Eco da Beira nº9 11-10-1914

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XKno 1.

SEMANARIO

 

 

Assinaturas:

AO dc dao inda C NDO
DEMICHE. Su ejis ars DO
Brazil (moeda brazileira). .. 5pooo

 

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tavos a linha ou espaço de linha

a

Eq

|

Editor e administrador— ALBER

RIBEIRO

E

Publicação na Certã

Redacção e administração em

SERNACHE DO BOMJARDIM

Composto 6 impresso na Tipografia Leirienso

LEIRIA

 

França!

A poucos dias da vinda de um
cruzador inglês a Lisboa, um ou-
tro cruzador, êste francês, entra
a barra do Tejo.

A significação dêste facto é
semelhante à do que há dias se
deu com a visita do CÃrgonaut.
E não dizemos idêntica porque,
considerados só os pormenores
exteriores, a significação da visi-
ta do cruzador Dupetit Thouars
afirma-se ainda com um mais
acentuado relêvo político.

Na verdade, a Inglaterra é nos-
sa aliada. E não esquecendo a
nação portuguesa nestes momen-
tos atribulados para a Europa,
veio expressamente: dizer-nos,
por maneira bem eloquente, que
podiamos contar com ela em
qualquer inesperado risco.

Ao mesmo tempo, a Inglater-
ra vinha dar-nos parte de que à
dignidade do seu coração não
era indiferente a corrente de pro-
funda simpatia que em Portugal
se manifestava em favor da sua
causa. +

Mas com a França sucede
coisa diversa. Nós não somos
aliados da França. Entre a Re-
publica Portuguesa e a Republi-
ca Francesa não existem pactos
políticos que mutuamente obri-
guem e prendam.

É certo que nós, em Portugal,
admirâmos a França e com ela
constantemente comungâmos

nas suas aspirações democráti-

cas e nos seus ideais de beleza
literária, artística e filosófica.

Nós padecemos com os pade-
cimentos da França. Triunfâmos
com os seus triunfos—com os
triunfos da França livre e huma-
nitária, que incendeia o facho
guiador dos povos à conquista
do Direito, da Liberdade e da
Justiça.

Ama-se aqui tanto a alma de-
mocrática e artística da França
que, se não respondêssemos ne-
cessáriamente todos como Henri
Martin, desejariamos ser france-
ses se não tivéssemos nascido
portugueses.

Mas pactos políticos não exis-
tem. Tratados não há.

Todavia, a França envia a
Lisboa, extraordináriamente,
com a delegação especial e sole-
ne de saúdar a bandeira da Re-
publicae de prestar homenagem
ao Povo Português, um dos seus
cruzadores-couraçados, o Dupe-
tit Thouars, o nome do heroi de
Aboukir.

Isto significa muito. Isto quer

*

 

dizer que Portugal é uma nação
que, na Europa, vale como gran-
de povo e como nacionalidade a
quem deve tributar-se respeito e
simpatia. Este é o facto, o- facto
iniludivel.

Mas a França, como a Ingla-
terra, entretida e gravemente
preocupada com a tragédia for-
midável em que se jogam os
seus destinos, podia esquecer-se
de nós. Mas não era justo, nem
simpático. ,

E’ que o coração da França
sentia tambêm as pulsações do
coração português. A França ou-
viu, nos campos da batalha, os
nossos gritos de adesão à sua le-
gitima causa, e como lá já não
governam imperadores, nem Cé-
sares, nem homens coroados,
nem procônsules, mas sim o po-
vo livre, a França livre e gene-
rosa, justa e fraterna, sentimen-
tal e proba, ela comoveu-se, e,
de bandeira desfraldada, vem
alegre e enternecida entrelaçá-la
à bandeira de Portugal: — Obri-
gado, Portugueses !

Não podia deixar de ser. Por-
tugal é pela França democráti-
ca, pela França cantora das li-
berdades e advogada ardente da
Justiça. Somos aliados pelo es-
pirito. As nossas almas, ambas
generosas e impetuosas, vivem
em intima aliança. Falta que es-
sa aliança se traduza em factos
de ordem politica, aliança: em
que deveriam entrar todos aque-
les povos que, nesta hora solene,
fazem parte da aliança da liber-
dade e do direito!

Viva a Republica Francesa!

esc

Com sua ex.”: esposa e filhos
chegou há dias de Lisboa, o nosso
estimado amigo e assinante sr. Olím –
pio do Amaral, abalizado farmaceu-
tico em Sernache do Bomjardim.

Com os nossos cumprimentos de
boas vindas, apresentâmos a êste
nosso amigo as mais cordiais feli-
citações pelas sensíveis melhoras de
sua querida esposa, a quem since-
ramente desejâmos um pronto e com-
pleto restabelecimento.

—De passagem para a Certã, on-
de é conceituado professor de ensi-
no primário, vimos em Sernache o
nosso presado assinante e amigo sr.
Tomás Florentino Namorado, no
dia 7 último.

— Estiveram entre nós, de visita
a seus parentes, os srs. Alfredo e
Amilcar Tavares, filhos do nosso
particular amigo e assinante sr. Da-
niel dos Santos Tavares, conceitua-
do comerciante em Lisboa.

—No último domingo, tivemos o
prazer de cumprimentar nesta al-
deia, o nosso amigo e dedicado co-
lega no magistério primário sr. Joa-
quim Pires de Moura, acompanha-
do de sua ex.”* familia e reverendo
irmão,

 

K Beneficência nas cidades
e nas aldeias

Quem vive nos grandes meios
onde os pobres são quasi uns entes
privilegiados, esquece-se facilmente
dos miseráveis que levam pelas al-
deias uma vida de privações horrí-
veis!

O pobre na cidade quando crean-
ça tem a maternidade, o lactário, a
cantina escolar, o asilo, etc.; quan-
do adolescente tem a escola de ar-
tes e ofícios, o hospital e a miseri-
córdia; quando velho e inválido,
tem o asilo onde tranquilamente
passe o resto de seus dias.

Na cidade a joven honesta tem o
dote para casar, o médico e medi-
camentos para as enfermidades de
sua família e até… a mortalha, o
caixão e o entêrro gratuitos para
todos os seus. A auxiliar o parco
salário do marido tem a mulher,
por vezes, esmola para a renda de
casa, fatinhos para os seus filhos e
até leito e roupas para dormir. Em
várias épocas do ano distribuem os
jornais, as irmandades e associações,
esmolas, bodos e outros donativos
que minoram a miséria dos menos
favorecidos da sorte.

O pobre na cidade chega por ve-
zes a ser um remediado feliz. Está
visto, em parte, a razão da emigra-
ção da aldeia para o grande meio.

Exemplifiquemos. Imaginem um
casal com 3 filhos.

O pai é artista e a mãe lavadeira
no primeiro tempo de casados.

s salários somados equilibram o
orçamento caseiro, porque na oca-
sião do nascimento do primeiro fi-
lho a perda do salário da mãe é
compensado com a esmola de leite
do lactário e o subsídio de amamen-
tação da Misericórdia, etc. Quando
nasce o segundo “filho entra o pri-
meiro no azilo e quando surge o
terceiro passa o segundo para outro

“ou idêntico azilo onde já se acha o

primeiro.

Em todas as manhãs lê o casal
com sofreguidão o «Diário de Notí-
cias» para ver quem morreu, que
disposições testamentárias deixou,
que missas por alma de gente endi-
nheirada se celebram, que todos se
destribuem, etc., para não perder
pitada!!…

Para melhor explorar o terreno
atiram para a rua os filhos a pedir
esmola emquanto os parentes velhos
vendem cautelas, quinquilharias, etc.

A cidade chega por vezes a ser
para o pobre um Eldorado.

Quem sai ainda criança da aldeia
para a cidade não chega a conhecer
a fundo a miséria horrível. do al-
deão seu patrício.

De longe em longe, mesmo quan-
do a sorte lhe sorri, é que se lem-
bra dos patrícios que nunca conhe-
ceram outro acepipe que não seja
um prato de couves mal adubadas
ou um naco de brôa dura com uma
sardinha salgada… quando o orça-
mento chega para tanto!

Quási sempre êle anda desequili-
brado não só pela escacez de salá-
rio e carestia da vida mas tambêm
porque as colheitas falham e a doen-
ça os não poupa. Quando esta ataca
qualquer membro da família só cha-
mam o médico tarde pelo acanha-
mento de o fazerem a tempo e igno-
rância de que o do partido munici-

 

 

pal tem obrigação de os tratar de
graça, e ainda pela despeza dos me-
dicamentos. Se adoece um dos fi-
lhos o mal é menor, mas se porven-
tura o atingido é a mãe ou O pai o
caso reveste bem mais triste as-
pecto.

Por vezes as dificuldades são tan-
tas ea miséria tamanha que nem
Dante as sonhou ao inventar o seu
Inferno.

Neste caso, aquela desgraçada fa-
milia, tem por único lenitivo as
boas palavras dos visinhos tão po-
bres como ela e por único auxílio
umas parcas migalhadas da sua
mais que modesta mesa. A assistên-
cia não existe na aldeia; as associa-
ções de classe, os monte-pios, as
Misericórdias ainda, não surgiram
porque os cidadãos do passado as
não fundaram e os contemporâneos
ainda seguem a mesma esteira de
indiferença.

Nossos avós deixaram-nos muitas
capelas dotadas com certos foros;
constituiram morgados com obriga-
ção de certas esmolas de pão e azeite
para distribuir a pobres anualmente
e até por vezes deixaram legados a
donzelas orfãs e honestas para dote
de seus casamentos, mas estas pe-
quenas parcelas de beneficência de-
sapareceram por disposições de uma
léi da Monarquia liberal… por
quem tanto asno ainda agora sus-
pira!

Na aldeia o pobre é um paria di-
gno de melhor sorte pelas suas qua-
lidades de carácter, de dedicação
pela família. e amor ao trabalho.
Aquele deserdado trabalha toda a
vida para morrer tendo necessidade
daultimaesmola–umamortalha!…

Tem a região sernachense uma
numerosa pleiade de filhos seus ri-
cos, espalhados por diversas cida-
des e vilas do país, que nos últimos
anos bastante teem feito em pról da
sua terra e daquelas onde fizeram
fortuna e hoje vivem.

Até agora eu tenho notado que
os Sernachenses falecidos fora da
sua terra raros legaram em seus
testamentos esmolas que suavisas-
sem a miséria dos seus patrícios.
Esquecimento lamentável quando é
certo que êles se teem lembrado de
contempiarem associações ricas de
fora da sua aldeia natal.

Quando surgirá o benemérito que
nos faça esquecer o passado ao en-
toarmos um côro de bençãos lança-
das sôbre a sua memória que o
agradecimento dos desgraçados tor-
nará eterna?

Quando veremos dotada a nossa
aldeia com um hospital e asilos pa-
ra orfãos e inválidos do trabalho?!

Já viverá aquele ou aqueles que
hão de engrandecer o seu nome com
tão ijevantado rasgo de civismo?
Oxalá que sim, e eu veja ainda, en-
ternecido e alegre, fulgir um raio
de íntimo consôlo na fronte de to-
dos os pobresinhos da minha terra.

Sernache, 6— 10-14.

P. Cândido
Se co

Faleceu em Oleiros, a: sr? D.
Hermínia Pinheiro Romão, estre-
mecida irmã do nosso presado ami-
go e assinante sr. Artur Maria Ro-
mão. Ao nosso estimado amigo, bem
como a toda a sua ex.ma família, en-

viâmos sentidos pêsames.pêsames.

 

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POLITICA LOCAL

— ea

A junta de paróquia da Cumeada
vem de entregar à comissão execu-
tiva da câmara um papel, a que cha-
mou uma representação, dirigida
contra a construção da ponte da Ga-
leguia.

Oh senhores, tenham juízo! Não

“façam mais tolices!

Acabem com essa farça ridícula
em que se vêem rebolando.

Nem nos irritam nem nos contra-
riam—fazem-nos âncias!

O acto, em si, vir uma junta de-
clarar que não quer que lhe façam
uma ponte, é uma depravação mo-
ral.

Deve ser caso virgem.

Nós, pelo menos, nunca vimos.

Uma corporação administrativa a
repelir um favor que ela imagina
quererem fazer-lhe !

A representação principia numa
tolice. A comissão executiva não re-
cebe nem pode atender representa-
ções de dl natureza,

Isso é com a câmara.

Não querem a ponte: pois não
passem lá!

Ninguêm lha foi lá oferecer! Nem
ela é feita para lhes ser agradável.

Os senhores unionistas, ou lá o
quer que são, obrigaram aqueles
pobres homens a um acto deprimen-
te e ridículo.

Obrigaram-os a dizer uns dispa-
rates, que repugnam a toda a gente
de bom senso!

Asfixiaram-os nessa atmosfera de
revolta e de ódios que os impele e
dementa.

Dum pobre lagareiro, duns rudes
homens de campo, quiseram êles
fazer uns políticos, com os mesmos
desvarios e as mesmas paixões que
a êles os dominam!

Aqui está no que deram as tais
indignações 3 contra o caciquismo
odioso, as ameaças da sua estirpa-
ção, êsses pruridos da creação do
cidadão independente e livre de pe-
didos e de sugestões: a verdade e a
sinceridade inspira todos os actos
da vida pública.

Deram nisto: em fazerem, em
matéria de toleima, obra mais com-
pleta e perfeita do que antigamente.

Mas os senhores unionistas assim
o entendem.

Assim o tenham.

 

Vozes…

ee EC ma

A da Beira, com 3 pontos de ad-
miração :

«O imprevisto sucede-se apesar de tudo
e contra tudo.

No sábado passado, diz-nos um visinho,
que estava a vender-se sardinha da Câmara
na antiga Praça.”

—Pois o visinho disse-lhe uma

grande mentira!

A mesma:
«Sorte grande

Apanharam-na os empregados da secreta-
ria de finanças. Se não acreditam vão ver.
Ele é a bela secretária de 24 escudos por ca-
beça, êle será a bela estante que virá em bre-
ve… etc. etc. Que diabo precisará o patrão,
dos homemsinhos ?»

—Aos sábados, de tarde, é sem-
pre assim…

*

Idem:

«O que se está fazendo no cemitério é di-
gno de nota. As covas para adultos não teem
4 metros de fundo, e as de menores nem 3.
Sucede que descontado o volume do caixão
os corpos ficam quasi à superficie, o que é
contra todos os regulamentos e conveniên-
cias da sanidade pública.”

—L(Com 4 metros apenas, e ainda
haver que descontar o caixão, não
admira…

Mas talvez que pondo os cadáve-
res no fundo e o caixão por cima…
ou pondo-os de cabeça para baixo…

*

A voz do filho dum carpinteiro:

«Em virtude de um sem número de arbi-
trariedades cometidas pelo director do Colé-
gio das missões ultramarinas, os alunos dês-

 

ECO DA BEIRA

te estabelecimento de ensino pediram pelo
telégrafo providências urgentes, contra um
tal estado de coisas.”

—Não digas asneiras, menino.
Asneiras e mentiras !

Desde que te faltou o leme não
dizes senão disparates.

E dizias tu que os outros é que
eram teus telémacos.

Ser jornalista e chefe político e…
socialista católico !…

O diabo não tem sono?

*

A mesma voz:

«Parece que os alunos nomearam uma co-
missão que tenciona vir a Lisboa conferen-
ciar com o ministro da instrução. Este caso
tem produzido grande sensação.”

—Lá isso tem!

E” uma coisa que até tem feito
terror. á

Ai, terrível, terrível… homem!

se
Em volta da guerra

— DOT

Impressões duma testemunha

Dois factos me contou, profunda-
mente trágicos: viu caminhar por
uma rua um préstito fúnebre. En-
têrro dum oficial ferido e que mor-
rera, de «gangrena gazoza». Escre-
vera à família, e à noiva, para o vi-
rem vêr, pois o ferimento, num joe-
lho, parecia não ter gravidade. Vie-
ram: encontraram-se com o fúnebre
acompanhamento. Sem a menor des-
confiança, perguntaram o nome do
morto. Disseram-lho. Era o do filho
e noivo! Doidos de dôr, os três abra-
cáram-se ao caixão, beijáram-no nu-
ma ternura infinita de desespêro.
Todos que viam, choravam. Não é
verdadeiramente horrível?

‘ Um dos oficiais feridos, que en-
controu, fez-lhe tambem uma nar-
ração pavorosa do que sofrêra. Al-
cançado por uma granada na bata-
lha, temendo que os alemães o ma-
tassem se o descobrissem, arrastou-
se atéa um montão de cadáveres. Es-
condeu-se por baixo deles. E assim
esteve quinze horas, enxarcado no
sangue dos desgraçados e sentindo
o cheiro cadavérico! «Envelheci,
nessas horas!» —dizia êle. E conta-
va ser um horror o campo do com-
bate absolutamente juncado de ca-
dáveres, tantos e tantos que muitos
ficam largos dias sem serem sepulta-
dos, apesar de bandos de trabalha-
dores queimarem com petróleo al-
guns e, outros, irem para grandes
fóssos. Quantos infelizes, nestas
ocasiões, não serão acaso enterra-
dos com vida!…

Contou-lhe esse oficial que o efei-
to da artilharia grossa alemã é ter-
rivel e que não se pode fazer ideia
do ruído, abalando a terra a 12 qui-
lometros, do seu troar !’Chega o san-
gue, apesar da distância, a jorrar
dos ouvidos, com o formidável es-
tridor. Pois ás vezes o cansaço
era tanto, e já o hábito tanto podia
que se chegava a dormir ao som do
canhão formidável. A artilharia de
sítio, e tambem a metralhadora ale-
mã que abriu como que num leque
de projecteis, foram a coisa que
mais impressionou o ferido oficial
francês. E” um horror a ceifa de vi-
das que a metralhadora faz! Ha um
episódio trágico: os soldados ale-
mães, conquistando terreno sôbre
franceses, construiam ‘ trincheiras
com os cadáveres destes: estendiam
três mortos, ao lado uns dos ou-
tros: e mais três, sôbre estes: e,
por cima deles, outros: e faziam,
assim, um parapeito de cadáveres
até a altura da cabeça: e depois,
por entre os corpos, metiam as es-
pingardas e disparavam. E’ dum si-
nistro horror que não pode ser ex-
cedido. E, ouvindo esta narração
feita pelo oficial ferido ao meu que-
rido colega, eu vi não ser exagêro
o trágico quadro sombrio maravi-
lhosamente shakspereano na gran-
deza, do Temps, descrevendo o
campo de batalha de Meaux, com a
«espantosa visão dos mortos, desfi-
gurados, desconhecidos, anónimos,
conservando alguma coisa de heroi-
co, dez a dôse dias após a sua mor-
te…» À narração do enterramento,

 

com os bombeiros, tendo nas nari-
nas farripas de algodão fenicado,
tanto empesta o cheiro, é de con-
franger os corações mais duros!…

Guilherme, II, doido

E” a opinião do grande estadista

inglesês Lloyd George.

Num discurso há dias pronuncia-
do êle considerou manifestações de
loucura, a má fé, a má índole e as
incontinências de linguagem do Kai-
ser.

Disse o notável homem de esta-
do:

«A loucura é uma doença que afli-
ge e é por vezes perigosa, quando
se manifesta num chefe de Estado
se acaso domina a política dum
grande império. E’ mister pôr de
lado, a todo o custo, êsse chefe de
estado». e

Convêm notar que Lloyd Geor-
ge não é o primeiro inglês que con-
sidera Guilherme II atacado de alie-
nação mental. O primeiro foi o
próprio Eduardo VIH, tio do Kaiser
que o conhecia bem, e que,ao
mesmo tempo, o detestava cordial-
mente.

Foi quando da sua última viagem
a Paris— refere o «Figaro», o ilus-
tre soberano almoçava em casa dum
amigo intimo. Como se falasse do
imperador alemão, o rei de Ingla-
terra exclamou:

—E? creatura de que não me o-
cupo. Considero-o um doido!

LITERATURA
A PORTA DO» GEU

POR

B. Ibanez ‘

 

 

 

Assentado no humbral da porta
da taberna, o tio Beresóles, de Al-
boraya traçava com a sua perna ris-
cos no chão, olhando de revez a
gente de Valência que em volta da
mesinha de fôlha de lata emborca-
va o porrão e metia a mão no pra-
to de chouriços com azeite.

Todos os dias abandonava a sua
casa com o propósito de trabalhar
no campo, mas o demónio fazia
sempre com que encontrasse algum
amigo na taberna do Ratat, e copo
agora, copo logo davam os sinos o
toque do meio dia, se era de ma-
nhã’ou’cerrava a noite, sem que
houvesse saído da povoação.

Ali estava de cócoras, com a con-
fiança dum antigo freguês procuran-
do entabolar conversa com os fo-
rasteiros e esperando que o convi-

‘dassem’ para uma pinga, com as de-

mais atenções que se uzam entre
pessoas finas. Aparte as predilec-
ções que mostrava, menos pelo tra-
balho do que pela taberna, o velho
era um homem de mérito. O que
sabia aquele homem, Senhor! Por
algum motivo lhe chamavam Bere-
sóles; porque não caia em suas
mãos um pedaço de jornal que o
não lesse do princípio ao fim, can-
tando as palavras letra por letra. A
gente ria às gargalhadas ouvindo
os seus contos, especialmente aque-
lesem que figuravam capelães e
monjas; e o Ratal, por detrás do
balcão, ria tambêm, contente por
ver que os fregueses para celebrar
as narrações o faziam abrir as tor-
neiras com frequência. O tio Bere-
sóles agradecendo uma pinga à gen-
te de Valência, desejava contar algu-
ma coisa, e apenas ouvia que al-
guem falava em frades apressava-se
a dizer:

—Esses sim, que são espertos!…

Uma vês um frade enganou S.
Pedro. E animado pelos curiosos
olhares dos forasteiros começou o
seu conto:

Era um frade dêstes arredores,
do convento de S. Miguel dos Reis,
o padre Salvador, muito estimado
por todos, por ser esperto e pânde-
go.

Eu não o conheci mas o meu avô
ainda se recordava de o ter visto
quando visitava sua mãe, e com as
mãos cruzadas sôbre a pança espe-
rava o chocolate à porta da chou-
pana. Que homem ! Pezava as suas
dez arrobas; quando lhe faziam há-

 

 

bito novo entrava nele uma peça in-
teira de pano; durante o dia visita-
va onze ou doze casas, tomando em
cada uma as suas duas onças de
chocolate, e quando a mãe do meu
avô lhe perguntua :

—De que gosta mais, padre Sal-
vador ?

Duns ovos com batatas ou dumas
linguiças de conserva?

Ele respondia com uma voz que
parecia um rouquido :

—Tudo misturado, tudo mistura-
do.

Era por isso que êle estava tão
bonito e gordo. Por onde quer que
passasse parecia dar saude, e a
prova é que todos os garotelhos
que nasciam nestes arredores apre-
sentavam as suas mesmas côres, a
sua cara de lua cheia e um cachaço
que, pelo menos tinha nove arráteis .
de manteiga.

Porêm, tudo é mau nêste mundo,
pássar fome ou comer demasiado,
e um dia, ao anoitecer, o padre Sal-
vador, vindo duma pândega em que
se solenisava o bátismo de certa
criatura -que era mesmo a sua cara,
cataplum! Deu um rouquido que
pôz em alvoroço toda à comunida-
de e rebentou como-um odre, per-
dôe-se-me a comparação. Já temos
o nosso padre Salvador voando pe-
lo ar como um foguete, em busca
do céu, pois não tinha dúvida de
que ali havia lugar destinado a um
frade.

Chegou ante uma porta toda de
oiro, cravejada de pérolas, como as
que uza no penteado a filha do al-
caide quando assiste as festas das
solteiras.

“Truzytruz, truzto o:

— Quem é?-perguntou de: den-
tro uma.voz de velho.

—Abra, senhor S. Pedro.

—E quem és tu?

—Sou o padre Salvador, do con-
vento de S. Miguel dos Reis.

Abriu-se um postigo e o bemdito
santo assomou a cabeça soltando,
porêm, bugidos e lançando cente-
lhas pelos seus olhos através os
óculos. Porque hão-de saber que o
santo apóstolo, como é tão velho,
está curto de vista…

—Eh! pouca. vergonha !-—gritou
feito uma fúria. —A que vens aqui!
E’ extraordinário o teu desplante!…
Retira-te desavergonhado, que aqui
não tens lugar !…

Vamos, senhor São Pedro: abra
que se faz noite. Você está sempre
a brincar.

—Como a bricar?

Se pego num pau vais ver o que
é bom, descarado. Crês, acaso, que
não te conheço, demónio com capuz?

Faça-me o favor, senhor S. Pedro:
seja bom para mim. Pecador e tudo,
não terá um lugarsinho livre, ainda
que seja na portaria?

Safa-te daqui… olhem que pren-
da! sta

Se te permitisse entrar, num dia
comerias a nossa provisão de tor-
tas com mel, deixando em jejum os
anjos e os santos. Demais, temos
aqui não sei quantas bemaventura-
das que ainda não são para despre-
zar, € boa ocupação me caberia na
minha idade andar atraz de ti sem
te perder de vista!…

Vai para o inferno ou deita-te ao
fresco em qualquer nuvem…

Acabou-se a conversa.

O santo fechou furiosamente o
postigo, e o padre Salvador ficou
em completa escuridão, ouvindo ao
longe as mandóvas e as flautas dos
anjinhos, que naquela noite obse-
quiavam com albais as santas mai
bonitas.. »?

Passavam as horas, e o nosso pa-
dre pensava já em tomar o cami-
nho do inferno, esperando ser ali
melhor recebido, quando viu raiar
de entre duas nuvens, aproximan-
do-se lentamente, uma mulher: tão
alta e gorda como êle, que cami-
nhava saracoteando-se, empurrando
a sua barriga inchada como um ba-
lão.

Era uma, freirinha que morrera
com uma indegestão de doces.

—Padre—disse docemente ao fra-
dalhão, mirando-o com olhos ternos
—não abrem a estas horas?

— Espera; já entrâmos.

O que escogitava aquele homem!

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%

 

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Em um momento acabava de inven-
tar uma das suas arteirices.

Já os senhores sabem que os sol-
dados que morrem na guerra en-
tram no céu sem obstáculo algum,
Se não o ‘sabiam ficam-no sabendo
agora. Os pobres entram tal qual
como chegam; até com botas e es-
poras, pois algum privilégio mere-
ce a sua desgraça.

— Deita as saias para a cabeça—
ordenou o frade.

—Mas, meu padre!-:contestou
escandalizada a monja.

—Faze o que te digo e não sejas
parva—exclamou o padre Salvador
com a MRE EO veres discutir
comigo que tenho tantos estudos?
Que sabes tu do modo de entrar no
céo?

Obedeceu a monja ruborizada e
na escuridão começou a brilhar uma
circunferência enorme e branca, co-
mo se houvesse aparecido a lua.
Mantêm-te firme. E, dum salto, o

adre Salvador se escarranchou sô-
Eee as costas da sua’ companheira.

— Padre… que’ pesa muito! —
gemia sufocada a pobresinha.:;

Aguenta e dá saltinhos: agora
mesmo entramos.

S. Pedro, que estava recolhendo
as chaves para se ir deitar, ouviu
bater à porta.

“— Quem é? Êo

—Um pobre soldado de cavalaria
—respondeu uma voz triste. Aca-
bam de matar-me pelejando contra
os infieis inimigos de Deus, e aqui
venho sôbre o meu cavalo.

— Passa, pobresinho, passa—dis-
se o santo.abrindo meia porta.

E viu na sombra o soldado dan-
do esporadas no seu corcel, que não
sabia estar quieto. Animal mais ner-
voso!…

Várias vezes intentou’o venerável
porteiro ver-lhe a cabeça, mas foi
impossível. Dando saltos apresenta-
va-lhe sempre a garupa, e, finalmen-
te, o santo, temendo apanhar um
par de coices, se apressou a dizer,
acariciando com palmaditas as an-
cas delicadas e grossas:

—Passa, soldadinho, passa, e vê
se aquietas êste animal.

E emquanto o padre Salvador se
metia céo adentro sôbre a garupa
da monja, S. Pedro fechou a porta
por aquela noite, murmurando com
admiração:

—Caramba, que batalha estão
dando la em baixo. Que modo de
combater! Ao pobre cavalo não lhe
hão deixado… nem o rabo.

(Trad. de R. Gomes)

casas EESe S

–Na noite do dia 5 último reali-
zou-se, promovido por um prupo de
rapazes de bom gosto—que os há
cá—um baile oferecido às damas
Sernachenses, no Club Bomjardim.

E’ de louvar a iniciativa dos sim-
páticos rapazes.

Outro tanto, porêm, não podemos

dizer a respeito de manos conselhei- .

ros e superiores caprichosos, cujas
excêntricas resoluções, no caso sujei-
to, não aprovâmos completamente.

E assim lastimâmos sinceramen-
te o motivo que inibiu algumas gen-
tis e mui formosas—são os termos
da praxe-—damas, de honrarem o
baile. com a sua presença.

Não obstante, dançou-se até às 3
horas aproximadamente, notando-se
no belo salão de baile, bastante lu-
xo, muita luz, pouca música e. ..al-
guma animação.

caps
ANEDOGTA

D. Pedro V e o professor Viale

Uma vez chegou Viale ás Neces-
sidades para dar lição ao príncipe,
então de quinze anos. O rial discí-
pulo era, por ordem de sua mãe,
pontualissimo; apareceu logo, mas
ainda afogueado, excitado, nervoso,
quasi com as lágrimas nos olhos.

— Sr. Viale, disse êle, eu pedia-
-lhe um grande favor…

—Um favor, meu senhor! Vossa
alteza real manda, respondeu o pro-
fessor, inclinando-se.

-—Peço uns ‘ minutos de espera
antes de começarmos a lição.

—Estou ás ordens. Mas que tem,
meu senhor? Vejo-o nervoso…

 

 

 

 

Sim, estou; estou muito fóra de
mim. Esta noite, não sei quem me
fez a maganeira de pisar com os
pés umas tulipas muito estimadas
que eu tinha no jardim e cultivava
com muito cuidado, por me terem
sido dadas pela mamã…

—E então?

—E então quero ir dar as minhas
ordens a ver se se descobre o mal
intencionado, ea ver seo jardineiro
é capaz de as melhorar.

—Pois esperarei o tempo que o
principe quiser…

— Muito obrigado, sr. Viale.

Saiu o moço e voltou passado
pouco tempo, mas muito cabisbaixo.

—(Quer vossa alteza que princi-
piemos a lição?

— Quero. Mas antes de mais nada
preciso pedir perdão ao sr. Viale.

—Perdão? e de quê, meu senhor?

—De uma palavra feia que eu
ainda agora disse…

—Não ouvi.

— Disse, disse; diante de uma
pessôa de respeito, como é o sr.
Viale, disse a palavra maganeira.

O mestre riu muito, socegou a
dolirida consciência do aluno e prin-
cipiou o trabalho.

Dizia tambem Viale que nunca o
príncipe lhe ordenava se sentasse;
perguntava apenas em tom cortez e
timido.

—Não se quer sentar, sr. Viale?

AGRICULIURA

Cultura da couve-fior
para dar na primavera

 

 

Em fins dé Janeiro semeia-se sô-
bre cama a variedade tenra ou
temporã; a planta leva poucos
dias a inascer; daí a dias dis-
põe-se muito basta sôbre outra ca-
ma, e em Março torna-se a dispor
tambêm sôbre cama e debaixo de
redoma, quinze a trinta pés por ca-
da redoma, e dá-se-lhe ar todas as
vezes que o calor da atmosfera as-
sim o consinta.

Próximo, a Abril transplanta-se
para terra livre bem aparelhada e
adubada, e com exposição ao sul ou
ao nascente; os pés deverão ficar a
distância de três palmos um dos ou-
tros.

“O modo de pôr a planta é, ou
abrindo buracos na terra com o plan-
tador, ou levantando-a ao sacho e
metendo a raiz na fenda que se
abre e que logo se deixa fechar, re-
tirando o sacho com todo o geito.
Ou seja buraco ou fenda, sempre se
lhe deita um pouco: de terriço.

Acabada de pôr a planta, molha-
se e terra moderadamente, e não se
lhe torna a deitar mais água por es-
paço de quinze dias, ao cabo dos
quais se começa então a regar re-
gularmente, de dois em dois ou de
três em três dias, com um regador
de água para quatro pés, e méio re-
gador para cada um, mal que co-
meça a criar cabeça. Mas não se
ha-de regar senão desde o romper
do dia até às 8 horas, ou das 5 da
tarde até à noite, e nunca pela fôr-
ça do sol.

Quando a flôr começar a formar-
se, far-se há uma cova em volta de
cada pé, para que toda a água da
regadura aproveite em particular a
cada planta.

Tiram-se daí por diante os pés
que vão espigando, assim como
aqueles cujo ôlho não prometa criar
cabeça.

O método de cultura da variedade
dura, diferece alguma cousa do pre-
cedente. Semêa-se muito ralo por
fins de Agosto em lugar abrigado do
norte e em vasos cheios de terra
bem adubada com terriço; rega-se
todas as vezes que o julgarmos ne-
cessário; ; pelo tempo dos gelos re-
colhem-se os vasos para a estufa,
aonde se conservam emquanto os
frios durarem, tirando-os para fóra
para lhes dar ar cada vez que o
tempo abrandar. Chegado o mês
de Março, podem-se dispôr emjter-
ra livre, como acima fica dito.

Póde-se tambêm modificar êste
método de cultura da seguinte ma-
neira: é

Semeia-se sôbre cama e deixa-se
tomar ar ás plantas uma boa parte

– do dia, quando o tempo é favorá-

Ê

 

vel; dispõem-se depois debaixo de
redoma, ao longo dum muro, mas
não se ha-de enterrar a planta se-
não tanto quanto o-estava – sôbre – a
cama; em estando tempo de geada
cobre-se a cama de palhiço sêco; em
Fevereiro dispõe-se sôbre cama, e
mais à larga, doze ou quinze pés em
cada redoma; tem-se coberta por
quatro ou cinco dias, até pegar per-
feitamente, e dá-se-lhe depois algum
ar se o tempo é favorável; dhi a
oito dias começam-se a tirar as re-
domas, mas só de dia; passados os
maiores frios, tiram-se de todo, fa-
zendo-se então em volta da cama
uma espécie de sebesinha, para ter
mão nos-esteirões, com que de noi-
te se continua a cobrir: por ‘meado
de Abril. planta-se em terra. livre
com três a quatro palmos de intervalo
de planta a planta: quer terra subs-
tancial, mas não muito forte.

Em Junho, quando a estação não
tenha corrido desfavorável, está a
fiôr boa para se colher. Escolhem-se
então os pés mais bem criados para
ficarem para semente, os quais se
deverão arrancar de. manhã pelo
orvalho, no mês de Setembro, assim
que os primeiros folhelhos começa-
rem a abrir-se, estendendo-se, para
acabarem de secar, ao longo dum

, muro com exposição ao sul.

O talo do meio, que é o primeiro
que amadurece, dá a melhor se-
mente e mais temporã, e o coruto
dos talos que lhe ficam mais che-
gados, dá a qualidade imediata. Os
outros ramos dão a peor semente e
mais serôdia.

Se fôr tamanha a abundância des-
ta hortaliça que, de uma fórma ou
doutra, se não possa dar gasto na
estação própria, arrancam-se. todos

os pés antes que a flôr seja vingada,

e, em fazendo bom tempo, soter-
ram-se na areia e em sítio fresco,
junto uns dos outros, com a cabeça
para baixo e cobertos até ao colo
da raís. Dêste modo acabam de se
desenvolver perfeitamente e conser-
vam-se por muito tempo; se, pelo
contrário, os deixassem vegetar ao
ar livre, espigavam todos.

Cultura para o outono
e inverno

Em Maio semeia-se a lanço a va-
riedade dura ou-a semidura, ao lon-
go dum: muro exposto ao norte ou
ao poente; espalha-se sôbre a se-
menteira duas . polegadas de terriço
ou dexcremento de cavalo, sêco e
bem desfeito; monda-se e rega-se a
miudo até que a planta chegue a es-
tado de se dispor a valer. Daí por
diante quer-se tratada do mesmo
modo que as variedades anteceden-
tes, e alêm disso que a reguem abun-
dantemente nos meses de Julho e
Agosto. Começa a dar novidade em
Outubro, e dura até Dezembro.

A couve-flôr nunca é tão delicada
como depois dum estio bem: chu-
voso. .
Quando suceda que alguns pés
não criem flôr ao ar livre, recolhem-
se às estufas, aonde deitam flôr, mas
mais pequena que o ordinário. São
estas as que servem para se comer
no inverno.

Em vindo as geadas, calafetam-
se portas e janelas, tornando-se
a abrir cada vez que o tempo abran-
dar.

Por todo o mês de Novembro e
o de Dezembro acarreta-se para
perto dos canteiros de couve-flor a
quantidade necessária de palhiço
sêco dos currais, afim de lho deitar
por cima em o tempo arrefecendo.

Logo que a flôr está boa para se
cortar, guarda-se em estufa, onde
se póde conservar por espaço de
dois ou três meses, se a mesma es-
tufa fôr bem arejada e enxuta.

VARIEDADES

A vaidade das riquezas

 

 

 

O que mais pesa e o que mais

luz no mundo, são as riquezas. E.

que coisa são as riquezas sendo um
trabalho para antes, um cuidado pa-

Tra logó é um sentimento para de-

pois ? As riquezas, diz S. Bernardo,
adquirem-se com o trabalho, conser-
vam-se com o cuidado e perdem-se

s

=

 

com a dôr. Que coisa-é o oiro e a
prata, senão uma terra de melhor
côr? E que coisa são as pérolas e
os diamantes, senão uns vidros mais
duros ? Que coisa são as galas, se-
não um engano de muitas côres?
Cabelos de Absalão, que pareciam
madeixas e eram laços. Que coisa é
a formosura, senão uma caveira
com um volante por cima? Tirou a
morte aquele veu e fugis hoje do
que ontem adoráveis. Que coisa são
os gostos, senão as vésperas dos pe-
sares? Que coisa são as delícias,
senão o mel da lança de Jonathas?
Juntamente vai à boca o favo e o
ferro. Que coisa são todos ós pas-
satempos da mocidade, senão arre-
pendimentos depositados para a ve-
lhice? E o melhor bem. que. podem
ter, é chegarem a ser arrependimen-
tos. Que coisa são as honras e as
dignidades, senão fumo? Fumo que
sempre cega e muitas vezes faz cho-
rar. Que coisa é a primavera, senão
um vapor de pouca dura; um raio
de sol o levanta e outro o. desfaz.
Que coisa são as provisões e os des-
pachos grandes, senão umas cartas
de Urias? Todas parecem carta de
favor; e quantas foram sentença de
morte !.Que-coisa é a fama, senão
uma inveja comprada? Finalmente,
que coisa é a- mesma vida, senão
uma alâmpada acesa, vidro’ é fogo?

“Padre António Vieira.

Anelos

Fitando a luz gentil que a Santa Caridade

Espalha em derredor das pobres crianci-

E Pa nhas,
Adoce luz que beija as loiras cabecinhas,
Duns anjos ideais, duns tristes na orfandade,

A gente chega’a ter lembrança dessa idade
Feliz, em que até mesmo os bustos das rat:
a nhas
Debruçam sóbre nós as feiticeiras linhas
Sorrindo-nos da aurora à doce claridade |

E pensa em ser bem pobre, um roto. um
Ha Há deserdado
P’ra ter quem nos escute a lacrimosa prece
E venha, todo amor, postar: se ao nosso lado,

Beijar-nos quando um dia a alma se entris-
tece

Nas sombras da miséria, e, ao ver-nos des-
graçado,

Fazer, p’ra nos dar vida e luz, uma Ker-
messe !

Casimiro Dantas.

A Morte:

Dois espectáculos, dignos do mais
atento estudo, são a morte do ho-
mem bom e a morte do homem per-
verso: assunto solene e que deu ao
grande Massillon um dos seus ser-
mões mais convincentes. Na imagi-
nação do agonisante, como no fundo
de “um espêlho côncavo, se concen-
tram convergentes os raios de todos
os pontos mais remotos da sua vi-
da, já então’a passar, e da sua vida
nova, já então a descobrir-se. Sedo
pretérito lhe vem luz, luz lhe vem
tambêm do futuro, e o seu espírito
nesse foco resplandece como o sol.
Jáo presenciei eu, que isto escrevo;
já: vi, despedir do mundo e descer
para o sepulcro com os lábios a
cantar e o coração a fir como quem
embarca, por um dia de primavera,
e uma festa de longos dias espe-
rada.

Antônio Feliciano de Castilho.
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A Agua minero-medicinal da Foz da Certã apresenta uma composição
quimica que a distingue de todas as outras até hoje uzadas na terapeutica.

E” empregada com segura vantagem da Diabetes—Dispepsias— Catar-
ros gastricos, putridos ou parasitarios;—nas preversões digestiras derivadas
das doenças infeciosas;—na convalescença das febres graves; —nas atonisa
gastricas dos diabeticos, tuberculosos, brighticos, etc.,—no gastricismo dos
exgotados pelos excessos ou privações, etc., etc.

Mostra a analise bateriologica: que a Agua da Foz da Certã. tal como
se encontra nas garrafas. deve ser considerada como microbicamente
pura não contendo colibacitlo, nem nenhuma das especies patogencas
gue podem existir em aguas. Alem disso, gosa de uma certa acção microbi-
cida. O B. Tifico, Difeterico e Vibrão colerico, em pouco tempo
nella perdem todos a sua vitalidade, outros microbios apresentam porém re-
sistencia maior.

A Agua da Foz da Certã não tem gazes livres, é limpida, de sabor le-
vemente acido, muito agradavel quer bebida pura, quer misturada com

vinho
DEPOSITO GERA

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