Voz do Povo nº77 19-05-1912

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2.º Anno
DIRECTOR

Augusto Todrignes

Administrador
ZEPHERINO LUCAS

Editor

Luiz Domingues da Silva Dias

Certã, 19 de maio de 1912

 

E

 

1

 

 

Assignaturas
Anno..:… 1200. Semestre…

Para o Brazil.
Pago adiantadamente

Não se restituem os originaes

INTERESSES LOCÃES

—see—

O nosso illustre collega da ca-
pital do districto Noticias da Bei-
ra; publicou no seu ultimo nu-
mero um substancioso artigo, no
qual se lêem algumas palavras
de justiça para esta esquecida
região do sul.

O seu illustre auctor salienta
a rasão que nos assiste, frisando
o direito d’esta região em ser
beneficiada com a viação acele-
rada, elogiando francamente o
projecto de-lei que, ha pouco,
foi approvado no Senado, man-
dando pôr a concurso a cons-
trucção. da linha ferrea do En-
troncamento á Certã.

Em dois pontos fundamentaes
discorda o distincto articulista
do projecto approvado: na sua
directriz e na largura da via.
Quanto a esta ultima discordan-
cia, ella, em verdade não existe.
Todos estamos dz accôrdo, e
comnosco, de certo, o estão tam-
bem os: auctores do. projecto,
que seria melhor aconstrucção
da via normal. Simplesmente —
e bem importante é esse facto—
ha que attender ás difficuldades
financeiras com que, presumivel-
mente, se deve contar.

A differença entre o preço da
construcção d’uma via normal e
o-da via reduzida é assaz consi-
deravel, para justificar o receio
de que o concurso ficasse deser-
to se fosse obrigatoria a abertu-
ra d’aquella via. Ha muitas pes-
soas que desejam apenas o opti-
mo, despresando tudo quanto
não attinja aquella qualidade; o
sul da Beira, porém, acha-se em
taes condições que effusivamen-
te agradece que lhe façam o sof-
frivel: –

Quanto. á directriz e á largu-
ra da via, em conjuncto: concor-
damos tambem com o distincto
articulista: não só seria de gran-
de utilidade, para o paiz, o tra-
jecto que indica, que bastante
encurtaria a distancia entre Lis-
boa e Madrid, como em espe-
cial a nossa região. extraordina-
riamente sé valorisava com elle.
Parece-nos, porém, que ao pre-
sente, essa pretensão-—aliaz bem
justificada e patriotica, se acha
prejudicada.

A construcção da linha nas
condições e com o fim que é

“Jembrado, estava naturalmente

6oo rs.
5000 réis (fracos)

 

«indicada para ser feita pela Com-

 

panhia do Norte e Leste, e jul-
gamos que chegou, mesmo, a
ser chamada para ella a sua at-
tenção. Mas, não resta duvida
que essa Companhia a não quer
construir, desde que procegue
no assentamento da sua segunda
via na linha do norte.

Querem dizer estas nossas
considerações que discordamos,
ou não achamos rasoaveis, os
alvitres do nosso illustre colle-
ga?

Não; queremos apenas signi-
ficar que a nossa região, tão
grande, tão povoada, tão rica de
productos e tão pobre de meios
de transporte, carece urgente-
mente dos beneficios da viação
acelerada, e que, nas circunstan-
cias actuaes, julgamos que essa
pretensão será apenas viavel nos
termos do projecto approvado
no Senado.

Oxalá que nos enganemos ; e
que os factos venham demons-
trar que é possivel a construcção
d’um caminho de ferro nas con-
dições defendidas pelo nosso il-
lustre collega.

Até então continuamos a ad-

vogara approvação definitiva do :

projecto, esperando que aquelle
distincto collega, a quem nos li-
gam tantos laços de sympathia
e solidariedade, se digne coope-
rar comnosco na defesa d’um
melhoramento que é de tão gran-
de utilidade corâmum,

— epi
A importação de azeite

E indispensavel, para que os azei-
tes de producção nacional não sof-
fram: qualquer depreciação prove-
niente da concorrencia de azeites es-
trangeiros e o seu commercio não
seja prejudicado, que os proprieta-
rios e detentores de azeite nacional
façam no Mercado Central de Pro-
ductos: Agricolas o manifesto das
quantidades que possuem, no prazo
de dez diás. Uma simples declaração
por escripto em papel commum, in-
dicando nome, residencia, local da
producção no paiz, armazenagem e
quantidade de azeite que possuem e
cuja acidez não seja superior a 5º,
computada em acido oleico, basta,
para que o mesmo Mercado, faça a
inscripção do manifesto,

A lei que regula a importação do azeite
estrangeiro, ficou approvada nos seguintes
termos : E

Artigo 1.º E” fixado em 80 réis por kilo=
gramma, liquido, o direito de entrada do
azeite estrangeiro em Portugal.

Artigo 2.º Todo o azeite a importar será
analysado no Laboratorio geral de analy-
ses chimico-fiscaes ou n’aquelles que o go-
verno determinar.

$1.ºParaos effeitos d’esté artigo serão re-
mettidos pelas competentes estações adua-
neiras de entrada, amostras do referido ge-
nero, tiradas conforme as instrucções re-

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO.

Travessa do Serrano, 8
E BETA
Typographia Leiriense — LEIRIA”

Proptigdade da EMPREZA DE PROPAGANDA LIBERAL

 

| gulamentares vigantes, em 20% pelo me-
| nos, das vasilhas em que o azeite! fôr im-
«portado,

$2º O boletim da analyse será apresen-
tado pelo respectivo Laboratorio no prazo
maximo de seis dias a contar da data da
recepção da amostra:

Artigo 3.º O azeite a importar nos ter-
mos d’esta lei, deve ser nativamente puro,
e, quanto á acidez, não a poderá revelar
superior a 3º% computada em acido olei-
co.

Artigo 4º A importação do azeite, nos
termos d’esta lei, poderá fazer-se por qual-
quer posto alfandegario da raia secca, flu-
vial, ou maritima, podendo ser submettida
a despacho quantidade inferior a 509 kilos,

Artigo 5.º Quando apesar das medidas
adoptadas por este diploma, houver du-
rante a sua vigencia reclamações ácerca da
falta de azeite no paiz, ficam as camaras
municipaes auctorisadas a importar o refe-
rido producto e a pôl-o á venda nas con-
dições d’esta lei.

Artigo 6.º Ficam auctorisados a impor-
tar azeite, gozando as vantagens do artigo
1.º, Os corpos administrativos, o Mercado
Central de Productos Agricolas de Lisboa
e as suas delegações na provincia.

$ 1.º Nos concelhos onde os corpos ad-
manistrativos não importem azeite nas con-
dições indicadas, pôde a importação ser
feita pelos commerciantes, de accordo com

»a camara municipal.

2.º O azeite importado por commer-
ciantes pagará o imposto do real d’agua á
entrada do concelho a que se destine, não
podendo transitar para outro.

Artigo 7.º Durante a vigencia d’esta lei,
a exportação de azeite nacional só poderá
ser auctorisada quando fôr feita nos ter-
mos das instrucções regulamentares que,
no prazo de oito diss da publicação d’este
“diploma, serão elaboradas pelo Mercado
Central de Productos Agricolas e submet-
tidas á approvação do governo.

Artigo 8º Este regimen durará até ao
fim de outubro de 1912.

Artigo’9.º Fica revogada a legislação em
contrario.

ER SO pao
Observações de bégouvé

Uma observação de Légouvé:

«Quando uma mulher coguette
«ama», não mais coquetterie; quan-
do: uma mulher frivola «ama» não
mais frivolidade. Teem-se visto mu-
lheres de vida tumultuaria achar ins-
tantaneamente, n’uma paixão pro-
funda, o pudor, as delicadezas da
afeição que haviam perdido.

«Mas se um homem corrupto se
enamora d’uma menina, que faz elle?
Em logar de purificar-se como ella,
corrompe-a a ella tambem.

«As mulheres entram, com o amor,
na posse de todas as virtudes; nós,
pelo comum, introduzimos O vício
no nosso,»

Note-se: quem assim fala é um
homem.

Mais diz Légouvé:

«Todas as virtudes, todas as gra-
ças, todas as alegrias da mulher nos
parecem tão intimamente consub-
stanciadas no lar domestico…»

Estão, efectivamente. Mas qual é
a nossa desgraça maior, a desgraça
da humanidade inteira? E que dos
homens se não possa dizer a mesma
cousa.

Ou por outra; a maior desgraça
da humanidade é haver homens il-
lustres. que pensam não se dever
afirmar outro tanto do homem.

Já agora outra passagem, na qual
parece querer o auctor isentar o ho-
mem da fadiga de ser virtuoso e
bom.

 

Diz elle: «A mulher de sua casa

Annuncios

Na 3.º e 4.º paginas, cada linha,…. 30 rs.

N’outro logar, preco convencional,

 

 

Annunciam-se publicações de que se receba

um exemplar

necessita de todas as qualidades fe-
muininas: ordem, sagacidade, bonda-
de, vigilancia, doçura.» — 3
jo que salta ao espirito ‘deiquem
ê?

Que o homem está naturalmente
isento de ser methodico; sagaz, bom,
atento vigilante e doce, visto. que tu-
do: isso .se diz serem qualidades pe-
culiares á mulher, e não a toda a
especie humana em geral.

Evidentemente, porem, o pensa-
mento do aúctor não é esse,

Luiz Leitão.

 

FACTOS E BOATOS

Joaquim Antonio de Aguilar

Já está concluida a estatua do
grande ministro Joaquim; Antonio
de Aguiar, que referendou:o: decre-
to que supprimiw as congregacões
religiosas, destinada á cidade de
Coimbra, ‘patria do notavel e ener-
gico patriota. ;

A “estatua, um bello trabalho de
Costa Motta, foi fundida na antiga
fundição de canhões; hoje depen-
dencia da fabrica de material de
guerra.

A estatua” representa-o estadista
assignando o decreto de expulsão
das ordens religiosas. Tem mais de
tres metros de alto’e perto de’dois
mil kilos de bronze.

A fundição correu maravilhosa-

mente bem e o trabalho ficou per-
feito.

A inauguracão do monumento te-
rá logar no proximo mez de julho.
Por essa occasião ‘realisar-se-hão
grandes e brilhantissimas festas na
bella cidade banhada pelo ‘encanta-
dor Mondego.

e DRC e a O SANDS
Gremio Certaginense

Esta importante agremiação, ha
muitos annos fundada n’esta villa,
acaba de adquirir, por compra, uma
casa denominada da Praça, no Lar-
go do Municipio, a fim de levantar
ali um edifício destinado á sua séde
e construcção d’um theatro.

E’ um melhoramento, cuja falta
ha muito se fazia sentir.

Felicitamos a direcção d’aquella
colectividade pelos seus ‘exforços
em favor do progresso d’estaterra,
que lhe fica devendo um alto serviço.

Ceifeiros para Hespanha

Foi determinado que aôs ceifeiros.

pe do districto vão trabalhar para
espanha seja exigido salvo-conduto,
a exemplo do que já se fazia em ou-
tros districtos.

mm mt OD ————

Foi ordenado que se proceda aos
trabalhos no lanço da estrada entre
Sendinho e Oleiros, districto de Cas-
tello Branco.

=> Oo ———

«A Beira»

Recebemos a visita d’este nosso
presado’ collega; que agradecemos,cemos,

 

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Direcção das Obras Publicas

Foi nomeado para director do’

nosso districto o’sr. engenheiro João

José Lourenço de Azevedo, e enge-

nheiro ajudante d’esta direcção o sr.

Emilio Corrêa do Amaral.
ICAC

Guarda Republicana

Por decreto de 2 do corrente mez,
foi estabelecida a organisação da
companhia da Guarda Nacional des-
tinada a este districto, e que terá a
séde em Castello Branco.

A composição e distribuição das
forças na nossa comarca é a se-
guinte:

Certã-—r segundo sargento, 1
primeiro cabo e 3 soldados de in-
fanteria; 2 soldados de cavallaria.

Total: 7 homens e 2 cavallos.

Oleiros —-1 primeiro cabo e 2
soldados de infanteria; 2 soldados
de cavallaria.

Total: 5 homens e 2 cavallos.

Proença-a-Nova—1 primeiro
cabo e 4 soldados de infanteria; 2
soldados de cavallaria.

Total: 7 homens e 2 cavallos.

Villa de Rei—r segundo cabo
e 2 soldados de infantaria; 2 solda-
dos de cavavallaria.

Total: 5 homens e > cavallos.

Continuam a ser convocados os
reservistas com instrucção, para fa-
zerem parte d’esta guarda.

Foi nomeada para a escola do
sexo feminino de Pedrogam Peque-
no, da qual já tomou posse, a sr.
D. Adelaide Pires Correia, esposa
do sr. João Diogo Correia, profes-
sor da escola da Varzea dos Caval-
leiros:

Eee mec e :

Estão a concurso as escolas do
sexo feminino do Cabecudo e do
sexo masculino do Valle da Urra,
Villa de Rei.

cas —DOGaE>— -—— ,
Vaccina
Continua a vaccina gratuita e obri
atoria, nas diferentes povoações
E nosso concelho:

Carvalhal-—dia 21.

Cabeçudo—dia 24.

Na séde do concelho, em todos os
sabbados, na respectiva administra-
ção.

Todos os domingos em Sernache
do Bom Jardim, na casa da escola,

Nas primeiras terças-feiras de ca-
da mez, em Pedrogam Pequeno, na
casa da escola.

—— 2000€:—

Codigo administrativo

Na camara dos deputados prose-
gue a discussão do codigo adminis-
trativo,

Entre outras disposições já appro-
vadas, figura no codigo em discus-
são a da entrega dos serviços de
construcção e reparação de estradas,
ás juntas geraes dos districtos, para
as quaes passa tambem a respectiva
dotação.

a

Tem estado entre nós, o sr. Car-
los Ascensão, nosso presado colle-
ga da Patria Nova, de Castello
Branco, acompanhado de sua filha-
nha!

ADA — —

Dr. Mattos Rosa

Foi nomeado facultativo munici-
pal do partido com séde na fregue-
zia da Sobreira Formosa, do conce-
lho «de Proença-a-Nova, o sr. dr.
Mattos Rosa, distincto cirurgião mi-
litar, que tem exercido as funcções
de administrador do concelho em
Penamacor. E

Pela camara
Sessão de 15 de maio –

Presentes: Zeferino Lucas de
Moura, presidente; Henrique Pires

 

VOZ DO POVO

de Moura e António Nunes de Fi-
gueiredo, vogaes.
Deliberações

— Pagar, em vista da informação
do conductor de obras publicas Lu-
ciano Monteiro, as importancias da
5.º tarefa da estrada da Varzea dos
Cavalleiros ‘e da ponte da Foz, su-
bsistindo aresponsabilidade pelo pra-
so legal de garantia. ,

— Mandar vir 30 tubos de vacci-
na, a requisição do cidadão admi-
nistrador do concelho.

—Mandar completar a obra de
collocação d’um candieiro na Rua do
Soalheiro. ;

—Officiar ao conductor de obras
publicas Luciano Monteiro, pedindo
a conta dos serviços, em divida,
prestados á Camara.
– —Passar attestado de pobresa a
Antonio Gaspar, da Passaria.

=-Conceder licenca, a requeri-
mento verbal, a José Casemiro para
depositar materiaes na Rua do Soa-
lheiro.

 

Revista bibliographica

O Livro de Job—tradicção em
verso, por Bagilio Telles.

São em tão pequeno numero as
pessoas que, n’este paiz, se dedi-
cam a estudos mais profundos, que
no proprio meio intellectual — bem
reduzido, por sinal — causou assom-
bro ver um homem como Bazilio
“Telles, que todos julgavam subjuga-
do pela preoccupação politica que,
infelizmente, absorve as maiores
mentalidades, — dedicar-se a estudos
da litteratura oriental, n’um dos
seus aspectos mais dificeis —o verso
hebraico, cuja estructura tanto dif-
fere da forma geralmente conheci-
da. SENA
O verdadeiro caracteristico da
poesia hebraica é o parallelismo,
que consiste, n’uma determinada
disposição. de. palavras componen-
tes do verso, resolvendo-se em dois
ou mais membros symmetricos. Na
poesia biblica encontram-se geral-
mente trez formas fundamentaes de
parallelismo: a antithetica, a syno-
nyma e a synthetica.

E’ bastante para lamentar que o
estudo biblico seja completamente
ignorado no nosso paiz, e de tal for-
ma ignorado que, sem hesitação,
acreditamos que muita gente ha de
lêr o superior trabalho de Bazilio
Telles, sem, sequer, fazer a mais
palida ideia das dificuldades prati-
cas da sua execução, nem, pela ra-
ma, conhecer a historia d’esse livro
de Job, do qual, quando muito, te
rão ouvido falar como d’um homem
que tinha muita paciencia.

O Livro de Job-um dos que
compõem o canon do livro ‘santo
dos Judeus — deriva o seu nome do
homem cuja historia nos relata. Com-
põe-se de 42 capitulos, cujos dois
primeiros e parte do ultimo são em
prosa, e todo o resto da composi-
cão um poema, bello pelas imagens
e riqueza de pensamentos profun
dos é elevados.

Job viveu na terra de Ux, cujo
local não está perfeitamente identi-
ficado. Ha quem julgue que a ter-
ra de Ux era situada na Iduméa,
outros suppõem-a na Mesopotamia.
Parece, porém, mais provavel que
fosse na Arabia Deserta, entre a
Iduméa, Palestina e o Euphrates.
A opinião mais corrente é que Job
viveu pouco mais ou menos no tem-
po de Abrão, ou entre o tempo d’es-
te e 0 de Moysés,

Não é conhecido o auctor do li-
vro; por uns é attribuido ao proprio
Job, por outros a Eliú; ou algum
escriptor desconhecido que viveu
no tempo de David. :

O objecto do livro parece consis-
tir n’um ensaio em que se pretende

 

resolver o problema da conformida-
de da justiça de Deus com os sofri-
mentos e maguas do homem. Mui-
tos suppõem que a solução que elle
apresenta é uma antecipação ás dou-
trinas do chrstianismo. E, porém,
esta uma questão d’alta critica phi-
losophica, para que não temos com-
petencia.

Póde dividir-se o livro de Job em
cinco partes principaes, Gircums-
tancias e provações; Controversias
entre Job e trez dos seus amigos;
Recapitulação do estado da questão
por Eliú, que rebate os argumentos
de todos os outros; Sublime allocu-
ção de Jehovah a Job; O protogo-
nista recupera finalmente a saude e
os bens, e intercede pelos amigos
que o censuravam.

Fosse quem fosse o genio poetico
que legou ao mundo essa composi-
ção, que chega a attingir a’forma
epica, a sua producção será eterna-
mente apreciada: pelos d’outos e
estudiosos, como agora, entre aquel-
les, se salienta a figura austera e
nobre de Bazilio Telles; o illu’tre
republicano cujos principios estão
acima das conveniencias, -o cons-
ciencioso escriptor, cujos trabalhos
são dignos do seu nome e são hon-
ra da sua patria.

Ruy
EIA a e ———

EDUCAÇÃO CIVICA

N’um dos nossos ultimos numeros,
começamos a fazer ligeira aprecia-
ção a um interessante folheto publi-
cado pelo Gremio Commercio e
Industria, sob o titulo cão Povo
Portuguez. y

Proseguimos hoje :

Com a transcripção dos Direitos
do Homem presta esse folheto um
bom serviço; para aqui,*por nossa
vez, continuamos tambem na sua
transcripção :

Artº. 5.º–A lei não tem o direito
de prohibir senão as acções nocivas
à sociedade. Tudo que não é prohi-
bido pela Lei não pode ser impedi-
do, e ninguem póde ser obrigado a
fazer o que ella não ordenar.

Que cada um não pretenda usar
da Liber dade. que o seja para si e
não para o seu semelhante, porque
então deixará de ser Liberdade pa-
ra ser opressão.

Art.º 6.º —A lei é a expressão da
vontade geral. Todos os cidadãos
teem o direito de concorrer, pessoal-
mente ou por meio dos seus repre-
sentantes, para a sua elaboração.
deve ser egual para todos, quer pro-
teja, quer castigue. Como todos os
cidadãos são para ella eguaes, são
egualmente admissíveis a todas as
dignidades, cargos e empregos pu-
blicos, segundo a sua capacidade e
sem outra distincção que não seja a
das suas virtudes e talentos,

O regimen do empenho tem cam-
peado imfrene em Portugal. Ainda
hoje os homens que teem a seu cargo
a Administração publica se véem
encomodados por amigos e não ami-
gos para a colocação de parentes e
conhecidos, não poucas veses sem
que estes tenham ao menos a compe-
tencia requerida.

Despidos de egoismo devem ser
todos os republicanos, d’outro modo
não poderá haver moralidade. Tra-
temos todos de trabalhar para o pro-
egresso do paix que para o nosso
bem trabalhamos.

Art.º 7.º Nenhum homem pode
ser accusado, preso, nem detido se-
não nos casos determinados pela
lei e segundo as formas que ella
prescreve, :

Aqueles que solicitam, expedem,
executam ou fazem executar as or-
dens arbitrarias devem ser punidos,
mas todo o cidadão chamado ou
preso em virtude da lei deve obde-
cer immediatamente: tornar-se ha
culpado pela resistencia,

 

Art.” 8,—A lei não deve estabe-
lecer senão penas estricta e eviden-
temente necessarias, e ninguem pó-
de ser punido senão em virtude de
uma lei estabelecida, promulgada
anteriormente ao delicto e legalmen-
te applicada. a

A applicação da lei deve ser feita
d’accórdo com os progressos da
humanidade. Tem de ser benevola
na sua essencia, antes tentando re-
generar os criminosos por meio da
educação, do estudo e do trabalho,
do que encarceral-os em imundas
prisões.

Art.” -9.º—Como todo o homem é
presumido inocente até que se te-
nha reconhecido a sua culpabilida-
de, se se julgar indispensavel pren-
del’o, todo o rigor empregado que
não se considerar necessario para a
segurança da sua captura, deve ser
reprimido severamente pela lei.

Art.º r0,º-— Ninguem deve ser in-
quietado pelas suas opiniões, mesmo
religiosas, contanto que a sua ma-
nifestação não perturbe a ordem
publica estabelecida na lei.

So pelo julgamento se pode saber
se um individuo é culpado ow ino-
cente, por isso, a lei deve reprimir
que se empregue o rigor para o
prender, salvo em caso extremo, é
claro. :

Todos teem o direito de pensar
segundo os dictames da sua cons-
ciencia, quer em materia religiosa
quer em materia politica, desde’ que
a manifestação do pensamento de
qualquer individuo não perturbe a
ordem publica ou a liberdade dos
outros. E’ um direito natural que
não deve ser coarctado.

(Gontinúa).
SC E rare ro, UT

Pelo mundo litterario

A mulher! A flôrl

A flôr é tão fragil que o perpas-
sar leve da aragem a aniquila.

A mulher é tão fraca, tão sensi-
vel, que o menor pezar a faz suc-
cumbir.

A flôr é a irmã da mulher; a mu-
lher é a imagem viva da flór que
nos sorri!

Parece que Deus ao crear a flôr
quiz retratar a mulher, florindo nos
jardins !

Ao crear a mulher, certamente,
quiz produzir uma flôr com alma e
coração!… É

1 Isabel de Aragão

*
Pensamentos

O sabio conhece o ignorante por-
que, antes de ser sabio, foi igno-
“rante. O ignorante não conhece o
sabio porque, antes de ser ignoran-
te, não foi sabio.
À Socrates

 

 

Carteira semanal

Fazem annos:

No dia 20, a sr.* D. Heloisa Gue-
des Santos, é o sr. José Nunes da
Silva. :

Estiveram n’esta villa as sr.” D,
Guilhermina Barata, D. Virginia Ba-
ptista, e os srs. José Custodio Mar-
tins Vidigal, dr. Custodio de Paiva,
e Josê Muralha; e em Lisboa, o sr.
Fructuoso Pires.

Acha-se em convalescença o nosso
collega de redação, sr. Luiz Cardo-
so Guedes.

Estão em Lisboa os srs. José An-
tonio de Moura e sua filha a sr. D.
Maria do Carmo; José Antonió do
Valle, Manuel dos Santos e José
Nunes Destrinço,§o,

 

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VOZ DO POVO .

 

 

 

 

Da maternidade
(A Salvador Brandão)

Ia-se fazendo, sereno e progres-
sivo, o desenvolvimento humano,
honrando o principio”biblico do cres-
cei e multiplicae-vos, sem que qual-
quer voz discordante ouzasse de-
primir o valor social e moral da lei
natural da reproducção.

Apenas um ou outro, especie de
criminoso isolado, attentava em se-
gredo contra esse principio, apro-
veitando apenas o que de gôso ma-
terial havia na pratica da procrea-
ção para, afinal, fugir ao destino
elevado e nobre da funcção.

Até que, um dia, um economista
inglez, Thomaz Robert Malthus,
que via pessimistamente no augmen-
“to da população um maior incre-
mento, um máior pasto para a mi-
seria, não se acanhou de, no seu
Ensaio sobre o principio da popu-
lação, atirar resolutamente a publi-
co com ideias que, apezar de soa-
rem desafinadamente no meio proli-
fico d’outr’ora, apezar, mesmo, de
haverem sido promptamente apoda-
das de immoraes, foram, comtudo,
escutadas com escrupulosa attenção
por aquelles que olhavam o cresci-
mento da familia como um estorvo,
como uma barreira contra o luxo e
contra os prazeres, tornando mais
longa e, até, infindavel a estrada,

ue poderia leval-os a ambicionadas
riquezas.

Da sementeira de tão damninhas
ideias, resultou a diminuição das
populações. E a maternidade, bati-
da pelo malthusianismo, viu-se apea-
da do alto pedestal de nobreza e
santidade, em que andava sobreer-
guida, para se vir nivelar com as
coisas prejudiciaes e futeis e, por-
tanto, prescindiveis.

E tornou-se grande o numero dos
a applaudiam as ideias do mal-
thusianismo. Vingára’a semente do
mal, Alguns, porque aspiravam a
gozos, que a mediocridade dos seus
recursos lhes não permittia attingir,
viam nos filhos um adiamento, cada
vez mais remoto, para o seu sonho
de felicidades. E isto de progenia
vinha contrariar intentos, surgindo
como um estorvo, como um trope-
ço, como uma impossibilidade.

Para tal critério, os filhos eram
olhados simplesmente como outras
tantas boccas, que vinham aggravar
as dificuldades da vida, concorren-
do para se tornar cada vez mais
problematica a conquista das rique-
zas. NS

Assim o malthusianismo viu en-
grossar a phalange dos seus ade-
ptos, formando. seita, constituindo
legião.

Em França, o alastramento de
ideias, tão dissolventes, tão perni-
ciosas, trouxe um despoyoamento
successivo e aterrador da nação. E,
a conservar-se a orientação actual,
já se prevê, para epocas relativa-
mente proximas, a extincção da ra-
ca gauleza.

Mas, ahi, como se o malthusia-
nismo ainda fosse pouco, vinham
sobrepôr-se a este novas concepções
dizimadoras.

Paiz, onde o culto da mulher, at-
tinge quasi que o caracter d’uma
obsessão permanente, pareceu aos
sacerdotes d’esta religião, toda ba-
zeada na falibilidade das concepções
estheticas da moda, que a materni-
dade era um destruidor de bellezas,
estragando inplacavelmente as linhas
do perfil femenino, que a disparata-
da convenção da mesma moda exi-
gia esguias, torreifelescas. Fugia-se,
portanto, do filho, d’esse deforma-
dor aborrecido.

E, sahindo. da França, vemos a
funesta propagação do erro esten-
der-se a outras civilisações.

Diz-nos o inglez, Hepworth Di-
xou, que a vesania de Malthus alas-

 

 

trára pavorosamente pela Norte-
America, vendo-se, que tão prolifi-
cas eram, as senhoras americanas
passarem da proverbial multíplica-
cão d’outr’ora para a tristeza d’essa
quasi esterilidade d’hoje.

Esta revolta contra a maternida-
de manifestava effeitos mais destrui-
dores em’ centros mais intellectual-
mente desenvolvidos, como Boston
e New-York.

Evidentemente, as senhoras ame-
ricanas não queriam ser mães.

E o halito resequido do malthu-
sianismo . invadia toda a civilisação,
estancando artificiosamente as fontes
da familia.

Doutrina deleteria essa que en-
contrava guarida em espinitos frivo-
los, olhando a principal missão hu-
mana por um prisma falso e enga-
nador, sem se lembrarem de que,
corollário d’essa doutrina, o decan-
tado progresso da humanidade fica-
ria assim reduzido á condição de
simples mytho !
à Continua
= CPA EDIGE=——— — —

O orçamento hespanhol —As
receltas são calculadas em
1:167 milhões de pesetas e
as despezas em 1:146 -Para
Marrocos são destinados 5O
milhões.

O ministro da fazenda do gabi-
nete madrileno apresentou ao Con-
gresso na sessão-de 1 do corrente,
o orcamento para 1915.

Asreceitas são calculadas em 1:167

milhões de pesetas e as despezas em
1146. *
Ne orçamento de despeza ha uma
secção nova. intitulada Acção em
Marracos, subindo a verba propos-
ta a cincoenta milhões.

O calculo de receitas comparado

“com o de r9tr é superior em 15 mi-

lhões e de despezas inferior em 26
milhões.

– O projecto do orçamento é acom-
panhado de leis complementares que
auctorisam o ministro a fazer a re-
visão das tabellas de contribuição
industrial e a modificar e unificar ou-
tras.

O imposto do sal é substituido
por um directo de 20 pesetas por
100 kilos sobre o sal destinado ao
consumo interno, ficando livre o des-
tinado a applicações industriaes e
agricolas. Reorganisa-se a arrecada-
ção de todas as contriubuições; au-
gmentam-se transitoriamente os im-
postos. sobre varios artigos de im-
portação; supprime-se a capitania
geral de Melilla, bem como o estado
maior central do exercito e a dire-
cção das industrias militares.

No orçamento de guerra suppri-
mem-se varios organismos burocra-
ticos e augmenta-se, o contingente
do exercito em 7:000 homens,

Marrocos continua a ser, para a
Hespanha um sorvedouro de vidas
e de dinheiro.

— SPIaRIGE-——

Para ter grandes massarocas
de milho

|

Nem todos sabem que a principal
exigencia da cultura do Milho é a Po-
tassa, e que não existindo em sufi-
ciente quantidade na terra é peque-
no o desenvolvimento das massaro-
cas. Está provado ser devido à in-
fluencia da Potassa que as massaro-
cas tomam um grande desenvolvi-
mento, ficando completas e bem gu-
arnecidas de bagos de Milho ricos
de amido, o qual é a substancia nu-
tritiva. :

E” claro que a planta precisa de
azote, de acido fosforico e de potas-
sa, sendo por isso conveniente em-
pregar ou um Adubo Completo da
marca registada «Trevo de 4 Folhas»
ou a mistura de Cal Azotada com

 

BIBLIOTHECA DE EDUCAÇÃO MODERNA

PROBLEMAS SOCIAEIS
FLAGRANTE ACTUALIDADE

Trapucção DE RIBEIRO DE CARVALHO

E’ este o suggestivo titulo do decimo primeiro volume d’esta Biblio-
theca, um curiosissimo estudo sobre os mais importantes problemas so-
cises, assumpto da mais palnitante actualidade.

Nºeste magnifico trabalho expõe o seu anctor—o eminentee sabie eco-
nomista Custavo de Molinári—com uma lucidez de raciocinio verdadei-
ramente admiravel, as melhores doutrinas e as mais consentantas com o

estado actual da sociedade.

Livro de verdadeiro interesse, quer para os estudiosos, quer para O
grande publico, os Problemas Sociaes representam um valiosissimo concur-
so para a educação social e civica do Povo. Esta bella obra de MolInári
trata, de maneira singela e ao alcance de todos, os seguiutes assumptos :
O problema religioso, O problema moral, O problema economico, O pro-
blema do governo individual, O problema: do governo colectivo, o Estatismo,

o Militarismo e o Proteccionismo.

E” um livro forte, de uma lógica implacável, de uma anályse serenu e
fria—obra de um espirito que se não deixaarrastar por sonhos nem por
phantasias. Não transige com o conservantismo de uns, nem se deixa des-

lumbrar pelas aspirações irrealizáveis de outros.

4

Gustavo de Molinári, que foi redactor principal do Jornal dos Eco-
nomistas, de teputação mundial, é um analysta severo e frio. Este livro
Problemas Sociaes, agora traduzido para portuguez é de um altissimo valor.

, VOLUMES PUBLICADOS

I-E Egreja e a Libeodade—por Emilio Bossi
I–Socialismo e anarquismo —por A. Hamon
LI–Descendemos do macaco?—por Denoy

IV—Não crelo em Deus—por Timotheon

V—A vida nos astros—por Camille Flamarion
VII-As Grandes Lendas da Humanidade—por Humiac
VII-—Na Aurora do Seculo XX—por Luiz Bichner
IX—Virgens depois do partto —Pierre Saintyres

X—O Amor através dos Temdos —por Laurant Noçour
XI-Problemas Soclaes—por Gustavó de Molinári

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Fosfato Tomaz e um Adubo Potas-
sico, porque com estes adubos al-
cançam-se magnificas colheitas. A
Kainite é um dos adubos potasaicos
mais convinientes para o milho, vis-
to que conserva uma certa humida-
de na terra, muito favoravel para to-
das as culturas e muito especialmen-
te no milho, que é cultivado nos me-
zes de menos chuva. Todos a de-
vem exprimentar. :

Para abreviar o crescimento do
milho ou qualquer outra cultura, de-
ve-se recorrer imediatamente ao Ni-
trato Modificado e Melhorado com
Potassa que tem as marcas regista-
das e exclusivas N. N. P. 104 e N.
M. P. 86, os quaes tendo o Azote
ea Potassa egualmente soluveis ma-
nifestam com rapidez os seus bene-
fiicos effeitos nas plantas. Além d’is-
so estes adubos são inseticidas e às-
sim combatem os bichos que atacam
os milhos, como são o Alfinete, a
Bicha Amerella. a Sainha, etc. De
todos os adubos a casa. O Herold
& C.º tem nos seus armazens de
Lisboa, Porto, Pampilhosa e Regoa,
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cardo Matheus Ferreira—Rua Can-
dido dos Reis, Este estabelecimento
trespassa se por motivo do seu pro-
prietario não poder estar á testa d’el-
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‘ Certã faz publico que se acha aber

to concurso por espaço de zo dias a
contar da data d’este para o forne-
cimento do alimento aos presos in-
digentes das cadeias d’este concelho,
conforme as condições expostas n’es-
ta secretaria, todos os dias uteis,
desde as 10 ás 14 horas.

As propostas deverão ser feitas
conforme determina o art.º 146 do
Decreto de 21 de setembro de 1901,
devendo satisfazer primiramente ao
preceituado no art.” 148 do citado
Decreto.

Administração do Concelho da
Certã, 13 de maio de 1912. E eu
Gastão José da Silva Bartollo, secre-
tario que o subscrevi.

O Administrador do Concelho

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versos typos e dimensões; grande sortimento de tulipas, bacias
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cencia; esquentadores para gaz e petroleo; pára-raios; artigos de

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