Eco da Beira nº11 25-10-1914

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SEMANARIO |

 

Certã, 25 de Outubro de 1914

Numero 11

 

tica

E

 

Assinaturas:
ADO, feno atinatan cem quit INDO
Semestre. ….. ca toi = ADOO
Brazil (moeda brazileira). .. 5booo

 

Anuncios, na 3.2 e 4.º página 2 cen-
tavos a linha ou espaço de linha

5
Ea

PROPRIEDADE DO CENTRO REPUBLI

 

DIRECTOR — ABILIO

a

q

CANO DEMOCRATICO

 

 

POLITICA LOCAL
Conversa amena

Estas palavras são dirigidas ao
partido unionista da Certã.

E não as dirigimos àquele que
naturalmente estaria indicado para
seu chefe, não só porque a sua or-
ganização partidária parece excluir
a existência de chefias individuais,
de resaibo de caciquismo excomun-
gado, mas ainda porque não parece
que seja o sr. Tasso de Figueiredo
quem oriente êsse partido, que êle
não criou nem fez, e sómente o her-
dou a benefício do inventário.

Ou, e talvez mais própriamente,
se possa dizer que o ilustre senador
nada herdou: êle é que foi inventa-
do e criado para dar côr e fé políti-
ca a uma patrulha duma forte orga-
nização partidária, que ficou sendo
formada dos mesmos homens e com
os mesmos hábitos.

O sr. Tasso não organizou o par-

tido nem foi nêle promovido, por-
que nem lá tinha, sequer, praça as-
ano EPA
” Foi contratado sem irreverência
no termo. Foi recebido na casa
alheia. Já é um defeito de comando
e êsse defeito não é suprido por
qualidades políticas que fortemente
o imponham.

Sob êsse aspecto ainda é notória-
mente falsa a sua situação.

S. ex. teve a infelicidade de ir
substituir um chefe autórizado, de
larga influência e prestígio e conhe-
cedor dôs homens e do ofício…

Não consta que êle lhe tenha
transmitido a sua autoridade e mui-
to menos que lhe tenha assistido
com os seus conselhos.

Pelo contrário, o sr. Tasso é uma
vitima de maus conselheiros.

De forma que, um partido que

exerceu sempre fortemente a sua
acção e a sua fôrça, do centro para
a periféria, exerce-a hoje partindo
da periféria para o centro e porven-
tura só em volta da periféria algo
desguarnecida.
— O ilustre senador é para o maior
número dos seus correligionários
apenas um símbolo e simbolo res-
peitável porque, fora dos meandros
da política, s. ex.2 é um perfeito
homem de bem, que tem, sem li-
sonja nem favor, O nosso mais sin-
cero respeito e consideração.

E somos mesmo em reconhecer
que seria um temível chefe político,
lá para daqui a dois ou três séculos,
quando o mundo fôr como o sr.
Tasso o descortina através o kalei-
doscópio das suas ilusões !…

Aproximadamente, que à justa
não poderá ser nunca.

Quando o mundo tiver chegado a
êsse estado de . depuração, já não
haverá políticos: terãc. perecido to-
dos, de delírio!…

Eis porque, sem sombra de des-
primor, nos dirigimos ao seu parti-
do, onde estão homens que foram
da nossa sincera afeição, mas que
houveram por bem reduzi-la, até
nas simples relações de convivência,
de mais de 75 por cento, com gran-
de gáudio duma espécie de conspí-
cuo conselheiro Acácio que por lá
passeia, mas de espírito e bestunto
mais apoucado do que o legítimo,

 

 

 

Fai

*

Ora, iamos nós dizendo nesta
conversa amena O seguinte…

A política na Certã vem-se exer-
cendo, por banda do partido unio-
nista, por forma impertinente e irri-
tante, traíndo e contrariando violen-
tamente o próprio espirito concilia-
dor e tolerante da República, con-
sagrado na sua fórmula pacificado-
ra de fraternidade.

Não há que negá-lo.

Mais fingida do que sincera, pro-
vocada e não expontânea, a exalta.
ção e a intransigência aí se andam
manifestando em pequenas coisas,
no desvario de quem anda a bater
com a cabeça pelas paredes.

Se o partido democrático se ti-
vesse deixado arrastar no mesmo
desvario e tivesse entrado em lutas
de retaliações, certamente se teria
precipitado a exacerbação dos àâni-

scenas extremamente desagradáveis.

E convirá à política e ao bem es-
tar e interesses dêste concelho, on-
de todos nos conhecemos e aqueles
que na política labutam dela não vi-
vem, êste estado de paixões odien-
tas fis…

a

Editor e administrador — ALBERTO RIBEIRO

mos e esta se teria desdobrado em”.

 

 

e e

saram em silêncio: outros tiveram
alguma resonância.

Liquidaram-se em duas sessões
——a da apresentação e a da discus-

são da proposta. À maioria votava.
Estava no seu direito.

Exemplo: a estrada da Boneca,
Foi uma sessão -memorável a de 18
de Novembro de 1897.

A maioria votou-a: a minoria
submeteu-se. Nunca mais falou nis-
so. Para quê? Para se revelarem
uns asnos?…

Há meia dúzia dé anos, o partido
regenerador, ilustre antepassado do
unionista, não podia, só de per si,
dar batalha eleitoral: o partido dis-
sidente, com quem êle quis fazer
um acôrdo, só o aceitava ficando
com a maioria para governar êle.

Os regeneradores não concorda-
ram, e ofereceram a minoria aos
franquistas que sôfregamente a acei-
taram,

Fizeram êles o acôrdo.

O partido dissidente, não poden-
do dar batalha aos outros dois, não
foi à urna. Os regeneradores lá con-
tinuaram a governar. Nunca os dis-
sidentes os foram perturbar.

Era assim que se procedia in illo

 

| Seria pergunta que nós levaria-
mos à consideração e reflexão dos
srs. unionistas, se por lá há alguêm
que ainda reflexione e tenha miolos.

Donde vem êste estado de per-
manentg e odienta perturbação ?

Da constituição da Câmara, em
que os unionistas estão em inferio-
ridade numérica.

Simplesmente por êste facto em
si e não porque alguêm os tenha
agravado.

Pelo contrário, a maioria tem pro-
cedido com uma correcção e uma
generosidade, de que os unionistas
seriam incapazes, porque de tanto
teem dado, em longos anos, sobejas
provas.

São as maiorias que governam.

Esta afirmação irritou um dia os
mimosos timpanos dum ilustre saté-
lite do sr. Tasso de Figueiredo e
que como êle vagueia pelas regiões
etéreas da política, mas nem por is-
so deixa de ser um princípio regu-
lador de todos os organismos colec-
tivos e dêle usaram e abusaram
sempre os unionistas, por si e por
seus ilustres antepassados.

Simplesmente êsse govêrno do
maior número se deve exercer sem-
pre. dentro duma fórmula concilia-
dora, que não seja uma violência
nem uma afronta, e os nossos adver-
sários, em quanto puderam, o exer-
ceram discrecionáriamente e com
exclusivismos odiosos.

Todavia, lá estiveram sempre na
Câmara, talhando como quiseram,
governando como entenderam, sem
outras determinantes que não fôs-
sem as da sua vontade, com um cri-
tério vasado num feroz egoísmo,
com a assiduidade que lhe dava na
rial gana, que nesses tempos ainda
era rial.

Tambêm por lá houve minorias,
mas nunca essas vozes discordantes
se ergueram em gritarias tumultuo-
sas e atrabiliárias, afrontando e en-
xovalhando, provocando escândalos
e representando episódios como os
que por aí se teem exibido, sob o
comando augusto do ilustre ex-vice-
-presidente do Senado português.

 

, Houve por aí escândalos que pas-

 

|” tempoóre, com compostura é digni-
‘ dade.

Era o direito dos fortes, que niin-
guêm lhe negava.

Governavam como queriam.

Só tinham que salvar a honesti-
dade, e essa, pelo que respeitava à
individualidade de cada um dos ve-
readores, sempre a supuzemos ‘in-
discutível.

Mas há exemplos mais recentes.

Desde a proclamação da Repúbli-
ca até à última-eleição camarária,
nós vivemos em excelentes relações
com Os nossos adversários.

Era sua a maioria da Câmara,
com a qual governaram como en-
tenderam. Nunca lá os fomos inco-
modar. Submetemo-nos às suas in-
trans gências e exclusivismos, que
os tiveram, de cara alegre.

Foram sórdidos e autoritários—
calamo-nos!

Durante essas relações, pedimos-
-lhes dois favores—dois grandes ser-
viços: pois ambos no-los negaram !

Pedimos-lhes um candieiro para
Sernache, que o sr. dr. Ehrahrdt
nunca nos deu.

Que havia de vir-medir a distân-
cia, para ver se era de justiça.

Compare-se o seu procedimento
com o desta Câmara, que já deu
uns 6 candieiros para a Certa.

Elevou a verba de iluminação a
30000 e está já elaborando um or-
çamento suplementar em que lhe dá
mais go escudos !

Doutra vez—e eis os nossos pe-
didos —pedimos-lhe que a Câmara
representasse no sentido da criação
dum sub-posto da guarda republi-
cana em Sernache.

Tambêm nos negou êste favor!
Porque, segundo êle, tinha a Cà-
mara de pagar 30 escudos, para
renda de casa!

Mas dava-se o caso curioso de
tal despesa não ser encargo para a
Câmara, pois que êles tinham meti-
do no orçamento goipoo para a ren-
da da casa do posto da Certã, quan-
do é certo que só pagavam de ren-
da Goxoo.

Não ia, pois, sobrecarregar a Cà-

 

mara ; bastava que aqueles 30 escu-

 

 

. não tinha praticado !

 

Publicação na Certã

 

Redacção e administração em

SERNACHE DO BOMJARDIM

Composto e impresso na Tipografia Leiriense

LEIRIA

 

 

 

dos não fôssem para o arranjo para
que eram desviados… Sade

Bom escândalo podiamos fazer!

Pois calámo-nos, limitando-nos a
uns reparos, que fizemos, .em con-
versa particular com um amigo. .

Agora, veja-se o contraste que
com êste misero procedimento for-
ma o da actual Câmara.

Logo que foi solicitada, esta Cà-
mara arrendou o convento e fez nê-
le obras que vão a 200 escudos, pa-
ra ali instalar umã secção da mes-
ma guarda, comandada por um al-
IBLeS.

Bastava que ela não desse a casa
para que a fôrça não fôsse aumen-
tada, ;

E não seria de estranhar que ela,
em-retaliação, promovesse a criação
do sub-posto em Sernache !

*

Nesta situação se vem vivendo há
perto dum ano. 6 ;

Desde o princípio da sua gerência
que a Câmara vem afirmando os
seus propósitos de não alimentar
nem servir animosídades locais. Nes-
ta orientação se tem mantido com
uma persistência e serenidade que a
muitos poderia servir de exemplo.

A esta atitude tem respondido a
minoria com uma oposição apaixo-
nada e intransigente, mantendo-se
em permanente estado de guerra
violenta e’ odiosa. Tudo lhe serve
para manter êste estado de excita-
ção, sem cogitar da seriedade dos
meios e da eficácia dos processos,
produzindo a sua ingenuidade aque-
la proposta da suspensão dos traba-
lhos por motivo da guerra e chegan-
do a sua insensatez até aquele céle-
bre requerimento duma sessão ex-
traordinária para acusar a comissão
executiva e por faltas… que ela

Ora, nós havemos chegado ao
momento em que temos de mudar
de vida.

E aqui estamos no objecto princi-
pal desta conversa.

E” tempo!

Ou a minoria reconsidera e toma
outra atitude, ou muda a maioria.

Nesta desafinação é que não po-
demos continuar !

Somos de opinião que para ‘os in-
teresses da Certã mais conviria que
a minoria se remetesse a-uma atitu-
de mais pacífica e menos irritante,
deixando-se de inventar incidentes e
escândalos, que a ninguêm servem e
muito menos aos senhores unionis-
tas e aos interesses de que se pre-
sumem exclusivos defensores.

Colaborem com a maioria, cada
um com os direitos e a fôrça quê
teem e lhes assiste, com o alevanta-
do ideal de bem servirem os inte-
resses dêste concelho. –

À maioria corresponderá com: di-
gnidade e boa vontade a essa atitu-
de de serenidade, que é do interes-
se de todos.

Aqui lho afirmâmos.

É não nos detemos na exposição
desta simples opinião : vamos mais
alêm, sem hesitações-—pedimos aos
nossos adversários que a aceitem
como boa.

Dêem às nossas palavras a inter-
pretação que quiserem, excluindo
delas e negando-lhe a sinceridade
que as anima, se quiserem.

Se não querem ouvirsnos e aten-
der-nos, lá lhes ficarão as responsa-

ED

Ex.mº Sr. Almirante Tasso de Fi-

Certã

gueirêdoirêdo

 

@@@ 2 @@@

 

bilidades.

Bem pode ser que estas sejam
um manancial perene de benefícios
e triunfos.

Bem pode ser…

Mas nós temos a impressão de
que estão acumulando, contra a cau-
sa que pretendem defender, males
que são absolutamente impotentes
para remediar no futuro. .

Nenhum mal queremos à Certã:
nenhum lhe temos feito: nenhum
desejariamos fazer-lhe.

Bem fácil nos será, todavia, por
uma série de actos, directos e indi-
rectos, alguns de bem simples exe-
cução, feri-la mortalmente.

Não queremos e bem desejaria-
mos que os nossos adversários tam-
bêm não quisessem…

Poderíamos ser um inimigo de-
clarado—que não somos—e irrecon-
ciliável da Certã, e a política demo-
crática nenhum perigo lhe oferecer.
Porque é bem de ver que, acima da
nossa vontade pessoal, estariam os
interesses do partido, e a êste con-
vêm e procura o apoio do maior nú-
mero e não repelir boas vontades,
venham elas de onde vierem.

A Certã não é tão rica de influên-
cias que possa declarar acintosa-
mente guerra a um forte agrupa-
mento partidário, aceitando as con-
sequências que daí lhe possam advir,
para confiar os seus destinos a um
único partido, demais a mais de de-
bilidade manifesta e que, rico que
fôsse, seria de ruína próxima e ine-
vitável, pelo desperdício de bom
senso, que anda fazendo.

Mudem, pois, de vida e orienta-
ção. São os nossos desejos, mas se
querem a guerra, a ela vamos. Não
nos apavora. Que o nosso feitio não
é atreito a sustos, e essa não é das
hipóteses: que menos nos convêm.

Simplesmente, vão as responsabi-
lidades a quem tocarem.

As nossas ai ficam bem nitida-
mente definidas nesta longa conver-
sa escrita por quem não cultiva a
política com embustes nem hipocri-
sias. :

Registem as nossas palavras, que
nós registaremos a resposta dos seus
actos futuros.

RS So
Instrução

Foram assim distribuidos os pro-
fessores das escolas móveis conce-
didas a êste concelho :

Quintã—D. Emília de Almeida.

Pampilhal—D. Júlia Dantas.

Pôrto dos Furos—D. Beatriz Vas-.

ques.
Amioso—D. Maria de Vilhena.
Codiceira—D. Beatriz Paliard.
Pedrogam Pequeno — Bernardo
Castanheiro.
Carvalhal — Cândido Lopes de
Castro.
de

As missões de Pôrto dos Furos,
Codiceira, Amioso e Pedrogam Pe-
queno são da Associação das esco-
las móveis pelo método de João de
Deus.

*

A inauguração da escola da Quin-
tã fez-se no domingo, 18 do corren-
te; À povoação, embandeirada e com
as ruas ladeadas de mastros e galhar-
detes, oferecia o aspecto dos seus
dias féstivos.

A” entrada da escola as creanças
entoavam a Portuguesa e o ino es-
colar.

Na sessão de inauguração usou
da palavra o sr. dr. Abílio Marçal
encarecendo a importância daquele
beneficio concedido pela República
aquela povoação, e estimulando to-
dos, em palavras patrióticas, à maior
assiduidade na frequência da escola;
e a professora sr. D, Emília de Al-
meida, que expôs as vantagens da
instrução e os propósitos e serviços
da República na extinção do analfa-
betismo. ;

Estiveram presentes os srs. Alfre-
do Vitorino e Joaquim Ladeiras,
que, com o sr. dr. Abílio Marçal,
constituiram a mesa, e padre Antó-
nio Luís. Ferreira, padre Cândido
Teixeira e Alberto Ribeiro.

— Neste concelho, entre adultos e
creanças, estão já matriculados 66
alunos.

 

 

 

ECO DA BEIRA

Colégio das Missões

Resultado dos exames na época de Outubro,

Alunos aprovados
História

Alberto Rodrigues Borges.

António Lopes.

António Miranda Boavida.

António Ribeiro.

Artur de Oliveira Caio.

José Delgado.

José Marques Duarte.

Manuel Corrêa da Silva.

Introdução

Armindo da Purificação Soares.
Joaquim Martins.

José Delgado.

José Marques Duarte.

“Desenho
Francisco Augusto de Gouveia,
Português
Cândido Ançã.
%*
Relação dos alunos externos matriculados
no corrente ano lectivo de 1914-1915,

no curso dos liceus,
do Colégio das Missões Ultramarinas

4.º classe-—1.º secção.

Antônio Bravo Serra, filho de Jo-
sé António Serra Júnior, natural de
Sernache do Bomjardim, concelho
da Certã.

— António Marcelino, filho de
Crisóstomo Marcelino, natural de
Sernache do Bomjardim, concelho
da Certã.

—António Ribeiro Antunes, filho
de João Antunes, natural do Ribei-
ro de Cima, freguesia do Cabeçudo,
concelho da Certã.

—David Tomás Pinto Serrano,
filho de José Lourenço Serrano, na-
tural de Palhais, concelho da Certã.

—Joaquim Martins, filho de An-
tónio Martins, natural de Labrunhal
Cimeiro, freguesia e concelho de
Proença-a-Nova.

—José Farinha Leitão Júnior, fi-
lho de José Farinha Leitão, natural
da Codiceira, freguesia e concelho
da Certa. o

— Júlio Marçal Corrêa Leonor,

“filho de Filipe da Silva Leonor, na-

tural de Sernache do Bomjardim,
concelho da Certã.

—Lino Rodrigues da Silva, filho
de Manuel Luís da Silva, natural de
Albergaria, freguesia da Cumiada,
concelho da Certã.

—Manuel Fernandes do Amaral,

“filho de Olímpio do Amaral, natu-

ral de Sernache do Bomjardim,
concelho da Certa.

—Manuel Peixoto Corrêa, filho do
dr. Júlio Peixoto Corrêa, natural de
Arnoia, freguesia do Castelo, con-
celho da Certã.

— Marcelino Mendes Nunes da
Silva, filho de José Mendes Nunes
da Silva, natural dos Couceiros,
freguesia de Sernache do Bomjar-
dim, concelho da Certa.

2.º classe -1.º secção

António Maria da Natividade Dà-
maso, filho de Joaquim Damaso
Marques, natural de Carregal do Zé-
zere, freguesia de Dornelas, conce-
lho da Pampilhosa da Serra.

3.º classe—1.º secção
António Marçal Corrêa Nunes,

filho do dr. Virgílio Nunes da Silva,

natural de Sernache do Bomjar-
dim, concelho da Certã.

— Irma da Silva Antunes, filha
de Manuel dos Santos Antunes, na-
tural de Benguela Velha, provincia
de Angola.

4.º classe-2,º secção

Jorge Nogueira da Silva Corrêa
Marçal, filho do dr. Abílio Corrêa
da Silva Marçal, natural de Serna-
che do Bomjardim, concelho da

Certã,

Da terra da sua naturalidade, pa-
ra onde havia saído, por motivo do
falecimento de sua extremosa mãe,
regressou a Sernache do Bomjar-
dim, onde é professor de ensino pri-
mário, o sr. Joaquim Antunes Ale-
xandre.

A êste nosso amigo e assinante e
ex.ma família, enviâmos sentidos pê-

sames.

 

Vozes…

e tpd—

A da Beira, mal humorada a res-
peito da ponte da Galeguia :

«Assim é chamada a ponte que o senado
municipal aprovou para fazer a ligação da
freguesia de Sant’Ana com Sernache pelo
Nesperal. Todos esperavamos que assim fos-
se, visto ser tanto o enternecimento com que
se falava dos povos de Sant’Ana, a quem
por todos os motivos e mais um era preci-
so ligar com Nesperal. Porêm, eis senão
quando, começada a ponte, vê-se que esta le-
vantou vôo das terras de Sant’Ana lá mais
para baixo, para os confins da freguesia de
Palhais que já estava servida com a ponte
do Vale dos Cavalos”.

Não se amofine, visinha, que não
tem razão.

A negregada ponte está sendo
construida no sítio em que foi estuda-
da e tal como o senado municipal a
votou e para que foi solicitada auto-
rização à repartição dos serviços
fluviais, com desvio apenas de 2 ou
3 metros, como foi verificado pelo
funcionário dos serviços hidráulicos

que a veio inspeccionar recentemen-

te:

Mas, se tivesse sido desviada mais
para baixo, seria sómente para des-
anuviar o espírito do ilustre edil
Manuel Marçal, que só por castigo
seu queria tal obra na sua freguesia.

Agora já a queriam mais para
Cima ll.

Voltas que o mundo dá!…

Pois dizem lá os outros, os da
freguesia—os outros são os que pen-
sam por cabeça própria—que ali é
que ela lhe fica bem. Que lhe esta-
belece o caminho mais curto e có-
modo com a estrada de Tomar, pa-
ra fazerem a condução de palha,
azeite e outros produtos agrícolas,
de materiais de construção, cal, te-
lha, etc.

Que serve tambêm a Rolã e de-
mais povos da freguesia de Palhais,
e é o caminho mais directo para
Fundada e Pêso.

Que lhes abre o caminho directo
para o norte do pais pela ponte da
Bouçã.

E até dizem que servirá e facili-
tará os serviços do correio, princi-
palmente os do concelho de Vila de
Rei com êste.

Saindo as malas daquela vila, às
9 horas, pelo Pêso e Fundada, che-
gam a Sernache ao meio dia, a tem-
po de receber e expedir as malas de
Tomar e Certã e regressar a Vila
de Rei, às 16 ou 17 horas.

E com vantagem e grande como-
didade pública !

Um ofício, saído da Certã, às 12
horas, chegará à séde daquele con-
celho às 17 horas, em quanto que
agora só lá chega no dia seguinte
a essa mesma hora.

As 15 horas estará na freguesia
do Pêso, em quanto que actualmen-
te vai dar volta por Tomar, Abran-
tes, Mação, Cardigos e Amendoa!…

Já vê que são enormes as vanta-
gens.

Por todos estes motivos e mais o
outro, o tal que nós sabemos…
sim senhor !

*

A dum canhão, dêstes de carre-
gar por todos os lados, anda para
aí a rosnar que isto do corpo expe-
dicionário foi um negócio de 600
contos.

—Fosi.

Até lhe cresce a água na boca.
Tanto dinheiro e não haver quem
dê por esta peça 5 milavos!….

*
Uma voz indiscreta diz assim: .

«Acompanhado do prestigioso chefe do
partido evolucionista e nosso ilustre colega
da Restauração, andou esta semana por
Sernache, de porta em porta, a pedir adesões
para o partido unionista, o sr. Tasso de Fi-
gueiredo.

Numa conversão que pretendeu fazer, aí
pelas proximidades da serra da Mendeira,
afirmou comovidamente que tanto. puxava
para a Certã como puxava para Sernache”.

—Hum!… Parece-nos que ain-

da não vai bem.

Ha de ser preciso outra patusca-
da.

Mas agora excluam todos os he-
rejes… Comam então todos… e
paguem.

 

Entretanto e desde já muitos pa-
rabens pelo conúbio.

No próximo número lá irá ter o
nosso presente de noivado!

Até domingo!

ento

De visita ao nosso presado amigo
Francisco Nunes Teixeira Júnior e
ex.ma família, estiveram em Serna-
che os srs. António José Valente,
António Sebastião Marques Va-
lente, de Mafra, e D. Amélia da
Silva Teixeira, de Ferreira do Zé-
zere, respectivamente tio, primo e
irmã daquele nosso amigo, acompa-
nhados do sr. Joaquim de Oliveira,

também de Mafra.

 

LITERATURA
Na Feira da Ladra

(História de um piano)
(Conclusão)

«Começa aqui a minha via: dolo-
rosa. Durante quinze anos as sete
meninas bateram-me em cima dos
pulmões com quarenta ou cincoenta
toneladas de valsas; gritei polkas,
geguejei lanceiros, e praguejei so-
aus. As sete meninas, à razão de
seis namoros por ano cada uma, isto,
termo médio, tiveram em quinze anos
seiscentos e trinta namoros. Ora ca-
da namôro obrigou-me a andar pelo
menos cincoenta kilômetros de ma-
zurkas, contradanças, xácaras, etc,,
o que deu em resultado, que no pe-
ríodo de quinze anos chouteei perto
de quarenta mil kilômetros de músi-
ca, e isto por caminhos escabrosos,
intransitáveis, cheios de calhaus em
redondilha menor.

«Oh! como são felizes os pianos
de agora, que já não acompanham
os versos dos poetas, como as es-
coltas acompanham os presos. As
ódes filosóficas dos menestreis re-
centes, alêm de serem sublimes, são
refractárias á harmonia.

«Eu queria que vocês, ó pianos
modernos, tivessem vivido como -eu
nos ominosos tempos do obscuran-
tismo, sob o regimen intolerante dos
solaus!

Por mim, meus amigos, eu já não
dava senão gritos, gritos dilacerantes
como os duma vítima indefesa, es-

ancada cruelmente. Mas não perce-
iam que eram as dôres que me fa-
ziam gritar, porque me julgavam im-
capaz, pela minha natureza, de as

 

“poder sentir. Quando eu. soltava

um grito dilacerante, como um ho-
mem a quem estavam cortando uma

erna, limitavam-se a dizer :— Está
hoje muito desafinado!

«Por fim vendo que não podia fa-
zer compreender áquela gente que
os meus gritos eram verdadeiros
gritos dé raiva e de tortura, decidi-
me então, em vez de gritar, a api-
tar—pela polícia.

Quando eu sentia na rua à meia
noite os guardas municipais, punha-
-me a apitar uma valsa durante meia
hora, a ver se me acudiam. E a pa-.
trulha, em vez de correr a livrar-me
dos dedos homicidas, parava em
contemplação defronte da janeia,
embevecida nas harmonias daquela
valsa, que parecia assobiada com a
chave dum trinco. Vendo que não
alcançava nada gritando ou apitando,
comecei então a ladrar, a guinchar,
a dar arrotos, a grunhir, a produzir
os sons mais irritantes, mais insu-
portáveis, desde a chiadeira desen-
gonçada duma carroça carregada |
de ferro, até ao ranger duma unha
comprida na cal da parede.

«Nem assim. As meninas conti-
nuavam a flagelar-me com A Lua
de Londres, A Saudade, O Marti-
rio, O Pirata, O Noivado do Se-
pulcro, emfim, com tudo quanto
constituia o regimen sentimental
dos pianos elegantes. Às vezes no
meio dum acompanhamento pega-
va-me, embirrava, e por mais que
me batiam não dava um compasso
para diante. Um belo dia, furioso,
tomei uma resolução heroica —
emudecer. Batiam-me, e eu calado.
Zangavam-se, esmurravam-me, de-
sancavam-me, e eu nem palavra —
moita!

Resolveram vender-me. Fui anun-

 

@@@ 3 @@@

 

ciado nas gazetas, como um belo
piano para estudo.

Comprou-me-um adeleiro por três
libras e meia.

Eu estava inteiramente, comple-
tamente arrasado. Tinha os pulmões
cheios de-cavernas, roídos de ferru-
gem. O-adeleiro no-entanto tais re-
médios me deu, tais coisas me fez,
que com grande admiração minha,
uma bela manhã accordei a tossir o
Barba cAqul.

«Fui então novamente vendido,
para uma menina de oito anos apren-
der no meu cadáver o alfabeto mu-
sical. Eu já não era um instrumento,
era um abecedário, uma loisa para
fazer riscos. Nunca tive orgulho,
mas, francamente, sentia-me vexado,
degradado. Depois eu estava doen-
tíssimo,n o terceiro grau da tubercu-
lose. Um dia, que felicidade! pega-
ram em mim, e aposentaram-me
com a terça parte das teclas no vão
de uma escada. Ali gosei meio ano
de descanço, numa escuridão pro-
funda e silenciosa, apenas perturba-
da de quando em quando pelo ba-
rulho dos ratos, que tinham: feito
dentro de mim uma colónia.

«Mas, ai! ao cabo de seis meses
chegou um ferro-velho, que me con-
duziu para uma baiuca miserável, e
me pôs nas costas um letreiro que
dizia o seguinte: preço 7500.

«Ali estive muito tempo, sem nin-
guem ousar tocar-me, protegido, de-
fendido por aqueles bravos 79500.
Bom, dizia eu, viverei em pazores-
to dos meus dias, neste silêncio
concentrado, tão útil na diplomacia
e tão agradável nos pianos.

«Mas nisto apareceu. um. empre-
sário duma barraca de feira, que
me alugou por dois meses, a: quar-»
tinho por mês.

«Durante sessenta dias e sessenta
noites, com tosse, com asma, dei-
tando sangue pela bôca, pelos ouvi-
dos, pelo nariz, eu estive expecto-
rando, grunhindo, gemendo, titubi-
ando uma série infinita de contra-
danças, hinos, polkas, marchas guer-
reiras, tudo isto perplexo, desarti-
culado, com arrotos, assobios, he-
moptises, e sobretudo grandes an-
cias, grandes faltas de ar de quando
em quando.

«Ao voltar para o ferro velho
tinha entregado a alma ao Criador.
Foi então que me trouxeram para
aqui, onde estou há três anos. Se és
meu amigo, se tens compaixão da
minha sorte, vai-te embora, e man-
da-me uma garrafa de óleo de figado.

Agora, meu amigo, deixa dizer-to
eu tive uma alma sonhadora, uma
aspiração íntima um ideal recôndito
que durante a minha longa existên-
cia ninguêm compreendeu, nem sou-
be fazer vibrar. Eu fui um pouco
como os homens, que nascendo poe-
tas, se fizeram guarda-livros.

Morro sem ter visto desabrochar
em pétalas harmoniosas o ideal des-
conhecido que eu sentia palpitar
misteriosamente, como uma ave den-
tro do coração…

Nisto fomos interrompidos por
um velho bricabraquista, um dêsses
coleccionadores infatigáveis, que an-
dam durante uma existência de 80
anos, como hienas disfarçadas em
espiões, remexendo em todas as
ruinas, em todos os destroços, em
todos os farrapos, para descobrirem
uma gravura, uma cadeira, um re-
lógio, uma chávena, uma moeda ra-
ra, ou a primeira edição em: papel
pardo de qualquer livro insignifican-
te.

Ha quarenta anos que êste homem
ia à feira da ladra, todas as sema-
nas, com a regularidade dum cronó-
metro.

Era alto, magro, cadavérico: um
esqueleto forrado de pergaminho.
Os seus pequeninos olhos de um
azul esverdeado e límpido, denotan-

do a subtileza da raposa e a perti- .

nácia do caruncho, escondiam-se para
espreitar, atravez duns óculos, como
dois ladrões atravez dum reposteiro.
O seu nariz era o bico duma ave
de rapina cheio de caruncho. O crã-
neo, calvo como um seixo, tinha os
preciosos tons amarelados que só a
antiguidade sabe dar. De sobo quei-
xo inferior, agudo e saliente—de fui-
nha e de teimoso— saía uma bar-
binha encanecida, musgosa, mefisto-

x.

 

félica. O dorso, finalmente, era ex-
cessivamente curvado, como o dum
homem que andasse, durante meio
século, de pé e no mesmo sítio, a
procurar uma libra que lhe tivesse
caído no chão.

Terminemos a história.

O nosso colecionador, apenas che-
gou, entre mil. objectos insignifican-
tes que estavam em cima do piano

– —frascos vasios, botas cambadas,

dragonas, uma seringa, etc. —desco-
briu um precioso prato do Japão,
como um abutre descobre ocadáver
duma rez a duas léguas de distân-
cia, |
Na pupila do velho coleccionador
passou durante um quarto de se-
gundo um relampagosinho de alegria.
Em seguida, com um ar ingénuo
e indiferente, sem olhar para o pra-

to, começou a ajustar, a discutir o,

preço do piano.

Fez-me lembrar os selvagens, que,
para acertarem num pássaro poisa-
do no chão, atiram para o ar a fle-
cha “sibilante, que, descrevendo um
arco, vai cair matemáticamente no
ponto desejado.

Ao cabo de meia hora comprou o
piano por dezoito tostões, incluindo
o prato, que lhe foi dado, como um
merceeiro generoso dá mais uma
onça de café, lançando-o bizarra-
mente na balança, aos seus fregue-
ses predilectos.

O piano; ao ver-se novamente des-
locado da sua beatitude dolorosa,
começou a gemer num suspiro fe-
bril, um suspiro de tísico, a ária fi-
nal da Traviata.

Mas, como todos os tísicos, que
teem ainda esperanças, um minuto
antes de morrerem, a misera carcas-
sa plangitiva, ao partir para sempre,
como em caixão de defunto, ás cos-
tas dum galego. Disse-me ao ouvido,
baixinho, com um ar de alegria me-
lancólica:—«Ainda me restabelecia
com certeza, se me levassem para a
Ilha da Madeira!…»

Coitado ! Não lhe fizeram a von-
tade, levaram-no para um outro cli-
ma bem mais quente—o-lume do
fogão. Eu ML
Guerra Junqueiro.

apenas

Amor de mãe

Nos subúrbios duma grande cida=
de vivia uma família fidalga, hones-
taerica.

O mais amimado dos filhos era o
primogénito que havia de herdar o
morgado de seus antepassados.

Apesar de todos os cuidados e ca-
rinhos dos pais, saíu o rapaz bron-
co como um calhau, usando dum ca-
lão de arreeiro bem próprio do seu
feitio pretencioso e acanalhado.

Parecia mais um produto repleto
de taras atávicas originárias dalgum
maltez velhaco e estúpido do que fi-
lho de gente honesta, educada e tra-
balhadora.

Habituado a satisfazer livremen-
te todos os seus caprichos, era raro
o dia em que não ia à cídade a fim
de malbaratar o dinheiro que seus
pais lhe davam esperançados em
que a convivência lhe desse aquilo
que não obteve na casa paterna e es-
cola—ilustração, maneiras de gente
educada, e linguagem decente e cor-
recta.

Baldado empenho porque aquele
cérebro nada assimilava e para as
arestas do seu caracter não havia li-
ma que as pudesse modificar.

“Uma coisa sabia apenas e era que
seus pais lhe transmitiriam intacto
e aumentado o património herdado
de seus maiores.

Da sociedade tinha a simples e

errada noção de que os ricos não .

nasceram para trabalhar e produzir,
mas sim para gastar perdulariamen-
te na satisfação de todos os seus
apetites ainda os mais impróprios
dum homem de brios,

Sentia uma atracção irresistível
para os bairros sujos, para conviver
com a ralé que se embriagava com
a guitarra, o vinho e as mulheres
caidas no fundo das últimas escalei-
ras da honra. ;

A princípio sentira uma certa re-
lutância por aquela vida desregrada,

9

 

BEIRA

efeito das nobres flôres de sentimen-
to que sua terna mãe havia tentado
semear-lhe no coração. Este, como
terreno sáfaro, negara-se a produzir
os frutos daquela benéfica sementei-
ra, dando como resultados inespe-
rados —a embriaguez e a crápula.

Era vulgar vê-lo de guitarra em
punho dedilhando o fado, sublinha-
do com rônquidas quadras, em que
a moral sofria tratos de polé, ende-
reçadas às mais reles prostitutas !

Um dia o pai, ao vê-lo entrar em-
briagado em casa, não pôde conter-
se que lhe não exprobasse, em ter-
mos enérgicos, a sua conduta censu-
rável,

O biltre, ouviu cinicamente a re-
primenda e a sua desculpa consis-
tiu apenas em esboçar um sorriso
de mofa

A mãe, indulgente até ao excesso
de atingir as raias do seu ilimitado
afecto, recolheu-se aflita e, após
uma síncope de cuja duração não te-
ve consciência, encontrou-se caída
no pavimento do seu oratório par-
ticular.

Algum tempo depois ergueu-se
confusa, e poucas palavras de prece
sentida teria proferido, quando as
suas duas filhas a vieram abraçar
sobresaltadas, porque ha muito a
procuravam debalde.

Solene e heroica, deu explicações
tranquilizadoras, mas as lágrimas,
que lhe queimavam as faces puze-
ram-na em risco de se atraiçoar. In-
timamente sentia-se vexada por ter
um filho tão libertino e contumáz, e
debalde procurava explicação para
aquela fenomenal degenerescência.
| Passaram-se tempos e emquanto
a mãe definhava no silêncio do seu
indiscritível sofrimento, êle seguia

“a sua máestrela a ponto decatirar

com seu pai para a hórrida escuri-
dão da loucura.

As irmãs, como aves tímidas, es-
boçavam por vezes uma ou outra
queixa impregnada de mágua fra-
terna, mas aquela fera não se co-
movia, ficando insensível e ovante
como um rochedo acariciado pelas
brizas. :

Numa amena tarde de outono, an-
dando à caça, encontrou, num bos-
que pouco afastado do portão armo-
riado do solar de seus pais, uma
mulher que desde logo o fascinou.

Vestia bem, era inteligente e for-
mosa, é tão facilmente se pôz à von-
tade que êle se rendeu aos seus ama-
vios.

Ao despedirem-se, tendo combi-
nado uma entrevista para breve, ati-
rou-lhe ela um beijo garoto na pon-
ta dos dedos, emquanto êle se sor-
ria alarvemente.

A sua estupidez de morgado não
lhe permitiu concluir que aquela
mulher alegre e fascinante não pas-
sava duma caçadora de parvos en-
dinheirados, duma dessas rameiras
espertas que . se deliciam em depe-
nar fidalgos de sangue dessorado.

No dia aprazado para a entrevis-
ta acordou cedo-e, alvoraçado pelo
entusiasmo da conquista, vestiu-se
apressadamente, tendo o cuidado de
colocar na lapela do casaco un cra-
vo fresco, tirado do ramalhete de
flores que sua terna mãe lhe colo-
cava todos os dias sôbre a secretá-
ria.

A pressa de chegar e o grande
delírio que lhe causava a lembrança
dos momentos deliciosos que ía pas-
sar, arrastavam-no, quási correndo,
sem atentar nas viélas imundas que
percorria, e nas caras patibulares
que o encaravam como um intruso
naquele bairro miserável.

fer aêndo ao número indicado,
subiu a escada e bateu com tal fôr-
ça à porta que sobresaltou os ingui-
linos e vizinhos. :

Declinado o seu nome, abriu-lhe
a porta uma velha proxeneta que o
conduziu para uma saleta asseada,
onde pouco depois aparecia a sua
deusa !

O morgado, dobrando o joelho,
beijava-lhe a mão, quando um indi-
viduo de grenha revolta e fato de
fadista aparecia e lhe desfechava
uma estrondosa gargalhada encaran-
do-o com altivo desprêso !

O nosso heroi, surpreso e apar-
valhado, levantou-se e, emquanto se
assoava estrondosamente para re-

 

pelir a cobardia que:lhe era própria,
ouviu O intruso, já no limiar da por-
ta, dizer para a Dolcinea: até logo
ó Micas, engazupa-me bem esse par-
valhão !…

O morgado caíu varado sôbre uma
cadeira e, bastante atrapalhado, bal-
buciou irónica e adocicadamente :
com que então a senhora chama-se
Micas; e refeito do susto, já com
ar fanfarrão, acrescentou—e aquele
fadista é seu amante?! E eu à su-
pôr que a senhora era uma mulher
honesta capaz de merecer o meu
afecto !!

— Tudo pode conciliar-se; é ques-
tão do senhor morgado querer.

—Querer o que?

—Sim, queria eu dizer que talvez
possâmos chegar a qualquer acôrdo
desde que eu saiba-o que de mim
pretende.

—O que quero é bem simples
que sejas só minha, exclusivament e
minha, repara bem. Para: isto, que
exiges? Rei

Ora, ora; que me ponhas casa,
me sustentes, vistas, paguese:di-
virtas, e. . . que me provés primeiro
que gostas de mim e me tens amor!

—Eu posso fazer-te tudo o que
indicas e emquanto a provar-te que
te quero e amo, dou-te já um beijo.

—E’ pouco; preciso duma prova
mais eloquente. id:

— Qual?

— Que vás a casa, mates tua mãe
e me tragas aqui a sua cabeca! Se
o fizeres, então acreditarei no teu
amôr.

-—Essa agora… matar minha
mãe?! .

— Ah! ah! ah!; deves dever-lhe
muitos favores. Acaso te tem dado
para a pândega tudo o que lhe tens
pedido? +. –

—Tudo, não; mas tem sido ge-

“nerosa e boa para mim.

-——Não quero saber; faze o que
quiseres, mas lembra-te de que, ou
cumpres a condição imposta, ou nun-
ca me possuirás.

“Então, adeus; mulheres há tan-
tas. . e salu-

Quaudo chegou à rua encontrou
um amigo, .estroina como êle, que,
saía doutra casa duvidosa.

– Cumprimentaram-se, e seguindo
juntos, entraram pouco depois num
café onde abancaram e pediram umas
garrafas de vinho Bucelas e copos.

Foram falando e bebendo a pon-
to de ficarem fortemente embriaga-
dos.

O nosso morgado despediu-se, se-
guindo para casa onde chegou pelas
duas horas da-tarde.

Ao entrar no quarto com ideia de
dormir a sésta, tirou O casaco e ao

“lançar-se sôbre a cama viu na mesa

de cabeceira a navalha sevilhana
que era a sua companheira insepa-
rável nas noites de orgia.

Um pensamento horrível lhe atra-
vessou o cérebro doentio excitado
pela embriaguez, e, numa fúria lou-
ca, abre a navalha e corre à varan-
da onde sua boa mãe se achava bor-
dando uma toalha.

Num ímpeto de fera, derruba-a
do banco, róla-lhe cérce a cabeça,
mete-a na toalha, e, empunhando
aquele fúnebre despojo, desce pela
escada da quinta, por onde foge es-
pavorido!!

Pouco depois, pondo um pé em
falso, escorrega e cái sôbre’um pou-
co de cascalho.

Emquanto soltava uma:praga hor-
rível, ouviu de dentro da toalha,
num grito de aflição repassado de in-
finita ternura, a vóz da mãe pergun-
tar-lhe carinhosamente : —-magoaste-
te meu filho?!

Sernache, 14: 10-014.

Pé Cândido Temcirar

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exgotados pelos excessos ou privações, etc., etc.

Mostra a analise bateriologica que a Agua da Foz da Centã. tal como
se encontra nas garrafas, deve ser considerada como microbicamente
pura não contendo colibacitlo, nem nenhuma das especies patogencas
que podem existir em aguas. Alem disso, gosa de uma certa acção microbi-
cida. O B. Tifico, Difeterico e Vibrão colerico, em pouco tempo
nella perdem todos a sua vitalidade, outros microbios apresentam porém re-
sistencia maior.

A Agua da Foz da Certã não tem gazes livres, é limpida, de sabor le-
vemente acido, muito agradavel quer bebida pura, quer misturada com

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