Eco da Beira nº6 20-09-1914

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XKno 1.

 

Numero 6.

 

 

 

 

Assinaturas:
Ano oe MF INDDO
Semestré:, o cestoso. = mo

“Brazil (moeda brazileira)… 5%000

 

Anuncios, na 3.º e 4.º página 2 cen-
tavos a linha ou espaço de linha

Duas épocas

—DOEC—

Quando se iniciou a guerra,
não faltou quem, entre os inve-
terados inimigos da democracia,
aventasse a previsão de que ela
teria, como um dos seus resul-
tados, a queda da República em
França. Estribava-se essa opi-
nião, ou na hipótese duma der-
rota, levando os franceses a atri-
buir à República a responsabi-
lidade do desastre nacional, ou
na hipótese duma ditadura con-
ferida ao presidente da Repúbli-
ca, que pela sua iniciativa pró-
pria conduzisse a França à vitó-
ria.

Esta previsão fundava-se em
dois factos da história francêsa.
No primeiro caso, repetir-se-ia
com a Republica o que sucede-
ra com o Império em 1870; no
segundo, repetir-se-ia a página
brilhante da época napoleónica.
Bonaparte transformou-se num
imperador. Quem sabe se o sr.
Poincaré não se transformaria
num rei?

Evidentemente, esta previsão
só revelava a fantasia dos seus
autores. As circunstâncias eram
e são inteiramente diversas. Em
1870, o desastre foi com justiça
atribuido pelo povo francês ao
Império. Porque? Porque o Im-
pério fez a guerra por simples
conveniência dinástica; porque
o Império mentiu ao país dizen-
do que estava seguro da vitória.
E se o general Bonaparte, ven-
cedor de formidáveis campa-
nhas, veio a cingir uma corôa
imperial, foi porque a França
estava cançada do domínio das
facções. Tal não sucede agora.
A França tem um regime par-
lamentar, em que as lutas políti-
cas se desenrolam dentro da
plena normalidade constitucio-
nal.

De resto, ninguem desmente
mais essa previsão fantástica do
que a atitude do sr. Poincaré.
Ainda outro dia, um jornal es-
tranjeiro, o Liberal, de Madrid,
numa interessante crónica de
Gomes Carrilho, traçava uma
nota de flagrante precisão ácêr-
ca dessa atitude. O sr. Poincaré
confina-se dentro do seu papel
de representante suprêmo duma
democracia, evidenciando uma
correcção e um patriotismo que
não podem ser excedidos. O
sr. Poincaré não aparece. O sr.
Poincaré limita-se, como to-
dos os cidadãos franceses, a
cumprir os seus deveres e o pri-
meiro dos quais é obedecer. Man-
daram-o para Bordeus. Foi pa-

so caca Ca O

 

ra Bordeus. Se o mandarem ir

para outro ponto, ou regressar
a Paris, imediatamente se pres-
tará a fazel-o. Não há um acto,
não há um gesto, não há uma
palavra em que êle demonstre
querer tomar para si uma osten-
siva evidência.

Assim, é bem patente que
quem faz a guerra é a França:
não é o sr. Poincaré. Em 1814
e em 1815 quem fazia a guerra
era Napoleão I. Em 1870 quem
fazia a guerra era Napoleão III.
O sr. Poincaré não fez a guerra,
em nada interveio para ela. Se
a França vencer, terá a glória
que póde caber a um cidadão
fcancês. Se a França fôr derro-
tada, ninguem lhe poderá impu-
tar responsabilidades dessa der-
rota.

Não há, pois, que prever uma
ditadura do sr. Poincaré, que
aniquilaria a República, nem a
morte da Republica, no caso de

uma derrota, promovida pela

indignação nacional. A Republi-
ca e a França estão inteiramen-
te identificadas. Vencerão juntas
ou serão vencidas juntas. Mas
se a França continuar a ser uma
nação livre, a Republica conti-
nuará a presidir aos seus desti-
nos.

Já ninguem assegurará o mês-
mo. com relação à Alemanha.
Ali, a guerra é a obra do Kaiser.
Se vencer, ele será um imperan-
te ainda revestido de maior for-
ça, eo povo alemão a sentirá.
“Se fôr derrotado, nesse caso é
que é lícito perguntar se não se-

rá possível que em Berlim se re-.

pitá o espectaculo de Paris no
dia 4 de Setembro de 1870.

«O MUNDO»

Entrou no 15.º ano da sua exis-
tência êste nosso valente colega.

Quinze anos de luta e de sacrifi-
cios pela República, numa dedica-
ção sem tibiezas, com uma grande
fé, persistente e sem esmorecimen-
tos !

Na existência do “Mundo está uma
das mais belas páginas da his-
tória do partido repúblicano portu-
guês. Foi daquele reduto que à mo-
narquia sé fez o mais duro e certei-
ro ataque, até que ela’tombou.

Proclamada a República, é ainda
daquele baluarte que se faz a sua
mais esforçada defêsa, às vezes ru-
de mas sempre leal: é ainda dali
que, numa vigilância carinhosa e de-
dicada, se tem lançado o grito
de larme, enérgico e implacável, con-
tra os que a combatem e não pou-
cas vezes contra os que a não de-
fendem com o zêlo e por ventura
com a lealdade que o seu dever lhe
impõe ! :

Aos que no éMundo, trabalham
tão patriotica e esforçadamente e
sobretudo a França Borges, que,

Ê RR e

 

DIRECTOR — ABILI

Editor e administrador ALBE

 

MARÇAL

RTO RIBEIRO

longe do seu gabinete, procura uma
melhor saúde, que todos os seus
amigos lhe desejam, as nossas en-
tusiásticas saudações ! Ê

ct IDE

OLITICA LOCAL

DD

Já no último n.º nos referimos ao
episódio grotesco do pedido de con-
vocação feita, por parte da minoria
da Camara Municipal, duma sessão
extraordinária desta corporação ad-
ministrativa, e, a tal respeito, fize-
mos as considerações que O interes-
sante caso nos sugeriu.

Mas o assunto é inesgotavel, e de-
le nos ocuparemos ainda hoje, prin-
cipiando por dar publicidade aos
ofícios em que o caso foi tratado,
que são, de per si, documentos mui-
to interessantes e curiosos, que nos
poupam considerações e comentá-
rios nossos pois que a verdade e a
lição que deles resultam são por de-
mais transparentes e elucidativos.

Seguem, pois, os dois documen-
tos, e para êles, para a sua leitura,
pedimos a atenção, muita atenção
do leitor :

É «Ex.mo Sr, Presidente da Câmara Muni-
cipal da Certa :

«Os abaixo assinados, vereadores da Cã-
mara Municipal dêste concelho, usando da
faculdade due lhes confere o artigo go.º do
Código Administrativo, veem perante V.
Ex.: reclamar a convocação duma sessão
extraordinária da mesma Câmara, a fim de
darem conta, a esta, de graves irregulari-
dades, que precederam e acompanharam a
arrematação realizada em 29 do corrente, e
das quais teriam tratado, respectivamente
nas sessões ordinárias de 27 e 31 do cor-
rente, se se houvessem realizado.

«Com tais irregularidades, foram prete-
ridas formalidades legais de interesse pú-
blico, em detrimento dos direitos, interesses
e bom nome da Câmara e ainda porventu-
ra afastados da praça concorrentes ; e tan-
to basta para justificar a necessidade e ur-
gência da convocação reclamada,

Saúde e Fraternidade.
Certã, 31 de Agosto de 1914.

(a) Domingos Tasso de Figueiredo
(a) Antônio Nunes de Figueiredo

(a) Luis Domingues da Silva

(a) José Dias Bernardo Júnior

(a) cálbano Ricardo Mateus Ferreira
(a) Demétrio da Silva Carvalho.»

A êste ofício respondeu nos ter-
mos seguintes, o sr. presidente da
Câmara :

Do Presidente da Câmara Municipal da
Certã aos Ex.mos Vereadores Domingos

Tasso de Figueiredo e demais sinatários

do ofício de 31 de Agosto:

Só ante-ontem me chegou às mãos o
ofício em que V. Ex.º e mais cinco nossos
ilustres colegas reclâimam a convocação

“duma sessão extraordinária da Câmara a

fim de darem conta a esta de graves irre-
gularidades que precederam e acompanha-
ram a arrematação realizada em 29 do
corrente.

Sublinho estas palavras que são as tex-
tuais do ofício, escrito por V. Ex.

O artigo go.º do Código Administrativo,
por V. Ex.’* invocado, não indica à quem
nem em que termos deve ser feita a recla-
mação, mas eu não hesito em recebê-la
por me parecer que a convocação é função
inerente aos presidentes de todos os cor-
pos colectivos é ainda por analogia da dis-
posição do artigo 53.º, aplicável às Câma-
ras por efeito do artigo 103.º

Aquele artigo, obrigando à exposição dos
motivos que justifiquem a convocação, pa-
rece dar a quem recebe a justificação o di-
reito e quiçá a obrigação de julgar da pro-
cedência dos fundamentos da reclamação.

Assim, pois, deve entender-se que, para
que a convocação possa ser ordenada, ela
deve ser requerida e justificada com factos
concretos que compreendam o pedido den-

[BEBER

 

Publicação na Certã

 

Redacção e administração em

SERNACHE DO BONIJARDIM
Composto e impresso na Tipografia Leiriense
LEIRIA

na

tro da lei, com o qual o presidente tem de
conformar-se. ;

O ofício não indiça quem tenha pratica-
do as irregularidades de que os seus ilus-
tres sinatários querem dar conta à Câmara,

Suponho, entretanto, que a acusação se
refira à secretaria da Câmara e não à Co-
missão Executiva; e nesta convicção sou
induzido por ler entre os sinatários o nome
dum membro graduado da Comissão Exe-
cutiva. .

Sendo assim, como é de crer, é àquela
Comissão que V. Ex.º’ devem levar a sua
exposição, e certamente ela, por si e pelo
seu presidente, nos termos do artigo 105.º,
com: referência ao $ único do artigo 55.º,
tomará imediatas providências.

Todavia, eu não deixarei de considerar
todas as hipóteses, ainda as menos verosi-
meis, e, assim, examinarei a de a queixa de
V. Ex. se referir a actos da Comissão
Executiva. “o

O artigo 90.º, invocado no ofício, conce-
de que as Câmaras tenham as sessões ex-
traordinárias que as necessidades do servi-
ço’ público exigirem : e eu, presados cole-
gas, julgando com imparcialidade e com o
mais sincero espírito de justiça, não posso
considerar como necessidade de serviço pú-
blico o vosso desejo de dar conta á Câma-
ra de irregularidades da Comissão Execu-
tiva. E muito menos que aí esteja uma ur-
gência que justifique a convocação duma
sessão extraordinária.

Pode ser que eu esteja em êrro, mas pos-
so afirmar a V. Ex.’s que: exponho uma
convicção sincera.

Alêm do texto legal que venho de indi-
car e que me parece duma clareza iniludií-

– vel, eu ainda fundo o meu modesto parecer

noutras:considerações que peço licença pa-
ra expor.

A Comissão e a Câmara teem funções
absolutamente distintas e fundamentalmen-
te diversas (Código Administrativo, artigo

1.º).

ne Comissões Executivas são uma de-
legação da Câmara que tem a fiscalização
dos seus actos mas que sôbre ela não exer-
ce a tutela.

A Câmara não tem interferência nas de-
liberações da Comissão Executiva ; nem as
pode alterar, nem as pode suspender, nem
as pode regular, .

Uma delibera, a outra executa, cada uma
independe na esfera da sua acção.

A Comissão Executiva tem o encargo de
dar conta à Câmara das suas resoluções
em todas as sessões, tanto ordinárias como
extraordinárias, e eu não vejo na lei que a
Câmara tenha o direito de ampliar ou tor-
nar mais onerosa esta obrigação—-o que re-
sultaria da exposição de V. Ex.»s, pois a
obrigaria a dar contas da resolução a que
a queixa se referisse.

Em contrário, eu concluo da leitura aten-:

ta e ponderada do artigo 94.º que a Câma-
ra carece de atribuições para tanto, maxi-
mé no seu artigo 31.º que só lhe dá pode-
res para «conhecer de reclamações inter-

postas dos actos ou omissões das Comissões

executivas.» 1 *

O que claramente quer dizer que à Cà-
mara pertence a nobre função de julgar,
mas não tem a iniciativa da acusação.

Desta minha interpretação nenhum: pre-
juízo resulta para-a Câmara, porque, se a
Comissão tiver cometido ilegalidades, lá
está a disposição salutar do artigo 54.º,
aplicável por fórça do artigo 103.º, que tor-
na os seus membros solidáriamente res-

ponsáveis para com a fazenda municipal! ;:

e evitará, não poucas vezes, especulações

para efeitos políticos.
Sem referência, por forma alguma, a V.

Ex., que eu estou muito longe de supor

| inspirados em tai propósito.

Finalmente, a comunicação de V. Ex.
careceria de ser feita em termos concretos
de factos comprovados. E

A disposição legal que me incumbe o
julgamento da justificação impõe a quem
fizer a reclamação a obrigação de fornecer
elementos para essa decisão.

A convocação, que eu ordenasse, da ses-
são extraordinária, importaria para a Co-

missão uma suspeita, que eu não posso ir-:

rogar de ânimo leve e só com fundamentos
comprovados. E .

Sem agravo para ninguêm e sómente pe-
lo melindre e responsabilidades da minha
situação de Presidente da Câmara.

Se dum lado estão V. Ex.’* por quem eu

tenho a maior e mais respeitosa considera-:

ção, do outro lado, e não ma merecendo
menor, está a Comissão Executiva, com-

posta de homens de bem, dignos camara- .
das, nossos honrádos colegas, a quem co-
metemos o honroso encargo, que é tam-:

 

 

pd ag

 

@@@ 2 @@@

 

bêm um sacrifício que obriga a alguma be-
nevolência, de dar execu .ão às nossas de-
liberações : ao fazê lo, não os privamos do”
direito de terem opnião própria sôbre a
interpretação das disposições legais que re-
gulam a sua acção, para nos permitirmos o

direito de nos interpormos nas suas fun- |

ções, impondo lhe a nossa, que pode não

ser a melhor, e, sobretudo, sob a forma.

dura duma acusação.

Fx

Eis Fe que ea não posso deferir a recla-

mação de

Reiterando lhes os protestos da minha

maior consideração, desejo-lhes
Saude e Fraternidade

Sernache do Bomjardim, 11 de Setem-
bro de t9gr4.

O Presidente da Camara,

Vigílio Nunes da Silva.

Este documento é um modêio de

bom senso, de correcção e de in-
terpretação jurídica

Os reclamantes sáem dêle em es-
tado miserável.

O ensinamento que nêle recebem
não é só uma lição de direito: é tam-
bem um convite delicado, mas enér-
gico, a que se contenham dentro dos
prudentes limites duma conveniente
serenidade, já que não sabem man-
ter-se dentro das normas da lei.

A primeira observação feita no
ofício dos reclamantes da convoca-
ção é duma verdade tão flagrante e
reveladora duma tal desorientação
politica que condoi!

Os reclamantes queriam uma: ses-
são extraordinária para darem con-
tas de graves irregularidades, ele-
vando êste caso. às culminâncias
duma necessidade de serviço públi-
co, o que é um cúmulo.

Mas julgaram-se dispensados de
indicarem contra quem se dirigia a
denúncia, o que é, senão de incons-
ciência, pelo menos duma grande
leviandade.

Nem se sabia quem cometera es-
sas irregularidades nem ao menos
em que elas consistiram.

Um mistério!

O que êles queriam era uma ses-
são extraordinária, entendendo que
bastaria reclamá-la para que o pre-
sidente, com uma chancela incons-
ciente, lha convocasse, esquecendo-
se, porêm, de pensar se bastaria
convocá-la para que os vereadores
lá fossem…

O sr. presidente da câmara con-
sidera na segunda parte do seu oti-
cio a hipótese de a queixa se dirigir
contra a comissão executiva e tra-
ta-a duma fórma superior.

Tambem nós a tratarémos no pró-
ximo numero.

 

Em companhia de suas irmãs, as
senhoras D. Maria Amélia Corrêa
Ribeiro e Maximina da Piedade Ri-
beiro, saiu para a Figueira da Foz,
onde tenciona demorar-se algum
tempo, o nosso íntimo amigo e pre-
sado assinante, sr. Antônio da Silva
Ribeiro, dignissimo professor de en-
sino primário na freguesia do Car-
valhal.

A todos enviamos os nossos -sin-
ceros . cumprimentos, esprimindo-
lhes cordiais desêjos de que a tém-
porada balnear lhes corra propícia.

—Em visita às estradas do seu
distrito, esteve. em “Sernache. do
Bomjardim, o Engenheiro Director
das Obras Públicas, sr. Diocleciano
Alberto Feio de Carvalho.

—Procedendo ao estudo duma va-
riante no traçado da estrada que ha
de ligar a pofite da Bouçã, em cons-
trução, com a E. D. n.º 123, encon-
tra-se entre nós o hábil condutor de
Obras Publicas, sr. João Geirinhas,
de Castelo Branco.

—No dia 21 do corrente mês, vão
à praça, em Castelo Branco, quatro
tarefas de pavimento completo da
E. D. n.º r19, entre o Alto do Ca-
valo e Oleiros.

— Após alguns dias de forçado re-

pouso, encontra-se já entregue aos

seus labôres, o nosso estimado as-
sinante e abastado proprietário, sr.
António Pedro da Silva Júnior, com
o que muito folgâmos.

—Realiza-se no próximo domin-
go, dia 20, a tradicional festividade
da Senhora das Dores, no lugar, da
Roda, freguesia do Castelo, que se-
rá abrilhantada pela filarmónica de
Sernache do Bomjardim,

 

 

 

ECO DASBEIRA

Vozes…

“De

«-. de patriotas andam, por aí,
a contar os triunfos da Alemanha e a

“cantar já a sua retunbante vitória

final!

Embandeiram em arco.

E dizem êles que é uma nação ex-
traordinária, invencível.

As suas tropas, o seu estado maior,
as suas armas, os seus flancos, tu-
do é o melhor do mundo!

E, nos dominios da actividade ra-
cional e do espirito humano, um pro-
dígio!

A sua filosofia uma concepção ge-
nial: a sua poesia uma sublime ins-
piração; a sua pintura um modêlo
de colorido: e verdade: a sua músi-
ca um rítmo ideal: a indústria um
portento e o comércio um colôsso!

A França, uma nação versátil, des-
soráda, corroida de crimes e eivada
de êrros—moribunda!

Pois assim dizem êles.

E? verdade que, às vezes, na mes-
ma tarde, mudam de opinião.

Está a vêr-se-lhe o delírio!

A Alemanha a vencer a França.

Esmaga-a.

Opressa e desorientada, julga o
regime a causa da sua derrota.

Num desabafo de dôr, em paro-
xismos de fúria, sacrifica a Repúbli-
ca, em que vê a causa dos seus ma-
les.

Muda de regime! Como em 4 de
setembro de 1870. :

A Alemanha, tratando a paz com
uma monarquia será mais benévola.

“Como reflexo, claro é, imediato e
inevitável, tambêm nós mudâmos.

Nem o contrário se pode conce-
Der

Podia lá o kaiser tolerar mais rê-
públicas na Europa, sabendo-se de-
mais quanto o kronprinz contra ela
tem conspirado!?

Não viria D. Manuel, certamente.
Viria um alemão.

Há por lá viveiros deles—de ca-
valos principescos para enxertia de
reis.

Assim mesmo é que convêm aos
patriotas.

Mas o diabo–o mafarrico mete-
se sempre nestas coisas—o diabo é
que as demais nações, fartas de atu-

rar as grosserias germânicas, resol-

veram, a bem da humanidade, ex-
propriar ou reduzir o colôsso.

O mundo deliberou a sua aniqui-
lação, e ela será aniquilada.

Com mais ou menos sangue, maior
ou menor dôr, à vista ou a prazo, é
liquidação certa e resolvida, numa
rectificação de fronteiras, com um
posto para os japoneses se a sua
oferta de 200:000 nipons chegar a
ser precisa, e a sangria duma boa
indemnização, com melhor cálculo
de que ela fez em 1870.

A Inglaterra sabe melhor de con-
tas!

Como a sua veia do tesouro não
dará uma gôta, um corpo de exérci-
to aliado ficará ocupando a Prússia
ou a Baviera, para ir arrecadando
os impostos e vigiando, por muitos
anos… :

Tal qual como ela fês na data su-
pra, por menos tempo.

Ora, desta maneira o regime em
França ficará de pedra e cal: e a
república portuguesa, tendo nêste
gigânteo movimento e nêle tomado
uma posição honrosa e brilhante,
comparecerá dignamente no. con-
gresso da paz, onde será ouvida e
aí marcará definitivamente o seu lu-
gar no concerto das nações.

Consolidar-se há, consolidando a
nossa nacionalidade.

Ficarão integradas—Pátria e Re-
pública.

Adeus sonhos de restauração !

Organizada a carta do mundo, a
Europa não permitirá mais altera-
ções nem quererá mais bulhas.

Não se anda a mudar de regime
e a perturbar o socego europeu à
solta…

Vai-se o delírio duma monarquia,
mesmo com um rei alemão.

Que, portugueses, não os houve
nos últimos séculos. Ê

Ora, aqui, é que lhes dóe, e, em
quanto é tempo vão gritando pela
Alemanha .

 

 

As boas almas!

Gritando e mexendo-se…

E fica-se a gente a pensar se tais
criaturas seriam geradas em útero
português ou nalguima tripa alemã—
estes filhos da pátria, como dizia ha
dias um distinto jornalista.

“E falam com uma sciência os pa-
triotas, que parece conhecerem me-

“lhor os planos da guerra do que,

muitos deles, o regulamento dos
funcionários públicos, mesmo os que
diziam sabê-lo de cór e teem de vi-

giar pelo seu cumprimento.

A prognosticarem e a quererem o
triunfo duma nação com a qual-es-
tâmos virtualmente em guerra!

A desejarem para a pátria alheia
uma vitória que seria a perda da nos-
sa!

A isto chegamos!

E, assim, de lêtras e trêtas, depo-
sitários dum princípio de autoridade
ou servindo uma função da Repú-
blica, êles vão formando o espírito
cívico dos ingénuos que os ouve e
que amanhã irão tomar o armamen-
to e o eguipamento que os espera
nos arsenais do exército, para mar-
charem para o teatro da guerra.

Com a alma ardente e o ânimo
assim fortalecido, pelos sábios pa-
triotas cá da terra, que lhes dizem
que tem de vencer e há-de vencer
o inimigo contra o qual êles vão
combater !…

Grandes patriotas!

E se algum dia, quando isto en-
trar em: obras, lhes cair emcima
algum bocado de ceu velho, talvez
se admirem…

Pois, é verdade, fica a gente a
pensar se êles foram gerados em
útero português ou nalguma tripa
alemã-—estes filhos da pátria!

*

A da Beira, fazendo «justiça a
todos» regista que conseguiu do sr.
presidente da comissão executiva
que mandasse limpar o busto.

—Não, senhor: nós é que o con-
seguimos do vereador do pelouro.

Justiça a todos…

E muitos agradecimentos.

QUADRAS

Deixa tombar da janela
Essa trança de oiro antigo,
Para eu trepar por ela

E ir lá cima ter comtigo.

+ O sol, ao passar ao cume
Da tua casa, onde eu entro,
Escurece de ciume…
Quando me avista lá dentro!

Fomos beber água à fonte,
Tu bebias… e eu bebia…
Eu dum lado e tu defronte,
Água e beijos… à porfia!

Entre essas pomas de arminho
Onde a neve se condensa,
Fazia a rôla o seu ninho

Se tu lhe desses licença.

Tece 6 alma tece, minha aranha mansa,
A teia da vida no tear dos anos:

Urde-a de quimeras, tapa-a de esperança
-«» Cairão enxames de atrós desenganos.

(Acoreanas)
M. A. do Amaral.

ess ds
Ponte da Bouçã

Vão muito adeantados os traba-
lhos da construção da ponte da Bou-
çã, que já excederam a altura má-
xima das cheias do rio.

A continuação dos trabalhos, por
isso, vai ser dada de arrematação.

PASS Saeisco
Regressaram já á Certã os nossos
amigos, Joaquim Pereira, digno ins-
pector escolar e dr, Farinha Tavares,

distinto advogado, que seguiu logo
para a sua casa de Proença-a-Nova.

as sc
“E’ da Capital, com a devida vé-
nia trascrito, o nosso editorial,

 

O credo do amor

POR
A. DAUDET

O seu ideal consistira sempre em
ser a mulher dum poeta… Porêm,
o implacável Destino, em vez da exis-
tência romântica e febril que ambi-
cionava, arranjou-lhe uma vida feliz.
e mui tranquila, casando-a com um
rico financeiro de Auteuil, amável e
delicado, um pouco velho para ela,
e que só tinha uma paixão comple-
tamente inofensiva-e pacifica: a hor-
ticultura.

O bom do homem passava o tem-
po, podadeira na mão, ocupado em
fazer frondosa uma colecção de ro-
seiras, em aquecer à estufa e regar
os alegretes; mas é preciso que con-
cordeis em que para um coraçãosi-
nho faminto de ideal, tudo isso não
era suficiente. Contudo, durante dez
anos a sua vida manteve-se monó-
tona e uniforme como as alamedas
areiadas do jardim de seu marido,
e foi-a suportando a passos conta-
dos; ouvindo com resignação o ruí-
do fastidioso e sêco das tesouras de
jardinagem, sempre em movimen-
to, ou a chuva monótona, infinita,
que caía dos regadores sôbre as sa-
ciadas plantas.

Aquele horticultor furibundo ti-
nha com sua. mulher o mesmo me-
ticuloso cuidado que com as suas
flores. Media o frio e o calor que
deviam reinar no seu salão, cheio
de ramos e fôlhas, e temia que apa-
nhasse o rócio de Abril ou sol de
Março; e como a essas plantas co-
locadas em caixotes que se tiram
ou se pôem em determinadas épo-
cas do ano, assim a fazia viver me-
tódicamente, com a vista posta no
barómetro e nas variações da lua.

Assim viveu ela largo tempo prê-
sa entre as quatro paredes do jar-
dim conjugal, inocente como uma
clematite, porêm com aspirações

” para outros jardins menos regula-

res, menos burgueses, onde as ro-
seiras crescessem com todos os seus
ramos, onde as matas silvestres
subissem mais alto do que as árvo-
res e estivessem carregadas de flo-
res fantásticas, desconhecidas, em
liberdade, e acariciadas por um ‘sol
mais forte.

Estes jardins só se encontram nos
versos dos poetas; assim é que a
pobre lia muitos versos às escondi-
das do horticultor, o qual, em ma-
téria de poesia, não conhecia mais
do que os versos dos almanaques
alusivos ao tempo.

Sem poder escolher, a infeliz de-
vorava sôfregamente os peores poe-
mas, com tanto que neles encontras-
se rimas de amor e paixão; fecha-
va depois o livro e passava horas e
horas sonhando acordada e suspi-
rando: «Este é o marido de que eu
necessitava !»

Provavelmente tudo isto houvera
ficado no estado das vagas aspira-
ções se no momento, terrível para
as mulheres, dos trinta anos, que é
a idade decisiva para a virtude da
mulher, como o meio dia é a hora
decisiva para a belesa do dia, não
houvesse encontrado no: caminho o
irresistível Amanry.

Amanry é um poeta de salão,
um desses exaltados de fraque e
luva branca, que vão entre as dez
e as doze da noite cantar em reu-
niões os seus êxtasis de amor, as
suas desesperações, as suas embria-
gueses, melancólicamente apoiados
à chaminé, à luz dos lustres e can-
delabros, emquanto as mulheres,
em traje de baile, os escutam, as-
sentadas, formando semi-círculo,
extasiadas, por de traz dos seus le-
ques.

Amanry passava por ser o ideal
do género. Cabeça de sapateiro ro-
mântico, fundas olheiras, côr páli-
da, penteado à russa e cabelo mui:
to untado com pomada húngara.

E” um dêsses desesperados da vi-
da, dêsses que as damas tanto gos-
tam, sempre vestidos à última mo-
da; um lírico de ponto em branco
em quem a desordem da inspiração
só se adivinha por o nó um pouco

frouxo da gravata feito descuidada- |

mente. Assim é que são admiráveis
os seus êxitos quando com voz €es-oz €es-

 

@@@ 3 @@@

 

tridente recita uma tirada do seu
poema O credo do amor. Mórmen-.
te aquela que terminava com êste
verso assombroso :

Eu creio no-amor como creio em Deus! +

Não sei porquê, suspeito que a
êsse farçante lhe dê tanto cuidado
Deus como tudo o mais; porêm, as
mulheres não dão importância a tão

pouca coisa. Deixam-se fácilmente

impressionar | por o som das pala-
vras, e cada vez que Amanry recita
o seu Credo do amor, ficai seguros
de ver ao redor do salão lequinhos
vermelhos que se abrem como que
para engulir êsse fácil anzol do sen-
timento.

Um poeta que tem um bigode
tão bonito e que crê em Deus!

A mulher do nosso jardineiro não
lhe resistia, Em três sessões ficou
vencida.

Porêm, como havia no fundo da-
quela natureza elegíaca alguma coi-
sa de honrado e altivo, não quis co-
meter uma falta mesquinha. Alêm
disso, no seu Credo do amor, o
próprio poeta declara que só com-
preendia uma classe de adultério:
aquele que caminha com a cabeça
erguida, desafiando a lei e a socie-
dade.

Tomando, pois, o Credo do amor
por guia, a joven evadiu-se brusca-
mente do jardim de Auteuil e foi
lançar-se nos braços do seu poeta.

-—Não posso viver mais tempo
com ésse homem. Leva-me contigo!

Em casos assim, o marido cha-
ma-se sempre êsse homem, ainda
que seja jardineiro por afeição.

Amanry teve um momento de as-
sombro. Como imaginar que uma
mulher de trinta anos tomaria a sé-
rio um poema de amor e o seguiria
tanto à letra!

(Continua)

SS SE

«O tipografo»

Com êste título começou a publi-
car-se um jornal, em Castelo Bran-
co.

Não tem política.

Cumprimentamos o nosso coléga,
desejando-lhe. prosperidades e lon-

ga vida.
enFRS So
Uma anedota

Se não é anedota, parece-o, ainda
que não faite quem afiance tratar-se
de um episódio histórico. O certo é
que a história tem a sua graça, e
como tal a reproduzimos sem a mais
leve sombra de intenção desprimo-
rosa para Guilherme II. Mas ela dá
a impressão geral sobre os resulta-

dos da trágica aventura alemã, lan- –

çando-se armada contra todo o mun-
do. Fôra o caso que ha dias em Ber-
lim, em uma qualquer rua se encon-
travam dois alemães discutindo com
entusiasmo e calor os assuntos da
guerra. Um deles, no mais acêso da
conversa, naturalmente por não es-
tar-contente com o caminho que as
coisas alemãs tomavam, chamou
doido ao imperador.!Uma polícia, que
perto passava, ouvindo a blasfêmia,
acercou-se dos dois alemães e deu-
lhe voz de prisão. Observação dos
germânicos:

—Ora essa! mas presos porquê?

-—Porque chamaram doido ao im-
perador !

— Engana-se. Nós chamamos doi-
do mas não foi ao nosso imperador.

Estavamos falando do imperador
da Russia.

E o polícia espertalhão, sorrindo
com ironia e superioridade:

Não vou com essas. Imperador
e doido ha um só, e esse é o nosso.
Portanto estão presos!

A história não passará de uma

anedota inventada num momento de
bom humor. Mas ela mostra bem a
impressão geral sôbre o que seja a
camisa de onze varas em que o im-
perialismo germânico meteu os seus

exércitos.
— e 19.

O que o género humano sabe, é

pouco; o que deseja saber, muito ; .

o que ha-de sempre ignorar, infini-
to, E

 

 

EGO DA BEIRA

 

 

VARIEDADES

Os invejosos

 

Os invejosos reconhecem-se até
pelo semblante. Teem o olhar sêco
e baço, as faces descaídas, os so-
br’olhos franzidos : a sua alma tur-
va de paixão não tem a faculdade
de discernir a verdade nas cousas.

Aos olhos dêles não há acção lou-

vável e virtuosa, não há elogiência

que a magestade e a graça realcem,
nada do que é admirado lhes atrai
as vistas. :

Os abutres inclinam-se para a po-
dridão, atravessando no seu vôo pra-
dos floridos, sítios encantadores e
olorosos.: As môsças desamparam
as cousas sadias e apinham-se em
volta das úlceras. O mesmo são os
invejosos: o que na vida é resplan-
decente, o que é grande nas acções
humanas nem sequer dêles o consi
deram, mas apegam-se às partes
fracas, e se porventura alguêm fra-
queja, como não raro acontece à
nossa fragilidade, tratam logo de o
divulgar, é assim que pretendem re-
presentar os outros, similhantes à-
queles pintores maliciosos que nos
retratos relevam um nariz disforme,
uma cicatriz, ou qualquer mutilação
proveniente da natureza ou de um
desastre.

Os invejosos são estranhamente
hábeis em voltar para o malo que é
louvável, em conspurcá-lo, em ene-

recer a virtude atribuíndo-lhe as
eições do vício mais próximo. Cha-
mam à valentia temeridade, à justi-
ça crueldade, à prudência astúcia :
na boca dêstes detractores o fausto-

-so é um homem de mau gôsto, o

liberal um pródigo, o poupado um
avarento. Em uma palavra, todos os
géneros de virtude, acham infalivel-
mente neles um nome tirado do ví-
cio oposto.

S. Basílio. Homilia sóbre a Inveja.

A Pátria

A pátria não é a terra, não é o
bosque, o rio, o vale, a montanha,
a árvore, a bonina; são-na os afec-
tos que estes objectos nos recordam
na história da vida: é a oração en-
sinada a balbuciar por nossa mãe, a
língua em ei pela primeira vez ela
nos disse: Meu filho! A pátria é o
crucifixo com que nosso pai se abra-

çou moribundo e com que nos abra-.

çaremos tambêm, antes de ir dór-
mir o grande sono, ao pé do que
nos gerou, no cemitério da mesma
aldeia em que êle e nós nascemos.
A pátria é o complexo de famílias
enlaçadas entre si pelas recordações,
pelas crenças e até pelo sangue.
Uma nação não é só metafóricamen-
te uma grande família, é-o tambêm
no rigor da palavra.

A oração que consolou nossos
avós e nos consola no dia da amar-
gura: o gesto com que implorâmos
a Providência é mais veemente quan-
do nos foi transmitido por aqueles
que pedem por nós a Deus.

E” por êsse meio que os homens
apertam mais Os laços invisíveis que
os unem aos seus maiores; porque
o sentimento misterioso da família,
e portanto da nacionalidade, se pu-
rifica e fortalece quando se prende
no ceu.

4. Herculano.

x
x +
No lar paterno

Lá fora, o egoismo torvo dissoluto,
crava-me n’alma o espinho da traição:
aqui, no lar paterno, ledo escuto

a voz do amor, que enleva o coração…

Aqui os belos dias, que disfruto,
em plena e doce paz, doirados são
do sol formoso, aurífero, impoluto,
da meiga esp’rança e casta dilecção.

D’ingratos a favor, eu não devia
um momento gastar ; e, todavia,
que noites de cansaço e de vigília!…

Longe deles, agora, viver quero:

pois só tenho por firme e por sincero

um sacrosanto amor—o de família!
A h

José Maria Ançã.

 

 

A literatura

A literatura não tem outra razão
de existir senão o bem moral. A
sciência competem-lhe as mais du-
ras verdades: mas quem explora a
ficção, tem obrigação, pelo menos,
de a armar de maneira que não de-
prave os corações,

João de Deus.

x
* *

Doce missão…

A mulher não tem só o poder de
amparar e erguer da queda, mas
tambêm o de consolar. A natureza
que lhe deu o mágico tesouro das
lágrimas, dotou-a tambêm com o
meigo dom do confôrto. A mulher
opera o milagre de chamar o sorri:
so aos lábios quando as amarguras
do infortúnio alanceiam o coração.
Por uma espécie de generosa hipo-
crisia, faz reviver em tôrno de si a
paz que perdeu, e tendo ela mesma
uma ferida incurável, suavisa e sa-
ra, quanto em si cabe, as feridas
dos que a rodeiam.

Paul Janet.

*
*

Imagem da vida

Na verde margem dum rio,
Que se ía perder ao mar
Junto á mãe, era, no estio,
Uma creança a brincar.
Eil-a pára, fita as águas,

E, como scismando mágoas
Que, de certo, inda não tem,
—«Qnde vai esta corrente,
E voltará novamente?…»
Pergunta a creança á mãe,
—Vai sumir-se lá distante
Do lugar onde nasceu»,

A mãe com triste semblante
Lhe respende olhando o céu;
«E nessa velós passagem

Te mostra fiel imagem

De nossas vidas mortais;

As águas, que, ha pouco vias
Não voltam; e nossos dias
Como elas, não voltam mais!»

J. de Lemos.
*
x *%
Maria

Maria! coração ralado de tormen-
tos, és sempre carinhosa em rece-
ber o depósito das nossas lágrimas!
Maria! bemdita entre as mulheres,
pomba mística que desces do seio
dos anjos a pousar sobre o coração
do homem que te chama na hora
do seu remorso! Maria! formosa
palma de justiça, lírio puríssimo de
castidade que floresces no seio da-
queles em que a mão do crime se-
meara espinhos de tormentos e de-
sesperação! Maria! carinhosa mãe,
que me foi dada no Calvário, a mim
orfão dos afagos daquela, que tão
cedo me abandonou no meu primei-
ro sono de inocência! Maria!
Cumpri em mim aqueles destinos
que vosso Filho nas agonias do pas-
samento vos confiou! Sêde o meu
amparo para que eu não mormure
nas minhas horas de desfalecimento
aquela penetrante queixa de vosso
Filho :

—Meu Deus, meu Deus, porque
me desamparaste ?

C. Castelo Branco

AGRICULTURA

Aves úteis e nocivas

 

 

(Conclusão)

Facilmente isto se póde obter des-
de que os lavradores, os professo-
res de iustrução primária e os pro-
prietários de terrenos vedados se
resolvam a cumprir o seu dever.
Emquanto aos professores compete-
lhes a obrigação cívica de fazerem
prelecções aos seus alunos sôbre as
vantagens de proteger as aves úteis,

não só não lhes destruindo os ni- |

nhos mas ainda deixando de as apa-
nhar com armadilhas de diversa es-
pécie.

Os lavradores e proprietários de

 

terrenos vedados protegeriam as
aves úteis proibindo aos seus domés-
ticos e trabalhadores todo e qual-
quer ataque donde resultasse a sua
destruição.

O parque Bomjardim, as quintas
e quintais de Sernache poderiam
assim transformar-se em verdadei-
ros viveiros onde tais aves fizessem
os seus ninhos com toda a seguran-
ça.

Aos lavradores compete ainda avi-
sarem os seus pastores para que es-
tes não destruam os ninhos que en-
contrem longe dos povoados princi-
palmente os de perdiz e mélro, duas
espécies que começam a rarear no
nosso meio. – e

Entendo até que os caçadores da
região sernachense deviam chegar
a um acôrdo e compromisso de hon-
ra de não dispararem as suas espin-
gardas sôbre as aves úteis a não ser
o estorninho, o tôrdo, o pardal e a
perdiz. A rôla e’o mélro deviam ser
poupados durante dois ou três anos
para evitar seu desaparecimento.

Se todos os meus patrícios mais
ilustrados e inteligentes quisessem
realizar esta obra benemérita come-
çariam por explicar aos seus traba-
lhadores, sempre que se lhes ofere-
cesse ensejo, as grandes vantagens
que a todos nós podem advir da pro-
tecção às aves úteis.

O mal das árvores póde atribuir-
se a três causas principais que são:
a depauperação do terreno, a falta
de humidade e os micróbios espe-
ciais que atacam cada uma delas.

A depauperação do terreno resul-
tante de causas várias como sejam
a cultura intensiva, a falta de estru-
mação, a deficiência de gados, etc.,
pode corrigir-se pela cultura alter-
nada, pelãs adubações apropriadas
e pelo desenvolvimento de gados,
principalmente cabras e ovelhas, que
insensivelmente, mas seguramente
vão concorrendo para salvar os nos-
sos soutos e olivais. A falta de hu-
midade que tanto concorre para a
seca de certas árvores preciosas pó-
de modificar-se pela plantação de
massiços de outras em testadas quási
inúteis para qualquer outra cultura.

Emquanto às doenças micróbia-
nas. das árvores o melhor remédio
e mais eficaz está nas áves que de
graça as limpam dos insectos noci-
vos.

O que se deu na nossa região com
a doença dos castanheiros, uma re-
gião quási perdida, e das laranjeiras
e oliveiras que começam a secar tam-
bêm, deve preocupar-nos e resol-
ver-nos a proteger sériamente as
aves que são, neste caso, os melho-
res auxiliares de que devemos utili-
sar-nos. Tambêm não devemos es-
quecer o serviço relevantissimo que
nos prestam aos pomares. Não sei
se êste meu grito de alarme conse-
guirá abalar a indiferença de muitos
que vivem despreocupadamente do
dia de amanhã. Oxalá acordem a
tempo e procedam como devem. En-
tretanto, eu varro assim a minha
testada para que ninguêm possa di-
zer, que podendo ser útil à minha
terra lhe neguei, ingratamente, o
meu concurso modesto.

Sernache, 28-8-g14.

P. Cândido Teixeira.

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Agua da-Foz’ da Certa

F

A Agua minero-medicinal da Foz da Certã apresenta uma composição
quimica que a distingue de todas as outras até hoje uzadas na terapeútica.

E” empregada com segura vantagem da Diabetes—Dispepsias— Catar.
ros gastricos, putridos ou parasitarios;—nas preversões digestivas derivadas
das doenças infeciosas;—na convalescença das febres graves; —nas atonisa
gastricas dos diabeticos, tuberculosos, br ighticos, etc.,-—no gastricismo dos
exgotados pelos excessos ou privações, etc:, etc.

Mostra a analise bateriologica que a “Agua da Foz da Certã, tal como
se encontra nas garrafas, deve ser considerada como microbicamente
pura não contendo colibacitlo; nem nenhuma das especies patogeneas
que podem existir em aguas. Alem disso, gosa de uma certa acção microbi-
cida. O B. Tifico, Difeterico e Vibrão colerico, em pouco tempo.
nella perdem todos a sua vitalidade, outros microbios apa porém re-
sistencia maior.

A Agua da Foz da Certã não tem gazes livres, é limpida, de sabor le-
vemente acido, muito agradavel: quer bebida pura, quer misturada com

vinho,
DEPOSITO GERA

RUA DOS FANQUEIROS —84—LISBOA
Telefone 2168168