A Nympha do Zêzere nº2 20-03-1897

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ado Ceriã-—Sabbado, 20 de março de 1897 1-anno
NYMPHA DO ZEZERE
Hebdomadario noticioso é litterario | se io
“+ Drrecror—E. DE SANDE MARINHA
ASSIGNATURA REDACÇÃO
Certã e Coimbra …. 80 reis mensaes Toda à correspondencia deve ser dirigida à redacção
Fóra da Certa… 350 por 4 mezes PA NYMPHA DO ZEZBRE, Certa.
Brazil, anno, 48500 réis. Africa, anno, 18800 réis. Os originaes recebidos, não se restituem, quer sejam
Numero avulso. 25 réis ou não publicados.
E qadrare x EE; a
DA AFRICA com efeito, valiosos os elementos| de tantas batalhas, curva-se e re-
A com que para ella temos vindo | trocedeem Cuba… A Kalia, viva
São consoladoras as noticias | Concorrendo. – |e ardente sob um céu meridional,
que nos chegam d’ Africa. O exer- Desde Silva Porto, amorta-|cahe na Abyssinia, n’um longo
Ta > . E z É á E
cito portuguez, 4 voz heroica de | lado na bandeira da patria, até | gemido… E nós, um migalho no
o – é : o k
Mousinho, continua ovante na sua |Caldas Xavier, morrendo com |meio das meo quando a Euro-
obra civilisadora, rasgando cami-| ela no coração; desde Capello e| pa treme e vacila sobre os seus
nhos e chamando á luz da histo- Ivens, com o amor da sciencia, | Collossaes canhões, erguemo-nos
ria a região inculta dos Namar- até o bispo d’Hymeria, com o|da nossa miseria, e riscamos-lhe
raes. amor dos povos; desde os nossos |na África, com extranho desas-
E E do: E Pugos ae , a2J 3 à A
A nossa bandeira, ainda tre- |muitos é notaveis africanistas até |sombro, a mais brilhante epopêa
B . e 3 . .
mula das glorias antigas, lá vae | 4 nossa Sociedade de Geographia, | d’este seculo e a mais extraordi-
glori: Igas, a EO a
na frente, como n’um sonho, a | tão sympathica e tão digna; des- |naria das façanhas contempora-
animar aquelles valentes; e os |de toda essa cadeia luminosa, — |neas.
nossos canhões, no seu estrondo | à historia só tem a ver em nós, Abençoados soldados e aben-
E s
: : Gu eo cera dia a SS ad
de guerra, repetem ainda os echos |Só póde medir em nós, os gran-=| çoada patria!
E é E ? E : !
daquelle grande imperio oriental, | des restos dum grande povo!
onde primeiro nos levou o genio Poderemos morrer um dia,
de Vasco da Gama! … poderemos morrer !… mas, so-
Às victorias de Naguema, de bre a nossa sepultura, as gera- a e E
. s o . a é rmanente dos regionaiis-
: -e-| ções que vierem ar CAR
Ibrahimo e de Mucutumunu, re 5 q : hão de admirar tas catalães distribuiu, em Barcelona,
presentam já, nas recentes opera- ainda, a tremeluzir, a mais bella | am manifesto-protesto, redigido em ca-
ções militares, o mais lisonjeiro estrella que iluminou uma raça ! talão, em que se pede para aquella –
; e região autonomia igual à que foi de-
resultado que era licito esperar. À estas horas, deslumbrado cretada para Cuba, a suppressão do
O valor do exercito portuguez pela chimera e n’uma justa aspi- | recrutamento, instituição de um par-
lamento regional, empregados e juizes
catalães e o reconhecimento do diale-
lado! segura aberta, no continente ne- | eto como idioma official. A junta de-
Em demanda das montanhas | gro, mais uma pagina poxdemaa O qe cepião von LNDNNA para qu
: à encargos geraes na proporção da sua
da Mesa, vaé assegurando o nos- humanidade, á esperia que o 8€-| riqueza e com corpos de voluntarios
so dominio, é affirmando a ener- |nio colonisador que nos caracte- | pera a defeza do paiz.
A j e a a te Os federalistas visitaram o circulo ss
gia da nossa raça. Uma vez em |risa vá escrever ahi as lettras da Liga Catalã e exprimiram a sua e
Mesa, facil nos será conter em | Voiro da civilisação que caminha. | adhesão ás aspirações da mesma Liga,
; Rs É z a contidas no manifesto referido. Lavra
respeito a gente turbulenta dos E bem evidente que somos do Barofitta Emo diioaao Oi
Namarraes, e attrahil-a, pelo jainda um povo como o que fôram | estudantes continuam usando barretes
nosso impulso generoso, á vida |nossos maiores. Marracuene, Ma- | Vermelhos e queimaram o «Imparcial»
e outros diarios madrilenos.
A CATALUNHA
Pedido d’autonomia
ahi fica mais uma vez assigna- | ração de gloria, o nosso exercito
da humanidade culta. gul e Coolella bem c disseram ha
Ao terminar o seculo XIX, e pouco, e bem o dizem agora os E SR
ao fazer-se 0 balanço das nações, resultados: das recentes campa- * Banco de Portugal
Portugal terá justamente de oc-|nhas.
cupar um lo da; vansuard A Hoespenta, um velho 14 Consta que vae ser nomeado vice-
dh o e sun RP » governador do Banco de Portugal o
na conquista da civilisação. São, da guerra e um audaz batalhador | director sr. Oliveira Duarte.@@@ 1 @@@
2
A Nympha do Zezere
LAMPYBILS
Era considerada como uma das
mais formosas nymphas da côrte de
Diana.
A sua face alva e levemente rosa-
da, os seus olhos da côr dos céus onde
se espelhava a infinita doçura da sua
alma, a sua bocca pequenina e graciosa
parecendo pedir beijos, os seus cabel-
los d’ouro cahindo em anneis sobre
seus bem torneados hombros, a sua
figura gentil, emfim, attrahiam todos
que logravam contemplal-a.
D’entre todos os seus admiradores
destacava-se Pan, o deus dos campos
e dos rebanhos, que nutrindo por ella
uma paixão ardente, anceiava pela
occasião de poder declarar-lh’a.
Costumava Lampyris divagar com
suas companheiras pelas florestas, can-
tando aos sons melodiosos da cythara
e da lyra. Em uma formosa tarde de
primavera quando se achavam entre-
gues ao seu passatempo predilecto,
foram surprehendidas por Pan. Presas
de enorme susto fugiram, tomando
cada uma sua direcção. Lampyris, que
era o alvo das perseguições de Pan,
metteu-se pelo bosque e a breve trecho
se viu livre do seu feio adoradôr; po-
rém o astro rei envolto no seu manto
de purpura e ouro reclinava-se, qual
sultão voluptuoso, no ocidente, atiran-
do n’um espreguiçamento um. ultimo
beijo ás madre-silvas, que melancolicas
soltavam de seu seio perfumes doces
como hymnos d’amor; as ávesitas, de-
mandando seus ninhos, cantavam ao
dia a sua canção de despedida; a noite,
apontando do oriente, desdobrava ra-
pida seu manto recamado de brilhantes
pedrarias; e Lampyris, cançada e re-
ceiosa, tratou de procurar abrigo n’uma
gruta onde preparou uma cama de mus-
go em a qual se deitou e bem depressa
se deixou adormecer ao murmurio dum
pequeno regato, onde já então a lua
se mirava envaidecida da sua formo-
sura.
Ja já mui alta a noite quando no
fim d’uma aléa de carvalhos começou
a apparecer um extranho grupo de
nymphas que vinham cantando e dan-
çando. Eram as Dryades e Hamadrya-
des, nymphas tutelares dos bosques é
das arvores, e que fóra d’horas diva-
gavam pelos bosques até que a noite
cedesse o logar à branca madrugada.
Approximaram-se as nymphas da
gruta e ficaram muito admiradas ao
verem Lampyris nos braços do somno;
mas bem depressa a curiosidade cedeu
o passo à inveja ao verem brilhar no
alvo seio de Lampyris um formoso
collar de perolas que sua mãe lhe ha-
via dado ordenando-lhe que nunca lhe
apparecesse sem elle.
oh! desventura! Mal que a desnatura-
da mãe a vê sem o collar, expulsa-a
de casa, prohibindo-lhe que volte a
ella sem o precioso enfeite! Dá-lhe,
todavia, uma lanterna para a auxiliar
nas suas pesquizas. Mas baldado em-
penho! Inutil canceira! Lampyris pega
na lanterna, percorre os bosques por
onde andára, procura por muito tempo,
e, já sem alento, ia expirar, quando
Diana, compadecendo-se da desditosa
a metamorphoseou em pyrilampo!
Infeliz Lampyris!
Em noites calmas de estio ainda a
vêmos procurando sob a relva florida
o famoso collar que lhe foi roubado
pelas invejosas Dryades e Hamadrya-
des.–
ESMERALDA.
CARNET LOCAL
As maldosas nymphas, desejosas
de se verem adornadas com tal enfei-
te, lançam mão do precioso collar, di-
videm-n’o entre si, e fogem a escon-
derem-se nos seus abrigos, pois que |
uma indeciza claridade começava a
apparecer do lado do nascente.
Momentos depois a linda Aurora
chorando aljofar que os lyrios ávidos
bebiam, abria com os seus roseos de-
dos as portas do oriente a Phebo; o
brando Zéphiro balanceiava os ramos
das arvores onde as aves, mal desper-
tas, cantavam a sua canção matinal;
as timidas boninas, abrindo seus cali-
ces, sorriam á luz d’um novo dia. Foi
então que Lampyris despertou, dando
immediatamente pela falta do collar.
Assustada, olha em torno a si, corre
d’um a outro lugar, busca por toda a
parte… e, não 0 achando, resolve-se
a voltar á casa materna afim de se
livrar do odioso amor de Pan. Mas
Em inspecção ás escholas d’este
concelho, está entre nós o sr. Antonio
Guilherme Saldanha e Albuquerque.
e
Pediu a exoneração d’administra-
dor d’este concelho, o sr. dr. Guilher-
me Nunes Marinha.
x
Esteve quinta-feira n’esta villa, o
sr. Joaquim Ferreira Guimarães Lima,
de Cabeçudo.
x
Continua bastante incommodado de
saude, o nosso presado amigo sr. Joa-
quim Martins dos Santos.
Um completo restabelecimento, é
o que do coração lhe desejamos.
Ee
A inspecção dos reservistas d’este
concelho terá logar no dia 2 do proxi-
Ê FOLHETIM
D. Sebastião em Alcacer- Kibir
coco a do 0 08 0 000.
A batalha durou uma hora ape-
nas.
No primeiro impeto, os aventu-
reiros tinham levado os moures de
roldão: a bravura desordenada e
louca fôra tanta qus chegára a ha-
ver rixas para disputar logar nas
primeiras filas; mas quando os cla-
mores de victoria já soavam ou-
viu-se uma voz gritando: “Ter! Ter!,
e os aventureiros pararam. Os mou-
ros tornaram então com hastes ro-
ciadas de escopetaria e cargas dos
de cavallo. A avançada recuou, O
grupo do exercito fundiu-se.
Eram quinze ou dezesseis mil
homens congregados, na maior par-
te bisonhos e “tirados á força do
arado ou das cabras,, não fallando
em seis mil gastadores e muitos
carreteiros e escravos que não era
gente, nem mais que impedimento.
Viu-se logo o desbaratado na
sua desgraçada cruesa; “tudo gri-
tos e lamentos, mortos em cima de
vivos e vivos de mortos, feitos pe-
daços, christãos e mouros abraça-
dos, chorando e morrendo, uns so-
bre a artilheria, outros braços e tri-
pas arrastando debaixo de cavallos
e em cima, espedaçados, e tudo
muito mais do que posso dizer por-
que aperta comigo a dor na lem-
brança do que passei,.
O primeiro ataque, vertiginoso,
levára de roldão os inimigos; mas
a phalange portugueza, penetrando
como uma setta no meio da seara
dos soldados africanos, foi esma-
gada na sua victoria. Depois veio
a chacina e o trabalho mais lento
de amarrar os prisioneiros: elles
eram tantos que já não havia cor-
das!
O suicidio é ainda uma virtude
nas batalhas; mas o exercito de D.
Sebastião nem essa virtude possuia
já. Raros sabiam morrer; todos
preferiam render-se. Mas o duque
d’Aveiro, offendido nos brios pela
resposta do rei antes da batalha,
andava no campo á maneira de um
anjo de exterminio “todo tinto em
sangue», e encontrando rei na cor-
reria disse-lhe:
—“Veja Vossa Alteza se eu sou
homem que me embargue!, E se-
guiu.
D. Sebastião seguiu tambem,
“cheio de pó e suor, e a camisa
como o mesmo carvão —, tão es-
curo como as nuvens espessas da
sua amargura. Calado e sombrio,
assistindo ao desmanchar de sua
chimera, defendia-se; e aos que O
rodeiavam, insistindo com elle para@@@ 1 @@@
A Nympha do Zezere 3
mo maio, pelas 9 horas da manhã, na
“sala das sessões da Camara Municipal.
XxX
Tem guardado o leito estes ultimos
dias, o nosso amigo Luiz Dias.
Promptas melhoras, é o que lhe
desejamos.
x
Passou no dia 14 do corrente, o
anniversario da ex.P2 sr.? D. Maria
José da Matta Pedroso Barata.
Parabens.
—————— eacaçameame
SEGÇÃO DE PERFIS
Via-a muitas vezes ao cahir da
tarde, quando as vagas tintas do cre-
pusculo tomam insensivelmente uma
côr violeta ligeiramente rosada. Ideal
como um sonho, o seu busto esbelto
desenhava-se na sacada da sua habi-
tação, que, do alto d’um fragúedo, se
debruça nas aguas murmurantes do
pequeno rio.
Pura como as virgens de Murillo,
Ella tem dezesseis annos. — Às tranças
do seu cabello, todo treva, emmoldu-
ram-lhe o rosto levemente moreno e
seductor como um Anjo, onde se es-
tampa a innocencia das açucenas. —
Dos seus olhos castanhos-escuros, mni-
to escuros, como se n’elles estivesse
engastada a Noite, irradia a luz dulcis-
sima d’um sorriso de Rachel.
Cultiva a arte de Euterpe; e se os
fuselados dedos deslisam pelo teclado
d’um piano ou trinam as cordas d’um
bandolim, harmonias intimas, echoando
fundo na alma, nos arrebatam na va-
porosa aza da phantasia, ao paiz do
Ideal.
LITERATURA
Dizia-lhe elle, palpitando e rindo
ajoelhado a seus pés:
—Como eu morro d’amor n’esse olhar lindo,
e que meiga que tu és…
Mais tarde, quando ella soluçante
ajoelhava a seus pés:
— Vai-te, dizia o saciado amante,
que piegas tu és!
AMELIA JANNY.
pt
OS LX RIOS
Hontem disseste-me tu, minha fa-
gueirinha—«vem vêr os meus lyrios».
E fomos juntinhos, labios quasi colla-
dos, trocando segredos d’amor.
— «Olha como são lindos! todos tão
xomosi o É
Respondi te n’um galanteio —lin-
dos!… mas gosto mais dos teus den-
tes, gosto mais dos lyrios brancos.»
— «Tolo !» —disseste, corando.
E eu não mentia, gosto mais dos
lyrios brancos.
Se é uma historia tão triste a dos
lyrios roxos!…
e
Outrora, quando todos os lyrios
eram brancos, existiam dois namora-
dos tão leaes como é leal o nosso amor.
Elle, trigueiro como eu, Ella, bran=
ca como tu, minha amada!
Enterraram-o no cemiterio d’aldeia,
entre as campas d’uma creança e d’uma
avósinha.
E a sua sepultura era a mais linda
e bem cuidada por mãos cariciosas de
bem-me-quer —as mãos da sua Amada,
que altas horas, mysteriosamente, ali
foi plantar lyrios brancos, que d’outros
não havia.
Mais tarde, quando desabrocharam,
as flores dos lyrios eram todas roxas,
como a ferida que a setta traiçoeira
abrira no peito d’aquelle namorado tão
leal e trigueirinho como eu.
E, não sei porque! aquella historia
triste faz-me lembrar o nosso amor,
minha fagu-irinha. E tenho medo, como
se am tiro tralgoeiro nos viesse separar.
Por isso gosto mais dos lyrios bran-
cos.
Se é uma historia tão triste a dos
lyrios roxos!…
Alezandre de Albuqueaque-
p=
IRIS
Existe no men seio um fundo abysmo,
Onde ás vezes me venho debruçar,
Que eu proprio não consigo devassar,
Se se agita em revolto cataclismo.
Mal tu surges, porém, sinto acalmar
O extranho vendaval e então eu seismo
Como podem em ondas de lyrismo
Pornar-se as negras ondas d’este mar.
;
Estavam em vesperas de noivado E que do teu olhar a viva chamma
e conversavam 4 sombra d’umas amen- | Aquieta a lucta, em derredor derrama
doeiras, quando uma setta perdida do
caçador da montanha desfez todos os
castellos que phantasiavam em segredo.
*
E morreu aquelle namorado tão
leal e trigueininho como eu!
A calma luz d’um coração em flôr.
Por isso eu venho, ó iris de bonança,
Haurir em teu olhar ridente esp’rança,
Pedir um doce abrigo ao teu amor.
Lemos MAcEDO
fugir, respondia com o silencio, pre-
“ ciditando-se a cavallo contra a mó
dos inimigos.
—“Mas que resta?, pergunta-
vam-lhe afflictos.
—“Morrer!…,
“E seguia, batalhando, matando.
— “Morrer, senhor!, diziam-lhe
em lagrimas; e elle, sereno e con-
ciso:
— “Morrer, sim; mas devagar!,
—*“Pois não ha outro remedio?,
—S*O céul,
Um tropel d’africanos, rolando
como uma vaga que rebenta, en-
volveu tudo e esmagou esse ultimo
grupo de resistencia. Foi como n’um
terramoto. ao desabar de uma ca-
sa: tombaram, n’um turbilhão de
pô e d’imprecações, de onde reben-
tavam os clarões das espadas, como
linguas de fogo pelas fendas dos
escombros. Os que poderam esca-
par, não viram o rei imberbe cair,
nem morrer: ficou obscuramente
enterrado nas ruinas de sua lou-
X
cura…
Quando a nova do desastre che-
gou a Lisboa, a cidade entrou em
si, tomada de contricção e espanto.
As mulheres saíam pelas ruas, des-
grenhadas, a pedir misericordia,
chamando pelos paes, pelos mari-
dos, pelos filhos, captivos dos mou-
ros!
O que ainda havia de homens
em Portugal perdera-se em Africa;
e a prova era que o reino ia parar
ás mãos do cardeal D. Hentique,
tio do rei infeliz: o clero timido,
já caduçco, incapaz de nenhum acto
viril. Todos o imploravam, todos o
rodeavam chorando, orfãos é viu-
vuas, para que remisse os captivos!
E o reino “acabou de ficar sem
pelle com o preço dos resgates, .
Acabavam ao mesmo tempo,
com a patria portugueza, os dois
homens — Camões, D. Sebastião —
que nas agonias della tinham en-
cardo em si, e numa chimera, O
plano da ressurreição. N’esse tu-
mulo que encerrava com os cada-
veres do poeta e do rei, o da na-
ção, havia dois epitaphios: um foi
o sonho sebastianista; o outro foi,
é, o poema dos Lusiadas.
A patria fugira da terra para à
região aerea da poesia e dos my-
thos. Na terra via-se apenas O Car-
deal rei, cachetico, pendurado, co-
mo uma creança, a mamar nos
peitos-da Maria da Motta. É havia
quem pedisse ao papa que o dei-
xasse casar para dar successão ao
reino! A successão estava prepa-
rada a favor de Philippe que com-
prava tudo, e diante de quem to-
dos reverentes caíam de rastos.
Oliveira Martins.
empate@@@ 1 @@@
A Nympha do Zezere
CANÇÃO
A minha tristeza
Eu quiz minorar;
Busquei a beleza
Das praias do mar.
All meditando
Que tempo passei!
P’ras aguas olhando
Lhes disse: correi!
Tambem os meus dias
Felizes, passaram;
Minhas alegrias
Já todas findaram.
Meu peitto anhelante,
De dor a estalar,
É bem similhante
Ás ondas do mar.
Da sorte sofírendo
Continuo vaivem;
Os olhos volvendo
Não vejo ninguem.
Adeus bosques lindos,
E praias do mar!
Meus dias são findos,
Eu vou-me finar.
A vida foi sonho
Que já feneceu ;
Eoi quadro risonho,
Que já se escondeu!
Maria José F. Mendonça.
— eee
CORRESPONDÊNCIAS
Coimbra, 48. -— Consta-nos que a
Tuna Academica vae nas proximas
“ férias de Paschoa, a Vianna do Cas-
tello, Valença e Tuy.
— Deve realisar-se no domingo, se
o tempo o permittir, a procissão dos
Passos. O sermão do Calvario será
prégado pelo imminenteoradorsagrado,
rey. conego Alves Mendes.
No dia 28 do corrente, toma ca-
pello na faculdade de mathematica, o
sr. dr. Antonio dos Santos Lucas,
distincto official de engenheria.
— Theatro-Circo. — Procedente do
Colyseu dos Recreios, de Lisboa, es-
treiou-so no sabbado a Companhia
Equestre, dirigida por D. Henrique
Dias. A companhia conta artistas de
valor, pois tem conseguido agradar pela
perfeição dos trabalhos executados.
Hoje, estreia do cavallo aereo, gran-
de novidade da epocha, Espera-se gran-
de concorrencia.
— Deverá realisar-se no dia 31 do
corrente, a primeira recita de despe-
dida do 5.º anno juridico, subindo à
scena a peça intitulada— Jpsis verbis.
A decoração do theatro é dirigida pelo
Dr. Quim Martins, que amavelmente
accedeu ao pedido que lhe fizeram.
Esperam-se muitas familias dos
quintanistas que veem assistir a esta
recita.
— Sahiu para a Figueira da Foz,
o nosso amigo Antonio Maria da Gam-
ma.
4. B.
SECCÃO ALEGRA
Um advogado pequeno de corpo,
mas grande em conhecimentos, foi um
dia como testemunha depôr perante
um juiz corpulento. Como é da praxe,
o juiz perguntou-lhe a profissão.
— Advogado.
— O senhor é homem de leis? disse
o juiz como admirado.
E continuou:
—Eu podia mettel-o no meu bolso.
— Talvez, disse o advogado, e olhe
que teria mais jurisprudencia no bolso
do que nunca teve na cabeça!
x
— Josepha, Josepha!
-— Minha senhora, chamou-me?
— Que estás a fazer
— Não estou a fazer nada.
— E tu, Margarida?
— Estou a ajudar a Josepha.
x
Advogado:
— Mostrou o recibo ao auctor?
— Mostrei
— E elle que disse?
— Disse-me que fosse para o diabo.
— E vossê que fez.
— Vim ter com V. Esx.?.
ae
Um moribundo, que toda a sua
vida fôra devoto de Baccho, pediu um
copo d’agua, bebeu, e disse com grande
contricção:
A” hora da morte devemos conci-
liar-nos com os nossos inimigos.
XxX
Uma dona de casa, entrando de
repente na cosinha, encontrou a criada
a beber uma garrafa de vinho.
– Às duas encarando-se :
— Francamente, Francisca, estou
admirada.
—E eu tambem, minha senhora.
Julgava que tinha sahido.
x
‘ Saindo dois noivos da egreja em
seguida ao casamento, disse a noiva
ao noivo:
|. — Agora espero que terá muito.
Juizo.
‘— Fique certa d’isso. Esta é a mi-
nha ultima asneira.
Re
— José, a aguarde te dá cabo de ti.
— Enganas-te, Maria, eu é que já
dei cabo della.
x
Uma criança, sendo condemnada
pelo pae a ir-se deitar sem cear, quan-
do na cosinha se despediu de cada
pessoa, cheirando-lhe bem o assado
que se voltava no espeto, disse com
tom lacrimoso :
— Adeus, assado.
Gostaram tanto da partida, que o
deixaram cear com a familia.
se mm
Bibliographia
Recebemos e agradecemos as se-
guintes publicações:
Echo da Beira —semanario d’esta
villa.
Conimbricense — bi-semanal de
Coimbra.
O Zezere — semanario de Figueiró
dos Vinhos.
Correio de Leiria — semanario de
Leiria.
Gondola—revista bi-mensal e litte-
raria vedigida por estudantes de Coim-
bra.
Vamos estabelecer permuta.
Tambem agradecemos as palavras
mais que benevolas que alguns dos
nossos collegas nos dirigiram.
————— eme
Logogripho
Outr’ora povo mui celebre-4-7-8-1-6-5
Descobriu um bom calmante-3-9-2-10-6-7
P’ra curar certa doença-2-10-4-6-7
A quem não fosse tratante.-8-1-4-7-3-5
Procurando attentamente
Com alguma paciencia
Ver-se-ha que o tal invento
Pertence a esta sciencia.
Março 9. B. À.
EX PEDIENTE
Para regularisar a nossa ad-
ministração, pedimos ás pes-
soas a quem enviamos o nosso
jornal, a fineza de nol-o devol-
verem, o mais depressa possi-
vel, caso não queiram honrar-
nos com as suas assignaturas.
Typ. e Lit. Minerva Central—Coimbra