Gazeta das Províncias nº49 10-05-1900
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CERTH=- Quinta-feira 10 de Maio de 1900
SEMANARIO INDEPENDENTE
Cm
ASSIGNATURA.
CERTA, mez, 400 rs. FÓRA DA CERTÃ, trimestre, 390 13. AFRICA, semestre, 15000 rs. BRAZIL, semestre, 28500 18. Numero avulso, 30 Es,
Toda a correspondencia dirigida à Administração, R. Sertorio, 17. Os originaes recebidos não se devolvem
Ernesto Marinha — Director
e
Tea
O PAIZ EO
GOVERNO
a silnação do paiz é verdadeiramen-
te lamentavel e melindrosa, e a conser-
vação nos conselhos da Corór, do actual
governo, se lal nome pode ter, é absolu-
lamente inloleravel.
Por toda’a parte lavra um desconten-
tamento geral produzido pelos ultimos
actos do actual ministerio, que irrefl:-
clidamente, sem consciencia, e sem eri-
terio lem accarretado ao paz um sem
numero de perigos, que talvez em epo
cha não longiqua, nos faça arrepender
da indiferença com que a tado assisli-
mos, e que tanto em concorrido para o
estado desgraçado da nação.
4
Na politica internacional, nada fez o
gabinete progressista em quasi quatro
annos de governo, que fosse util ao
paiz; os tractados do commercio com as
oulras nações, de que Lanto carecemos
para o nosso desenvolvimento economi-
co, não preoceupam o govemo, e ape-
nas se [alla n’elles para deitar poeira nos
olhos do paiz que os reclama como d’ab-
solula – necessidede. O que o governo
têm feito, é acceitar com a mais vergo-
nhosa cobardia, e com um cynismo re-
voltante, as imposições da Inglaterra,
deshonrando-se, e sujeitando q paiz ao
despreso dos paizes cultos e à censura
iguominiosa dos que nos querem mal
e cubiçam os nossos domínios colonias,
À passagem das tropas brilannicas pela
Beira, com quebra dos mais elementares
principios da neutralidade, allestam-n’o
bem allo. As consequencias, porem, ha
de o paiz soffrel-as,
+
Na politica interna não tem sido mais
util a gerencia do actual ministerio, e
todavia o paiz linha o direito d’esperar
muito do actual governo em vista das
aflirmações, e da altitude tomada pelo
seu partido, quando opposição
Infelizmente, porem, o unico interes-
se do governo, resume-se em—tirar as
ultimas migalhas ao povo, e dar empre-
gos e benesses aos seus partidarios—.
Tem sido isso a sua constante preoccu-
pação.
As reformas do Ministerio do guerra,
consiluem uma vergonha: nacional; o:
ministro faz reformas, não. para bem
do paiz, nem tendo em vista as negessi-
aê.
daies da deleza nacional, mas os seus.
próprios interesses e dos seus collegas
de gabinele a quem possam approveitar,
e as conventencias dos seus partidarios.
No Ministerio da Justiça as torpezas
chegaram ao seu auge. Nada se fez nem
se faz de que resulte proveito para O
paiz; 0 ministro preoccupa-se com O
seu partido;e esquece as conveniencias
los povos, a que só devia altender.Quer
lazer partido seu, e para isso salta por
cima de tudo quanto é legal e quanto é
Justo. Faz reformas sem criterio, e lon
ge de salisfazer aos inleresses nacionaes,
que lanto reclamam «este ministerio, |
esbanja os reditos do Lhesoaro em
veito «Pafilhadagem.
Todas as reformas deste ministerio
têm unico fim:—eriar nichos para. “os
afilhados —, e pare isso salla-se por ci-
ma de Ludo, incluzive por cima dos di.
reitos adquiridos mais sagrados.
tou se tudo, e para cumulo impõe-se ao
parlamento a lei do limite da edade na
magistratara julicial.
salvas raras excepções, independente,
tem sido atacada na sua indopendencia
e faz se todos os esforços paraa perver-
ler, tornando-a uma inslituição partida-
pro-
“Pia;—=uma desgraça para o paiz.
Mas que importa isso, seo governo
consegue o seu fim?
No Ministerio da Fazenda só se trala
Paugmentar e crear impostos, para. fa
zer face aos esbanjamentos gavernamen-
taes, As ultimas propostas de fazenda
lêm levantado por todoo paiz justas ela-
mores de protesto e d’indiynação. Varios
protestos e representações tém sido le-
vados ao parlamento; em Lisboa é Por
to têm-se celebrado comicios republica-
nos, que afinal representam o sentir – ge-
ral de todo o povo portuguoz, protestan
do contra as medidas apresentadas -pelo
st. ministro da Fazenda: por toda apar»
tê a imprensa independente é legitima
representante da vontade nacional tem
levantado o seu grito de revolta; pois não
obstante tuo isto. o sr. Espergueira,
contrariando a sua consciencia, mani-
[estada claramente no seu faltado livro.
que lhe deu ingresso nos conselhos da
Corda, continua com o seu sorrisa es-
pecial, cynico, a despresar a vontade
nacional, é no intento de levar por de-
ante, o que de ha muito devia ter aban
donado.
Leis do sello, contribuição de registo
contribuição industrial, predial; renda de
casas e sumpluaria. ele, ludo são diplo
mas, cheios de artifícios, Vincongruen-
cias,de verdadeiros altentados 4 bolsa
dos contribuintes, que só por si demons-
tam a incompetencia. dim ministro,
muto especialmente nas condieções a-
clunes do povo partuguez.
O paiz nãa pole, nem deve
mais.
Não pole, porque está sobrecarrega-
do d’impostos, quer directos, quer indi-
rectos, e vexado com o gravame desses
impostos. ;
pagar
Esgo-
Esta instituição |
“graças mimisteriaes, que
lodo isto demonstra à fraqueza e a
“deidão que lavra no
ativo, a Gquie
===>
PUBLICAÇÕES a
No corpo do jornal, cada linha 80 rs. Anuncios, 40 rs. à linha.Repelição, 20 rs. a linha.
têm o desconto de 25 0/4. Tista, folha é impressa na Typ. da Gazeta
Permanentes, preço convencignal;=>=. ishianto
das Provincias, Certã,
Angusio Rossi — Editor
v Não deve, porque, desde que o sa-
erihcio que se lhe exige, é, não para sa-
lisfazer ás necessidades urgentes da sua
pobre patria, mas sim para sustentar
este exercito de mandrid-s, que o go-
verno quer manter e benificiar, para fa-
ser partide, é um crime lesa-familia.
Com que direto se exige dos que
com um trabalho assiduo e honrado, au-
lerem quaesquer proventos, que muitas
Vezes, e us mais delas, mal chegam
para Sustontar os encargos legilimos que
têm; contribaam com grande sacrificio
pata os esbanjamentos, que à toilos re-
pugna, decretados pela gentalha do po-
der?
Gom que direito se vae extorquir,que
oulro nome não Lem, ao pobre lralbalha-
dor, ao remediado proprietario, o quê
elle não tem coragem de approveilar em
proveito seu; para o guardar para os f-
lhos, e prover à sastentação e educação
Peles, para o dar aos benificiados das
á doida gas-
tam O que aos outros Cusiou lanlo tra-
balho e lrsto suor?
Tal direito não existe. () que existe é
uma criminosa ind fferença pelo estado
do povo, indiff vença que parte dos go-
vernos que só v veem para lhe sugar
até ao ultimo ceitil. o
“E tempo pois. O paiz não pode e não
deve pagar mais
O governo quer, porem, que o paiz
paRmo mais; não se consinta a extorsão.
O remedio está mamão do contribui –
Le; cumpra este o sem dever que é a cons-
ciencia que llvo impõe.
Nos cutros Ministerios, reino, obras
públicas emarinha, não tem sido mais
ulil a gerencia progressista, Us grandes
escandalos do Ministerio obras publi-
cas, que o publico tão bem conhece,-0s
“grandes erros do Ministerio do reino,nos
quaes entra a persistencia da conserva-
ção do ministerio, ministerio sem chefe,
sem cabeça, e por isso sem bemngenei-
dade, que tanto se reclama, a inulili-
dade das medidas até hoje promalgadas
pelo Ministerio da marimha, porque as
que lem calam acance, abortam logo,
po-
aclual corpo gover-
muntos perigos pode acear-
reter para o Tuluro da nação porlugueza.
O estado do páiz demanda um gover-
no enereico, de vistas largas com for-
gas e capacidade para. governar; Lodos
estes pequesitos falam no actual gabi-
notes ,
+
Teriminamos pois, como começamos:
À situação do paiz, é verdadeiramen-
te lamentavel e melindosa, € à conserva-
ção dos conselhos da Corda. do actual
governo, se lal nome pode ter, é absolu-
tamento intoleravel,
=
À descoberta do Brazil
Completaram-se no dia 5 quatro se-
culos que Pedro Alvares Cabral, aportou
ás terras de Santa Cruz indo buscar nas
longinqnas paragens de Alem-Atlantico
mais uma perola formosa a engartar ag
dia lema liciolante de D. Manuel.
Ha quatrocentos annos que o Brazil
foi descoberto,
É elle que foi durante muitos annos
o nosso filho querido, o braço lorte que
dava ás empobrecidas oeias da snú mãe-
patria o sangue viviilo e quente, das suas
energias de collosso, da sua virilidade de
alhleta, é ainda hoje o nosso melhor
amigo, O nosso mais estremecido irmão,
o continuador da nossa historia, 0 per-
peluador das nossas tradicções, das nos-
sas lradieções lão gloriosas, que consti-
tem a epopeia mais rutila dos. fastos
universaes.
Dacia gloriosa, dacta cheia de re-
cordações que são ainda a melhor ale-
gria para 0 presente, a maior esperança
para o futuro, foi o dia cinco a comme-
moração d’um facto para nós tão queri-
do como para os nossos irmãos de alem-
mar, os brazileiros.
E elles que n’aqnelle dia saudaram o
alvorecer da sua vida, cheia de Inz e de
progresso, elles que fallam como nós a
mesma lingua, que teem as mesmas as-
pirações, que alimentam os mesmos ide-
tes, que vivem como nós nas: mesmas
crenças e amores, devem sentir-se ufa-
nos e vaidosos ao ver quanto o seu paiz
lem progredido, como elle se Lem adian-
lado, ao comtemplar a transformação da
colonia em potencia, do [raco em robus-
o
E nesse levantamento, e n’esse cami-
nhar liumphante de progresso que o
Brazil trilha, tem sido O braço porta-
guez o melhor obreiro, o maior e mais
desinteressado paladino,
Orgulbamo-nos tambem com essa da-
cla cheia de brilho, associamo-nos lam-
bem do coração, a alma repleta de alé-
gria ás festas que esse paiz nesse dia
festejou, e daqui enviamos aos nossos
irmãos das carinhosas plagas brazileíras
o nosso hurrah enlhusiaslico, 0 nosso
abraço sincero e cordeal.
A commemoração do dia 5 de maio,
foi mais um elo a estreitar relações de
irmãos quer dos,mais uma: ad ju a pren-
der os corações de dois povos, que lan-
lo se estimam e querem, e que o venda-
val do infortúnio jamais o despedaça-
Ratio:
Harrah! pelo Brazil!
Santos Monteironteiro@@@ 1 @@@
“BOLETIM
AGRICOLA
—(4)—
A sementeira do restolho
Temos presenceado em muitas regiões
cerealiferas que os lavradores vtilisam
os restolhos do centeio e do trigo, seme-
ando. lhes, depois de esifados aqueles,
feijão frade, ou 08 deixam devolutos, O
que constitae um prejuizo.
Aqui é bem diferente a forma como
geralmente aproveitamos esses terrenos,
No tempo preeiso em que a — semen-
terra (o miho se deveria fazer, sea ler=
ra não estivesse ocetipada com o renovo
dinverno, semeamos, nos regos das
margens, milho verdeal, on ontro. qual-
quer, conforme o terreno, que cobrimos
às cavadelias.
No principio da vegelação O pailho
mostra-sé amarellecido e não se desen-
volve bem, por lhe tolher a aegão Go ar
e da luz o centeio ou O trigo que O às-
soberba.
Depois d’estes ceifados arraza-so O
milho que se encontra nos tegos 6 Sa-
cha-se bem sachado, aconchegando-se-
lhe a terra para junto dente.
E então surprebendente o desenvol-
vimento que torsa em póueos dias, tor-
nando-se um tailbeital tão bom, como
se nada lhe tolhesse a principio a sua
natural vegetação.
As masgens do centeio on lrgo em
terras que se destinem a esta esitura,
não devem ser muito largas, para que
depois o milho não fique demasiada-
mente raro.
E uma pratica simples e de pequeno
“Oisperdiv; que rrãos podem experimen-
tar, na certeza de que os resutiados se-
rão maravilhosos, principalmente nas
terras fundas.
CHRONICA LOCAL |
F
Retirou já para Figueiró dos Vinhos, o mos-
so presado amigo sr. dr. Atcacio de Sonde
Marinha, com sua ex.M2 esposa € inleressante
filhinha.
“*
* 8
De vesita a sua ex.P2 familia, está em Fi-
gueiró dos Vinhos, a ex.2* gr.2 Ernestina de
Sande Marinha. ,
Er
|
Ed
x *
Regressou de Coimbra onde foi acompanhar
sua sympathica filhaça sr* D. Zulmira que fi-
cou no convento das Ursulisas o sr. Antonio
Figueiredo Torres Carneiro,
* *
*
Sahiu para Lisboa, o nosso amigo sr, Luiz
da Silva Dias.
4% a
Estiveram entre nós os srs. dr. Francisco
Henriques David e José Januario da Conceição
e Silva, de Pedrogam Pequeno.
»
» &
Regresson a esta localidade, 0 ar. dr, Anto-
Bio Lemos da Rocha, digno delegado do pro-
curador regiu n’esta comurca.
E]
“se
De passagem, para as Caldas da Rainha, 00-
de é pajocho, esteve n’esta villa, o sr. padre
Magoel Frederico d’Almeida.
»
» e
Esteve no domingo n’esta villa 0 nosso ami-
go, sr. Izidro d’Oliveira Braz e no sabbado o
sr. padre José Adrimno d’Oliveira Braz, do
Peso.
sê»
Sabiu para a Figueira da Foz, o sr. José
Ciluentes d’Oricto Aguilar, ex-regente da phi-
| larmonica de Perogam Grande.
VARIAS NOTICIAS
Rivagi ca
valha, a philarmoniea certaginense, depois de
assistir na egrejn matriz, à oração do mez de
Maria.
Todo o reportorio foi executado com mestria
e aleuas trechos de musica são d’um bento
efeito. a
O. ouvintes caram muito bem impressio-
mais aloumas horas de recreio, como aquetias,
A que poncos assistiram devido ao mau tempo
que se apresentou.
maq ças tis TT 7 pn Es
Panegyricos
No domingo à oração do mez de Maria, foi
proferido ma egreja matriz, pelo nosso amigo
sr. padre Domingos Lopes da Cruz, um pane-
| gyrico em lonvor da Virgem; mo qual o nosso
amigo mostrou mais uma vez o seu valor como
bom orador sagrado.
Bomisgo proximo. tem logar nova pralica
pela mesma occasião.
No demingo, como neticiamos, tocon na Car-|
“madia 8 aguardam atidamente à mmpetição de
q
GAZETA DAS PROVINCIAS—CERTÃ 17 DE MAIO DE 1900
FIGUEIRO DDS VINHOS
De origem por emquanto, desconhe-
cida, chegou no domingo ultimo a esta
“villa, onde mordeu, alem de varios ani-
maes da sua especie, dois individuos que
seguiram para as ceilas d’Hespanha e
um filhinho do sr. Anthero Martins Si-
mões d’Abreu, d’esta villa, um cão by-
drophobo que foi morto à paulada por.
aquelle cavalheiro, o qual com o mesmo
seu filhinho de nome, Ricardo, seguiu,
n’esse mesmo dia para o Instituto Bacte-
riologico de Lisboa, levando em sua
companhia a cabeça do cão referido pa-
ra ali ser examinada.
Como só no dia seguinte se soubesse
que tinham tambem sido mordidos aquel-
les ceifeiros e estes livessem já sahido
com destino a Payalvo, telegraphou o
administrador d’este concelho ao seu
collega de Thomar para os deter e fazer
tratar no alludido Tastituto.
Tambem osr. Administrador deste
concelho ordenou que sejam abatidos os
cães mordidos o que com regularidade
se anda cumprindo
agem
Bonita edade
No logar da Pederneira, desta fre-
guesia vive um homem com 118 annos|
d’edade
E” de notar que o bom velhote, dispõe
de regular saude, come com apetite e.
não deixa 0 labor do campo pela Lran-
quilldade do lar.
Correspondencia
Sr. Redactor:
Na vida ainda curta do seu excellente sema-
nariv «Gazeta das Provincias» tem-se elle dis-
tinguido em advogar a cansa da instrucção
poptilar, não perdendo nunca ensejo de falar
sobre ella, quando se lhe oferece oeeasião &
assumpto para trazer a terreiro; € n’este pouto
| (lorçoso é confessal-o), como em maitos ontros
muito grato lhe deve ser todo o conceiho da
Certã, e muito principalmente o professorado
d’este concelho, ao qual V. não lem otxidado
dentro dos limites da sua acção. Mais uma oe-
casido se presta pois a V. de se impôr do res-
peito de todos é à gratidão d’e-te seu humilde
leitor,peblicando o seguinte artigo coutros que 4
sobre este assumoto prometto mandar-lhe. Yom, |
pois, tornar bem publicaa razão porque, ha
7 mezes, se acha fechada a escola do Trovis-
cal, estando, todavia, legalmente provida. O
facto é as razões d’elle, bem conhecidas são
já por todo c concelho é pelas autoridades que
“tono desejo de saber quem é tal
pertencer
superintendem na ihstrucção, que, honra lh
seja feita, tem reconhecido a rasão e justi
da minka attitude como professor da referi
escola. Parece porem, que aquelles que mel
deviam reconhecer laes rasões, ainda não
conhecem.
E’ extraordinario como ha gente tão ces
que não veja as coisas, tendo felizmente, bc
olhos para as vêr; ou tão destituida de rac
cinio, que não descortine coisas tão simplé
ou, ainda, tão vil é perversa, que, recon!
cendo a rasão que me assiste, queira atropell
ae pol-a de parte, ousando ainda censurar
meu procedimento e atacar a minha diguida
profissional na minha ausencia. Refiro-me a
guns habitantes d’esta freguesia, e princlp
mente ao sr. Joaquim Simão, da Macieira, |
queno lugarejo annexo ao Troviscal, ao q!
tenho a honra de não conhecer, tendo-o, co
tudo já visto, certamente; mas o seu vulto d
tincto e modos delicados fazem-n’o de tal 0
do sobresahir d’entre a população troviscalen
que nem ainda me deu nas vistas, nem ex
atrumpho
Quanto eu estimava que o sr. Joaquim Sin
me lêsse! Mas qual?! Bu duvido que elle saí
Iêr ou, se sobe, mão é coisa suficiente p:
saber manejar um jornal. Pobre «Gazeta «
Provincias», onde tu perdes um assignante
distincta ecolliborador!!» Bem geitas tu
povo que se instrua!
Creiam, senhores, que, ao escrever es
linhas, o meu coração comprime-se de d
commiseração, ao lembrar-me que invisto |
homem que não póde defender-se com a hi
rosa arma com que o ataco—a imprensa,
E” atacar um inerme, bem o conheço; n
assim é preciso, antes que esse inerme, mu
do maturalmente da mais traiçoeira arma-
lingua perversa & ma-—continue nas suas
vestidas, que, comquanto imuteis, perturb
o meu socego é tranquillidade d’espirito, «
tanto aprecio e desejo.
No proximo numero principiarei a expôr
factos, soh a epigraphe—Escela do Trovisc
Por hoje, permitta-me V. que, com a m
alta consideração e profundo respeito me su
crevra.
Desvios
Cr.º alt.º e leitor constante
Troviscal, 43 de maio de 1900.
José dos Santos Marque!
mea A e ra
Agradecimento
| sr. José Cifuentes dOrieta Aguil
actualmente residente na Figueira
Foz, como regente da philarmonica «|
gueirense» pede-nos para aqui paten
ar-mos o seu reconhecimento para ct
as pessoas das suas relações, da Gerti
Pedrogam Grande, e apresentarmos
súias despedidas, visto este nosso am
não o poder fazer pessoalmente, co!
desejava, por motivos contrarios á s
vontade.
FOLHETIM DA «GAZETA» Nº 2
Um rei cavalleiro
I
«Dom donzel, onde é que está Bl-Rei?a —
dizia Affonso Domingues ao pagem, camithan-
do com passos incertos ao longo du vasto apo-
sento.
D. João 1, que onviu a pergunta, respondeu
em vez do pagem:
«Agora nenhum rei esta aqui, mas sim O
Mestre d’Aviz, a vosso antigo capilão, nobre
cavalleiro de Aljubarrota.»
«Beijo-vos as mãos, senhor rei por vos lem-
brardes ainda de um velho homem de armas
que para nada presta hoje. Vede o que de mim
mandaes; porque, de vosa ordem, aqui me
trouxe este bom donzel.» é
«Queria vêr-vos e falar-vos; que do coração
vos estimo, honrado e sabedor architecto do
mosteiro de Santa Maria.
Architecto do mosteiro de Santa Maria, jão
Tão son; vossa mercê me tirou esse encargo:
sabedor, nunca O lui, pelo menos muitos assim
crecm, e uiguus o uizem, Dus titulos que
me daes só me cabe hoje o de honrado; que
case, merçê de Deus, é men, e lóra infamia
rouhal-o ta quem já não póde pegar em um
montante para defendel-o.»
«Sei meu-bom eavalleito, que estaes mui
torvado commigo por dar a outrem é cargo de
mesire das obras do mosteiro: n’isso queria ea
fazer-vos assigaalada mercê. mas venhamos &o
posto; sebeis que a abobada do capiteto desa-
dou hentem & moite?>
«Sahia-o, senhor antes do
der,»
«Como é isso possivel?!»
Porque todos os dias perguntava a alguns
d’esses porcos obreiros portuguezes que ahi
“restam como bia a feitura da casa capitular.
no desenho d’ella pusera eu todo o cabedal
de meu fraco engenho, e este aposento era à
“obra prima da mista imaginação. Por elles sou
be que a traga primitiva fóra alterada e que
a juntura das pedras era eita por modo diser-
so do que eu tinha apontado. Prophetisei-lhes
então e que havia de acontecer. E-—aecrescen-
tou o velho, cem um sorriso amargo-—muito
fez já o meu succesor e por tal arte lhe pôr
o remate que não desabasse antes de vinte e
quatro horas.»
«E tinheis vós por certo que, se vossa tra-
ça se houúvera seguido essa desmesurada abo-
bada não viria a terra?»
|
caso suCcce-
Se estes olhos não tivessem feito com que
eu fosse posto de banda como uma carta de
testamento antiga, que se atira,por inutil para
o fundo de uma arca,pedra de fecho d’essa abo
hada não teria de vir esmizalhar-se no pavi-
“mento antes de sobre ella pesarem muitos
seculos; mas os de vosso conselho julga-
ram que um cego para nada podia pres-
tar.»
Pois, se ousaes levar so cabo vosso deze-
nho, eu ordeno que o façaes, e rlesde já vos
nomeio de movo mestre das obras do
mosteiro, e David Ouguet . vos ubedece-
rá.
«Senhor rei—disse o cégo, erguendo a
fronte, que até alli tivera curvada-—vós tendes
um sceptro e uma espada; tendes cavalleiros
e besteiros; tendes ouro e poder: Portugal é
vosso, e tudo quanto elle contém, salvo a iz
berdade de vossos vassallos: n’esta nada man-
daes. Não!… vos digo eu: não serei quem torne
a erguer essa derrocada abobada! Os vossos
conselheiros julgaram-me incapaz d’isso: agora
elites que a alevantem.»
As faces de D. João | tingiram-se do rubor
do respeito
«Lembrae-vos, cavalleiro—disse — elle de
que falaes com D. João 1.»
Cuja corda—acudiu o cégo—lhe foi
posta na cabeça por lanças, entre às quaes
reluzia o ferro da que eu brandia, D. Joã
é assás nobre & generoso, para não se
quecer de que n’essas lanças estava
cripto:—s«os vassallos portuguezes são
res.»
«Mas—tornou El-Rei—os vassallos que
sobedecem aos mandados d’aquelle em «
casa tera acostamento. podem ser privados
sua moradia…»
Se dizeis isso pela que me déstes, tirae-|
que não vol-a pedi eu. Não morrerei de fc
que um velho soldado de Aljubarrota ach
sempre quem lhe esmole uma mealha;é qua
haja de morrer á miogua de todo humano s
corro, bem pouco importa isso a quem vê
ancarem-lhe,nas hordas da sepultura, aqu
porque trabalhou toda a vida-—um ní
honrado e glorivso.»
Dizendo isto, o velho levou a manga do
bão aos olhos baços e embebeu nella uma
grima mal sustida. El-Rei sentiu a piedade
ar-lhe no coração comprimido de despeito e
latar-lh’o suavemente. Uma das dóres dal
| que, em vez de a lacerar, a consolam, é s
duvida a compaixão.
(Continúa)
ALESANDRE HERCULANO.ULANO.@@@ 1 @@@
Sciencias & Letras.
O baixel duma noiva
Cons velozmente, por entre alean-
tis rochedos e penedias, um pequeno re-
gato, que com o seu soluçar dolente,com
as suas repetidas gargalhadas, quebrava
o silencio dos campos. para depois. .ser-
penteiar sereno por extensos valles e.
planícies. .
Helena que, donairosa, ao esmaecer
do dia buscava no prado flóres para” a!
sua alcova nupcial, ouvio, perdidos no
vasto espaço, 0 tuido de pequenas cata-
dupas e encaminhou-se curiosa para. a
margem do regato, que, obedecendo à
influencia das Jeis plysicas, descia arc
rebalando na corrente a folha secca, as
pelalas da fôr que se deslolha e o pol-
len das plantas que lhe orlam as mar-
gens,
A noiva que exhauria junto do regato
toda a sua poesia e encantos, pensou em
construir 0 baixel, repetindo assim os
– seus folguedos “outrora,
De prompto levou a cabo a sua empre-
za.
D’uma carta, que acabára de ler, fez
rapidamente um barquinho segundo os
infantis processos de construcção,e no
topo do mastro colocou airosamente u-
ma borboleta que parecia ainda volitar
Do espaço.
O carregamento foi feito com as fres-
cas boninas, que a asselinosa, mão da
noiva colhera no prado visinho.
Depois lançou ao dorso do regato
musmurante o baixel, seguindo-o sem-
pre e desviando-o de todos os precipi-
cios,
Gaminhavam os dois, desprendidos de
tudo,
À noite, porem, aproxima-se e Hele-
na, que temia as visões Dociurnas, não
poude demorar-se,
Susla a marcha bonançosa do baixe!
é levianamente medilon:
— Poderei eu por ventura abandonar-
te? Ab! sum, dejxo te aqui amarrado e
ámanha de madrugada continuaremos o
DOSSO passeio, –
Elfectivamente, com um tennecissi. –
mo fio de seda, algemou o humilde bai-
xel e relirou-se apressadamente,
A noite era calma,
À lua erguia-se lentamente no elhe-
= GAZETA
Teo espaço prateando st
do Helena desapparecia vaporosa per
entre milharas verdejantes e searas im-
mensas, O buixel lentava com o impelo
da corrente despedaçar a grilheta . que
lhe tolhia-a carreira:
Porem, a mão delicada; franzina dn:
ma branca fada que vitihaDanharse no
regato, corta o calabre. E
Eil-o agora sem nanta, sorridente,
“mas a cada instante os precipicios: se
oferecem. gulosos;
A brisa da madrugada sopra levemen-
le e o baixel sem leme, sem guia eston- |
teia, submerge-se, 2)
“Levado assim na corrente junto com
as-boninas, teve por paradeiro um lago
iImmnenso.
Helena, levantando-se ainda risonha dos |
seus sonhos de virgem; dirigiu-se para o
porto onde ficara surto-o-debil barco.
O arvebol da manhã lingiajá o ceu
as aves sollavam os seus gorgeios e Lri-
nados; emfim, os campos estavam em
plena festa matinal. .
Chegon ao porto e-quão. grande. não
loi o seu espanto quando apeúas enxer-
gou a amarra desfeita!
Inquieta, esbaforida,-como a mãe em
busca do filho, partiu correndo á beira
do regato que desaguava-caprichosamen-
te nºum lago, onde Helena viu depois
sepultado o baixel e as mimosas boni-
nas que nas ondulações da agua se es-
lorciam dolorosamente,
À noiva ficou. fulminada-esa custo bal-
buciou: A culpada fui eu. Da divisa,que
engrinalda a prôa do meu baixel de noi=:
va, apagarei;—«abandono» e gravarei
—«desvelo »
– Luiz Navega
PENSAMENTOS
e ceia emma
Viver é uma doença, o somno é um
pallialivo, a morte é o remedio.
O namoro é a primeira parvoice hu-
mana, assim como o casamento é a ul-
lima,
Poeta: esculptor que desenha no ar.
EE ASen O ear
Livros
Recebemos às seguintes publicações que a-
gradec: mos:
Pyrilampos- ]º fasciculo desta, ex-
cellente publicação quinzenal, de que é quetor
Deus o não tolhesse dos olhos?»
«E é d’isso que mais se doe 0 mestre Alfon-
s0 interrompeu O prior. — A sua. grande can-
seira é que ninguem saberá continuar a edifi-
-cação do mosteiro ou, como elle diz, preseguir
O escriplura do seu livro de pedra, porque
nivguem é capaz de entender o pensamento:
“que 0 dirigiu na concepção delle,
cRoncarias e feros são esses proprios de
quem foi homem d’armas de Nunalvares—disse
o chanceler João das Regras. — Todos os da
sua bandeira são como elle, Porque sabem jo-
Bar boas lançadas, teen-se em conta de prin-
cipes dos discretos; e o cégo não se esqueceu
ainda que comeu da caldeira do condesta-
vel.n
João das Regras, émulo de Nunalvares, não
perden este ensejo de lhe pôr pecha; mas D.
João 1. que conhecia serem esses dois homens
às pedras angulares de seu throno, esculava-
08 sempre com respeito, salvo quando falavam
um do outro; postoque o condestavel, homem
mais de obras que de palavras, raras vezes
menoscabava os meritos do chanceller, conten-
tando-se com lançar na balança em que João
das Regras mostrara O grande pezo da sua
pena O montante com que elle Núnaivares Li-
nha, em cem combates, salvando Za pálria do
dominio extranho e à cabeça do chanceller das |
mãos do carrasco, de que não 0 livariam nem
Os graus do doutor de Bolonha, num os Llextos |
das leis romanas,
Deixae lá o condestavel, que fuão vem aus
inteiro-—disse El-Rei:—o. que me importa é!
ouvir mestre Affonso! sobre este caso Quizera .
antes perder um recontro:com castelhanos do:
que cuidar que o capitulo de Santa Maria da.
Victoria ficará-em ruinas, Mestre Ouguet com |
sua arte deixou lhe vir ao chão a abubado: sem
*
Alonso Domingues fôr capaz de a tornara,
erguer é deixal-a firme, concluitei d’ahi que.
vale mais o cégo que 0 limpo de vista; e digo-
vos que v-restituirei no antigo cargo, ainda.
que esteja, além de .cégo, oopo e moueo, 1
Neste momento entrava -o-velho arcbitecto,
agarrado ao braço; de Alvaro: Vaz d’Abmada
que o veio guiando: para o topo da desmesu= |
rada banca de carvalho, é roda da qual se tra.
vara O dialogo que acima lrascrevemos, >
(Cuntinia)
ALEXANDRE HERCULANO. –
DAS PROVINCIAS= CERTA 10 DE MAIO DE 1900
Ê
i
| ypras-— SO reis.
e
arões Ferreiro;
Miysicrics da Inquisição. Fasci-
cilos 12 904 0. 6 Tem desta explendida
Jutblicação edited pelaCOMPANHTA NACIO:
NAL EDITORA. original de Franeiseo “Gomes
ta Silva tom ilustre ções de Roque: Gameiro e
Branoel: Macedo
A Barcarola-Nº 11 da primorosa
Fevista Comubrã, de que são – directores littera-
rios os: Lalentosas
e Ea
“ANNUNCIOS
COMPANHIA NACIONAL
EDITORA
Administrador–*F ustino Guedes
90—Largo do Conde Barão-50
o Lisgoa se
OS MYSTERIOS |
* DA INQUISIÇÃO
A distribuição deste bello e commovedor
romance cffecihmar-se-ha semanalmente ds ca-
adorhetas de BA paginas in 8.º gr.
– Cada caderneta contera uma esplendida
estampa, em que se reconslituirão os. factos ;
«Mais notáveis deseriptos no Lexio da obra,
A varte litteraria, d’ vida a penna de-um
dos mais brilhantes e ternos escriptores do nos-
-S0 tempo. lera pois, com accollaboração artis-
ticado Manuel de Macedo e Ro-
que Gameiro um attractivo singular, por
isso que as 1luslrações são compostas em: face
de documentos anibeuticos, e que Ludo fara
reviver a plena luz da verdade as scenas e
Os acontecimentos, que se encadeiam em for-
made romance mas que teem a mais fidedigna
origem historica. ;
Preço da caderneta-GO reis
PARA LISBOA E PORTO
E AS
Todos os srs. assignantes receberão,
come ultimo fascieulo. ;
Um primoroso brinde
feito espressamente polossrs,
MANUEL Di MACEDO E ROQUE GAMEIRO
para esta obra. O brinde representa –
ma das scenas mais brilhantes da histo-
ria porlugueza.
OS LUSIADAS
AL. de Camões
Grande edição popalar e ilustrada
“sob a brecção dos insignes
ambito Roque Gameiro
é Mandel de Macedo
Eleta- eita de