A Comarca da Sertã nº381 04-03-1944
A COMARCA DA SERTÃ
ANO VIII N.º 38 04 Março 1944
FUNDADORES
— Dr. José Carlos Ehrhardt – Dr. Ângelo Henriques Vidigal – Antônio Barata e Silva – Dr. José Barata Corrêa e Silva – Eduardo Barata da Silva Corrêa
DIRECTOR, EDITOR E PROPRIETÁRIO
Eduardo Barata da Silva Correia
REDAÇÂO E ADMINISTRAÇÃO “RUA SERPA: PINTO – SERTÃ E PUBLICA-SE AOS SABADOS
| Composto e impresso nas Oficinas Gráficas da Ribeira de Pera, Limitada : Castanheira Pera Telefo e 16
hebdomadário regionalista independente, defensor dos Interesses da comarca da Sertã : concelhos de Sertã, Oleiros, Proença-a-Nova & Vila de Rei; e freguesias de Amêndoa e Cardigos (do concelho de Mação) —
Notas…
SILVANDO, exausto porque a lenha dava poucas calorias, o comboio entrou na gare. Soares apalavrara cocheiro, mais fôra a pé do escritório à estação: quatro quilômetros não eram nada para quem tinha as suas pernas rijas, apesar do cinquenta e picos que lhe cavalgavam aos ombros, e fazia as caminhadas que êle fazia apenas por higiene, como Soares afirmava; por economia, como êle não queria confessar…
Era doutro tempo, êste Soares; ajudante do escrivão Tribunal da Comarca, donde o juiz Azambuja o arrancara em 1904
—fazia agora justamente dezasseis anos! _para procurador da Ribeiras; não tinha filhos, nem outro vicio além do seu charuto de pataco, fumado diariamente em duas metades, a primeira depois do almoço, a segunda depois do jantar; em vez de filhos, tinha «papéis»: e tanto lhe queria
—aos «papelinhos», seus e da Ribeira—que só pensara em multiplicá-los, multiplicando lhes os rendimentos. Via correr à sua volta, dinheiro em abundância, ganho sem esforço durante o dia à porta do café, gasto à noite, mais facilmente ainda, no jogo e nas orgias com cocottes de Lisboa e coristas do «Chalet-Cine Lusitano»; mas, longe de se deixar contagiar pelos vícios alheios, Soares condenava francamente tal modo de viver. Se poupava no que era seu, mais ainda devia poupar no alheio que lhe estava confiado; e por isso fez a pé o caminho do escritório à estação. Ninguém certamente lhe levaria a mal, na Ribeira, se incluísse o preço da corrida nas despesas de administração; mas Soares considerava deselegante pagarem outros o que seria gasto apenas para comodidade própria….
Augusto Costa, («O Solar desabitado»).
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AO escrevermos a «nota» sóbre o Carnaval na Sertã, publicada no número anterior, dizendo ter passado despercebido, ainda aquêle não tinha passado e porque se dava como irrealizável qualquer baile no Grémio Sertaginense, que, depois, na 3.ª feira, se veio a efectuar por iniciativa dum grupo de sócios. Esse baile decorreu bastante animado, dançando se até às 4 horas.
Ângelo Mendes em piano e «acordeon», Eliseu, em «acordeon», Rodrigo em viola e Manuel António, em banjo fizeram se ouvir cem muito agrado; também algumas senhoras tocaram, ao piano, diversas musicas de dança.
Na sede da Filarmónica União Sertaginense também se bailou até tarde.
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O ENTRUDO, na Sertã, afinal, não passou inteiramente despercebido… para muitos, que agarraram uma opa de se lhe tirar o chapéu!
A actividade da Câmara Municipal da Sertã em 1943
(CONCLUSÃO)
OS Números que acabais de ouvir ler falam mais alto que os mais clamorosos discursos e deixam inteiramente a descoberto o círculo apertado em que se movimenta tôda a actuação da Câmara. Para completar o quadro só resta frizar que a Corporação Mercantil Portuguesa (Lusalite) forneceu já, no passado ano, quási tôda a tubagem e acessórios para a rêde de abastecimento de águas, ficando a dever-se, por falta de dinheiro no Cofre Municipal, no fim de Dezembro, a quantia de 124.646$99, e ao empreiteiro que tomou conta da construção da Casa dos Magistrados está a dever-se uma importância muito aproximada a 100 contos.
Em face de tais dificuldades de natureza financeira com que luta o Município, é muito provável que tenham de ser postas de banda, por agora, as obras de calcetamento, cujos trabalhos se encontram suspensos desde Outubro.
Eu bem sei que a execução de obras de vulto como a de águas e Casa dos Magistrados—(«ciclópicas» lhes chamam os que com elas não concordam)–é de natureza a perturbar o equilíbrio orçamental em época da crise como a actual.
Tôda a gente pode discordar da sua realização, mas à Câmara que as concebeu também não pode negar-se o direito de as levar a cabo quando já vão em mais de meio, tanto mais que num futuro não muito afastado ambas essas obras constituirão boas fontes de receita anual para o Município.
Fôram, como já disse, as consequências derivadas da guerra, com o inevitável agravamento de preços, que vieram dificultar a sua realização, por lhes faltar a contra partida do aumento de receitas camarárias, contràriamente ao que sucede com o Estado que aos lucros de guerra e 100 por cento do papel selado foi buscar razoáveis receitas para ocorrer ao aumento das suas despesas.
E ocasião de frizar que as condições de vida continuam a agravar- se dia a dia, e é natural que não tenham ainda atingido o seu ponto crucial. Tudo leva pois a admitir que êste ilustre Conselho, para levantar um pouco a situação financeira do Município, tinha de rever, ainda êste ano, as várias taxas municipais, por muito que tal medida seja do desagrado dos actuais gerentes municipais.
Talvez, agora, as pessoas que estão de boa fé e só essas nos interessam, já possam compreender as razões por que não veem satisfeitas de pronto tôdas as suas pretensões, sempre que é forçoso recorrer ao orçamento municipal.
Em verdade, de várias partes chegam à Câmara contínuas reclamações, e eu sou o primeiro a confessar que todos ou quási todos pedem coisas úteis e necessárias e de interêsse público.
Aqui, um caminho, ali, uma estrada, além,
(Continua na 4ª pagina)
Um oficial alemão de alta patente (á esquerda) contempla um artista que continua a sua profissão num campo de prisioneiros de guerra nos Estados Unidos.
… a lápis
Baco soube ser compincha, associando se à estúrdia!
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ESTAMOS escrevendo a 26.
Apesar de tódas as conjecturas em contrário, o tempo sofreu uma alteração para pior: há agora muito mais frio cortante e enregelador, provocado por nortadas glaciais. Regista-se a temperatura desde há bastantes dias como a mais baixa nos últimos anos.
A agricultura está sofrendo os efeitos do tempo: as hortaliças e os pastos para os animais vão-se queimando sob a acção violenta das geadas e a falta de chuvas está comprometendo sériamente as sementes e plantas lançadas á terra e as plantações e culturas futuras.
Uma vez por outra o Sol esconde-se por entre nuvens negras, que parecem presagiar chuva imediata e abundante, mas, depois, o vento impele-se para longe e desvanece-se a esperança duma modificação propicia e inteiramente favorável à lavoura.
Em todo o caso, como é preciso não desperdiçar energias e esta situação não se pode eternizar, o lavrador vai preparando as terras para as grandes sementeiras de milho e plantação de batata de regadio.
A estiagem tem sido tão prolongada que os cursos de água da região oferecem aspecto semelhante ao das épocas de adiantado estio.
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CHURCHILL —o Primeiro ministro britânico—discursou a semana passada, fazendo a análise serena e rigorosa dos principais acontecimentos originados pela guerra, salientando, sobretudo, o esforço da Nação Britânica como importantissimo no desenvolvimento das campanhas ou frentes em que directamente intervém, a ofensiva aérea intensa e bem coordenada entre ingleses e americanos como prologo indispensável e necessário à abertura da segunda frente, que Churchill anunciou realizar-se para a próxima Primavera e Verão, atacando os anglo americanos por terra, mar e ar com tôdas as fórças de que disposerem.
(Conclui na 4.ª pág.)
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A Comarca da Sertã
Maldição
Pela encosta da serra vai subindo
Um velhinho curvado tristemente
Sob o pêso dos anos e subindo
Arqueja já consado, docemente.
E pela serra acima vai carpindo
Sua dor, a tortura negra, ingente
Da vida lamentando, proferindo
Queixas que ninguém ouve, ninguém sente.
E eu, vendo ésse velhinho solitário,
Já no cume da serra, um calvário,
Onde éle quási chega tão cansado,
Eu, do vento maldigo a fúria insana,
Má, ate fustiga o velho e o abana,
Tal como a um farrapo abandonado.
EDUARDO GARRIDO
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Tribunal Judicial
JULGAMENTOS
Acusados pelo Ministério Público, responderam:
—Em 14: de Janeiro, Emilia de Jesus, de 28 anos, filha de Manuel Freire e de Adelaide de Jesus, e Carolina Martins, de 23 anos, criada de servir, filha de José Martins de Maria Amélia, ambas solteiras, residentes na freguesia do Castelo, pôr, no dia 12 de Julho do ano findo, no lugar dos Faleiros, terem agredido voluntária e corporalmente, com uma pedra e um guarda-chuva, Antônio Coelho, casado, jornaleiro, da freguesia do Castelo, causando-lhe ferimentos que produziram 8 dias de doença e impossibilidade de trabalho. Não se provou que a Carolina tivesse provocado qualquer ferimento ao queixoso e, por isso, foi absolvida. Provou-se que a Emília arremessou uma pedra contra êle, atingindo-o. Foi condenada na pena de 20 dias de prisão correccional e 5 dias de multa à razão de 2$00 por dia, prisão substituida por multa a 10$oo por dia, no valor total de 210$00, com o respectivo adicional, no minimo de imposto de justiça, com encargos legais, 100$oo de indemnização ao queixoso e 50$00 de emolumentos para 0 sr. advogado oficioso.
Em 13 de Janeiro, José Ribeiro ou José Serra, casado, agricultor, do lugar da Amoreira, freguesia de Proença-a-Nova, por, no dia 24 de Abril último, terem sido encontradas duas cabras, que se dizia pertencerem-lhe, na propriedade de Francisco Martins Crujeira), no lugar do Serrinho, limites da Crujeira, onde causaram prejuizos na vinha. Não se tendo provado a transgressão, pois não se provou que o arguido fôsse dono de qualquer cabeça de gado, foi absolvido.
_Em 18 de Janeiro, Firmino Martina, solteiro, proprietário, do Casal da Estrada, freguesia da Sertã, por, no dia 21 de Setembro doano findo, no Vale da Vinha, ter ofendido voluntária e corporalmente, com um pau, Manoel Fernandes da Silva, casado, proprietário, da Sertã, causando lhe ferimentos que produziram 8 dias de doença a impossibilidade do trabalho. Absolvido.
Em 18 de Janeiro, José Ribeiro, o Tremoceiro, casado, proprietário, de 6I anos, da Várzea Lameira, freguesia do Cabeçudo, por, no dia 3 de Abril do ano findo, pelas 23 horas, ter destruído, voluntariamente, à pedrada, parte do telhado onde vive Margarida de Jesus, viúva, sita no lugar da Arrifana, da mesma freguesia, causando-lhe um prejuizo no valor de 105$00 e de no dia 23 do mês seguinte, cêrca das 24 horas, e no referido lugar, haver ofendido voluntária corporalmente, José Martins, casado, proprietário, da Arrifana, cansando-lhe ferimentos que produziram 6 dias de doença, com impossibilidade de trabalho nos dois primeiros. E também acusado de haver arrombado e danificado, no dia imediato, de manhã, duas portas e uma janela da mencionada da casa e destruir, parcialmente, um forno, nas dependências daquela casa, do que resultou um prejuizo avaliado em 90$00. Ainda aquêle José Martins é acusado de, no dia 23 de Maio do ano findo, quando foi agredido pelo primeiro arguido, tê-lo igualmente agredido, voluntária e corporalmente, produzindo-lhe ferimentos que originaram 6 dias de doença, com impossibilidade de trabalho nos dois primeiros. O José Martins foi absolvido e o José Ribeiro condenado na pena de 15 dias de prisão correccional, não convertida em multa por causa da sucessão de crimes, e 3 dias multa à razão de 5$00 por dia com o respectivo adicional, no minimo de imposto de justiça com os encargos legais 90$00 de indemnização à queixosa e 50$00 para o sr. defensor oficioso.
MOVIMENTO DE DEZEMBRO
Distribuição: 2) Inventário de maiores por óbito de Carolina de Jesus, Sarnadas, Marmeleiro; 9)Ação sumária em que são autores José Martins Barata e mulher, da Sertã, e ré Maria Nazaré de Jesus, Chão da Forca, Sertã; Inventários orfanológicos por obitos de: João Mateus Claro e mulher, Maria Jacinta, Estorneiros, Estreito: 13) Francisco Dias, Picoteira do Monte; S. Pedro do Esteval; José Sequeira, Sarzedinha, Proença-a-Nova; Carolina Antunes, Crujos, Sernache; 16) António dos Santos, Troviscal; Manuel da Costa, Casal do Calvo, Cumiada: 20) Acção de divórcio requerida com o beneficio da assistência judiciária, em que é autora Maria Paula dos Santos, Oleiros, e réu Álvaro Lopes Leal, Madeirã.
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Todo o bom sertanense amigo da sua terra assina êste jornal.
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Êste número foi visado pela Comissão de Censura de Castelo Branco.
Arboricidas
Sarnadas, Álvaro – Oleiros
Há tempos apareceram inutilizades e arrancadas 8 oliveiras que tinham sido plantadas numas propriedades que aqui possuem a sr.ª D. Alice Berta Lourenço e sua tia sr.ª D. Beatriz Alves da Silva, residentes em Lisboa, assim como, do mesmo, apareceram inutilizadas e arrancadas muitas videiras e diversas árvores de fruto.
Tal acção verdadeiramente revoltante porque representa uma violência, denotando, também, a evidente falta de caracter e sentimentos de quem a praticou, é censurada aqui por tôda a gente e é atribuída a Francisco Alves da Silva, residente nesta localidade, instigado por sei irmão Antônio Alves, ferrador, residente em Lisboa, o qual, numa atitude absolutamente indecorosa, ainda faz jactância do seu acto repugnante.
Estas criaturas, cujos antecedentes muito deixam a desejar, aqui têm praticado últimamente outros desacatos, abusos e atê ataques a propriedades, acções que merecem a mais veemente repulsa, censura e o mais severo e exemplar castigo.
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“A Beira Baixa”
Por falecimento do sr. António Rodrigues Cardoso, encontra-se suspensa a publicação do nosso prezado colega «A Beira Baixa», da sede do distrito.
Aquêle semanário recomeça publicar-se, dentro em. breve, sob a direcção do sr. dr. Vergilio Godinho, advogado em Castelo Branco, que não é um inexperiente na matéria, pois que, além de prestar valiosa colaboração em diversos periódicos, deu provas do seu grande valor, como jornalista, quando, na Sertã, dirigiu o «Correio da Beira», a melhor fôlha que existi até hoje nesta região, isto sem desprimor para ninguém. Além disso, Vergílio Godinho é um escritor primoroso e altamente apreciado; o seu romance «Calcanhar do Mundo» obteve o prémio da Academia e alguém, com tôda a autoridade, afirmou ser um dos melhores publicados em Portugal nos último ano.
Por tôdas estas razões, «A Beira Baixa» passa a ser um jornal moderno, debatendo os problemas do momento com a concisão e clareza que se impõem e no belo estilo literário peculiar a Vergílio Godinho.
Sabemos que lhe vai ser dada uma nova orientação, mais útil e conveniente sob todos 0s aspectos, aproximando-se, tanto quanto possível, das terras e povos da província, integrando-se, em absoluto, nas aspirações da sua gente, morigerada, activa e pondonorosa, que tem no mais alto aprêço as conquistas do Progresso e o bem-estar da Pátria.
Auscultá-la, compreendé-la e lutar pelos seus direitos e ideais competente, acima de tudo, àquêles sôbre quem recaia pesada missão de dirigir e orientar à sua Imprensa regionalista.
«A Beira Baisa» e o seu futuro director podem contar, sempre, com a nossa lialdade e valimento, bem fraco, por sinal, exactamente como nós, disso estamos certos, poderemos contar com o Seu valioso auxilio, lutando, de mãos dadas, pelo engrandecimento regional.
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NECROLOGIA
FALECERAM :
No Pórto, em 22 de Fevereiro, a sr.ª D. Maria Guilhermina Erhardt Vieira, de 87 anos de idade, viúva, irmã do nosso amigo sr. dr. José Carlos Erhardt desta vila e tia das sr.ª D. Arminda, D. Emilia Erhardt e do sr.º Guilherme Erhardt.
Em Lisboa, no Hospital de S. José em 19 de Fevereiro, onde dias antes dera entrada, ido da sua terra natal, afim de procurar alivio para os seus sofrimentos, em consequência de gases tóxicos contraidos na Grande Guerra, o sr.º José Martins, 2º sargento inválido, de 49 anos de idade, do Vale da Mua, freguesia do Peral e residente na Ladeira do Ródão, casado com a sr.ª D. Teresa Pires Fernandes Martins, pai do sr. Manuel Martins Pires, aluno finalista do Instituto dos Pupilos do Exercito e da menina Maria Martins Pires, aluna da Escola Rodrigues Sampaio.
Era um amigo disvelado de sua família que tanto estremecia, deixando profundas saúdades a todos quantos com êle privaram. Amigo do seu amigo, tanto na procela como da bonança, muitos dêles se deslocaram à capital para o acampanhar à sua última morada -no Talhão dos Combatentes no cemitério do Alto de João… Paz à sua alma.— E.)
_As famílias enlutadas apresentamos as nossas sentidas condolências.
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Encontrado morto
Reportando-nos à notícia publicada no «Diário de Noticias» de 30 de Janeiro e, muito mais, as insistentes afirmações que ouvimos de todos os lados, que, à força de se repetirem, parecia não oferecerem dúvidas, dissemos, no n.º S7&, ter sido levado para o Necrotério, em Lisboa. um cadáver desconhecido, – descobrindo-se, depois, pelas impressões digitais, tratar-se de José Aparício, de Vila de Rei.
Supôs-se ser a pessoa do mesmo nome que foi chefe da Secretaria da Câmara de Vila de Rei, mas, afinal, não era. Ainda bem. E que há mais Marias na terra…
Quem nos esclarece do caso com absoluta verdade, é um nosso amigo de Lisboa, em carta recebida no dia 18 do mês findo:
«Acabo de ler em «A Comarca» a noticia do fim trágico de um José Aparício, de Vila de Rei. Felizmente não é o mesmo a que a noticia tão amplamente se refere. Sem demora, ao ler o laconismo do facto no «Diário de Noticias de 30 de Janeiro, fui—por espírito de amizade ao próprio e aos seus – ao Necrotério para, talvez, levar-lhe o último tributo dessa amizade bem desinteressada. Venci dificuldades; voltei mais tarde e consegui autorização por estrito para ver à cadáver.
Espectáculo bem triste e único na minha vida: andar por meio de cadáveres!… Felizmente, nenhum em vida era meu conhecido e menos ainda, se é possível, o de José Aparício. Tal facto participei-o muito gostosamente, por telegrama, a sua Exma Mãe.
José Aparício -êsse moço que, mesmo antes dos 20 anos, desempenhou funções elevadas na sua terra e tantas vezes foi de encontro às grandes fatalidades- vive!…»
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BANDO PRECATÓRIO a favor do Hospital
Por iniciativa de Pedro de Oliveira, posta em execução por D. Maria do Céu Branco Vaz, houve, na 3ª feira de Carnaval, um bando precatórios favor do nosso Hospital.
Algumas meninas da possa primeira sociedade desempenharem-se do louvável papel que lhes foi confiado: enquanto umas seguravam a colcha de seda, seguindo à frente um grupo musical que executava bonitas marchas, outras dirigiam-se, solicitando òbulos, aos transeuntes e às pessoas que viam pelas janelas. Percorreram-se tôdas as ruas da vila perante os olhares de aprovação tôda a gente.
Recolheram-se donativos no valor total de 955$05 e dois vegéssimos da lotaria daquela semana com o n.º 5.663, êstes entregues por João Januário Leitão, latoeiro desta vila.
O Carnaval teve, na Sertã, esta nota altamente simpatica de se conjugarem algumas vontades em prol dos que sofrem.
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Doentes
Já bastantes dias que se encontra no leito, por virtude de um forte ataque de «gripe», o nosso amigo Rev. P.º José Baptista, cujas melhoras muito desejamos.
– Seguiu para Lisboa afim de ser operado a uma hérnia, o nosso amigo Joaquim Ferreira Monteiro, informador fiscal neste concelho. Que obtenha o melhor resultado na operação é o que sinceramente desejamos.
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Novas plantações de vinha
Vão ser permitidas novas plantações de vinha e entre as regiões beneficiadas está incluída parte das Beiras, «com possibilidade de refazer os povoamentos perdidos e de orientar o complexo das explorações agrícolas à luz do seu melhor interêsse».
São permitidas novas plantações em ramadas, bardos ou enforcados, nas bordaduras dos campos: das regiões em que têm sido cultivados produtores directos: daquelas em que é tradicional a cultura da vinha, pela forma acima indicada; na bordadura de outras terras intensamente explaradas com culturas herbáceas ou pomareiras; nos terrenos especialmente apropriados para a produção de vinhos de qualidade; nos terrenos situados em zonas aptas para a cultura da vinha pelas suas condições agro-climáticas e em que se verifique uma ou outra das circunstâncias seguintes: terrenos assoreados ou em que a vinha seja conveniente como eiemento fixador das terras sujeitas a crosão; nos terrenos em que outras culturas não tenham possibilidades económicas de exploração devido a inundações frequentes.
A Comarca da Sertã
Notas…
…a lápis
(Conclusão da 1.ª pág.)
Citou, ainda, as relações entre os Estados Unidos, Inglaterra e a Rússia, como de absoluto entendimento, afirmando que «do terreno conquistado em Teerão nada se perdera» e quanto à Polônia tanto a Inglaterra como a Rússia aspiraram o vê-la independente e poderosa, prometendo-lhe explicitamente compensações territoriais à custa da Alemanha.
Temos a impressão de que a Inglaterra, quanto a este ponto, não mede devidamente os possíveis obstaculos futuros entre alemães e polacos como consequência duma anexação forçada de território, tratando, simplesmente, por agora, de remover embaraços entre os Nações Unidas.
O orador aludiu ao importante auxilio, para os Aliados, das aguerridas forças do marechal Tito da Jugoslávia, frizando ser muito possível que a guerra não termine êste ano, pois que a Alemanha dispõe ainda duma força militar assás valiosa, servida por uma coesão moral que não pode ser relegada para segundo plano. Nesta ordem de ideias, advertiu a Inglaterra e os seus aliados que um dos maiores perigos está num optimismo prematuro injustificado que os leve a abrandar o seu erforço, comprometendo, assim no momento decisivo, o resultado final da luta.
Churchill, sem palavras de dito contra os inimigos da sua pátria, apresenta os factos com admirável visão realista.
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Um assunto que deve merecer a maior atenção do Município é a construção imediata de urinóis e retretes dentro da vila, evitando-se que vergonha de muitos satisfazerem das suas necessidades fisiológicas na própria via publica, como, entre muitas outras, sucede na rua do Soalheiro, uma das de maior movimento por dar acesso aos Paços do Concelho.
Há gente sem educação e sem escrúpulos, para quem qualquer local serve, mas não se pode por termo a tais abusos sem se criarem condições de os evitar.
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O NOSSO amigo Reinaldo Custa veio ai de fugida pelo Carnaval. Ao regressar a Lisboa, teve de esperar cinco longas horas, de noite no Entroncamento, pelo comboio; extenuado, adormeceu num dos bancos da estação e quando acordou estava enregelado, tendo de ser conduzido, a braços, para o comboio e chegando à capaital tomou um taxi para casa. Foi ainda preciso que o auxiliassem a subir as escadas porque o frio intenso causara lhe a inacção absoluta das pernas.
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QUANDO do peditório a favor do hospital da Sertã, na 3.ª feira de Entrudo, houve, infelizmente, mais duma nota discordante. Já nos não queremos referir aquêle grande comerciante, que, de tão pequeno e miseravel, lançou no cestinho de uma das meninas uns reles vinténs, mas aquêles outros que se permitiram insultar quem a eles se dirigiu, confiando na obtenção de donativos rozoáveis, atendendo á situação financeira dos bonifrates. Os tostões dados de tão má vontade e com arreganho podiam ser atirados à cara das azémolas, mas as meninas, que os receberam, mostrondo-se educadas e indiferentes à maldade, preferiram aceita-los porque sabiam que o dinheiro não lhes escaldaria as mãos inocentes… era para o hospital!
Em contraste com tais atitudes, que enojam e repugnam, está a pobre chefe de família que se desfez de dois vegéssimos da lotaria, que um acaso feliz podia ter premindo com a sorte grande.
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GRÉMIO DA LAVOURA
Na sua reunião de 26 de Fevereiro, o Conselho Geral aprovou, por unanimidade, o relatório e contas referentes ao ano de 1943.
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Instrução
Fôram providos nas escolas que se passam a indicar as seguintes professoras: D, Maria Irene de Ascenção, na de lsna, Oleiros; D. Luísa Pinto Soares, na de Madeirã, Oleiros; D. Maria Cândida Saraiva, na de Monteiro, Oleiros; D. Maria Luísa da Silva, na de Corgas, Proença-a-Nova; 1), Maria Rosa da Silva, na de Cunqueiros, Proença-a-Nova.
A actividade da Câmara Municipal
da Sertã em 1943
(CONCLUSÃO da 1.ª PÁGINA)
um pontão que ameaça ruína; agora, uma fonte, logo, um edifício, que carecem de grandes reparações, a seguir, o fornecimento de mobiliário ou utensilagem própria para vários serviços. Hoje, é o burguês insofrido que não pode conceber que haja obras camarárias que lhe dificultem durante dias continuados o acesso ao lar à propriedade privada: amanhã é o proprietário inconsolável que viu as suas serventias perturbadas pela tormenta e quere à viva fôrça que se vá sem demora abrir o caminho para chegar sua fazenda; no outro dia éa povoação, que reclama um chafariz, uma escola um posto ou o mobiliário para os fazer funcionar, é a Junta de Freguesia a queixar-se de que se lhe não concede tudo quanto requisita e precisa.
Enfim, um verdadeiro rosário de pretensões que seria interessante atender se para o seu deferimento não fôsse necessário ir remexer todos os recantos exaustos do Cofre Municipal.
Agora, porém, que todos conhecem a realidade em tôda a sua nudez, pede-se aos reclamantes que, enquando durar o actual estado de cousas, ao formularem as suas requisições indiquem ao mesmo tempo quais as verbas que entendam deverem ser reduzidas para se poder satisfazer as suas legítimas pretensões.
A Câmara tem a consciência de ter administrado os dinheiros municipais com economia. Há quem a censure por conceder ao seu funcionalismo o Abôno de Família e agora o aumento de 20 por cento permitido pelo Decreto n.º 33.272, de 24 de Novembro último.
Na verdade, as condições financeiras do Município não permitem liberalidades mas quem há ai que não sinta a necessidade de atenuar, um pouco, as dificeis condições de vida que afectam todo o médio e baixo funcionalismo português, e por maioria da razão 0 funcionalismo dos pequenos Municípios?
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Os meus múltiplos e incessantes afazeres oficiais dos últimos dias não me permitem fazer um relatório mais cuidado, mas o que acabo de ler, creio, é bastante para levar ao. espírito dêste ilustre Conselho 2 convicçãoo de que a Câmara tem agido, na conjuntura difícil que 0 Mundo atravessa, o melhor que pode, dentro das possibilidades orçamentais.
Se assim também o entenderdes, peço a Vossa aprovação para o Relatório que ponho em discussão.
O Presidente da Câmara,
CARLOS MARTINS
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Através da Comarca
—
MADEIRÃ, 15-11;
OS LOBOS
Por diversas vezes têm aparecido alguns lobos os quais têm feito caçada, pois os pastores desta época já não esperavam por tais visitas.
Algumas das feras mais nutridas já passearam pelas ruas desta localidade levando alguns cães.
DISTRIBUIÇÃO de MILHO
COLONIAL
As quinze horas de Domingo, chegou ao alto do Val Terreiro, uma camionete com mais de três mil quilos de milho colonial, o qual foi distribuído pelas pessoas mais necessitadas desta freguesia.
Procedeu à distribuição o sr. Augusto Fernandes, membro da Comissão Reguladora dêste concelho =C.
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OLEIROS, 17-11:
De há um ano para cá nesta vila tem havido grande movimento de caiadores. Todas as casas aparecem brancas de um para outro dia.
Lembra-nos as vésperas de uma grande festa, em que se pinta, lava, escova tudo, para bem parecer.
Mas, Oleiros não espera festa de grande vulto e no entanto continua a alindar-se.
Porquê?
As autoridades a quem presentemente estão entregues os seus designios, entenderam muito bem, que pura a felicidade do seu povo ser completa é indispensável que a boa higiene impere, que a boa aparência vingue no espírito de todos, a necessidade do asseio, da limpesa e da boa harmonia.
Oleiros está rejuvenescendo, e a escura vila de ontem parece-nos hoje um povoado jovem, em formação, em pleno desenvolvimento.
¿Mas, onde começa a vila?
¿Onde é a ironteira que a limita, do chamado «termos»?
Há pequeninos nada que devem ser separadas?
A nossa vila começa no hospital, deve começar na capela de Santa Margarida, começara na antiga fonte do «Chafariz» e acaba no Carril.
¿Dentro dêstes limites não deve haver a mesma obrigação de calar as casas, 0s muros e manter o asseio exigido?
Se assim não fôr, a obra ficará incompleta.
Quando nos aproximamos de uma aldela, vila ou cidade, a primeira impressão que dela temos, acompanha-nos até ao fim.
Assim, podemos afirmar que o bom ou mau conceito nasce com as primeiras impressões e permanecerá.
¿Que importa a vila limpa nas ruas, se logo à entrada nos mostra um montão de imundice?
Para o visitante a entrada é desoladora.
Quando pela primeira vez, alguém nos visita, que ideia iará da nossa terra, ao deparar-se com a desordem, falta de limpeza, ascorosa aparência que tudo mostra, propriamente, as casas e os muros que orlam a estrada até à Deveza?
E carvão, carroças, estrumes, lenhas, enfim, um nunca acabar de despejos.
Se nas ruas da vila não é permitida a permanência daquêles «aparatos» não o deve ser também na estrada, principal entrada da terra.
Eram constrangedoras, as considerações que um viajante, há¡ dias, fez à — entrada da vila de Oleiros.
Evitemo-las, pois.
E preciso pôr termo a estas coisas, que nos colocam mal.
Efemérides
MARÇO
1871—22: Nasce na Sertã o capitão-tenente sr. Albano Augusto de Portugal Durão, que nas colónias prestou relevantes serviços ao País.
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Melhoramentos
Rurais
No plano dos Melhoramentos Rurais para 1944 estão incluídos. os seguintes a realizar na nossa região:
Concelho de Oleiros – Abastecimento de água a Pisória (2.ª fase), Adgiraldo (fase única) e à povoação do Roqueiro (2.ª fase-conclusão).
Concelho de Proença-a-Nova
—Construção de um C. V. de ligação da E. N. 141 com a povoação de Atalaias (2.ª fase – pavimentação); abastecimento de água às povoações de Pergulho Cimeiro, Pergulho do Meio e Murteira (fase Única); Serimógão (2.ª fase); Póvoa (1.ªfases); Estevez (fase Única); Pedra do Altar (fase Única) construção de um C. V. de Maxiais a Sobral Fernando (2.ª fase terraplanagens).
Concelho de Sertã—Abastecimento de água às povoações de Neves e Vale Godinho (3.ª fase-lavadouro).
Concelho de Vila de Rei – Abastecimento de Água à povoação de Sesmarias (2.ª fase).
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A GRIPE
A «gripe» tomou, na Sertã, como noutras partes, evidentemente, em consequência do frio intensíssimo, caráter epidêmico, havendo muitas dezenas de pessoas de cama e, nalgumas casas, famílias inteiras.
Todos os cuidados são o poucos para fugir a ela e um dos principais, de-certo, é evitar qualquer resfriamento.
Há quem encontre na rija preventivo radical para combater um mal que vem tomando proporções terríveis. E talvez não deixe de ter as suas razões.
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Alteração do Tempo
No Domingo principiou, finalmente, a chover, uma chuva miúda, mas constante, que grandes benefícios vem prestar à agricultura.
Na 2.ª feira nevou bastante e por mais duma vez caiu granizo. O Picoto Rainho e a serra do Figueiredo, cobertos dum manto alvíssimo de neve, apresentavam um lindo aspecto.
A temperatura mantém-se muito baixa.
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Oleiros, parece estar noiva. Não maculêmos o seu trajo branco, e Deus queira que a alvura das suas casas, seja o clarão de uma aurora que desponta, de progresso, mensageira de um futuro próspero, de paz, de engrandecimento.—C.
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Móveis
Mesa elástica, secretária, grande espelho biseauté, estantes para livros e fogão de cozinha, em bom estado, vendem-se.
Nesta Redacção se informa.
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Lede e propagai “A Comarca da Sertã”.