Voz do Povo nº64 18-02-1912

2.º Anno E
“DIRECTOR
Augusto Fodrignes
Administrador
ZEPHERINO LUCAS
Editor NX
Luiz Domingues da Silva Dias
ES
Certã, 18 de fevereiro de 1912
Assignaturas
Anno…… 1200. Semestre…
Para o Brazil. ;
– Pago adiantadamente,
Não se restituem os originaes
59000 réis (fracos)
600 rs.
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Travessa do Serrano,8
CERTA.
Typographia Leiriense— LEIRIA
Proprigiade da EMPREZA DE PROPAGANDA LIBERAL
Na 3.º e 4.º paginas, cada linha…
N’outro logar, preço convencional
Annuncios
o DONS:
Annunciam-se publicações de que se receba
um exemplar
CAMINHDOE FERRO
Confirmou-se plenamente a
noticia de que, no ultimo núumero,
nos fizemos echo, ácerca d’um
projecto de lei tendente a dotar
esta região tão desprotegida como
progressiva, com os beneficios
da viação acelerada.
Quando o nosso jornal estava
sendo distribuido, já no Senado
havia sido apresentado aquelle
projecto, da iniciativa do nosso
querido amigo, sr. almirante Tasso
de Figueiredo, e assignado
por este e pelos nossos outros
illustres patrícios, srs. Nunes da
– Matta e Martins Cardoso. Por
elle, é auctorisado o governo a
abrir concurso publico, por um
espaço não superior a 60 dias,
para-a construcçãoe exploração
duma linha ferrea do Entroncamento
á Certã, por Thomar e
Ferreira do Zezere.
“O projecto, seguindo os preceitos
regulamentares, já teve
segunda leitura, e depois do conveniente
estudo e necessario parecer
da parte das commissões
respectivas, deve ser dado para
ordem do dia, n’uma das proximas
sessões. O
Não temos duvida alguma de
que, da sua discussão, resultará
no espirito de todos os membros
da camara, a convicção da necessidade
urgente da sua approvação
e da justiça e opportunidade
da sua apresentação.
Estamos, pois, absolutamente
convencidos de que elle será approvado
e que muito em breve
teremos, todos nós, o prazer de
ver aberto o concurso,
O projecto foi elaborado com
tanta intelligencia como criterio,
pois. que, alem de vir beneficiar
tão largamente esta, região, da
mesma fórma aproveita a Thomar,
centro fabril de primeira
ordem, satisfazendo, assim, uma
antiga e justa aspiração da importante
cidade.
Decerto, muitos dos nossos
“leitores terão a apprehensão de
que uma vez abecto concurso,
elle fique deserto por falta de
concorrentes, que a nossa pouco
prospera situação financeira faça
afastar. Assim não será porem,
queremos crer, pois estamos informados
de que um grupo fi-
-nanceiro se acha já constituido
a fim de ir ao concurso.
Sendo assim, como estamos.
certos que é, parece fóra de duvida
que as nossas mais ardentes
esperanças vão, em fim, ser realisadas.
Todos: nós sabemos: quanta
boa vontade, quanta dedicação
e quanta inteligencia o nosso
presado amigo sr. Tasso de Figueiredo
tem posto e continuará
a pôr ao serviço desta grande
causa; e, quando um espirito
persistente se interessa por uma
causa justa, é certa a victoria.
O amor que o nosso illustre
patrício tem por esta sua terra
é, por demais, conhecido; a sua
amisade e dedicação por todos
os seus patrícios teem sido, de
ha longos annos e em diversas
circunstancias, plenamente provadas;
a sua intelligencia, o seu
espirito de trabalho methodico
e organisador, a nobreza do seu
caracter. e excellencia do: seu
coração, são conhecidos de todos
que com elle teem o prazer
detratar. De fórma que, a todos
os respeitos, não podia a defeza
dos nossos direitos e dos nossos
interesses estar mais bem entregue.
:
Póde a Certã envaidecer-se
da sua representação no primeiro
parlamento da Republica.
Dos quatro de que ella se compõe,
tres são dos nossos patrícios
mais queridos, e todos elles collaboram
efficazmente no desejo
de serem uteis ao nosso concelho
e á nossa comarca; mas,
alem disso, sabemos que ainda
o nosso outro representante, sr.
tenente Americo Olavo, que tantas
sympathias despertou quando
aqui esteve em propaganda eleitoral,
tem pela nossa comarca
sum vivo interesse, já por mais
d’uma vez manifestado.
Estão, pois, os nossos justificados
e legitimos direitos bem
confiados, e bem merece esta
velha terra, mas novae progressiva
pelas ideias, ser olhada com
carinho e attenção pelos poderes
publicos, em vista da correcção
e nobreza do seu procedimento
perante a situação dificil que o
paiz tem atravessado, dando
exemplos de cordura e de respeito
á lei a outras terras que
orgulhosamente falarão da Certã,
como dum burgo perdido
nas estevas da serra, sem illustração,
nem civismo.
———S6j0c>——
Eduardo d’Abreu
Falleceu este illustre homem publico,
que deixou uma lacuna dificil de prehencher.
“POLITICA GERAL.
Como previmos, já se acham restabellecidas
as garantias, achandose
o districto de Lisboa em completa
normalidade.
Dos individuos presos por | occasião
dos ultimos acontecimentos
tem sido restituidos á liberdade a
maior parte, por nada se provar
contra elles, devendo, em breve,
começar a funccionar os tribunaes
marciaes creados para julgamento
dos que forem achados culpados.
Parece-nos que bem podia dispensar-
se esta medida excepcional.
Não a julgamos absolutamente necessaria
e a sua adopção pode fazer
crer no estrangeiro que a nossa situação
interna é tão deploravel que
torna necessario recorrer-se áquelle
meio, que deve ser considerado extremo.
Nos ultimos dias teem corrido
boatos de crise, que julgamos infundados.
Afigura-se-nos que a crise
ministerial seria não só inconveniente
para o paiz, mas sobretudo inoportuna.
O que a nação carece
é de administração e não de politica,
na baixa mas commum acepção d’esta
palaya.
= SARIGE——
Proença-a-Nova
Foi dissolvida a commissão municipal
administrativa, para aquelle
concelho nomeada após á proclamação
da Republica:
Em sua substituição e por alvará
do governo civil, datado de 1 do
corrente, foi nomeada outra, composta
dos srs. Joaquim Martins Pereira,
João Luiz Grillo, Manuel José
Alves, João Dias Balaú e Alberto
Lopes Pires Ribeiro.
FACET BOOASTO S
Registo Civil
O movimento de registos n’esta
repartição de 7 a 14. do corrente foi:
Casamentos… .. to a pod I
INBSCIMICNTOS ee M ie RR 4
Obitost aa. EIN AT E Na I
IADERV)
Dr. Mendonça David
Está n’esta villa, este nosso illustre
amigo.
SPICE —
Por falta absoluta de casa para a
sua installação, foi extincta a escola
do Amparo do Carvalhal, no nosso
concelho.
2 ODE)
Para a escola do, Nesperal, foi
transferida a sr.º D. Guilhermina
Barata, que distinctamente exerce o
professorado no nosso concelho, ha
alguns annos.
—=Para a do Troviscal, foi nomeada
a sr.* D. Maria Nunes Ribeiro.
To MemIGe-——
O sr. dr, Antonio da Matta Pedroso
dos Reis, nosso patrício, juiz
de direito, foi promovido a 1.º classe
e collocado na comarca de Beja,
Costa Cabedo
Sepultou-se já este desventurado
rapaz, victima do mais cobarde e
repugnante attentado.
cce mem
O Palco
Recebemos a visita d’esta interessante
revista, primorosamente illustrada,
de que é director, Nascimento
Correia.
O n.º 3, que temos presente, insere
uma magnifica photograyura
de Adelina Abranches, além d’outras
inumeras gravuras.
A administração é na rua de S.
Marçal, 51, 1.º—Lisboa.
—o co
Falleceu, na sua casa do Painho,
o nosso assignante, José Arnauth,
que desde a proclamação da Republica,
exercia as funcções de presidente
da Junta de Parochia de Pedrogam
Pequeno. Ê
Õ finado era um homem honrado
e cumpridor dos seus deveres,
sendo o seu passamento bastante
sentido.
A sua familia enviamos as nossas
condolencias.
—— ocyoc———
Lei da Separação
Foram nomeadas as seguintes
commissões concelhias de administração
dos bens do Estado:
Concelho da Certã-— Presidente,
dr. Bernardo Ferreira de Mattos; secretario,
José da Gloria Lopes Barata;
vogaes, Thomáz Florentino
Namorado (professor); Antonio Nunes
de Figueiredo (vereador).
Concelho de Villa de Rei—Presidente,
José Joaquim da Silva Neves
(proprietario); secretario, João: Nunes
Tavares (professor); vogaes, José
Nunes Tavares (professor); Joaquim
de Moura Neves (vereador).
Concelho de Proença-a-Nova —
Presidente, João Ribeiro; secretario,
José: Sequeira; vogaes, Domingos
Luiz de Almeida (professor); João
Luiz Grillo (vereador)
TR MACAE ESSO ema
Dr. Trindade Coelho
Regressando de Lisboa, com sua
ex.m esposa, acha-se novamente à
frente da administração superior do
nosso districto o sr. dr. Trindade
Coelho, a quem enviamos os nossos
affectuosos cumprimentos.
—p—r a— mSO oe-————
A. revisão do nosso ultimo numero
deixava bastante a desejar. Bem
sabem os nossos presados leitores
que não podemos fazel-a pessoalmente.
:
Esperamos, pois, que tendo isso
em attenção, nos desculpem.
—Yambem, esse n.º foi distribuido
com atraso, devido á irregularidade
no serviço dos correios, moti- –
vada pelas ultimas cheias.
eeRc Ae
Por transferencia de Angra, foi
collocado no nosso districto de Castello
Branco, como auditor, o sr.
dr. Albano d’Oliveira Frazão, que,
por muitos annos, foi conservador
do registo predial d’esta comarca,
onde conta muitas relações.
Os nossos cumprimentos.
MN 1… 0
Chronica de Lisboa
8—-2—gr2.
A situação
Nada mais tem occorrido, quanto
á ordem publica, de notavel, depois
dos successos de 30 e 31 de janeiro
que tanto alarmaram a cidade e
todo o paiz. Ha, felizmente, completa
tranquillidade.
O governo continua a receber protestos
de todas as localidades contra
Os promotores de desordens e
de felicitação pela fórma como procedeu
na defeza da ordem e das
instituições. E? certo que a defeza
da cidade continua entregue á auctoridade
militar, mas, ao que se
julga, em breve, antes do praso de
trinta dias marcado pelas duas casas
do parlamento, terminará a suspensão
de garantias.
As rusgas de noite aos rujias e
á vadiagem, que desde ha muito
infesta a cidade, tem continuado
sendo elevado o numero de desordeiros
e de amigos do: alheio que
tem cahido na rêde policial. E” uma
limpeza para a cidade.
Preciso é agora que a taes sujeitos
se lhe dê o destino que merecem,
Tambem a polícia tem procedido
á apprehensão de armas prohibidas
e. para este efeito algumas visitas
domiciliarias tem realisado, na maior
parte sem resultado. . Muitos individuos
que possuem armas de fogo,
principalmente caçadores, tem, no
cumprimento da respectiva ordem,
ido á policia visar .as licenças,
Às associações operarias reuniram,
na maior parte, e protestaram
energicamente contra os arruaceiros
que, pelos seus condemnaveis actos,
tanto prejudicam o movimento operario
é a acção do governo no bom
e regular andamento dos negocios
publicos.
A borrasca passou, felizmente, e
não é provavel, como tudo parece
indicar, que se repita.
Em todas as classes reclama-se
ordem e trabalho e todos cooperam
com o governo em manter, para o
bem geral, a normalidade.
Circulou nestes ultimos dias o
boato, de que faz echo c4 Capital,
que o ministerio não se aguentaria
por muito tempo no poder, chegando-
se mesmo a dizer que já estava
nomeado, ou, pelo menos, em
vias de organisação um novo ministerio,
O boato foi, porém, desmentido.
O ministerio tem o apoio incondicional
das duas casas do parlamento
e entre os ministros existe
em todas as questões o mais completo
accordo. E” uma verdade que
A Capital, desmentindo o boato da
noya crise, reconhece. Ainda bem
que assim succede.
Falou-se tambem que*este anno
o Carnaval não seria commemorado
em Lisboa. Não succederá assim,
As festas carnavalescas não deixarão
de ter logar, e, se o tempo o permittir
serão feitas com o usual brilhantismo.
O sr. commandante da divisão
consultado a tal respeito declarou
que não havia motivo para que sejam
prohibidas as festas do Carnaval,
e, assim; pois, a cidade poderá
divertir-se à seu bello prazer, dentro
dos limites da ordem, como se não
estivesse entregue á acção militar.
De resto: a normalidade é completa
e os tribunaes proseguem na
faina dos julgamentos dos processos
instaurados contra os presos dos
ultimos successos.
E’ o que ha.
B.
——— ICceI— —
Amanhã, 2.º feira, por estar comprehendida
em ferias, não ha au-,
diencia no tribunal da comarca,
7
O ODIO AO CÃO
Temos á vista um jornal que
transcreve da Gazeta das cáldeias
um artigo, que parecendo ter por
objecto pôr-nos a coberto dos inconvenientes
que resultarão de uma excessiva
convivencia com o cão, é
uma transparente charge, uma depreciativa
ironia contra esses, senão
ilustrissimos, pelo menos excellentissimos
animaes.
Inconveniente ha, e grande, mas
é apenas em nos deixarmos lamber
por elles principalmente a cara e
as mãos,
Quanto ao mais, isto é, quanto
a lamberem sujidades varias e constituir
isso um perigo serio para
as pessoas, não nos consta que elles
o façam mais, nem sequer tanto
quanto o fazem as gallinhas. ;
Ora, as galinhas, não só convivem
comnosco, em nossas casas,
como até servem á nossa alimentação,
o que por emquanto não succede
com os cães.
Se na indagação da verdade se
remontasse um pouco ás origens, e
nos limitassemos apenas a excavações
superficiaes, ver-se-hia que a
verdadeira imprudencia em materia
de falta d’asseio, e portanto de
hygiene, a cometemos nós, e que
mesmo no capitulo alimentação—
nós somos os primeiros a falseal-a
ingerindo outras substancias ou outros
productos que não sejam os
vegetaes.
utro caso de injustiça para com
semelhantes animaes é-nos fornecido
(ou foi), pelo Jornal de Pacos
de Ferreira que, depois d’escrever
«Morte à canzoada», acrescentava
em tom ironico: «foi ordenado o
oferecimento do delicioso bolo à
canzoada…»
Valha-nos Deus com um pouco
de resignação para ver sem maior
somma de constrangimente actos
rudes e improprias referencias a
creaturas tão estimaveis como os
cães,
Elles não teem culpa alguma do
mal que occasionam. j
Quanto melhor não era pois que
o homem, em vez de concitar contra
elles o odio alheio, estudasse a
melhor fórma de evitar a frequencia
e abundancia com que elles se
reproduzem e, quando não se descobrisse
o meio de conseguil-o, se
procurasse a forma de os abater
com sciencia e consciencia, ao abrigo
de sofrimentos inuteis e terríveis,
como succede com o velho e além
de velho perigoso processo do bolo
envenenado,
Já assim se vem fazendo la fóra,
n’alguns paizes mais adiantados que
nós.
Luiz Leitão.
Museu etnologico portuguez
Este importante e curiosissimo
museu, de que é director o sr. dr.
Leite de Vasconcellos, foi ultimamente
visitado pelo sr. dr. Manuel
de Arriaga, presidente da Republica,
O muzeu acha-se assim dividido:
No primeiro pavimento estão collocados
os objectos prehistoricos, desde
a edade da pedra lascada; no
segundo pavimento, os objectos protohistoricos,
a partir da edade do!
bronze, e os objectos historicos, onde
está comprehendida a edade luzitana
e romana, e, finalmente, no
terceiro pavimento está representada
a etnografia continental moderna
e a antropologia antiga e moderna.
Nas “escadas que ligam o primeiro
ao segundo pavimento vêem-se muitos
objectos estrangeiros, de todas as
edades.
O chefe do Estado percorreu todas
as dependencias do museu, exa-
VOZ DO POVO
minou detidamente os objectos expostos,
e ao retirar-se teceu os
mais rasgados elogios á iniciativa
e ao amor com que tem trabalhado
na organisação do museu o sr. dr.
Leite de Vasconcellos.
O mencionado museu não deve,
pela sua importancia, ser olvidado
pelos visitantes de Lisboa. A todos,
pelo que encerra, desperta larguissimo
interesse.
Pelo mundo litterario
A ROSA E A VIOLETA
(Conto)
No meio d’um jardim ostentava
sua formosura certa rosa. Não longe
d’ella, n’um recanto, vivia, occulta
na relva, modesta violeta. Encontraram-
se um dia os perfumes, que
ambas exhalavam, e vieram assim a
conhecer-se as duas. É não só ficaram
sendo conhecidas, mas até chegaram
a bemquerer-se, o que-—verdade
verdade—nem sempre se dá
entre as flores.
Como era na primavera, começaram
a vir as borboletas e, dirigindo-
se á primeira, voltejavam de continuo
em torno della: a violeta, essa
via-as de longe; porém como estava
escondida, não era vista dos
alados insectos. Quando vinham
a fallar as duas amigas, a rosa riase
a bom rir das suaves reprehensões
da violeta—o que muito amofinava
a boa da florinha—que lhe
dava conselhos sensatos, ralhando,
como sabe ralhar a amizade, contra
as veleidades da doidivanas, que tão
imprudentemente afagava os brilhantes
e versateis namorados.
Um dia acertou de passar por alli
um aldeão casquilho. Reparando em
rosa tão linda, fica-se a olhal-a enlevado,
e ella—a tontinha-—a requebrar-
se vaidosa, como convidando o
a colhel-a. E sem consultar a amiga,
deixa-se roubar a indiscreta!
Posta no chapeu do enfatuado peralvilho—
que nem ao peito a pozera…
—lá vae, toda secia, brilhar na
romaria.
Gozou até fartar-se. Que todos na
festa a gabaram. Porém ao voltar da
romagem, sentindo-se já enfadada e
aborrecida, principiava a arrepender-
se, quando o leviano, sem alma,
atirou com ella ao monturo, onde
apodreceu esquecida.
Soube a amiga do caso miserando
e chorayva—… que fazia pena!
Attraido pela fragancia dos prantos,
vem alli um poeta, singelo devaneador
campestre. Descobre por
entre a grama a entristecida florita
e fica enamorado.
Ella tendo-lhe casualmente vislumbrado
nos olhos uma lagrima
sympathica, estremece d’affeição e
pudor, curvando-se confusa ao experimentar
em si o sentimento de
misteriosa doçura, de que, por ser
violeta, cuidava que era isenta. Vacillou,
reflectiu, consultou aquelle
que lhe deu vida e aromas, hesitou
ainda… mas emfim elle era crente,
generoso, modesto e hom… votava-
lhe um affecto legitimo e santo…
Deixa-se captivar. a final. E não
se arrependeu. O virtuoso rapaz era
um coração lavado e amava-a devéras.
Trazia-a sempre ao peito e ás vezes
mettia-a no meio de seus versos,
que ficavam impregnados de suaves
olores. –
Viviam encantados os dois.
Todavia n’este mundo tudo acaba:
não podia a flor escapar à lei
fatal.
Foimurchando, murchando. .. até
que por fim feneceu! Mas como um
livro de poesias era o leito em que
repousava, veiu assim a expirar no
meio de melodias…
Que dôr a do pobre moço! Se
z
lagrimas podessem dar vida a flôres,
por certo revivera aquella!
Donzellas: se na belleza sois rosas,
sêde na virtude violetas.
“F. Santos Cunha.
MIRAGENS
N’um canteiro de violetas,
por gradaria cerrado,
vi hontem um bando alado
d’iriadas borboletas,
Em torno uma creancinha,
por ver se alguma colhia,
de quando em quando mettia
dentro da grade a mãosinha.
Mas o insecto vigilante,
quando a mão se approximava,
abrindo as azas, pouzava,
n’outra violeta distante..
Vermelha como uma rosa,
transpirando de cansaço,
sempre que abaixava o braço
erguia-se a mariposa,
Mas quando julgava, emfim
ver cumprido o seu desejo,
eis chega a mãe, dá-lhe um beijo,
e vão-se ambos do jardim.
(Que azas tão lindas, 6 mãe,
— Dão-lhe os tens olhos o brilho.
—Na minha mão não o tem?
=—Colhidas morrem, meu filho.
Creanças e borboletas
que verdadeiras imagens!…
creanças são os poetas,
borboletas as miragens.
Sempre atraz dos seus fulgores
e ellas sempre fugitivas,
‘ d’azul e d’onro, se vivas;
se mortas, mortas as cores.
E n’esta eterna canceira
sempre em demanda d’um norte
surge, emfim, a verdadeira
a fatal; chama-se morte.
Luiz de Campos
CeR ee frerrgeesa
Pequena correspondencia
Pagaram as suas assignaturas, os srs. João
Miguel da Silva, de Lisboa e Antonio Martins
da Silva, de Lourenço Marques,
Agradecemos. f
Carteira semanal
Fazem annos:
—No dia 12—a sr.” D. Ernestina
Marinha David.
—No dia 14—asr.? D. Maria Joanna
Guimarães, e a sr.* D. Henriqueta
Ribeiro Tasso de Figueiredo.
—No dia 17-—a sr.*D. Laura Moraes
Carneiro.
Fazem annos:
—No dia 21-—-a sr.“ D. Maria José
Lopes Rodrigues.
—No dia 22—as sr.“ D, Maria
Magdalena Correia e Silva, D. Arminda
da Conceição Gonçalves, a
menina Branca da Conceição Branco,
e o sr. Eduardo Campino,
—No dia 23—o sr. Antonio Joaquim
Simões David.
Teem passado incommodados de
saude, a sr.* D. Zulmira Moraes Carneiro,
e os srs. João da Silva Carvalho,
Antonio Nunes de Figueiredo,
e David Nunese Silva.
Regressou de Loanda, o nosso
presado amigo, sr. Filippe Leonor.
Regressou a esta villa o commerciante
sr. Luiz da Silva Dias, de regresso
da sua viagem de propaganda
commercial.
Está nesta villa, a sr.? D. Virginia
Baptista.
O nosso assignante sr. Pedro Esteves,
já regressou a esta villa,
Na proxima terça-feira, a commissão
a que no nosso numero anterior
nos referimos, promove no Gremio
Certaginense, um baile que já está
despertando o maior enthusiasmo,
VOZ DO POVO
Conselhos aos lavradores
A escolha dos adubos chimicos
Da escolha racional dos adubos
chimicos depende o bom resultado
final da cultura.
O lavrador deve pois procurar
conhecer as necessidades da terra
para não con tituir que possam ter
uma influencia salutar sobre o bom
resultado da colheita, Carece além
de isso de conhecer o valor dos adubos,
os elementos que conteem e o
estado em que se encontram os elementos
nobres nos diversos adúbos.
Sobre este ponto de vista é conveniente
notar que o valor d’um
adubo não depende unicamente de
percentagens dos elementos nobres
contidos, mas tambem e principalmente
do estado em que elles se
encontram nos adubos em questão.
O azote eo acido phosphorico
podem muito principalmente encontrar-
se sobre trez formas diferentes;
contrariamente a elles, a potassa
nunca se encontra senão sob uma
forma.
Aconselhamos por isso os nossos
lavradores e revendedores a prevenirem-
se contra as falsificações. Em
1908 e em 1909 —de Hespanha entraram
muitos adubos falsificados
que um tal Isaac Sanchez e um Lisardo,
tendo » primeiro respondido
em audiencia no tribunal da comarca
de Figueira da Foz e tendo-lhe
sido confiscados todos os adubos
que tinham á venda por seter provado
com as analyses feitas nos laboratorios
do Estado, que, o que
vendiam era falsificado, não tendo
valor algum, burlando assim os lavradores.
Ha mais porem e que nos foi
sugerido por uma conversa tida com
um lavrador ha poucos dias.
Mostrou-nos a indicação de um
adubo cujo resultado pouco poderá
ser nos nossos terrenos devido á
falta do elemento nobre: a potassa,
o azote póde ser fornecido n’esse
adubo sob a fórma organica, o que
quasi podemos asseverar. Devido a
isto é sem duvida necessario que
este azote passe do estado organico
ao amoniacal e nitrico para poder
ser utilisado pelas plantas.
Mas o que nos chamou a attenção
foi o seguinte que o referido la: ‘
vrador nos frisou bem nitidamente:
No anno findo esse adubo foi vendido
a 17500 réis a sacca e no anno
actual a rifb400 réis ou 15450 réis:
das duas uma ou o dosagem d’este
anno é inferior á do anno passado
ou então se levava ao layrador mais
do que se devia levar e só a concorrencia
póde ter feito baixar a esse
preco e ainda mais. :
Os nossos lavradores, todos devem
procurar reunir-se creando a
sua associação agricola ou syndicato
agricola porque por sua intervenção
obEedas adubos de percentagens mais
elevadas, garantidas pela analyse chimica
e poupavam pelo menos o
ganho dos intermediarios.
Não pretendemos, ao dizer isto, ferir
os interesses seja de quem fôr,o
ue pretendemos acima de tudo é o
desenvolntênio agricola de esta
região na verdade feracissiem aqu,e
o lavrador que necessita de attender
á questão economica possa por
todas as formas obter por mais baixo
custo os elementos de que carece
para intensificar as suas culturas.
undado o syndicato agricola, poderá
o lavrador beneficiar do decreto
de 1 do corrente mez que
creou o credito agricola, porque, devido
a elle, o lavrador obterá, para
as necessidades da sua cultura, capitaes
ao juro de 6% ao anno
quando muito, em logar de o obter
a 109 e mais como actualmente.
Cardoso Guedes,
CURIOSIDADES |
O Castello de Palmella
Sobre a-porta de entrada do castello
da antiga villa de Palmella—
villa que se orgulha, com justa razão,
de ter sido séde da Ordem de S.
“Thiago —existe uma lapide com uma
inscripção, que numerosas pessoas
desconhecem, da qual damos textualmente
a copia. E? a seguinte:
«Reinando ElRei D. Pedro II,
mandou fazer esta fortificação o Duque
do Cadaval, mestre de campo
general junto á pessoa de S. Magestade,
e mandando as armas das prassas
de Setubal e Cascaes, e sendo
capitão general da cavallaria da côrte
e provincia da Estremadura e dos
conselhos do Estado e guerra de S.
Magestade e do despacho das mercês
e espediente-—Presidente do Tribimal
do Tabaco, mordomo-mór
da Rº D. Maria Sofia em 1689.»
A copia, cumpre-nos dizer, foi-nos
obsequiosamente enviada pelo nosso
amigo sr. Manoel Joaquim da
Costa, d’aquella villa, bom e sincero
patriota, valioso serviço que muito
agradecemos.
A inscripção constitue como dizemos,
uma curiosidade, que não
deixará, como julgamos, de ser apreciada
pelos amadores de antigualhas.
Por este motivo a mencionamos.
4
Sebastião J. Bacam.
ANNUNCIOS
ANNUNCIO
Pelo Júizo de Direito da comarca
da Gertã, e cartorio do escrivão do
primeiro ofício, correm editos de 30
dias, a contar da 2.º e ultima publicação
do annuncio no Diario do
Governo, citando o reservisra Manuel
Matheus, filho de Manuel Matheus
e de Maria Rosa, do logar e
freguesia do Estreito, d’esta comarca,
para comparecer no Tribunal
Judicial desta comarca, no dia 11
do proximo mez de março, por 10
horas da manhã, a fim de responder
em audiencia de policia correcional
que lhe move o Ministerio
Publico, por ter faltado á revista de
Inspeção que teve logar em 23 de
julho ultimo,
Certã, 30 de dezembro de rgt1.
O escrivão,
Antonio Augusto Rodrigues.
Verifiquei a exactidão
O Juiz de Direito
Ro Sanches Rollão 2
Comarca da Certã
4.º officio
Pelo Juizo de Direito da Comarca
da Certã e cartorio do escrivão
David, vão à praça pela terceira vez
e sem valor, para serem vendidos e
entregues a quem maior lanço offerecer,
no dia 3 do proximo mez de
março, por 11 horas, os seguites
bens,
Uma courella de matto, sita nos
Enxordeiros, limite da Povoa da
Ribeira.
Uma courella de matto, uns castanheiros
e videiras, sita nos Enxordeiros.
Uma courella de matto, e ameixoeiras,
sita na Povoa da Ribeira.
Uma courella de matto, sita na
Povoa da Ribeira,
PEDRO ESTEVES
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HAI Zeferino Lucas—Cer
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Um quinhão n’uma casa, da residencia
da familia do executado, sita
na Povoa da Ribeira.
Estes bens foram penhorados na
execução de sentença que João Luiz,
viuvo, alfaiate, da villa e freguezia
de Oleiros, move contra Thomaz
Peres, solteiro, maior, do logar da
Povoa da Ribeira, freguezia do Villar
Barroco, d’esta Camarca, nos
termos do Decreto de 29 de maio
de 1907, pela quantia de quarenta
mil oitocentos e dezenove réis.
Pelo presente são citados quaesquer
credores incertos, nos termos
da lei.
Certa, 13 de fevereiro de 1912.
O escrivão
Adrião Moura David
Verifiquei a exactidão :
O Juiz de Direito,
2 Sanches Rollão I
COMARCA DA CERTA
ANNUNCIO
Pelo Juizo de, Direito d’esta comarca,
cartorio do escrivão do terceiro
ofício, nos autos de inventario
orphanologico a que se procede por
fallecimento de Iria de Jesus, viuva
de Joaquim Mendes, moradora que
foi no logar da Roda de Cima, freguezia
do Sobral, d’esta comarca,
correm editos de trinta dias, que
começam a contar-se da segunda e
ultima publicação no Diario do
Governo, a citar o coherdeiro José
Mendes e mulher, cujo nome se
ignora, ausentes em parte incerta,
]
para assistirem a todos os termos
até final do mesmo inventario, sem
prejuizo.do seu andamento,
Certã, 7 de janeiro de 1912.
E eu Eduardo Barata Corréa e
Silva, escrivão que o subscrevi.
Verifiquei:
O Juiz de Direito,
2 Sanches Rollão I
EGUA vende-se uma, para
9 carro e cavallaria;
para tratar
4 Acacio Macedo —OERTÃ 1
Marçano
Precisa-se; para tratar
4 Acacio Macedo— CERTA 1
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Lavoura, habituados a trabalhar
com bois, charruas, etc, etc.
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de suinos saiba castrar femeas e que
o carpinteiro de carros saiba tambem
fazer rodas arraiadas. Todos
teem ordenado estipulado, casa e
tambem se garante serviço e salario
ás familias.
À reg’ão onde se empregam estas
familias é das mais saudaveis do
planalto de Benguella e servida por
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Prefere-se para a lavoura homens
que saibam ler,
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