O Renovador nº218 11-05-1974

 

 

Ano V — N. 218 — AVENÇA

D RENDVR

SEMANÁRIO DEFENSOR DOS INTERESSES DA REGIÃO FLORESTAL DO DISTRITO DE CASTELO BRANCO — CONCELHOS DE:

11 de Maio de 1974

SERTÃ, OLEIROS, PROENÇA-ANOVA E VILA DE REI

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:
Rua Lopo Barriga, 5-r/c — SERTÃ — Telef. 131

DIRECTOR E PROPRIETÁRIO:
JOSE ANTUNES

COMPOSIÇÃO E
Gráfica Almondina — Telef. 22109 — Torres Novas

IMPRESSÃO: l

A FLOR DA
LIBERDADE

Há dias, numa Escola do Ci-
clo Preparatório, quando o pro-
fessor pretendeu iniciar a aula
e pediu silêncio, um dos alunos
retorquiu: — «Senhor profes-
sor, estamos em tempo de liber-
dade, cada um pode fazer o que
quiser».

Como o professor perguntas-
se se todos os colegas concor-
davam com aquele conceito de
liberdade, logo uma- das alunas
respondeu: — «Não. A liber-
dade é responsabilidade».

Na sua ingenuidade de 11
anos, uma criança definira em
termos reais e profundos os
limites inultrapassáveis de to-
dos os que pensam e sentem a
grande aventura de viver em
comum. AÀA minkha liberdade está
na razão directa da minha res-
ponsabilidade. Termina precisa-
mente na fronteira onde se ini-
cia a liberdade dos outros. To-
dos, em teoria, aceitam que é
assim mesmo. Porém, no agir
de cada dia esquecemos a ló-
gica e abafamos os sentimentos
no interesse e no egoísmo.

Falta-nos a educação para a
liberdade, o exercício e a prá-
tica da responsabilidade em fa-
ce de nós mesmos € em face
dos outros.

É em nome da defesa dos di-
reitos de todos que se coarctam
as liberdades de alguns. se es-

tes não forem suficientemente
responsáveis perante os outros.

Com o Movimento das Forças
Armnmadas de 25 de Abril têm
os Portugueses à sua mercê, em
todos os sectores da vida nacio-
nal, uma nova e magnífica
oportunidade de mostrarem que
mesmo sem o seu exercício du-
rante largos anos, têm bem ar-
reigada na inteligência e no co-
ração esta noção comezinha de
que a liberdade é responsabili-
dade.

Ser livre é optar. É escolher
de entre os diversos caminhos,
aquele que a nossa inteligência
cultivada e o nosso coração bem
formado, nos aponta-em como
melhor. Respeitando o que ou-
tros escolherem, . porque lhes
assiste o mesmo direito que a
nós.

Mas, para escolher, é preciso
conhecer. É preciso ponderar. É
preciso não se precipitar nos
braços do primeiro charlatão
que apareça, do primeiro arri-
vista que pretenda aliciar-nos
aos seus cantos de sereia,

Cultivemo-nos cada vez mais,
politicamente. Civicamente. Só
com conhecimento de causa po-
deremos escolher responsavel-
mente um caminho a seguir.

‘A liberdade é uma flor deli-
cada. Se não se cultivar, com
todos os cuidados, murchará ou
será amarfanhada.

E fempo &.. NS

Quem como nós se dedica à
construção civil, dela dependen-
do ou se debruça sobre os seus
problemas, há-de por certo me-
ditar um pouco ao terminar a
leitura deste pequeno artigo que
nos pareceu por bem trazer a
público.

E, como todos sabemos que
em Portugal quase tudo gira em
torno da construção civil, por
certo irão pensar como nós pen-
sámos quando terminámos a lei-
tura de uma notícia oriunda de
Oslo e publicada em 12 de Abril
no A. B. C. de Sevilha, do qual
com a devida vénia transcre-
vemos parte da mesma notícia,
mas o essencial para que os
nossos leitores fiquem mais de
acordo com o artigo que hoje
lhes oferecemos.

Existem neste momento na-
quela cidade cerca de 18 empre-
sas de construção civil que es-
tão na iminência de terem de
encerrar a sua actividade e, só
ainda o não fizeram devido à
ajuda financeira que lhes tem
sido oferecida pelo governo do
seu país.

É que essas empresas não ne-
cessitam de construir mais ha-
bitações —apenas porque mão
existem compradores nem habi-
tantes para as 30000 que nes-
te momento se encontram desa-
bitadas, quanto mais para as
que se venham a construir.
Quer dizer, chegou-se naquela
cidade à saturação no ramo da
construção civil. Onde há cerca

por JOÃO

O homem que caminha na
planície ou na savana tem um
horizonte, fita a linha escrita
com leves ondulações donde
afloram choupos, pinheiros, ár-
vores vultosas com os ramos
dissolvidos no ouro crepuscu-
lar a escorrer da parada nuvem.
O homem vai andando e olha
de quando em vez para aquela
linha de referência que o acal-
ma e lhe dá ânimo. Se há coi-
sa de que gostem os nossos
olhos é do horizonte. Se há
uma aberta para o mar é maior
o encanto, Pois também na vi-
da do espírito existe horizonte.
Quem a não vê é porque anda
às cegas. Há horizontes foscos,
pobres de estimulos e até de-
cepcionantes. Implantam-se os
nossos ideais numa linha de
recorte variegado e nós olha-
mos para lá a beber alegrias e
coragem. A vida é feita de sur-
presas nem todas agradáveis.
Lá pomos nós no horizonte o
médico com sua bata branca,
a agência de seguros, a caixa
de previdência, a botica de re-
médios. Quanto a doenças pa-
rece que estamos garantidos…

oÚguarelao

MAIA

A vida deve ter surpresas agra-
dáveis. Ponhamos no horizon-
te o clube de caça, a sociedade
recreativa, o campo de ténis,
a piscina, o barco à vela, a
casa de campo e a tenda ro-
lante. Para cada situação da
nossa vida abrimos um horizon-
te de coisas desejadas ou já
fruídas. O mais do tempo vai-
-se-nos em melhorar os diver-
sos horizontes à que se nos

HORIZONTE

abre a existência. Às. vezes,
nesses horizontes, surge um
homem de espingarda nas
unhas, um terrorista e nós en-
tramos nos arsenais a preparar
a guerra ou nas chancelarias a
braços com uma diplomacia
trabalhosa onde se movimen-
tam códigos de leis feitas e
por fazer. Entretanto na seara
humana anda, embuçada numa
capucha feia, uma senhora com
cara a modos de bruxa a cei-
far… Chamam-lhe morte e não

há enxotá-la, Ceifa e posta-se
no horizonte, foice ao alto e
saiote preto descaído em pre-
gas fúnebres, Mas agora per-
gunto eu: — E Deus, também
anda no nosso horizonte? No
horizonte da nossa alma gesti-
cula, no meio dos acontecimen.
tos, a mão de doces ácenos, à
mão de Deus? Ouvimos o Seu
apelo? Há muitos homens que
pôem nesse seu horizonte o
saco de libras, o cofre de se-
gredo, os seguros garantidos e
muito se louvam nesse horizon-
te. Até na Bíblia comparece
um desses algarismos que, uma
noite, antes de adormecer, re-
zou de si para consigo: —
«Descansa minha alma. Tens
os celeiros a abarrotar»s. Mor-
reu na noite em que isto disse

e os celeiros esvairam-se no
horizonte delido. Isso acontece
todos os dias. Mas se no nos-
so horizonte está Deus aten-
dido e invocado, então, «tudo
se nos converte em benm» co-
mo por igual se nos diz na Bi-
blia, Para 05 que amam a Deus
tudo é árvore de plantio em
bom horizonte. Na nossa cami-
nhada por planície ou savana,
por jardim ou charneca, espi-
nhenta, vamos bem, vamos
com Ele e para Elel

RENOVAÇÃO É

VIDA

UNIÃO E

de cinco anos se necessitavam
de bastantes casas para serem
habitadas, o ritmo de constru-
ção foi tal ou de tal maneira
imprimido, que agora sobram
e não interessam nem aos ra-
tos.

E, se no campo industrial se
irá sentir uma fartura de mão-
-de-obra das várias especialida-
des obrigatórias na construção,
no campo económico o desastre
é deveras elucidativo, pois que
essas empresas apresentam
para já um prejuízo na ordem
dos 800 000 000 (sim, está cer-
to são mesmo oitocentos mi-
lhões de coroas) o que tradu-
zido para moeda portuguesa
equivale mais ou menos à im-
portância de 480 milhões de
contos, isto é, uma importância
de tal monta que seria sufi-
ciente para atirar por terra 15
ou 20 dos maiores bancos do
nosso País.

Pode à primeira vista e na
ideia de muita ” gente aflorar
este simples pensamento:…
Mas, a acontecer uma satura-
ção de construção em Portugal
as rendas desceriam para um
nível compatível com as bolsas
de cada um €, então já não se-
ria necessário tanta gente viver
em barracas, partes de casa,
quartos, etc.

Mas, também todos aqueles
que querem saber (porque há
sempre os que não acreditam)
podem constatar que só uma
minoria vive em barracas por
necessidade, porque a maior
parte dos barraqueiros têm be-
las casas onde podiam viver
regaladamente — mas preferem
viver na chafurdice.

No entanto não é o problema
das habitações ou seus preços
que estamos a tratar neste ar-

Continua na 5.º página

A Resina dos Sócios da
Cooperativa Florestal
da Sertã

da campanha de 1974
foi adjudicada

a 10810 o quilo

No passado sábado, dia 4 de
Maio, realizou-se na Cooperativa
Florestal da Sertã, SPROLEI, a
adjudicação em concurso pú-
blico e licitação entre os inte-
ressados, da resina a ex’pª]oraf-
pela Cooperativa nos pmhms
dos seus associados.

Concorreram, apresentando
propostas por escrito, 9 das
principais empresas transforma-
doras de resina, do País.

À hora marcada para a abertu-
ra das propostas verificou-se que
se encontravam presentes repre-
sentantes das 9 firmas concor-
rentes,. Procedeu-se à abertura
das propostas escritas para de-
terminação da base de licitação,
sendo a proposta mais alta de
9$00 por quilo de resina posta
na fábrica.

Na licitação verbal, que se se-
guiu, o preço ascendeu, naquelas
condições, a 10$10 (dez escudos
e dez centavos) por quilo, pelo
qual foi adjudicada a resina que
estava em praça (a que se ex-
plorar até fins de Setembro) e
que se calcula em cerca de 70 a
90 mil quilos.

A gema que for ‘explorada após
aquela data, será posta em pra-
ça mais tarde,

Foi adjudicatória a firma So-
ciedade Comercial de Produtos
Resinosos, Ld.º, que passou a
explorar a fábrica de resinas de
Pedrógão Grande.

TERRA DE CONTRASTES

A HISTÓRIA INESPERADA

À medida que vai saindo mais
um número de «O Renovador»,
à medida que se vai escrevendo
mais acerca desta ou daquela
terra, notam-se acentuadamente
as reacções dos leitores, reacções
que por si só mostram bem o
interesse que a leitura desses ar-
tigos desperta. É que, ler num
jornal algo da nossa terra, tem
sempre um sabor especial, um
sabor que nos leva a sentir os
problemas que doutro modo ra-
ramente nos chegariam ao co-
nhecimento; ou mesmo que che-
gassem, quantas vezes já sem
podermos exprimir.qualquer opi-
nião para a resolução dos mes-
mos. Nota-se, dizia eu, uma ré-
plica ao que os articulistas to-
mam como padrão do seu objec-
tivo, réplica que é admissível, di-
rei mesmo imprescindível, pois

será a prova de que «alguém»
teve a amabilidade de ler e como
que sem se aperceber, se vê ime-
diatamente embebido no senti-
mento de orgulho,

Reage-se, porque se diz só mal
da Sua terra; reage-se, porque se
diz bem, mas deveria antes di-
zer-se mal. Que fazer perante si-
tuações destas?

Seja como for, é inegável que
o objectivo fundamental de qual-
quer que escreva da sua terra é
exclusivamente concorrer para o
bem da mesma, quer aponte er-
ros, quer elogie acções.

Pois bem, ainda há relativa-
mente pouco tempo que me des-
loquei a Oleiros. Ali fui ao Sábado
ao mercado municipal. Atento
que estava, mal me apercebi da
chegada duma mulher já velha,
que tem por hábito dirigir-se de

Continua na 3.º página

PROGRESSO

 

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Página 2

O RENOVADOR

11 dea Maio de 1974

e semana 2 semana

(De 29 de Abril a 5 de Maio)

EM PORTUGAL

29 — A Junta de Salvação
Nacional nomeou os chefes dos
estados-maiores dos três ramos
das Forças Armadas e estabe-
leceu os moldes em que hão-de
decorrer, nos próximos dias, as
operações bancárias.

— Cnegou a Lisboa o dr. Má-
rio Soares, secretário-geral do
Partido Socialista Português,
tendo sido recebido pelo general
Amtónio de Spínola.

30 — O general Costa Gomes
foi reconduzido nas suas fun-
ções de chefe do Estado-Maior
das Forças Armadas.

— O dia 1 de Maio, como «Dia
do Trabalhador», passa a ser
Feriado Nacional obrigatório.

— Foram amnistiados os cri-
mes políticos e reintegrados an-
tigos servidores do Estado.

— Foram extintas a A. N. P.,
DNA E PAMIP, MP
e Secretariado para a Juventu-
de.

2— O 1.º de Maio foi cele-
brado livremente em todo o
País, com grandes manifesta-
ções de entusiasmo que decor-
reram com toda a ordem.

— Regressou Álvaro Cunhal,
secretário-geral do Partido Co-
munista Português.

3 — A Junta de Salvação Na-
cional decretou amnistia com-
pleta e imediata aos desertores
e refractários.

— O tenente-coronel Ricardo
Durão foi nomeado delegado
da Junta de Salvação Nacional
mo Ministério das Corporações.

— Foi decretada pena de pri-
são maior para delitos econó-
micos e financeiros.

4 — Em comunicado ao País,
a Junta de Salvação Nacional
faz saber que não pode consen-
tir, nem consentirá, que a sua
autoridade — garante da defesa
dos sãos princípios democráti-
cos — seja afectada por proce-
dimentos não previamente san-
cionados pelo poder que assumiu
e exerce.

— Regressaram à Pátria
mais dois emigrados políticos:
os profs. Rui Luís Gomes e
José Morgado.

— Em Angola foram liberta-
dos 1 200 presos políticos.

— Devido à exiguidade do
quartel da Cova da Moura, a
Junta de Salvação Nacional ins-
talou-se em Belém e mantém
contactos com vista à constitui-
ção do Governo Provisório.

5 — O secretário-geral do
Partido Socialista — Português,
dr. Mário Soares, tem visitado
diversas capitais e governos de
países europeus.

— Uma mnota pastoral dos
bispos da Metrópole diz: «Sen-
timos com todo o povo os an-
seios e esperanças da hora pre-
sente e com ele nos empenha-
mos, dentro da nossa competên-
cia, na edificação de uma ordem
social assente na verdade, na
justiça, na liberdade, no amor
e na paz».

NO MUNDO

29 — O ministro — soviético
dos Estrangeiros, Amndré Gro-
myko, e o secretário de Estado
norte-americano, Kissinger, en-
contram-se em Genebra para
conferenciarem acerca da luta
sírio-israelita.

30 — No delta do Mekong,
as forças comunistas utilizaram,
pela primeira vez, tanques.

1 — O presidente Nixon en-
tregou as gravações das conver-
sas sobre o caso Watergate.

— O Japão concedeu à U. R.
S. S. maquinaria industrial no
valor de 450 milhões de dólares.

— Os reis da Dinamarca ini-
ciaram uma visita à Grã-Breta-
nha.

— A TItália retira-se tempo-
riamente do Mercado Comum.

3 — O 1.º de Maio foi feste-
jado em todo o Mundo com pa-
radas e manifestações imponen-
tes.

— A Assembleia Geral da O.
N. U. concluiu a sessão extraor-
dinária sobre matérias-primas e
desenvolvimento, tendo aprova-
do um programa de acção e uma
declaração sobre a instauração
de uma nova ordem económica
mundial.

4 — Em Paris foi raptado o
gerente da sucursal do Banco
de Bilbau.

— Moscovo exige, pela ter-
ceira vez, a restituição dum he-
licóptero que aterrou na China.

— Em Genebra, um diamante
sul-africano rendeu, em leilão,
dois milhões de francos suíços.

5 — Gromyko, ministro sovié-
tico dos Estrangeiros, vai a Da-
masco (Síria) ao mesmo tempo
que Kissinger, secretário de Es-
tado norte-americamno, se avista
com o governo israelita e com
Sadate, presidente do Egipto.

Ambos têm o objectivo de se
conseguir a paz no Médio Orien-
te.

Manuel Mendes Murtinho
Júnior & Irmão

EMPREITEIROS

Fornecedores de materiais de construção e outros

Encarregam-se de todos os trabalhos de calcetamento de
granito, calcário, vidraço a branco ou incluindo qualquer dese-
nho, xisto, etc. com caixa, mão de obra e transporte.

ANSIÃO — Telefone 78

CARTA
JOVENS

AOS

TANTOS A ESPERAR
QUEM OS LIBERTE..

Amigo:
Sem preâmbulos, deixa-me
descer ao concreto. Deixa-me

contar-te um caso de que pode-
mos tirar conclusões muito váli-
das, se quisermos.

Trata-se dum mocito de treze
anos. Na sua ficha módica lê-se:
«Necessita de ajuda moral» (se-
guem-se quatro cruzes, que, nes-
te caso, equivalem ao superlativo
muitíssimo ).

O rapazinho tem os membros
inferiores totalmente deformados
e sem força alguma. Nasceu nu-
ma aldeia isolada. Não teve con-
tactos humanos, além do rude
meio famíiliar. Mal consegue ar-
rastar-se. As suas faculdades
mentais são normais. Só não fo-
ram cultivadas. Não sabe ler,
nem escrever, nem contar. Pre-
cisa de tudo: de médico que 5
opere, de enfermeiros de várias
especialidades que o assistam c
de educadores que o ensinem e
lhe dêêm coragem para enfrentar
a vida. Sim porque já disse que
não lhe interessa viver. Certa-
mente por sentir-se muito distan-
ciado dos outros. Afinal, precisa
somente disto: ser libertado. Es-
tá «amarrado» pela doença, pela
ignorância, pelo. desalento… Com
muito esforço e dedicação, espe-
ramos libertá-lo, no que nos for
possível.

A minha primeira lição foi mui-
to simples, embora exigisse uma
boa dose de paciência. Ensinei-o
a contar até dez, usando o méto-
do indutivo (a partir da expe-

riência). Uma bagatela, dirás.
Sim, mas também é certo que,
sem os primeiros passos, não
se pode fazer uma longa cami-
nhada. Depois, ensinei-lhe que
Deus ama a todos os seres hu-
manos, mesmo os mais defeituo-
sos. Quer servir-se de nós para
os libertar desses defeitos, físi-
cos ou morais.

A lição despertou algum inte-
resse, apesar de ter sido ape-
nas uma luzinha ténue no meio
de densa treva.

Neste mocito vejo incluída uma
grande multidão (muitos mi-
lhões ) de outros seres humanos
que esperam quem os liberte. E
ao lado parece-se sentir os pas-
sos da multidão dos que nada
fazem, os que «matam» o tem-
po em futilidades, os que amima-
lham gatos e cães e não têm
tempo nem coração para se de-
dicarem a seres humanos care-
cidos de tudo, e os que só dizem
mal, que só têm força na língua,
e não se dispõem a fazer bem
algum…

Que concluir de tudo isto?
Que é tudo muito sério. Que no
apuramento final, após a «prova»
da vída, ser-nos-á perguntado
como nos comportámos perante
o nosso irmão necessitado. Que
o «exame» não pode repetir-se…

Bom jovem: Fazer bem ou fa-
zer mal aos outros é fazer bem
ou fazer mal a si mesmo. Prepara
o teu futuro. Se desejas alguma
orientação, mormente vocacional,
escreve-me para: Hospital Infan-
til — Montemor-o-Novo.

Com a amizade de sempre,

Nuno Filipe

Lanterna do Figueiredo

Continuação da 4.º pàg.

espaço de tempo. Para dar fru-
tos compensadores, às vezes foi
mal compreendido por uma pe-
quena parte dos paroquianos,
agora decerto reconhecidos pe-
lo objectivo que o norteava.

Foi pena que, quando ao cabo
de mais de uma dezena de anos,
começava a enraizar-se com es-
ta gente, de surpresa nos dei-
xasse. Durante a sua estadia co-
mo pároco foi sempre um ho-
mem esclarecido cumpridor dos
seus deveres. — Com algumas
dificuldades, edificou-se a casa
paroquial, mas todas as dificul-
dades foram vencidas. Agora
quando se esperava reconstruir
a igreja, quando se tinha dado
o primeiro passo na elaboração
do respectivo projecto para em
breve se iniciarem as obras,
surpreende-nos a ausência do
sr. P. Neto.

A freguesia do Figueiredo
quis dar-lhe testemunho do seu
reconhecimento e gratidão. Um
grupo de homens e senhoras,
incluindo a Junta de Freguesia
e regedor, num autocarro acom-
panharam o seu padre à fre-
guesia de Sarzedas que ele vai
paroquiar.

Que o seu apostolado na nova
freguesia seja coroado de bên-
çãos são os votos sinceros da
«Lanterna do Figueiredo».

Agora esta freguesia espera
ansiosamente — a vinda do seu
novo pároco, sr. P. Vítor Ma-
nuel Matias, a quem nas Sar-
zedas tivemos a honra de cum-
primentar.

UM AGRADECIMENTO

Na nossa ida a Sarzedas, não
pudemos ficar alheios à ama-
bilidade do sr. José Marinho da
Fonseca, empregado dos C. T.
T. que durante alguns anos ser-
viu parte desta freguesia, e que
foi sempre exemplar servidor e

fiel com uma pontualidade es-
pontânea.

Pôs a sua casa à disposição
de quantos amigos encontrou.
Ali se comeu e bebeu com fran-
ca amizade. O sr. José, como
lhe chamávamos, mostrou o seu
contentamento —“naqueles mo-
mentos de convívio de franca
amizade incluindo sua senhora
e seu pai que nos mostraram
a sua simpatia.

A «Lanterna» em nome de to-
dos reconhecidamente agradece.

A. Gaspar

Condições
de Assinatura

VIA NORMAL

Portugal Continental
e Ultramarino, Brasil e Espanha
100$00
Estrangeiro: 180$00

VIA AÉREA

(Pagamento adiantado)

Províncias Ultramarinas: 200$.
Estrangeiro: 250800

NOTA — Tou.. as importâncias
nos podem ser remetidas em
vale de correio, cheque ou di-
nheiro de qualquer nacionalida-
de ou ainda os Srs. Assinantes
encarregarem quem nos efec-
tue directamente as liquidações.

As assinaturas devem ser pa-
gas adiantadamente.

Para o Ultramar Português
e Estrangeiro não fazemos co-
branças através dos C.T.T.

ABOLIÇÃO
DA CENSURA

aos espectáculos

É com um sentimento
de emoção, de regozijo,
porque sempre assim o
preconizámos, que infor-
mamos os nossos leito-
res que, por determina-
ção da Junta de Salva-
ção Nacional, a censura
aos espectáculos é abo-
lida no nosso País, po-
dendo agora ser exibidos
todos os filmes e levadas
à cena todas as peças de
teatro nas suas versões
integrais.

Destruídas
na lItália
toneladas
de maçãs

e peras

A diminuição no volume de
vendas tanto no que respeita ao
mercado interno como no que
concerne ao sector de exporta-
ção, criando uma situação muito
crítica para este sector da econo-
mia italiana, porquanto devido a0
decréscimo na comercialização
os armazéns esgotaram a capa-
cidade de armazenagem, os agri-
cultores italianos destruiram to-
neladas de pêras e maçãs. Onda
de destruição que poderá esten-
der-se ao sector dos citrinos.

Nos meios ligados à indústria
afirma-se que a destruição da
fíruta visa principalmente a de-
fesa dos preços, calculando-se
que na região Emilia Romagna,
que produz cerca de 40 por cen-
to da produção de Itália de pêras
e maçãs, as autoridades agríco-
las autorizaram a destruição de
1,24 milhões de quintais de pê-
ras e 150 mil quintais de maçãs.

De acordo com informação
de origem oficial as pêras em ar-
mazém em 1 de Março atingi-
ram o montante de 2,5 milhões
de quintais, mais 1,5 milhões do
que o normal, enquanto as ma-
çãs armazenadas revelaram, o vo-
lume de 6,4 milhões de quintais,
ou sejam mais 21 milhões do
que o normal.

Durante muito tempo a ltália
subvencionou as exportações de
maçãs para a Alemanha Oriental,
política considerada ilegal pela
Comunidade Económica Euro-
peia, suspensa posteriormente
pelo ministro do Comércio para
esclarecimento da situação.

De um modo geral, as exporta-
ções para os parceiros da Co-
munidade baixaram devido ao
facto da suavidade do Inverno ter
contribuído para produções mais
elevadas, tanto na Comunidade
Económica Europeia como em
países limítrofes. Por outro lado,
a subida do custo de vida no mer-
cado interno atingiu as vendas
devido ao facto dos consumido-
res terem reduzido as compras
de artigos considerados como pe-
quenas extravagâncias.

(Do «Jornal do Comércio» )

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11 de Maio de 1974

9 RENOVADOR

Página 3

OLEIROS

continuação da 1.º página

mão estendida a todos quantos
aparentem não viver naquela vi-
la. Era a Maria «Boim»; aquela
mulher conhecidíssima em todo
o concelho de Oleiros. Vestia de
negro, pois faleceu-lhe o marido.
e continuáva arrastando uma das
pernas pela doença incurável que
apresenta. Reparei então nela,
quando se me dirigiu:

— 6 meu senhor, dê-me al-
guma coisa.

Fui ao bolso e dei à mulher-
zinha o que entendi. Perguntei-
-lhe, porque estendia a mão só
a forasteiros e não aos habitan-
tes daquela zona, e a resposta
foi pronta:

— Ai meu senhor, a mim fa-
zem-me muito bem, mas tudo é
pouco, porque sou muito doente
e não tenho nada.

— Mas você ainda vive naque-
la casa velha onde morava com
o seu marido? — perguntei.

— Não meu senhor, eu agora
moro na Horta da Santa numa
casa que o Sr. José Esteves Gar-
cia, da Portela, mandou fazer pa-
ra mim e olhe que ele é muito
bom, paga-me a água, a luz e não
me leva renda. Ainda ontem ?
filha desse senhor, você deve co-
nhecer, é a Fernandinha, man-
dou-me lá a casa uns sofás para
mim. Mas esse senhor ainda fez
outra casa ao lado para outra
mulher! Talvez você também co-
nheça, é a ti Antónia aqui da vila.

Ah! ele já fazia muito bem ao
meu marido; dava-lhe sempre tra-
balho e ele pouco valia, pois era
aleijado dum braço. Mas olhe que
nem só esse senhor, também o
Sr. Dr. Ilharco nunca me levou
nada, trata-me sempre de graça,
até me mandou arranjar. o telha-
do, quando eu ainda morava na
outra casa velhinha e pagou-me
os últimos seis meses de renda

“dessa casa, que importava em

200$00!!

— Então agora já tem a casa
pelo menos com aquele indispen-
sável para viver?

— Eu não, meu senhor, rou-
baram-me tudo, nem um garfo,
nem uma colher, nem mesmo um
prato, não tenho nada; quando
o meu «homem» morreu rouba-
ram-me tudo. í

Nesta altura da conversa saiu
do talho do mercado minha mu-
lher. Disse adeus à «Boim», en-
trei no carro, dirigicme a casa.
Durante o trajecto nada disse a
minha mulher, pois a conversa
com aquela mulherzinha tinha-me
deixado pensativo. Fiquei com

0 25 de Abril

Continuação da 4º* pág.

mente as suas convicções de
integralistas encerrados num
quisto que não lhes permitia
admitir outras ideias se não as
deles. Convenceram-se de se-
rem os úÚnicos detentores da
verdade. As afirmações, as or-
dens do chefe cumpriam-se.
Não se discutiam. Nada mais.

Embalados numa doce ilusão
de eternidade, não —atentaram
na hostilidade recalcada, silen-
ciosa que os cercava. Perante os
problemas gravissimos da hora
presente, —“convenceram-se que
haviam, mais uma vVez, de ga-
nhar… O que era preciso era
«não fazer ondas»…

Quando a vaga alterosa, in-
domável, os submergiu, foi, na
réalidade, o termo de uma era
que, hoje, nos custe a acredi-
tar que tivesse existido, que fos-
se possível ter existido.

Deixemos esse passado. Dele,
apenas fiquemos com a recor-
dação de pesadelo para que não
seja jamais possível o seu re-
gresso. Olhemos com inteira
confiança o futuro. Saibamos
ser dignos daquilo que ele nos
promete. Viva Portugal! Viva
a Junta de Salvação Nacional!

pena dela, mas fiquei para além
do mais radiante, por saber que
também ela teve direito a uma
casa com óptimas condições,
absolutamente sem encargos de
qualquer espécie, graças à boa
vontade de ajuda aos pobres da
nossa terra, pelos senhores que
aqui ficaram identificados.

Não procurei saber as razões
que levaram à doação de tão va-
liosas prendas. Mais não sei, por-
que mais me não foi dito por ela
e se em mais ninguém falo é por-
que em mais ninguém ela falou.
Mas… não será isto digno de re-
gisto?

Luís da Silva Mateus

AA l ll

[asamento

Na capela de Nossa Senhora
dos Remédios, da freguesia da
Sertã, no dia 5 de Maio corren-
te celebraram o seu casamento,
Aldina Dias David Fernandes,
funcionária do Registo Civil em
Lisboa e Âmngelo José Pereira
Horta, ambos da Sertã.

Foram padrinhos, por parte
do noivo, Pedro Peres e Maria
Adelaide Peres, seus tios, e por
parte da noiva, seus irmãos Hi-
lário e Odete Dias David Fer-
nandes.

O copo-de-água foi servido
no salão dos Bombeiros Volun-
tários da Sertã.

Os noivos, a quem desejamos
as maiores venturas, fixam re-
sidência em Lisboa.

Momento
de Poesia

DESPERTAR: 25 de Abril

Na madrugada exacta

Na pureza duma canção
Homéns sem sono

Nas rugas esperança

Nos Tábios confiança

Na arma uma flor

Gritim acção

Naãs trevas duma aurora
finalmente pressentida.

No silêncio do espanto
Tfinalmente quebrado;

Na ausência de sangue
inorivelmente já derramado!
É hora de amor

É a hora de todos

se a hora jor de todos;

É hora de justiça

se a justiça for humana;

ÉÊ hora de reconstrução
sem rancores, ódios
parcialidades, destruição

É &« hora de não sermos vencidos
Se verdadeiramente formos unidos!

27-4-74.

Casamento

Rapaz solteiro, educado, es-
criturário e com boa cultura
deseja trocar correspondên-
cia com menina para fins de
sincera amizade. Deseja foto
que será devolvida caso não
interesse, Resposta a Fran-
cisco Martins Salgueiro Jú-
nior, Caixa Postal n.º 80 —
Satec — Dondo — Angola.

A TEMPO E… HORAS

continuação da 1.º página

tigo, isso poderá ficar para ou-
tro, caso seja necessário expli-
car a forma de solucionar o
problema, afinal de tão fácil
é beber um copo de água quan-
do se tem sede… que neste ca-

Desfazendo
um hoato

Da Inspecção”Geral das Acti-
vidades Económicas recebemos
o seguinte telegrama remetido
à Junta de Salvação Nacional
que gostosamente publicamos:

«Repudiando veementemente
o degradante conceito gerado
pela tendenciosa notícia publi-
cada no jornal «O Século», de
1 de Maio corrente, e difundi-
da por alguns emissores de rá-
dio, os funcionários da Inspec-
ção-Geral das Actividades Eco-
námicas (I. G. A. E.) vêm pe-
rante a Junta de Salvação Na-
cional e todo o país reafirmar
o seu inteiro, incondicional e
jubiloso apoio às directivas pe-
la mesma Junta instituídas, so-
licitando a mais rápida reposi-
ção da Verdade, do prestígio e
da autoridade a.que os servido-
res deste Organismo têm jus,
e de que não podem prescindir
para bem do povo consumidor,
na continuação da luta contra
a inflação, contra a alta de pre-
ços e defesa da saúde pública.

Lisboa 2 de Maio de 1974».

 

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so é como quem diz: o que é
preciso é ter sede… ou vontade
de resolver o problema.

Voltando ao assunto da satu-
ração da construção civil, o que
sucederia em Portugal se um
dia isso viesse a acontecer?

Que seria das indústrias que
vivem da construção civil?

Que seria ou aconteceria aos
profissionais, desde o simples
servente, até ao mais elevado
técnico, o arquitecto, passando
por todas as outras profissões?
De que viveriam as indústrias
dos: Ferro, Pedra, Madeira, Ci-
mento, Vidro, Plástico, etc.?

E, o restante comércio ou in-
dústria que praticamente «<está
pendente dos que recebem os
seus salários da construção?

Miséria, fome, desemprego..

E, não só Oslo foi atacada
pela saturação, também Gotem-
burgo foi apanhada pelo mesmo
veneno, pois que ali se encon-
tram já 6000 habitações às
moscas e, ainda se continua a
construir para a chamada pra-
teleira cerca de cinco mil habi-
tações anuais, contra cerca de
nove mil que se construíam an-
teriormente.

Ao vermos as barbas dos nos-
sos vizinhos a arder, parece-me
que será tempo de pormos as
nossas de molho e, assim, va-
mos pensar, inquirir e final-
mente aplicar uma solução que
a todos satisfaça e, que não
venha a acontecer às nossas
cidades o que já acontece em
muitas Vilas e Aldeias em que
se encontram milhares de casas
aos ratos, embora meste caso
seja por outra razão.,

Diz o povo e tem razão: vale
mais prevenir que remediar.

O aviso aqui fica.

Bernardino Lopes
RAA TU NE TSA A EAA ST ANTA TITIEA

oerd Verdade?

Continuação da 4.º página

4 — No que diz respeito à venda
das pecas que compunham o recheio
da antiga igreja, fico satisfeito que se
tivesse processado da melhor ordem.
O culpado desta gafe, se assim o qui-
ser considerar, se será mesmo gafe…
foi o meu amigo. Então escreve-me
sobre outras coisas e nunca me falou
dessa, porquê? O amigo lá sabe por-
quê. Até podia ter acontecido que eu
lhe arranjasse aqui em Lisboa alguém
que pudesse concorrer à compra
desses ditos artigos. Mas enfim, talvez
o meu bom amigo não se tivesse
lembrado…

E por último:

Fico muito satisfeito, meu bom
amigo, pela explicação tão esclarecida
que fez no Renovador. Não me im-
porto de um ataque directo, esclare-
cido, venha ele donde vier. É assim
que os homens devem fazer e que
infelizmente não é muito vulgar. Por
exemplo: se eu não tívesse levantado
a lebre, quem sabia o que se estava
passando com a igreja de Vilar Bar-
roco? Quem me diz a mim que foi
esta lebre que eu levantei que ace-
lerou mais à construção da nova igre-
ja? Ninguém sabia! Mas eu hei-de
sabê-lo um dia se Deus quiser.

Ainda quanto aos sinos estarem de-
pendurados numa oliveira, acho que
não ficaria muito caro ter-se feito uma
pequena torre onde estes funcionas-
sem. O aspecto é feio e rudimentar
e o perigo de serem roubados é imi-
nente, pois que como sabe há muita
gente mal intencionada e pode haver
a pouca sorte de por aàí passar algum
desses mal intencionados.

O meu desejo é que Deus o ajude
na construção da nossa igreja, embora
eu não concorde com o local onde
ela vai ser construída. Mas, a propó-
sito, também nunca ninguém consul-
tou a minha opinião e aproveito para
dizer publicamente, segundo informa-
ções que tenho: havia alguém nessa
terra que oferecia o terreno para a
construção num dos melhores locais.
Mas, enfim, abstenhome de fazer
qualquer comentário a esse respeito.

JOAQUIM M. ALMEIDA

 

@@@ 1 @@@

 

Página 4

O RENOVADOR

11 da Maio de 1974

ESCrevem o8 NOSSOs IeiOresSERÁ VERDADE?

por Joaquim M. Almeiõda

Agradecimento pelo trabalho
e dedicação

do director e colahoradores
de «O Renovador»

Amadora, 29-4-1974.

Ex.Ӽ Senhor
Director de «O Renovador»

Sempre atento ao desenvolvi-
mento do nosso concelho e ou-
tros limítrofes sobre que o nos-
so jornal se debruça e que per-
mite aos seus assinantes conhe-
cer o desenrolar dessas activida-
des, quero aqui tornar bem vivo
o agradecimento pelo trabalho e
dedicação do Sr. Director e seus
colaboradores no intuito de tor-
nar esclarecidas todas as acti-
vidades da Região, e que daqui
para o futuro isso se verifique
ainda com mais evolução em to-
dos os aspectos que é o meu de-
sejo e de todos os bons filhos
dessa terra.

Tenho o prazer de enviar o no-
me de um novo assinante que
com grande regozijo gosta de
acompanhar àa evolução da sua
terra natal.

Com os meus respeitosos cum-
primentos, de V. Exº, atencio-
samente

Luciano Farinha Correia

O novo assinante é: Gentil de
Jesus Domingues, Rua da Prata,
234 — 5.º-E. — Lisboa.

O perigo dus «peias
mal intencionadas»

Ex.Ӽ Senhor
Director de «O Renovador»

Ao ler num dos últimos núme-
ros do nosso RENOVADOR o ar-
tigo intitulado «SERÁ VERDA-
DE?» da autoria do nosso con-
terrâneo e amigo senhor Joaquim
Maria Almeida, não pude, no fi-
nal da leitura, deixar de sentir
uma certa indignação, como à
sentiriam também, estou certo,
a maioria dos nossos conterrâ-
neos que têm como eu acompa-
nhado de perto o penoso cami-
nho percorrido pelos componen-
tes da Comissão Administrativa
para a construção da nova igreja
de Vilar Barroco. Não importa
enumerar aqui todos os proble-
mas que se lhes têm deparado,
pois eles são sobejamente co-
nhecidos de todos e explicam
bem a razão de mais de dois anos
de espera pelo começo da cons-
trução da nova igreja.

Dai a minha indignação ao ve-
rificar que, agora que a obra fi-
nalmente começou, mais do que
nunca, a união de todos se tor-
na necessária. Sem a união de
todos a igreja não poderá ser fei-
ta. Não esqueçamos que a sua
construção custará mais de 750
contos e a Comissão tem pouco
mais de 300.

Agora é que aparece esse nos-
so amigo das «petas» mal inten-
cionadas informando malíiciosa-
mente o nosso conterrâneo e
amigo senhor Joaquim Maria Al-
meida, com a intenção única
certamente; de provocar a desu-
nião entre todos os naturais de
Vilar Barroco.

Estou certo que a esta hora
já o senhor Joaquim Maria de
Almeida verificou que foi mal e
maliciosamente informado e não
deixará como nós de sentir indi-

ANA LIE A LAA

gnação contra esse «amigo da
onça», pois que nós conhecemos
bem o senhor Joaquim Maria Al-
meida, sabemos bem quanto ama
a sua terra natal, conhecemos
bem o seu barrismo, a maneira
como dá incondicionalmente o
seu apoio material e moral a tu-
do o que seja de bem para a sua
terra e nossa terra. Mas esse
«amigo das petas» mal intencio-
nadas, conhece-o também e, por
isso tenta de qualquer modo ver
se o consegue virar, mas estou
eu e estão certos todos os nossos
conterrâneos, que o não conse-
guirá! E alegremo-nos todos com
o começo da construção da nova
igreja. Vamos deixar aos nossos
vindouros aquilo que nos dei-
xaram os nossos antepassados:
a igreja onde fomos baptizados!
Mãos à obra!
João Luís

((25 de ABRIL

O «25 de Abril» recorda a
sublevação de 14 de Maio de
1915 que abateu a efémera di-
tadura do general Pimenta de
Castro, a primeira da República.
Ambos têm a característica co-
mum de destruirem — governos

por
JOAQUIM BRAGA

que não souberam ou não qui-
seram, a determinada altura,
colocar os genuínos interesses
da Nação acima de conceitos
políticos medievais, indo ao en-
contro dos anseios do povo que,
tantas vezes, intuitivamente, sa-

Pagamento
de Assinaturas

Do nosso estimado assinante
nos Estados Unidos, senhor Ma-
nuel D. D. Maia, recebemos a
importância de 20 dólares para
pagamento da sua assinatura.

Pela consideração que tal fac-
to revela, o nosso obrigado.

01’ de M

Acompanhando as manifesta-
ções que ocorreram em todo o
País para comemoração, pela pri-
meira vez, do DIA DO TRABA-
LHADOR, os habitantes da Sertã

— Novos
Assinuntes

Recebemos do nosso prezado
assinante, senhor Luciano Fa-

rinha Correia, a indicação do

novo membro da família de «O
Renovador», senhor Gentil de
Jesus Domingues, de Lisboa.

— Manuel Rosa Mateus, de
Lisboa, remeteu-nos também o
novo assinante, senhor Diaman-
tino Nunes Mateus.

A todos o nosso bem hajam.

lo na Sertá

organizaram uma manifestação
promovida por alguns professo-
res e alunos das Escolas Indus-
trial e Preparatória. Concentra-
ram-se os manifestantes na Ala-
meda da Carvalha e percorreram
as Ruas Dr. Romão de Masca-
renhas e Serpa Pinto, até à Praça
da República. Aqui usaram da
palavra os Srs. Dr. Henrique Pe-
reira Teotónio, Delegado do Pro-
curador da República da Comar-
ca, Isidoro da Purificação Ribeiro,
Tesoureiro da Fazenda Pública, e
Dr. António dos Santos Farraia,
médico do partido de Cernache
do Bonjardim, que evocou a per-
seguição que lhe foi movida pelo
Regime deposto há cerca de 20
anos.

Após alguns vivas às Forças
Armadas, a Portugal e à Liber-
dade, os manifestantes dispersa-
ram na melhor ordem.

Na cerimónia tomaram parte
quase todas as pessoas gradas
da Vila, incluindo as autoridades
administrativas.

be melhor onde está o seu legí-
timo interesse.

Há entre os dois movimentos
outras analogias impressionan-
tes. O seu paralelismo é apenas
contrariado pela acção do tem-
po, pelos cinquenta e nove anos
que os separam.

A exiguidade da duração da
primeira ditadura e a quase
eternidade da outra, explicam-
-se pela posse dos poderes abso-
lutos, integrais, que a segunda
dispunha.

À censura, a polícia política,
o partido único, a propaganda
capciosa e pertinaz, o medo.
Antes do 28 de Maio o Partido
Comunista era praticamente
inexistente. Foi o Estado Novo
que criou o axioma: quem não
era por ele, era comunista. Os
caracteres foram, assim, trans-
formados. A. hipocrisia dominou
tudo e todos. Todos eram for-
çados a mostrar aquilo que não
eram, a ostentar aquilo que não
sentiam.

Esta degenerescência do âma-
go de cada um não é compen-
sada pelas grandiosas obras ma-
teriais tão apregoadas pelas
ruidosas trombetas do Estado
Novo. A deformação, tão pro-
funda e tão duradoura, do sen-
tir de todos nós, é uma heran-
ça que levará muito tempo a
desaparecer completamente.

Anátema que a História im-
placável, verdadeira e justa, fa-
rá cair sobre o regime agora
desaparecido.

A euforia das massas, mani-
festando-se por toda a parte tão
ruidosa e alegremente, carac-
terizada pela ausência, quase
absoluta, de excessos, é própria
de quem vê, de um momento
para o outro, quando menos o
esperava, quebrarem-se-lhe as
algemas que há meio século o
tolhiam.

A lição do momento que pas-
sa deve ser extremamente edi-
ficante para os governantes de
ontem. Ela desmente eloquente-

Continuea na 3.º página

Fui eu que levantei a lebre com o
título acima, referente a uma igreja no
concelho de Oleiros. É verdade. Trata-
-se da igreja onde fui baptizado e,
como é óbvio, a igreja da minha fre-
guesia.

O meu amigo Padre Joaquim Ma-
tias. sim porque é meu amigo (assim
o afirma nas cartas que me escreve)
e eu que me orgulho de tal trato. Só
foi pena que no que escreveu com o
título acima, em resposta aos meus
reparos que se estão passando com
a dita igreja, me não tivesse tratado
como amigo e não como articulista,
como o fez. Mas isso não tem im-
portância. Cada qual procede como
entende, com ou sem sinceridade.

Então o meu prezado amigo está
magoado com o que escrevi não é
verdade? Então vamos a coisas con-
cretas:

1 — Eu pergunto-lhe se é assinan-
te de «O Renovador», e, se o não é,
devia sê-lo e sabe porquê? Porque é
um jornal que se edita na nossa re-
gião e às vezes descobrem-se coisas
através dele muito importantes.

2 — Sim, sou o presidente da Co-
missão de Angariação de Fundos em
Lisboa para a igreja. Lembra-se do
que lhe disse no dia em que o meu
amigo apareceu em Lisboa, na com-

panhia do nosso presidente da Junta,
no almoço em que nos reunimos no
Campo Grande? Lembra-se que tudo
vinha feito sem que ninguém me ti-
vesse consultado anteriormente? Re-
corde-se e diga-o. Não merecerá a
pena recordar tudo, mas será bom re-
petir-lhe as palavras, que lhe disse na
altura, no que diz respeito a angaria-
ções de fundos. Eu disse-lhe: aceito o
cargo mas não dou um passo para
a angariação de fundos. E disse-lhe
mais: pode contar com a minha com-
participação de X (algumas dezenas
de contos).

3 — No que diz respeito a eu
não ter participado com qualquer im-
portância para a Casa Paroquial, acho
que essa é a casa onde mora o padre.
Agora o amigo, amanhã o que o subs-
tituir. Considero, portanto, uma resi-
dência particular e nesta base entendo
que seria considerado uma esmola
para à ajuda da construção da dita
casa. Além disso, amigo Padre Ma-
tias, nunca ninguém me pediu para
contribuir com tal auxílio. O facto de
eu não ir à missa como diz, eu rara-
mente vou ao Vilar Barroco, no en-
tanto, na última vez que aí estive,
fui mesmo à missa, simplesmente co-
mo não cabia lá dentro, fiquei na rua.

Continua na 3.º* página

 

Ntícias de De

Por mais que se vejam as no-
tícias relativas a Pedrógão enci-
madas com o título «Para a frente
/Pedrógão» ele continua com me-
do de avançar no sentido do ci-
vismo e do seu engrandecimen-
to

É confrangedor passar naque-
la terra tão acolhedora e riquíssi-
ma em ambiente paisagístico e
observarmos o mesmo desleixo
e falta de interesse pela parte dos
membros da Junta pela sede da
sua freguesia.

Que tristeza não se notar mo-
dificação de realce naquela ter-
ra que afinal podia atrair imen-
sos turistas!! Começando pelas
suas ruas sempre ornamentadas
por ervas daninhas e lixo de to-
da a ordem! A que fim se destina
ali um empregado operário por
conta dessa mesma Junta? Foi
feliz a ideia, sem dúvida, quanto
à sua contratação, mas infeliz a
maneira como o mesmo e admi-
nistradol? A começar, segundo
informações, pelo cemitério local
onde repousam tantas vidas que
bastante úteis foram aos seu fa-
miliares e pelas quais tantas lá-
grimas de saudade são derrama-
das! Aqueles que choram sentem
ainda a afligi-los mais, o desma-
zelo na sua falta de limpeza, pa-
recendo mais um prado do que
um local de silêncio e de respeito!
Sejamos todos sensíveis e hu-
manos não descurando aquilo
que a todos é primordial. Nesta
hora tão dinâmica em que todos
vivemos, sejamos também ca-
pazes de fazer algo mais do que
aquele mínimo que a todos é pou-

Várzea dos Cavaleiros
e Figueiredo

Notícias várias

No próximo domingo, dia 12
de Maio, dará entrada oficial-
mente mnestas duas freguesias,
o seu novo pároco, Padre Vítor
Manuel Matias, natural de Car-
digos.

— . Constituiu . memorável
acontecimento a despedida do
anterior pároco, R. P. António

Marques Neto. Da freguesia da
Várzea dos Cavaleiros desloca-
ram-se a Sarzedas quatro au-
tocarros e mais um da fregue-
sia de Figueiredo, além de al-
guns automóveis.

— Realiza-se nos próximos
dias 9 e 10 de Junho a festa
da Várzea que costuma ser
muito concorrida.

co para satisfazer seus desejos,
Suas aspirações e seus interes-
ses colectivos.

Desculpem pedroguenses, de
meter foice em seara alheia, mas
quando passo em Pedrógão sin-
to qualquer coisa de diferente, de
encanto natural que me leva a
andar vagarosamente por todos
os recantos da terra, observando
o seu progresso, o seu arranjo,
pois aí tenho levado grandes e
bons amigos a apreciá-la que tal
como eu a admiram e sentem os
mesmos erros, as mesmas fal-
tas de cuidado, de arranjo.

Perdoem o meu desabafo mas
tem apenas um fim construtivo.

António Carvalhal

 

DESPEDIDA

No dia 28 de Abril, o Rev.º P.
António Marques Neto, como
pároco desta freguesia . despe-
diu-se dos seus paroquianos. Re-
gistou-se nos olhos de muitos
um sinal de saudade pelo seu
pároco. AÀ freguesia ficou cho-
cada com a sua saída, pois já
há 14 anos que paroquiava a
freguesia da Várzea kios Cava-
leiros e Figueiredo. E é de sa-
lientar que a sua obra de apos-
tolado foi proveitosa tanto no
aspecto religioso como no da
civilização”. — Sempre —“mostrou
grande proecupação em fazer
mais e melhor.

Nam tudo foram rosas neste

(Continua na 2.º página)