Eco da Beira nº48 15-08-1915

@@@ 1 @@@

 

A

SEMANARIO

POLITICO

 

 

 

Assinaturas:
Anok (TIP a. e À
Semteste 2 +. fadas – 6o
Brazil (moeda brazileira)… 5ooo

 

Anuncios, na 3.2 e 4.2 página 2 cen
tavos alinha ou espaço de linha

 

“Separação d

 

Em

E

 

6

“sao [5] PROPRIEDADE DO CENTRO REPL

DIRECTOR -— ABILIC

Editor e administrador – ALBEI

 

PERES

funcionários

 

Devem, em breves dias, estar con-
cluidos os trabalhos das comissões
encarregadas da escolha dos empre-
gados públicos que, por manifesta-
rem o seu ódio às instituições que
servem, teem de ser afastados do
serviço.

Forçoso é reconhecer que a lei
que só agora se vai aplicar, já há
muito tempo devia ter sido publica-
da e posta em execução. o

A melhor oportunidade para se
proceder a tal escolha teria sido,
sem dúvida, os primeiros dias após
a implantação da República, ou,
então, logo que vingou o, movi-
mentó revolucionário de’r4 de Maio.

Agora já é um pouco tarde para
a lei produzir os efeitos desejados,
mas, emfim, mais vale tarde do que
nunca. :

Após o 5 de Outubro pouquissi-
mos funcionários foram afastados
dos seus lugares e substituídos por
republicanos; a grande maioria fi-
cou nas répartições sem que nin-
guêm a incomodasse ou lhe exigis-
se atestados de republicanismo.

Demais sabia o govêrno que êsses
funcionários eram monárquicos, de-
pendentes de vários conselheiros
que por qualquer forma ali os ani-
charam.

A República só lhes exigia, fideli-

ade no cumprimento dos seus de-
veres sem se preocupar se eram
manuelistas, miguelistas ou sebas-
tianistas. Mas como corresponderam
êsses funcionários a êste tão justo
desejo da República? Organizando
conspiratas, difamando-a por toda a
parte, tomando ares arrogantes é
provocadorês por suporem fraqueza
o que não passava duma desmedida
generosidade !

Era tão deprimente o estado a
que se chegara que funcionários ha-
via que, até no exercício das suas
funções, faziam a propaganda mais
descarada contra as instituições que
fingiam servir.

Ainda no tempo dessa ditadura
que para aí vegetou durante quasi
quatro mêses, dessa ditadura que a
única vantagem que trouxe ao País
foi desmascarar alguns trampolinei-
ros que o medo fizera republicanos
após a Revolução de 5 de Outubro;
ainda no tempo dessa ditadura, co-
mo iamos dizendo, tivemos ocasião
de observar o profundo rancor que
certos funcionários nutriam por tu-
do qo, cheirasse a República e
o zêlo inexcedível com que faziam
a propaganda do antigo regime.

Repartições havia em que sôbre
os balcões ou secretárias se esten-
diam exemplares de jornais monár-
quicos e reaccionários (o Dia, a Na-
ção, etc….) como que chamando a
atenção do desgraçado que lá tivesse
necessidade de entrar, para as infã-
mias vomitadas por tais pasquins..

Verdade seja que muitos dêsses
cavalheiros que então eram os ze-
losos propagandistas de tal impren-
sa, hoje, leem nas repartições a im-
prensa avançada tendo, porêm, o

 

cuidado de deixarem sempre bem à
vista o título dos jornais para prova
do seu acrisolado: republicanismo.

Era, pois, urgente a publicação
duma lei que fizesse o saneamento
tal repartições do Estado que com
dasgente eram autênticos focos de
permanente revolta.

Compreende-se lá que a Repúbli-
ca estivesse servida pelos seus: pró:
prios inimigos ? Era inadmissível; e
poder-se-ia considerar liquidado. o
regime que em tal consentisse.

Se, por uma fatalidade, a Repú-
blica-fôsse amanhã substituída pelo
regime dos adiantaméntos é fora de
dúvida que os republicanos não se-
riam tratados pelos monárquicos
com a mesma generosidade que à
êles tem sido dispensada.

Pois não é verdade que, quando
os monárquitos viram o bom cami-
nho que o funesto govêrno Pimenta
de Castro levava, organizaram, em
alguns concelhos, listas dos republi-
canos que seriam sacrificados logo
que o Manôlo voltasse ao palácio de
onde heroicamente fugira ou D, Mi-
guel chegasse à barra?

E” bem certo o que nos diz a filo-
sofia popular: Quem o seu inmigo
poupa às mãos lhe morre.

A República já. viu o resultado
de tantas transigências. E” precizo,
portanto, que dê a êstes seus fieis
servidores o prémio a que teem d:-
reito, mandando-os para onde não
façam perca nem dano e substituin-
do-os por criaturas que, a par da
competência, ofereçam garantias do
zêlo e patriotismo de que tanto ca-
recem os ilustres substituídos.

Das comissões nomeadas pelos
ministros depende o bom ou mau
êxito da aplicação da lei.

A tarefa que sôbre elas impende
é bastante árdua e espinhosa.

Com quantas dificuldades não lu-
tarão essas comissões para o desem-
penho consciencioso da sua missão ? !

“” que a falta de caracter é, infe-
lizmente, hoje tanta entre nós que,
uma grande parte, não tem à cora-
gem suficiente de afirmar em públi-
co as suas opiniões políticas.

Muitos há que a estas horas es-
tão aconchegados a aualquer dos
partidos republicanos com o fim
único de escáparem às garras da lei.
E claro que estes ilustres cavalhei-
ros logo que a tempestade passe
voltam à antiga…

Por isso é que a todos os
blicanos incumbe o dever de evitar
que sob a bandeira dos seus parti-
dos se vão acobertar criaturas sem
hombridade e que continuarão a ser
elémentos perniciosos e de desor-
dem tornando improficua uma lei
por todos os títulos justa e absolu-
tamente necessária.

Por forma alguma desejamos que
se façam perseguições; mas O que
queremos é que a lei seja aplicada
com todo o rigor, a fim de que pos-
samos, muito em breve, entrar na
época de paz e tranquilidade de que
tanto carecemos,

repu-

 

ICANO DEMOCRATICO |:
MARÇAL

O RIBEIRO

E

Caso grave

 

Consta-nos que, numa
festa realizada na. passada
semana em Sernache, o pd-
roco da freguesia, usundo
da púlavra, ineitou o povo
à revolta contra alguns re-
publicanos que, no pleno
uzo dos seus direitos, ti—
nham pedido ao senhor ad-
minisirador do concelho a
proibição de uma parada
reacciondria que os talussas
da terra pretendiam, levar
aefeito.

Ainda não será ocasião
de « autoridade adminis-
trativa fazer entrar na or-
dem êste e outros reveren-
dos tonsurados que para aí
pululam, e que de todos os
pretextos se servem para
anavalhar q República ?

SEM VERGONHA

poe

Continuam na mesma os ilustres
cavalheiros e respeitáveis canasiras
a quem várias vezes nos temos re-
ferido e para os quais já chamámos
a atenção do senhor administrador
do concelho.

Ainda não será ocasião oportuna
de provar, mas ‘de forma bem prá-
tica e bem positiva, a essa matula-
gem que, se a República é um re-
gime de liberdade tambêm o é de
ordem e moralidade ?

Parece que isto é dêles!

Talvez não fôsse mau que o sr.
administrador fizesse dar um passeio
até à Certã a essas santas criatu-
ras, a fim de lhe darem informa-
ções, certamente ctúriosas, sôbre uma
próxima incursão auxiliada por ale-
mães e que com ares de intensa ale-
gria andam a anuríciar por todos os
cantos.

Poderia tambêm o sr. administra-
dor aproveitar a ocasião para lhes
pedir as provas das calúnias e infã-
mias com que tentam enlamear a
República, e, se lhas não dessem,
meteria todos na cadeia por uns dias
a ver se assim tomavam juízo visto
serem insusceptiveis de ter vergo-
nha.

Caso. não tivessem emenda man-
dava-os para juízo para – liquidação
de contas. E mesmo porque, como
já há tempos se disse neste jornal,
«bem pode ser que entre os tais
boateiros haja funcionários em ser-
viço ou aposentados, aos quais a lei,
se bem nos recorda, manda fazer
umas contas especiais… !

Já que essa gente não tem vergo-
nha tenhamos nós todos a energia e
coragem necessárias para defender
a República.

Seja contra quem fôr,

 

Publicação na Certã
“ Redacção ‘e administração em

SERNACHE DO BOMJARDIM

Composto e impresso na Tipografia Leiriense ‘
LEIRIA Ê

A Igreja e a República
Portuguesa” –

(Continuado do n.º 46)

Como “no ofício em «que me foi
comunicada à suspensão do exerci-
.cio das minhas ordens não vinha ex-

“ pressa a causá* canónica que a ‘mo-
tivava, procurei indagar qual ela se-
ria.

Encontrando no: Paço de 8. Vi-
cente um monsenhor ‘a êle me diri-
gi conseguindo que o mesmo ime
transmitisse com voz meliflua’que’a
causa da minha suspensão era eu
ser membro da comissão das pen-
sões, colaborando assim: na execu-
ção da lei de Separação” Agradeci
o esclarecimento daquele “santo va-
rão, tão santo que” tempos depois
fazia mão baixa’a-15 contos “de es-
molas da Bula da’ Cruzada e quê
estavam confiados à sua guarda fu-
gindo para França, de onde ainda
não voltou! O mesmo “santissimo
varão, era 6 ídolo das beatas que
muito desejavam vê-lo bispo! Que
pena que a República lhes não des-
sé tempo para isso porque o tal
monsenhor, conhecido entre o clero
do patriarcado como um dos mais
autênticos ignorantes daria um ‘bis-
pote à altura! A caúsa verdadeira e
única da minha suspensão foi 6 ter
recebido a pensão e ser republica-
no.

Para o comprovar basta ver a azá-
fama com que os bispos suspendiam
a torto e a direito os clérigos pen-
sionistas,

Quantas scenas edificantes se não
deram por êsse País fora revelando
O ódio que aos pensionistas vota-
ram e votam todos os carolas, bea-
tas e clérigos que não aceitaram a
pensão ou que não estavam em con-
dições de a requerer.

Um dia era o pároco de Marinha
das Ondas dispensado de encomen-
dar um paroquiano porque um co-
lega não pensionista levara a famí-
lia do morto a fazer ao pároco tal
desconsideração. O povo de Paião
logo que soube do facto deu uma for-
midável tareia no autor da proesa e
tê-lo-ja linchado se lhe não valesse
o pároco ofendido!

Outro dia era em Mamarrosa on-
de ia sepultar-se uma senhorá. Co-
mo entre os 4 clérigos convidados pa-
ra o entêrro se achasse um pensio-
nista, OS outros recuzaram-se a en-
corporar-se no préstito fúnebre des-
de que tal pensionista não fôsse dis-
pensado pela família da defunta. A
familia indignada com. tal procedi-
mento, havido com um padre exem-
plar de 7o anos de idade, resolveu
que fôsse êste só acompanhar à úl-
tima’jazida a sua querida-morta!

Em Souzela 3o-clérigos recuzam
aceder ao convite do pároco para ce-
lebrarem uns ofícios fúnebres. Qual
o motivo ? o não quererem juntar-se
com um pensionista que era o con-
vidante !

O jornal «O. Mundo», de 23. de
Setembro de agir, «informava, os
seus leitores de que o prior do Sou-
to da Casa declarara que não con-
sentia na sua igreja o P.ºRebordão,
pároco de. Aldeia Nova, por 1tér
aceitado a pensão e porque assim

 

Ex.?º Sr, Adrião David

 

Certã

)tã

)

 

@@@ 2 @@@

 

fôra combinado entre os padres vi-
sinhos! o

Ainda o mesmo jornal informou
noutra ocasião que um padre de
Pombal havia provocado o levanta-
mento de um povo contra um cole-
ga pensionista. Sendo prêzo foi-lhe
apreendida uma pistola automática!

Em Almeida, por ocasião dum
funeral, porque um padre pensio-
nista apareceu na igreja devido ape-
nas a ser das relações da defunta e
achar-se ali por dever de gratidão,
foi intimado a sair por 7 colegas
não pensionistas. Como aquele não
acedesse a tal intimativa retiraram-
-se abandonando o cadáver !…

K Como “estes muitos outros factos .
se deram por todo o País, que ape-‘

nas, serviram para abrir os olhos ao
povo ! A TSE
Um outro expediente adoptado
contra os pensionistas foi não os tor-
nar a convidar, para actos cultuais,
incluindo sermões. e
Quando algum. pensionista, ora-
dor de reputação feita, era convida-
do para pregar e tal convite se tor-
nava público, vinha logo a «Nação»
ou o «Dia», jornais jesuíticos, gritar
bem -alto chamando a atenção dos
bispos, para estes obrigarem os pá-
rocos convidantes a escolher outros
pregadores! e
Tudo isto foi uma tragi-comédia
que só serviu. para desacreditar o
clero e eliminar de muitos corações
as poucas crenças que lá se abriga-
vam medrosamente.
O ódio e perseguição movida ao
clero . pensionista partiu. principal

mente dos priores de Lisboa, como ‘

altivamente o expoz um outro prior
em artigo do jornal «O Intransigen-
te», de. 20 de Março de 1912, sem
protesto daqueles, e sabem porquê:
E”. que êles adivinharam a fórça do
colega com quem tinham que esgri-
mir e de quem apenas obteriam uma
resposta altiva, digna e esmagado-
ra! O referido artigo encerrava ver-
dades como estas :— «Seráficos prio-
res de Lisboa, que se arvoraram em
Papas à última hora! Foram êles
que exigiram do Patriarca a suspen-
são de todos os padres pensionis-
tas: foram êles que quiseram, levar
a reboque o resto do clero, obrigan-
do-o a recuzar as pensões, e por-
que muitos os não. seguiram, êles,
caridosos e desprendidos, como to-
do o, mundo. sabe, começaram; de
mover guerra surda aos pobres pa-
dres, que não são, priores, porgue
aqueles que o são, embora, pensio-
nistas, como eu ouvi numa. reunião
“a que assisti, ficam livres de perse-
guição, porque são priores; para a
arráia miúda, que vivia das miga-
lhas.que êles deixavam, para esta,
é que são as excomunhões! |.

E porque? Para os priores é ne-
cessário um processo para os sus-
pender, aos outros basta. o quero,
posso e mando. As farroncas são
para os désprotegidos; os que O
não são, ficam imunes !»

Gomo é sabido o padre suspenso
de dizer missa, sem processo canó-
nico, pode continuar em boa cons-
ciência a celebrar porque para isto
não precisa de jurisdição. Não ha
lei nem,nas Constituições dos – Bis-
pados nem no, Concílio de Trento,
que obrigue um. padre a tirar licen-
ça para celebrar, exceptuada a pri-
meira missa, que depende do exa-
me de aprovação. e

Tal licença é um abuzo, que na-
da justifica e que os prelados junta-
ram: à licença de confessar, para

mais sujeito e escravizado trazerem

o clero, 5
Se um individuo é padre, celebra
missa sem licença; e se está sus-
penso sem: processo, continua do
mesmo modo a celebrar, porque é
esta a lei ve ac lei: não pode sera
vontade de qualquer prelado zanga-
do: a Ef )
A má vontade contra os pensio-
nistas tambêm chegou a Sernache e
para potovar basta olhar para o
comprimento das carrancas de al-
gumas das canastras quando estas
-me encontram. A. canastra mor,
odre de vaidade e onzeneira bem
conhecida, teve o desplante e à su-

 

 

f

a
asiRçor

“ECO DA BEIRA

prema velhacaria de dizer há três
anos a minha mãe: que quando me
visse passaria por mim como por
um cão! ..

Aquela estropeada cavalgadura
com as patas trôpegas já não pode
dar coices e por isso se contenta
com dar zurros, que não incomo-
dam… a burra de Balaão também
Pao

As sacristãs daquela canastra são

de diversas espécies — meia dúzia —

de senhoras digníssimas é respei-
tabilíssimas, cristãs e religiosas co-

mo toda a humanidade devia ser, e
por’quem: eu tenho um profundo e

devotado respeito; outras são cató-
licas por snobismo supondo que di-

zer mal e odiar osrépublicanos lhes :’

dá tom; e ainda certas as acolitam
por ignorância do que é e deve ser
a verdadeira religião. :

A sua ignorância não nos sur-
preende porque ninguêm trata de a
esclarecer.

A“nossa maneira de ver sôbre a
religião católica em paralelo com as
outras religiões ; Os seus incoventen-
tes disciplinares, as suas virtudes e
bens que, quando bem compreendi-
da é executada, pode trazer à hu-
manidade, constituirá um artigo Ou
série de artigos que eu depois es-
creverei para os meus patrícios se

* convencerem de que não perdi as

minhas crenças e de que, como fui,
sou é heide morrer padre!

Eu por agora limito-me a chamar
a atenção do prior, de que sou ami:
go pessoal, para a incoerência de
quasi todas as. pessoas que por aí
julgam passar por católicas.
– À intransigência que se põe em
prática deve ser coerente.

Desprezem ou odeiem, a seu mo-
do, quem isto escreve por ser; pa-
dre e pensionista, mas, tenham a
coragem de não conviver com pes-
sous escomungadas e falhas de co-
tação moral. Devem saber que to-
dos’os divorciados. são: excomungar-
dos: vitqmios e que a convivência
com êles.os coloca. em circunstân-
cias idênticas. Conviver com pes-
soas desqualificadas é a suprema
abjecção.

Eu espero ver amanhã aparecer
por aí um bispo que teve um filho
duma: sobrinha que desflorou. .. e
todos os talassas a beijarem-lhe a
mão de joelho em terra com a mes-

ma indignidade com que hojé eu

vejo dar consideração a um padre
que desflorou à própria irmã com
quem vive maritalmente —sabendo-
-se tal indignidade pela ‘confissão
indignada e inconsciente da própria
vitima !!! Xá

Esta incoerência: de: católicos é
típica e reveladora duma ignorân-
cia’de que os directores espirituais
são culpados. SO

E? necessário mudar de rumo; de
processos e de vida! E

Deixem-os padres e os católicos
de vez a política e. tratem apenas
da sua religião e da reforma dos
seus costumes. Deixem de ocupar-
se dos republicanos que. com êles
se não preocupam e apenas pensam
em fazer maior e mais progressiva
a pátria: portuguesa.

E emquanto se não resolveram a
ser e praticar conforme manda a
caridade e o civismo eu lhes irei
apontando os êrros de sua conduta
e a insconsciência do seu proceder
inoportuno e prejudicialissimo à cau-
sa que pretendem defender.

(Continúa)

o 13
ES

“pio Cândido Teixeira.
Porto dos Fusos

No último domingo de.Julho efe-

ctuaram-se.’as provas dos alunos

que, frequentavam, a missão, que
funcionou ro meses em Porto des

 

Fusos.

Os membros -da comissão auxi-

liar, que ali chegaram pelas 15 ho-

rãs, eram aguardados pela digna pro-
fessora e alunos, acompanhados de
muito povo, que nessa ocasião fez
subir ao ar muitos foguetes, trocan-
do-se os cumprimentos do estilo,

 

A casa da escola, bem como o
largo adjacente, estavam vistosa-
mente ornamentados.

Constituido o juri sob a presi-
dência do sr. Isidoro Antunes, se-
cretariado pelos srs. Carlos Santos
e Olímpio Amaral, iniciaram-se os
trabalhos, sendo submetidos a pro
vas; 33 alunos de-ambos os sexos,
que demonstraram bom aproveita-
mento. .

Terminado. êste acto, às. 19–ho-

* ras, foi por-todos os alunos: entõa-

da a «Portuguesa», «Maria da Fon-
te» e a «Sementeira», sendo levan-
tados muitos vivas à Pátria, à ins-
trução, à Republica, etc. etc.

Em seguida procedeu-se à distri-

buição de diversos prémios aos alu;

nos: chitas, riscados e outros arti-
gos de vestuário, que êles muito.
apreciaram e agradeceram. |

Feita a distribuição, usou da pa-
lavra o sr. Carlos Santos que, co-
mo jájo tinha feito o-presidente -da
mesa sr. Izidoro Antunes, felicitou
a ex.Ma professora e respectivos alu-
nos, pelo belo resultado desta mis-

são, frizando o contraste entre a”

obra da República que à instrução
dedica tão plausíveis cuidados, e a
obra da monarquia, que a: êste as-
sunto votou sempre o mais crimi-
noso abandono.

Para o bom êxito desta missão,
concorreu em grande parte:o sócio
benemérito sr. Daniel Bernardo de

Brito, que a expénsas suas, forne-,

ceu a esta missão livros, papel, tin-
ta, etc. etc: E” com prazer que re-
gistâmos êste facto, que merece os
nossos mais calorosos aplausos.

PAO e es Esso (
OS PINTASILGOS.

Bem avizados andaram os france-
ses que lhes chamaram chardonne-
rets, referindo-se aos cardos e sil-
vedos onde saltitam de continuo, on-
de fazem O ninho e pnde buscam
sustento, que são as sementes des-
sas plantas espinhosas.

São variadíssimos na plumagem.

“Há-os de cabeça branca ou raia-
da de vermelho e amarelo ou preta,
Alguns são alvadios com o alto e
lados da cabeça e garganta verme-
lhos. Outros são quasi pretos com
a cabeça amarela, O macho tem o
lombo e a cabeça mais achatada
que a fêmea, cujas espáduas e bico
são mais escuros.

Fazem o ninho nas extremidades
dos ramos. Ao vê-lo, parece-nos
que a aragem deveria desarranjar-
“lhe o entrelaçado das fibras ou des-
locar-lhe os ovos. Observando-o,
porêm, com atenção, vê-se que os
bordos são inclinados e grossos de
modo a segurar os ovos, ainda quan-
do o ramo movido pelo vento lhe
transtornasse o equilíbrio.
““Aqueles ovos pequeninos, bran-
cos, ligeiramente azúlados com pin-
tas vermelho-escuras, estão de or-
dinário acamádos sôbre a pelúcia
que o pintasilgo tira das plantas,
ou, à falta dela, sôbre pedacinhos
de lan que as ovelhas deixam na
ponta dos espinheiros e urzes dos
matagais. :

A inteligência dessa avesinha, cu-
jo ninho é um verdadeiro primor, e
cujo, canto melódioso e agradavel!
em pouco é excedido pelo do caná-
rio, é afirmada por Toussenel e Os-
car Honoré, que narram casos mui-
to notáveis. : ;

Conta Toussenel, no seu livro Es-
pirit des bêtes, que em uma cidade
do departamento do Oise (França),
era conhecido um pintasilgo que du-
rante muitos anos acompanhou o do-
no nas viagens amiitdadas que fazia
à Paris, e de tal fórma se habituou,
que por, fim voava adiante a anun-
ciar-lhe a chegada ou o regresso-.

Oscar Honoré diz que um pinta-
silgo que habitava com um canário
na mesma gaiola, morrera de sau-
dade por êste haver fugido.

“Uma destas javesinhas, notando
que um bocado de pastel enduúreci-
do se tornára mole depois de amo-
lecio pela chuva, resolveu daí em
diante humedecer no bebedouro as
migaihas que lhe davam para comer,

 

&

 

 

Seria longo referir os casos que
abonam a inteligência dêstes animais.

Dos pintasilgos que Linneu reúniu
numa só espécie e denominou: frin-
gill carduellis, fez Cuvier o género
carduelis, pertencente à família dos
conirostres. Nêste gênero contam-
se, alêm das espécies referidas, as

» fringilla psittacea, !eucocephal e ma-

gellanica, de Latham, fringilla coc-
cinia, descrita e figurada por Veil-
ot, -e-a fringilla melba, vepresenta-

“da pelo pintor inglês Jorge Edwards

na Flistória natural das aves raras

 

LITERATURA |

 

O casquil ho

O filho do: Nunes, mercador rico
de panos na côrte, tinha obtido, por
intermédio do francês May, da Fá-

Cbrica das Sêdas, um convite para a
“e partida de faraó em Casa do minis-

tro Sebastião José de Carvalho.
Quando o convite chegou, dobra-
do em três cantos, com o seu aparo
doirado e as suas três obreias yer-
melhas à portuguesa, o mochila cor-
reu a chamar o «menino»; o «me-
nino» chamou o pai, que estava
agarrado à viola a tirar Os fandan-
gos da Pepa; O pai, resplandecénte
de júbilo, gritou pela senhora Dona
Mança, que veio chouteando, com
a sua saia de estamenha, os seus
corais e o seu pente de tartaruga
do Alémtejo; Dona Mança; tocada
de ternura maternal, foi buscar as
creadas, a Chainha mulata com o
papagaio, a Carapota engeitada do
Hospital Rial, a negra copeira, de
alpercaté branco, mais rebolada que
um .oitavado de chula, o negrinho
da casa, ganindo, vestido de ama-
relo como os pretos de S. Jorge, —
e todos, negrinho, copeira, mulata,
engeitada, mãe, pa, mochila e pa-
pagaio, ouviram o menino, em, pé
sôbre um tamborete de moscóvia
velha, lêr o primeiro pergaminho
da sua nobreza de casquilho : «Os
marqueses de Pombal esperam Vos-
sa Mercê na sua casa à rua Formo-
sa, para o serão de jôgo de sexta-
feira que vem». digas
—Bem te podiam ter dado se-
nhoria; filho! — resmungou Dona
Mança, com beiços. de enjôo, aba-
nando os pendentes de diamantes
das orelhas. Re
—Mas ha-de jogar como se a ti-
vesse!—rugiu o pai, atirando a vio-
la com estrépito sôbre uma escre-
vaninha de xarão encarnado. — Ha-
-de atirar às chapoiradas de dobrões
de oiro pela mesa fóra! E

As pretas, o negrinho, a mulata,

abanando a coifi de sete ramais,
riam, batiam as palmas, rebolavam
os olhos :

—Menino em casa de siô mar-
quez! Menino em casa de-siô mar-
quez de Pombal! | Et

E o papagaio, solene, empoleira-
do na pescoceira dum cadeirão de
sola, repetia, regugando, e ester-
cando sôbre o tapete de Arraiolos :
“—Pombal! Pombal!

Em casa do mercador Nunes, nin-
guem mais parou. Logo se mandou
recado ao alfaiate dos casquilhos de
177o o grande Neves, que fizesse
em três dias uma casaca nova de
sêda «para o menino ir jogar a ca-
sa do senhor marquez»; outro reca-
do ao ilustre sapateiro Antonio Coe-
lho, defronte da Cruz de Azulejo,
ao Carmo, para uns sapatos de
marroquim preto com os maiores
fivelões de prata que tivessem en-
trado até ali nas salas dá rua For-
mosa; terceiro recado ainda ao ca-
beleireiro Tomaz dos Reis, do Chia-
do, mestre admirável que aprende-
ra a polvilhar em França com o ca-
beleireiro, de Luiz XV, Monsieúr
Dagé, para uma cabeleira de bolsa
com rolos e alcachofa à franceza,
em tudo semelhante às do excelen-
tissimo marquês de Pombal que—
acrescentava sempre solenemente o
mercador Nunes—«convidara o-me-
nino para jogar com êle o faraó».
Compraram-se frascos de perfumes
na loja do Leconte; um óculo novo

 

 

x
xx
x

 

@@@ 3 @@@

 

RO O da PED ad

:

 

 

 

 

 

 

de punho de oiro no Lazaro; man-

guitos de renda de Bruxelas e meias.

de espinhas de prata nos Genove-

| ses; e como era moda na -côrte fa–

lar, francês. emquanto se jogava, O
menino, perpétuamente «menino»
apezar dos seus vinte e três anos,
foi desemburrar-se nos últimos dois
dias à rua da-Figueira, a casa de
João Roberto Doumeau, que anun-
ciaya na «Gazeta de Lisboa», como
cincoenta anos antes Monsieur de
Ville Neuve, lições de francês aos
casquilhos fidalgos da cidade. Quan-
do não beliscava as ancas da mula-

“ta OU não Zangarreava’ na viola os

fandangos da Pepa Olivares, —o
mercador velho era certo a bailar
cortezias, com o filho e com o mes-
tre-de dança, diante dos espelhos
da sala. Visita que chegava, depois

de-lhe mostrar as pratas como era

de boa etiqueta, Dona Mança, em-

penachada de plumas, perguntava–

-lhe’ logo: —«Sabe Vossa Mercê on-
de o meu menino vai na sexta-fei-
ra?» E o papagaio, empoleirado
num bufere de talha doirada, res-
pondia do canto, ouriçado e papudo

como um ramalhete verde:

—Pombal! Pombal!

Chegado o dia, o casquilho espe-
ra, embrulhado na sua «roupa de
pentear» que parece um triplice ro-

quete de cónego, a “chegada do Ne-.

ves com a casaca; do Reis com a
cabeleira e do Coelho com os sapa-
tos. Já- está atrelado no páteo um
côche de pinturas, emprestado pelo
holandês, director da Fábrica de
Faianças, para levar Sua Mercê à
rua Formosa; dois creados da tá-
bua, vestidos dé redingotes verme-

lhos como os cocheiros e sota-co-.
cheiros da Casa “Rial, esperam as

ordens do menino, jogando ao. sol
o «passadez». O primeiro que che-
ga é o cabeleireiro, em pé de-dan-
ça, cheio de rendas, um quitó doi-
rado à cinta, uma cabeleira «à la
greca»’ no punho, —um mochila

atraz, com o escadote e o fole. Ne- |

grinho, creadas, mãe, pai, um cão
de fralda que ladra, um macaco que
pincha, uma mulher de virtude que
vende escapulários e cruzes bentas
de S. Lazaro a Dona Mança,—tudo
vem ao quarto do casquilho, pé an-
te pé, ver enfiar e polvilhar a peru-
ca. Já não é a cabeleira alta de to-
petes do faceira de 1720, crespa,
enorme, derramada, ramalhuda de
bucres; é a peruca baixa, elegante,
coleante, alada, de rolos armados
sôbre a orelha, bordefronte largo

“descobrindo a testa, rabicho com
laço de carretilha côr de rosa, que ‘

os dedos ageis de Monsieur Reis
palpam,.acariciam, levantam, e dei-
xam cair, léve como uma ave poi-
sa sobre a cabeça aguda e cha-
morra de Sebastião Nunes. Che-
ga a hora delicada dos polvilhos. O
casquilho efia um funil de pape-
lão na cara; arma-se o-escadote; e
emquanto o mestre, empoleirado no
último degráu sacode no ar, com
duas borlas darminho uma nuvem
de pós de França, —o mochila cá
debaixo dá ao fole, e a farinha per-
fumada, espalhando-se finamente,

.tenuemente pela sala, vai caindo

por egual, pouco a pouco, grão a
grão, sôbre o pelo de cabra finissi-

mo dacabeleira de Sua Mercê. Tu- |

do espirra—Dona Mança e o cão,
as mulatas e o negrinho; mas o ca-

“beleireiro afirma que. é aquela a

moda de: Paris; curva-se toda a fa-
milia : do casquilho «parvenu»; ‘e
quando o mercador, respeitoso, per-
gunta a mestre. “Tomaz se é assim
também que se polvilha o excelen-
tissimo marquês de Pmobal,—o pa-

«pagaio, todo branco de pós de Fran-

ça, ri; encarrapitado no espêlho do
toucador:

Pombal! Pombal!
* O sapateiro vem’já assomando à
porta, mas tem de esperar uma hora
que os polvilhos caiam,—-para poder
desembrulhar os sapatos e enfiá-los,
pequeninos, quási rasos, sem tacão
e armados de fivelões enormes de
prata como os correões dum côche,
nos pés esguios de Sua Mercê. O
último a chegar, solene como uma
berlinda de D. João V, rotundo co-

 

mo o sino grande da Capela Rial, é
o glorioso alfaiate Neves, cantando
no «Fatuinho» de Manuel de Figuei-

-redo, célebre éntre os casquilhos cé-

lebres de 1770, que vem de bengala,
rebolado, oleoso, lento, embrulhado
na sua casaca vermelha como numa
capa de asperges, trazer o redingo-
te de sêda que, em seu entender,
tornará o filho do mercador Nunes
digno de jogar-o faraó em casa do
marquês de Pombal. E? uma peça
sumptuosa de gorgorão preto, com-
prida, picada de oiro, babada de
rendas, forrada de sêda verde-chi-
cória, com manguinhas holandezas
feitas ao punho, algibeiras à Preston,
botões meúdos de prata como con-
tas de camândula franciscana: em-
quanto o sapateiro, de joelhos, esti-
ca a servilha negra do casquilho. e
lhe mete pelas côxas os «rôlos» que
fazem as pernas mais altas, —o Ne-
ves assiste de longe ao enfiar da ca-
saca; mira-a, remira-a; a distância,
com a ponta da bengala, desdenho-
samente, toca de leve uma prêga,
desfaz uma: ruga importuna, com-
põe os bofes-de rendas da camisa,
dá um geito de graça aos perendeú-
gues de oiro do relógio, e soberbo,
indiferente, formidável, profere a

‘ sentença que na sua bôca custava

oito dobras de seis mil e quatrocen-
tos réis:

— Vossa Mercê pode ir. Está cas-
quilho.

Aquilo que ali ia, de óculo de pu-
nho de oiro assestado á órbita, ca-
saca de sêda negra, cabeleira «a la
greca», bastão de punho de Limo-
ges, lenço de rendas metido na luva,
descendo a «escada nobre da casa
entre o desvanecimento parvo do
mercador, o orgulho risonho de Do-
na Mança e o saracoteio voluptuoso
das mulatas mordidas de cio e de
lunduns,—era genufnamente o cas-
quilho de 1770, o elegante da bur-
guesia pombalina, herdeiro do facei-
ra de D, João V, antecessor ingénuo
do «peralta» da Viradeira, do «ja-

 

nota» do tempo dos Franceses e do

«pisa-fôres» ridículo de 1820. Quan-
do êle subia ao côche, desdenhoso,
fútil, a caminho da casa solarenga
da rua Formosa, a mãe Dona Man-
ça, a rever-se toda na casquilhice do
menino, sonhando o absurdo dum
brazão dos Nunes, no tecto de oiro
duma nova sala dos Veados, em li-
sonja com o escudo dos Melos e dos
Dauns, perguntava em êxtase ao
mercador, que seguia o filho com
os olhos e que ameaçava cum as an-
cas um fandango desnalgado da Pe-
pa:
— Quantas filhas solteiras tem ain-
da o senhor marquês de Pombal?
“E o papagaio, ao sol, batendo as
azas verdes na janela do páteo, ria
às gargalhadas :
—Pombal ! Pombal!

Júlio Dantas.
(Da Capital)

O ôvo de Colombo

Todos imaginam saber a história
do ôvo de Colombo e todos a sabem
mal. Cristóvão Colombo não acha-
tou com uma pancada sêca a extre-
midade do ôvo, para lhe criar uma
base suficiente a sua estabilidade,
como afirma a lenda.

A nobre assembleia de teólogos,
diante da qual compareceu o gran-
de navegador genovês, não levaria

a bem essa maneira espirituosa mas:

irreverente de resolver o problema,
e a brincadeira podia custar cara ao
seu autor. O processo de que se ser-
viu Colombo para sustentar o ôvo
sôbre a extremidade mais bicuda,
sem -estragar a casca, é dos:mais
simples e todos o podem experimen-

tapa

Em sacudidelas reiteradas conse-
gue-se fácilmente que a gema desça
para o bico do ôvo, de maneira que

“ocupa toda a parte inferior, emquan-

to que a clara fica na parte superior.
Sendo a densidade da gema maior
que a da clara, a gema opera como
um bocado de chumbo que, colocado
na parte inferior dum boneco de sa-

 

BEIRA

bugo, o faz sempre voltar à posição
vertical.
O ôvo ficará, pois, em equilíbrio,
se o puzerem sôbre o-bico.
Transcrição.

RR

Es fôlhas do loireiro e as fôlhas
da olivoira

Em-certo lugar aprazível viam-se,
colocadas juntamente, vivendo na
melhor intimidade, um loireiro’ e
uma oliveira.

Estas duas frondosas árvores, ten-
do pouco que fazer, entretinham-se,
por vezes, a conversar. –

O loireiro era bastante orgulhoso
das suas glórias, e gabava-se fre-

quentemente da grandeza e impor-

tância que lhe ligavam; a oliveira,
pelo contrário, conservava-se sempre
modesta, tímida e humilde.

Num día travou-se entre aquelas
duas árvores viçosas, o seguinte
e conceituoso diálogo:

—Eu, disse o. loireiro, simbolizo
a vitória, o triunfo! As minhas fô-
lhas-cingem as-frontes dos grandes
herois! Alexandre, os Cézares, Car-
los V e Napoleão, honraram-se co-
locando: em suas cabeças respeitá-
veis, triunfantes corôas de loiro!
Confesso, que me torno orgulhoso,
é tenho bastantes motivos, : não: te
parece ?

A oliveira respondeu:

— Air, meu loireiro, queres que te
diga? E” bem triste a tua glória e

o teu orgulho! E! verdade que sim-

bolizas vitórias e triunfos, que é das
tuas fôlhas que se formam as corôas
triunfantes, dando a imortalidade aos
que a cingems repara, porêm, or-
gulhosa árvare ; cada-uma dessas fô-
lhas indica o sacrifício de centenáres
de valentes que perderam.a-vida no
campo da batalha, milhares de lá-
grimas derramadas por decrépitos
pais, esposas carinhosas, filhos es-
tremecidos, orfãos abandonados! Ca-
da uma dessas corôas comemora a
destruição de muitos povos, a misé-
ria dos vencidos, devastação de ci-
dades, perdas incalculáveis, vítimas
sacríficadas à ambição! Eu, pelo
contrário, sou o simbolo da paz, da

benéfica e consoladora paz! Eu cin-‘

gia a fronte de Octávio Augusto, o
célebre imperador romano, que con-
servou sempre as portas do templo
da guerra, durante o seu reinado, e
que, em vez de apoquentar os povos
com devastadoras lutas, fez flores-
cer as artes; a indústria e a litera-
tura, protegendo homens ilustres,
como Tito Livio, Horácio, Ovídio e
Virgílio.

—As frontes dêsses homens dis-
tintos tambêm fôram cingidas com
as fôlhas de loiro!

—E são essas as tuas verdadeiras
glórias, os teus mais memoravis
triunfos! O dia em que a humanida-
de formar das nossas formosas fô-
lhas uma única corôa para premiar
os grandes artistas, os grandes poe-
tas; quando as tuas fôlhas sómente
servirem para estímulo e recompen-
sa do verdadeiro talento, sendo uni-
das as minhas, que simbolizam a
paz e a prosperidade, então pode-
rás ficar satisfeito de ti mesmo, por-
que essa corôa fará recordar triun-
fos bem dignos dos respeitos da pos-
teridade, mas serão triunfos come-
morativos da civilização, do estudo
e do trabalho ; triunfos que não cus-
taram lágrimas de amargura, Vitó-
rias, que não fôram manchadas de
sangue !

Guilherme Rodrigues.
O maior alfabeto

O alfabeto maior que se conhece
em todo o mundo civilizado é o tar-
taro, que se compõe de 202 letras.

—Dizia um celibatário que não
se casava por 4 razões :
»—Porque a mulher feia aborre-
ce-se; a formosa guarda-se; a po-
bre sustenta-se, € a rica atura-se,

 

Os nomes das mulheres

Assim como os nomes das flôres
teem o significado. poético, os das
mulheres não carecem de nobresa
de origem nem de significação . poé-
tica tambêm. Citaremos apenas al-
guns dêsses nomes com os respecti-
vos significados :

Suzana, por exemplo, vem do he-
braico e quer dizer «lírio»; Marga-
rida procede do grego e significa
«Pérola»; Rachel é nome hebraico,
que quer dizer «cordeira» ; Paula é
nome latino, que equivale a «pegue-
na». :

Do latim procedem tambêm Cla:
ra, Martinha e Florência, que res-
pectivamante significam: «a brilhan-
te, a marcial, a florescente».

Ruth é nome hebraico: equivalen-
te a «beleza»; Sofia é grego-e signi-
fica «sabedoria»; Sarah é hebraico:e
quer dizer «princeza».

São tambêm hebraicos os nomes”
de Maria, Esther e Debora, que si-
gnificam respectivamente «levada»
ou «engrandecida, segredo, e abe-
lha».

«À pura» é o significado do no-
me Catalina, que vem do grego, ce
«bem nascida» é o de Eugénia, cu-
ja -procedencia é a mesma da ante-
terior.

Ignez significa «acasta», € a sua
origem é germânica.” Pei rd

— ANUNCIOS
Carro de aluguer

Preços baratissimos. Pedidos a
Acácio Lima Macêdo.

—CERTÁ—

 

 

 

Castanheiro do Japão

O unico que resiste à terrivel
moléstia, a filoxera, que tão gra-
ves estrages tem produzido -nos
nossos soutos, é castanheiro do
Japão.

O castanheiro japonez ofere-
ce iguais vantagens que o bace-
lo americano tem oferecido no
caso da doença da antiga videi-
ra cujas vantagens são já bem
conhecidas. As experiencias teem
sido feitas não só ao norte do
nosso pais mas principalmente
em França, onde o castanheiro
foi primeiro que em Portugal
atacado pela filoxera, e hoje en-
contram-se os soutos já comple-
tamente povoados de castanhei-

ros do Japão, dando um rendi-

mento magnifico.

O castanheiro japonez acha-
se à venda em casa de Manuel
Rodrigues, Pedrogam Grande.

CARREIRA DE AUTOMOVEL

No dia 18 de Maio começou a

 

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(Alvaiázere) a Paialvo e de Paialvo
a Figueiró dos Vinhos. Começou a
fazer carreira a 19 de Maio, de
Paialvo á Certã e vice-versa.

Parte o automovel de Barqueiro
todas as terças e sextas-feiras ás 16
horas para Paialvo,

Parte de Paialvo todas as quartas
feiras e sabados depois do comboio
correio em direcção a Certã saindo
dali ás 15 horas novamente para
Paialvo. De Paialvo parte para Fi-
gueiró dos Vinhos ás quintas feiras
e domingos depois do comboio
correio. Preços resumidos.

Lemos, Pedro, Santos & C.*
Vendem-se todas as propriedades

rústicas, que pertenceram a Possi-
dónio Nunes da Silva, em Sernache

 

do Bomjardim.

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clarecimentos, dirija-se ao sr. João
Carlos de Almeida e Silva, de

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quimica que a distingue de todas as outras até hoje uzadas: na terapeutica.

E’ empregada com segura vantagem da Diabetes—Dispepsias— Catar-
ros gasiricos, putridos ou parasitarios;—nas preversões digestivas derivadas
das doenças infeciosas;—na convalescença! das febres graves; —nas atônisa
gastricas dos diabeticos, tuberculosos, br. iphticos, etc. Fo Rue tcismo “dos
exgotados pelos excessos ou privações, etc. etc. ‘

Mostra a analise bateriologica. que a “Agua da Foi da Ceitãv talicomo
se encontra nas garrafas, deve ser considerada como microbicamente
pura não contendo colibacitlo, nem nenhuma das especies parogencas
que podem existir em aguas. Alem disso, gosa de uma certa! acção microbi-
cida. O B. Tifico, Difeterico e Vibrão colerico, em pouco tempo
hella perdem todos a! sua vitalidade, outros microbios apresentam porém re-
sistencia maior,

A Agua dz Foz da Cestã não tem gazes livres, é limpida, de, sabor le-
vemente acido, muito agradavel. quér bebida pura, quer misturada, com

vinho.
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Telefone 2168168