Eco da Beira nº8 04-10-1914
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Assinaturas:
ADO ss anta cold TIO
Semestre… …. En)8j0)
Brazil (moeda brazileira). .. ‘ 5ibooo
Anuncios, na 3.º e 4.º página 2 cen-
tavos a linha ou espaço de linha
mama
Passa mais um aniversário da
proclamação da República Por-
tuguesa!
Quatro anos volvidos depois
que o exército e a marinha, num
temerário rasgo de audácia, num
supremo esfôrço de patriotismo,
com a sublime e sedenta aspira-
ção de fazerem da sua terra uma
pátria nova e livre, num heroico
movimento revolucionário, que,
pela sua grandeza e pela sua ge-
nerosidade, não tem semelhante
na história das revoluções, de-
puzeram a Monarquia e procla-
maram a República!
As prosperidades que os pro-
pagandistas nos prometeram não
foram uma’ mentira: os benefi-
cios aí estão bem patentes na
benéfica transformação do. país
em todos os ramos de adminis-
tração pública.
Respira-se a plenos pulmões
o ar puro e sacrosanto da liber-
dade.
E’ bem essa pátria nova e glo-
riosa que todos nós sonhámos
nas horas amargas da opressão
do regime deposto.
E, assim, a República aí está
hoje integrada na vida nacional,
caminhando já com passo firme
e decidido, e consolidada a sua
existência, absolutamente neces-
sária à reabilitação da pátria
portuguesa.
Nós a saúdâmos desta modes-
ta tribuna, saúdando, ao mesmo
tempo, os homens que a fizeram
e a teem servido e honrado.
E sôbre a campa dos mártires
que por ela se sacrificaram sem
terem a suprema ventura de a
verem implantada e compartilha-
rem dos seus benefícios, nós
desfolhâmos os goivos roxos da
nossa mágua, numa dorida co-
memoração.
enpeRSdas o
António Gosta
Com sua ex,” esposa regressou
a sua casa-de Matosinhos o nosso
querido amigo António Costa, a
quem ‘enviâmos um grande e saudo-
so abraço de despedida.
casa Ss
Cológio das Missões
Terminou no diá 26 de Setembro
último o prazo do concurso para ad-
missão de alunos neste instituto.’
Foi de 64 o número de concorren-
tes. ç
As vagas são 12.
*
A matrícula para alunos externos
está aberta de 5 a 15 do corrente.
: PROPRIEDADE DO CENTRO REPUBL
a
a
&
&
“Viva a Inglaterra!
As festas do aniversário da pro-
clamação da República tiveram êste
ano o prólogo dum acontecimento
sensacional, de assinalada significa-
ção política, e, porventura, de valor
universal, no actual momento his-
tórico. É :
A vinda do couraçado inglês Ar-
gonaut ao Tejo, expressamente pa-
ra saudar a bandeira da República
e, por sua vez, receber as sauda-
ções do povo português é um facto
histórico já de si grande mas maior
ainda pelas declarações e palavras
de cumprimento, ponderadas e so-
lenes do almirante De Robeck.
Escusâmos de acentuar o signi-.
ficado dum tal acontecimento, es-
creve o nosso presado colega do
Mundo:
A bandeira inglesa, hasteada em um dos
seus navios de guerra, vem ao Tejo saudar
de propósito a bandeira da República Por-
tuguesa. Eis O facto. Portugal, com a Repú-
blica, afirmou cada vez mais as suas ener-
gias e as suas engénitas capacidades de viver
num destino próspero, livre e progressivo.
A Pátria volveu à posse da nação. O povo é
quem representa a Pátria, não é, como ain-
da ha quatro anos, o privilégio de um sin-
dicato divorciado do povo que a simbolisa,
explorando-a para seu interesse e brilho.
A Inglaterra experimenta a manifestação
dêste avigoramento de uma nova idade em
Portugal. Aqui existe realmente um povo
que, pelo trabalho e pelo patriotismo, res-
surgirá para futuros dias de glória. Demos
tambem agora uma afirmação de carácter,
que é o sinal mais evidente e mais eloquen-
te de que somos um país vivo, uma nação
de alma forte e de sangue puro: declarada a
guerra, colocámo-nos imediatamente ao la-
do da Inglaterra, como seus aliados fieis e
leais, e ao lado dos aliados, como comba-
tentes de uma causa sagrada, não obstante
o que se afirmava a propósito do êxito mi-
litar germânico; Nós não. estivemos á espera
de ver quem seria provavelmente o vence-
dor para… aderirmos. Demos uma afirma-
ção de carácter nacional, talvez única na Eu-
ropa, nestes instantes de desesperada dúvida!
Assim o reconheceu a Inglaterra,
a maior potência marítima, senão a
maior nação do mundo, que da sua
esquadra de combate destacou o seu
navio almirante para o nosso pôrto,
saudar a bandeira da República,
simbolo. sagrado da Pátria desde a
gloriosa revolução de cinco de Ou-
tubro que para todo o sempre abo-
liu a monarquia em Portugal!
« Tudo difere do passado, em re-
lação ao presente. Mas hoje, como
ontem, nós estamos certos dos senti-
mentos da nação portuguesa.»
Estas palavras do almirante in-
glês devem ter caído como gôtas de
chumbo derretido na alma dos in-
signes patriotas que ainda volvem
pares saudosos para o passado!…
Viva a República !
Viva a Inglaterra!
essas
Alfredo Pires
Está na sua casa do Nesperal com
sua ex.ma esposa. e cunhada, D. Al-
da, o sr. Alfredo Pires.
Os nossos cumprimentos.
Partida
Saiu para Lisboa o sr. Dr. Abilio
Marçal, director dêste jornal,
DIRECTOR — ABILIO MARÇAL
Editor e administrador – ALBE Ra O RIBEIRO
EE
by OZes…
>ssa—
A dos talassas rosnara ontem as-
sim :
Que a vinda do couraçado: inglês
a Lisboa: saudar ‘a bandeira: portu-
guesa e cumprimentar o govêrno da
República se devia à intervenção e
grande influência do sr. D. Ma-
núelis
Estão cada vez mais brutinhos.
Custa a engulir, custa.
Meninos, agora, contas e. borra
chai a
* ‘
Na da Beira escreve-se o seguin-
te:
-—Regressou da Calvaria o sr. José. An-
tunes.
— Retirou para Ventoso o sr. José Ca-
marão.
— Está já na sua quinta o nosso patricio
Camarão, tendo chegado. ha dias no seu
belo «automóvelo.
A? parte o espírito da notícia, é
de registá-la.
O sr. José Antunes é umhonrádo
artista, um exemplar chefe de famí-
lia e um bom cidadão.
“Tem como muita gente boa uma
alcunha, Chamam-lhe o «Camarão»
de que êle pode gostar ou não gos-
tar.
E foi para lhe chamar êste nome
que o correspondente se “encarrapi-
tou na trapeira da Voz da Beira.
Na trapeira ou no saguão…
Ora, aqui está para que serve um
jornal—para enxovalhar um homem
de bem.
Para dirigir chufas a’um cidadão
que o articulista não encontra: nos
alcouces.
E vá lá um homem livrar-se du-
ma pedrada destas!
Arremessada de dentro dum edi-
ficio que tem na frontaria a’ indica-
ção de morar ali, pelo menos, um
homem de bem!…
Arte de Gutemberg !…
*
Da mesma:
Está reedificado o «Pombal» que se fez
dum confissionário.
— Está.
E dizem para aí que o vinho es-
RR a
PELA INSTRUÇÃO
Desde sexta-feira última que es-
tão funcionando neste concelho 5
missões de escolas móveis—na Co-
diceira, no Pampilhal, na Quintã,
no Pôrto de Fuzos e no Bravo, :
Destas missões, três são manda-
das pela benemérita Associação das
escolas móveis pelo método de João
de Deus e uma pelo govêrno.
O sr. Hermínio obrdo comô
presidente da comissão executiva da
câmara empregou os seus melhores
esforços para conseguir do ministé-
rio da instrução mais duas missões
e Um cúrso nocturno mas as suas
diligências foram infelizmente infru-
tíferas, nada mais conseguindo do
que aquelas duas, já com destino
certo, como lhe foi assegurado par-
ticularmente, limitou-se só em re-
clamar oficialmente.
Não obstante, reconhecemos que
é importante a dotação concedida a
Publicação na Certã
Redacção e administração em
SERNACHE DO BOMJARDIM
Composto e impresso na Tipografia Leiriense
LEIRIA
êste concelho, e êsse facto registã-
mos com o maior prazer pois dêle
vão resultar largos benefícios para
a instrução dêste concelho.
“LITERATURA |
Mater Dolorosa
No campo e de verão, rompe o
dia às três e meia, quando a cotovia
faz a sua primeira ascenção nos ceus,
pera dar do. alto, aos voláteis em-|
oscados nas fôlhas, nas hervas sê-
cas das barranceiras, nas tocas, nos
canaviais nas balsas, rumor para a
grande pastoral beethóvnica da ma-
nhã. Acesa na palidez do horisonte,
a estrêla de alva tem frémitos de,
pálpebra sonolenta. Vai-se rasgando
a névoa das alturas, de envolta com
exalações silvestres dos vales— e
cardumes de nuvemsinhas brancas
ondulam as barbatanas de renda,
por toda essa piscina cérula, que é
desconforme como uma ambição de
rapaz.
oi quando Desidério Jacinto, re-
tomando os alforges e a manta, as-
sobiou aos rafeiros e fez partir O
rebanho pela outra encosta da mon-
tanha. Mesmo no cabeço, alastrava-
se uma clareira redonda, entre pe-
dregulhos e restos de um moinho
abandonado. E deitada numa atitu-
de indiferente, cabeça no chão, o
focinho coberto de mucos, a pobre
ovelha viu partir as companheiras,
e deixou-se ficar de guarda ao ca-
daver do pequenino borrego, das
suas RD nascido. Prolongou-
se a manhã, acordaram os arvore-
dos e os pássaros, passaram, num
vôo pesado, bandos de perdizes a
matar a séde lá em baixo, nos ra-
ros pegos da ribeira… Veio o sol,
abelhas zumbindo, bandos de bor-
boletas. fulvas, gafanhotos e sarda-
nicas nervosas, tudo o que começa-
va o seu dia alegremente, lutando,
trabalhando, cantando.
E o rebanho já longe, fazia no
toque dos chocalhos plangente, uma
poesia rústica, simples e penetrada
de melancolias. ,
Quando de repente, dois corvos
pousaram nos alicerces do moinho.
Eram enormes êsses dois corvos,
com penas azuladas luzindo de ce-
rumen, crespas e afiadas como cu-
telos de bom aço. E impertigavam-
se um para O outro, ne are os
bicos num quasi beijo de aliança,
aos saltinhos nas pedras, firmando
patas, balanceando os rabos, com
os olhos oblíquos sôbre a mãe e sô-
bre.o filho. E estendendo os bicos
córneos, dentados meudamente no
bordo, longos e negros, quedavam-
se numa, espécie de consulta, sem
grasnar, sem mexer como planean-
do campanha. O maior então atre-
veu-se a olhar de perto os dormi-
nhocos do rebanho, e veio marchan-
do clareira fora contra o borregui-
nho morto, com sobrecenho de in-
quisidor, sinistro e fero—em quan-
to o outro ficava à espera, todo in-
quieto, voejando, consultando as vi-
sinhanças, mais cobarde talvez! A
ovelha nem dera rumor.
Conservava a cabeça inerte para
a terra, as pernas dobrando sob o
pêso do corpo, orelha caída e mole,
e sem movimento a cauda, parecen- parecen-
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um
pr
do morta. Aquela postura extinta
animou o carnívoro, que veio mes-
mo ao pé do grupo, se poz a andar
de redor mansamente, assentando a
Data com uma espécie de precaução,
geitos desdenhosos de cabeça e sur-
dos ruidos de serra no bico podero-
so. Mas nos alicerces afastados do
moinho, dois corvos mais acabavam
de pousar, inda maiores e mais ne-
gros.
Já o sol causticava nos saibros e”
vinha sêco um chiar de cigarras nas
árvores. Atraidos uns pelos outros
agora, os malditos abatiam-se aos
bandos, depois de voejar em eli-
psoides, muito alto, por cima da
prêsa. E as duzias, as cabeças fú-
nebres surgiam por traz das rochas,
armando conclaves de momento, de-
bandando como fantoches, vindo de
novo remoinhar aos saltinhos, on-
dulando, subindo, descendo o que-
brado circuito, como n’uma dança
seivagem.
O ataque parecia ordenar-se, à
medida que se espessavam fileiras.
Havia ja um chefe, velho corvo sem
cauda, ferozmente famindo e audaz,
que afinal com um grande pulo, caiu
no cadaver às bicadas. Os mais cer-
raram-se, apertando circulo, cingin-
do os dois corpós imóveis, batendo
o chão compassadamente, com ri-
tmos de marcha guerreira. E mal
um dêles grasnou, não sei que or-
dem de batalha, grasnaram tambem.
os mais, num côro estridente e lú-
gubre, que abria em risada, termi-
nando numa espécie de uivo, gutu-
ral e rouco. Nêsse momento, à ove-
lha ergueu a cabeça de vagar, fir-
mou meio corpó nas patas diantei-
ras, esteve a olhar de narinas altas,
sanguinolentas pela mordedura do
moscardos gangrenosos.
Aquele movimento fez uma hesi-
tação no exército de grasnadores
fatídicos cujo círculo se alargou ver-
gando em receios de castigo. Viam-
se os bicos alinhados, convergindo
sobre a ovelha e a cria exánime em.
ar de pontaria, e fazendo para dén-
tro do circulo uma golinha negra de
punhais. E se ao mesmo tempo as
cabeças voltavam, dêsses olhos cha-
mejantes, inquietos e febris, fuzila-
va um sardonismo feroz, uma como
certeza de vitória e provocações mu-
das, em que havia inteligência.
Quando a ovelha fitava um grupo,
êsse grupo imobilisava-se com ati-
tudes marciais, as pernas em fila,
caudas em fila, as azas pendentes
como abas de casaca, num enterro.
Mas o resto, convergia por detraz
da mãe aflita, de mansinho, aos en-
contrões, com frémitos de impa-
ciência já, mas preferindo cançá-la
pelo cêrco, deixá-la agonisar para
ali, de impotência, junto do filho co-
berto de moscardos verdes. E como
se sentiam fortes pelo numero, lon-
ge das vistas de homem, senhores
do campo e espicaçados de calma,
entravam já de escaramuça, arman-
do sortidas, aos pulos no mesmo si-
tio, enfunando as azas como para
aligeirar os corpos, prontos ao pri-
meire sinal. O corvo velho, estava
na frente, contemplando o cadaver
de cabeça reflexiva com ideias tal-
vez na preza do leão. E muitos pi-
cavam o terreno ao acaso, como a
disfarçar os intentos, emquanto a
ovelha se levantava custosamente, e
com o corpo mirrado, pernas osci-
lantes e narina aflita, vinha cobrir
os restos do seu pequeno defunto.
Chovia fogo do céu embaciado e
calmo, como de um capacete em
braza. Fumos sujos de queimadas,
subiam direitos de onde a onde; e
era a hora terrível em que a paisa-
gem não tem sombras, nem corren-
tes o ar, e vem scentelhas cruas de
todos os ângulos e todas as superfi-
cies.
O borreguito morto estava de ôlho
esbogalhado, numa espécie de êxta-
si à luz, meios risos na boca entrea-
berta, onde já havia larvas de insec-
tos. É a ovelha guardava-o entre as
patas, girando com a cabeça por um
e outro lado, à medida que a petu-
lância dos corvos recrudescia.—Os
seus balidos frouxos, vindos do fun-
do do peito, tinham modulações de
um desespêro mortal, e umas vezes
imploravam graça debalde, vibran-
do em lágrimas de sangue, referindo
A IGREJA DO COLÉGIO DAS MISSÕES
que era aquele o seu filho, contando
‘a vida do rebanho, querendo abalar
pela comoção ; outras vezes perdida
a esperança, eram uma imprecação
à insensibilidade de-Deus e do céu,
e rouquejava de angústia. O corvo
velho por fim, saltou de vez, e com
uma bicada gulosa arrancou um ôlho
ao cadaver. Então os mais vieram
em turbilhão, esbofeteando a mãe
com as azas metálicas, grasnando de
voluptuosidade na disputa “de algum .
bocado…Com esforços desesperados,
a ovelha resistia, marrando nos al-
gozes com a sua fronte sem cornos,
—e recuava, punha em rotação a
anca e os membros posteriores, sal-
tava bruscamente espicaçada, nessa
“grande luta desigual. Apenas, êsses –
bicos todos, lacerando a pele do cor-
deiro, lhe desnudaram a vermelhi-
dão da carne, não houve mais resis-
tência possível, tamanho o ímp.to
da investida! Agonisando então, por
todo o corpo “ferida, e escorrendo
ém sangue em borbotõas, a ovelha
“já não sabia que fazer. Balava rijo,
erguendo o focinho coberto de mu-
‘ cos rutilantes, perdera um ôlho. na
peleja—mas investindo sempre, a
desgraçada! Bb :
nda era já tudo impossível, e
– O borrego pelos rasgões do ventre,
bolsou os intestinos num comêço de
podridão, nada pode dar ideia da
alegria selvagem, e pantagruélico
apetite, dessa canalha sem – freio.
Disputavam-se os: bocados de: bico
para-bico; os mais atrevidos: aloja-
‘ vam-se por baixo da ovelha, no in-
tuito de se banquetearem melhor.
Num derradeiro balido, em que
se exalava tambêm o esfôrço derra-
deiro, deixou-se a mãe cair para ci-
‘ ma do filho, aniquilada, resignada,
sem, queixa—e até à última convul-
são defendeu o cadaver, oferecendo
o triste corpo de múmia em resgate
por aqueles queridos despojos. Já se
não sentia ao largo o rebanho, e no
silêncio adusto do calvário, por todo
o dia à vontade, os corvos tiveram
festa.
Fialho d’Almeida,
Fases
DIZERES DO POVO
(Rifões e comentários)
Quem tem filhos tem cadilhos
Tem-nos quem os não tiver
Quem tem filhos inda vive
Mesmo depois de morrer.
Homem pobre com bem pouco
Se alegra—diz o rifão.
Não há nada como a fome:
Para dar valor ao pão.
Linda cousa é meio dote
— Diz o rifão lisonjeiro—
Digo eu: ter linda a alma,
“Inda é mais—é dote inteiro.
Pobresa não é vergonha
Nem devia ser tristesa
Vergonha é ter como tantos
Pão alheio na sua meza.
As paredes tem ouvidos.
Murmurais : cuidado em vós!
Pensai no que elas diriam
Se tambem tivessem voz.
Palavra fora da bôca
E pedra fóra da mão
Mas as pedras vão e ficam…
As palavras vem e vão.
Grande nau, grande tormenta—
Ai dos pequenos do mundo
Em tormento a vida inteira
Qualquer onda os mete ao fundo.
E como um corpo sem alma
A casa sem ter mulher.
Não tem luz dentro de:si
Dê-lhe o sol como lhe der.
A. Corréa de Oliveira
Esteve em Sernache, com sua ex.”
família, de visita ao sr. Libânio Gi-
rão, o nosso amigo sr. Manuel Fer-
nandes Pereira.
Com suas ex.mMas irmãs, regressou
da Figueira da Foz o nosso amigo
António da Silva Ribeiro, digno
professor oficial no Carvalhal,
Confesso que vou es:rever êste
artigo com uma grande contrarieda-
qe.
‘ Reconheço a delicadeza da minha
“Situação é compreendo bem os seus
m lindres, que muito reduzem a la-
titude da minha exposição e me li-
mitam os meios de defesa. O assun-
to não me é muito agradável e mais
desagradável. me é ter que voltar a
êle para contrariar afirmações dum
homem da minha convivência diária
e com quem tenho tido relações de
ordem vária, em que sempre tenho
mantido a maior correcção e cordia-
lidade. Mas o sr. padre Bernardo
assim o quer… 5
Verei, entretanto, se nessa correc-
ção me contenho, não confundindo
a crítica: com a. injúria, .ao menos
para aceitar o conselho final da sua
exposição, ao que se viu para uso
dos outros, porque êle adoptou pro-
cessos bem diversos.
No primeiro artigo que aqui pu-
bliquei, propositadamente afastei da
discussão a individualidade do..sr.
| padre Bernardo, muito embora ne-
nhuma dúvida tivesse de que era a
êle que eu devia a campanha de
descrédito que se me vinha fazendo
a tal respeito; e, se numa passagem
me referi ao presidente da junta de
‘ paróquia, foi sómente para me quei-.
xar da perfídia e pôr em relêvo a
injustiça com que era tratado.
Mas o sr. padre Bernardo agas-
tou-se e veio para a imprensa irri-
tar uma questão que bem podia de-
correr serenamente, sujando de in-
sinuações odientas, até contra pes-
soas extranhas á polémica, um arra-
soado que êle, por todos os motivos,
devia conter nos limites duma sere-
na exposição de factos, com’gramá-
tica e senso comum.
O articulista apesar de não pa-
decer, como eu, da infelicidade. de
: : al e
ter «variados e multíplices miste-
res,» socorre-se, para a sua cantile-
na, dum canhênho que tem a data
de 1893.
Se êle porêm, em todas as suas
partes é escrito com a mesma-exac-
tidão histórica daquela que se refé-
re á igreja do colégio das missões,
pedimos-lhe que não o legue á pos-
teridade para não a lograr e des-
nortear!
Aquilo não é um repositório: de
factos nem um registo de impres-
sões: abre em almanaque de chara-
das. e fecha em almocrerve das pê
tas…
A charada está no/primeiro pe-
ríodo da sua exposição, que nin-
guêm será capaz de. entender; e as
inexactidões pejam o resto da per-.
lenga.
E? certo que o sr. padre Bernar-
do, após o encerramento da igreja,
me procurou para que eu interviesse
no sentido de se conseguirem’para
a igreja matriz as insígnias, alfaias
e paramentos do colégio.
Nesse mesmo dia procurei o sr.
capitão Valente da Gosta, então di-
gno director do colégio, pedindo-lhe
em tal sentido os seus bons ofícios,
e, concedidos êles, intervim com o
mesmo fim junto da junta de paró-
quia, e esta fez a sua representação,
a que eu, como administrador do
concelho, der-o devido destino.
A ideia da restituição do templo
ao culto nem sequer foi considera-
da: eu sabia que ela seria redonda-
mente negada.
Esta é a verdade.
Mas as falsidades seguêm.
“Logo a seguir escreve o sr. padre
Bernardo:
Após as últimas eleições camarárias, pe-
diu-me o mesmo sr. dr. Marçal para fazer
parte da actual junta, ao que-anuí;mediante
a recomendação já feita sôbre o destino da
Igreja.
Tudo foi correndo sem uma solução sa-
tisfatória, projectando o Director do Colé-
gio, Valente da- Costa, ora aplicar o tem-
plo a escola de artes e ofícios, ora a-biblio-
teco e museu.
Aqui há fôlha truncada no canhê-
nho.
Em primeiro lugar, quando -eu
convidei o sr. padre Bernardo a fa-
zer parte da junta, não recebi dele
recomendação alguma sôbre a igre-
|“ ja. Não falamos em tal assunto.
Quem interveio, de perto e de
longe, neste caso da eleição da jun-
ta, sabe bem que a sua entrada nela
teve outras causas e outros fins e
até mesmo a sua escolha para pre-
sidente foi feitana véspera e porven-
tura no próprio dia da eleição.
Em” segundo lugar, o sr. capitão
Valente da-Costa-já não era;aotem-
po, director do colégio…
Bem pode, pois, emendar os apon-
‘ tamentos.
Diz mais adeante:
«Soaram logo as disposições des. ex * e
alguêm da freguesia letnítrofz vem ao meu
encontro para coadjuvar uma pretensão
louvável, a :onselhada pelo Director do Go
légio. É
Recusei me, como é natúral, porque não
podia interessar me por freguesias estra–
nhas a Sernsche, estando pendente uma re-
presentação com informação favorável.»
O caso é o seguinte:
À uma pessoa de família comuni-
quei a resolução do govêrno de
mandar’ distribuir os paramentos
pelas freguesiaslimítrofes. Do caso:
foi dado conhecimento ao sr. páro-
co de Castelo que, zelósamente,
pretendendo que a sua igreja fôsse
contemplada, pediu a intervenção do
sr: padre Bernardo, que a negou, ao
que me constou, em termos ásperos.
Como é que a representação po-
dia estar pendente, se era com fun-
damento no despacho que a resol
vera qué eu procedia?!…
Mas, as falsidades seguem. Logo.
a seguir diz êle’ que se limitou a
pedir um confissionário, quando sou-
be que um se havia inutilizado e
outro havia sido cedido ao sr. pa-
dre Hermínio…
Maldito canhênho!
Ouça o leitor:
A primeira pessoa que me pediu
um cenfissionário foi êle, quando
êles ainda estavam no seu lugar
próprio.
No dia seguinte chamei o guarda
da igreja e ordenei-lhe que entre-
gasse ao sr. padre Bernardo o que
fôra do seu uso.
Demorou-se êle em mandá-lo bus-
car e, semanas depois, mandei-o re-
mover, com os outros, para o claus-
tro. Foi ali, quando:o sr. pároco do
Nesperal estava escolhendo um pa-
ra a sua igreja, que eu, verificando
que o que estava destinado ao sr.
padre Bernardo, estava em mau es-
tado, o mandei inutilizar e lhe des-
tinei outro, que êle depois mandou.
buscar. a
O sr. padre Mendes e outras pes-
soas que no caso intervieram podem
dizer se esta é ou não à verdade.
Veja o público se isto se parece
alguma coisa com o que êle afirma!
Bem sei que são simples inexacti-.
dões do seu canhênho, nem eu pos-
so presumir a mentira na boca dum
eclesiástico e professor num institu-
to de instrução secundária; mas nas
consequências são de efeitos muito
semelhantes, pois obrigam a um des-
mentido, que é sempre um desaire
para um homem de bem.
E eu bem desejava evitá-los, mas
os apontamentos do:sr. padre Ber-
nardo. teem o: merecimento de não.
conterem, a tal respeito, uma única
verdade e eu não posso consentir-lhe
inexactidões nem mesmo nas refe-
rências.e chamadas que faz aos que
com esta questão nada teem.
Assim, êle atribue às suas rezas
e ao sr. Hermínio Quintão em co-
mum e partes iguais o encerramen-
to da’igreja.
Esta falsidade é uma reincidência
de má fé. E é até uma pretenção al-:
go ridícula supôr que o govêrno de-
terminou tal acto com medo dos
sermões, alias abusivos. do sr.-pa-
dre Bernardo.
Aqui quer armar em apóstolo, de
candidatura para o martiriológio.
O sr. Hermínio Quintão, é um
perfeito. homem de bem, incapaz
duma intriga ou duma infâmia, de
linhas um tanto duras mas sinceras
e liais e que não receia confrontos
com o sr. padre Bernardo em qual-
quer manifestação de dignidade in-
dividual ou profissional,al,
@@@ 3 @@@
Quando foi do encerramento do
templo êle nem estava em Sernache.
O- que é bem sabido do articulista
infeliz da Voz da Beira, que foi
quem directamentesrecebeu a comu-
nicação do director do colégio e com
tal despreocupação e: desinteresse –
que, apezar de o facto se passar de-
pois do almôço, logo-ali se ofereceu
para ir consumir as espécies sagra-
das imediatamente, para o que se
dizia autorizado pelo-bispo.
Nem um gesto nem um movi-
mento de sêlo que ao menos demo-
rasse o facto até se procurar uma
outra solução!
Apesar dos meus multíplices mis-
teres, ainda dou mais pela minha
memória: do que. pelo seu canhê-
nho! !
Mas eu tenho mais que fazer do
que estar aqui a desfazer trapalha-
das alheias.
Vou contar o caso em breves
palavras, e quem quizer ler que jul-
gue. . gi
Em Março do corrente ano eu co-
muniquei ao sr. padre Bernardo
que ia fazer subir, com informação
favorável, a representação da junta
de paróquia pedindo os paramentos..
Pediu-me êle que sobreestivesse
em tal, a ver se se conseguia a con-
cessão do templo. |. ; a
Assim fiz, mas, convencido da in-
viabilidade da pretenção, pelos mo-
tivos que .já expuz no primeiro arti-:
go, dei-lhe conhecimento do insuces-
so e fiz seguir a representação.
Foi por essa ocasião que êle me
pediu o tal conféssionário e a ima-
gem da Senhora da Conceição.
A respeito desta disse-lhe que es-
tavana disposição de a conceder ao
st. Isidoro Antunes, não só por aten-
der à prioridade do pedido, mas
ainda por o sr. J. Paula Antunes ter
gasto recentemente cêrca de -400
escudos com o altar. Mas que se en-
tendesse com êle, e eu a cederia pa-
ra a matriz. j
Note-se que eu não a dava : ela
ficava sempre pertencendo ao co-
légio.
Em verdade, dias depois, o sr.
Isidoro veio declarar-me que, por
“intervenção do sr. padre Bernardo,
desistia do pedido, e eu fiquei aguar-
dando que êste a mandasse buscar.
E, tanto assim, que, removendo
para a capela mór os altares da
igreja, só lá deixei aquele, aguardan-
do que fôssem por êle. E ainda lá
está. E’ facto que pode verificar
quem quiser: é só ir à igreja.
Entretanto, soubé que o sr. padre
Bernardo, em cartas, em conversas,
nos jornais, por todos os meios em-
fim, ao seu alcance e com os seus
seráficos ademanes, me andava a
crivar de calúnias.
Não devia mais tratar com êle.
Falando, por acaso, com o sr. dr.
Salgueiro sugeri-lhe o expediente de
um arrendamento a uma comissão
de pessoas de Sernache. Eu não me
oporia. Só agora soube que o alvi-
tre foi levado ao sr. padre Bernar-
do, que o regeitou. Porque era uma
conciliação!…
Uma conciliação?!
E’ boa! e a
Muito presume. sua reverendiíssi-
ma da sua importância!
Diz ‘êle que eu. pretendi insinuar
no ânimo dos sernachenses a sua
culpa pelo malôgro da pretenção. .
Não é verdade. :
E* para mim inexplicável o seu
“procedimento nesta – questão: quis
todas as soluções, todas as soluções
lhe concedi, e êle nenhuma aceitou.
“A sua atitude nem foi muito cla-
ra nem muito correcta e é para mim
mais do que suspeita, mas não te-
nho elementos para formar um juízo
certo-ou uma convicção segura.
Se a tivesse, hoje, acusá-lo ia mais
claramente e com mais lialdade do
que aquela que eu lhe mereci.
Não sou homem para insinúações
nem o meu feitio é de meias pala-
vras.
Finalmente, depois de me atirar
para cima com um vocabulário sujo
de «infâmias tôrpes, processos bai-
xos» e outras amabilidades, arre-
messa tambêm para a discussão, co-
mo último argumento, com as nos-
sas qualidades de carácter.
— Q’sr. padre Bernardo teve um
s
gesto infeliz. Foi duma imprudência
irritante. ses e
Eu não tenho por costume discu-
tir o carácter de ninguêm.
Concedo-lhe que o seu seja abso-
lutamente impecável e integro.
Não me custa nada. Ea
E que o meu tenha defeitos. Eu
não aspiro à perfeição absoluta.
Mas“o sr. padre Bernardo não de-
ve ser assim para êle, tão desdenho-
so, que pode ferir-se a si próprio.
Porque êste meu-carácter, assim
motejádo, já serviu para cobrir o
seu, de tantas virtudes, da acusação
que há 2 anos lhe foi feita, num jor- |
nal, de ter extorquido a herança du-
ma mrentecapta.
Invocou-o até para sua defesa!
Fique, pois, cada um com o seu
e com as suas qualidades, em obe-
diência ao conselho final do seu ar-
tigo, não fazendo uma discussão de
injúrias, mas sómente de factos e
crítica. Aos
E dou por findo o incidente.
Se o que aí fica escrito não é «a
expressão da verdade, que me des-
mintam’ as pessoas a quem me re-
firo.
Para tanto ficam estas colunas ‘à
sua disposição.
A. M.
– P. 8. —Depois de enviadas para
a tipografia as considerações que aí,
ficam, recebi do sr. dr. Correia Sal-
gueiro a carta que se segue;
Meu presado director e am.º
Li há dias no semanário Eco da Beira,
de que v. é director, uma local -subordina-
da ao título «A igreja do Colégio das Mis-
sões», em que se faz alusão ao meu nome.
E” certo que’v. me expoz um meio de solu-
ção viável e satisfatória, para que a igreja
do colégio continuasse aberta ao culto, evi-
tando-se assim à sua transformação em
museu e biblioteca, mas para que não se
julgue que descurei o caso ou que me de-
sinteressei do assunto, como parece deda-
zir-se da referida local, devo declarar que
procurei imediatamente o reverendo padre
Bernardo, a quem expuz o caso, visto ser
Ele quem me parecia tomá-lo mais a peito.
O resultado dessa curta palestra deixou-me
tal impressão que entendi alheiar-me abso-
lutamente do assunto. Não-voltei a falar do
caso ao meu amigo, transmitindo-lhe as
impressões dessa conversa, para não irritar
uma questão, que se vinha desenhando de
consequências desagradáveis. De resto, far-
-me há a justiça de me colocar alheio à
intriguinha soez, que sempre detestei.
Vão as responsabilidades a quem toca-
rem.
Creia-me sempre com vera estima,
Att.º ven. e am.º obg.º
J. Corrêa Salgueiro.
Não “solicitei esta carta nem ela
foi escrita para a publicidade. O que
fica transcrito é uma parte dela, que
tratava doutros assuntos. :
Efectivamente, do meu primeiro
artigo, na referência ao sr. dr. Sal-
gueiro, podia inferir-se que lhe im-
putava responsabilidades. Mas não
era essa a minha intenção. Eu igno-
rava absolutamente o que se tinha
passado, mas estou certo que forte
motivo surgira para tal reserva.
A” luz desta carta eu vejo agora
nitidamente esta; questão, em todas
as suas tortuosidades.
Lastimo deveras-o tempo que per-
di em escrever uma dúzia de lingua-
dos. ..
Tomei a sério as falsidades do
canhênho do sr. padre António Ber-
nardo. Julguei-o discutindo com se-
riedade e dei-lhe a honra duma res-
” posta, a êle que só pretendia a ex-
2
ploração dum caso, não hesitando
em lançar para o charco imundo da
intriga soez, as suás intenções, sem
respeito ao menos pelos emblemas
católicos e pelo próprio sentimento
religioso !
Desde que o sr. dr. Salgueiro, ca-
valheiro de elevada categoria moral
e social, se envergonhou de me tra-
zer as intenções do sr. padre Ber-
nardo tal a perfidia que nelas des-
cobriu — eu não devo nem’ posso,
dignamente, discutir mais o assun-
to! O que, entretanto, resalta tam-
bêm da carta, e eu registo, é que
eu não contrariei a pretenção nem
sequer esperei que ma trouxessem ;
fui eu próprio ao seu encontro le-
var-lhe uma solução que era viável
—por ventura a única viável!
Agora, sim, já eu posso dizer, e
digo, sem embages, que, toda; esta
embrulhada e o insucesso de pre-
tenções foi uma odienta e intencio-
nal manobra do sr, padre Bernardo,
E
Se a igreja do. colégio não está
aberta ao culto, se à sua imagem
da Senhora da Conceição não está
exposta à veneração-dos-fieis, -a-cul-
pa é dele, que sôbre o zêlo da crên-
ça religiosa colocou o seu ódio à
República e o propósito de desacre-
ditá-la. 3.
Quando êle, assodadamente, que-
ria ir consumir as partículas sagra-
das, depois do almôço, preparava
êsse descrédito. e
Quando êle se opunha a que o
pároco do Castelo pedisse os para-
mentos continuava êsse descrédito
tirando-lhe essa feição simpática.
Quando êle foi ter com o sr. Izi-
doro Antunes e o levou a desistir
do pedido da imagem, não era por-
que a quisesse: era para que ela não
fôsse para o culto, e êle exploraria
o facto, contra a República.
Quando êle repeliu a oferta que
lhe fiz pela intervenção do sr. «dr.
Salgueiro, êle não a queria porque
já andava amassando esta lama de
ódio que êle ‘por aí andou atirando
à República, que nenhum mal lhe
fez e -só lhe; tem prestado favores,
e ao partido republicano. português
que lhe tem dispensado tantas con-
siderações que dele fez uma entida-
de que êle em face da. lei não po-
de ser — presidente da junta de pa-
róguia,
A-mim náda me fez, que eu não
faço caso dêste incidente.
Nem mesmo abro ainda a mão |
aqueles que há muito, me: bradam
que eu ando acariciando um ini-
migo.
Bem vê que. sou generoso! – j
Não se quebra sem mágua uma
estima que vem desde a infância.
E eu, por ora, só atribuo ao sr.
padre Bernardo um desvario reaccio- :
nário, embora odiento.
Odiento e ingrato.
Que o sr. padre António Bernar-
do anda a estender a mão aos favo-
res da República, de navalha eston-
dida na mangaçdo casaco!…
A. M.
RPE
Castanheiro do Japão
O único que resiste à terrí-
vel moléstia, a filoxera, que
tão graves estragos tem pro-
duzidôó nos riossos soutos, é
o castanheiro do Japão.
O castanheiro japonês ofe-
rece eguais vantagens que-o
bacelo americano tem ofere-
cido no caso da doença da an-
tiga videira cujas vantagens
são já bem conhecidas. As ex-
periências teem sido feitas
não só ao norte do nosso país
mas principalmente em Fran-
ça, onde o castanheiro foi pri-
meiro que em Portugal ata-
cado pela filoxera, e hoje en-
contram-se os soutos já com-
pletamente povoados de cas-
tanheiros do Japão, dando um
rendimento magnífico. –
O castanheiro japonês acha-
se à venda em casa de Manuel
Rodrigues, Pedrogam Grande.
Curiosidades
Como se pescava no rio.
&ézere, ha 156 anos
Após o terramoto de 1755 man-
dou o Marguês de Pombal formular
um extenso questionário que foi en-
viado a todos os párocos do: País,
a fim de a êle responderem. As res-
postas dadas constituem um inte-
ressante repositório de notícias que
se conservam na Forre.do. Tombo.
Da resposta dada a tal inquérito
pelo Vigário de Sernache, António
da Silva, é que extraímos o que vai
ler-se:
«No rio Zézere fazem-se pesca-
rias em diversos tempos do ano,
porêm, a mais celebrada e em maior
abundância é no tempo mais frio do
ano, quando as águas mortas estão
geladas e o rio leva menos água,
porque com esta circunstância, en-
tram os pescadores nos mais altos
pegos com seus barcos, redes e va-
ras grandes, e lançando as redes
de linha delgada ao redor das co-
lheitas em que presumem estar o
peixe lezo com a nímia frialdade o
picam-com «as..varas de sorte que
obrigado com a violência dos. fer-
rões das varas sai com fraco im-
peto até dar na rede em que se em-
– baraça e de que não pode sair por
causa do frio, que lhe impede os
movimentos é desta sorte tiram os
pescadores em algumas ocasiões
lanços de-muitas arrôbas de peixes,
em que entram alguns barbos gran-‘
des de doze, quinze e vinte arráteis,
e bogas que não excedem ao pêso
de arrátel cada: uma “das maiores,
pouco mais ou menos. Estas pes-‘
cárias se fazem de dia no tempo:
mais frio e de grandes’gelos.
E no tempo de verão se- fazem
pescarias de noite e se pescam bar-
bos mais pequenos e bogas, e não
os barbos grandes, porque com a.
sua fôrça e fortes movimentos ras-
gam as redes e zombam dos pesca-.
dores; e tambêm se fazem pesca-
rias de dia no: tempo mais quente.
do verão com mergulhadores que
lançando redes ao redor das colhei-
tas vão ao fundo dos pegos e obri-
gam os peixes a que deem nas re-
des e se. embaracem nelas, trazen:
do tambêm alguns nas mãos e den-
tes, e ao depois levantam as redes
com o peixe que teem, e dêste mo-:
do fazem pescarias em abundância.
Tambêm ha no rio alguns canei-
ros nos guais se pesca em dois tem-
pos do ano, a saber: .na primavera
quando o peixe sobe para cima as-
sim-.bogas como barbos; e pelo São
‘ Miguel, fim do verão, quando o pei-
“xe Obrigado do fétido das águas su-
jas e impetuosas se vem recolhen-
do para baixo.
E tembêm nesta ocasião das pri-
meéiras águas Sujas se pescam nos
caneiros assim como das ribeiras
muitos eirós, por outro nome en-
guias.
As trutas são poucas neste rio e
raras vezes se pescam. Os bordalos
se pescam no-tempo -da: primavera
em nassinhas pequenas em a borda
‘ do rio é ribeiras aonde procuram as
águas mais fracas para desovar, e
em outro tempo se pescam com co-
ca. E tambêm no tempo da primave-
ra sobem o Tejo para o rio Zézere
e ribeiras alguns sáveis’e lampreias
que veem a desovar é se pescam
alguns em caneiros, é ós mais as-
sim sáveis como lampreias depois
de lançarem as suas ovas nos sítios
apropriados, morrem magros e des-
tituídos já de toda a substância, e
fica das ovas que lançam a creação
que, com as primeiras águas sujas
no princípio do inverno se recolhem
ao centro de-onde moram seus pais,
excepto os que padecem nos canei-
Tos como inocentes e incapazes ain-
da pela pequenez de seus corpinhos
para servirem de comida aôs senho-
res deles. As pescarias são livres é
somente nos meses em que a lei
proibe se não pode pescar.»
Vê-se pela- transcrição feita que
ainda hoje se observam os mesmos
* processos de pescas nela expostos.
Simplesmente é menor a abundân-
cia de peixe decerto devido à pesca
-ser mais intensiva e ao abuso da di-
namite que ha anos ainda se fazia
e não sei se se faz actualmente.
Como se trata duma fonte de ali-
mentação pública que,a todos inte-
ressa, devemos empregar todos os
esforços não só para que-ela se con-
serve mas se desenvolva, pois que
destas coisas aparentemente insigni-
ficantes se compõe o bem estar e
riquesa geral.
Sernache, 23-g-g14.
P: Cândido:
A Administração do Conce-
tho de Pampilhosa
* Faz público que nas proximidades
da-Portela do Fójo, apareceu aban-
donado, no dia-23 de Agosto, um
burro devidamente aparelhado, que
será entregue a quem prove perten-
cerilhe.
O Administrador do Concelho
José Francisco Antunes
Pampilhosa, 22 de Setembro de
I9I4.I4.
@@@ 4 @@@
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Todos os pedidos devem ser dirigidos a
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236, RUA DOS FANQUEIROS, 238-—LISBOA
Agua da Foz da Certa
| A Agua minero-medicinal da Foz da Certã apresenta uma: composição
quimica que a distingue de todas as outras até hoje uzadas na terapeutica.
E* empregada com segura vantagem da Diabetes— Dispepsias— Gatar-
ros gasiricos, pulridos ou parasitarios ;—nas preversões digestivas. derivadas
das doenças infeciosas;—na convalescença das febres graves; —nas atonisa
gastricas dos diabeticos, tuberculosos, brighticos, etc.,-—no | gastricismo – dos
exgotados pelos excessos ou privações, etc., etc.
– Mostra a analise bateriologica que a Agua da Foz da Certã; tal como
se encontra nas garrafas, deve ser considerada como microbicamente
. pura não contendo colibacitlo, nem nenhuma das especies patogencas
que podem existir em aguas. Alem disso, gosa de uma certa acção microbi-
cida. O B. Tifico, Difeterico e Vibrão colerico, em pouco tempo
nella perdem todos a sua vitalidade, outros microbios apresentam: porém re-
sistencia maior.
A Agua da Foz da Certã não tem gazes livres, é limpida, de sabor-le-
vemente acido, muito agradavel quer bebida pura, quer misturada com
cu DEPOSITO GERA
RUA DOS FANQUEIROS–8/—LISBOA
j Felefone 2168. 2168.