesmo to
cada pelas negras azas do crime… Crime?
Sel-o-hia? A mulher que é arrastada por
dominante paixão, quasi despenhada na mi-
seria, reduzida por fallazes adulações e vis
promessas terá peccado? Só Deus o sabe…
Pedro. teve razão em exprobar o meu pro-
cedimento.
Duas lagrimas brilhantes quaes perolas
de fina agua lhe aljofararam as palpebras, o
seu, rosto palliou-se com os caracteristicos
da amargura que o contristava,
Seria o pranto do sincero arrependimento
ou 0 preludio do odio que lhe escaldava o
peito?
— Não, não, em mim não deve haver o
sentimento. de piedade: e por quem? Pela
Tiro
mulher ensoberbecida no vicio? Nunca. Elle
insultou-me: entre nós ha uma divida de
sangue, que pagarei com usura; pagal-a-hei,
juro-o pela honra de fidalgo e por todos os
elementos. As suas palavras repercutem-
se-me aos ouvidos como risadas alvares: e
eu não me hei de desaggravar? Quem será!
capaz de se oppôr à minha vingança? Der-
ruirei todos os obstaculos, superal-os-hni e
elle ha de presencear… as consequencias –
d’um insulto vibrado às faces d’um nobre!
Levantou-se e começou a passear sobre
a esplanada do castello: approximou-se de
uma desmantellada torre de vigia e fitou com
os olhos turvos: pelo odio o abysmo que se
despregava em baixo: de repente tremeu:
uma coruja esbranquiçada bateu as azas,
fendeu os ares, e, pousando n’um rochedo
proximo, soltou um pio agoureiro.
E
Continta,tinta,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTA, 10 DE NOVEMBRO DE 1898
Artes & Letras
– À PEROLA
Idearl…
Já desfallecem, numa languidez precur-
sora de Morte, as azas matinaes da minha
Phantasia. Quantas vezes, oh! quantas, eu
desfraldava as vêlas do meu Sonho, e me
deixava deslizar, Lá no Alto, reclinado em
coxins de nuvens macias é brancas, a poisar
avelludadamente o meu olhar de Poeta nas
paysagens feericas, que, num cosmorama
de magia, se espreguiçavam nas regiões cá-
lidas do Oriente !
Foram essas viagens, repetidas, que me
puzeram assim desmaiadas, numa languidez
precursora de Morte, as azas matinaes da
minha Phantasia’t… ris
E hoje folheio recordações encantadas,
que me abysmam ainda em extasis deliciosos,
que me doiram a Vida d’um clarão exangue
como o ultimo raio dum Sol-pór.
Oh! se soubesseis que perfumes exhalam
as lendas que eu aprendi da bocca exotica
d’uma Indiana ! Escuta :
Havia nas praias esmeraldinas do Mala-
bar um penedo robusto como um Titan, e
que nas cavas agreste do seu dorso abrigava
legiões innumeras de molluscos, que vinham,
em noites de prata, soluçar madrigaes às
portas d’um palacio pequenino. como um
grão d’areia, e onde vivia uma ostra sen-
sual que os endoidára com a madrépora
principesca da sua concha. E ella, afofada
nas algas extranhas que lhe tapisavam o
bowdoir elegante, tinha um gesto de tedio
tão fidalgo, que se diria a Favorita do Rajah.
Vinham:lhe desejos agudos de fugir à
impertinencia dos seus adoradores, e rolar
de mansinho, embalada pelas ondas, no fun-
do do mar que a attrahia pelo desconhecido.
Se ella vivera sempre alli!…
E n’uma manhã calma de verão, ella lá
foi, escorregando nos limos, o olhar cheio
de surpreza, a buscar Os segredos que so-
nhára. ..
Oh: que saudade! À sua pelle aristocra-
tica manchava-se no lodo, os seus olhos
cheios d’um amargo desespero, procuravam
a luz numa ancia de condemnado, e a sua
concha estremecia com soluços desoladores,
de fazer estalar peitos de tubarões, se elles
à Vissem. ..
Ceu azul. Esfarrapam-se nuvens brancas
como pennas que o vento levasse do collo
assetinado d’algum cysne. O sol, triumphan-
te, abana a rubra cabelleira que cahe es-
parsa n’uma chuva d’oiro fundido. Ha no
mar ondulações de pedrarias que se desla-
zem em rendas de selim |
O filho do Rajah passeia com a Noiva
formosa num rico escalér que borda as aguas
com as suas .purpuras é as faz cantar com
o bater cadente dos seus remos.
N’uma impassibilidade marmorea de co-
losso, o rochedo abandonado pela ostra ta-
priçhosa, olha pelas orbitas fundas que os
beijos sensuaes do mar lhe cavaram, e cha-
ma o batel nos sorvedoiros vertiginosos de
que a ressaca o envolve. Os remadores nada
veem, com a vista nos dois Noivos, e estes… |
Seus olhos não bastam para se olharem. Não
os accorda o ruido secco e tragico do esca-
ler que se quebra no peito herculeo do trai-
coeiro penedo, com a violencia de dois aman-
tes que se dão beijos canibaes. . .
Nas trevas densas do fundo do mar jaz,
“n’uma prostração apathica, insensivel, a ostra
desolada. Ella lembra-se ainda das serenadas
fulgentos como clarões d’estrellas, que 0 estro
apaixonado dos seus adoradores chorava
puma somnolencia capaz de fazer sonhar
coisas defunctas. E d’onde a onde choca-
vam na soluços de Morte, n’uma hallucinação.
Ai! quem n’a déra outra vez…
Pallido, como a luz coada pelas bambi-
nellas verdes do seu boudoir elegante, desce
um nimbo luarisado de candura, a interne-
cer os corpos ambarinos dos dois Noivos,
que se abraçam castamente, docemente …
Que lindos… E a ostra abre a concha
admirada… Santo Deus, que lindos…
E elles vão collar um beijo d’Amor im-
morredoiro na madrépora principesca d’aquel-
la ostra desolada. ..
Foi d’esse beijo, baço como a Morte que
pairava nos labios que se tocaram, branco
como as Almas que subiram n’um sorriso
para os Ceus doirados, que depois nasceu a
Perola…
Já ella não vive isolada no fundo do ma.
As suas filhas gentis são avidamente busca-
das pelos rajahs que da descendencia sym-
bolica do Beijo dos dois namorados, fazem .
ricos collares para dar à mais bella das suas
mulheres…
Coimbra.
Mario Esteves.
RISONHA
No cemiterio que circunda a egreja, fres-
co, bonito, matisado de rosas brancas e dou»
rado pelos raios do sol, vi um dia uma ra-
pariga — muito nova, desesete annos ? nem
tanto |! — que ria juncto duma campa.
Nada se poderia phantasiar mais delicioso
que essa criança, formosa, pequenina, com
cabellos louros, um pouco curtos, encaraco-
lados, de olhos ingenuos e bocca vermelha
como uma romã.
O que porém me intristeceu foi vel-a rir;
não é natural mostrar alegria junto das se-
pulturas em que os mortos dormem o somno
eterno; aproximando-me, não pude deixar
de lhe dizer :
— Fica-lhe mal o riso, menina: decerto
não conhece o homem que jaz debaixo d’essa
lousa ?! Ra
— Como! não o conheci? respondeu ella.
Ah! era o meu namorado e estava para
casar commigo. Não havia para mim ventura
que não fosse d’elle, esperança que elle não
tivesse… e quando morreu julguei que tam-
bem morria !…
— No entanto vejo-a rir! retorqui.
— 0h! esclamou ella, é que eu não me
esqueço de certas cousas. Emquanto vivo,
O unico prazer que elle sentia era ver-me
risonha e contente, e tenho a certeza de que
se chorasse sobre a sua sepultura, havia de
magoal-o muito…
Catulle Mendes.
MARCO POSTAL
Coimbra, 9.— Já terminou o con-
curso de desenho na universidade. Conta-se
como certo que será nomeado o sr. dr. Men-
des Pinheiro, unico candidato.
— Para 0 logar de thesoureiro dos hos-.
pitaes da universidade parece que será no-
meado o sr. Antonio do Valle.
— A companhia da Rua dos Condes do
Porto deu no sabbado e domingo do cor-
rente, dois espectaculos com as comedias
em Boa hora o digo e Anastacio & EC.º ou
modas e confecções, sendo muito concorridos.
— Tiveram logar no dia 6 as eleições da
camara. Houva lucta renhida e venceu a
lista governamental. ;
A.B.
Pedrogam Pequeno, 9. — Sahiu
para Coimbra com sua ex.Ӽ familia onde foi
fixar residencia, o sr. José Custodio Martins
Vidigal.
— Estão caiados já quasi todos os predios
desta povoação, melhoramento devido aos
esforços empregados pelo sr. Joaquim Hen-
riques Vidigal, vogal da Camara municipal
d’esse concelho. Sua ex.º praticou obras de
verdadeira philantropia, pois constanos que
concorreu mais de uma vez com a sua bolsa,
para que alguns proprietarios menos abas-
tados não deixassem de cumprir as posturas,
no sentido acima exposto.
C.
— pp
Fallecimento
Falleceu o rev.Ӽ padre Joaquim Pedro
Nunes Pereira, d’Abegoaria, d’esta villa, pro-
fessor de latim jubilado e parocho encom-
mendado na freguezia de Sant’Anna, d’este
concelho.
Deixou uma avultada fortuna; morreu
sem testamento.
A sua familia, os nossos pezames.
VARIAS NOTICIAS
Em Proença a Nova e seus arredores
grassa com intensidade uma molestia que tem
causado graves prejuízos no gado suino, as-
cendendo a mais de 200 o numero d’animaes
victimados pelo terrivel flagello.
— Está em arrematação, a construcção
d’um muro de supporte na estrada munici-
pal da Certã a Pedrogam.
—Vae ser enviada à Commissão Districtal
a tarifa da conversão da prestação de traba-
lho a dinheiro, para vigorar no proximo anno,
organisada na penultima sessão da Camara
municipal d’este concelho.
— Tem estado n’esta villa a Troupe Co-
mica-lyrico-dramatica, Lança & Filhos.
Já deram alguns espectaculos, levando à
scena entre outros os dramas Clair, O caça-
dor; Mulher adultera e a Inquisição de Hes-
panha, que agradaram muito.
— Diz-se que no ministerio da fazenda
se pensa em retirar da circulação todas as
moedas de 50 réis em prata, subslituindo-as
por uma moeda de nickel, com aquelle valor
mas com o tamanho de uma moeda de 200
réis.
— Em virtude do tempo desfavoravel, re-
ceia-se que a azeitona cáia antes da matura-
ção, por estar gafando. Os lavradores d’esta
comarca estão descontentes, pois esperavam
uma novidade superior.
—Em Oleiros os gatunos roubaram ao
sr. João Martins, alguns objectos da loja e
255000 réis em dinheiro.
Os auctores do roubo entraram de noite
no estabelecimento, pelo telhado. As aucto-
ridades locaes investigam.
A NNTINCIOS
FLORES DE MAIO
(Versos)
João Marques dos Santos
Um vol. Preço 400 réis.
Vende-se nas livrarias,
GUEDES TEIXEIRA
BOA-VIAGEM
POESIA
dita pelo auctor na recita de despedida
do quinto anno juridico de 97-98
Preço 200 réis
Vende-se no Porto, Empreza da ARTE
Editora.
O BEIJO DO INFANTE
D. JOÃO DA CAMARA
Vende-se nas livrarias.
Historia dos Juizes ordinarios e de paz
POR
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade de Direito e socio offectivo
do Instituto de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra.
LUIZ DIAS
CENTRO COMMERCIAL
DE
a
Completo sortimento de fazendas de algodão,
lã, linho e seda, mercearia, ferragens e quinqui-
lherias, chapeus, guarda-chuvas e sombrinhas,
lenços, papel, garrafões, relogios de sala, camas
de ferro e lavatorios, folha de Flandres, estanho,
chumbo, drogas, vidro em chapa e objectos do
mesmo, vinho do Porto, licores e cognac; livros
de estudo e litterarios, tabacos, etc,
competencia,
gal.
Preços extraordinariamente baratos e sem
Agencia da Companhia de Seguros Portu-
| : 7, Praça do Commercio, | a 7
MGERTA
Retratos
Tiram-se em differentes tamanhos desde 800 réis a duzia,
garantindo-se a sua perfeição e nitidez.
Encarrega-se de ir tirar photographias a qualquer ponto
deste concelho, mediante ajuste especial
Quem pretender dirija-se a LUIZ DIAS, Praça do Com-
| mercio, —QERTA.QERTA.