Eco da Beira nº73 14-07-1918

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as SINATURAS

Ano 1$20. Semestre — 60. Brasil (moeda
E brasileira) — 5$000 réis :

o Anuncios, na-3.º e 4.º pagina, 2 centavos
E – a linha ou espaço de linha

 

 

 

 

 

INSTITUTO DAS MESES COLD

 

CONTINUANDO …

– Nasua famosa carta ao nosso pre-
“sado colega o Certagmense, o sr. dr.
Ehrhardt ameaça-nos com a inter-
venção do-seu partido no sentido de
reformar o Instituto de Sernache, pa-
ra pôr termo. às veleidades de quem
pretende utilisá-lo pera fins políti-
cos.:
– Faz-nos sorrir!, ;
– Quem assim ouvir falar o centu-
rião unionista há-de supôr, sem dú-
vida, que êsse estabelecimento al-
guns serviços ou alguns cuidados lhe
“deve: que pelas suas prosperidades
– ou sequer pela sua conservação algu-
“mas preocupações ou algum interês-
se êle tem tido. .
— O sr. dr. Ehrhardt dá-se ares!…
Ora, que. o mundo saiba, o vali-
“mento do sr, dr. Ehrhardt tem si-
‘ do absolutamente alheio ao engran-
cimento daguela casa de educação.

 

 

 

“viço lhe prestou e êle o assoalha a
“toda a hora. :
– Foi êste:—podia um dia, quando
— administr ador do concelho, “tê- lo fe-
” ehado, e não o fechou. Eis tudo.
“E’ muito?

Sem dúvida.

: Para êle já é uma virtude e vale
“como serviço poder ter feito mal, e
nãoo fazer.

: São assim as grandes almas. E
os grandes políticos.

E “odavia, toma posições, com cer-
to alarido. Muito bem.

; Tomemos tambêm as nossas, mas

– – “serenamente.

E E vamos lá a definir situações é
a descriminar responsabilidades,
“E sem dúvida que o Instituto de
“Missões Coloniais constitui um dos

mais valiosos, senão o mais valio-
“so factor das Feto dêste

“concelho.
Todos o sentem mas nem: talvez
– todos o compreendam, em toda a
sua extensão. Seria preciso perdê-lo
“para então se sentir a sua falta e
— bem se medir a sua importância na
“vida desta região, com todos os seus
“benefícios de ordem moral e mate-
qa »

– Então se veria e compreenderia !

Essa importância assume propor,

* ções maiores e especiais relativa-

– mente à Sernache, que dêle recebe

“benefícios tambêm maiores e tam-
bêm especiais.

Como que absorve e domina a
“vida da localidade.

“A sua perda seria um golpe vio-
lento e sem dúvida irreparável para
a minha terra.

Eu creio até que é êste único as-
“pecto do problema que desperta. a
atenção do sr. dr. Ehrhardt ..

“ Em qualquér parte onde a políti-

 

 

 

 

 

K

E que êle saiba, apenas um ser-|

 

ca se exercesse nobremente, com
elevação e patriotismo e não fosse
uma vinagreira repugnante, revolta
de ódios miseráveis e tôrvos, essa
instituição seria um património pre-
cioso em volta do qual seria vedada
essa política de retaliações e se da-

riam as mãos todos aqueles que a

êste bocado de terra portuguesa

“teem algum amor, promovendo o

seu engrandecimento, em nobre afir-
mação dos seus sentimentos patrió-

ticos e honrada compreensão dos

seus deveres.

Aqui, não.

Nesta terra de escaravelhos, nas
horas vagas da confecção da bola,
todos zumbem, todos intrigam e to-
dos esgaravatam na destruição du-
ma obra que não são capazes de fa-
zer, pela’ ruina dum bem que são
incapazes de compreender e na al-
ma lhes não cabe!

Cada um com o seu propósito,
cada um por seu motivo, mas todos
com o mesmo fim! .

E depois bramam que se faz lá
política, que está ali um baluarte !

Não vêem os tristes cegos na sua
leprosa miopia; que o povo, na sua
intuição simplista e clara, soube bem
distinguir entre os traficantes do
seu voto e aqueles que com since-
ridade e dedicação defendem os
seus interêsses e zelam o seu bem
estar.

Não compreendem, por isso, os
néscios que êsse mesmo povo te-
nha um sentimento mais nobre e
uma «alma mais pura e dê os seus
afectos e o seu apoio a quem soer-
gueu da ruina uma instituição que
êie herdou pequena e vê grande e
reconhece ser o bem estar de todos
desde o pão do pobre até à educa-
ção dos seus filhos !

O caso presente é um exemplo
do mais sordido e maldoso desvario
polrico..

Lá de longe o sr. dr. Ehrhardt
ameaça o instituto com a interven
ção do seu partido.

Mas, para quê?

Para a sua ampliação?

Para o engrandecimento daquela
casa?

Para o maior esplendor da insti-
tuição ? o

Não.

Sómente para isto, pequenino e
odioso-:

Para amesquinhar a autoridade
do director: para reduzir as suas
atribuições: para deprimir a sua
iniciativa.

Para diminuir e comprimir aquela
obra.

E se nós lhes respondessemos á
letra, passando por cima de todas

 

Ç

as conveniências ? |!

Pois bem, toque- “lhe e verá as con-
sequências ! *
A vida politica dêste concelho de-

via nortear-se entre duas aspirações É

defender um bem, que tem, é evi-
tar um mal que o ameaça.

Só-o partido democrático assim o
compreende e pratica.

Os outros invertem a orientação.

Menospresa-se o benefício e de-
safia-se a calamidade.

Como os anamitas assobiando ao
vento.

Nesta parte o sr. dr. Ehrhardt é
de três assobios.

Se o concelho da Certã não está
dividido em dois, não é, graças a
Deus, porque ele não lhe tenha fei-
to a diligência.

/

Na República

Após à revolução de 5 de Outu-
bro, eu tive graves apreensões sôbre

a conservação do Colégio das Mis |

sões e sôbre os destinos da minha
terra a êle indissoluvelmente liga-
dos.

Tive medo !

E tinha razão,

Era um instituto religinão, ea
separação da egreja do Estado era
princípio basilar do programa re-
publicano:

A egreja nos últimos tempos da
monarquia transmudara-se em agre-
miação partidária, de atitude extre-
mamente agressiva e provocadora
e neste despropósito a surpreendera
a joven República, com a boca na
botija, no dizer parabólico mas ex-
pressivo da locução popular.

Por outro lado, o colégio, que
durante” tantos anos soubera resis-
tir aos assaltos do jesuitismo, aca-
bara por se lhe render –

Não tanto pelo seu director, ho-
mem inteligente e sem dúvida me-
nos reaccionário do que a fama o
fazia, mas pelos seus colaboradores
o instituto convertera-se em colmeia
de Loyola, e no próprio dia do
triunfo da revolução ali estava diri-

indo os exercícios espirituais um
jesuita de fama e virtude.

Péssima situação !

Era inevitavel uma transformação
profunda naquele organismo,

Resistiria êle à operação ?

Bem duvidoso era. A sua consti-
tuição era extremamente débil, tão
débil que já se pensava, ao tempo,
em robustecê-la com uma reforma.

Era uma ficção que o vendaval re-‘

volucionário desfaria.

Tão pouco eu via o braço forte
que podesse ampará-lo e defendê-lo.

A política republicana foi confia-
da a chefes improvisados, excelen-
tes pessoas, sem dúvida, mas de
inexperiente critério político.

Eu tinha dúvidas sôbre a sua acção
política e mais do que dúvidas sôbre
a sua vontade e disposições a res-
peito do Colégio das Missões.

el.
| a | SERNACHE DO BOMJARDIM

 

 

“PUBLICAÇÃO à NA CERTA
“ Redacção € administração em E

“Composto 8 impresso na so na Tipografia Leiriense

As suas considerações em maté-
ria política e os seus planos sôbre a
administração do concelho, dava-me
a impressão do vácuo.

Eu pressentia a mesma politica
calamitosa de 1883, que deixou esta
importante região do districto sem
caminho de ferro, consentindo que
êle fôsse atirado para as penedias
estéreis da margem direita do eo
—uma calamidade irreparável, :
que debalde se tem procurado dar

remédio € que, a conseguir-se, será.

ssmpre tardio e sempre um remen-
do!
Política de imprevidências, de in-
decisões… issu
Política criminosa !

 

A indiferença dos po-
líticos

Mas eu não tinha outro recurso.

A essa politica me confiei, Confian-
do-lhe ó maior elemento da. prespe-
ridade dêste concelho.;

Pedi, supliquei: desnudei as suas
dificuldades, encareci a sua impor-

| tância! ofereci o meu frabalnos pro-
meti compensações.
A reforma dêsse estabelecimento,

sendo beneficio de todo o concelho,
interessava mais próprio e mais di-
rectamente a Sernache.

Pois bem: fizesse a politica da
Certã esse serviço á minha terra e
Sernache sofrearia as suas legitimas
aspiraçõese constituiria um;concelho.

Seria uma compensação,

Seria a paz e a reconciliação no
alvorecer desta República.

Eu me comprometia,

Foi debalde !

Quando aí veio o delegado do Di-
rectório, Cupertino Ribeiro, pedi-
lhe uma conferência que se realizou
no escritório do sr. dr. Ehrhardt,
em suá presença e na do sr. Tas-

so de Figueiredo.

Ali expuz a situação, como depois,
como antes, como sempre a expuz
ao sr. dr. Ehrhardt…

Muito boas palavras, paliativos e
nada mais.

Era desolador. Desanimei!

Atendiam:me como quem. escu-
ta um maniaco… Por compaixão!

Deu-se então um acontecimento
que fez renascer todas as minhas
esperanças.

O’sr. Tasso de Figueiredo foi no-
meado Director Geral do Ultramar,
da qual era dependencia, então, o
Colégio das Missões.

O sr. Tasso de Figueiredo é um
ilustre filho dêste concelho. Estava

em sua mão fazer a reforma: em.

24 horas—com uma simples penada.
E não deixaria de fazê-la.
Esperei. Debalde.

Escrevi-lhe e tenho presente uma

“copia desssa carta. Não tive resposta.

Por motivos de saúde abandonou
aquele alto posto sem nada fazer.

Decisivamente e pela última vez,
eu intervira junto do sr. dr. Ehrhardt.. dr. Ehrhardt.

 

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ide: Ea
Este cavalheiro fez-me então al-
gumas observações.

A reforma tal como eu a preter-
dia trazia-nos embaraços, dizia ele
solenemente.

Quais, interroguei eu, curioso ?

Era tirar braços á agricultura e
fazer uma legião de pretendentes,
que depois, teriamos de colocar !

Fiquei surpreso!

Supunha eu que uma escola de
agricultura, longe de diminuir, au-
mentava os braços. Um braço tra-
balhando com sciência e segurança,
vale sem dúvida dezenas de braços
rotineiros e inconscientes.

“Um liceu não obrigava a aumen-
tar qs empregos: o que faria e per-
mitiria- seria que os lugares exis-
tentes fôssem ocupados por gente
instruída e habilitada, com manifes-
ta vantagem para o serviço.

Supunha eu mas enganava-me.

Do que eu me desenganáva era
de poder contar com a boa vontade
do sr. dr. Ehrhardt e da sua po-
lítica.

Qutro rumo dei ás minhas dili-
gências.

Noutro sentido orientei o meu
trabalho, que alguma coisa repre-
sentava de sacrificio e dedicação,
persistentemente e sem desfaleci-
mentos.

A eles me referirei em novo artigo.

Uma mistificação

Por agora só me resta dizer, para
concluir, que ainda uma vez mais
recorri à- política do sr. dr. Eh-
rhardt, agora já constituido em agre-
miação partidária.

Foi em 1916.

De acôrdo com o ministro, a re-
forma do Colégio das Missões fi
concretisada em um projecto de lei
que apresentei na Câmara dos De-
putados.

Razões que não veem agora para
aqui, mas que tambem seriam inte-
as obrigaram-me a ir com es-
sa reforma ao Parlamento, mas para
de lá a arrancar eu carecia do au-
xílio do partido unionista.

Era nos ultimos dias de sessões.

Não havia tempo para largos de-
bates. O presidente não o punha
em ordem sem estar seguro de que
ele não sofreria discussão.

Procurei o sr. Martins Cardoso,
deputado pela Certã e expuz-lhe a
situação e o meu ponto de vista.

‘ Registo a-sua correcção nesta al:
tura. o!

Foi consultar o leader doseu par-
tido e alguns minutos despois, vinha
á minha carteira afirmar me que o
seu partido não discutiria e até vo-
taria O projecto.

Havia umas dificuldades por par-
te dos evolucionistas, mas que tam-
bem consegui remover.

Enfim !’

Três dias depois, estavo o pro-
jecto em ordem. Quando, porêm, ia
entrar em discussão, que se reduzi-
ria á sua leitura, vem o sr. Martins
Cardoso comunicar-me que ele e
alguns amigos votariam O projecto
mas que havia, no seu partido quem
o discutisse.

Eu não precisava de votos: o qué
eu pretendia era que não o emba-
raçassem. Era, assim um projecto
encravado.

Não entrou, por isso, em discus-
são e mais uma vez seia todo c meu
trabalho e todas as minhas esperan
ças. E

Não pretendo discutir a versatili-
dade do sr. Cardoso e dispo mesmo
o caso de certos episódios que o re-
vestiram.

Constato apenas o facto para co-
gitar de quem seria a intervenção

 

 

dk

 

ECO DA EEIRA

que preparou uma situação tão pre-
judicial aos interesses desta região.

Não tenho provas para acusar
ninguem, mas nenhumas duvidas te-
nho sobre quem foi o seu autor…

Como não as tem de certo o lei-
tor.

Aqui tem o publico elementos
para julgar da autoridade com que
o sr. dr, Ehrhardt ameaça modifi-
car uma reforma que ele nunca quiz
fazer e veio até embaraçar quando,
após muito sacrifício e muito traba-
lho, a viu em via de realisação !

E diz-se’um homem dêstes um
político! um politico republicano !

Ai fica feito o inventário dos seus

serviços ao Instituto de Missões Co– Era
é | E foi para isto que se foi buscar

loniais, que orça pelos querem pres-
tado a todo o concelho.

Quem vier a receber-lhe a heran-
ca não se arruinará por certo com O
pagamento da contribuição de re-
gisto,

“Todos podem bem julgar do ri-
dículo com que êsse homem veio à
imprensa dizer coisas que uma men-
te sã não pensa.

E quando se pensar, tem-se ao
menos, não digo o bom senso, que
quem as pensa já revela que 0 não
tem, mas o pudor de não as dizer.

Não são para o partido unionista
estas nossas considerações,

Bem sabemos o que: dêle temos
a esperar, não esquecemos o que
dêle recebemos nas primeiras horas
da-revolução, quando êle a julgára
feita em seu benefício.

A um partido fortemente organi-
zado, composto de homens ponde-
rados e correctos, já com o seu pas-
sado político de serviços a êste con-
celho: a um partido de categoria
com quem só haveria honra e in-
terêsse em conviver, deu-se trata-
mento como a bando de aventurei-
ros, em que até os limites da pró-
pria correcção pessoal se ultrapas-
savam !

Cedo chegou para êle a hora da
adversidade, bem mais amarga do
que para nós. Esse facto não nos
alegra nem nos perturba.

E onanaios a trilhar o mesmo
caminho sem desânimos nem impa-
ciências.

Nesta hora incerta e inclemente
da política portuguesa não quere-
mos abrir discussão com o partido
que o mesmo vendaval revolucio-
nário derrubou e a cujas nortadas
revoltas êle parece não saber resis-
Air, o

Mas, acima de tudo, é um partido
da República.

As nossas palavras vão só para o
sr. dr. Ehrhardt, que, sentindo-se
de poleiro e julgando-nos tresma-
lhados e perdidos, nos veio amea-
çar de destruir uma obra boa só pa-
ra nos reduzir o valor eleiçoeiro

Da: pequenez da sua alma e da
miséria das suas intenções fala cla-

“Tamente a sua prosa,

Daquela reforma, incontestável:
mente grande e desentranhando-se
em enormes benefícios para esta re-
gião, êle só deitou contas ao valor
eleitoral.

Naquela obra feita com tamanha
isenção e elaborada com tanta eleva-
cão, êle só viu esta coisa mesquinha
e miserável-—-o voto!

A “aspiração dum regedor, o cri-
tério dum policia !
: Abilio Marçal.

casar do

Pesames

Está de luto, pelo falecimento de
seu sogro, o nosso amigo sr. Pires

“de Moura, mui digno professor pri-

mário nesta vila.
Enviamos-lhe os nossos pêsames,

IRREVERENCIA REPUGMANTE |

Há dias tivemos de atravessar à
praça nova desta vila, agora cha-
mada da República.

Não sabemos descrever a impres-
são, ao mesmo tempo de revolta e
tristesa, que nos causou o estado
em que vimos a estátua do dr. Ma-
rinha,

O próprio bronse daquele busto,
severo e respeitável, está imundo!

A grade sem pintura!

A facha entre a cortina e o sopé,
da estátua, destinado à statice esta
ornamentada de dejectos huma-
most a

esse homem ao culto da família para
9 trazer para a: praça pública, con-
fiando o á veneração do povo e-ao
culto das gerações! :

Talvez que ela assim esteja mais
eloquente, talvez!

O bronse a impor a sua grande
figura. ;

O monumento a afirmar a dedi-
cação e o caminho dos seus admi-
radores. j

E aquele. estado de abandono a
bradar que eles foram os últimos,
Que não ficou cá mais ninguem.

Mas quem aí vier e contemplar
aquele espectáculo repugnante nem
sequer quererá saber quem são os
edis dêste desgraçado municipio: e
bon, será que não pergunte para
que não tenha a surpresa de saber,
e alguem a dor de lhe dizer quem é
o presidente e quem é o vice-pre-
sidente, neste momento, dessa coisa
que para aí está e se chama comis-
são municipal!…

Dos contemporâneos é que êle há-
de julgar:

De nós todos: !

E bem deprimente há-de ser o
seu juizo.

—Da nossa educação civita, dos
nossos, sentimentos e do nosso pa-
triotismo!… :

Não haverá ai uma associação
qualquer, a Junta, uma confraria
que tome a seu cuidado aquele bo-
cado de mármore e bronse, emquan-
aquela gente estiver ali na camara?!

Que mande pintar aquela grade:
semear gasou e umas flóres no sopé
da estátua; lavar o mármore: limpar
o bronse, aqueles lábios que nunca:
tiveram uma palavra de ódio, aque
les olhos que se abriram vendo uma
Certã pequena e para sempre se fe-
charam deixando-a maior, aqueles
ouvidos que tanta suplica ouviram
daqueles que bem cedo a sua me
mória esqueceram lá no alto do seu
onipotente poderio! É

Honremos a sua memória, que
nos honramos a nós próprios,

Senão estamos em terra de pre-

tostis E
Acácio Macedo

Chegou a esta vila, onde veio pas-
sar alguns dias, com sua ex:mi es-
posa, o nosso presado amigo e cor-
religionário, Acácio de Lima Mace-
do, a quem cumprimentamos afec-

tuosamente.
Ss
Francisco Simões

Acompanhado de sua esposa, che-
gou na quinta-feira a Sernache, on-
de vem fazer uma demorada resi-
dência, êste: nosso amigo, comer-
ciante na praça de Lisboa.

Muita satisfação nos dá esta visi-
ta. É não é só nosso êste sentimen-
to de prazer-—é de todos os seus
amigos, que são todos aqueles que
com êle tratam e sabem apreciar as
suas excelentes qualidades,

 

 

 

f :

A do sr. dr. Ebrhardt!

Admira até como ela caiba em
envólucro tão acanhado ! e

Extravasando-a na sua já agora
célebre e genial epístola e negando
que o seu partido tenha promovido
a demissão do sr. dr. Abílio Mar-.
çal acrescenta :
«não obstante poder justificar-se que
o fizesse, por ter êste cavalheiro fei-

“to do Institulo um baluarte político »

«Este cavalheiro» aqui dirá em
outro artigo, no próximo número
dêste jornal, o que significa o famo-
so baluarte político e como êle foi-
constituído.

Por agora, queremos apenas re-
gistar as palavras que revelam a sua
maguanimidade e a sua ponderação.

Bem se justifica a exoneração e
por isso bem se justificaria também
que a promovesse o partido unio-
nista, que é um partido de govêrno
e ordem,’diz o sr. doutor.

Quer êle dizer, lá na sua,—foi
muito bem feito ! –

Segundo o seu gêneroso critério
o funcionário que, pelo seu traba-
lho, pela sua inteligência, pela sua
correcção ou por qualquer outro
motivo, congregar em volta da sua
pessoa ou da sua autoridade algu.
mas dedicações ou simpatias, Êsse
funcionário deve ter pena de demis-
são ! :

Aqui está uma condenação de que
não deve arreciar-se o sr, dr. Eh-
rhardt que é incapaz de fazer um
amigo no exercício de qualquer pro
fissão. Mas, se o seu partido fosse .
responsável pelos seus disparates e
lhe aplicassemos à doutrina, o que
diria dela, por exemplo, o sr. dr.
Eduardo Barata, que, no exercício
das suas funções, pelo seu feitio de-
ligente e obsequiador, pelo seu tra-
balho’e tantas vezes até com o seu
sacrifício, bem mais dependência tem
criado e bem maior número de ami-
gos tem feito do que aqueles que o
sr. dr. Abílio Marçaltinha e deixou
no Instituto ?!… :

Foi preciso que viesse a Repúbli-
ca é nela o sr. dr, Ehrhardt fosse
alçapremado a chefe, para que se
descobrisse uma cabeça em que cou-
bessem tais disparates e com o des-
trambelhamento necessário para vir
fazer estendedouro desses honrados
principios nas colunas das gazetas.

*

Foi, então, muito bem. feito!

Pois, sim; seja.

Mas sempre lhe queremos dizer
aqui, muito serenamente e sem in.
tenções, que, se o partido democrá-.
tico fôsse animado dêsses ruins sen- —
timentos de perseguição; se por cá
se professassem – êsses . princípios,
que já na monarquia eram repelidos,

o sr. dr. Ehrhardt seria neste mo-
mento-um homem desgraçado.

No momento em que êsse perigo
surgiu, ameaçador, o partido demo-
crático foi chamado a encarar essa
situação, peloseu administrador do
concelho, meu querido amigo An-.
tónio Augusto Rodrigues, com o
seu espírito de previdência e aquela
serena: ponderação que: êle punha
em todos os seus actos, que nunca |
eram exercidos com pau de dois bi- |
COS… f

E êste partido da demagogia, que
podia . nêsse momento desfazer-
-se mui delicadamente dum adver-
sário categorizado, resolveu logo in-
tervir no sentido de que tal não se
fizesse. E interveio. Mas não teve |
duplicidades nem fez patacoadas |
que bem fáceis lhe seriam nem que

E

 

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julgava indignas dos seus princípios.

Foi junto do ministro, interveio
junto do próprio chefe do govêrno,
e, muitos dias antes da publicação
da lei, o administrador do concelho
tinha a comunicação de que nela
fôra introduzido um artigo que pro-
tegia a situação especial do .sr.
Ehrhardt !

E’ assim que se procede cá em
casa.

“Não lemos pela cartilha do chefe
unionista, não.

Mas se o partido tivesse resolvi-
doso contrário, tinha a coragem da
sua decisão. Di-lo ia,

* Está claro que não foi a nossa in-
tervenção que fez o milagre nem
“nós tinhamos valor ou merecimen-
tos para tanto.

Nas altas regiões do poder todos
estavam preocupados com a solu-
ção do caso.

Pobre gente! o

Ninguem pensava em mais nin-
guem senão no médico da Certã…
“ Tão pouco queremos agia E
mentos ou compensações. Cumpri-
mos um dever e por generosamente
compensados nos damos com o pra-
zer de o ter cumprido!

Quem sabe, todavia, se esse arti-
go de lei não foi escrito e redigido
por algum democrático, que assim
demonstrasse que dos principais re-
publicanos, da sua dignidade e dos
seus deveres tem uma compreensão
bem mais sentida ec bem mais ho
nesta, Tudo isto bem se justifica.

O que’talvez não se justifique bem
é o procedimento daqueles que, ten-
do ficado dentro .dêste país em si-
tuação de meros tolerados, finjam
não a compréênder ez aproveitem
para nela continuar a intrigalhar e
2 ameaçar quem nela vive e traba-
lha por direito de naturalidade e de
nascimento, à

O que talvez não se justifique
bem é que o st, dr. Ebrharde não
tenha tido a medianame te sensata
resolução de se fecolãer a uma pruf
dente reserva e escrupulosa absted-
ção dos actos da vida pública deste
-pais, neste: momento: histórico om
que a terra de seus ascendentes é
cativeiro angustioso de tanto solça-
“do português, e os seus parentes por-
ventura os carcereiros e os verdugos
desses pobres prisioneiros de quem
em que palpite vivamente a alma
heróica desta pátria portuguesa,
condenados a transportarem tóros de

“madeira na vil’terra inimiga é a cul-
tivarem os campos dos Ehrhardts
‘da Prussia!

Mas, para o sr. dr. Ehrhardt, o
“que se justifica bem é que o sr. dr.
Abilio Marçal tenha sido posto fóra
dum lugar’que servia com honesti-
dade e patriotismo.

São assim as grandes almas !

E vem dizê-lo para as gazetas !…

E, no fim, queixam-se da virulên-
cia da nossa linguagem !..,.

HUM IL .s

(Que temos aí padres, qualquer
dia, e um seminário!…

“Hum!

Mas, enfim, tanta gente a dizê-lo,
que, ás vezes, quási chegamos a
convencermo-nos que’nós é que es-
tamos doidos!

Com que então, isto volta para
traz, de vez e a valer…

“Está. bem. É

E vai já de abaixo-assinado !. ..
Optimo!

Mas vão deixando. sempre uma
janela aberta. É

Das baixas, por causa dos tata-

ranhos!. -.. Pobre religião!

– Pobre igreja!

 

ECO

Literatura

 

 

Os olhos de Joaninha
(De Garrett)

Olhos verdes !… :

Joaninha tem os olhos verdes.

Não se reflecte neles a pura luz
do céu, como nos olhos azuis.

Nem o fogo-e o fumo das pai-
xÕes, como nos pretos,

Mas o viço do prado, a frescura
e animação do bosque, a flutuação
e a transparencia do mar…

‘ Joaninha, por que tens tu os olhos
verdes ?

arde, em sereno e modesto brilho,
a luz tranquila de um amor prova-
do, seguro, que deu quanto havia de
dar, quanto tinha que dar.

Os olhos azuis de Georgina não
dizem senão uma só frase de amôr,
sempre a mesma e sempre bela:
cAmo-te, sou tua!

Nos olhos negros e inquietos de
Soledade nunca li mais do que es-
tas palavras: Ama-me, que és meu!

Os olhos de Joaninha são um li-
vro imenso, escrito em, caracteres
móveis, cujas combinações infinitas
excedem a minha compreensão.

Que querem dizer os teus olhos,
Joaninha ?

Que lingua falam eles ?

h! para que tens tu os olhos
verdes, Joaninha ?

A açucena e O jasmim são bran-
cos, a rosa vermelha , o alecrim
azul…

Rôxa é a violeta, e o junquilho
côr de oiro.

Mas todas as côres da natureza
veem de uma só, o verde.

No verde está a origem e o pri-
meiro tpo de toda a belêsa.

As outras côres são parte dela;
no verde está o todo, a unidade da
formosura creada.

Os olhos do primeiro homem de-
viam ser verdes.

O co é azul…

A noite é negra…

A terra e o mar são verdes…

A noite é negra mas bela; e os
teus olhos, Soledade, são negros e
belos como-a noite.

Nas trevas da noite luzem as es-
trelas que são tão lindas… mas no
fim de uma longa noite quem não
suspira pelo dia ?

E que se vão… oh! que se vão
enfim as estrelas !…

Vem o dia… o céu é azul e for-
moso; mas a vista fatiga-se de olhar
para ele.

Oh! o céu é azul como os. teus
olhos, Georgina…

Mas a terra é verde: e a vista re-
pousa-se nela e não se cança na va-
riedade infinita de suas matizes tão
suaves.

O mar é verde e Autuante!…
Mas oh! esse é triste como a terra é
alégre.

À vida’compõe-se de alegrias e
tristezas…

O verde é triste e alegre como
as felicidades da vida. :

Joaninha, Joaninha, porque tens
tu os olhos verdes ?,..

K mais feliz das três

“Subindo para o-ceu iam três al-
mas virgens. À lua abraçava-as em
um raio é as estrelas acendiam-se
para recebe-las. Travaram conversa.

 

bre o meu mausuléo há uma corda
ne ouro e um serafim de mármore
!branco. Tenho saudades do meu

Tudo está naqueles olhos verdes! |

“Nos olhos azuis de Georgina, !

—Eu fui princesa, disse uma. So-

DA BEIRA

f palácio. ;

—BFu fui monja, disse a outra,
| sobre o meu tumulo caem os psal-
jmos das religiosas e as flores das
‘devotas. Meu corpo está no claus-
| TO, com Deus, como eu que subo

para o paraiso. Tenho saudades das
| harmonias misticas do órgão nos dias
«de festa.
| E a terceira disse:—Eu fui pas-
| tora. Meu corpo está no cemitério
: da aldeia. O meu noivo guarda-o e
| como não é tempo de flôres êie cho-
“ra todas as noites sobre o meu’tu-
mulo lágrimas sinceras. Tenho sau-
, dades do meu noivo.
E uma estrela ouvindo a conver-
“sa das almas, perguntou á outra:
Qual é a mais feliz das três?
A noiva, porque foi amada, res-

“pondeu a estrela suspirando.

CogLHo Neto
cnPRS Gn
Novo delegado

Tomou no dia 4 posse do seu lu-
gar de delegado do procurador da
República o sr. dr. Simão José, que
recentemente foi promovido à pri-
meira classe e colocado nesta co-
marca,

O novo representante do Minis-
tério Público vem precedido da jus-
ta fama de magistrado inteligente e
honesto, da mais austera integrida-
de de carácter.

Se êle carecesse do nosso depoi-
mento e nós o pudessemos fazer
sem a suspeita das nossas relações
de estima, diriamos que a verdade
sôbre as suas qualidades excede ain-
da em muito o renome que o ante-
cede: e acrescentaremos que não é
só um distinto magistrado que on-
tem entrou no exercício das suas al-
tas funções na administração da jus-
tiça nesta comarca, mas tambêm um
excelente e valioso elemento que
entra na vida social da Certã.

Com estas qualidades fácil lhe
será a sua vida pública nesta co-
marca, pois que o sr. dr. Simão Jo-
sé tem a colaborar com êle um cor-
po judicial de muita confiança e o
povo desta região é, sem dúvida, de
boa índole e respeitador.

Enviamos ao novo delegado as
nossas afectuosas saudações, e as
nossas felicitações, que não são uma
banalidade, aos povos desta comar-

ca.
cnFeR sro
Correspondência

Do sr, Eduardo Barata recebe-
mos uma carta, para ser publicada
neste jornal.

Serão os seus desejos satisfeitos
no próximo número, e não neste já,
porque, não podendo nós deixar
passar em julgado algumas afirma-
ções nela feitas, somos — bem eon-
trariado, seja dito de passagem —
obrigados a uma resposta, para a
qual não temos hoje tempo nem es-

paço. É

Esteve em Sernache durante alguns
dias, o nosso amigo dr. Virgílio Nu-
nes da Silva, que regressou já a
Lisboa com sua filha D, Ilda, que
num liceu daquela cidade vai fazer
exame da 7.2 classe.

Padre Marques de Macedo

“Yemos há muito tempo em nosso
poder uma peguena brochura em
que êste nosso velho amigo fez pu-
blicar os seus interessantes e pacien-
tes trabalhos de investigação no car-
tório da Misericórdia da Certã, com

 

referência especial aos seus bemfei-
tores. E

Conhecemis o padre Marques de
Macedo dos saudosos e bem distan-
tes tempos do latim do bondoso pa-
dre João e da rectórica do inspira-
do padre Camilo, sempre, sempre
inteligente e trabalhador.

A publicação dêste seu trabalho
é mais uma afirmação destas suas
qualidades, com a revelação duma
outra qualidade que nesses longin-
quos tempos ninguem nele preveria
—a paciência !

Mas, isso foi há tanto tempo !

Pela estrada da vida fora a gente
faz tanta mudança, tanta transfor-
mação ! É k

A irregularidade com que é publi-
cado êste jornal tem-nos feito de-
morar, que não esquecer, o registo
desta amabilidade e do nosso agrá-
decimento, que o padre Marques
saberá desculpar, aceitando ao mes-
mo tempo as nossas felicitações,
dadas com muito prazer, como de
amigo velho e sincero.

casas
O museu do contrabando

Em Londres organisou-se recen-
temente o mais original dos museus:
o do contrabando. E

Ao entrar no local, a primeira
coisa que se vê é uma enorme esta-
tua de Wellington, toda de chum-
bo. A história desta estatua é inte-
ressante. : o

O chumbo, como metal de guer-
ra, é submetido na Inglaterra a
elevadissimos direitos; mas conver-
tido em objectos de arte, nada paga
pela sua introdueção.

Mandaram construir em grande
escala o vencedor de Waterloo, com
o fim segundo eles diziam, de dotar
todas as povoações do Reino Unido
com um monumento em honra da-
quele heroi. É

A’ medida que iam entrando as
estatuas, eram enviadas a Birmin-
ghem, para proceder imediatamen-
te á sua fundição.

O modêlo, em madeira e cêra,
de uma contrabandista, com uma
quantidade de sacos em volta da
cintura e no seio, para passar O
contrabando. : –

“Um enorme chigon, muito bem
feito e cheio de magnificas rendas
de Bruxelas.

Um lindo cãosinho de regaço,
tão perfeito que: lhe falta só la-
drar… recheiado de bijouterias.

Um nodoso cacete que um saloio

“trazia na mão ao passar a fronteira.

Aparentemente era uma boa e legal
arma de defesa; mas… no miolo
continha perto de 5,000 aneis e
brincos de ouro.

Varias amostras de cabos e cor-
das alcatroadas, desembaraçada co-.
mo massame inutilizado de navios
vindos da América. A matéria pri-
ma, porêm, não é linho nem canha-
mo; é tabaco magnífico, é tabaco
das Antilhas e do Brazil.

No referido museu veem-se objec:
tos surpreendentes: Um gabão em
cujos bolsos se podem esconder 140
relógios, sem que o volume da pes-
soa infunda a menor suspeita; um
par de botas, cujas solas estão pro-
vidas de caixas falsas e vários li-
xros encadernados que não são mais
que preciosos estojos para joias e
diamantes.

O novo museu foí organisado
para instrução do pessoal das alfan-
degas e não está aberto ao publico.

Não obstante, com uma autorisa-
ção especial, pódem ser admirados
os productos da maravilhosa inicia-

 

tiva dos eternos inimigos do fisco.do fisco.

 

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