A Nympha do Zêzere nº6 19-05-1897
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A
Nº o
sfoertds — (uAnha LOTA, do Ut AO Do doe
Pee
“A NYMPHA DO ZEZERE
semanario noticioso e litterario
Direcror — E. DE SANDE MARINHA
ASSIGNATURA
Certã e Coimbra, 80 reis mensaes — Fóra da Certã, 350 por 4 mezes.
Brazil, anno, 43500 reis. — Africa, anno, 1800 reis. — Avulso, 25 reis.
Toda a correspondencia deve ser dirigida à redacção dA NLMPHA
DO ZEZERE, Certa.
PUBLICAÇÕES
Cada linha ou espaço de linha, 30 réis. — Repetições, 20 réis a linha.
Annúncios permanentes, preço convencional. — Os srs. assignantes
têem o abatimento de-30 por cento. — Os originaes recebidos, não
se restituem, quer sejam ou não publicados.
Chronica
São sempre assim as cousas deste
mundo : os acontecimentos d’hoje fa-
zem-nos esquecer os d’hontem, assim
como a noticia dos de hontem nos dis-
sipara a lembrança dos da vespera. E
contudo ha longo tempo que uma in-
– terminavel serie de notaveis successos
se vêm desenrolando aos olhos de to-
dos nós.
Não fallamos já das sangrentas es-
caramuças de Cuba e das Philippinas,
a proposito das quaes os telegrammas
de Madrid, inspirados num santo fogo
d’amor patrio, foram pouco a pouco
matando todos os rebeldes. . . mas
depalde, porque a Liberdade é como
eni
outro com novo brilho e maior vigor,
como o podem testimunhar Martinez
Campos, Weiler e Polavieja…
Os successos do Oriente attrahiram
por completo as atenções do mundo
civilisado. Emquanto as nossas mais
lidas gazetas dedicavam diariamente ao
assumpto varias das suas columnas,
epigraphadas por letras garrafaes a
tentarem a curiosidade do respeitavel
publico, as guerras da valorosa Hes-
panha ficavam reduzidas aos telegram-
mas da Havas. E nas conversas dos
clubs, dos cafés, dos jardins, em toda
a parte, não se fallava n’outra cousa
que não fossem gregos é turcos. A
guerra do Oriente era o assumpto de
todos os momentos ; e a proposito das
forças dos dois estados belligerantes
phantasiavam-se com paixão e com in-
teresse as mais desencontradas solu-
cões da sangrenta lucta, que, as por-
tas do seculo XX, mais uma vez ia
travar-se renhida, frente a frente, en-
tre a cruz de Christo e o crescente do
Propheia.
x
Entretanto, em Portugal, approuve
ao ministerio dar-nos O espectaculo,
aliás eminentemente constitucional, de
umas eleições geraes. O escrupuloso
governo do sr. D. Carlos, que não põe
duvidas em cavar ainda mais funda a
ruina financeira do paiz, contrahindo
um novo emprestimo em onerosissimas |
Phe aniquilada um dia sob a,
—ferrea mão do despotismo, renasce no.
condições, arreceou-se, no intimo da
sua limpida consciencia, de tocar na
obra immortal dos seus illustres pre-
decessores: era preciso fazer entrar
a politica portugueza nos eixos do con-
stitucionalismo : era preciso chamar à
capital uma nova edição dos represen-
tantes do paiz. O dia 2 de maio pas-
saria à historia em letras d’oiro…
E os srs. Luciano de Castro e João
Franco fizeram as suas eleições; e à
bocca das urnas, segundo uns, foi ga-
rantida a mais completa liberdade do
voto, segundo outros foram praticadas
as mais infames prepotencias ; e a tra-
dicionalmente governamental Gertã lá
foi tambem numa invariavel paz pódre
exercer o direito do suffragio ; e, em
summa os inconstituciónaes Barrigas
lã foram substituídos pelos constitucio-
7
naes Pansas
lou em outra cousa. Eleições! eleições!
Se d’esse nome tão simples se evola
um tão delicioso perfume de carneiro
com batatas !… –
*
Dias depois um sinistro incendio
enlutava a capital da França, que quasi
se pode dizer a capital da Europa.
As chammas que devoraram o Ba-
zar da caridade, carbonisaram impie-
dosamente mais de um cento de ca-
daveres, sem respeito pela formusura,
nem pelos pergaminhos, nem pela eda-
de, nem pelas posições sociaes. A
aristocracia parisiense, attingida nas
pessoas dos seus membros mais .ele-
vados, soffreu um rude golpe, perante
os quaes se inclinaram respeitosos,
numa attitude de dolorosa consterna-
ção, todos os principes e todas as côr-
tes europeias, que, como ha dias ainda
notava O insigne jornalista portuense
José Caldas, não sentem, aliás, a mi-
| nima commoção com os desastres quasi
diarios que, no fundo negro das minas,
[levam a vida a centenas de operarios
que lá viveram sempre enterrados, e
que enterrados lá morrem e lá ficam,
ali a um canto, sem a riqueza deslum-
brante dos opulentos mausoleus, sem
uma lousa sequer a signalar-lhes o leito
do ultimo repouso, sem uma restea de
sol a quebrar-lhes a frieza algente da
campa. ..
E o incendio de Paris despertou
piedosas e sentimentaes lamentações
a toda a gente, que nas noticias da
horrorosa catastrophe mitigava com
prazer a febre da sua curiosidade…
x
Em Paris, d’aquella pavorosa heca-
tombe desfazem-se ainda, apenas, pelo
espaço, os ultimos rolos do fumo ne-
gro dos carvões; em Portugal soa ainda
o estrugir dos ultimos foguetes eleito-
raes e com os ultimos vapores do car-
neiro com batatas a evolarem-se das
cassarolas esvasiadas, perdem-se ao
longe as notas avinhadas das derra-
deiras saudações dos galopins…
E, entretanto, vencida no Epiro e
na Tessalia, esmagada sob os numero-
sos esquadrões turcos que o instincto
s P: E te prazer da guerra embriagaram, e
“E durante muitos dias não se fal-
| que a traição allemã disciplinara, a
Grecia, que com tanto enthusiasmo
partira para a guerra, disposta a sa-
crificar-se pelo seu ideal de Liberdade
e de Justiça, ella que com tanto valor
travara as primeiras pelejas, vê-se al-
fim na durissima necessidade de capi-
tular perante as successivas victorias
do inimigo, depois de esgotados os seus
recursos materiaes, depois de derrama-
do.o sangue e de perdidas as vidas de
tantos e tantos dos seus filhos.
E a proposito das condições de paz
já se falla em rios de dinheiro exigido
pela Porta ottomana, em restabeleci-
mento das antigas fronteiras com pre-
juizo para a integridade territorial da
Grecia, em cessão de vasos de guerra,
em mil espoliações, emfim.
– Resta saber se as chancellarias eu-
ropeias, às quaes estão confiados os
interesses do povo grego, continuarão
a sua politica machiavelica contra essa
| nação tão valente, tão heroica, e por-
isso mesmo tão sympathica.
Vac viclis !…
CRUZ VERMELHA
A commissão central da Sociedade
da Cruz Vermelha, em virtude do ap-
| pello feito pelo comitée internacional de
| Genebra. pedindo auxilio para a sua
[irmã grega, resolveu auctorisar a des-
| peza até cinco contos para a comprapra@@@ 1 @@@
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A NZMPHA DO ZEZERD O
de 2:000 lençoes, 1:000 fronhas, 500
cobertores de lã, 1:000 camisas, 1:000
ceroulas, 1:000 toalhas, 1:000 guarda-
napos, 1:000 ligaduras, etc.
LITTERATURA
AS LAGRIMAS DO POETA
Ao dr. José Tavares
EB
Parecia que um braço terrivel e
exterminador lançára uma maldição so-
bre aquella terra…
Em roda tudo deserto até ao mais
largo que a vista alcança; — vista de
aguia que fôsse não devisaria mais que
o duro cascalho a desfazer-se batido
das ventanias.
Parecia maldita aquella terra tão
aspera e tão arida, que nunca rosas
ali floriram, nem jâmais germinou a
herva humilde e o musgo rasteirinho.
EE
Todas as tardes, para chorar a sua
desdita, o seu amor sem esperança,
Sidi-Ali, o poeta sentimental e triste,
recolhia-se à solidão d’aquella terra
arida onde rosas nunca floriram, e já-
mais aves cantaram.
E dizem que chorou tanto, que um
ribeirinho se formou, e com O ribeiri-
nho brotou o primeiro oasis.
Lagrimas d’amor são lagrimas bem-
ditas, que hoje aquella terra já não
parece amaldiçoada;—rcsas florescem
e germina a herva humilde e o musgo
rasteirinho.
Coimbra — xcvit.
ALEXANDRE DE ALBUQUERQUE.
NA CHIMEBRA!…
A meu irmão Antonio Lino Netto.
Eu ando pelo mundo
Desherdado da vida
Chorando de saudade
Minha esp’rança perdida!…
Amor p’ra mim é sonho…
—Ai! quem me déra amar!
Amo só uma visão
E as ondas do mar!
Minha pobre cabeça
E” jardim d’illusões!
Deixa-se ella enganar…
Julga ver corações !
E vem-lhe então a dôr,
Então o desengano…
E pede mais chimeras
E outro doce engano!:
Ir então, ir bem longe,
N’um barquinho encantado…
Achar lá n’uma ilha :
Castello abandonado…
—Era fazer d’um sonho
Um lindo anjo bemdicto,
Era fazer da alma
Azas do infinito !
Mas o nada é fatal!
A morte… ha de ella vir!
No abysmo dos tempos
Tudo se vae sumir !…
Jose Lixo.
ed A o
coração
Põe, minha amiga, põe sobre meu peito
A tua serena mão.
Ouves? Ha dentro delle um carpinteiro
Que trabalha de noite e o dia inteiro
Pregando o meu caixão.
Vamos, trabalha, mestre! Sim trabalha,
Aº obra sem cessar!
Não deixes a tarefa em abandono,
Vamos, trabalha, mestre ! Eu tenho somno,
E quero descançar |
Luiz GUIMARÃES.
À historia do amor
Com O coração em dôr, pelo deses-
pero d’um amor immenso, chamei um
dia as fadas antigas, que andaram pelo
Oriente… chamei tambem as moiras
encantadas que povoaram Alhambra,
n’um tempo de chimera! E vieram. E”.
que o meu coração, à força de querer
amar, partiu-se! e ellas, as fadas do
amor, tiveram pena dos ais que dei,
e correram à minha voz. «Aqui esta-
mos!» — disseram ellas; o que ellas
disseram mais, nem eu sei! Só per-
cebi que a minha alma se tinha feito
grande como o infinito e que o meu
coração ardia dum fogo mysterioso e |
divino.
Comecei a sonhar |…
Estava nos paizes do Levante! Em
que parte, não sei! sei só que era um
paracio encantado, opulento de mara-
vilhas. Entrei n’uma salla immensa;
havia lá muita luz, muita luz!… Per-
guntei o que era aquillo. — E” o sol
que está a descançar para partir âma-
nha para o occidente, a aquecer as.
flores, as filhas d’ellet…
Soube então que 6 sol era feito de
amor !
Passei a outra salla. Milhares de
estrellas abriam os olhos; estavam a
accordar, para depois irem no azul
procurar quem as quizesse, porque só.
“| viviam de quem as quizesse! e ano
— Passei ainda a outra salta: estava —
a lua a tecer n’um tear! E que linda
tecedeira ella era !… Que fazeis? —
interroguei eu. — Estou tecendo os ‘so-
nhos para velar aos homens a reali-
dade da vida!
Meditei um pouco, e conclui que
estava no palacio do amor !
Chamei por elle, e o amor veiu!
O que me pareceu, não sei dizer bem…
Pedi-lhe só que me désse um logar no
seu palacio… um cantinho que fosse!
Sorriu-se meigamente para mim, e,
(1) FOLHETIM
O ULTIMO ABENCERRAGEM
Ria qa E AND
Quando Boabdil, ultimo rei de Gra-
nada, foi obrigado a abandonar o rei-
no de seus paes, parou no cume do
monte Padnl. D’esse logar elevado des-
cobria-se o mar, no sitio em que este
infeliz monarcha ia embarcar para a
Africa; avistava-se tambem Granada,
a Vega e o Xenil, na margem do qual
estavam assentadas as tendas de Fer-
nando e Isabel. A” vista d’esse bello
paiz, e dos cyprestes que marcavam
ainda, aqui e alli, tumulos de musul-
manos, Boabdil rompeu a chorar. A
sultana Aixa, sua mãe, que o acom-
panhava ao desterro com os grandes,
que compunham ontr’ora a sua côrte,
disse-lhe: «Chora agora como mulher
um reino que não soubeste defender
como homem». Desceram da monta-
nha e Granada desappareceu para sem-
pre da vista dos musulmanos conster-
nados.
Os mouros d’Hespanha, que parti-
lharam a sorte do seu rei, espalha-
vam-se pela Africa. As tribus dos Ze-
gris e dos Gomelos estabeleceram-se
no reino. Os Vanégas e os Alabés: pa-
raram na costa, desde Oran até Alger,
e, finalmente, os Abencerragens fixa-
ram-se nos arrabaldes de Tunis, for-
mando todos, à vista das ruinas de
Carthago, uma colonia, que se distin-
gue ainda hoje dos mouros d’Africa,
pela elegancia dos seus costumes e do-
cura das suas leis.
Essas familias trouxeram para a
nova patria as recordações da antiga.
O Paraiso de Granada vivia sempre
na sua memoria, porque ainda os me-
ninos andavam ao peito e já suas mães
lhes ensinavam este nome querido. Em-
ballavam-nos com os romances dos Zé-
gris e dos Abencerragens. Todas as
manhãs iam orar à Mesquita, voltando-
se para Granada. Invocavam Allah para
que elle restituisse aos seus escolhidos
essa terra de delicias. Em balde o paiz
do Lotophagos offerecia aos tristes exi-
lados os seus fructos, as suas aguas,
a sua verdura, o seu sol brilhante;
longe das Torres Vermelhas, não havia
nem fructos agradaveis, nem fontes
limpidas, nem verdura fresca, nem sol
digno de ser visto. Se a algum banni-
do se apontava para as planices da
Bagrada, elle maneava a cabeça € ex-
clamava suspirando: «Granada !»
Os Abencerragens entre todos eram
Os mais fieis à memoria da sua antiga@@@ 1 @@@
x
y,
de repente, sem saber como, fiquei |
outro !
Vi então, em todo o seu explendor,
“o paiz da luz; e, n’aquelle paiz, o meu
“Coração era como uma cotovia, a can-
tar, a cantar…
extasis !
Mas um vento extranho passou por
ali pouco depois, e as minhas azas de
ouro, tão lindas, tão lindas! quebra-
ram-se com o vento. Ai! minhas azas
douro !…
Despertei do sonho; mas as fadas,
— as fadas antigas que andaram pelo
Oriente e as moiras encantadas que
povoaram Alhambra, n’um tempo de
chimera, estavam ainda ao pé de mim:
— Olharam-me longamente, na sua
tristeza infinita, e disseram:
—Pára o coração, pobre sonhador!
Fugindo vae o amor, e, por falta de
amor, andamos nós errando !
E nunca mais vi as fadas !
L.
na embriaguez d’um
CARNET LOCAL
Regressou de Lisboa o sr. João da
Silva Carvalho, conceituado commer-
ciante n’esta praça.
Sahiu para Lisboa, a ex.”º sr.º D.
Henriqueta Victoria da Matta Ribeiro.
Sahiu tambem para Salvaterra de
Magos, o sr. Francisco Cezar Gonçal-
ves, digno escrivão e tabellião n’esta
comarca.
Teve logar no dia 16 do corrente,
a inspecção dos reservistas deste con-
celho.
Passa melhor dos seus incommodos
o sr. dr. João Ribeiro d’Andrade.
A NEMPHA DO ZzEZERE
Estiveram n’esta villa os srs. te-
nenie-coronel Sousa Braga e sargento
Padua, de caçadores 8.
Ja regressaram de Castello Branco
os srs. padre Francisco dos Santos e
Silva, dr. Albano Frazão, Mella Junior
e Torres Carneiro.
– Estiveram entre nós os srs. João
Nunes Tavares, padre Manuel d’Oli-
veira Pires e Antonio Neves, de Villa
de Rei.
E RE Nas a
‘ANNIVERSARIO
Completou no dia 16 do corrente,
23 primaveras, O nosso amigo Augusto
Justino Rossi, digno amanuense da ca-
mara municipal d’este concelho.
As nóssas felicitações.
caia
CORRESPONDÊNCIAS
Coimbra, 48.—-Sahem hoje para o
Porto, os srs. drs. Affonso Costa, Gui-
marães Pedrosa, Frederico Laranjo e
Fernandes Vaz; vão fazer parte do
jury, que ha de avaliar as provas da-
das em concurso pelos concorrentes à
cadeira de Economia Politica, vaga na
Academia Polytechnica pela morte de
Rodrigues de Freitas.
Os concorrentes são, entre outros,
os srs. drs. Roberto Alves, Pires de
Lima, Adolpho Pimentel, Bento Car-
queijo e Carneiro de Moura.
— O ponto na Faculdade de Medi-
cina, está marcado para o dia 2 do
proximo mez de junho.
—Em tratamento no hospital d’esta
cidade, acha-se um individuo. de côr
preta atacado de doença de somno.
e
Dorme constantemente, sendo acorda-
do sómente à hora das refeições.
— Defendeu theses nos dias 14 e
14, perante a Faculdade de Direito, o
sr. dr. Francisco Joaquim Fernandes,
obtendo approvação nemine discripante.
— Durante o mez d’abril, foram
mortos n’este districto, 193 cães va-
dios.
— Pela ultima ordem do exercito,
foi prcmovido a general de brigada, o
coronel do regimento d’infanteria 23,
sr. Camillo Rebocho.
Para commandante do 23, foi trans-
ferido o sr. Guedes Bacellar, coronel
do 14.
— Diz-se que o curso do 4.º anno
jurídico vae, no dia do ponto, jantar
ao Bussacço.
— Requereu a sua jubilação, o sr.
dr. Manuel d’Oliveira Chaves e Castro,
lente do 4.º anno de direito.
A. B.
Oleiros, 18.—Duas palavras justas
à philarmonica d’Oleiros: — E” gosto
ouvil-a. Tem um bem escolhido repor-
torio; bastantes peças são composição
do seu habil regente. Um pessoal sub-
misso, unido, estudioso. Orgulhe-se o
mestre, honrem-se-os discipulos, glo-
riem-se os corações generosos qne a
teem protegido. Não calemos mereci-
dos louvores aos musicos em geral,
nem deixemos de especialisar Celes-
tino Romão e José Rei, pela intelligen-
cia e brilho com que se desempenham
do seu logar.
Prosiga a philarmonica Oleirense
sempre com geral dedicação, que o
seu trabalho já começa a coroal-a de
verdes louros. Um resultado, em pouco
tempo, tão satisfatorio, anima os asso-
ciados e não cança a mão esmoler dos
seus benevolos protectores.
— Tem passado incommodada de
saude a ex.=º sr.? D. Maria Carolina,
e amada patria. Tinham deixado com
– saudade mortal o theatro da sua glo-
ria e as margens, em que elles tantas
vezes tinham feito resoar o seu grito
de guerra: «Honra e amor». Não po-
dendo já brandir a lança pelos deser-
tos, nem cobrir-se com o capacete n’uma
colonia de lavradores, tinham-se dedi-
cado ao estudo das plantas, profissão
estimada entre os arabes quasi tanto
como a das armas. Por esta maneira,
essa raça de guerreiros, que outr’ora
fazia feridas, occupava-se agora da arte
de curar, e n’isto havia ella conser-
vado alguma coisa da sua origem, por-
que Os mesmos cavaileiros pensavam
muitas vezes as feridas do inimigo que
acabavam de deitar por terra.
A cabana d’esta familia, que outr”
ora tivera palacios, não estava collo-
cada. no logar dos outros exilados, ao
pé da montanha de Mamelife; via-se
entre as proprias ruinas de Carthago,
na borda do mar, no sitio em que S.
Luiz morreu, e onde ainda hoje se vê
uma ermida mahometana. Nas paredes
da cabana viam-se pendurados escudos
de pelle de leão, que tinham pintadas
em campo azul, duas figuras selvagens,
demolindo uma cidade com uma massa.
Em torno d’essa divisa, liam-se estas
palavras: «E” pouca coisa!» Armas é
divisa dos Abencerragens. Ao lado dos
escudos, e brilhando no meio das ci-
mitarras e punhaes, estavam lanças
ornadas de bandeirolas brancas é azues,
gibões de setim lavrado, manoplas,
freios enriquicidos de pedraria, largos
estribos de prata, compridas espadas,
cujas bainhas tinham sido bordadas
por mãos de princezas, acicates de
ouro que os Vseult, os Genievros, os
Orianos, haviam antigamente calçado
à valentes cavalleiros.
Nas mezas, ao pé desses trepheus
de gloria, estavam postos tropheus de
uma vida pacifica: eram plantas colhi-
das no cume do Altas, e no deserto
de Sehará: muitas d’ellas haviam sido
colhidas nos campos de Granada. Umas
eram proprias para consolar os males
do corpo, as outras deviam extender
o seu poder até aos da alma. Os aben-
cerragens estimavam sobremaneira as
que serviam para acalmar vãs saudades,
dissipar loucas ilusões, e essas espe-
ranças de felicidade sempre nascentes,
e sempre illudidas. Desgraçadamente,
essas plantas tinham virtudes oppos-
las, e muitas vezes o perfume de uma
flôr da patria era como uma especie
de veneno para os illastres desterra-
dos.
(Continia).a).@@@ 1 @@@
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A NYMPHA DO ZEZERE
mana do ex.”º sr, dr. Mendonça, mui
digno presidente do senado Oleirense,
e um filhinho do mesmo senhor.
Os nossos votos pelas suas melho-
ras.
E
Foi nomeado administrador substi-
tuto do concelho d’Oleiros, o sr. José
Domingos Antunes.
e +… 0444
Polo estrangeiro
»
A CASA D’AUSTRIA
Mortes tragicas
Acerca das mortes tragicas que
se registam na historia da casa d’Aus-
tria, conta um jornal:
A duqueza de Alençon, irmã da
imperatriz Izabel, não é a unica prin-
ceza d’Austria que tem morrido quei-
mada viva. Em 1867, a arquiduqueza
Matilde, filha do arquiduque Alberto,
pereceu da mesma maneira, mas não
em circumstancias analogas. A joven
princeza gostava muito de fumar, e
apezar da prohibição do pae, não re-
sistia à tentação de, por vezes, se en-
tregar, a occultas, a esse prazer. Um
dia a arquiduqueza acabava de accen-
der uma ecigarrilha, quando seu pae |
entrou no quarto. Muito atarantada es-
condeu a cigarrilha na algibeira e pôz-
se a conversar com o arquiduque Al-
berto. Tinha este acabado de sair do:
quarto de sua filha, quando a princeza
começou a sentir uma dôr muito agu-
da. Ao mesmo tempo notou que o seu
vestido estava em chammas. Gritou
immediatamente por soccorro, mas acu-
diram-lhe muito tarde. O fogo, com-
municado à algibeira, envolveu em pou-
cos minutos a mallograda senhora, que
d’ahi a poucos instantes exhalava o ul-
timo suspiro.
Uma especie de fatalidade parece
pesar sobre a familia imperial da Aus-
tria, que tem sido attingida por di-
versos acontecimentos tragicos.
Está ainda na memoria de todos o
fim do imperador Maximiliano, fuzil-
lado no Mexico, e o do arquiduque
Rodolfo, que morreu tão misteriosa e
romanescamente.
O arquiduque João Salvador des-
appareceu, dizendo-se que morrera em
um naufragio; o arquiduque Guilherme
morreu d’uma queda d’um cavallo; e
o arquiduque Ladislau succumbiu vi-
ctima dum desastre soffrido n’uma ca-
cada.
A familia real da Baviera, a que
tambem pertencia a duqueza de Alen-
con, não tem sido mais feliz. O rei
Luiz suicidou-se ha poucos annos e o
rei Otton, seu successor, está louco,
sem esperanças de salvação.
EXPOSIÇÃO DE PARIS
Contém 108 artigos, O regulamen:
to geral da Exposição de Paris em
1900.
A” grande exposição será adjunta
uma exposição retrospectiva centenal
resumindo os progressos realisados du-
rante o seculo XIX. Os.productos ex-
postos, serão divididos em 18 grupos,
subdivididos em 120 classes.
O praso para a admissão ao cer-
tamen termina em 31 de janeiro de
1899.
GRANDE DESCOBERTA…
O professor Luciano Blak, da Uni-
versidade de Kansas, nos Estados Uni-
dos, após pacientes pêsquizas, desco-
briu um tratamento electrico—a cata-
forese — graças ao qual affirma poder
branquear, ou, segundo a expressão
do sabio, descarbonisar o pigmento que
torna preta a pelle do negro.
Em alguns mezes, segundo elle,
será possivel tornar o mais negro dos
africanos tão branco como um euro-
peu. Ao que parece, as primeiras ex-
periencias deram resultados maravi-
lhosos. O doutor transformou já um
certo numero de creaturas: mulheres,
creanças e até um velho!
Referem de Roma que o facto de
o duque de Orleans, na sua passagem
na Cidade Eterna, não ter querido re-
ceber nenhum representante cfficial,
quando em todo o resto do percurso
aceitava condolencias das auctoridades,
é interpretado como homenagem que
o duque rendeu ao Papa, cuja benevo-
lencia deseja conquistar. O duque vi-
sitará o rei Humberto, mas em Turim.
Uma rapariga de Brighampton, nos
Estados Unidos, vendeu por 1:000 dol-
lares um dedo da mão à mulher dum
rico industrial do Texas, que precisa
de fazer a amputação d’um dedo, sub-
stituindo o — como ? — pelo da tal ra-
pariga !
eme
A subscripção aberta pelo Figaro
para as obras de benemerencia que o
Bazar da Caridade sustentava, chegou
já a 1:300:000 francos.
O presidente dos Estados Unidos
inaugurou na Philadelphia a estatua
erigida a Washington.
Um pae furioso com o.procedimento
de seu filho em Coimbra, escreveu-lhe
a seguinte carta:
«Estou por tal fôrma zangado com-.
tigo, que resolvi suspender-te as me-
zadas. O dinheiro que receberes d’aqui
por diante será mandado por tua mãe
sem cu o saber. E lembra-te que se .
não estudares, ficas sendo-um burro
como és de nascença. — Teu pae Zé
Bonifacio.
No tribunal: .
Juiz. — O réo é accusado de ter
roubado cinco arrobas de palha.
Réo. — E” verdade, sr. juiz.
Juiz. — Mas que motivo foi esse
tão forte que o levou a rouhar a pa-
lha?
– Rêo—A fome, sr. juiz, a negra
fome !
%
Um escriptor muito conhecido con-
vidou para jantar um collega, que lhe
fazia as peiores ausencias. ,
—pPois lu oflereces de jantar a um
homem que te calumnia? perguntou-
lhe um amigo. |
— Offereço, respondeu o litterato;
já que não posso fechar-lhe a bocca, .
encho-lh’a.
ANNUNCIOS
BBLIOTHEGA AMOROSA.
E” uma nova collecção- de contos
engraçados, estylo realista, suave, tran-
sparente, sem vocabulos pornographi-
cos. Cada volume, que consta de 32 a
64 paginas, impressas em bom papel
assetinado e ornamentado com 5 boni-
tas gravuras, custa apenas 60 réis.
Cada serie de 10 contos ou sejam
320 paginas e 54 gravuras, 500 réis.
Vendé-se nas principaes livrarias
de Lisboa e Porto, provincias, ilhas,
Africa e Brazil, devendo os pedidos ser
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