Gazeta das Províncias nº15 23-02-1899

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cem
sSemanario independ
: ASSIGNATURA À
CERTA, mez, 400 15. FÚRA DA CERTA, trimestre, 330 75. AFRICA, semestre, 1$000 rs. BRAZIL, semestre, 28500 rs. Numero arulso, 30 rs.
Toda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
: Ernesto Marinha — Director
EXPEDIENTE
Aos nossos estimaveis assignan-
tes do Brazil e Africa, pedimos des-
culpa do atrazo nas remessas do
nosso semanario.
Promettemos, porém, d’hoje para
o futuro, haver toda a regularidade.
(AGONIA DA TRANÇA
Em deseseis do corrente, o telegra-
pho surprehendeu-nos com a noticia da
morte subita e inesperada do presidente
da Republica Franceza, Felix Faure.
Nada mais natural do que a morte
d’um grande homem, ainda mesmo que
da sua fronte pendam os destinos dum
grande povo.
Quando, porém, ella se dá na terri-
vel conjunctura que actualmente atravessa
a França, o facto reveste uma gravidade
excepcional, levando apprehensões a to-
dos os espiritos.
A maior das nações latinas está pas-
sando por uma singular provação que
póde ser-lhe immediatamente fatal.
A infeliz aventura de Fashoda amor-
daçou-lhe a voz altiva; as ameaças in-
glezas sobre a Terra Nova e Madagascar
demonstrou-lhe a presença de perigos
iminentes, e ainda, para maior desgraça,
como um corvo agoirento agarrado ás en-
tranhas d’um cadaver, lá tem a roel-a,
na sua alma de meridional, a questão
Dreyfus, — o mais vergonhoso symptho-
ma de decadencia moral nos nossos tem-
pos. E é nesta altura, quando os espi-
ritos demandam mais serenidade, que o
“luto da morte vem involver em suas som-
bras a desditosa França!
Evidentemente, negras nuvens pai-
ram, sobranceiras, no seu horizonte…
Por detraz, como um espectro, er-
gue-se já o genio da historia, a tombar
a ampulheta do tempo, marcando à Fran-
ça o termo da sua missão como represen-
tante da gloriosa raça latina.
Não nos illudamos com os ephemeros
explendores que d’ella, apesar de tudo,
parecem levantar-se. Tambem por sobre
as sepulturas vagueiam clarões myste-
riosos, em noites altas. E, no emtanto,
são um producto caprichoso da decom-
posição chimica dos cadaveres!
Uma nação que se diz generosa e
que não se commove em volta da victima
da Ilha do Diabo, em cuja cabeça fez
brancos os cabellos simplesmente para
entreter e alimentar paixões politicas, —
uma nação assim, digo, não póde já ser,
certamente não é, a herdeira da grande
raça que fez sempre do coração uma flor
-para depôr, religiosamente, no altar lu-
minoso da civilisação universal |…
A França está em vesperas das suas
proprias exequias. ..
– Mal lhe póde valer a astucia da sua
diplomacia. A Providencia, ou o que lhe
queiram chamar, tomou a seu cargo cor-:
tar-lhe as previsões. No meio dum as-
sombro geral, fez descer ao tumulo o
homem que, pelo seu caracter superior
e respeitado, melhor podia n’este mo-
mento abrandar as ondas tumultuosas
que agitam a alma franceza. E desappa-
receul. ..
Preencheram já o seu logar com Lou-
bet que nos dizem ter uma alta compe-
tencia para a pesada missão que lhe cou-
be por sulfragio. Mas a notoria compar-
licipação que tomou nas lutas recentes
do seu paiz não o tornam uma garantia
de ordem. E, a confirmar-nos este juizo,
veem já, da banda dos Pyrineus, tele-
grammas a annunciar-nos um incendio
de agitação que começa de lavrar agora
à França.
Graves acontecimentos reserva o fu-
turo a essa nação; não violentemos, po-
rém, com tristes vaticinios, a distancia
do tempo…
Deante do caixão de Felix Faure,
cuja vida era uma esperança, descubra-
mos com respeito a fronte medilativa,
lançando algumas saudades sobre o-seu
cadaver ainda quente! E para as flores
que n’este momento, os amigos de Lou-
bet desfolham n’uma ruidosa acelamação,
para essas, a nossa mais ardente sym-
palhia… que ellas, cahindo sobre a
França, se não convertam em lagrimas…
ais – —
ECHOS DA SEMANA
coma
Vão brevemente ser iniciados os tra-
balhos da abertura d’uma estrada muni-
nicipal, entre a villa d’Alvaro e Oleiros,
cujo orçamento e respectivas plantas se
acham já approvadas,
— Os mancebos recenceados por este
concelho para o serviço militar, attinge o
numero de 177.
—Consta-nos, que no proximo mez de
março, se procederá á construcção dos
arcos da nova ponte da Carvalha,
— De 1 de março a 10 d’abril, está
aberto o cofre para pagamento das contri-
buições predial e industrial,
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Nº 5
CR e em perme
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ais 77
— Às obras de terraplenagem do lanço
de estrada municipal da Certã a S, João
do Couto, foram adjudicadas ao sr, José
Dias, do Outeiro, pela quantia de 309:000
réis.
—Vem brevemente tomar posse desta
comarca o seu novo juiz sr. dr. João Lobo
de Moura.
— Pensa-se n’uma nova e larga amoe-
dação de prata, especialmente destinada
a substituir as cedulas de 5o e 100 réis.
—Foram nomeados substitutos do juiz
de direito d’esta comarca, os srs. dr. José
Carlos Ehrhardt, Francisco Farinha David
Leitão, João da Silva Carvalho e Joaquim
Maria das Neves.
JUIZES DE PAZ
Relação dos juizes de paz e seus subs-
titutos, que foram nomeados para servirem
n’esta comarca no biennio de 1899 a 1900.
Certã — Juiz; Fernando Martins Fa-
rinha; 1.º substituto, Albano Ricardo Ma-
theus Ferreira; 2.º Luiz Ignacio Pereira
Cardim.
Oleiros.— Juiz; José Antonio Lopes Fer-
reira; 1.º substituto, João Martins da Silva;
2.º João Gonçallo.
Proença-a-Nova. — Juiz; Antonio Alves
do Valle; 1.º substituto, Silverio Tavares;
2.º Luiz Alves Catharino,
Sernache do Bom Jardim. — Juiz; José An-
tonio da Silva Serra Junior; 1.º substituto,
José Antonio da Silva Serra; 2º João
Nemegio da Silva.
Pedrogam Pequeno. —Juiz; José Alexandre
da Costa; 1º substituto, José Gomes da
Costa; 2.º Manuel Jacintho Nunes,
Alvaro. — Juiz; João Manuel Sarmento;
1.º substituto, José Maria Domingues; 2.º
David da Silva.
Estreito. — Juiz; Theotonio Pedroso Ba-
rata dos Reis; 1.º substituto, Manuel Alves;
2.º Augusto José Coelho.
o means Em ;
A expedição Andrée
Ao que parece, é preciso esperar mais
algum tempo para se poder formar juizo
sobre a sorte de Andrée e dos seus compa-
nheiros.
O irmão do famoso explorador declarou
a um reporter do Malmoe Fidning que não
acreditava na aulhenticidade da notícia de
Krasnoiarsk, que dava como mortos Andrée
e os seus companheiros, porque não podia
admittir-se que tres cadaveres e um balão
passassem desapercebidos durante anno e
meio n’uma região habitada, e por outros
motivos ainda.
O ministro da Suecia em Petersburgo
telegraphou informando que havia tido uma
conferencia com o presidente da Sociedade
de Geographia ácerca do telegramma de
Krasnoiarsk, e que serão empregados todos
os meios para se chegar ao. apuramento da
verdade.
JOSÉ CESARIO CORREIA LINO
Pelos jornaes de Portalegre sabemos que
no dia 25 de janeiro passado fez um elo-
quente discurso no theatro de Portalegre o
nosso sympathico e distincto amigo José Ce-
sario Lino. Foi geralmente notado pela ele-
meme ei
es —
FUBLICAÇÕES
No corpo do jornal, cada linha 80 rs. Anmuncios, 40 rs. a linha. Repetição, 20 rs. a linha, Permanentes, preço convencional; o srs. assiguantes
“têm o desconto de 2% 0/g, Esta folha é impressa na Imprensa Academica, R. da Sophia. Coimbra
Augusto Rossi — Editor
——e em
“A
vação de pensamento e pela correcção da
fórma.
Pouco depois, falava, com egual sucesso,
no theatro do Crato, onde tinha acompanhado
a tuna do lyceu em que é um dos mais es-
perançosos estudantes.
Registamos com prazer este facto, e, por
elle, felicitamos áquelle nosso ilustre amigo,
e a seu irmão dr. Antonio Lino Netto que
certamente, pelo seu enthusiasmo de familia,
muito exultará n’este momento com taes
triumphos.
pm
GAZETILHAS
E” moda agora, na Europa inteira,
Trazer um chocalhinho à dependura
Do pescoço, corrente ou da pulseira,
Pois dizem todos que isso dá ventura,
1
São de cobre, de prata e até d’ouro,
Com o som mais ou menos afinado,
E ninguem hoje já sofire o desdouro
De não ter objecto tão estimado.
Não serei eu que venha discutir
A virtude que, dizem, elle tem,
P’lo contrario, a todos vou seguir,
Comprando um chocalhinho de vintem.
Porém, n’um ponto estou duvidoso
E peço uma resposta aos cavalheiros :
— Se 0 que usa chocalho é venturoso,
Porque têm um viver tão desditoso,
Morrendo até a golpes carniceiros,
Os pobres bois, as cabras e os carneiros?
Joli.
——— ea a
Crime horroroso. — Creança as-.
sassinada num collegio. — O
assassino.
A imprensa periodica tem-se ocupado
ultimamente da descoberta d’um crime igno-
bil, commettido no Collegio dos Irmãos da
Doutrina Christã, em Lille, França.
Desse collegio desappareceu uma crean-
ça de 11 annos d’edade, alumno interno.
Communicado o caso à auctoridade, esta
procedeu immediatamente a uma busca em
aquella casa d’educação, pois havia a cer-
teza de que o pobre rapaz não sahira do
collegio. Quando se perdiam já todas as es-
peranças de o encontrar, um agente teve a
feliz lembrança de destapar uma caixa de
madeira que estava a um canto do pateo.
Abi, encontraram o cadaver da creança, que
tinha no pescoço signaes evidentes de es-
trangulação, e junto do qual viu-se um pa-
pel em que estavam escriptas estas pala-
yras: Não acçusem a communidade; ha só
um culpado.
Tomadas todas os precauções para qué
ninguem sahisse do collegio, o juiz de ins-
trucção mandou reunir a communidade é
principiou o seu interrogatorio. O primeiro
a ser interrogado foi o superior, que escre-
veu a pedido do juiz as palavras contidas
no popel achado junto do cadaver. Em se-
guida, fizeram o mesmo os irmãos; notou-
se, porém, que um não se queria approxi-
mar, e que, sendo chamado, se perturbou
muito, negando-se por fim a escrever.
O magistrado mandou prender esse ho-render esse ho-@@@ 1 @@@
que lava hocenlé, mas, “apezar disso,
foi conduzido à prisão.
Suppõe- se que o assassino, depois de,
violentar 0 rapaz, 0 estrangulon naisua cella,
ocenltando depois 0 Cadáver. | BR E 4
| É QUARESU À
(IMPRESSÕES)
Ko meu amigo Frncluogo Pires
Ainda hontem: só risos e folguedos e
hoje os murmurios das preces e as côres
da modestia.
Ainda hontem as ultimas gargalhadas
da mascarada, com todos os seus arrebiques
quixotescos, annunciados ao estampido das
bombas e hoje já, no templo de portas aber-
tas, o balbuciar fervoroso das orações, an-
nunciados pela badalada gemebunda do cam-
panario.
Ao invez da hilaridade ironica distin-
gue-se a ternura expressiva dos corações,
escandecidos de amor divino, a extasiarem-
se na mirifica contemplação do sofirimento
infinito do augusto Nazareno que antes de
* offerecer pela humanidade o espectaculo su-
blimemente doloroso da tarde do Golgotha,
levou a comprehensão da obra que iniciara
pela redempção da humanidade até aos ar-
rebatamentos do sacrifício, o mais martiri-
sante depois da agonia do Calvario.
— Era a penitenciação dos quarenta
dias antes da sua morte, se é que ella não
foi antes uma ressurreição.
Elle, o manso cordeiro que sempre prê-
gara a lei da paz e do amor, Elle o juiz
austero d’onde jorraram todas as fontes do
direito, e que perdoára à formosa adultera
de Magdalo, Elle o meigo acariciador das
creanças, que dizia: deixae vir a mim os
pequeninos, Elle o modelo da caridade so-
cial que symbolisára no dialogo da Samari-
tana, bellamente poetico como um sorriso
de mãe, Elle o intelligente interpetre do
coração maternal que humilhado aos pran-
tos d’uma mãe afílicta lhe, faz saltar em seu
regaço o filho paralytico; Elle o Galileu pro-
digioso a-cuja voz potente-os sepulchros se
abrem patenteando o Lazaro vivo como se
despertára d um sonho, Elle, emfira, o meigo
Jesus; a concrelisação mais sublime do bem
e da justiça, para quem-cada momento; era
uma eternidade coruscante de gloria, nos
estasis do seu amor pela humanidade impõe
asi a dura penitencia, instituindo o jejum
quaresmal nos quarenta dias do deserto.
E a humanidade agradecida, passados
já hoje na ampulheta do viver social quasi
dezenove seculos ainda rememora com o
pezar a traduzir-se-lhe na modestia dos ves-
tidos, a maceração do corpo na lividez do
rosto, e a tristeza de toda a alma na mor-
bidez do olhar envolto em orbitas escuras,
onde por vezes rolam as lagrimas canden-
tes do arrependimento, todo o soffrimento
inqualificavel d’um Redemptor e todo o amor
inexprimivel d’um Salvador.
o É o
Ouve-se o dobre plangente do sino que
n’uma-toada toda de sentimento se vae mo-
| dulando pelas quebradas dos montes a an-
| nunciar aos habitantes do palacio e da chou-
-pana a hora melancholica da oração, convi-
dando-os sem distineção de classes a con-
fundirem nºuma mesma expressão de arre-
pendimento todos os murmurios de seus
labios.
Pelas estradas que d’além, detraz do
outeiro conduzem pelos valles ao presbyte-
rio, vê-se o caminhar melancholico dos fieis,
que trazendo impresso no semblante todo
um turbilhão de mil pensamentos variados,
que lhe acodem à mente espavorida, vão
alli buscar um balsamo para as miserias da
vida, na medicina celeste da Egreja, toda
ella um occeano de consolações indefinidas
para as almas atribuladas.
Na Egreja, na Casa do Senhor, onde
rescende o santo ardor da flor da Religião,
é grande a agglomeração dos crentes que
de corações rasgados pelo punhal do arve-
pendimento, sangram toda a alma do virus
moculado pelo mal, purificando-a n’um ba:
ptismo solemnissimo de protestos firmes,
“orações fervorosas e sobretudo de amor di-
vino.
No atrio do templo todos, traduzindo a,
dôr do coração nas dôres modestas do luto
que lhe invade a alma, coufundindo todas
as palavras n’um só pensamento, o perdão;
e mais alto junto ao altar, no ritmo do-
lente dos antigos patriarchas, ouve-se a
psalmodia sentimentalmente cadenciada dos
levitas escolhidos do Senhor, exorando-lhe,
na linguagem bellamente mystica do Pro-
pheta Rei, o perdão para a ovelha por tan-
tos annos desgarrada do redil’e hoje con-
vertida em filho prodigo.
o
e o
Chora pois humanidade inteira, junta
teus lamentos às preces da Egreja e retem-
pera tua alma no fogo do amor celeste.
Acrysola cada vez mais, se podes, no
cadinho da crença que teus paes te lega-
ram, o pouco de sentimento religicso que o
“errado pensar d’este fim d: seculo mal te
deixa ter, e que arroga a si fóros de seculo
do progresso e das luzes porque te dá por
meta do interessado sordido egoismo e te
troca a luz do espirito pela luz material que
te deslumbra a razão.
Purifica-te n’este tempo de recolhimento
2 en GAZETA DAS, PROVINCIAS — CERTA, 23 DE FEVEREIRO DE 1899
de que Jesus te deu exemplo e terás nos
pergaminhos da religião em que Deus te
evangelisou os creditos mais aos dos
teus meritos e da tua alma.
Gertã, 20299.
Dominó.
— —— meto (E e
CHRONICA ELEGANTE
Passaram no dia 14 do corrente, os
anniversarios natalicios das ex.M’º sr. D,
Maria Joanna Figueiredo Guimarães e D.
Henriqueta Victoria da Matta Ribeiro.
Passa tambem no dia 28 o anniversa-
rio natalício da ex.mê sr.º D. Maria José
Guimarães.
Passsou no dia 12 do cnrrente, o an-
niversario natalício do menino Francisco
Gaspar Rollão Preto, estremecido filhinho
do sr. dr. Rolão Preto, digno juiz de di-
reito em Mação.
Faz hoje annos o sr. Antonio Joaquim
Simões David, digno escrivão e tabellião
n’esta comarca.
Cordeas felicitações.
*
Está em Proença-a-Nova, o sr. dr.
João Antonio Cardoso, digno delegado do
procurador regio no Fundão.
*
Estiveram n’esta villa onde vieram pas-
sar o carnaval, regressando já a Figueiró
dos Vinhos com suas ex.Pº familias, os
srs. Alberto Eugenio de Carvalho Leitão
e dr. Accacio de Sande Marinha.
*
Está em Proença-a-Nova, onde vae
fixar a sua residencia, a ex.” sr.º? D. Joa-
quina Maria da Silva Carvalho, viuva do
mallogrado tenente de cavallaria 8 sr.
Antonio da Silva Carvalho. ha pouco fal-
lecido em Castello Branco.
*
Estiveram nºesta villa, no domingo pas-
sado, os srs. Joaquim Henriques Vidigal
e Aurelio David, de Pedrogam Pequeno.
: x
Passou o carnaval nºesta villa retirando
já para Lisboa, o sr. dr. Antonio Augusto
de Mendonça David, presidente da camara
municipal dºOleiros, e sua mana a ex.mê
sr.º D. Maria Carolina de Mendonça.
mr
Tambem veio passar o carnaval á terra
da sua naturalidade, o nosso amigo sr.
padre José Farinha Martins, digno capel-
lão de infanteria tt.
OLEIROS
18 de fevereiro.
Na noite de sabbado gordo foi capturado
Simão Lopes, achando-se já em liberdade
visto nada se apurar contra elle; contra
David Rijo, companheiro do Simão, que não
poude ser preso, corre auto de investigação
administrativa. Ambos foram surprehendi-
dos pela auctoridade que suspeitou de se-
rem elles quem, áquella hora, arremedavam
oentrudo : — pessima brincadeira esta que
consiste em certos figurões, às horas de
maior socego da noite, publicarem em alto
e bom som a vida privada de qnalquer ci-
dadão. O digno administrador do concelho
persiste na intenção de pôr cóbro a tão estu-
pido abuso; acertada resolução que de todos
os lados vemos applaudida.
Se os folguedos carnavalescos costumam
ser aqui pouco animados e de menos graça,
este anno, a chuva impertinente dos ultimos
dois dias impediu ainda mais taes diverti-
mentos.
— O nosso amigo sr. Antonio Pereira,
chefe da estação telegrapho-postal de Froen-
ça-a-Nova, foi passar alguns dias da ultima
epocha em companhia de seu cunhado e
nosso bom amigo, o reverendo sr. padre
Manuel Alves, da villa do Cano. Regressou
encantado com aquella aprazivel povoação,
magnificos campos e soberbas herdades.
— De visita a sua familia, acha-se n’esta
villa o sr. David dOliveira, mui considerado
2.º aspirante da repartição de fazenda da
cidade da Guarda.
-— Vae breve tomar posse da egreja de
Flôr da Rosa, onde ha pouco foi apresentado,
o reverendo sr. padre Bizarro.
— À Civilisação Popular, no seu ultimo
numero, referindo-se ao pretendido edificio
escolar, n’esta freguezia, termina assim no
ultimo periodo : «Louvamos os bons desejos
dos habitantes d’Oleiros, crendo que os po-
deremos felicitar, desde já, pela futura posse
do melhoramento tão legitimamente ambi-
cionado».
€.
Registro bibliographico
Recebemos o n.º 4 da Tradição, revista
mensal d’ethnographia portugueza, illustra-
da. Tem por directores os srs. Ladislau Pi-
carra e Dias Nunes e por collaborador ar-
tistico o sr. FP. Villas-Boas.
Esta bem redigida revista publica-se na
villa de Serpa.
Summario: Preliminar, pela Redacção. —
O Doutor da mula russa, por Sousa Viterbo
(dr.).— Natal, Anno-bom e Reis, por N, Dias
Nunes. — Cancioneiro de musicas populares,
por Paulo Osorio. — Vidigueira e suas tradi-
ções, por Fazenda Junior.— Novellas popula-
res minhotas, por Alvaro Pinheiro. — Jogos
populares, por Ladislau Piçarra (dr.). — Su-
perstições: O Banho da Alma, por L. P.—
ne por Castôr. — Bibliographia, por
Ilustrações: Galeria de typos populares:
Apanhadeira & Azeitona. — Cancioneiro mu-
sical: Cantico aos Reis.
EA FOLHETIM –
ULTIMA DADIVA.
mm
TRINDADE GOBLHO
Distante do rio apenas um tiro de bala
ficava o horto do José Cosme, bello horto
ainda que pequeno, todo mimoso de fructas
é hortaliças, fechado entre velhas paredes
musgosas, atufadas em silvedo, communi-
cando: com a estrada: por um pequeno por-
telo mal seguro. E eisvali quanto ao pobre
homem restva dos.seus anligos-deveres : —
o horto, a um canto a nora, e perto da nora,
sob a umbella tufada e virente da antiga
magnolia gigantesca, a misera casinhola de
alpendre, apenas com uma porta e duas ja-
nellitas lateraes mas toda pitloresca das
heras que a revestiam, que lhê pendiam dos
beiraeés enlaçadas com as trepadeiras.
De modo que na primavera, quando as
parasitas abriam serenamente: os“ seus me-
lindrosos -calices: sobre esse fundo de: ver-
dura reluzente, e magnolia: toda se toucaya
de flores fazendo, docel à vivenda, aquelle
pequeno canto d’ horto, com a sua nora &
com a sua agua espelhante e limpida, tomava
a feição ingenua de uma delicadissima tela
de paizagista, aquarella deliciosa, alegre e
idyllica, cheia de encantos na poesia rustica
da sua simplicidade.
No verão, às horas do calor, quando 0
sol caia a pino sobre a larga paizagem ador-
mecida e turva, e as arvores da estrada não
davam a sombra que aliviasse, aquella tran-
quillidade com que o José Cosme ressonava
sob o alpendre, braços nús e peito nú, O
chapeirão de palha grossa resguardando-lhe
a-cara, fazia inveja aos que por “ali passavam,
cançados e cheios de poeira, flagellados por
aquela estiagem inclemente.
— 0º tio José!—grilavam-lhe do caminho.
—”Tio José! O” regalado!
Mas os que entendiam de lavoura, pro-
prietarios e maioraes, esses deixavam dor-
mir 0 José Cosme e ficavam-se a admirar O
horto.
– Ora na verdade!,. . Bello horto, sim se-
nhores! Por aquellas redondezas não havia
outro que se lhe comparasse, tão esmerada
era a sua-cultura—tão esmerada e tão com-
pleta, pois que de mais a mais nem palmo
de terra ficara inculto. Nas leiras, dispostas
com symetlria agradavel, verdejavam cheios
de viço, frescos e medrados, legumes de
todas as castas—desde a alface muito tenra,
de folhas verde claras, toda acaçapada no
chão humido das resgas, até às trepadeiras
das vagens que enrroscadas ascendiam pela
basta «rodriga» de castanho aparada com
todo o esmero, formando massiços de ver-
dura sombria que os casulos esguios dos
feijões crivavam de alto a baixo. Arvores,
apenas as precisas para aformosearem o
horto, sem prejudicarem com a sombra a
vegetação franca das hortaliças. Mas todas
as que havia eram mimosas de fructas nas
estações competentes—cerejas, peras, maçãs,
pecegos mesmo.
Poucas flores: uma coisa que todos no
tavam com estranheza. Mas desde que lhe
morrera a mulher mais a filha, o José Gosme
deixara-se de as cultivar, e nos canteiros
assim devolutos linha semeado repolhos, que
por signal vinham enfezados. SO Leve O
cuidado de não deixar morrer os goivos.
Uma vez por anno, em fins de Maio, colhia-os
todos de uma vez, e ia leval-os em braçado
à sepultura rasa das suas defuncias.
Exactamente n’essa tarde tinha elle ido
ao cemiterio fazer a funebre visita. Quando
se recolheu era já noite. Mal acabou de cear
levantou-se bruscamente da mesa e foi-se
para o horto, com uma grande vontade de
chorar. Estava nas suas horas tristes, n’essas
horas em que as energias todas da sua alma
e até as do seu corpo vergavam sob o fla-
gello de uma dôr violenta, exacerbada agora
pela saudade dos que lhe tinham morrido…
E para maior desgraça fugira-lhe o bem das
lagrimas. De modo que sem esse lenitivo,
aquellas medonhas tempestades custavam 0
dobro a supportar. Abstracto, n’uma especie
de entorpecimento idiota, percorria sem des-
canço todas as ruas do horto, cabisbaixo,
acabrunhado, automato. Se por vezes parava,
recolhendo-se numa quietação attenta, logo
um gesto brusco desmanchava a sua immo-
bilidade de estatua, soltava um fundo gemido,
e punha-se de novo a andar.
—Vens ou não vens ?—perguntava elle,
evocando com dorido esforço a imagem da
mulher ou da filha. Não vinha, e quando
apparecia era como se fosse um relampago,
apagava-se logo.
Nessa lucta com a sua dôr as horas
iam passando longas. Era já tarde, talvez a
uma da noite. Luz apenas a das estrellas,
pois que o luar nascia tarde. Pesava sobre
toda a paizagem o largo silencio da noite,
apenas cortado, ao longe, pela melopeia so-
muolenta do rio.
Um rapaz que ia na estrada olhou por
acaso para 0 horto do José Cosme e viu um e viu um@@@ 1 @@@

— Da Empreza do Atlas de Geographia
Univernal, recebemos o 1.º fascisculo d’esta
importante e util publicação.
— Recebemos tambem a visita dos nossos
estimaveis collegas A Montanha, de Trancoso,
e o Jornal Saloio, de Cintra.
Agradecemos.
CORREIO DA cGAZBIA DAS PROVINCIS”
“Ao nosso assignante sr. José Nunes
Mendes, residente em Lisboa, enviamos hoje
pelo correio os numeros 1 a 6 d’este sema-
nario, como nos foi pedido.
— Muito agradecemos ao nosso assi-
gnante sr. Francisco Joaquim Matheus, di-
gno sargento da Adm. Mil., residente na
Guarda, a fineza d’uma nova assignatura,
—Do nosso assignante sr: Pedro Anto-
nio Apparicio, de Cardigos, recebemos 330
réis importancia da sua assignatura do 1.º
trimestre. Agradecemos.
VARIAS NOTICIAS
Preseguidos pelos lobos
Ha dias, proximo do Carvalhal d’este
concelho, foram preseguidos por uma ma-
tilha de lobos, os canteiros Alfredo de Sousa
Machado e Manuel Joaquim, que vinham de
Lisboa para esta villa, afim de se empre-
garem na construcção da hova ponte sobre
a Ribeira Grande.
Dizem-nos que tiveram de pernoitar em
cima d’uma arvore, para assim conseguirem
escapar áquelles ferozes animaes. E, para
maior infelicidade, choveu durante toda a
noite.
Que bom quarto d’hora ..
Novo predio
Vamos em breve ver dar principio à con-
strucção d’uma casa de habitação que o sr.
Antonio Alberto Guimarães se propoz con-
struir na rua de Sertorio.
A planta, que já tivemos oceasião de
apreciar, indica que será esta uma das pri-
meiras casas d’esta villa, não só pelas suas
boas commodidades e condições de hygiene,
mas pelo gosto architeto que o sr. Guima-
rães acertadamente escolheu.
Sermões de quaresma
Em todos os domingos de quaresma,
consta-nos que haverá sermões na nossa
egreja matriz, pregados pelo reverendo padre
Domingos Lopes da Cruz.
O primeiro, que teve logar no passado
domingo, foi um discurso transcendente, em
que o sr. padre Domingos, mais uma vez,
mostrou a competencia dos seus dotes orato-
rios,
Providencias
Pedem-se para o estado vergonhoso em
que se encontra a limpeza das ruas desta
villa; para o abuso da divagação d’animaes
nas mesmas ruas; e para o estacionamento
de carros nas ruas de maior transito, Laes
como—Rua do Soalheiro, Largo do Chafariz,
etc. etc.
Façam-se cumprir as posturas municipaes
para terminarem os abusos, que a brandura
das auctoridades competentes, vae tornando
ncorregiveis,
PERFIS LIGEIROS
IV
Passos lentos, vagaroso,
N’um charuto pendurado.
Eil-o. Chamam-lhe manhoso,
Mas elle engana-os callado.
E” philosopho, e assim
Que lhe importa ja o resto;
Deixa correr o marfim
‘Stá sempre bem 0…….+
V
Este, é facil conhecel-o.
Basta a cabeça apar’cer:
Por fóra só tem cabello
E por dentro… vão lá vêr.
Já um dia fez um verso,
Mas foi infeliz ao nascer ;
Se lhe foi o estro adverso,
Que lhe havemos nós fazer?
Dá às gambias, pula, dança
Qual sylphide, no salão,
Tres dias e não se cança;
Eº bom moço 0…… RR
VAL
Eu tenho-me até lembrado
Fazel-o andar n“uma fona,
Porque nunca está caládo
O cega-rega do… .. cessa
Silvadeas.
— ac dir
A questão cretense
À commissão nomeada pelo principe
Jorge elaborou o projecto d’uma carta
organica cujas principaes disposições são
as seguintes:
A ilha de Creta constitue um governo
autonomo, em conformidade com a decisão
das quatro potencias.
A defeza do paiz e a manutenção da
ordem publica são confiadas á gendarmeria
e à guarda municipal. O serviço é obri-
gatorio n’aquella.
Todas as crenças religiosas são egual-
mente reconhecidas e protegidas pelas leis.
A lingua official é a grega.
As funcções publicas são accessiveis
a todos os cretenses, na rasão da sua ca-
pacidade e da sua moralidade.
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 23 DE FEVEREIRO. DE 1899
O principe exercerá o poder executivo
por intermedio de conselheiros responsa-
veis.
Os deputados eleitos pela população,
mais dez escolhidos pelo prifofbei formarão
a camara, que será convocada de dois em
dois annos.
Nos dois primeiros annos, o principe
terá o poder de pôr em execução as leis
necessarias ao serviço judiciario, admi-
nistrativo, financeiro, militar, e de effe-
ctuar contractos relativos aos trabalhos
publicos.
O principe Jorge exercerá o poder con-
ferido pela carta.
id DD 4 :
SERVIÇO DE DILIGENCIAS
Da Certã a Thomar (via Serna-
che do Bom Jardim, Valles, e Ferreira do
Zezere). Sahe da Certã às 2 h. dat. e chega
a Thomar ás 9 h. da noite; Sahe de Tho-
mar às 5 da m. e chega a Certã às 12 1a
da tarde.
Da Certã a Proenca a Nova.
Sahe da Certã à 1 1/a da t. e chega a Proença
às 5 da tarde; Sahe de Proença ás 5 da m.
e chega a Certã às 9 !/a da manhã. Esta
diligencia communica com a de Proença a
Castello Branco.
Da Certã a Pelrogam Pe-
queno. Sahe da Certã ás 2 da t. e chega
a Pedrogam ás 5 1/o da tarde; Sahe de Pe-
drogam às 7 da m. e chega a Certã às 10
da manhã.
ea in TS rm
KALENDARIO DE FEVEREIRO
Quarta-feira 1]8 /15/22]—
Quinta-feira 2/9 146/23] —
Sexta-feira 3 [10/17 /24|—
Sabbado k |41/18/25)—
Domingo 5 |12/19/26|—
Segunda-feira 6 |13/20/27| —
Terça-feira 7 |14]21/28] —
Quarto minguante E a 2.
Lua Nova & a 9.
Quarto crescente D a 19.
Lua Cheia & a 26.
Historia dos Juizes ordinarios e de paz
POR
Antonio Lino Netto
Alumno da Faculdade de Direito e socio efectivo
do Instituto de Coimbra
Preço 400 réis
Vende-se na livraria França Amado —
Coimbra,
ANNUNCIOS
EDITOS DE 80 DIAS
1.º ANNUNCIO
“Pelo Juizo de Direito d’esta comarca
e pelo cartorio do escrivão Gonçalves,
correm editos de trinta dias, citando o
réo, ora executado, Antonio Pereira Ba-
rata, solteiro, proprietario, morador que
foi na villa de Pedrogam Pequeno, actual-
mente ausente em parte incerta, para no
praso de 10 dias, a contar depois de ter-
minado aquelle decendio dos editos, que
começará a correr no dia em que se pu-
blicar o ultimo annuncio no Diario do
Governo, pagar a quantia de 238110 rs.,
importancia das custas e sellos em que
foi condemnado nos autos de policia cor-
recional que o Ministerio Publico lhe mo-
veu pelo crime de furto: ou para dentro
do mesmo praso nomear à penhora bens
sufficientes para esse pagamento, sob
pena de revelia.
Certa, 16 de fevereiro de 1899. Eu
Francisco Cesar Gonçalves, escrivão o
subscrevi. .
Verifiquei.
Ehrhardt,
VENDA E ARREMATAÇÃO
4.º ANNUNCIO
No dia dose do proximo mez de mar-
ço, por onse horas da manhã, á porta do
Tribunal Judicial d’esta comarca, por vir-
tude duma carta precatoria extrahida
d’uns autos d’execução para pagamento
de 519276 réis, vinda da comarca de
Figueiró dos Vinhos, se ha de proceder
á venda e arrematação em hasta publica,
pelo maior lanço que se offerecer sobre
os seus respectivos valores, dos predios
pretencentes ao executado Manuel Mar-
tins, da Sapeira, freguezia do Castello,
a saber: — Uma morada de casas no si-
tio das Hortas Velhas, que consta de
terra de semeadura com sobreiros, matto
e uma casa, no valor de 1409000 réis.
Umas oliveiras com o que lhe per-
tence, detraz da Horta da Céve, no va-
lor de 248000 réis.
São citados quaesquer credores in-
certos
Certã, 17 de fevereiro de 1899.
O escrivão do &.º officio,
José Antonio de Moura.
Verifiquei.
Ehrhardt.
vulto perpassar de repente e de repente
sumir-se n’um recanto onde a sombra era
mais densa.
— Temos historia. ..—resmungou com:
sigo O rapaz.
E, rente a uma arvore, quedou-se ala-
pardado, à espreita. Não descoufiou que
fosse o José Cosme: aquillo era mariola de
larapio que vinha por alli fazer das suas.
Agachou-se então, € poz-se a procurar uma
pedra. Apanhou duas, para 0 caso de não
acertar a primeira.
— (ão do diabo! exclamou baixo o rapaz,
pondo-se em posição de jogar a pedra. =
Espera que eu te arranjo… — E já ja ar-
remessal a na direcção do canto, quando O
vulto saiu da sombra e tomou por um car-
reiro, direito ao logar onde o rapaz estava.
— Melhor ! Mais a geito ficas…
E debruçando-se um pouco na parede,
poz-se a fixar o vulto que avançava, para
ver se o conhecia. Quem quer que era trazia
a jaqueta sobre os hombros, alvejavam-lhe
as Mangas da camisa. A meio do carreiro,
mesmo defronte d’elle, parou. Foi então
que o rapaz se lembrou do José Cosme. O
vulto parecia, com effeito, ser o d’elle; lem-
brava-se agora de Ler ouvido que o pobre
homem, quando o ralavam saudades da mu-
lher, e da filha, levava noites em claro, a
percorrer como doido aquelles carreiros por
onde ellas tinham andado.
Quando ouvim soluçar, acabou então de
se convencer. Insensivelmente, deixou cair
as pedras e perguntou :
—Tio José! O” tio José! Sou eu, o Luiz…
Vossemecê que tem?
O lavrador não respondeu, parece que
nem tinha ouvido. O rapaz insistiu:
— Doe-lhe alguma coisa, O tio José?
— Não dóe, não. Sabes que mais? pe-
ço te pelas alminhas que me deixes. Bem
me bondam as minhas afilicções. Vae com
Deus, vae. E
O rapaz ficou surprehendido, triste do
tom de supplica dorida que o José Cosme
dera áquellas palavras, e retirou-se silencioso,
quasi aterrado agora com a ideia de que
poderia ter matado o pobre homem, caso
jogasse a pedrada.
No emtanto o noite ia avançando, grave,
soturna, sem outro ruido que não fosse o
das aguas do rio. E o José Cosme, sem des-
pegar do seu fadario, ia e vinha pelas ruas
do horto, lembrando um automato ou um
somnambulo. A’s vezes abeiraya-se da porta
de casa e punha se a escutar. Como não
sentia nada, voltava de novo ao seu passeio.
N’isto de uma vez que passava em frente do
cancello, pareceu-lhe ouvir passos.
— ()’ Thomaz!
— Sr. José!— respondeu o que entrava,
n’uma voz que era mesmo voz de barqueiro.
O Cosme sentiu então uma grande yon-
tade de chorar, mas remordendo os beiços
dominou-a. Como o barqueiro extranhasse
encontral-o a pé, elle então redargniu-lhe
que nem se linha deitado.
— Como Linha de madrugar…
— Pois são horas de largar, sr. José;
isto vae p’r’as duas. Não tarda que comece
a amanhecer. —E como estavam à porta de
casa: — Será bom acordar jê o pequeno:
veste, não veste, é Lempoeque se vae. —
Jam à vela se o tempo não mudasse. Era
bom aviar, por isso.
Mas à ideia de ter acordar o pequeno,
o José Cosme deixou-se cair sobre o banco ‘
que estava debaixo do alpendre, e desatou
a chorar violentamente, Son
O barqueiro tentou animal-o, constaan-
gido.
– — Então, sr. José?… O chorar é lá
para as mulheres. Olhem agora que homem!
—E tentava levantal-o, pol-o de pé. —Limpe
lá essas lagrimas, que vae affligir o pequeno!
Ou quer que elle vá a chorar todo o caminho?
O Cosme fez que não com a cabeça, vio-
lentamente, e poz-se a enxugar os olhos com
a manga da camisa.
—Pois ontão levante-se lá. —E segurou-o
com força por baixo dos braços. — Assim!
Lã porque o pequeno vae para o Brazil não
fique vossemecê a pensar que o não torna
a ver.
Mas era isso mesmo que o elle pensava…
— Porque não sei que me adivinha que
não torno a ver o pequeno—concluiu a cho-
rar o José Cosme,
—Scismas! lembranças que veem à gente
quando está afílicta. Mas ha-de vel-o que o
não ha-de conhecer, digo-lh’o eu. Mais anno
menos anno, apparece-lhe ahi; rico…
Rico ! bem lhe importava a elle que o
pequeno viesse rico. O que desejava era
que voltasse e que elle ainda fosse vivo só
para o abraçar.
Pois sim,’mas-era preciso aviar que ti-
vesse paciencia: o José Cosme que se ani-
masse para animar o pequeno — recommen-
dava o barqueiro.
— Sim… sim… — tartamudeava o
Cosme. — Vamos lá com Deus! Com’assim,..
Continia,@@@ 1 @@@
GAZETA DAS PROVINCIAS — CERTÃ, 23 DE FEVEREIRO DE 1899
VENDA E PRA.
LeÊ + 42 ANNUNCIO ,
No dia dose do proximo mez de
março, por onse horas da manhã, á porta
do Tribunal Judicial d’esta comarca, por
virtude da execução por custas, sellos e
muleta que o digno magistrado do Mi-
nisterio Publico move contra José da Sil-
va, do Castanheiro Pequeno, para paga-
mento de 458947 réis, se hade proceder |
à venda e arrematação em hasta publica
pelo maior lanço que se oflerecer sobre
os seus valores, em — O usuftucto vita-
licio que.o executado tem em um quin-
tal ou cerrado com uma larangeira, tes-
tada de rua e uma pequena casa no lu-
gar do Castanheiro, no valor de 38000
réis.
O usulructo vitalício que o mesmo
executado José da Silva tem em uma
horia à Fonte do Castanheiro Pequeno,
no valor de 69000 réis.
São citados quaosquer “credores in-
certos,
Certã, 17 de fevereiro de 1899.
O escrivão do 4.º officio,
José Antonio de Moura.
Verifiquei.
Erhardt.
Editos de 30 dias
2.º ANNUNCIO
Na comarca da Certã e cartorio do
3.º officio pelo inventario orphanologico
de José de Brito, morador que foi em a
Aldeia Velha, [lreguezia de Sernache, e
em que é cabeça de casal a viuva Maria
Felizarda, do dito logar, correm editos
de 30 dias da 2.º publicação d’este an-
nuncio no Diario do Governo, citando
todos os credores e legatarios desconhe-
cidos ou domiciliados fóra da comarca
nos termos do artigo 696.º e $S3.º e 4.º
do Codigo do Processo Givit, e especial-
mente o coherdeiro Antonio, ausente em
parte incerta, filho do inventariado.
Certã, 7 de fevereiro de 1899.
O escrivão,
Eduardo Barata Correia Silva.
Verifiquei.
O Juiz de Direito substituto,
Erhardt
VENDA E ARREMATAÇÃO
(2.º annuncio)
No dia 26 do corrente mez de feve-
reiro, por onze horas da manhã, à porta
do Tribunal Judicial d’esta villa, vão à
praça para venda e arrematação em hasta
publica pelo maior preço que fôr offere-
– cido superior ao valor da respectiva ava-
liação os bens abaixo indicados, descri-
ptos no inventario entre maiores a que
pelo cartorio, do escrivão Gonçalves, se
procede: por obito de Caetano Farinha,
morador, que foi, no logar do Maxial
Grande, dºesta Treguozia, em que é ca- |
beça de casal sua segunda. mulher Feli-
ciana Maria, do mesmo logar, para pa-
gamento das dividas: deseriptas: e appro-
vadas- no | mesmo inventario; Os iquaes
bens’são os seguintes:
Umas casas de residencia com suas |
lojas, ruas, palheiros, quintaes com, vi-
deiras e mais arvores, no logar do Maxial
Grande; avaliadas na quantia de2308000
TÉIS
Uma casa com sua testada de rua e
um pateo ao — Cimo da Rua do Maxial;
avaliada em 18000 réis.
Um bocado de terra ao — Valle das
Taboas, limites da Macieira ; avaliada em
18000 réis.
Uma conrella de terra com tres-so-
breiros, no-sitio das — Barreiras, limites
do Troviscal, avaliada na quantia de réis
18500.
O dominio util do prazo foreiro a
Manoel Antonio, do Maxial Grande, em
20″ 266 de centeio, e um frangão, que
se compoe de uma horta com videiras e
matos no sitio: do — Colladinhos das La-
meiras; avaliado, liquido, em 2408500
réis.
O dominio util d’um prazo foreiro a |
Joaquim Alves, do Fundão, em 6! 722
de centeio e meio frangão, em 3386
de centeio, a Francisco Manoel João,
daquelle logar do Fundão; o qual prazo
se compõe de uma propriedade de terra
de cultura, videiras, matos e pinheiros,
no sitio da — Corga da Fusca; avaliado,
liquido, em 309550 réis.
São citados para a dita arrematação
quaesquer credores incertos do inventa-
riado que se julguem com direito aquel-
les bens.
Certã, 4 de fevereiro de 1899, E
eu José Antonio de Moura, escrivão que
o subscrevi no impedimento do respectivo.
Verifiquei
E Ehrhardt.
Harpa
Vende-se uma harpa, de
Erard, sete pedaes, movimento
simples e em bom estado de con-
servação,
Quem pretender dirija-se a |
Antonio Victor da Rocha. E
CERTA,
SETAS
CROGRAPHIA UNIVERSAL
Descriptivo e illustrado
Publicação Mensal
Contendo 40 mappas expressamente gra-
vados e impresssos a côres, 160 paginas de
texto de duas columnas e perto de 300 gra-
vuras representando vista das principaes
cidades e monumentos do mundo, paizagens,
retratos de homens celebres, figuras, dia-
grammas, etc.
A primeira publicação que n’este genero
se faz no paiz.
Todos os mezes será distribuido um fas-
ciculo contendo uma carta geographica cui-
dadosamente gravada e impressa a côres,
uma folha de quatro paginas de texto de 2
columnas. e 7 ou 8 gravuras, e uma capa
pelo preço de 150 réis pagos no acto da
entrega.
Toda a correspondencia e pedidos de as-
signatura devem ser dirigidos à EMPREZA
EDITORA do Atlas de Geographia Universal, —
Rua da Boa-Vista 62, 1.º, — LISBOA.
AUGUSTO COSTA
Encarrega-se de fazer todo o serviço
concernente à sua arte, tanto para esta lo-
calidade como para fóra.
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Toma medidas em qualquer ponto d’esta
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