Eco da Beira nº1 16-08-1914

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SEMANARIO. POLITICO

 

 

 

? “Assinaturas: ;
Ano… vs dei picas «0º LADO!
Semestre… er a «Sc asa

Brazil tmoeda braziteira) Smocm

 

Anuncios, na die Ar prsino 2 cen-
tavos alinha om Espaço de linha

“O Eco da Beira é, sem emba-
ges, um jornal politico, com fi-
liação partidaria—assenta praça
no Partido Republicano Portu-
guês..

Ao serviço da Republica lan-
camos este modesto semanario,
na: propaganda e consolidação
dum regime ao qual estão indis-
soluvelmente ligados os destinos

dêste país.
Desta tribuna faremos a sua

“defesa com a mesma dedicação,

com o mesmo entusiasmo e com
a mesma isenção com que nou-
1ros campos e por. outros meios
lhe temos dado o nosso: traba-
lho incessante, esforçado e sin-
cero, vindo da convicção segura
“deque só a República pode ain-
da fazer O resurgimento. desta
patria e com aintima satisfação
do dever cumprido,

“Tendo de estolher o campo
de combate, não foi para nós
duvidosa a escolha da bandeira
de que deviamos acercarmo-nos
—=aquela em volta da qual se
reune e trabalha e luta uma forte
agremiação partidaria, rigida e
dedicadamente. disciplinada, ar-
dente de fé e’ de patriotismo,
com um brilhante estado-maior
de homens dé governo, alguns
dos quais de competencia já hon-

rosumente comprovada na ge-
rência dos negocios publicos,
oferecendo-nos a garantia: de
que o seu programa continuará
a ser leal e escrupulosamente
cumprido.

Mas, se hesitações nos fossem
permitidas, elas se dissipariam
perante a lição dos ultimos acon-
tecimentos, denunciadores da
desordem e desorganização dos
outros grupos políticos e do des-
vario dos seus homens, imprú-
dentes e insensatos uns, em ca-
maradagens mais do que suspel-
tas, irritantes ev inconvenientes
outros, na’ exploração ji
nha de pequenos escândalos,
momento em que a Republica
ao seu bom senso suplicava um
bocado de dedicação e quando
os’ interesses da pattia do seu

patriotismo esperavam uma leal,

cooperação no estudo de impor-
tantes problemas de administra-
ção publica!

Na serenidade da sua atitude,
na firmeza das suas resoluções
e na generosidade das suas con-
descendencias, o parúdo repu-
blicano português, que, em 13

“brilhantemente, um: partido de
ove tio! é ordem, impór-se nes-

 

meses de poder, se afirmara já,

a
a
x
e

ta conjuntura é confiança: do
país, como sendo o unico que
lhe pode dar as prospéridades,
que uma intehsa c memoravel
propaganda lhe prometeu, e Ã
Republica a paz que ela pede e
quer, ao cabo duma longa é ex-
tentiante caminhada revolucio-
naria.

Atraiu-nos ainda a esse parti-
do a admiração que tributamos
ao homem que o guia e o domi-
na: a confiança que temos nas
suas excepcionais qualidades de
trabalho, na sua sem duvida ne-
nhiima privilegiada: inteligencia;
no sey acendrado patriotismo,
na sua pronta decisão sem pre-
cipitações, na sua energia sem
violencias, na-sua admiravel pre-
visão sem enganadoras miragens,
nesse complexo de qualidades
que nele se reunem, enfim, é
que a nossos olhos, amigos mas
não aduladores, o elevem Como
o maior, senão o unice, homem
de governo da: Rephhica; neste
momento critico da atra” pare
tuguêsa.

A nossa bandeira. pois, é a
bandeira do partido republica-
no português: e ao juciar a pu-
blicação dêste jorna, apresenta-
mo-nos ao directorb do partido
e lhe enviamos as nossas sau-

“dações,
can eo

Um individuo, jus andou pela
Africa 4 tratar da ida e que se jul-
ga um missionári só porque mo-
Fou aito AOS, dé Baia Do olégio
das missões, tome, de conta alheia,
uma coluna e pic da Vos da Beir a
para salihear ums limúrias em gui-
sa de crítica à atninistração daque-
le instituto,

Lã iremos,

Merado do peixe

Como notiiâmos no axtracio das
sessões cum arias da Camara Mu-
nicipal, na aa sessão de quinta-fei-
ta, tomou eliberações que resolve-
rão de ve essá questão que tanto
ulimentom pasmaceira indigena,

Dovdia 5 em dianité será uplica-
da a multlegal a cada um dos ven-
dedores + peixe que o exponha Ã
venda Tóç do lugar determinado pe-
la Gamai, &, quando os infractores

não a pyuem em 3 dias, será dada
participião | pura juízo.

Para cautelar é prover is ncões-
sidadeslo publico, a Camara man
dará v e espord’ à venda, de sua
conta, fodas as semánas, nos três
mercaos dó concelho, o peixe ne-
cessao para u-consimo.

Prrenído fica, pois; o publico que
no do 1 já terá peixe barato no
largedas Avdcias. Lucrou êle com
au tenosia!: %

 

PROPRIEDADE DO CENTRO REPUBLICANO DEMOCRATICO
DIRECTOR — ABILIO MARÇAL

 

Editor e administrador “ALBERTO RIBEIRO

= mago ma, armuram em

 

POLITICA LOCAL

ge

 

A uprescntação “dêste jornal’fies
feita no seu lagar proprio e alb de-
fisida a sua situução,

Nada mais temos que dizer.

Afirmar que o Eco da Beira de-

fenderá os. interessus dêste conçe.,

lho seriajum prolixidadee porven-
uva uma impropriedade.

Este jornal pertence a um parti-
de político, com uma Jorte organi-
“usão partidaria —a mais forte eva-
ligsa dêste concelho.

Incúmbe-lhe’ mais ‘do que defen-
der.os seus interesses: impõe-se-lhé
o dever de promover os melhora-
mentos e o progresso dusta régião.

(O partido demperatico não trairá
esse dever,

Senhor de todas as posições po-
lricas “dêste concelho, ele saberá
er as digna e patrioticamente

ei trabalhar pelo engrandecimento

da nossa teria.

O Eco de Beira é assim, Um
elemento de ucção dessa organização
partidaria;’o portisvoz dessa politio
ca ulevantada que tetide “a “consoli-
dação da Republica v quer efará’a
prosperidade é bem estar desta ré
Elâu.

— E teremos cumpeido o nosso de-
ver,

 

 

Cá estamos!

“Tamo gritaram por nós.
se Dós fossemos surdos!

Não vimos ufrontar ninguem.

Erram os que nos supuzerem com
o proposito de agitur ou permútbar
a vida politica do ones. neste
momento tenebruso da historia da
Europa,

“Tomamos apenas posig
Têsa,

Tenham dignidade.

Discutama, mas não injuriem.

Elevem-se em assômos de serie
dade, não se dedisnem en casqui-
nadas imbecis.

À enitica não pode ser uma men-
tira permanente, à peincipiar ba ta-
em da tenda.

À politica. não pode ser uma al-
lurja onde sé açhincalhem, homens
de bem e reputação hunesta.

Não. Peló menos, impunemente.

Ninguem, com justiça, nos. púde
acusar de undar por aí a denegrir
reputações vu a prémeçer odescré-
dito de ninguem.

Abominamos às profissionais da
difamação, que nos causado dó no
esyurmar das suas miserias.

O homem com quem cortamos
relações deixou de existir para nós
—pura dele falatmos ou ácgrea del
ie ouvirmos.

Não temos O mau séstro da pro-
vocação, mas temos por habito não
fugir da luta.

E muitos sabemos ternos em
que costumamos mantel-a.

Em. guarda, pois, ficamos: são
em defêsa propria, que por essa
não dariamos um passo, ipas em
defêsa do mósso gartido e dos ami-
gús que, por cle, servem cargos pur
blicos, com tumta honestid
petentia comb aqueles ‘ que, p
tinta

– Como

cs de de-

 

 

 

 

Ec

so bom amigo, dr. Vi

 

 

 

Publicação ne na a Certa
“Redacção a ARA cão em

SERNACHE DO DO BOMJARDIM

Composto & impraésa na o na Tipegrato Loirionsa
LEIRIA :

 

 

q ozes ..
A ter “Beira promete dinero uma
edição; para distribuição gratis nos
muaieipés; dorelatorio da comissão
exCcutIva.

-—Confanda.nos!

E tomprávúras a cimo 7

— Tanto incomodo ! ;

Diz que deve ser soberbo:..

—Sião favores, são favores.

*

A mesma voz:

 

 

«Ainda está. de pé, o artigo 47
do codigo administrativos. ê

Ainda. Está com receio de sé as
sentar em cima da virgula: ae lhe
cravaram.no pé less

pr: RE
E prometemos para breve aque-
las sandosas cronicas ligeiras, do
compadre Ventura edo amigo Fer
reto de Vaguinhas! o
Muitos parabens.

Mas tenham té cuidadinho” com :
tocar do Pole?” 4

 

* iu
Diz a sobredita:

*Ha quem diga para af, que ses j
fez a aquisição de novos cordel
nhos, para a pecas ao tauroma-
quicas,

Fez. E de cabrestos, 10
À
À mestnd voz:
sFontes e pontes. »
Não se desquidem. os interessa

dos, olhem que vstamos a dois dias:
dus eleições»,

Muito abri gadinho. Mas, não se
insomude, Ci cuidaremos disso.

Em matéria de fontes É que esta-
mos um tanto atrasados,

“Mas lá iremos ! ! i

 

 

”
Outra voz:

«A chegada do, mietorio que maa-
dou vir a comissão: haverá musica,
foguetes, luminarias e balão».

Como. lhe serve qualquer pedra,”
deu-lhe para. embirrar com o mi-

 

em lá u pedra ao homem.
«Ele, que. grita, alguma razão
tera.
ol

Etal a velocidade a automo-
veis que até parece que levam azas!
Pelo menos aos, moradores ali da
rua do Vale, que nem veem á jar
vela com medo que eles lhe entrem
pela dita,

O do Painho já sobe ladeiras de
Soh. Ainda havemos de vélos Ã
trepar vos pinheiros,

E deve sér uma delicia andar às
pinhas de automovel !..

apesar
Parabens

Dãmo-lós, mai afecridene, ao nos-
reilio Nunes
da Silva, pelas notaveis provas de
inteligencia” & estudo de sua filha M
da, que no seu exame de’o.º grau
pbteve a classificação de= vpiimo,
“Tao sr Olimpio Amaral,

exame de seu filho Manuel,

 

 

| sprovádo com d digassprovádo com d digas

 

@@@ 2 @@@

 

Camara municipal

Teve no dia 3 a sua primeira ses-
são neste trimestre a camara muni-
cipal dêste concelho. :

O digno presidente da comissão
executiva, sr. Herminio Quintão,
aludindo ao passamento dos srs.
João da Silva Carvalho, antigo pre-

sidente e Mantel da Cruz Prata,

vereador em exercicio, fez o seu
elogio, propondo que, como «mani-
festação de sentimento, fosse levan-
tada a sessão.

Assim se resolveu, depois de,
sob proposta do sr. Luis Domin-
gues, ser consignado na acta o, seu
sentimento pelo falecimento da vir-
tuosa esposa do sr. Almirante Fas-
so de Figueiredo e da sogra do sr.
vereador José Mendes. .

SESSÃO DO DIA 6

– Presidencia do sr. Ciriaco San-
tos. : !

Liday aprovada e assinada a acta.

O sr. Luís Domingues recomen-
da-á comissão executiva que não
gaste dinheiro em obras, sem gran-
de necessidade, por causa da guer-
ra.

O sr. Herminio. Quintão dá-se
por entendido e »agradece a reco-
mendação.

Em seguida lê o. relatorio da co-
missão . executiva, que manda-para
a mesa.

—O sr. José Mendes requer a
urgencia para a proposta da comis-
são sobre o. mercado: do peixe e
que ela, consequentemente, entre
logo em discussão.

A camara “assim “resolve, e: em
seguida, após larga discussão, apro-
va a proposta, que era concebida
nos seguintes termos:

«1º — é a: comissão. executiva au-
torizada a. adquirir todas as sema-
nas, directamente.e por conta pro-
pria, o peixe necessario, para abas-
tecimento, dos mercados de Serna-
che, Certã e Pedrogam, que ela po-
derá fazer: vender, nas circunstan-
cias e pelo preço que os. interesses
do publico e os do municipio lhe
recomendarem.

2º–Paratal fim e quaisquer ou-
tras despesas: necessarias á execu=
ção desta deliberação é autorizada
a verba de 200 escudos»,

Depois duma breve troca de ex-
plicações entre o sr. José Dias Ber-
nardo e o sr. Herminio Quintão
sobre o serviço da’secretaria; nas
suas relações com um: jornal da’vi-
la; foi levantada a sessão.

3.2 SESSÃO
Presidencia do sr. Ciriaco Santos.
Secretarios—srs. Antonio Mouga

e José Dias Bernardo.

Lida a acta da ultima sessão ; foi
aprovada sem discussão e logo assi-
nada pelos vereadores presentes.

Entrou em seguida em discussão
o relatorio da Comissão executiva.

Contra ele falaram alguns verea-
dores da minoria, em considerações
arrastadas é sem interesse, respon-
dendo! a todos triunfantemente o
presidenté da Comissão, sr. Hermi-
nio Quintão.

Defendeu-o tambem o sr. Antonio
Mouga, que apresentou à seguinte
moção, que deverá ser votada na
proxima sessão :

 

«A Camara, afirmando a sua de-
dicação pela Republica e pela causa
do povo, contra quaisquer infelizes
insinuações, que repele, declara-se
absolutamente satisfeita com o pro-
cedimento da sua comissão executi-
va, dando a súa inteira aprovação a
todos os seus actos.

Sala das sessões, em 10 de Agos-
to de 1914.

É O verendor,

cântonio EMcuga.»

Em seguida passou.a Camara a
deliberar sobre a materia do oficio
do Governo Civil, que à Camara
fazia algumas considerações acerca
da percentagem, lançada sobre as
contribuições do Estado.

Sob proposta do sr. Herminio

* Quintão, a Camara aprovou que es-

ta contribuição, que era de 60 /o,

Рf̫sse reduzida a 42 */0.
E encerrou-se a sessão,

 

 

 

ECO DA PEIRA

*

Pablicarémos nó proximo nume-

ro o relatorio da comissão execu-

tiva.
E) de graça, mas sem ilustrações.

DESGANÇO SEMANAR

Sob este titulo, publica o jornal
do sr. dr. Antonio Vitorino a se-
guinte local:

«Segredam-nos aqui do lado, que
numa casa do Estado, cá do conce-
lho, ‘se contrataram costureiras sob:
a condição de trabalharem ao do-
mingo.

E então a lei do ‘descanço sema–*

nal?
Isso é para (os outros.»

Como se vê, é uma notícia mani-
festamente-tendenciosa, que sai do
campo politico para entrar nos do-
minios da vida profissional dum fun-
cionario publico, acusando-o de des-
respeitar uma lei da Republica.

Não falta-quem veja no caso, pe-
la transparencia da alusão, uma ini
tante nota pessoal.

Duvidâmos. j

O sr. director da Voz. da Bena
não faria nem consentiria que no sai
jornal se fizesse uma denuncia co-
tra um individuo com quem ele gri-
tuitamente cortou as proprias relt-
ções pessoais.

O sr. dr. Antonio Vitorino é tan-
bem funcionario publico, chefe. di-
má repartição.

Certamente ele é um modêlo | ce
ordem e legalidade.

Pelo menos, não sabemos de acu-
sação que lhe tenha sido, feita m
imprensa,

“Tem, pois, o escrupulo do deve
e oculto da dignidade. profissiona
propria, o que deve importar o; tes
peito pela dignidade alheia.

E” invocando e fazendo justiça: :
esses seus: sentimentos e ‘confiande
na sua lealdade, que: nos permitimos
pedir-lhe o favor de no-seu jornal
degmentir..que. a noticia se refira Ã
oficina de roupa branca ido Colegio
das Missões.

Nas margens do Zézere

Com muito prazer, transcrevemos
do nosso presado colega o igue –
roense, a seguinte noticia, que, com
este titulo, publica num dos seus ul-
timos numeros :

 

«Na passada sexta-feira, 17 do
corrente mês, foram os nossos ami-
gos Antonio de Azevedo Lopes Ser-

, Alfredo Correia de Frias e Joa-
quim Lacerda Junior, de visita às
obras da nova ponte do Zezere onde
foram tambem para o mesmo fim
varios Sernachenses’ de destaque e
das relações daqueles nossos, presa-
dos patrícios, entre os quais sabemos
que se encontravam o sr. dr. Abilio
Marçal e seu cunhado sr. dr. Virgi-
lio da Silva, o sr. Alfredo Vitorino
e um filhinho seu, o sr. Herminio
Quintão, dignissimo reitor do Cole-
gio dé Sernache e três distintos pro-
fessores do mesmo colegio.

O nosso ex.mo amigo e sr. dr. Abi-
lio Marçal ofereceu a todos os assis-
tentes um lauto banquete que foi ser-
vido ém cima dum dos pégões da
futura ponte e durante o qual se tro-
caram os mais entusiasticos brindes,
visando todos a significar ao ex.Mº
sr. dr, Abilio Marçal a sua gratidão
e o seu aplauso por essa grandiosa
ponte, cujos trabalhos foram visitar,
que é da maior importancia para es-
ta grande região daquem e dalém
Zezere, e cuja dotação e inicio de
trabalhos ao valimento de s, ex.º e
aos seus patrioticos esforços se de-
vem.

Foi uma tarde cheia para todos
os assistentes que retiraram verda-
deiramente penhorados com as fidal-
gas gentilezas do sr, dr. Marçal.»

Por nós e pelos nossos compa-
nheiros de Sernache, agradecemos
ao nosso presado colega as suas pa-
lavras de extrema amabilidade e fa

 

vor e aos nossos bons amigos de Fi-

gueiró o grande prazer que nos de-

 

 

ram com a sua companhia naquela
bem: agradavel tarde. /

A construção da ponte da Bouçã,
representando um dos mais impor-
tantes melhoramentos e da mais le-

gitima aspiração desta região, em

cujo: desenvolvimento agricola e co-
mercial virá a“exercer grande in-
fluencia, oferece tambem este aspec-

“to não menos apreciavel—permitir

uma mais facil e intima conviven-
cia entre a sociedade de Sernache

e a de-Figueiró, na qual temos ami-.

gos que muito considerâmos e esti-
mimos,

Lá havemos de voltar em..breve
vêr novamente os trabalhos que vão
entrar num periodo de intensa acti-
vidade, e fé temos-que no ano proxi-
mo ali iremos todos festejar com en-
tusiasmo a inauguração dessa ponte,
que deve em verdade vir a ser uma
obra grandiosa, e que durante deze-
nas de anos foi a ambição, sempre
malograda, daqueles que, neste con-
celho e no de Figueiró, com algum
amor se interessam pelas .prosperi-
dades e bem estar desta região.

sas

Queixa-se a Voz da Beira de lhe
terem sido negados na-Secretaria da
Camara os esclarecimentos. que, lá
foi pedir à respeito da ultima sessão,

E? assim mesmo.

‘Ninguem tinha obrigação de’lhos
dar; todavia eram-lhe sempre forne-
cidos prontamente, com um resumo
das deliberações da Camara e da co-
missão executiva.

Ora O jornal, para bem informar-

o público, alterava o resumo, dando
notícia sómente ‘de algumas delibe-
rações, conforme: lá entendia.

Por sua vez tambem o presidente
entendeu—e entendeu muito bem—
que a secretaria não devia colaborar
naquela exploração de politica inde-
pendenie. 3

Quem assim quer proceder, obra
por conn propria, indo à sessão, to-
mat .as mtas que quizer. :

Ou nã indo, que vale’o mesmo.

Mercado de peixe

Porque ms parece que muito es-
clarece esta juestão e bem expõe os
incidentes; piblicamos «em seguida o
oficio-que: a’ omissão executiva: em:
tempo enviot ao magistrado do-dis-
trito,

Ex.mo-Sr, Governador Civil:
Ex mSE

Em nome d Comissão Executi-
va da Camara Tunicipal da Certã,
em cumpriment da sua deliberação,
tomada em sesso de 18 do corren-
te eu venho perate V. Ex.2, como
digno representate da Republica,
neste distrito, dailhe conhecimento
de um incidente prturbador da sua
acção.

A camara munipal na sua ulti-
ma sessão plenariano uso das suas
atribuições designo um novo local
para a venda de peie nos mercados
semanais, que aos sbados se reali-
zam nesta vila; é est comissão dan-
do execução a tal deberação e pre-
cedendo as formalidads legais, mar-
couo dia 16 demaio uímo para-ela
entrar em vigor.

Entretanto alguns «merciantes,
pretensamente feridos & seus inte-
resses, entraram de prúover a re-
sistencia á deliberação ta camara,
que a comissão executivinão podia
alterar nem suspender. im querer
justificar o acto da camar, eu devo
todavia aqui ponderar a VEx, que
a deliberação foi tomada pr unani-
midade de votos, sob praosta da
minoria da camara, e, assin absolu-
tamente-isenta de intuitos aliticos.

Instigados e arrastadossor tal
propaganda, os vendedores ão ex-
puseram.o peixe à venda nonerca-
do dêsse dia 16: aguardaran hora
do seu encerramento, e passa ela,
venderam:o nos estabelecimews ; e
procederam assim depois de harrem
outorgado em documento públo de
solidariedade e mutua defeza.

A situação, com esta nova feão,
saia das atribuições e acção «sta
camara para a da autoridade admis-

 

 

 

trativa: e, em verdade, no sabado
seguinte—dia-24 de Maio-==o digno
administrador do concelho, compa-
recendo no mercado é intervindo no
caso, resolveu-o de acôrdo, não com
a Camara, mas com os vendedores,
pela escolha dum novo local, onde
logo nesse dia se fez a venda.

Esta comissão teve o pressenti-
mento de que esta solução, ofere-
cendo talvez o aspecto duma confu-
são de direitos e de deveres, pode-
ria vira dificultar a execução da de-
liberação camararia, que não pode
deixar–de ser-cumprida,-e-contra-a
qual aquela solução ‘se começava a
levantar já, por uma forma que a
esta comissão parecia inconveniente,
senão irritante.

Nestas circunstancias, a interven-
ção desta comissão executiva impu-
nha-se, em defesa dos seus direitos
e-do seu prestigio. Por-isso eu man-
dei publicar um edital de que envio
uma copia a V. Ex.2 e.pelo qual, ela-
ramente, avocava à comissão é aos
meios“ de ‘que “ela-dispunha acsóla-
ção do caso. É

Entretanto, e conhecidas as dis–
posições ‘e intransigencia da’ Cama-
ra, um comerciante desta vila, com
procuração de todos os | vendedores
de, peixe, procurou-me na;sala das,
sessões para retirar uma representa-
ção que me tinha entregado, e por
isso lha’ restituí, ao – mesmo tempo
que’me afirmavá-que (os seus consti-
tuintes, no mercado | imediato, aca-
tariam a deliberação da Camara. E
depois disso foi pessoalmente a ca-
sa do sr. Presidente da Camara fa-
zer entrega dessa procuração e rei-
terar-lhe-identicas afirmações.

O «incidente estava finalmente so-
lucionado! Todavia eu insisti na pu-
blicação do edital, mandando-o afi-
xar nos lugares do estilo, principal”
mente porque nêlk! se determinava
qualo’ caminho-a seguir paravo no-
vo local, :

Quando, porêm, a essa diligencia
se ia proceder, veiu a esta secreta-
ria o digno administrador do conce-
lho pedir que’não se publicasse “o
edital, por imotinos: que ele depois
explicaria. JOE ;

Nunca essa explicação foi dada,
nem necessaria era; os motivos eram
transparentes, considerando que era
já ‘de-facto um incidente” ferido, “ha
forma: que fica exposto.

Na sua forma externa, significava
que o digno administrador do con-
celhô declinava a intervenção da Ca-
mara, reservando para si, sómente,
a solução publica do caso, antecipa-
damente solucionado! O seu desejo
foi satisfeito com a maior confiança
no tino, inteligencia e energia de
ação da autoridade administrativa.

A esta ficou entregue O caso.

O edital só mais tarde “se publi-
cou, embora em tal: publicação nas
quele momento nenhum inconvenien-,
te houvesse, j

Néêle se determinava o caminho a
seguir para ‘o mercado, mas essa in-
dicação ficava sendo do conhecimen-
todosr, administrador do concelho.

Com surpresa, soube esta camara
no dia 28 que a mesma autoridade
convocara para uma reunião publica
o povo ‘da’ Certã, a fim’de tratar
desta questão, que ele oficiosamente
asi, chamara quando «a: camara a
estava tratando e já a tinha resolvi-
do pela afirmação honrada do pro-
curador dos interessados !

O digno administrador recusava’a
cooperação legitima, leal e eficaz da
Camara, para ir, em comicio publi-
co implorar o. auxilio dos habitantes
da Certã. Sem incumbencia da Ca-
mara, sem o seu consentimento, sem
sequer a ouvir. de

Afirmações ali feitas, ao que sé
diz—umas: de: temeraria: bondade,
outras de excessiva imodestia–mal
ouvidas, certamente peor interpreta-
das, mais, comprometeram uma si-
tuação que na vespéra se apresenta-
va desembaraçada de atritos!

No dia 30 foi o dia do mercado.
Osvendedores de peixe foram para
o local destinado pela Camara, mas
por caminho diverso do que marca-
va o edital e sómente depois de lhes
ter sido feita a promessa de só irem
pára ali naquele dia e alguns bons
cidadãos lhes terem ali publicamen-‘
te. distribuído. dinheiro, na presença :ro, na presença :

 

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do sr. administrador do concelho.
Foi uma pacificação a preço, que a
Camara, sob o ponto de vista mate-
rial, não pode aceitar como solução,
porque a generosidade daqueles ci-
dadãos podia vir a cessar, ficando
para a Camara um encargo pesado
de mais para o seu orçamento.

Não está em tal facto o respeito
e obediência a uma determinação
legalmente tomada: seria antes um
acto que a Camara poderia conside-
rar de mistificação e. atentatorio do
seu prestigio ‘e dignidade, se ela nê-
le tivesse colaborado ou consentido.

Na sessão seguinte, 4 do corren-
te, um ilustre vereador procurou
uma modificação na situação pela
transigencia da Camara. ‘

Não podia ser.

Esta Comissão não condescendeu.
Nem ela tem poderes para revogar
ou alterar deliberações camararias.
Ela não poderia tambem, por digni-
dade propria, convocar uma sessão
extraordinaria: da Camara, convi-
dando-a a reconsiderar numa ques-
tão que tinha sido deslocada e arras-
tada para um campo aonde não po-
dia ir examiná-la.

A comissão executiva não podia
dignamente ir pedir-lhe uma delibe-

ração que sancionasse um compro-

misso insensato e tumultuariamente
tomado com uns rebeldes, domina-
dos por sugestões e caprichos.

Ela iria colocar a Camara nas
pontas agudas dum perigoso dilema:
ou a sua exautoração, pela sanção
dessa promessa anarquica, ou a exau-
toração alheia, pela reprovação dês-
se acto a qué se quiz chamar uma
solução.

Havia ainda uma hipotese a con-
siderar e não seria por certo a me-
nos provavel: era a dos vereadores,
na sua maioria, não comparecerem
nessa sessão extraordinaria—o que
decerto complicaria.o incidente pe-
la situação que criaria para quem a
convocasse; Esta comissão nem re-
presentação tem para submeter Ã
discussão da Camara, porque a que
chegou a receber foi expontanea-
mente retirada pelos interessados,

ara se lançarem num estado de re-
Ecião em que não poderão ser ou-
vidos nem serão atendidos. A deli-
beração tem de ser cumprida: sim-
plesmente à Camara faltam meios
para-a fazer cumprir. Esta situação
não é de levar, extraordinariamente
ao conhecimento da Camara, que
não tem fôrça para lhe dar; a recla-
mação é para os delegados do po-
der executivo da Republica, onde
residem os meios de tornar eficazes
e respeitadas as deliberações, das
instituições municipais, a defesa do
seu prestigio-e a garantia dos direi-
tos e deveres que lhe são atribuídos
nas leis do país.

E? por isso e para isso que a V.
Ex.º me dirijo.

Nos mercados seguintes de 6,.13
e zo do corrente, os vendedores de
peixe, completamente abandonados
aos seus caprichos e propositos de
desobediencia, foram instalar-se no
antigo local. e aí teem realizado as
suas transacções com desprêso das
deliberações camararias.

E’ esta situação que a comissão
executiva vem trazer ao -conheci-
mento de V, Ex.”

Não é uma queixa que vem fazer
contra quem quer que seja ; não vem
irrogar censuras a ninguem. Expõe
factos sem os discutir sequer. No
estado em que lhe é legada a situa-
ção, esta Camara não tem meios de
fazer cumprir a sua deliberação, e
respeitar a sua autoridade. Pede-os
a V, Ex.2, em quem confia absolu-
tamente,

Este estado é um principio. de
anarquia.

Esta comissão levando esta situa-
ção ao conhecimento de V. Ex.
cumpre o seu ultimo dever.

E” com confiança e a mais subida
consideração que a V. Ex.? recorre,
ao mesmo tempo que lhe’ deseja

Saúde e Fraternidade
Certã, 22 de Junho de 1914.

O Presidente da Comissão Executiva,

“. (a) Herminio Quintão,

 

NA CAMARA

— rec

No final da ultima sessão da Ca-
mara Municipal houve um inciden-
te, sem importancia, é certo, mas
sobre o qual faremos umas ligeiras
considerações.

Expliquemos:

A “Camara; em devido tempo e
nos termos do n.º 1.º do art.º 108.
do codigo administrativo, fixou a
percentagem: adicional de 60 %% Ã
contribuição predial do Estado.

Este lançamento incidia sobre Ã
verba principal da contribuição, ex-
cluindo, assim, os respectivos adi-
cionais. ‘

No corrente ano, porém, o “Esta-
do englobou a verba principal é os

adicionais numa só verba, oferecen–

do, assim, uma maior base para a
incidencia do imposto das Camaras,
e, consequentemente, uma maior re-
ceita.

O Governo Civil assim o ponde-
rou à Camara, e esta, resolvendo
sobre o caso no final da sua ultima
sessão, reduziu a percentagem a
52.9;

O sr. Quintão propuzera 58 9/9, e
a minoria queria 50 9: conciliador
sempre, o sr.presidente da Comis-
são reduziu a sua proposta àqueles
50. Ê
Ninguem mais condescendénte.
Nada mais correcto.

Pela sua situação especial, pare-
ce que a sua opinião deveria mere-
cer alguma consideração.

Todavia, feita a votação, ainga o
sr. Quintão veio à secretaria con-
sultar uns documentos, trocando ao
mesmo tempo impressões, se bem
nos lembra, com o sr. Emidio Ma-
galhães, .na disposição, ao que nos
pareceu, de aceitar a proposta da
minoria de 5o o.

Foi nesta altura que o sr. Albano
Ricardo, levantando-se em atitude
de Marat sem cabeleira, começou a
ameaçar com a praça publica.

À maioria, que não estava dis-
posta a ouvir-lhe a arenga, que na-
da mais tinha a resolver e de mais
a mais fatigada já com uma sessão
de perto de 5 horas, saíu da sala.

E’ bem de ver que desde esse
momento ficou absolutamente pre-
judicada a transigencia que se es-
boçava.

Perante ameaças insolitas, tão
imprudentemente feitas, a maioria
não podia mais ceder, dignamente.

A sua resolução estara tomada:
não tinha mais que voltar à sala,

Suceda o que sucedes.

O sr. Albano Ricardo foi mais
uma vez vitima dos seus arrebata-
mentos,

Ainda ha pouco tempo, numa ses-
são, sem bem entender o que se
discutia, se deixou lerar pelos mes-
mos impetos, cuja inconveniencia
ele foi o primeiro a reconhecer de-
pois perante o sr. presidente da Ca-
mara, a quem foi dar as suas expli-
cações.

As votações, uma vez feitas, são
indiscutíveis.

O sr. Albano não podia falar sem
lhe-ser dada-a palavra, e esta nunca
lhe poderia ser concedida nem man-

tida para censirar uma deliberação .-

da Camara.

Não lhe estimos falando com mã
vontade: fazemo-lo até com mágua.

As nossas velhas relações e a
consideração que sempre lhe dis-
pensamos bm nos abonam as nos-
sas palavras. E

Bem dev> presumir que na maio-
ria haveria quem lhe respondesse
nos mesmos termos, podendo daí
resultar am conflito ou iniciar-se
uma situação um tanto dificil.

Prudentemente, ela limitou-se a
sair da sala,

A minoria levou quatro horas aos
tombos com o relatorio, da comis-
são, impertinentemente e sem pro-
posito: nem aproposito. A maioria
maníeve-se numa atitude de pru-
dencia, certamente deliberada.

Mas é conveniente não abusar
dessa tolerancia : pode resultar daí
um conflito, prenuncio duma sítua-
ção melindrosa e mui perigosa para
os interesses que a minoria diz re-

“presentar E

 

 

 

LITERATURA.
UMA… QUE JÁ NÃO EXISTE

POR
MAXIMO GORKI

eis —

 

Era, irmão, uma: gentil bonequi-
nha.»

Cada vez que me voltam à mer
moria estas palavras, vejo rir no
passado dois pares de olhos apaga-
dos pela idade, com uma expressão
de amor, de compaixão tranquila e
sincera; oiço duas vozes tremulas
de velhos, afirmando iambas que
«Ela» era uma gentil bonequinha…»

“Torna-se feliz e ligeira a minha
alma a essa recordação; é uma das
mais belas e das mais refrigerantes
que me teem ficado dos numerosos
anos de vagabundo pelas tortuosas
vias da minha patria. Vinha eu das
steppes, por alem Don, e dirigia-me
a Voroniéje, quando encontrei os
dois velhos peregrinos.

Eram casados e podiam bem con-
tar cento é cincoenta anos entre am-
bos. Caminhavam duma maneira tão
lenta e acanhada, arrastavam tão
pesadamente os sapatos de corda de
tilia na poeira quente da estrada, e
tinham nos trajos, assim como no
rosto, alguma coisa de tão particu-
lar que se tinha logo a impressão
de que vinham de longe.

— Chegamos do governo de To-
bolsk, com a ajuda de Deus, disse-
me o velho, confirmando a minha
suposição :

E fitou-me a velha com os bondo-
sos olhos que uma vez haviam sido
azuis. Sorriu amigavelmente é acres-
centow suspirando : :

— Somos da vilasinha de Lissaya
da fabrica Nikolsk. E

—Deveis então estar fatigados da
peregrinação 2…

—Fatigados? não muito;.. Isto
ainda vai… Arrastamo-nos devaga-
rinho com a ajuda de Deus…

—Fizestes um voto; ou é. o. zêlo
religioso que vos impele na velhice?

‘— Fizemos um voto, irmão, uma
promessa aos santos de Deus, em
Kief, de irmos a Solovetzk:

—Sim, continuou o velho… Va-
mos,. mas :descancemos um. pouco !
Acrescentou ele voltando-se para a
companheira.

—Se queres ! aquiesceu ela.

E sentamo-nos todos três, à som-
bra dum velho salgueiro, à beira da
estrada. Havia calor, estava o ceu
sem nuvens; perdia-se adiante e
atrás de nós na distancia, a grande
estrada, velada por pesados vapores.
E era tudo triste e solitario, Dos
dois lados do caminho estendiam-se
imoveis e secos, campos de centeio.

—OQ centeio faz mal! disse o ve-
lho estendendo-me algumas espigas
que acabava de arrancar. Exgotou
aqui completamente o solo.

Falámos da agricultura e da es-
cravidão em que se encontrava o
camponez relativamente à terra. Es-
cutava a velha suspirando, e lançava
de tempos a tempos uma palavra
sensata na conversação.

—Eis o que constituiria o assun-
to da nossa pequena se vivesse ain-
da! disse ele de subito, lançando
um olhar para os magnos campos de
centeio. Aqui é que ela teria sabido
ensinar !

— Sim, ela teria achado maneira
de tirar de dificuldades os campone-
zes desta terra! disse o velho com
um aceno de cabeça.

Depois calaram-se ambos.

* —De quem falais ?—perguntei eu.
—Duma… que já não existe.
—Morava comnosco, na vila, nã

nossa casinha… Era de nobre nas-
cimento, acrescentou a velha.

Então puzeram-se a contar, pri-
meiro lentamente, depois cada vez
mais depressa, fixando-me ambos
obstinadamente, pronunciando as fra-
ses cada um por sua vez.

Era uma gentil bonequinha…

—Tinha sido exilada na nossa
terra, conduziram-a as autoridades…
Parece que ela queria o bem para
toda a gente… para os pobres…
Isso não é permitido… E exila-
ram-a, a meiga criança…

“

 

— Quando entrou em nossa casa,
estava rubra da nevada e tremia -de
frio.

—Era muito pequenina; como
uma boneca: ..

—lInstalâmo-la bem depressa jun-
to do fogão…

—E o nosso fogão é grande e
muito quente…

— Depois demos-lhe de comer.

—Ela riu…

—E os: seus olhinhos eram tão.
negros como os dum rato…

—E quando repousou poz-se a
chorar: «Muito obrigada, boa. gen-
te!» disse ela.

—Todavia começou logo a:traba-
lhar! disse o velho rindo muito, pes-
tanejando num êxtase.

—Eia que rola pelo quarto como
um novelo e que vira tudo de cima
para baixo:

«A celha de lavar, disse ela, é
preciso tiral-a». Ela propria a arras-
tou para o pateo com os seus bra-
cinhos. E tiveram tambem que dei-
xar o quarto os leitões; pegou-lhes,
beijou-os no focinho e pôl-os fóra…

—Ah! Ah! Ah!

Riam ambos. á gargalhada ea
custo podiam tomar folego.

-—Ainda não passava a semana,
e virara tudo do avesso.

que nos fez suar!

—E ela mesma ria, fazia algazar-
ra e batia com os pésinhos…..

— Até que, repentinamente, tor-
nou-se: sombria e teve mêdo.

— Queria por força morrer…

—Chorava a partir 0, coração,
sem cessar, sem cessar… Inquie-
tavamo-nos e. perguntavamos-lhe :
«Então que tens tu? que tens tu ?»
Era. de não, compreender nada, E
finalmente soluçavamos nós mesmos
com ela sem. saber.porque ….. aca-
riciavamol-a e choravamos todos
três. 7

—Era como se fosse nossa pro-
pria filha. ; f

Amavamol-a tanto como a nossos
filhos, disse; o velho.

—Viviamos: sós’na nossa caba-
nal. Temos um filho entre. os
soldados, outro trabalha-nas minas
de oiro, acrescentou a’velha.

Podia ter dezoito anos, mais.
não …

— Tinha 0 ar de ter só doze!

——QOra vamos! que dizes tu, mãe?
era muito robusta, Se fosse tão pe-
quena não poderia fazer nada…

—isse isto’para’a cênsurar? De
maneira nenhuma! replicou a velha
com bondade.

Depois calaram-se e ficaram mer-
gulhados nas suas recordações.

—E então que sucedeu! pergun-
tei passado um momento.

— Que sucedeu? Nada, irmão, dis-
se o velho com um suspiro. Ela já
não existe… Arrebatou-a a febre
ardente acompanhada de delirio !

Correram-lhes duas lagrimas pe-
las faces enrugadas.

—Sim, irmão, ela morreu. Só
dois anos esteve em nossa casa.
Toda a vila, não, toda a provincia
a conhecia. Sabia ler é escrever, é
ensinou-o á nossa gente… Ta tam-
bem ás reuniões comunais e falava
aí… A’! como ela ás vezes grita-
Vad… Ê

Era uma joven muito inteligen-
te… e, melhor do que isso, uma
verdadeira alma de rapariga! uma
alma de anjo! Pata tudo tinha co-
ração, tudo a comovia! E como ela
conhecia a agricultura! Sabia tudo!

«Donde sabes tudo isso, peque-
na?» perguntavamos-lhe. «Está nos
livros» dizia ela.

— Tão pequena, tão pequena, e.
tornava-se. para nós, uma mestra,
uma conselheira !

Tratava tambem dos doentes. De
dia, ás vezes de noite, ia vêlios,
dava-lhes remedios, falava-lhes tão
meigamente, com, tanta bondade !
E eis que repentinamente tambem
ela cai doente, que jaz sem. conhe.
cimento e delira. . . E emquanto nós
vamos procurar o padre, morre a
boa, a santa. ! : j

A essas palavras correram novas
lagrimas pelas faces da velha, e ex-
perimentei eu então um extranho
sentimento de bem estar como se
ela chorasse por-mim: ;

-—Veio toda a vila até á nossa ca-
sinha.. . «E’ possivel que já não exis-£o exis-

 

@@@ 4 @@@

 

ta!» gritava todo o povo. «Ah! a
pobresinha! a pobresinha!» Todos
lhe queriam tanto!

— Era uma criança tão meiga. Se-
guiu o seu esquife a comuna inteira.
Quinze dias depois era justamente
no carnaval, decidimos empreender
uma peregrinação a fim de rezar por
ela, Tambem os visinhos’ se puze-
ram a convencer-nos’: «Ide, pois, di-
ziam elles, não tendes nada que fa-
zer, sois velhos e hino vos será can-
tado no ceu! E então partimos.

—E tendes vindo todo’o caminho
ai pé?

—Não inteiramente, irmão. So-
mos muito velhos para isso. .. quan-
do alguem no-lo oferece vamos de
carro, depois de novo, lentamente,
a“ pé, como se póde… Ah! se ti-
vessemos as «suas» perninhas, as
«dEla», seria outra coisa!

E voltou de novo a falar daquela
que já não existia, da sua gentil «bo-
neguinha», que morrera de febre ar-
dente.

Havia: bem duas horas que esta-
vamos ali sentados a tagarelar, quan-
do nos alcançou com’o carro um pe-
queno “Russo: Correspondeu ao nos-
so cumprimento, examinou-nos com
atenção um instante e gritou aos dois
velhos:

—Subi, velhos! Levar-vos-ei até
á proxima vila. É

Tomou ltgar a seu lado e desapa-
receu-atrás de uma nuvem de poeira.
Levantei-me e segui-os lentamente.
Por largo tempo pensei nêsses ve-
lhos que tinham franqueado milhares
de verstes, a fim de rezarem por
uma joven que passara por acaso
na sua vida, e lhes tinha desperta-
“do no coração o sentimento de amor.

(Traducção de F. Fonseca).

pes

Ponte da Galeguia

Vai á praça no dia 29: do corren-
te, em 700 escudos, a arrematação
da construção | da primeira empreis
tada da ponte: sobre a ribeira da
Certã, ligando a: freguesia da Cu-
meada com a do Nesperal.

 

“AGRICULTURA —

Sementeira das Ervilhas

Maravilhosa receita contra os ataques dos
pardais

Ninguem desconhece a dificulda-
de enorme que ha em salvar a se-
menteira das ervilhas,

Lançadas á terra antes de termi-
nar a estação invernosa, logo que
principiam a germinar, os terrivel-
mente rapaces pardais, falhos de mi-
mosos e saborosos pastos, destroem-
nas com o seu bico daninho, ajuda-
dos tambem com o auxilio das les-
mas, que tanto se desenvolvem com
as humidades da estação.

Acabo de saber duma receita in-
falivel, que em Nice aprendeu dum
caseiro o distincto e inteligente flo-
ricultor amador e meu prezado ami-

o, sr. Alberto de Figueiredo e que
é duma facilidade extrema e econo-
mica. Juntaram-se os dois proyei-
tos num saco: bom e barato e para
ajuda vai agora a receita tambem
pelo preço da chuxa,

Consiste apenas no seguinte ; an-
tes de semear, enfarinha-se primei-
ramente em flôr de enxofre o grão
da ervilha, e logo que principiarem
os primeiros vestígios da germina-
ção, faz-se no local a aplicação do
enxofre e os alados vorazes nunca
mais tentarão destruir o ervilhal.

Que pena eu não ter tido mais cê-
do conhecimento da receita! Desisti
do ervilhal, porque de duas semen-
teiras que fiz de ervilha de grão na
minha horta, deixaram-me escapar
apénas meia duzia de pés. Na pri-
meira sementeira de ervilha de chei-
ro, a mesma má sorte me perse-
guiu.

Mas alegrei-me tanto ao conhecer
esta receita que, embora fóra da es-
tação, (guardem-na para o ano) pa-
ra proveito geral desde logo protes-

* tei dá-la à luz da publicidade, o que
cumpro:

 

 

 

ECO DA BEIRA. e.

CURIOSIDADES

Pelo sr. Fournier d’Albe, da Uni-
versidade de Birmingham, foi jin-
ventado um instrumento, o optofone,
que permite às pessoas totalmente
cegas o uso dos ouvidos para des-
cobrirem | &:’localizarem’ as partes
brilhantes e as sombras dos objec-
tos luminosos.

A acção do: optofone é baseada
sobre uma propriedade particular
que possui o selenio:de mudar a sua
condutibilidade electrica sob a in-
Aluencia da luz.

Esta propriedade é utilizada para
produzir uma corrente electrica que
é interrompida por um aparelho es-
pecial de movimento de relojoaria,
e que se torna assim audivel num
telefone. )

E aí está como aqueles cuja des-
graça lhes não permite o uso dos
órgãos da visão, poderão em breve,
graças à invenção do sr. Fournier,
«vêr»… pelos ouvidos.

* » *

Existe num dos aquarios de No-
va-York um peixe extraordinario,
originario da Africa, que pode viver
fora da agua pelo menos seis meses.

Este peixe, que é conhecido pelo
nome de «peixe-pulmão», pois que,
quando fora de agua, aspira o. ar
como se [ôsse um animal que vive
fora dela, se bem que, quando se
acha na agua, respire através de
guelras, oferece um grande interes-
se scientifico, pois mostra a especie
de peixes que deram nascença aos
primeiros animais que viveram so-
bre a terra (fora da agua), amíibios,
reptis, aves e mamiferos.

Duma forma geral os seus mem-
bros representam uma transição de
barbatanas para mãos e emprega-os
por uma forma que faz lembrar
uma salamandra,

 

 

— ANUNCIOS |

Relojoaria g ourivesaria

ANTONIO DA COSTA MOUGA

 

Sernache do Bomjardim

Um excelente sortimento de relo-
gios de todos: os sistemas e varia
dos autores.

Objectos de ouro e prata de fino
gosto, mui proprios para brindes.

Concértos garantidos.

ANUNCIO

12 publicação

 

Pelo Juizo de Direito da comar
ca de Ceriã e cartorio do segundo
oficio, correm éuitos de tr nta dias,
a ciiar O exceutado Vitor Franci co
da Silva, solteiio,. maior, ausente
em parte incerta, na cidade do Pa-
rá, Estados Unidos da Republca do
Brazil, para no praso de dez dias de-
pois de decorrido o prazo dos édi
tos, a contar da segunda e ultima
publicação deste anuncia no «Diario
do Governo», pigar ao exequente
Manuel dos Santos Artunes, casado,
comerciante, de Surnache do Bom.
Jardim, desta comarca, a quantia de
duzentos oitenta e nove escudos,
juros, custas eo mais legal, em vir-
tude da execução movida contra o
referido ausente, seu pai Joaquim
José Francisco da Silva e seus ir
mãos José, Alda e Carlos, sob pena
de que, não o fazendo a ex.cução
seguita Os seus legais termos com os
bens já arrestados que se converte-
rão em penhora,

Para constar se passou o presente.

Ceriã 28 de Julho de 1914

O escrivão
Francisco Pires de Moura
Verifiquei:

O Juiz de Direito

Matoso

 

 

 

 

Agua da Foz da Certa.

 

– à Agua minero-medicinal da Foz da Certã apresenta uma composição
quimica que a distingue de todas as outras até hoje uzadas na Levapeuticas
E’ empregada com segura-ventagem da Diabetes Dispepsias—Catar:
ros gastricos, pulridos ou parasitarios ;—nas preversões digestinas derivadas
das doenças infeciosas;-—na: convalescença das febres graves; —nas atomas
gastricas dos diabeticos, tuberculosos, brighticos, etc.y—no: gastricismo-| dos
exgolados pelos excessos ou privações, etc., etc; 3 J
Mostra a analise bateriologica que a. Agua da Foz da Certã, tal. como:
se encontra nas garrafas, deve ser considerada. como: microbicamente
pura não contendo colibacitlo, nem nenhuma das especies patogencas
que podem existir em aguas. Alem disso, gosa dy uma certa acção microbi-
cida. O B. Tifico, Difeterico e Vibrão colerico, em pouco tempo
nella perdem todos a sua vitalidade, outros microbios apresentam. porém .re-
sistencia major.
A Agua da Foz da Certã não tem gazes livres, é limpida, de sabor e-
vemente acido, muito agradavel quer bebida pura, quer misturada/com

DEPOSITO GERA
RUA DOS FANQUEIROS—84-—LISBOA

“Telefone 2168

O Mou si
Camara Municipal do Concelho da Certã-— Ponte-sobre-a

Ribeira da Certã entre as freguesias do Nesperal e Cu-
miada.

A Comissão Executiva desta Camara, faz publico que no dia 29. deste
mêsde Agosto, pelas 12 horas, na secretaria da Camara deste concelho,
perante o respectivo Presidente, ha de dar-se de arrematação, a quem por me-
nos o fizer, a tarefa abaixo designada da construção da referida ponte, sen-
do; os volumes e a base de licitação os abaixo designados :

vinho.

 

 

 

 

ares AS 1A=

Prazo.
j Pre”| da | para
Volimes iai a
gos |licita- PAU
clusão

 

refa

Designação: :

Natureza da ta-
refaa

»

 

 

Alvenaria hidraulica, «.
Alvenaria-ordinaria. ,.

Ego sal ASETSLODO
e boto À LADTHOOO

1:8

700poo
75 dias

4

 

 

 

| Obras de arte
a

|
|

 

 

o Para jer admitido a licitár é necessario fazer o deposito provisorio dé
10. f j

Não scaceitam lanços menos de 5» centavos.

As coilições da arrematação, mapas é desenhos podem ser examina-
dos todos otdias não santificados das 9 horas da manhã ás 15, na secreta-
ria da Camira Municipal. | j

Secretara da Camata, 5 dé Agosto de 1914:

O Presidente da ‘ Comissão

Herminio Quintão

 

 

 

Miguel da C. Trindade

Esta antiga tijografia está habilitada a executar com a ma:
xima rapidez e pereição todos os trabalhos de grande é peque-

 

no formato, para O que possue as competentes maquinas e gran-
de variedade de tipo. nacionais e estrangeiros.

 

Y

IMPRESSÕES A CORES OURO E PRATA

Bilhetes de visita tesde 24 ctv. o cento. Participa-
ções de casamento e livros

 

|
|
|

DEPOSITO DE IMPRESSOS PARA REPARTIÇÕES E PARTICULARES

Lardo do Passeio — LEIRIA KIRIA K