A Nympha do Zêzere nº8 02-06-1897

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“Dera — dia feira, 2 de o de , 1897
1.º finno er
A NYMPHA DO ZEZERE
sSemanario noticioso e litterario
Dinecror — E. DE SANDE MARINHA
ASSIGNATURA
Certa e Coimbra, 80 reis mensaes — Fóra da Certa, 350 por 4 mezes.
Brazil, anno, 45500 reis. — Africa, anno, 1800 reis. — Avulso, 25 reis.
Toda a correspondencia deve ser dirigida à redacção A NYMPHA
DO ZEZERE, Certa.
CENTENARIO DE TASZO DL GN
Está para breve o centenario de
Vasco da Gama. Em volta d’esse nome
“glorioso, Portugal vae justamente cur-
var a fronte, saudando n’elle a mais
pura encarnação da nossa patria e o
“maior esforço de que foi capaz 0 nosso
Fo
Nada mais justo !
A edade-média, atormentada pula
alacridade da nova luz que despontava;,
tri 0 e Pela a ia-o
Fe «ideias violentas e Ci A a
— N’um momento, como se o ti-
“vesse sido galvanizado, corre uma com-
– moção geral. Ondas de luz cobriram a
terra, e o ceu deixou ver um manto de
estrellas, tremeluzindo gloriosamente.
-— Era à alleluia da civilisação que
“renascia; era o hossana entoado à vida
nova que apontava !.
Não deixemos depercebido esse mo-
vimento; volvamos, precisamente quan-
do elle se realisa, um olhar rapido por
todo o orbe. Que vemos?!
— Alêm, as Caravellas portugue-
“zas, Sózinhas, na exploração dos ma-
“res, e, lá mais longe, no Oriente, de-
pois de aberto o novo caminho para a
“India, a nau S. Gabriel a boiar nas
aguas, tendo no alto o vulto magestoso
“de Vasco da Gama, que acabara de
ferir a luz que deu a explosão da Re-
nascença |
Era assim consummado o maior pro-
digio da nossa raça. Para o contar,
mal pôde a historia, e, para o definir,
não ha linguagem bastante. Essa obra
faz-se uma vez, e O povo que a con-
cebeu é unico no arrojo.
Roubem-nos todas as nossas tra-
dicções e todas as nossas glorias, rou-
bem nos todos os nossos brazões e tudo
o que temos de grande: deixem-nos
apenas esse nome — Vasco da Gama !
E’ tão descommunal o seu prestígio,
tão desmedida a sua força, que, mes-
mo só, ainda chega para ficarmos das
mais altas entre as nações.
star oe ce iai sa ce e
Eno Uta o de transição: seco
Vasco da Gama, feito da: nossa al-
mae filho da nossa fé, marca: indubi-
tavekmente o cyclo-mais brilhante da
nacionalidade portugueza. A chave de
ouro, que abriu uma epopêa no roche-
do de Sagres, fechou-a ele num im-
pulso extraordinario de genio, e, so-
bre essa epopéa, vem largamente me-.
ditar a historia o destino dos. heroes ! |
“Um pouco adeante, da gruta: de.
Macau, donde tudo pôde ser visto..ao.
caminhar do sol para o Oecidente, er-.
gue-se a figura de Camões, austera
Sua patria, solemne como.
a dos prophetas antigos: temos tra-
enorme =
nome do Gama, com O amor a doRni
vel-duua arlista-eiorno- Maravilha.
Das suas mãos divinas sahem os Lu-
ziadas emmoldurados em luz!
Basta. Podu morrer à maior nação
que encheu a terra. Esta já feito o seu
testamento, e a sua lierança é quasi
phantastica. As gerações futuras teem
muito que apprender e muito para
dispender.
Eu sinto alguma cousa d’extranho
ao ter de dizer à opulência mais que
oriental d’essa herança. Meço por ella
O quanto poude a nossa raça, e é com
deslumbramento que admiro a sua gran-
deza.
— Constitue-a o simples nome de
Vasco da Gama, tomado elle como a
expressão mais completa da nossa in-
dividualidade histórica.
Levantar-lhe uma glorificação col-
lectiva é um trabalho conveniente e fe-
cundo: fecundo para a nossa vida in-
terna, conveniente para a nossa vida
externa.
Internamente, é da maior urgen-
cia essa glorificação, porque determi-
na vontades e cria incitamentos. So-
bre esse quasi cadaver, que se chama
Portugal, extrebucham agora os parti-
dos em ruidosa bachanal, sem olhar á
justiça eterna da historia que’os ha de
julgar. Deitemos-lhes, pois, à cara O
exemplo dos nossos homens antigos,
cuja divisa era antes quebrar que tor-
GÕE.
Externamente, aquella glorificação
proporciona aos extrangeiros a medida
PUBLICAÇÕES
Cada linha ou espaço de linha, 30 réis. — Repetições, 20 réis a linha.
Annúncios permanentes, preço convencional. — Os srs.
têem o abatimento de 30 por cento. — Os originaes recebidos, não
se restituem, quer sejam ou não publicados.
assignantes
do nosso “valor, e instrue as nações,
ignorantes da missão historica que em-
prehendemos e da-epopêa- que reali-
sâmos. ;
Não pareça isto imaginario.
As nações pouco ou nada sabem
de nós; ou, a ans fingem não
ano
– Desconhecem os nomes que são as
| primeiras estrellas que illuminaram a
Renascença. Desconhecem o-povo que
primeiro partiu para a mysteriosa car-
reira dos mares, e que de lá lhes gri-
tou, com a: fronte a scintillar de luz,
apontando o caminho da civilisação
i ços da sua gente e O calor d uma ideia
“Desconhecem Albuquerque, um dos
maior es conquistadores que echoaram
-no-mundo, duma tempera tão grande
| como a d’Atexandre e d’um caracter
libado como o dAnnibal. Desco-
cm-Nuno Alrares,-que-tinha-o-co=
ração d’um santo e a espada luminosa
que se viu em Aljubarrota!
Não fica só aqui aquella mano
clã; vae mais longe.
Destonhecem Fernão Lopes que
modelou os primeiros dramas da his-
toria e as primeiras fôrmas da nação
scientifica. Desconhecem Pedro Nunes,
que feriu lume na sciencia, e Vieira,
que teve rasgos de Demosthenes. Des-
conhecem João das Regras, Damião de
Gões e mal conhecem o Marquez de
Pombal. Desconhecem quem lhes en-
sinou o caminho dos ares,—Alexandre
de Gusmão, e quem lhe ensinou a ca-
minho dos mares, — Infante D. Hen-
rique.
Desconhecem o que nós fomos é o
que nós somos.
Desconhecem tudo! a
Não sabem quem lhes deu a pri-
meira luz que admiraram, nem as pri-
meiras leis na politica da Europa.
Indigno!
Este grande crime do nosso tem-
po, deve ter, ha de certamente ter um
terrivel julgamento das gerações vin-
douras. O tribunal do presente arma-
se no futuro, e a historia lá estará,
no seu logar, para testemunhar !
Vem isto a ponto para dizer que
não podemos nem devemos contar se-
não com o nosso esforço proprio e com
a nossa tenacidade.
– Quem é que abi na Europa ergueu
já a voz a nosso favor? Quem é queuropa ergueu
já a voz a nosso favor? Quem é que@@@ 1 @@@
“A NYMPHA DO ZEZERE
ahi bateu palmas a qualquer empresa.
nossa ?
Ninguem !
Mas- não importa. Ha dentro em
nôs energias bastantes para sacudir
essa velha Europa e prender-lhe as
attenções.
Um arranco, um simples arranco
de vontade, e, dum pequeno povo que
somos, resaltarão novamente as cham-
mas phantasticas, que vão circumdar,.
na historia, a fronte dos herões!
Pelo estrangeiro
QUESTÃO DO ORIENTE
A situação da Grecia é cada vez
mais grave, pois teme-se que occor-
ram sedicções militares e desordens
populares anti-dynasticas. A indigna-
ção é geral em virtude das condicções
de paz exigidas pela Sublime-Porta.
Até agora a guarnição de Athenas
tem permanecido leal às instituições e
ao governo, mas receia-se que seja in-
fluenciada pela propaganda ravolucio-
naria.
— O governo grego tem luctado
com grandes embaraços para con-
seguir desarmar os batalhões dos vo-
luntarios, que, como se sabe, foram
um dos elementos que mais contribui-
ram para-a desmoralisação -das-tropas”
gregas. –
—Já regressaram à IHalia 250 vo-
luntarios italianos.
—A Grecia acceita a celebração do
armistício regular pedido pela Turquia
e prolongavel tanto quanto o necessi-
tem as negociações de paz. O rei Jor-
ge pediu ao czar Nicolau que imponha
ao governo turco as condições da paz.
—As tropas turcas avançaram na
zona neutra. .
As tropas gregas que estavam em
Creta já regressaram todas a Athenas.
A guarnição turca permanece ainda ali,
porém, quando receber ordem de re-
tirada, receia-se que os musulmanos
d’aquella ilha provoquem algum con-
flicto. Tomaram se precauções.
Os musulmanos saquearam no dia
30 uma aldeia. proxima de: Gandia e
trucidaram 44 pessoas.
Canea, 31.—Os turcos que sairam
de Candia, atacaram os cretenses in-
surrectos e roubaram-lhes os gados.
de Athenas para o Standard que foram
ali encommendados abastimentos para
h0 navios inglezes, que devem concen-
trar-se no Pireo.
Consta ao Daily Telegraph que a
Grecia fez um novo appello às poten-
cias, pedindo-lhes que apressem a ce-
lebração da paz.
—— e O sm
No sabbado passado foi julgado pelo
tribunal criminal de Roma, o réo Ac-
ciriato, que ha mezes attentou contra
a vida do rei Humberto, d’talia. Du-
rante o julgamento conservou sempre
uma attitude synica, declarando que
attentou contra a vida do rei como re-
presentante dos ricos. Foi condemna-
do a galés por toda a vida.
E mts! o
Ao meu amigo Ernesto Marinha. .
Deus, — ave mysteriosa
Assombro de belleza !
Envolve orbes e mundos
Em ninho de grandeza!
Cahida sobre o homem
Tem uma aza d’amor,
E o homem sabe, amando, –
Tr beijar uma flor |…
Junho, 97.
Jos Lino.
Londres, 1. — Diz um telegramma.
Artes & Lettras
CONTOS BRANOS
Desfallecera a aúrora em garga-
lhadas brancas. É
Nascente de fogo.
Estalava o sol em granadas d’oiro.
Louco, surgia além, arremeçando ful-
gencias pelo espaço em’fora. o
Lá em baixo, n’aquelio fio de pra:
ta que serpeia na campiva, entrega- e
vas-te—o minha Esperança-—aos pra
zeres do banho. BEE
“Cobria-te mansamente um salguei-
ro em flôr, lançando-te ao seio de gelo
perolas, muitas perolas. Ra
A agua, pura como a tua” alma,
azul como o ceu azul dos teus olhos, =
em alongados. beijos soluçava esper-
guiçando-se no jaspe do teu. collo. Teus
cabellos loiros, perolados-por finissi=
mas gottas d’agua, brincavam-te pelos
hombros de alva espuma. po
Nas margens, as boquinhas das
rozas enviavam-te, à qual mais, per-
fumados bafejos: er SE oe:
-.- E à Natureza admirava-se en-
louguecida, espreitando por sob a gase
tenuissima de odorante frescura que
sobre ti lançára.- e.
Cahiam-me n’alma harmonias de.
rouxinoes distantes suspirando meigas
balladas; avesinhas doidas, envoltasem
mantos de candida innccencia vinham
incensar-se na agua do teu banho. Eu,
Hinconciente, À mdo-me; olhava-te e”
não te via. Res e
Desperto ao leve: ruido do tombar.
de uma folha que despendida do sal
gueiro, doidejando pelo ar, se lançou
m’agua. Espirrou-me dos labios um ver-
melho sangue de ciume, bateu-me o |
coração cruel inveja; desejo mordente.
me afogueou as faces; e nºuma tontura –
selvagem, n’uma agonia dilacerante que
me sulffocava, via, em deslisar suave,
procurar abrigo nas curvaturas dos
teus seios… e
ALEXAXDRE DE MATTOS. |
(3 FOLHETIM
O ULTIMO ABENCERRAGEM
CHATEAUBRIAND
«Guia, exclamou elle, sêde feliz!
pão me occultes a verdade, porque no
dia: do teu nascimento o mar estava
manso, e a lua entrava no seu cres-
cente. Que torres são aquellas que bri-
lham como estrellas por cima de uma
verde floresta ?
—E a Alhambra, respondeu guia.
—E aquellecastello, na outra colina ?
— E’ o Generalife, tornou o hespa-
nhol. Ha n’aquelle castello um jardim
plantado de murta, onde se diz que
fôra surprehendido o Abencerragem
com a sultana Alfuima. Mais além está
o Abaizyo, e mais perto de nós as Tor-
res Vermelhas.
Cada palavra do guia era um pu-
nhal que penetrava o coração de Aben-
Hamet. Quanto é cruel para um pobre
exilado ter de valer-se de desconheci-
dos para saber os nomes dos monu-
mentos de seus paes, e ouvir da boca
de um iudifferente a historia da sua
familia e dos seus amigos! O guia,
pondo termo às reflexões de Aben-
Hamet, exclamou:
«Vamos para diante, senhor, va-
mos; Deus assim o quiz ! Tende cora-
gem. O proprio Francico 1.º, não é
agora tambem nosso prisioneiro em
Madrid ! Deus assim o quiz.» E, tiran-
do o seu chapeo, fez o signal da cruz,
e tocou as mulas. O Ahencerragem,
apressando a sua, tambem exclamou:
«Estava escripto (!)» e dirigiram-se
para Granada. es
Passaram perto de um grande frei-
xo celebre pelo combate de Murça e |
do grão-mestre de Calatrava, no tem-.
po do ultimo rei de Granada; alraves-
saram o passeio Alameida, e entraram =
na cidade pela porta d’Elvira, subiram
o Rambla e bem depressa chegaram a
uma praça, rodeada de casas, cuja ar-
chitectura era toda no gosto mourisco.
na praça estava aberto um kam para
os Mouros d’Africa, que vinham em
multidão a Grauada, altraidos pelo
commercio das sedas do Vega. Foi para |
aqui-que o gui conduziu Aben-Hamei..
O Abencerragem estava muilo agi-.
tado para saborear o repouso da sua
nova habitação; a vista da patria ator=
mentava-o, Não podendo resistir aos@@@ 1 @@@
A N£MPEHA DO ZEZERE
CONTOS NEGROS
Noite. Escuridão pesada, mónotona
e-Lriste como a chuva de imprecações
“vomitadas pela febre dama tortura.
Silencio sepulchral. Ultimos rever-
beros de luz ensanguentada dos can-
“Gieiros, parece que ardem, com as tin-
tas escuras e agoniadas do sofirimento
“pelas folhas amarelladas das arvores
esqueleticas .-.
E para alem d’essas luzes, na tre-
va d’esta noite cataleptica. como- um
pesadelo mau, ha o arfar convulsio-
– ante dos gemidos da fome, e um troar
“de maldições em labios descorados pelo
martyrio.
Negra pagina do livro das maldi-
“ções é esta, em que ha anceios corus-
antes escriptos com as laórimias amar-
– guradas da miseria.
Negro quailro é este, negro, negro
“como a treva que enluta o coração a |
desredaçar se nas garras do precon-
– ceito, maguado como 0 pda onde |
“durma uma creança.
Quve-se a gargalhada rouca e avi-
nhada d’um bebado, e a abscenidade
horripilante de meretrizes..
Ruido. Brilham facas de fadistas,
com reverberos infernaes, à luz ago-
nisante d’um candieiro: relampagos do
— odio na tempestade do vinho e-da-00=|-
seara.
“Depois, mais ao longe, descobre a
iso um phantasma negro como um.
tumulo, tumulo do ultimo reflexo da
“ honradez
E’ o limoeiro, guarda pretoriana
“uma sociedade de infamias e loucu-
ras.
E’ o limoeiro, é o limoeiro, e, en-
“4ão, a alma do sonhador pede à im-
-mensidade que o liberte do limoeiro
do mundo.
WERTHER.
Como é bello e encantador,
em manhãs de primavera,
vêr os campos em flor
e muros cobertos dºhera;
Vêr à linda mariposa,
de côres tão variegadas,
volitar de rosa em rosa
de petalas aveludadas:
Lançar a vista ao horisonte
para às bandas do oriente,
vêr o:sol d’etraz dum: monte
– despontar alegremente
correu o rasas sas an os a a.
cosa sr cr sera ro ca no o sa 00 |
Estava eu admirando
esta belleza campestre,
vejo uma ave cantando
num elevado eypreste.
E o canto do passarinho
num ramo: a saltitar;
tinha tal doçura e carinho
que me-chegou a inspirar.
Alguns instantes passava
-em muda contemplação, –
pensava-na sua amada:
na sua cruel paixão;
“E n’um piar tão doente,
“vreio éu que ella dissera
“allando da sua amada,
comparando-a á printáveras
És tu da natureza à fada,
ella a do meu coração;
não agora; tristemente !..
em terpos que já lá vão:
que as flores que o adornavam,
cahiram murchas no chão.
E num estertôr d’agonia
passados instantes morreu.
E eu de mim para mim dizia
és tão infeliz como eu. |
Junho, 97.
– Raur DE FREITAS.
CARNET LOCAL .
* Parte por estes dias em goso de
licença para a sua terra natal, o sr.
José Gabriel da Fonseca Diniz.
* Estiveram entre nós os sts. Ber-
|nardo Heitor de Deus e João Nunes
Tavares, de Villa de Bei.
* Já regressou a’ Castello: Branco O
sr. Sequeira, aspiraute da repartição
de Fazenda Districtal.
* Esteve n’esta villa o sr. José Cus-
tódio Martins Vidigal, “de Pedrógam
Pequeno. es
* Regressou a Sernache: 0 sr. Abi-
lio-Marçal.
* Esteve enire: nós osr. José An-
todio, de Proença a Nova.
* Tambem esteve nesta vilão nosso
E amigo Adelino Marinha.
ANNI VERSARIO
Passa no dia 5 O anniversario na-
talicio da ex.”2 sr? D. Sus de
| Sande Marinha.
As nossas cordeaes felicitações.
Na Mito inspecção de reservistas,
flticini 22, que vão ser autuados por
infracção às leis do recrutamento mi-
e litar.
* À Santa Casa da Misericordia de
esta villa poz a concurso o logar de
| capellão com o ordenado annual de
605000. –
* Continuam com bastante desen-
volvimento os trabalhos da construc-
ção da estrada districtal n.º 419, en-
tre o Maxial e Oleiros.
* À camara municipal d’este conce-
lho, concedau 414 dias de licença ao
facultativo do partido com séde em
Villa de Rei.
sentimentos que lhe ralavam o coração,
Saiu no meio da noite para errar pelas
“ruas de Granada; começou então a vêr
se reconhecia alguns dos monumentos,
– que os velhos tantas vezes lhe tinham
descripto. Talvez que aquelte alto edi-
ficio, cujas paredes elle devisava atravez
da escuridão, fosse outrora à habitação
dos Abencerragens; talvez fosse n esta
praça solitaria que se celebrassem
aquellas festas que levaram a gloria de
Granada até às nuvens. Alli passavam
as quadrilhas soberbamente vestidas de
brocado; acolá avançam as galeras car
regadas darmas e flores, os dragões
que lançavam fogo eque continham no
seu bojo illustres guerreiros; tudo in-
genhosas invenções do prazer e da ga-
lanteria.
Mas, ai do infeliz desterrado! em
vez do som dos anafis, do ruido das
trombetas e dos cantos dos amores, em
tornode Aben-Hamet só reinava silen-
cio profundo. Essa cidade tinha muda-
do de habitantes, e os vencedores repou-
savam nacama dos vencidos. «Elles, es-
sesorgulhos dosHespanhoes, exclamava
ojoven Mouro indignado, dormem debai-
xo dos tectos de que elles expulsaram
meus avós! E eu, o Abencerragem, vel-
lo incognito, solitario e desamparado,
à porta dos palacios de meus pais!»
Aben-Hamet reflectia então sobre
os-destnos humanos, sobre as vicissi-
tudes da fortuna, sobre a queda dos
imperios, sobre essa Granada em fim
surprehendida pelos seus inimigos no
meio dos prazeres e dos folgares, tro-
cando de repente as suas grinaldas de
flores por cadeias de ferro; parecia-lhe
vêr os seus cidadãos abandonando os
os queridos lares em trajos de festa,
como convivasque, repentinamente, por
um incendio foram expulsos da salla do
festim.
Todas estas imagens, todos estes
pensamentos se amontoavam. na alma
de Aben-Hamet; cheio de dôr e de sau-
dade, não pensava senão em executar
o prejecto que o tinha conduzido a Gra-
nada. O dia veiu susprehendel-o, quan-
do já estava longe do kam, num ar-
rabalde desviado da cidade, Tudo dor-
mia; nenhum ruido perturbava o silen-
cio das ruas; as portas e as janellas
das casas estavam fechadas: sómente a
voz do gallo annúnciava na habitação
do pobre a volta das pone e dos tras
balhos,
fi Contintia) 1s,
fi Contintia) 1@@@ 1 @@@
&
A NZMPEA DO ZEZERE
VARIAS NOTICIAS
D’uma correspondencia de Pedro-
gam Grande para 0 Zezere, de Figueiró
dos Vinhos, extrahimos o seguinte:
«Consta. nos que o governo vae man-
dar construir um lanço da estrada dis-
trictal n.º 123, comprehendido entre a
Ponte do Cabril e Pedrogam Pequeno,
do concelho da Gertão.
A” camara municipal de Coimbra,
foi apresentado um requerimento. em
que alguns individuos d’aquella cidade
pedem: o arrendamento por 10 annos
do passeio da quinta de Santa; Cruz,
para ser explorado por conta da em-
presa com bazares, jogos, restaúran-
tes, etc. Se a camara acceitar a pro-
posta, serão: construidos. ali diversos
chaleis. E
O passeio continuará a ser publico,
excepto nos dias de festa, em que as
entradas serão pagas por diminuto
preço.
Foi auctorisada a construcção de
uma linha ferrea de serviço para a fa-
briça de Fiação de Thomar, junto da
estação de Payalvo.
Ha dias um trabalhador de Idanha-
a-Nova, encontrou 14 pequenos lobos
num só covil! se
A camara d’aquelle concelho pre-
miou-o com 35000 réis.
=
O cruzedor de guerra Adomastor,
construido nos estaleiros de Livorno
por conta da subscripção de defesa na-
cional, parte brevemente para Lisboa.
Chegaram ão Collegio das Missões
Ultramarinas, os revd.Pº srs. dr. An-
tonio José Boavida, e bispo de lHyme-
ria. Espera-se tambem o revd.?º bispo
de S. Thomé de Meliapór, que vem
assistir às exequias do benemerito bis-
po de Cochim, ha pouco fallecido e que
foi alumno d’aquelle estabelecimento.
A camara municipal deste conce-
lho concedeu licença de 30 dias, sem
prejuizo de transito, ao sr. Joaquim
Maria das Neves, d’esta villa, para de-
positar alguma pedra na estrada da
Cerlã ao Zezere no sitio da Eirinha,
no lanço comprehendido entre esta villa
e a Portella. o
O governo do Japão vae realisar
um emprestimo de 109 milhões de fran-
cos, destinados à compra de 21 navios
de guerra e augmentar o exercito.
A camara deste concelho vae pro-
ceder aos reparos da fonte publica da
aldeia do Troviscal.
N’um dos dias-da semana passada,
a policia russa prendeu no parque de
Tzarskoie Selo, um homem que ali fôra
encontrado escondido, armado de re:
wolver e punhal. Interrogado, decla-
rou querer matar o czar Nicolau. Sup-
põe se que está doido.
Um telegramma de Christinia (No-
ruega), diz que foi quasi completamente
destruida por um incendio, à cidade
de Namsom.
CORRESPONDÊNCIAS
Coimbra, 1. — O sr. dr. Emygdio
Garcia, lente de direito, vae publicar os
disenrsos que pronunciou nos capellos
dos srs. drs. Teixeira d’Abreu, Affonso
Costa é Joaquim Fernandes.
—Dissolveu-se o Club Monarchico,
de que faziam parte alguns estudantes.
— Teve logar na quarta feira pas-
sada, a premiére do Grupo Recreativo
João de Deus, composto dos nossos
amigos Barreto Sachetti, Viegas Lucas,
Gomes Netto, Costa Teixeira, Tristão
de Noronha, Pinto Meira, Henriques da
Silva-e-Adriano-kucas === ==”
Subiram à scena as comedias em
1 acto, O actor e seus visinhos, Uma
lição, A perola dos caixeiros, e a scena
comica Effeitos do vinho novo..
O desempenho, foi admiravel.
Gomes Netto tambem recitou A
barca feiticeira, poesia original; e M.
Henriques da Silva, o menologo A es-
cola. Muito bem, todos.
Na sala que estava artisticamente
ornamentada, viam-se bastantes senho-
ras da elite conimbricense ostentando
elegantes toileis de gala.
No final houve baile, dançando se
animadamente até às 3 horas da ma-
nhã.
Agradecemos o convite que nos foi
dirigido.
—A camara cedeu ao sr. bispo con-
de cinco mil e duzentos metros qua-
drados de terreno na quinta de Santa
Cruz, para a construcção d’um bairro
operario com quinze casas.
Oleiros, 1.-—No estabelecimento hy-
drotherapico de Monchique, acha-se em
tratamento da sua saude, o estimado
escrivão de fazenda d’este concelho o
ex.mº gr, Rosa. Como interprete do sen-
tir unanime dos seus amigos daqui,
anceiamos-lhe rapidas melhoras, dese-
jando, do coração, abraçal-o e vel-o de
novo no exercicio do seu cargo.
— Em inspecção à recebedoria de
este concelho, esteve n’esta villa, O
ex.rº gr, Luiz d’Albuquerque.
Encontrou boa ordem, nem era
para esperar outra cousa do recto ca-
racter do respectivo recebedor.
— Os mercados, realisados n’esta
villa no 4.º domingo de cada mez, es-
tão sendo bastante concorridos. E
— Todo o mez tem chovido e trove-
jado. as
Sernache do Bom Jardim, 1. — No
dia 23 de maio findo, teve logar a tra-
dicional romaria do Gyrio que vae to-
dos os annos de Sernache a Dórnes.
O festeiro foi o sr. Marcelino Francisco
da Silva, da Paparia, que ofiereceu um
magnifico jantar aos convidados, pro-
ximo “do rio Zezere. Viam-se ali mui-
tas senhoras: e cavalheiros de Serna-
che, e algus cavalheiros da Certã; de-
pois do jantar, dançou-se animadamen- –
te, sendo promotor d’estes ingenuos
divertimentos o nosso bom amigo José
Diniz Mendes da Silva. :
— Na quinta feira d Assenção, a
flor da mocidade de Sernache, foi á
Quinta cumprir um voto a S. Bento,
advogado contra as bexigas; depois da
festividade, foi servido a todos os ro-
meiros um abundante e variado jantar,
preparado pela tia Vicencia Linda, Cor-
rendo tudo admiravelmente; pena foi
que o dia estivesse tão chuvoso, ainda
assim, houve os populares bailaricos
e descantes. Sao
— Sehiram para Lisboa onde ten-
cionam demorar-se alguns dias, os srs.
Antonio Coelho Guimarães, de Sernia-
che, e Bernardino Prancisco da Silva,
dos Escudeiros.
—Falleceu bontem o sr. Celestino
da Silva, despenseiro do Real Collegio
das Missões Ultramarinas.
€.
SECÇÃO ALEGRE
Um proprietario d’uma casa de ba- |
nhos collocou sobre a porta da entrada
uma tabolela, em que se liam as se-
guintes palavras: : e
«Banhos frios. Tambem temos quen-
tes para senhoras de 200 réis com len-
ÇÕES.» Ê
Observa-lhe alguem que o annun-
[cio está mal redigido, e o homem man-
da fazer a correcção nos seguintes ter-
mos:
ções.»
Dizem-lhe que a emenda foi peor-
que o soneto, e o nosso homemsinho,
sem saber já o que havia de fazer, aca-.
ba por uma vez com a questão. No dia
immediato, lê-se na taboleta:
«Banhos frios. com senhoras não
queremos negocios; nem quentes, nem
frios, por 200 réis.
«Banhos frios Tambem temos para
senhoras quentes de 200 réis com len- |

Ea
COIMBRA — ImpRENSA ACADEMIA,