A Nympha do Zêzere nº3 27-03-1897
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Certã— Sabbado, 27 de março de 1897 |
1.º ano
“NYMPHA DO ZEZERE
Hebdomadario noticioso e litterario
Direcror—E. DE SANDE MARINHA
ASSIGNATURA
E Certã e Coimbra -…
Fóra da Certa…
80 reis mensaes
350 por 4 mezes
Brazil, anno, 48500 réis. Africa, anno, 16800 réis.
Numero avulso. 25 réis
REDACÇÃO
Toda a correspondencia deve ser dirigida à redacção
dA NYMPHA DO ZEZERE, Certa.
Os originaes recebidos, não se restituem, quer sejam
ou não publicados.
E CSRECIA
— e
A Europa olha actualmente
com assombro para as bandas do
Levante, Um pequeno povo, feito
de nervos e de gloria, agita-se
ali, n’uma extranha indignação.
Grita do alto da sua historia é
aponta ás nações por onde se ca-
minha.
Erguem-lhe baionetas, e elle
não treme; assestam-lhe canhões,
e elle avança!
Extraordinario!
Às potencias olham-se teme-
“rosas, e não-sabem que povo é
aquelle! Fingem arreganhar os
dentes, e só vêem uma alma he-
roica.. Ah! que se atrevam a in-
sultal-a! Esse povo tem por si a
civilisação. A ninguem assiste o
direito de interrogal-o e muito
menos de feril-o.
Quem deixa Cuba mergulhar-
se em sangue; quem deixa a Ar-
menia a extrebuchar em dôr; quem
deixa a Italia a afftontar a Abys-
sinia; quem assim procede, — ouvi,
farçantes da historia!—não tem,
não lhe pertence o direito de in-
tervir em Creta, em nome da ei-|
vilisação. Fóra! A Grecia fará o
que convem, e a humanidade está
do seu lado. Deixae obrar esse
povo que não comprehendeis, e a
quem só impelle uma febre divi-
na; aprendei ao menos a dar-lhe
com a vossa admiração toda a
vossa alma. Reparae que na terra
onde elle vive estremece de luz o
passado.
Foi lá que pensaram Platão e
Aristoteles, foi lá que fallaram
Demosthenes e Eschines; —foi lá
que Phidias deu vida á pedra e
foi lá que Callimaco arrojou a
alma ao infinito. Lá se formou a
tempera de Leonidas e lá se fun-
diu o cerebro de Solon; lá cantou
Homero e lá estremeceu Thyrteu.
Ainda não é tudo, nem eu sei
dizer tudo.
Plateia é um assombro, e Sa-
lamina um desvairamento. Espar-
ta é uma vontade, e Athenas uma
alma. Cada pedra d’aquelle paiz
é uma reliquia santa; cada onda
dos seus mares é o som d’uma
harpa…
Ah! que a Grecia viva pois,
que ella triumphe!
Pedaço mais bello da raça la-
tina, não a desamparemos na hora
da lucta; não a magoemos com a
nossa indiferença, essa doida he-
roica, a nossa irmã mais formosa!
Fazel-a vencer, é vencermos nós
todos, é crear um forte nucleo da
futura federação latina, que hade
ser um dia uma realidade.
E’ preciso meditar n’isso.
A Inglaterra, a Russia, e a
Allemanha: estão-se preparando
para dominar; a America segue a
mesma linha; a Ásia parece des-
pertar com essa ideia; a Oceania
robustece-se e a Africa agita-se
ao contacto da civilisação. No
meio d’isto, a raça latina ainda
leva felizmente a vanguarda; mas
a sua decadencia é já sensivel. Os
partidos politicos despedaçam a
sua organisação interna. À sua
acção externa afrouxa em Cuba,
nas Philipinas, e na Abyssinia,
quando a Inglaterra abraça os
povos com um cynismo unico e a
Allemanha arrebata terras com
uma brutalidade revoltante.
Pois bem: juntar os povos hel-
lenicos, auxiliando-os,—é prepa-
rar a grande federação que será
o levantamento da raça latina.
Ouve-se já esse grito dos lados da
Hespanha. O Aragão e a Cata-
lunha, pedindo a sua autonomia
n’um laço federativo, levantam ao
mesmo. tempo..olhos–animadores
para as populações hellenicas.
Assim deve ser.
Quem tenha na alma o amor
do bello e a embriaguez da glo-
ria, saúde a Grecia!
Quem tenha na fronte o en-
thusiasmo da civilisação e do pro-
gresso, anime a Grecia!
— Ferra santa da liberdade e
da sciencia, que todos os povos a
abençõem!…
a TOLO
— Se
Eu já presenciei uma festa no mez
de maio: uma festa em festas porque
de festas é o maio encantador—o mais
formoso mez da mais formosa estação.
e» e cu. esa… coca soe. 00 0 0.
ceu azul diapha-
no e por cima da terra matizada de
verdura e recamada de flores, pelo
luminosissimo espaço immenso em toda
a parte um concerto lindissimo de coi-
sas varias e admiraveis: a natureza
em festival magnifico.
Desde que a aurora com seus ró-
seos dedos abre as portas da manhã-—
tudo quanto dormitava na immensida-da-@@@ 1 @@@
=
A Nympha do Zezere
de do Universo, se acorda e desperta
e canta e ri… um delirio.
Era dia de festa na freguezia. O
reverendissimo parocho, homem de
engenho e arte, quiz solemnisar sum-
ptuosamente. Nos domingos anteriores
era vêLo lá no altar, vermelho como
uma malagueta, a tossir e a suar, já
cançado de tanto prégar ao seu povo
amigo, o qual chegou a convencer que
o caso era simplesmente este: contri-
buir com o mais que podessem para
que fossem brilhantes as festas.
Os discursos do parocho deviam
ter sido arrebatadores, electricos, por-
que os seus esforços foram coroados
do melhor exito.
Os amigos felicitaram-n’o e a pro-
pria imprensa não regateou elogios. O
dia de maio foi dia cheio, como costu-
ma dizer-se.
Ainda a lua passava tranquillamen-
te em seu carro. prateado no campo
das estrellas; ainda o silencio reinava
em toda a parte nas planuras e nas
montanhas, nas aguas e nos bosques;
ainda o vegetal estava pendido e já o
bom do sachristão ia subindo as esca-
das da torre, alegre e contente porque
lhe não offerecia difficuldados o mister
de sineiro, cujo repertorio era curto
“como o seu gosto artistico que nunca
foi aléur do Rei chegou tocado sempre
na mesma nota.
Uma vez chegado ao pinaculo da
torre, olhou o mundo resamido, por
esforço da sua imaginação, e disse:
oh gentes acordae do vosso somno.
E todos accordaram porque os sons
do sino, levados pelo brando zephyro,
lá iam ferir a membrana acustica de
cada mortal.
Eu fui dos primeiros a apparecer
e como bom observador postei-me à
porta da egreja. À egreja está situada
n’uma pequena eminencia ao fundo da
qual se estende uma larga planície de
vegetação luxuriante. O meu posto era
pois de molde a observar ao longe os
movimentos d’um povo que vinha em
piedosa romaria honrar a religião que
sendo a de Christo é a da felidade da
vida. E a felicidade faz a gente ale-
gre.
Os foguetes começavam a estoirar
nos espaços e mais & mais se ouvia
signal de que mais e mais os povos se
approximavam da egreja.
Dentro em pouco eu perdia de
vista o sineiro com quem estive con-
versando durante alguns apraziveis
minutos.
A multidão era enorme. Mas eram
só homens por emquanto.
As mulheres… as novas princi-
palmente (as velhas não: cumpriram
já as suas aspirações) essas ficavam
lá em baixo na ribeira, a mirarem-se
no espelho limpido das aguas, depois
de alli mesmo terem feito a sua tot-
leite.
Eu sempre sou muito curioso. Fui
vêr, vi e tive desejos. Fui vêr, havia
de tudo. A respeito de caras, umas
bonitas outras horrendas. Não vi mais
nada. O pudor inventou os vestuarios
e fez muito bem.
Zé Bezugo.
ecos ra—
JOAQUIM MARTINS
Morrer, —dormir— dor-
mir! sonhar talvez; este o
grande problema!
SHARSPEARE.
Mais um amigo que a implacavel
Morte nos roubou, mais uma Alma que
voôu ao reino ethereo, à mansão dos
justos!
Morreste, desditoso amigo, na eda-
de em que a Vida alimenta aspirações
sublimes, doces chimeras, que logo se
dissipam quaes ligeiras nuvens, ao me-
nor sopro da realidade!
Morreste!… E morreste, talvez,
porque eras nm energumeno do Bem,
e como tal, não podias supportar as
agruras da Vida. Agora és feliz. Lá
no Alto, para onde te chamou o Ser
Supremo, encontrarás alfim o descan-
ço sonhado, que, na terra, em vão pro-
curaste.
Dorme, que eu irei junto da tua
campa, no silencio da noite, conjurar
o ciciar da brisa nos cyprestes, com O
murmurio d’uma breve mas sentida
oração. E se uma lagrima cahir no
teu mausoleu, brilhando aos pallidos
raios da lua, essa lagrima será a da
profunda Saudade, que a tua morte
prematura inoculou na alma d’aquelle
que foi um teu sincero é leal amigo.
Dorme, dorme em paz!
CARNET LOCAL
Regressaram de Lisboa, as ex.”
sr.?s Tasso de Figueiredo, acompanha-
das de seu mano, o sr. Domingos Tasso
de Figueiredo, ilustrado capitão de fra-
gata e engenheiro hydrographo, que
segundo nos consta se demora n’esta
villa.
x
“Vindo de Lisboa, tambem chegou
a esta villa a ex.Ӽ sr.? D. Henriqueta
Victoria da Matta Ribeiro.
e
Já entroú no exercicio do seu car-
go o rev.mº Vigario d’esta freguezia,
o nosso amigo P.º Francisco dos San-
tos e Silva.
x
Sahiram para Salvateira de Magos,
o sr. Francisco Cezar Gonçalves, digno
escrivão de direito d’esta comarca, e.
sua ex.m2 esposa, e filha D. Alice Her-
cilia Fernandes Gonçalves.
XxX
Continua passando incommodado
de saude, o sr. dr. João Ribeiro d’An-
drade.
Promptas melhoras.
XxX
Encontra-se em Sernache do Bom
Jardim, o sr. Antonio Coelho Guima-
rães, conceituado commerciante no
Pará.
e
Canta missa na proxima terça-feira,
o nosso amigo rev.mo Benjamim Veris-
simo da Silva.
x
De visita a sua familia, encontra-se
na Povoa, o nosso prezado amigo Ade-
lino Nunes Marinha, conceituado com-
merciante no Pará.
x
“Consta-nos que vas ser nomeado
administrador deste concelho, o sr.
dr. Albano d’Oliveira Frazão, dig.”
conservador d’esta comarca.
x
Sahiu para Elvas, o sr. Abilio
Correia Marçal, redactor do Echo da
Beira.
XxX
Na noite de terça-feira passada, os
gatunos roubaram alguns alqueires de
azeite, ao sr. José Joaquim de Brito,
de Sernache.
as
Tem experimentado algumas me-
lhoras, o nosso bom amigo Antonio da
Silva Carvalho.
XxX
Foram concedidos 30 dias de licen-
ça pela Junta de saude naval, ao nosso@@@ 1 @@@
BN
A Nympha do Zezere e 8
prezado amigo sr. Carlos Pinto de Fi-
co commissario de 3.º classe.
x
Realisa-se na proxima sexta-feira
a tradiccional procissão dos Passos.
Joaquim Martins dos Santos
Victima d’uma phtysica pulmonar,
falleceu na terça feira, pelas 5 horas
da tarde, este nosso querido e saudoso
amigo.
Joaquim Martins sabia conquistar
a sympathia de todos com quem tra-
ctava, tendo assim adquirido na socie-
dade um nome que lhe enaltecia as
qualidades.
Espirito lucido e trabalhador in-
cansavel, chegou quasi a ver coroado
de bom exito o seu ideal, e quando já
podia ser util a si e aos seus, de quem
era extremoso, a morte arrebata-o na
edade de 26 annos!
A sua perda foi bastante sentida,
pois era aqui muito estimado pelos
seus numerosos amigos, que hoje lhe
tributam viva saudade.
“O enterro foi muito concorrido. Le-
vou à chave do caixão o sr. Xavier
Pereira.
*
A” familia enlutada, os nossos sen-
tidos pezames.
———>——— auquaese
PELO ESTRANGEIRO
Chegou a Paris D. Jayme de Bour-
bon. E” official do 14.º de dragões
russos.
D. Jayme será apresentado no Club
militar de Paris, onde lhe offerecerão
um banquete varios officiaes a quem
conheceu na Russia.
»6
Em Athenes correu a noticia de
que o Papa offerecera aos imperadores
da Russia e da Austria a sua media-
ção para se decidir a questão de Creta.
as
Referem alguns jornaes que existe
um accordo entre a Grecia e a Bulga-
ria para uma commum divisão da Ma-
cedonia.
7
A sessão da Sociedade de Geogra-
phia de Paris em honra do celebre
explorador Nansen, foi brilhantissima.
Presidiu o ministro de instrucção pu-
blica.
Nansen fez a historia da sua via-
gem, sendo muito applaudido.
Na mesma noite houve uma rece-
pção em honra do explorador no pala-
cio do principe Rolando Bonaparte.
—————— ones pise
SECÇÃO DE PERFIS
Tem quinze annos, apenas, a Vir-
gem que eu a laves traços vou per-
flar.
O seu semblante meigo e lindo
como uma aurora, é aureolado por
abundantes madeixas de ouro, tão fi-
nas como fios d’ether luminosos ;—os
seus olhos, d’um azul limpido, como
o do nosso céu meridional, exprimem
a infinita doçura da sua alma;-—e pe-
los seus carminados labios, perpassam
fallas doces como o arrulhar de rola.
Porte gentil e distincto, Ella, quando
caminha, mal poisa na areia.
Emfim, que mais direi?… É o
enlevo da familia, a deusa do lar.
LITTERATUBA
VEM!
Creança, vem ouvir ao longe o mar –
Cantando heroico a triste melopêa
D’um louco amor, emquanto a lua cheia
Lhe véste o veu do alvissimo luar.
Não vês com que constancia vem beijar
As conchitas que dormem sobre a areia?
Onde viste jâmais mór epopeia?
Quem sente o coração assim pulsar?
Pois não te prende, diz, não te arrebata
A languida, a grandiosa serenata
D’este ancioso coração insano?
Vem, creança, comtigo junto ao lado
E 4 beira d’esse poema illimitado,
Será maior o nosso amor que o Oceano!…
Lemos Macepo.
grata
A ALAMPADA.
A terra, o mar, o ceu, tudo des-
cança..
O pó dos mortosijaz esquecido, o
pó dos vivos jaz socegado. Mas no
sanctuario não descança o luzeiro, que
nutre o mysterio d’essa hora. Hora do
mais profundo silencio, essa em que
tudo doi me.
Ninguem em sua vida terá nutrido
uma esp’rança envolto nas sombras da
da capella, embebido no bruxulear da
alampada, no adejar do morcego, nas
horas em que a egreja vae dezerta.
O medo, não deixa a todos a posse
de tal goso.
Gerações que dormem debaixo do
pavimento que pizei, se acaso necessi-
tasse do vosso testemunho, uma voz
unisona da sempre humida renque de
vossas sepulturas, bastaria para o ates-
tar.
%*
A terra parecia um largo cemite-
rio, em que só a aragem da noite re-
costada sobre o arvoredo o vivificava.
O mar parecia uma immensa estei-
ra, ou dó passado ou do futuro, onde
estava patenteso triumpho das edades,
e o cataclismo das gerações.
O ceu, era sem estrellas. O astro
que a taes horas já declinava, a espes-
sura das nuvens o escondera. Quem
tentaria sondar os arcanos da noite,
ante o rouco estrondo da tempestade,
que descia gradualmente sobre os chou-
os que adornavam o adro d’essa er-
mida, para depois escoando-se pelas
fendas que tem as portas da egreja
pobre levar com mão invisivel o terror
á alma que a taes horas quebrava o
magestoso sacrificio da noite.
Eu manchei a paz do sanctuario.
E nem as larvas dos finados, nem os
pyrilampos, e tudo o que a engenhosa
phantasia das turbas fez nascer d’entre
a vaga solidão da noite. Nada d’isso
fazia com que deixasse de ouvir os
cantos d’essa epopea solemne.
ae
A noite ia adiantada. E a alma do
poeta, durante o dia esmagada pelo
desvairar das turbas, espera as horas
do silencio para dar azo a suas aspi-
rações.
Procurei um angulo da capella, e
o goso que lá senti, não cabia em mi-
nha alma. Necessitava d’outra que par-
tilhasse comigo taes ventura, pois no
correr da phantasia, sentia esvair-se-
me a respiração.
Oh vinde todos os que no leito do
infortunio vos revolveis, vinde experi-
mentar a paz que aqui se gosa.
Oh minha alma nascida no balicio,
entre o escarneo que ahi sómente im-
pera, renega esse viver, ou a paz do
sanctuario é inimitavel.
Oh mais uma vez, comparsas na
immensa tragedia social, mais uma
vez vos convido ao goso que se tem
o | aqui.
%
Um braço da tempestade, descido
das altas montanhas dºalem estremeceu
com força a janella do presbyterio. E
o ecco sahido d’esse angulo do templo,
repetiu-se uma e duas vezes pelas co-
lumnas de marmore que o sustenta.
A phantasia creou imagens, que só
razão desvairada podia respeitar.
“ À alampada impelida pela corrente
Id’ar que atravessara o templo, oscilava@@@ 1 @@@
4 a os Nympha do Zezere
e levando seu reflexo ao logar devas-
sado, desfizera-me todas as illusões.
Desvaneceu-se todo o susto é eu cra-
vava os olhos nas sepulturas e quasi
que poderia dizer juntamente com a
voz mysteriosa que de lá sahia: «E’
falsa a ventura que o mundo tem; são
falsos todos os pergaminhos que elle
tem; só aqui é verdadeiro o goso, só
aqui existe o germen da verdadeira
nobreza.»
Era o ecco da pura verdade que
se calava em meu peito; por isso que
o ladrão da estrada depois de ter sido
assassinado, rico das prezas que tomou,
se apresenta á sociedade pedindo-lhe
os foros que só tem aqueles, que com-
“mungam no calix da virtude.
Vem-lhe os ascendentes, apanhar
0 brazão de nobres, e a plebe geme-
dora, ri ao ver que é massacrada. Não
ha no mundo verdadeira nobreza.
*
Receio perder o fio da narração
pelas digressões que vão sahindo.
Passára a noite no sanctuario, e
alem da paz que ahi gosei, prendeu-me
mais a attenção a alampada que de-
fronte do altar da Virgem, semilhava
a alma do mortal que se esvaia toda
com preces ao Creador. Poisei a fronte
no braço da lyra, esqueci o mundo das
ilusões, embrenhado no vasto deserto
do pensamento, para onde essa luz me
levou.
O passaro que ao descer da noite,
sae de seu ninho escondido, esvoaçou
pelos quatro lados da egreja, pertur-
bando com o seu adejar o socego de
tão longa aspiração.
*
Se povoassem o mundo almas sen-
siveis, que paraiso que seria elle.
Agora passo entre o desvairar das
multidões. lembrando-me que uma vez
vivi d’uma illusão, que d’ella emballei
à esperança, que foi só ella quem me
deslembrou o scepticismo, é que entre
0 vago ideal de meu sonho creei uma
sociedade tal como a desejára o auctor
das Harmonias da natureza.
A lampada que por horas mortas
bruxuleava a sós no sanctuario, seme-
lha muito minha alma que tambem em
taes horas surgira do leito do descanço,
para dizer entre o mysterio que rei-
nava no sanctuario— sociedade, quanto
és enganosa, teus membros te chamam
Justiceira, mas as gerações passadas
te chamarão—sceptica.
Alampada que bruxuleavas a sós
no sanctuario eu hei de amar-te.
TazopHiLO BRAGA.
===
CORAÇÃO
Ao Evaristo D. Geral
As aves cantam dolentes
Nos ramos entrelaçados,
As borboletas contentes
Voltejam nos verdes prados.
“Os lyrios choram agora
Doces lagrimas d’amor,
Já brota limpida a aurora
Por entre as sébes em flor.
E a linda cor das rosas
Brilha ao longe nos trigass,
Duas leves mariposas
Soltam timidos seus ais.
A” sombra da tilia amada
Vae o poeta cantando,
Estes cantos que a alvorada
De leve lhe vae roubando:
I
Eu perdi o coração
N’uma noite de luar
Moravas na solidão
Meiga flor de nenuphár.
Ao ver uns olhos tão bellos
Me fugiu o coração
Foi poisar nos teus cabellos,
Ideal dos meus castellos
Que o vento lançou ao chão!
Soceds eles a Wo visa ao a does ee raceiaca
Encontrei-o ha bem pouco
Qual philomela a fallar
E por isso eu pobre louco
Venho p’ra aqui a cantar
Ai de mim — já quasi rouco
Deda je so Id 0 TR GD OS 0 ia PETS bra o EC
A” spera d’um teu olhar.
Março 97.
João Marques Dos SANTOS.
CORRESPONDENCIAS
Coimbra, 26 — Como dissémos na
ultima correspondencia, realisou-se no
domingo com todo o explendor, a pro-
cissão dos Passos, sahindo da S6 Ca-
thedral às 5 horas da tarde e recolhen-
do à Graça pelas T horas da noite,
onde o distincto orador sagrado rev.
conego Alves Mendes proferiu um elo-
quente sermão.
—À Associação Academica nomeou
uma commissão revisora dos estatutos
pelos quaes pretende reger-se depois
de approvados.
— Está n’esta cidade, em inspecção
ao regimento de infanteria 23, o ge-
neral Sepulveda, commandante da 2.º
divisão militar.
— Na quarta feira houve baile no
Gymnasio, havendo bastante animação
e dançando-se até pela manhã.
—Projecta-se a construcção d’uma
praça de touros n’esta cidade.
—ÀA ppareceu um novo jornal socia-
lista, O Caminho
Seja bem vindo.
—Os officiaes da classe de barbeiro
resolveram de commum acordo com
os proprietarios d’aquelles estabeleci-
mentos, o encerramento dos mesmos
aos domingos, das tres horas da tarde
em diante. /
-— À Tuna de Lisboa vem a esta
cidade no proximo sabbado, 3 do cor-
rente.
AB:
e
SECÇÃO LUBGRE
f
Uma rapariga entra esbaforida
numa pharmacia, e pede atrapalha-
damente:
—Faz favor de me dar um vintem
de aguardente para minha mãe cam-
phorada, que torceu um pé n’esta gar-
rafa,
2
Um amigo procurou outro; e, não
o encontrando, pregou-lhe um papel
na porta a dizer-lhe o que pretendia.
Lembrando-se, porém, que o amigo
podia vir de noite, acrescentou: Se 4
hora da tua chegada já não poderes
ler, pede uma luz ao visinho.
x
Num hotel de provincia.
À esposa ao ver uma centopeia na
parede do quarto, começa a gritar
como uma possessa,
O marido, acordando:
—O que é? o que aconteceu?
—E” que está ali uma centopeia !
—bOra, tanto barulho por causa
d’uma centopeia! E’s idiota! Tambem
ella te está vendo, é vê lá se ella grita.
Es
Um estalajadeiro no confessiona-
rio.
O confessor:— Vendeu alguma vez
gato por lebre?
—Não, senhor.
—Mas eu já comi gato em sua
casa.
Então é
o porque v. rey.m? pediu
ebre.
Bibliographia
Recebemos a visita dos seguintes
collegas, que agradecemos:
publica em Rio de Moinhos.
4 Patria, de Coimbra.
Na Vedeta, semanario de Lisboa,
Typ. e Lit. Minerva Central- Coimbra
O Riomoinhense, semanario que se