Voz do Povo nº65 25-02-1912

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AMRO rito
2.º Anno
DIRECTOR
Augusto FHodrignes
Administrador
ZEPHERINO LUCAS
Editor
Luiz Domingues da Silva Dias
Certã, 25 de fevereiro de 1912
VD
ease
Assignaturas
Ijjzoo. Semestre…
Para o Brazil. …….
Pago adiantadamente
Não se restituem os originaes
600 rs.
5%ooo réis (fracos)
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Travessa do Serrano, 8
CERTA
Typographia Leiriense — LEIRIA
Proptieiats da EMPREZA DE PROPAGANDA LIBERAL
Na 3.º e 4.º paginas, cada linha…
Nºoutro logar, preço convencional
Annuncios
E ED ONES,
Annunciam-se publicações de que se receba
um exemplar
Situação politica
Os acontecimentos politicos
da ultima semana a muita gente
fizeram acreditar numa proxima
substituição ministerial. Estava
previsto que a União Republicana,
tal como havia sido
delineada, não podia subsistir
por muito tempo. Desde que, ao
menos, entre os seus homens dirigentes
não havia uma completa
uniformidade de vistas, base
principal da disciplina que é a
grande força dos agregados partidarios,
era fatal mais dia menos
dia, effectivar-se a desagregação
que já existia.
E?, pois, um facto consumado
o desaparecimento d’esse corpo
político, que é substituido por
dois partidos autonomosu,m dirigido
pelo sr. Brito Camacho,
outro pelo sr. Antonio José dAlmeida.
A? primeira vista, parece que
essa divisão de forças será prejudicial
á Republica, pois não
convem a esta a pulverisação
dos grupos em que se apoia.
Porém, no estado actual da
politica portugueza, em volta da
qual se destaca uma larga e profunda
indifferença, julgamos que.
dessa divisão não resultarão prejuizos
para as instituições, antes
lhe será vantajosa, pela probabilidade
de attrahir para a vida
activa da nação, maior numero
de boas vontades, que serão outros
tantos factores de consolidação.
É
O ideal seria que entre os grandes
homens da Republica não
tivessem surgido as profundas
divergencias que os separam e’
que são de todos conhecidas.
Desde, porém, que é impossivelum
trabalho em commum,
ao menos que as fronteiras partidarias
sejam delimitadas por
principios que as distingam, e
que os partidos se consolidem e
fortaleçam.
Torna-se, contudo, absolutamente
indispensavel que esses
partidos tenham a justa noção
das suas responsabilidades, não
comettendo nos trabalhos da sua
organisação erros que podem recahir
sobre as proprias instituições.
Do bom criterio dos seus
dirigentes depende, não soó se u
fortalecimento como o da propria
Republica.
Mal vae ao paiz se os partidos,
para tratar de si, esqueçam
e o
os grandes problemas da administração
publica, a nossa desgraçada
situação economica, este
anno tão agravada por circunstancias
extranhas á vontade
de todos nós.
Só medidas de largo] alcance,
minuciosamente estudadas por
pessoas competentes, podem dar
remedio ás nossas difficuldades.
E? urgente que ellas se tomem.
A situação da nossa agricultura
é angustiosa, O pequeno
lavrador está reduzido a circunstancias
bem precarias e é preciso
que ellas não vão até ao ponto
de o tornar um desesperado
ou um descrente.
Todos carecem de trabalhar
n’esta obra verdadeiramente nacional.
Os partidos em via de
formação, Os que, fóra dos partidos,
se interessam pelas cousas
publicas, e além desses ainda,
todos os portuguezes amigos da
sua patria, que, acima de tudo,
põem certamente o desejo de
contribuir para o seu leyantamento
moral e material.
Não podem os altos corpos
dirigentes, por si, sós, fazer tudo:
é preciso que todos nós lhe
dêmos o nosso apoio leal e sincero,
condição indispensavel para
que os seus trabalhos sejam
coroados dum exito que torne
Portugal prospero e feliz.
Nada de paixões, nada de retaliações
politicas, Nada de odios.
Patriotismo e politica, na verdadeira
e pura acepção d’esta palavra.
emOO aIDO—— ——
«Procural»
Recebemos e agradecemos o n.º
9 d’esta interessante e bem redigida
revista juridica, que lançou a iniciativa
do Congresso Forense e vem
coligindo os alvitres para a confeccão
d’uma reorganisação judiciaria.
Alem d’alvitres para o Congresso
trata a mesma revista com muita
proficiencia varios pontos de direito,
respondendo a consultas e compilando
toda a legislação n’uma util
e cuidadosa resenha. ;
Teem collaborado n’esta revista
os srs. Dr. Sousa Couto, Tavares
de Carvalho, Dr. Germano Martins,
etc.
A «PROCURAL» é propriedade
da Procuradoria Geral, escriptorio
d’advocacia da Rua do Ouro, 220-2.º
O summario d’este numero é o seguinte
:
Expediente.
Pequenas informações.
O Prestígio da Justiça.
Congresso Forense: Alvitres.
Consultas.
Resenha de Legislação.
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CRONICAS
Pulvis…
Isto é o mesmo que darem-me
com uma móca na cabeça, como dizia
o amigo Eduardo. E’, quartafeira
de cinza. O cerebro pede-me
treguas. O corpo exige-me descanço.
Mas o amigo Zeferino faz-me. a
imposição d’este sacrificio. E’ forçoso,
é inadiavel. Tomo da pêna ainda
mal sacudido dos conféti, Tenho
poeira nos bronquios e no vestuario.
Estou morto de sôno. A atmosfera,
involvida em nuvens, invademe
o espirito de melancolia. Os tres
dias que acabam de transcorrer foram
tres dias agitados, nervosos.
Era impossivel ordenar quietação
aos nervos. Estrugiam os gritos e
“os estalinhos. A gente não podia ensimeoncar-
se, concentrar-se. Não havia
um espaço para uma cogitação.
Mas terminou a etápe foliona e
descortez. Sacóde-se a gente da
poeira e do confeti. Tendo-se dissipado
mais estes tres dias. Tendose
desfeito em pó mais algumas ilusões,
estava traçado o assunto d’esta
crónica. Eu amo a oportunidade.
Se na preterita quarta de comadres
lhes não escrevi, para aqui, as minhas
impressões, foi porque me não
sobejou um momento para o fazer.
Teria sido até para mim um prazer
tanto mais que a oportunidade permitia-
me palavras e ideias que nenhuma
outra me permite, tambem
queria blaguear-o, meu bocado, meter
a minha pilheria. Tinha até já
delineado a minha crónica e que
epigrafaria— Ora… bolas.
Mas é quarta-feira de cinza. Estende-
se um periodo de quarenta €
tantos dias que a Egreja consagra á
refleção e ás penitencias. E” ocasião
tambem para nos quedarmos um
instante. Depois de seis mezes de
chuvas é deliciosissima a primeira
semana de sol, O dia de hoje é tambem
o mais maduro para a meditacão.
O espirito cança-se. Restou a
mesma intranquilidade a mesma inuietação,
o mesmo. vácuo. Filosoa-
se melhor. A vida é, na verdade,
aquele confêii leve que voa, a ara»
gem que passa ligeira, a neblina que
se esvae. E’ uma noite de soirée
um /lizt de uma hora, um beijo que
se rouba. Aquela mulher que ontem
nos sorria com amor sorri hoje
para outro, com o mesmo sorriso.
Aqueles bracos que, ontem, nos
apertavam em amplexos de amizade,
erguem se, hoje, para nos ameacarem
colericos. Os labios que ontem
nos exaltavam cóspem-nos hoje
injurias, afrontas e calunias. Irreverente
e voluvel, fugaz e passajeira a
vida é como o amor da mulher.
Tem a duração das rosas e a constancia
do sol d’este fevereiro, Beijou-
me, ha pouco, um raio de sol.
Mas logo uma nuvem severa o repreendeu.
Navegando em fragil batel
sobre o mar encapelado da existencia
humana, breve mergulhamos
no abismo insondavel. Somem-se
todas as vaidades, aniquila-se todo
o poder, apagam-se todos os brilhos,
dissipam-se todas as graças. De tudo,
restam apenas uns átomos de
poeira, indistinguivel. Póde a legenda
de um sepulcro dizer que alí repoisa
o grande. Mentira lhe dizei.
Repoisa lá apenas um panhado de
po.
Eurico.
FACTOS E BOATOS
ie Carnaval
O carnaval das ruas foi mais semsaborão
que nos annos anteriores.
No Gremio Certaginense dansouse
animadamente nas noites de 18,
I9 e 20, havendo no intervallo das
valsas renhido tiroteio de confettise
serpentinas.
No baile de terça-feira promovido
pelos nossos amigos Joaquim Thomaz,
Alberto Ehrhardt e Hermano
Marinha, e em que apparaceram, algumas
senhoras com custumes do
mais fino gosto artistico, sobresaindo
o da sr.* D. Virginia Baptista,
Imprensa Portugueza, a quem agradecemos
a gentileza. da alusão ao
nosso modesto semanario, recitaram
com a maior correcção poesias e nmonologos
as sr. ,D. Virginia Baptista,
D. Maria do Ceu Carvalho, as
meninas Fernanda e Helena Carvalho
Figueiredo e os nossos amigos
dr. Bernardo de Mattos, Joaquim
Thomaz, Annibal Carvalho e Alberto
Ehrhrardt, sendo todos muito applaudidos,
O serviço de bujfete foi abundante
e magnificamente servido.
Esta festa, em que se brincou com
o maior enthusiasmo e a mais franca
alegria, terminou ás 7 horas, deixando
em todos a mais grata impressão,
pelo que felicitamos a commissão
que tanto trabalhou para o
seu brilhantismo.
—— SD Cioc——
Foi chamada a attenção dos inspectores
districtaes de finanças para
a rigorosa observancia do disposto
no art.º 47 do decreto, com força de
lei de 29 de maio de 1911, que determina
que nenhum funccionario
de finanças resida fóra da localidade
onde funccionarem as repartições
em que servem.
Re MC o Eat
«Trovão da Beira»
Agradecemos a visita d’este novo
collega do Fundão. y
+ Desejamos-lhe longa vida.
—— 3000
Dr. Mendonça David
Regressou a sua casa d’Alyaro este
nosso presado amigo.
eMO
Pela camara
Sessão de 27
Sob a presidencia do sr. Zeferino
Lucas e assistencia dos vereadores
srs. Antonio Nunes de Figueiredo,
e Conceição e Silva, teve logar a reunião
da commissão municipal administrativa.
VOZ DO POVO
Lida e approvada a acta da sessão
anterior.
Foi presente:
— Oficio circular do Governo Cicil
do Districto, de 12 do corrente
communicando que a camara não
contribue este anno para as de-pezas
da elevação a central do lyceu
de Castello Branco e determinando
que se organise o orçamento para O
futuro anno; a Camara resolveuresponder
que apesar dos seus grandes
desejos não póde incluir nos seus
orçamentos futuros qualquer verba
para aquelle fim pelas razões já expostas
por outras vezes sendo a
principal a falta de recursos.
—Um telegramma do: Governador
Civil communcicando haver tolerancia
de ponto, nos dias 19 e 20.
Inteirada.
—Um telegramma do mesmo pedindo
um mappa do recenseamento
eleitoral do anno findo.
Satisfeito,
—Um requerimento de Demetrio
da Silva Carvalho, pedindo copia da
acta da sessão em que foi regulado
o descanço semanal. j
—Um officio do regedor da freguezia
de Sernache participando não
se achar ainda concertado um candieiro
ha tempo ali partido por Zozimas
Pinheiro. A Camara resolveu
officiar ao cidadão administrador do
concelho, n’este sentido.
— Cinco exemplares da «Interpelação
ao sr. Ministro do Fomento» pelo
senador Nunes da Matta. Resolveu
agradecer, manifestando ao offerente
o seu reconhecimento pela tórma
como trata assumpto tão importante
para este concelho.
—Um exemplar »Pro Patria» da
Camara da Covilhã; resolveu agradecer.
r
— Requerimentos de Anna Pires,
do Outeiro da Lagoa e Maria de
Jesus, da Roda de Santa Apolonia
pedindo subsídios de latação; deferido
Compareceram:
— Manuel Antunes, da Portella
dos Bezerrins, pedindo para que
lhe fosse prorogado até 30 de marco
o prazo concedido para a construcção
da tarefa da estrada da Varzea
dos Cavalleiros. Attendido.
— Manuel Joaquim, da Bernardia,
pedindo |auctorisação para mudar
um caminho que atravesa ssaua propriedade,
para a extremidade da mesma.
A camara resolveu officiar à auctoridade
administrativa a tim de que
ella se informe.
Resolveu:
— Fazer a cobrança do imposto do
real d’agua e encarregar José Maria
de Miranda de fazer os conhecimentos
e fiscalisar os serviços de cobrança
com a gratificação de 120000
réis annuaes. ;
— Mandar pagar aos empregados
que recebem pelo cofre do municipio,
os vencimentos dos mezes de,
janeiro e fevereiro, no proximo dia
dois de marco. , 1
-—Approvou sem alterações as contas
d’esta camara referentes ao anno
de 191! e mandou passar editaes
‘ convidando os interessados a verificarem
as mesmas e a reclamar dentro
do prazo legal.
— Approvou o orçamento ordinario
para O corrente anno, mandando,
passar os competentes editaes.
—O sr. Presidente communicou
á Camara que o sr, almirante Tasso
de Figueiredo, apresentou ao Senado
um projeto de lei, auctorisando
o governo a pôr a concurso a
construcção e exploração de uma linha
ferrea do Entroncamento à Certá,
projecto de lei assignado tambem
elos senadores Nunes da Matta e
Martins Cardoso.
Propondo que a Camara congratulando-
se com tal proposta exare
na acta um voto de louvor ao proponente
e signatarios, que tanto teem
pugnado pelos interesses d’este concelho,
e que d’esta resolução se d’es:
se conhecimento aos interessados.
— “EINE —
Registo Civil
O movimento de registos n’esta
repartição de 14 a 21 do corrente foi:
Nascimentos na
Casamentos…..
O Bitos O te ans e rea
Carteira semanal
Fazem annos:
No dia 27 do corrente a sr.* D.
Belmira Moraes David.
No dia 1 de março os srs. Joaque
Marinha e Luiz A. Cardoso
uedes.,
No dia 2 o sr. Luiz da Silva Dias.
De visita a sua tia a sr.* D. Conceição
Baptista, esteve n’esta villa
o sr* D. Maria de Jesus Baptista
com seu marido e a sr.º D. Severina
Alegria.
Passaram o Carnaval n’esta villa
as sr. D, Guilhermina Barata, D:
Lucinda e D. Laura Baptista é os
srs. Sebastião Farinha Tavares,
esposa e filhinha, Manuel Semedo
d’Qliveira e esposa, Diogo Oleiro e
Olymp’o Craveiro.
Em goso de ferias estiveram n esta
villa os nossos patricios srs. João
José de Magalhães, Joaquim das
Neves Barata e Joaquim Branco.
Está n’esta villa o sr, Antonio Barata
Correia e Silva.
Estiveram n’esta villa os srs. Joaa
Ferreira Guimarães Lima e
lhas, José Cardoso Alves da Cruz
e José Lopes Manso; em Lisboa os
srs. dr. Albano Lourenço da Silva
e Jacintho Martins e em Castello
Branco o sr. Luciano d’Almeida
Monteiro.
= QD — ——
Aspelo das cearas
Com o tempo desfavoravel tem
sido imposivel proceder ás sementeiras
serodias, mas em compensação
as cearas temprãs apresentamse,
na maioria, muito prometedoras,
especialmente as que foram devidamente
adubadas. Diariamente temos
informações, tendo recebido hoje as
seguintes:
Alter do (Chão, ro de fevereiro
de 1912—«Cumpre-me dizer que o
aspeto das minhas cearas adubadas
com, Phosphato Thomaz, cal azotada
e kainite é surprehendente, apesar
da grande invernia», Q que este lavrador
nos diz não só mostra que
os adubos que empregou são os
apropriados a essas terras, mas que
devido às proporções equilibradas
dos 3 adubos, a ceara resistiu bene:
ficamente e não foi prejudicada pelo
mau tempo. De um outro “lavrador.-
Portel, 10 de fevereiro de 1912.
— «Por estes dias lhe remetterei noticias
sobre as cearas; no emtanto
posso já dizer-lhe que o Phosphato
“Thomaz está superior ao Superphosphato
». Esta carta é do mesmotheor
de muitas que temos recebido, cujas
informações justificam a preferencia
que tem o Phosphato Thomaz,
pela sua completa adaptação
e optimos resultados nas terras portuguezas.
E” de esperar que em breve-
diminuam ou acabem as chuvas
continuas. Aconselhamos portanto
nas cearas atrazadas ou nas que tenham
esfriado e em’ outras de mau
aspecto a applicação dos. nossos
adudos especiaes para cobertura
(adubo n.º 595, adubo N. M. P.86,
adubo N. M. P. 104); as cearas tomam
um novo vigor, crescem e melhoram
consideravelmente. Enviamos
o folheto especial de adubos
para cobertura e o ultimo numero
do nosso jornal «O Fertilisader» a
todos que o pedirem. Todos os adubos
para entrega inmediata teem
O. Herold, & C.º Armazens em
Lisboa, Porto e Pampilhosa:
Conselhos aos lavradores
no o tratamento dos olivaes
Em agricultura nunca é demais
repetir as cousas, mormente quando
|
ellas representam interesse para um
dos ramos mais importantes da nossa
agricultura patria.
Devido a causas cuja origem pode,
sem duvida, ser atribuida à falta
de cuidado que com a oliveira se
tem, a producção de azeite tem nos
ultimos annos sido bastante escassa,
De um modo positivo e sem receio
de contestação pode-se assegurar
que uma das causas mais importantes
é o abandono a que são votados
no geral no nosso paiz os olivaes,
em geral mal lavrados, poucas
vezes podados e nunca adubados.
Assim como a um animal se não
pode exigir trabalho desde que se
lhe não dê alimento satisfatorio tambem
entendemos que de uma arvore
se não pode exigir boas producções
desde que se lhe não fornecam
os alimentos de que ella necessita
e se lhe dispensem os cuidados
indispensaveis.
Para se evitar a continuação da
crise, entendemos dever se cuidar de
um modo conveniente dos olivedos,
cavando-os ou lavrandos-os,. podando-
os e adubando-os conveniente-.
mente.
Sómente conjugando estes factores
que acabamos de apontar se poderão
obter producções que resolvam
ou attenuem as crises de escassez
e que teem dado logar, infelizmente,
para um paiz essencialmente
agricola, o fazer-se a importação de
azeite exotico que em detrimento
da lavoura e beneficio dos açambarcadores
entrou em condições excepcionaes
nos fins do passado anno.
Sabe-se que os olivaes existentes
em Portugal são sufficientes para,
coma sua producção, bastar a todas
as exigencias do nosso consumo, dado
o caso, está claro, de se dispensarem
a esta cultura os cuidados de
que ella é credora.
Desde que se despresem os olivaes,
como vemos fazer na maioria
dos nossos olivedos, teremos sempre
como prespectiva a fraca produtção
oleicola o que não succederá, dado
o caso de serem os olivaes tratados
convenientemente com assima dissémos.
Um dos factores que mais poderosamente
pode concorrer para a
boa producção é sem duvida a adubação
um dos mais preponderantes.
Uma adubação feita conscienciosamente
em harmonia com a natureza
do terreno rebustece-se a planta
colocando-a em condições de com
vantagem, contra os estragos das diversas
doenças que as atacam, mas
augmenta-se a produção durante
dois annos pelo menos, com um insignificante
dispendio.
Para que as adubações d’esta planta
dêem os melhores resultadosé
FOLHETIM :
UM SUSTO
Estava a fazer-se noite. Já por
detraz das carvalhas se erguia um
clarão avermelhado como o de um
pavoroso incendio — a lua cheia.
Não sei que é, mas nos montados
a esta hora, ha um surdo rumor
por sob as ervas, entre os silvados,
nas arvores, como se um
mundo de espiritos se estivesse despertando
para viver emquanto nós
dormimos. Ora, este latejar de vida
nocturna se assusta espiritos fortes,
que fará o d’esta pequena que
guarda uma cabra preta e outra
branca, e terá oito annos se tiver?
Vem, portanto, apressadamente descendo
o monte e fazendo seguir na
sua frente os dois animães que para
aqui, sobem ali, fogem para aco-
Já, atraz de um arrebento de silvados
ou de uma pernada de erva,
fresca, Eu não sei de animaes mais comedores,
j
—(Chó Branca, chó Caniça.
E a pequenita afflicta lá sobe a
enxotar uma, lá procura pedra para
fazer desempoleirar outra do cimo
de um alto penhasco. Oh; que inferno!
Nunca se satisfazem estes
mafarricos de cabras. )
*
No emtanto a lua yae subindo.
Parece dia.
Na aldeia vem tudo para a soleira
da porta. Ninguem se lembra de
ter visto uma lua assim.
— Luar de janeiro vale um carneiro—
diz um visinho.
—Mas o de agosto dá-lhe de rosto
— termina outro.
— Dá-lhe de rosto; isso é verdade.
Tenho pena até de me ir deitar.
Olhe que é mesmo dia.
Isto é bom signal. A novidade ha
de ser boa. Os milhaes estão um
regalo… Hein! Você não ouviu
chorar? — Ouvi, ouvi.
—Que é lá isso? ó tia Angelica.
A tia Angelica que passa diante
da porta, pára e diz:
—A Candeias mandou a filha para
o monte com as cabras € está a
chorar á porta porque a pequena
ainda não veiu. Eco agora de a
procurar por toda a aldeia. Ninguem
lhe soube dar noticias. Quem sabe
o que lhe terá succedido?! Não tem
cá o homem. Vou chamar o tio Zé
Pereira para que vá em busca d’ella.
Tambem quem manda para o
monte uma creança tão pequena!
—Vá lá chamar o Zé Pereira, tia
Angelica. Eu tambem vou procural-
a.
—E eu.
—E eu.
—E eu.
E toda a aldeia quer ir. e
*
—Então vamos lá,
—Por aqui, por aqui.
—Mas para que choras? Maria, «A pequena ha-de apparecer. Ninguem
ta queria, descança. Quem
as tem que as ature.
Vão assim animando a mãe que
vae na frente, em cabello, com os
olhos chorosos. muito abertos, espiando
as ribanceiras e os barrocaes.
— Ai! meu Deus! — diz ella estacando:
—olhem, olhem, que será
aquillo preto?
Chegam-se todos.
“— Ali, no fundo… então não
veem?! Ai! Senhor! é ella, é ella.
E n’isto um grito que assusta as
aves que dormem nos ninhos com
os filhos debaixo da aza.
—Vocemecê está tonta, mulher,
ali não está nada.
—Não está nada, não, — confirmam
as outras mulheres, a quem
aquelle grito de mãe roubada poz o
coração aos pulos.
— Não é ella? Não? digam-me,
digam-me.
em o terror estampado nas faces,
as mãos apertadas na cabeça,
conveniente que ella contenha azote,
acido phosphorico e muita potassa
principalmentpeoi,s esta ultima substancia
é a que maior influencia
tem na fructificação da oliveira.
Quando por qualquer circunstancia
os lavradores não queiram fazer
uso de alguma formula completa organisada
em harmonia com as necessidades
do terreno pode fazer-se a
seguinte adubação consoante os casos
que passamos a apontar:
Terrenos de natureza calcarea por
cada cem pés de oliveiras:
Guano do; Perú… …. 5oo kilos.
Chloreto de Potassio.. 200 »
“Terrenos de natureza não calcarea
por cada cem pés de oliveira;
Cal azotada 200 kilos
Fhosphato Thomaz …. 400 »
Sulphato de Potassio… 200 »
Podendo o sulphato de potassio
ser substituido pelo Kainite que é
como se sabe um sal potassico de
baixo preço.
Deixamos aqui exarada a nossa
opinião franca e sincera acerca da
melhor forma de obter dos olivedos
uma produção compensadora.
“Terminando aconselhamos os nossos
lavradores a uma experiencia.
Sabida a quantidade a empregar
para cem pés, facil é estabelecer a
proporção para qualquer quantidade
de pés.
Cardoso Guedes.
Pequena correspondencia.
Sr Manuel Antunes Jun— Bien oguerlla —
recebemos a importancia da sua assignatura;
n’esta data enviamos o n.º 50,
Sr. Joaquim Godinho da Silva—Lisboa—
recebemos o seu vale do correio.
Agradecemos,
ANNUNCIOS
Annuncio
Pelo Juizo de Direito da Comarca
da Certã e cartorio do escrivão
do terceiro officio, nos autos de inventario
orphanologico a que se
procede por falecimento de José
Mendes, morador que foi no logar
do Sambado, freguesia de Sernache,
d’esta comarca, se ha-de arrematar
em hasta publica, no dia dez do
proximo mez de março, pelas onze
horas, da manhã, à porta do Tribunal
Judicial, o predio abaixo designado,
pelo maior preço offerecido
acima da avaliação.
Uma horta sita á Ribeira, com
testada de mato e pinheiros, avaliada
na quantia de réis 1908000. 4
VOZ DO POVO
Este predio vae á praça para pagamento
do passivo e por deliberação
do conselho de familia e ficam
citados quaesquer credores incertos
que se julguem com direito ao mes
mo predio,
E eu Eduardo Barata Correia e
Silva, escrivão o escrevi,
Certã, 13 de fevereiro de 1912,
Verifiquei
O Juiz de Direito
2 Sanches Rollão 1
Comarca da Certã
4.º officio
Pelo Juizo de Direito da Comarca
da Certã e cartorio do escrivão
David, vão á praça pela terceira vez
e sem valor, para serem vendidos e
entregues a quem maior lanço offerecer,
no dia 3 do proximo mez de
março, por 11 horas, os seguites
bens. E
Uma courella de matto, sita nos
Enxordeiros, limite da Povoa da
Ribeira.
Uma courella de matto, uns castanheiros
e videiras, sita nos Enxordeiros.
Uma courella de matto, e ameixoeiras,
sita na Povoa da Ribeira.
Uma courella de matto, sita na
Povoa da Ribeira.
Um quinhão n’uma casa, da residencia
da familia do executado, sita
na Povoa da Ribeira.
Estes bens foram penhorados na
execução de sentença que João Luiz,
viuvo, alfaiate, da villa e freguezia
de Oleiros, move contra Thomaz
Peres, solteiro, maior, do logar da
Povoa da Ribeira, freguezia do Villar
Barroco, d’esta Camarca, nos
termos do Decreto de 29 de maio
de 1907, pela quantia de quarenta
mil oitocentos e dezenove réis.
Pelo presente são citados quaesquer
credores incertos, nos termos
da lei.
Certã, 13 de fevereiro de 1912.
O escrivão
Adrião Moura David
Verifiquei a exactidão:
O Juiz de Direito,
2 Sanches Rollão 2
PEDRO ESTEVES
ALFAIATE
Fatos, para homens e rapazes, em todos os generos
Preços modicos
Mudou-se pars a Rua Serpa Pinto (em frente da casa de José
Nunes e Silva)— Certa.
(HYPO- SALINA – SULFATADA SODICA, ALUMINOSA)
UNICA NO PAIZ COM ESTA COMPOSIÇÃO CHIMICA
EGIS TADA o N g iaa
MARC:
PREMIADA COM 10 MEDALHAS DE OURO E PRATA
NAS EXPOSIÇÕES NACIONAES E EXTRANGEIRAS
NOTAVEL na GURA na DIABETES,
DOENÇAS DO ESTOMAGO, ANEMIA DOENÇAS INTESTAAES
à 8 ETC. ETC.
| ANALYSES CHIMICA BACTERIOLOGICA E APRECIAÇÕES –
DOS DISTINCTOS CLINICOS E,** 84º
DO VIRGÍLIO MACHADO D’ O ANTxO LENNCAISTROE D’ ALFREDO LUIZ LOPES CTC
DÁ-SE FOLHETO NO DEPOSITO GERAL
RUA. PRINCEZA BA, LivuLco tos FanguerRos) LISBOA
FARMACIA Zeferino Lúcas Certa
COMARCA DA CERTÃ
ANNUNCIO
Pelo Juizo de Direito d’esta comarca,
cartorio do escrivão do terceiro
offício, nos autos de inventario +
orphanologico a que se procede por |
fallecimento de Iria de Jesus, viuva
de Joaquim Mendes, moradora que
foi no logar da Roda de Cima, freguezia
do Sobral, d’esta comarca,
correm editos de trinta dias, que
começam a contar-se da segunda e
ultima publicação no Diario do
Governo, a citar o coherdeiro José
Mendes e mulher, cujo nome se
ignora, ausentes em parte incerta,
para assistirem a todos os termos
até final do mesmo inventario, sem
prejuizo do seu andamento.
Certã, 7 de janeiro de 1912.
E eu Eduardo Barata Corrêa e
S:lva, escrivão que o subscrevi.
Verifiquei:
O Juiz de Direito,
2 Sanches Rollão 2
os olhos esgazeados. .— digam-me,
digam-me,
—E’ o que eu digo, tu não estás
boa da cabeça.
Mais adiante, a mãe estaca de.
novo, curvada para a frente, tetribulada
outra vez. Gemidos | ella ouve
gemidos. —E” a pequena, Acudam,
acudam.
Mas ninguem ouve nada. A lua
vae alta,
Longe, lá para os lados da aldeia,
parece que canta um rouxinol. De
fraga em fraga, reverberando o luar,
um fio de agua, que se despenha,
diz uma cantina melancholica. Todos
caminham calados. De quando
em quando fala uma vo— zOr a a
pequena! Onde se metteria o mafarrico?
A mãe soluça mais alto, A coisa
torna-se um pouco séria, quando, ao
desembocar de um caminho, todos
exclamam:,
—QOlhem-n’a!
Na verdade, a pequena lá estava,
adormecida, com o bracito sobre uma pedra e a cabecita no braço.
A lua dáva-lhe em cheio. De um e
de outro lado a cabra branca e a
cabra preta pareciam esperar que
despertasse para que as guiasse ao
curral, Era um gracioso quadro.
A aldeia faz roda em frente. A
mãe tinha nos olhos e no rosto todas
as alegrias deste mundo e um
poucochinho das do outro.
—Oh! como ella dorme!
E todos repetem:
—Como dorme!
— Olhem e está a sorrir! observa
um.
E é verdade, a pequena está a
sorrir. Vêem-se branquejar entre os
labios um pouco abertos, os dentitos
afiados.
—Maria! Maria!
Abre os olhos:
— Ah? a mãe!
Esta pega nella ao collo, beija-a
muito. Duas lagrimas descem-lhe
pelas faces.
—O que tu merecias bem sei eu.
Que susto! Deixa estar que em ca- sa te ensino. Isto são modos?
— Não fui eu; foram as cabras.
Uma foge para aqui, outra foge para
acolá; a Branca vae para um lado,
a Caniça para outro. Já não podia
correr mais atraz d’ellas. Acho
que se não queriam deitar com uma
lua tão bonita! Julgavam que ainda
era dia.
Então ella, cançada, sentou-se ali
a chama-las—Caniça, Branca. E não
vinham. Ai! a mãe! Até se poz a
chorar! que cabras! Que castigo!
começou então a rezar a Nossa Senhora
d’Ajuda e a pedir que lh’as
trouxesse para se irem deitar, que
estava cheia de somno: Salvé, Rainha,
mãe de misericordia… quando
vê descer lá dos ceus uma cachopa
muito rica e muito linda e
beijá-la e começar a chamar numa
voz que parecia musica-—Branca,
Caniça—e logo as cabras a correr
pelo monte abaixo, logo, logo, e a
Senhora a dizer-lhe: Adeus, Maria;
aqui tens as tuas cabras, Maria…
€ abre os olhos e vé a Brancaca
Caniça, camãeeco tio Zé
Pereira, e as amigas, é os visinhos,
ion a
*
De caminho para casa, cabras na
frente, um a um toma-a ao collo e
pergunta-lhe :
— Então tu viste Nossa Senhora?
pequena.
—Oh se vi, tinha o rosto muito
lindo; trazia um chapeo de velludo
com pena branca e espelhinho na
frente como o da Josepha do Adro;
uma saia com muita roda… Era
de ver como vinha cheia de ouro e
me dizia:— Adeus, Maria; queres as
tuas cabras, Maria? Eu vou por ellas,
Maria.
A mãe, ao lado, radiante de alegria,
ouve-a e olha-a com os seus
olhos de amor, ainda chorosos.
“Pobre de quem tem filhos, que
nunca o coração lhe dorme e sempre
os olhos lhe choram.
Guilherme Gama
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